História On My Way - Ninguém liga se ja foi ou se ainda pode ser.

Quando você me disse que não era nada
Daquilo que a gente sempre imaginou
Um vento frio soprou, uma janela bateu
Na noite escura da alma

Mats e eu caminhamos em silêncio durante tempo o suficiente para que sua voz saísse rouca quando ele finalmente quebrou o gelo.

- E então, por que a moça difícil resolveu sair com o bad boy? - ele sorri.

- Você é um bad boy? - pergunto fingindo surpresa.

- Okay, talvez não. Mas isso não vem ao caso.

- Foi você quem tocou no assunto. - levanto as mãos em sinal de rendição. - Não me culpe.

- Tem razão. Desculpe. - Mats ri novamente. E eu não consigo evitar o fazer também.

- Você acha que Mario e Candy vão se dar bem? - pergunto para evitar outro silêncio constrangedor.

- Eles combinam. - assente positivamente - Não sei se posso dizer o mesmo de Ju e Marco. - Oh.

- Como... Você sabe? - questiono, tentando lembrar se em algum momento deixei algo sobre eles escapar.

- Do jeito que sua amiga olha pra ele não tem como deixar de perceber. - encara o chão - Só falta babar por ele literalmente.

- Ei! - dou um tapa leve em seu ombro - Não fale assim dela!

- Desculpe. - ele responde indiferente. - chegamos.

Nessa hora, a lua já brilhava. O céu estava limpo de nuvens e imundo de estrelas. Não era preciso mais que uma boa visão para enxergar algumas pedras e a vegetação local. Tive certeza de que eu estava em lugar nenhum. E isso era maravilhoso.

- E então, dona moça? - Mats pergunta sorridente.

- É lindo. - respondo da mesma forma.

- Algo a sua altura. - ele olha em meus olhos, e o brilho da lua reflete nos seus.

Quando você me olhou daquele jeito
Que só você olhava
Um passarinho voou baixinho
Deixou prá trás tudo que acreditava

- Ah, isso é verdade. - pisco, tentando quebrar o clima. Sou uma garota difícil.

- Então eu acertei? - ele se aproxima mais.

- Pode se dizer que sim. - viro de costas e passo a caminhar ao redor de uma enorme pedra.

Novamente o silêncio se instala entre nós.

- Helena pare de fugir. - ouço seus passos atrás de mim.

- Eu não estou fugindo. - volto a encara-lo.

- Você está sim. - afirma - Só não sei do quê.

- Eu não estou fugindo. - digo novamente.

- Então por que sempre que tento me aproximar você sai?

- Não quero que confunda as coisas. - na verdade eu quero.

- Ah. Tudo bem. Entendi. - Mats assente. - Sinto muito. - Ele coloca as mãos na cintura e passa a fitar o chão.

- Mats, olha, não é nada pessoal. Eu só... Você tem namorada! – tento me redimir.

- Cathy não é minha namorada. - volta seu olhar para o meu.

- Não é nem de longe o que ela diz. - encaro o reflexo da lua em seus olhos.

- Ela nem sabe direito o que é namorar. É uma criança, coitada... - pousa as mãos na cintura.

- O que eu menos quero é arrumar treta com ela e sua turma. - mordo o lábio, provavelmente lembrando de como eu as odiava. Não que elas houvessem feito algo. Elas não haviam. Não diretamente. O tipo de pessoa que faz você ter náuseas pelo simples fato de encara-las.

- O que seria uma "treta"? - ele simboliza aspas com os dedos.

- Briga, richa, inimizade... Essas coisas. - rio, surpresa por Mats não saber o significado de uma palavra do século XXI.

- Ah. Não se preocupe quanto a isso. Podemos manter qualquer coisa em segredo, até eu esclarecer as coisas entre nós. - diz, preocupado.

- Mats, não. Eu realmente não quero nada sério. Nem sei por que está insistindo.

- Tudo bem, Helena. Então vamos pra casa.

- Então me trouxe aqui só por isso? Pra ver se rolava algo? - pergunto assustada.

- Não, eu...

- Dispenso suas explicações! - reviro os olhos.

- Você não é feminista? Não é assim que vocês se comportam? Desapegadas, modernas... - eu costumava ser assim. Mas não existem principios quando você se ilude.

- Tem razão. Eu sou. Por isso, não quero mais que você olhe na minha cara. Considere sua noite comigo encerrada. E o resto de algo que poderia acontecer, também. - encaro uma última vez, se eu o fizesse de novo, tenho certeza de que deixaria uma lágrima cair.

Existem milhões de princípios. Se eu pudesse escolher, não seria como sou. Não me sentiria como me sinto. Eu adoraria ter outra vida. Poderia ser uma megera. Onde está escrito que algumas pessoas não amam, não mudam? Eu, de fato, nunca liguei muito para os sentimentos. Mats conseguiu bagunçar minha cabeça. Quero ficar sozinha. Agora.

- Lena, eu... - assentiu - Desculpe. Vou levar você pra casa.

Nem uma palavra durante o caminho. O único som que se podia ouvir era, de vez em quando, a respiração de um ou de outro.

- Boa noite. - Mats falou calmamente quando chegamos à porta de casa. - Fica bem.

- Boa noite. E pare de generalizar o feminismo. - respondo antes de fechar a porta.

Às vezes o meu dom de estragar tudo é impressionante. Eu sei que a culpa não foi só minha. Mas por que as coisas sempre dão um jeito de acabar mal? É tão difícil dar certo? É estranho que eu não lembre os momentos bons. É estranho beber café e ver o meu reflexo nele. É estranho olhar pra cima e ver que a lua não está se importando com as nuvens à sua volta. Isso deveria servir como incentivo.
Eu sempre consigo estragar tudo.

Quando as paredes e o teto caíram
Eu pensei que era o final
Mas era só o começo de um problema
Só um pesadelo normal...