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  3. Capítulo 1

História On and On - Capítulo 1


Escrita por: Gi-Ka

Notas do Autor


Olá pessoal, aqui estamos nós com mais uma fanfic!
Esperamos que vocês gostem de lê-la tanto quanto nós gostamos de escrevê-la.

Observação¹: Nessa fanfic aparecerá o termo 'divindade', porém não tem relação com algo sobrenatural, somente não estamos utilizando a nomenclatura mais conhecida.

Observação²: A fanfic tem playlist; ela estará disponível nas 'Notas Finais'.

Observação³: Para quem não nos conhece, a atualização da fanfic é diária.

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Para mais informações ou se quiserem bater um papo com as autoras, nos sigam no Twitter: @giseledute | @isidoroka ;)

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AVISO DE GATILHO: Pensamentos suicidas; Tentativa de suicídio; Depressão.

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Boa leitura.

Capítulo 1 - Capítulo 1


Yoongi iria pular, ele estava certo disso.

O moreno estava cansado de tudo; da culpa, do sentimento de impotência e daquela tristeza constante que rondava a sua mente, não o deixando ser o mesmo de antes. No fundo ele sentia falta de como era anteriormente, dos rápidos sorrisos que deixava escapar ou do prazer que sentia ao escutar uma boa música. Aquele Min Yoongi do passado estava morto e o do presente, logo estaria também.

O rapaz tinha que confessar que pensou que seria mais fácil, pois qual seria a dificuldade de pular de uma ponte, às três da manhã de uma segunda-feira? Ninguém o interromperia e provavelmente só encontrariam o corpo no outro dia, mas lá estava ele, ponderando por um momento.

As lágrimas ardiam em seus olhos e o vento gelado estava deixando suas bochechas doloridas e o seu maxilar machucado de tanto tremer, talvez esse último não fosse do frio e sim do medo. Ele estava apavorado. O que aconteceria depois? Existia mesmo uma vida após a morte? E se sim, suicídio o levaria direto para o Inferno?

Porém, o que era o Inferno perto do que estava vivendo? Provavelmente melhor, ele tinha certeza ou pelo menos esperava que sim.

Yoongi resolveu que havia chegado o momento. Era agora.

O moreno suspirou pesadamente e esticou uma das pernas, em um passo que nada encontrou. Definitivamente, era agora.

– Não faça isso!

A voz fez o coração de Yoongi falhar uma batida. Alguém o interrompeu? Isso não era possível! Deveria ser coisa da sua mente. Então, o jovem suspirou novamente e mais uma vez deu um passo invisível.

– Por favor! Não faz isso.

Yoongi respirou fundo. Ele não iria olhar; se olhasse, iria desistir.

– Têm pessoas que te amam!

O moreno quase gargalhou. Ele sabia que haviam pessoas que o amavam e esse exatamente era o problema. Yoongi não se via mais merecedor daquele amor, talvez um dia tenha sido, mas não agora.

– Vai embora. – O moreno proferiu, sem olhar para o dono da voz. – Me deixa em paz.

– Por favor, cara. Não pula! Você vai morrer.

– É o que eu quero, seu idiota.

Yoongi cometeu um erro. Ele olhou. O moreno encarou o dono da voz e algo o fez largar a casca agressiva por um momento; talvez o olhar verdadeiramente preocupado ou o cabelo ruivo molhado, fazendo o rapaz notar que estava chovendo, ou a forma quase displicente em que o jovem estava em pé.

– Qual o seu nome? – questionou o ruivo.

– Para que isso te interessa?

– Oras, se você pular eu quero ajudar os bombeiros de alguma forma. – Yoongi não pode deixar de notar a tentativa de um tom brincalhão do outro. – Por favor, um nome…

– Min Yoongi. – respondeu o moreno, voltando a olhar para a água. – Agora me deixa em paz.

– Me chamo Jung Hoseok.

– Vai embora!

– Eu não vou, desculpe. – Hoseok informou calmamente, enquanto sem o outro perceber, retirava o casaco. – Você não vai pular.

– Você nem me conhece. – Yoongi suspirou, passando as costas da mão nos olhos, com força. – Não precisa ficar com a consciência pesada, nem nada do tipo.

– Yoongi, agora você é meu amigo. Claro que vou ficar com a consciência pesada.

– Você é louco.

Yoongi mordeu com força o lábio inferior e novamente fitou a água. Estava escura, provavelmente cheia de pedras pontiagudas; seria rápido no final das contas. Talvez não indolor, mas não demoraria muito e finalmente ele se veria livre; livre de viver.

– Não olha para baixo, olha para mim!

– Hoseok… Obrigado, tá? – O moreno piscou por uns segundos, sentindo o corpo cansado. – Até que esses últimos momentos foram divertidos.

– Não fala isso…

– Foi um prazer te conhecer.

Antes que o ruivo pudesse impedir, Yoongi pulou.

O impacto nem foi barulhento quanto o moreno pensou que seria ou talvez o fato dele estar submerso influenciasse em seus ouvidos. Ele não sabia e também não se importava mais, pois em poucos minutos estaria morto. Então, Yoongi fechou os olhos e esperou pela morte.

A outra vez que Yoongi abriu os olhos foi ao ouvir um outro barulho, provando que seus ouvidos não haviam parado de funcionar. O moreno olhou para cima e viu o que não queria ver: viu Hoseok.

O ruivo havia pulado tentando de alguma forma salvar aquele rapaz que já se considerava sem vida. Mas havia um pequeno detalhe: Hoseok não estava conseguindo nadar, mesmo tendo certeza que sabia, pois haviam lembranças vívidas em sua mente das vezes que havia nadado com a sua família em uma calma praia que havia perto da casa dos seus avós, mas agora simplesmente não estava dando certo.

Yoongi quis gargalhar para a cena do outro batendo braços e pernas e somente conseguindo se afundar no processo, mas antes que ele percebesse, estava nadando em direção ao ruivo.

O moreno estava possesso em ter que ir salvar aquele cara idiota. Tudo o que ele queria era morrer, porém sua consciência não deixaria que Yoongi carregasse mais uma morte nas suas costas, mesmo que fosse de um desconhecido.

– Fica parado! – pediu Yoongi, mas o outro parecia desesperado. – Eu vou te tirar daqui. Fica parado!

Hoseok não conseguia ficar parado. Ele estava se afogando, como ficaria parado? Seus braços e pernas não funcionavam e só estavam servindo para causar mais agitação na água.

Droga! Vou morrer.” O pensamento foi estanho para Hoseok e lhe causou um desconforto, como se não fosse o ele daquele momento que estava pensando aquilo. “Não consigo me mexer, vou morrer. Vou morrer. Vou morrer. Vou morrer…

Yoongi, por sua vez, estava ainda mais irritado e se viu tentado a socar a cara do ruivo, para desmaiá-lo e assim arrastá-lo para fora da água, mas ao invés disso ele tentou mais uma vez.

– Confia em mim! Eu vou te tirar daqui. – O moreno proferiu, notando o outro relaxar aos poucos. – Eu vou te salvar, okay?

Hoseok relaxou totalmente, mas não sabia explicar realmente o porquê. Ele só sabia que podia confiar naquela voz. Yoongi respirou fundo e colocou o braço esquerdo em volta do pescoço do outro, nadando em direção à praia.

O moreno se viu exausto quando seus joelhos encostaram na areia. A praia era longe da ponte onde havia pulado e agora ele simplesmente se arrependia do ato, pois todas aquelas câimbras estavam o matando e provavelmente teria que esperar alguns dias para tentar de novo. “Droga!

– Isso tudo é culpa sua, hein. – reclamou o moreno, se jogando na areia e encarnado o céu. A chuva agora estava mais forte e começava a fazer cócegas em sua pele. – Não tem nada a dizer sobre isso?

Hoseok não respondeu. Yoongi esperou por alguns segundos e como nada escutou, sabia que havia algo errado, pois o ruivo passara vários minutos tagarelando em seu ouvido e agora estava calado?

O moreno praticamente se arrastou até o outro, notando logo que Hoseok estava desmaiado.

Yoongi cutucou o ruivo, mas como esperado não obteve resposta. "O idiota provavelmente ficou com a boca aberta enquanto eu me esforçava para retirá-lo da água." O pensamento só deixou o moreno ainda com mais raiva de toda aquela situação.

Que dia de merda!

O moreno quase revirou os olhos enquanto fazia massagem cardíaca no outro, que continuava parado, parecendo morto.

– Olha aqui, seu idiota. Você não vai morrer! Você não tem o direito de morrer no meu lugar! Hoseok! Hoseok!

Yoongi tentou com mais força, mas Hoseok simplesmente não acordava. Então, o moreno respirou fundo e após abrir a boca do outro, soprou dentro dela.

Nada.

Mais uma vez.

Nada, de novo.

– Seu filho da puta, acorda!

O moreno tentou de novo, dizendo a si mesmo que seria a última tentativa. O mesmo processo foi repetido: respirar fundo e soprar na boca do outro.

Nenhum movimento.

– Acorda, Hoseok! – Yoongi gritou, socando com força o peitoral do outro. – Eu vou te caçar no Inferno!

Um som abafado saiu de Hoseok e Yoongi arregalou os olhos e se inclinou na direção do outro, sentindo em seguida o ruivo cuspindo no seu rosto ao expelir a água presa em sua traqueia.

– Desgraçado. – O moreno realmente queria bater no ruivo, mas se viu ajudando o outro a se inclinar para o lado, expelindo mais água. – Idiota.

– Vo-você me… s-sal-salvou. – A voz do ruivo estava entrecortada e ele tremia, tentando cuspir o que podia da água.

– Eu prometi, não prometi?

Hoseok nada respondeu, simplesmente se agarrou ainda mais no outro, enquanto sentia a mão do moreno dando leves batidas nas suas costas. A situação chegava a ser engraçada, pois ele havia pulado com o objetivo de tentar ajudar, mas ali estava, sendo ajudado.

– Obrigado.

Yoongi se sentiu responsável de alguma forma por toda aquela situação e talvez aquele fato explicasse o porquê dele estar cuidando do ruivo e caminhando em passos lentos até uma barraca que havia por ali perto com o objetivo para turistas e visitantes descansam do forte Sol que às vezes fazia durante o dia.

– Obrigado.

– Para de me agradecer.

– Eu agradeço aos meus amigos. – informou Hoseok quase sorrindo. – Você… está com o seu celular?

– Eu não trouxe celular… – respondeu Yoongi, quase envergonhado. – Você pulou com o seu?!

– Talvez sim, talvez não.

– Idiota. – O moreno suspirou pesadamente notando como o outro tremia e mais uma vez se sentiu culpado. – Eu te daria o meu casaco, mas…

Hoseok riu e ofereceu o mais aberto dos sorrisos para o outro, que quis revirar os olhos, mas não se viu capaz de tal ato.

Sem muito o que fazerem, ambos se sentaram na areia, ainda protegidos da chuva, que agora praticamente cortava o céu de tão forte. “Teria sido o ideal… Ninguém me procurado tão cedo...”

– Quer conversar? – perguntou o ruivo, incerto.

– Você precisa ir para um hospital. – afirmou o moreno, ignorando a pergunta do outro. – Você engoliu meio mar.

– Você também precisa, oras.

– Eu? Não engoli quase nada.

– Claro que você precisa ir! – Em um ato impensado o ruivo esticou a mão, encostando no outro, que levou um susto, se afastando. – Você ia se matar! Precisa ir para uma ala psiquiátrica.

– Não, muito obrigado.

Yoongi não queria conversar sobre aquilo e muito menos ir para uma ala psiquiátrica. Ele já sabia como tudo funcionava; já fazia terapia e não estava afim de dividir como estava se sentindo, pois se sentia um pedaço de merda ambulante que não merecia o ar que respirava. A verdade era que há muito tempo o moreno não aguentava mais e só queria morrer, porém todas as vezes lhe faltou coragem e quando a conseguira, foi interrompido por aquele ruivo idiota.

– Acho que a chuva está fraca agora. – comentou Hosek, após estarem sentados meia hora em um frio intenso. Uma futura pneumonia nem seria uma surpresa. – Vamos para o hospital.

– Você vai, eu vou para a minha casa.

– Como eu vou saber que você não vai chegar lá e se enforcar ou tomar remédios?

Hoseok sabia que estava sendo duro e isso foi visível com a forma que o outro pareceu afetado com as palavras, como se aquilo doesse de alguma forma. Talvez doesse, o ruivo não tinha como saber.

– Eu não vou. – afirmou o moreno enquanto sacudida a areia das roupas. – E mesmo que eu fosse, isso não é da sua conta.

– Claro que é, somos amigos, já falei.

– Você é completamente louco. – Yoongi respirou fundo e começou a caminhar na areia que chegar ao calçadão. – Vá para um hospital… ou não, sinceramente não me importo.

O moreno se virou e saiu andando, mas logo ouviu passos atrás de si. Ele queria falar que estava surpreso, mas aqueles últimos minutos o fizeram perceber que o ruivo era extremamente teimoso e claro que não se daria por satisfeito com somente aquelas palavras.

– Você se importa que eu sei. – A voz de Hoseok após estava ao lado do moreno, que suspirou pesadamente. – Amigos se preocupam um com o outro.

– Você não é meu amigo.

– Amigos salvam um ao outro.

– Bombeiros também… Não significa que são amigos das vítimas.

– Você é bombeiro?! – O ruivo se exaltou, parecendo animado e pronto para saber mais. – Por isso sabia como me salvar?

– Não, eu não sou bombeiro. Só fiz um curso de primeiros socorros.

– Uau! Então você trabalha no hospital?

– Não! – falou o moreno, limpando os olhos. Por que aquelas lágrimas insistiram em cair nos piores momentos? Hoseok fingiu que não viu e ele agradeceu mentalmente por isso. – Vai embora.

– Achei que você estava  me levando ao hospital.

– Não, estou indo para casa.

– Então você vive do que? Ou está desempregado? – O ruivo pareceu pensar por um momento. – É por causa disso que você...

– Eu tenho um emprego. – afirmou o moreno. – Sou músico.

– Estou cada vez mais surpreendido com você. – Hoseok falou, batendo rapidamente as mãos. – Qual estilo?

– Rap.

– Eu sou professor de artes. – informou alegremente o ruivo. – Vivo rodeado de crianças…

– Bom para você.

Yoongi estava cansado e só queria se jogar na sua cama e dormir. A adrenalina que restava no seu corpo foi dissipada na barraca e agora seu corpo novamente estava dolorido. Mas, aquele outro estava o perseguindo, insistindo em conversar e provavelmente pensando na melhor maneira de levá-lo para o hospital. O músico suspirou alto só de imaginar o desgaste que seria correr daquele homem.

– Elas são tão adoráveis. Sabe, não é fácil fazê-las entenderem as cores primárias, pois crianças sempre pensam que o primário são as que elas gostam e até hoje, nos meus anos de profissão, o amarelo é quase sempre esquecido. – comentou Hoseok, fazendo gestos largos e cutucando o outro sempre que percebia alguma dispersão na atenção do moreno. – E as secundárias? Eles simplesmente não ligam para roxo! – O ruivo pareceu indignado por um momento, mas logo riu. – Eu sinto que você entende o meu desespero…

– Não.

– Claro que entende! Sua camisa é roxa.

Yoongi mordeu com força o interior da boca. O que a camisa dele tinha a ver com aquela ladainha sem fim? O músico continuou a nada comentar ou quando muito aporrinhado, responder somente com onomatopeias, porém Hoseok não parou e simplesmente emendou uma história na outra, contando sobre narrativas dos seus alunos e de outros professores.

A irritação do músico estava a níveis extremos e ele queria correr, mas suas pernas doíam tanto que até andar estava difícil, então Yoongi se manteve em silêncio e seguiu o caminho dele, mas algo inevitável aconteceu: o moreno escapou da realidade, como sempre fazia quando não a queria encarar.

O moreno começou a pensar em uma futura música e até conseguia ouvi-la claramente, se formando em sua mente, juntamente com a melodia e a batida. Yoongi já estava com a letra sendo composta e ela envolvia uma vida completa de luz que havia sido retirada do mundo muito cedo e em tudo que aquilo acarretara para todos os envolvidos; era fácil pensar nos culpados e em quem deveria ser punido.

– Cuidado!

A voz de Hoseok não foi o que chamou a atenção de Yoongi e sim o braço o puxando de volta para a calçada. O moreno nem havia percebido que estava na estrada e que quase tinha sido atropelado por um carro que passara em alta velocidade.

Yoongi piscou os olhos várias vezes encarnado os olhos preocupados que o fitavam.

– Eu estava bem aqui, Yoongi. Bem aqui! – O ruivo praticamente gritou aquelas palavras, fazendo o outro se encolher. – Você tentou se matar de novo e na minha frente?!

– Não…

Droga!” O músico se xingou internamente por não ter sido mais atento, já que agora tinha total noção que o outro não o deixaria em paz. “Estou ferrado!

– Você está achando que eu sou idiota? Eu vou te arrastar para o hospital! – afirmou o ruivo, entrelaçando o braço com o do outro. – Você precisa de ajuda.

O moreno poderia facilmente se livrar daqueles braços, mas com um suspiro pesado ele resolveu que não valeria a pena. A exaustão estava muita e uma cama de hospital pareceu bem confortável para se dormir. “Estou louco, igual ao ruivo.”

–  O que você está murmurando de cama aí? – questionou Hoseok, fazendo o moreno balançar a cabeça rapidamente.

– É que eu estou com sono. – afirmou Yoongi, balançando os ombros e de repente notando onde estava.  – Ei, ei! Esse é o prédio onde moro… Deixa eu ir para a minha cama.

–– Não! Vamos para o hospital. – Hoseok foi enfático ainda parando um momento para olhar o edifício onde o outro morava. Era perto da praia e provavelmente o apartamento era grande e com um aluguel exorbitante. Yoongi era rico? – Eu não vou te deixar sozinho agora...

– Suba comigo e eu não fico sozinho.

Yoongi usou sua voz mais grossa com o intuito de parecer um convite sexual. O moreno queria se livrar do outro e aproveitou para tentar de alguma forma assustar o ruivo, mas o professor pareceu não perceber e veementemente não deixou o músico seguir o seu próprio caminho.

Depois da tentativa frustrada, o rapper desistiu de vez, somente puxando o próprio braço para si e caminhando em silêncio ao lado do ruivo, que ainda recitava um monólogo. Não demorou muito mais para chegarem no grande hospital da cidade, porém assim que adentraram na recepção, ambos se recordaram que estava encharcados e sujos, o que fez a todos do local os encararam.

Hoseok pareceu um tanto sem graça, mas Yoongi fingiu nada perceber e seguiu para um dos balcões, onde uma moça simpática sorriu para o moreno, que não devolveu o gesto.

– Com licença, mas aquele homem engoliu muita água do mar e ficou desacordado por três minutos. – O músico apontou para Hoseok, que ainda olhava em volta, mas ao ouvir a voz de Yoongi, começou a se aproximar do moreno. – Isso foi há mais ou menos uma hora.

– Tudo bem, senhor. – afirmou a mulher, entregando uma prancheta com um papel acoplado. – Por favor, preencha todas as informações e após a triagem, o médico o chamará.

– Precisamos de dois papéis! – Hoseok falou um pouco acima do tom, o que fez ele se encolher em seguida. – Um para o meu amigo aqui…

O moreno bufou irritado, mas se Yoongi fosse honesto com ele próprio nem estava com tanta raiva assim. Era estranho receber tanta atenção de um estranho que estaria disposto a qualquer coisa para o ver bem.

Yoongi tentou evitar encarar Hoseok enquanto escrevia na própria ficha, mas parecia impossível. O cabelo alaranjado ainda estava molhado e grudava na testa do outro, que tinha areia na bochecha. O moreno soltou um som nasalado e voltou a se concentrar no próprio papel.

– Ah! Você tem um psicólogo. – comentou o ruivo, olhando por cima dos ombros de Yoongi, que bufou. – Qual o telefone dele?

– Não faço ideia, está no meu celular.

– Mas eles aqui devem contactá-lo, né?

– Acredito que sim. – O moreno suspirou, dando uma última olhada no papel. – Vai ser uma merda. Seokjin vai ficar no meu pé.

– É o trabalho dele, oras.

O moreno nada respondeu e se levantou, pegando as pranchetas e levando até a recepção e antes voltar para o seu lugar, olhou o ruivo e notou que ele ainda tremia. Yoongi revirou os olhos e voltou até mulher simpática, a explicando a situação e não demorou muito para uma grossa colcha o fosse entregue para enquanto aguardavam um médico.

Hoseok, assim que viu a colcha azul clara, quase pulou no lugar. O músico levantou rapidamente o canto da boca, mas logo disfarçou com um tosse enquanto entregava a coberta para o outro, que se aconchegou imediatamente nela.

– Eu disse que éramos amigos! – comentou o ruivo, esticando a manta para também acolher o outro, que balançou a cabeça negativamente, mas acabou aceitando a camada extra. – Você se preocupa comigo; eu sabia.

Hn.

– Você é uma pessoa de poucas palavras, né?

Hum-hum.

– Tudo bem, sobra mais espaço para eu falar.

Yoongi quase riu, mas assim que o outro começou a falar dos hobbies, o moreno apoiou a cabeça na parede e fechou os olhos.

Algum tempo depois, o nome Jung Hoseok foi chamado, mas o ruivo ficou indeciso. E se ele entrasse e Yoongi fosse embora? Depois de todo aquele trabalho, fracassar assim? O ruivo estava ponderando qual era a melhor opção, quando o músico o cutucou na lateral do corpo.

– Eu vou ficar, tá? Não precisa se preocupar.

– Você promete?

O moreno não pode deixar de novamente revirar os olhos, dessa vez para o ato do outro de levantar o dedo mínimo, em um pedido mudo para que ocorresse um entrelaçamento de dedos. Yoongi não sabia explicar o que o fez retribuir aquele gesto ridículo, mas o músico acabou por unir os mindinhos, enquanto fitava o ruivo sorrir abertamente.

– Prometo. – afirmou, suspirando em seguida. – Agora vai logo… Leva a colcha.

– Obrigado. – Hoseok novamente sorriu, só que dessa vez ele piscou um dos olhos na direção do outro. – Boa sorte com a internação.

– Você também…

Yoongi ficou olhando outro se afastando, indo em direção a enfermeira que o esperava e ele quase levantou e saiu. Aquela promessa não significa nada, não é? Não era como se eles realmente fossem amigos, mas o moreno ficou, se xingando internamente

Aproximadamente cinco minutos depois, Min Yoongi foi chamado e estalando a língua, o músico foi em direção a enfermeira e até sorriu fracamente em resposta a alguma pergunta que ela fizera.

Hoseok… que cara irritante.

 

***

 

– Você teve sorte de expelir toda a água.

Hoseok estava sentado em um leito do hospital, balançando a cabeça para o médico, que terminava de olhar o Raio X que o ruivo havia tirado. O professor sacudia as pernas, se sentindo um tanto infantil, mas não se importando com o ato.

– Foi o meu amigo que me ajudou.

– Que bom que ele estava lá, senão você teria que colocar um dreno e provavelmente ficaria com um pneumonia. – O homem levantou uma das sobrancelhas e quando retirou um sorriso do outro, piscou para o ruivo. – Acho que o seu amigo está aí fora te esperando… Irei deixá-los a sós.

O ruivo ponderou por alguns segundos se seria Yoongi e já preparou um sorriso para recepcioná-lo, mas quem adentrou pela porta foi um rapaz alto, de olhos preocupados, com o cabelo pintado de loiro e com óculos pendendo na ponte do nariz afilado: era Kim Namjoon.

– Hobi! Que susto.

Namjoon correu até a cama, abraçando o ruivo com força, o que gerou uma gargalhada baixa no professor.  Seu melhor amigo e colega de apartamento era um exagerado.

– Quando eu recebi uma ligação do hospital, achei que você estava morto!

– Mas aí seria uma ligação do IML.

– Cala a boca, babaca. – O loiro reclamou, fungando o nariz. – Eu fiquei muito assustado.

Hoseok deu alguns tapinhas nas costas de Namjoon, que aos poucos se afastou, mas sem deixar de fitar o amigo ao mesmo tempo que contornava o rosto do ruivo, em busca de alguma coisa fora do lugar, porém graças a divindade nada de errado foi detectado pelo estudante, que suspirou aliviado, deixando os polegares fazendo um leve carinho na bochecha do outro.

– Joon, você está cada dia mais gay! – brincou o ruivo, logo percebendo o amigo se afastar, com as bochechas levemente coradas. – Conseguiu terminar a dissertação?

– Foda-se a dissertação! Eu quero saber como você terminou se afogando!

O ruivo passou a mão na nuca, bagunçando um pouco os fios e sorriu sem graça. Ele não poderia contar, não é? Aquilo era algo particular de Yoongi e somente o outro deveria decidir para quem expor ou não. Então Hoseok tentou soar convincente em uma meia verdade.

– Então… eu estava com aquele cara e el-

– Eu disse para não sair com ele. – interrompeu o estudante, suspirando frustrado, enquanto se sentava na beirada da cama. – Te falei que não prestava.

– Tudo bem, eu não preciso de “eu te avisei”. – reclamou Hoseok, fazendo aspas no ar e logo depois empurrando de leve o amigo. – Continuando… O encontro foi uma merda.

– Falei…

– Cala a boca. – Hoseok riu e se levantou olhando na sacola que o loiro trouxera com algumas roupas. – Aí eu fui embora da boate, mas perto estava acontecendo um festival…

– Eu sei, eu te chamei para o festival, mas você quis sair co-

– Namjoon, fica quieto. – O ruivo cessou o loiro com um tapa na coxa do outro. – Eu acabei me distraindo no festival e quando percebi que estava tarde… Que foi?

Namjoon parecia desconfortável no local, virando o rosto na direção contrária e com as bochechas coradas. Hoseok observou o amigo apontar para ele e procurou o que havia de errado. Sem entender, o professor se virou, ficando de costas para o loiro, que fez um som de surpresa enquanto fechava os olhos.

– O que foi, Joon?!

– Sua bunda! – O estudante fez um gesto amplo com as mãos e o professor finalmente entendeu que o problema era a sua roupa do hospital, aberta na parte de trás. – Seu sem vergonha.

– Ah… Isso explica a brisa aqui atrás. – respondeu o ruivo, se enfiando em uma cueca que o outro havia posto na sacola. – Desculpa… Esqueci da abertura.

– Esqueceu nada, estava tentando seduzir o médico que eu sei.

– Droga, me pegou no flagra!

Ambos riram e Hoseok aproveitou o silêncio que se seguiu para colocar uma muda de roupas. Depois colocar a calça jeans, buscou uma camisa e após se livrar da camisola hospitalar, se enfiou em uma camisa branca. Namjoon observava tudo com o lábio inferior entre os dentes, não conseguindo desviar do abdômen definido do amigo, mas era preciso, então o loiro fingiu interessado no lençol da cama onde estava sentado.

– Então… quando eu percebi, o festival já estava acabando e eu resolvi ir para casa, mas antes eu… hum… – Hoseok coçou a bochecha por um momento e suspirou fundo. – Eu fui na praia… Isso.

– Por quê?! – Namjoon realmente começou a questionar as escolhas de vida do amigo. Quem iria na praia de madrugada? Isso era coisa de louco. – Não me diga que você foi nadar…

– Claro que não. Eu… hum… cheguei na areia. Mas veio uma onda e me carregou.

– Uma onda te carregou?! – O estudante já estava com a voz desesperada. – Como você conseguiu voltar para a praia?

– Então… tinha um desconhecido lá… Agora ele é conhecido. – brincou o ruivo. – Yoongi. Um fofo.

– Ele te tirou do mar?

– Sim. E ainda me trouxe até o hospital.

– É… ele é uma pessoa bem legal…

– Muito.

– Cadê ele? – perguntou o loiro. – Preciso agradecê-lo.

– Ele está em um dos quartos. – comentou o ruivo, puxando o braço do amigo para tentar finalizar aquela conversa. – Vamos embora que eu estou com fome.

– São cinco da manhã, Hobi. – afirmou o estudante, se levantando e desamassando as roupas. – Você já está de alta?

– Sim, sim… Vamos para casa. Trouxe o seu carro, não é?

– Não… vim voando. – Namjoon suspirou fundo e Hoseok lhe desferiu um peteleco no braço. – Claro que vim de carro… Moramos do outro lado da cidade.

– Então me leva de volta que eu preciso dormir.

– E o seu novo amigo? – questionou o mais alto, já do lado de fora do quarto, sendo praticamente arrastado pelo outro. – Quero falar com ele…

– Não, Yoongi está dormindo e… e… o horário de visita já acabou ou… ainda nem começou. – O ruivo riu e logo acenou para a moça simpática da recepção, que retribuiu o gesto com alegria. – Vamos logo embora.

– Tudo bem.

Namjoon resolveu deixar o assunto morrer, mas claramente queria saber sobre esse tal de Yoongi e se possível agradecê-lo por pular em um mar agitado, em um dia de chuva, por um desconhecido; parecia o tipo de ato que Hoseok faria, pensou o estudante, com um sorriso. Provavelmente o esse salvador deveria ser uma ótima pessoa, igual ao ruivo, que agora dormia tranquilamente no banco do seu Suzuki preto.

O loiro aproveitou que haviam parado em um sinal vermelho e encarou Hoseok por uns segundos, admirando a beleza do outro que chamava atenção até quando ele cochilava. Namjoon suspirou fundo, passando a marcha e pensando em quanto desejava um dia conseguir se declarar para o ruivo e beijar aqueles lábios, mas não hoje. Nunca hoje.


Notas Finais


EDIT (08/08/2018): Quando a fanfic foi escrita o número do CVV era 141, porém agora é 188!
--
> O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo. LIGUE 188.
Mais informações: https://www.cvv.org.br/

> Playlist da fanfic:
https://open.spotify.com/user/12155385492/playlist/3nwPiQQPO2O8A6aVlNWOlk

> Temos um grupo no whatsapp para os leitores da fanfic. Quem se interessar, basta pedir o convite!

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Por favor, deixem comentários com as suas opiniões; amamos lê-los.

Até amanhã ;*


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