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História On the balcony - Lovesquare - XXXII. Trust


Escrita por: Cxmie

Capítulo 32 - XXXII. Trust


Como o combinado, era quarta-feira, e logo depois das aulas do período da tarde um grupo havia se reunido para irem juntos até a pista de patinação. O clima seguia frio naquela época de inverno, mas isso não os impediria de divertirem-se. Na entrada já estavam Alya, Nino, Rose, Juleka, Kagami, Adrien e Marinette, faltando apenas Luka para que pudessem, finalmente, ir. Juleka e Rose conversavam entre si, dividindo um fone de ouvido, enquanto Nino e Kagami pareciam conversar, com o modelo junto a eles um pouco calado, porém melhor do que estava no dia anterior. O de cabelos castanhos estava muito preocupado, mas não falava nada, pois sabia que o melhor amigo precisava de um tempo.

 

— Ei, cara. Se anima… É só a gente hoje, sem preocupação nenhuma – passou o braço esquerdo por trás do pescoço do loiro enquanto dizia animado.

 

— É, Adrien, para com essa cara de desanimado, a gente vai se divertir – a japonesa completava, sem entender muito da situação — Não sei o que tá rolando, mas tenta se distrair um pouco.

 

— Ela tá certa, cara. É um dia entre amigos! Seu pai não vai poder atrapalhar – o Agreste levantou um pouco o olhar, como se repreendesse Nino por falar de Gabriel.

 

— É, mesmo que ele vá preferir passar o tempo com a Marinette – brincou a Tsurugi, olhando para a franco-chinesa que estava sentada nas escadas da entrada conversando com Alya. 

 

— Vocês tão certos… – acompanhou o olhar da de cabelos pretos até a Dupain-Cheng, encontrando com seus olhos azuis. Ele abriu um sorriso tímido, mas com fundo de melancolia e viu ela desviar o olhar com pressa, o que fez ele desfazer o sorriso — É só um dia entre amigos… – suspirou e voltou seu olhar para Nino e Kagami, tentando ignorar o que havia acabado de acontecer. 

 

Marinette estava estranha naquele dia. Adrien havia percebido… Mesmo os dois ainda conversando normalmente, ela sempre desviava o olhar e isso estava o incomodando. Talvez seu pai, ou Lila, ou até mesmo Chloé tivessem feito algo… Como ele esperava, uma hora ou outra a relação dos dois começaria a se complicar e ele sabia que tinha que dar um jeito de se afastar, mas ainda não tinha coragem para isso. Sua conversa com Ladybug havia o feito refletir… Precisava conversar com a mestiça sobre isso, porém ainda precisava de tempo, pois, por mais que precisasse, não queria perdê-la, pois a amava… Podia admitir aquilo, com certeza, contudo era um sentimento platônico, já que nunca ficariam juntos. 

 

Outra pessoa, que havia notado o modo estranho que a de madeixas pretas estava agindo, era Alya, obviamente. Estavam conversando há algum tempo, com a francesa tentando entender a situação.

 

— Então… Você vai começar a evitar ele pra ele não ter que fazer isso? – a Césaire questionava, confusa.

 

— Não completamente, mas… Eu não sei… Talvez a gente devesse ser só amigos mesmo. O pai dele não vai deixar a gente ficar juntos… – a mais baixa estava abraçada aos seus joelhos com o olhar distante.

 

— Mas Marinette, se vocês se gostam, vocês conseguem passar por isso juntos.

 

— Você não viu como ele tava ontem… Ele parece estar sofrendo com isso. Eu não quero que isso continue… E, além disso… Eu gosto do Chat Noir… E… Talvez, se o Adrien ficar com essa outra garota que ele gostava, as coisas sejam menos complicadas – argumentava com um sorriso forçado em seus lábios, como se tentasse convencer a si mesma que aquela era a melhor solução — Acho que se for pra gente ficar juntos, não vai ter tanta incerteza assim… Eu não quero que ele fique comigo tendo medo do pai dele fazer alguma coisa.

 

— Mesmo assim… Se afastar por conta própria vai fazer ele pensar que alguma coisa aconteceu – retrucou, tentando alertar sobre a decisão precipitada da melhor amiga.

 

— Eu sei… Eu… Preciso pensar… 

 

— Olha, Marinette… Você mesma, como Ladybug, aconselhou ele a conversar com você sobre isso… Tenta ser paciente e confiar nele. Afinal, a decisão é dele, não sua. A única coisa que você pode tentar fazer é ser compreensível e apoiar ele, não enche a cabeça com isso – passou um de seus braços por trás dos ombros da mestiça e sorriu quando ela fixou seu olhar na de californianas — Só foca em passar um bom tempo com ele enquanto ainda dá tempo. Aproveita o agora – apertou a bochecha esquerda da Dupain-Cheng, querendo repreendê-la um pouco por sempre complicar demais as coisas — A mesma coisa com o Chat Noir. Você tem que dar tempo ao tempo. E hoje… A gente vai se divertir com todo mundo! Sem distrações – viu a de olhos claros abrir um pequeno sorriso.

 

— Você tem razão – concordou e abriu sua bolsa para retirar algo que recordara naquele momento — Eu falei com o grão-mestre – tirou o amuleto de proteção em forma de joaninha de sua bolsa, entregando-o para Alya — Ele disse que funciona, mas… – enquanto a Césaire pegava o objeto, a de madeixas pretas deu uma breve olhada em volta para ter certeza de que ninguém estava escutando — Sobre o time que eu queria formar… Tem algumas coisas que eu preciso explicar depois.

 

— Pode contar comigo – piscou para a mais baixa em cumplicidade. 

 

— E aí, meninas? – a voz de Luka cumprimentava as duas, descendo as escadas sem muita pressa.

 

— Você chegou – comentou a de olhos azuis, sorrindo para o músico.

 

— Finalmente, não é? – Kagami quem falava, tendo se aproximado com o resto do pessoal. 

 

— Foi mal… O diretor queria falar comigo sobre o baile – explicou-se com tranquilidade. 

 

— O baile de formatura? – Rose indagou, sem parecer entender.

 

— Falar o que sobre o baile? – Juleka completou a questão que pairava na mente de todos.

 

— Ele queria saber se a Kitty Section podia tocar no baile. Eu aceitei… Se tiver tudo bem pra vocês duas. E eu ainda vou falar com o Ivan, já que não tá nada confirmado.

 

— Vocês vão tocar no baile?! – Marinette exclamou, parecendo animada.

 

— Vai ser incrível!

 

— Demais! – Juleka e Rose empolgaram-se, concordando com a proposta sem nem precisarem pensar muito.

 

— Esse baile tem tudo pra ser incrível. Vocês tocando… O Nino como DJ – Alya apoiava-se nos ombros da mestiça e do franco-marroquino, que estavam próximos um do outro — Não vejo a hora! – empolgou-se junto ao pessoal.

 

— Falando na Kitty Section… O que você acha de tocar com a gente no baile? – o Couffaine se dirigia ao Agreste, que até então, estava só acompanhando a conversa, não muito animado.

 

— Eu? – perguntou, estando distraído em seus pensamentos enquanto a conversa acontecia. O de cabelos tingidos de ciano confirmava com a cabeça e o loiro olhou para as outras duas da banda, ainda perdido.

 

— É, Adrien, vai ser legal! – a de madeixas claras incentivava-o em seu tom gentil de sempre.

 

— Era daora quando você tocava teclado com a gente alguns anos atrás – a mais alta, com pontas do cabelo roxas continuou, fazendo o de olhos verdes ficar um pouco envergonhado.

 

— Eu… Não sei… Acho que meu pai não iria-

 

— Adrien, você vai fazer dezoito anos esse ano. Até quando você vai deixar seu pai tomar as decisões por você? – Kagami levantou a voz parecendo irritada, o que surpreendeu a todos que estavam ali, principalmente Adrien, que não tinha palavras para refutá-la.

 

— Ela tá certa, cara! Você quer ou não? Você! Não seu pai – Nino apoiou a japonesa, esperando que o melhor amigo tomasse uma decisão. 

 

— Eu… – o de orbes esmeralda passou o olhar por todos que estava ali até chegar em Marinette, que pensou em desviar o olhar, mas não o fez, abrindo um sorriso, como se o encorajasse a aceitar, porém foi ele quem desviou o olhar para Nino, que também sorria o apoiando — É. Pode ser, vai ser legal – aceitou a proposta com determinação. Uma vez na vida, podia decidir por si mesmo e não deixaria seu pai colocar o dedo nisso como estava fazendo em sua relação com Marinette. Era hora de começar a tomar decisões, assim como Kagami disse. 

 

— Legal! A gente vai falar com o Ivan, e quando tiver tudo certo a gente te fala quando for ensaiar – Luka estendeu a mão para Adrien, que olhou-o um pouco receoso ainda, além de ainda sentir-se envergonhado por ter ciúmes dele com Marinette, enquanto ele estava sendo tão receptivo e simpático. Segurou a mão do garoto, um pouco tímido — Bem-vindo à banda, cara! – puxou o loiro para um abraço, que foi complementado por Rose e Juleka, enquanto os outros olhavam a cena com sorrisos no rosto.

 

— A gente devia ir, pessoal. O horário que a gente reservou já tá perto – Nino avisou, olhando o celular.

 

— Vamos indo, então! – Marinette tomou a frente no caminho, e assim, todos seguiram em direção ao ponto de ônibus mais próximo. 

 

Seguiram viagem com todo o grupo de amigos ocupando os assentos do fundo enquanto conversavam animadamente, mas nada que atrapalhasse a viagem dos outros. Marinette e Adrien pareciam conseguir se distrair bem enquanto conversavam com seus amigos, contudo não trocavam palavras entre si. 

 

Quando chegaram ao ringue de patinação, viram o local vazio, já que o grupo havia reservado o espaço por uma hora, indo em direção à recepção para fazer o registro e para pegarem seus patins e meias, logo indo em direção aos assentos para colocarem-nos. Enquanto Juleka, Rose, Luka, Kagami e Nino conversavam à medida que colocavam os patins, Alya, que estava perto deles, olhou para Marinette indicando para que ela fosse falar com Adrien, que estava meio isolado. Apreensiva, a Dupain-Cheng respirou fundo e foi sentar-se ao lado do loiro, que tentava amarrar o cadarço dos patins com dificuldade.

 

— Precisa de ajuda? – perguntou, encontrando com o olhar do mais alto que abriu um sorriso involuntário ao vê-la.

 

— N-não… Eu consigo fazer isso – negou a ajuda, constrangido por estar falhando em fazer algo que era simples, ao mesmo tempo que tentava evitar ter muito contato com a mestiça por conta de tudo que estava acontecendo. 

 

— Tem certeza? – insistiu, vendo que o adolescente largava os cadarços frustrado.

 

— Se… Não for incomodar… – sorriu envergonhado, fazendo a garota dar uma breve risada enquanto se abaixava para amarrar os patins do modelo, que olhava-a com certa tristeza.

 

— Prontinho – voltou a sentar-se ao terminar e olhou para o ringue, vendo que seus amigos já entravam na pista, logo voltando seu olhar para o Agreste, que tinha seu olhar longínquo — Adrien… – chamou-o na intenção de conseguir sua atenção — Tá se sentindo bem? – perguntou, lembrando-se do estado do de orbes esverdeadas no dia anterior.

 

— Tô… É só… O que eu te falei ontem. Não precisa se preocupar – deu uma resposta simples, não querendo voltar àquilo. 

 

— Ah, sim… – a mais baixa entendia os motivos dele, por isso, dava um pequeno sorriso, pois, mesmo que quisesse ajudar, sentia-se um pouco lisonjeada por vê-lo se preocupando em envolvê-la em toda aquela confusão, por mais que já estivesse envolvida. Sabia o que seria melhor para ele naquele momento, levantando-se e oferecendo sua mão, um pouco tímida — A gente não precisa falar sobre isso se você não quiser. O melhor é distrair a cabeça – Adrien encarava-a com uma feição surpresa em ouvir aquilo — Vamos tentar nos divertir hoje – em resposta à voz doce de Marinette, o Agreste lhe deu um olhar sereno e pegou sua mão sem pensar muito. 

 

Dessa forma, ambos caminharam juntos até a entrada da pista, observando que seus amigos pareciam já estar bem distraídos. Juleka e Rose andavam pela pista de mãos dadas, enquanto Nino, Luka, Kagami e Alya pareciam fazer uma competição amistosa entre si. O loiro foi o primeiro a colocar seus pés no gelo, ainda lembrando-se como manter o equilíbrio, contudo a de madeixas mais escuras parecia um pouco insegura, já que a última vez que havia patinado havia sido há cerca de três anos. Percebendo que a franco-chinesa olhava para o gelo com um pouco de receio, o francês resolveu abrir a boca:

 

— Confia em mim, eu não vou deixar você cair – falou com confiança e um sorriso meio brincalhão que fez a mestiça arquear uma sobrancelha.

 

— Você não tá me zoando, né? – inferiu desconfiada.

 

— Não – ele riu vendo a expressão da de cabelos pretos — É que eu lembrei do que você me disse quando eu vim aqui com a Kagami e você tentou me aconselhar na época do fundamental. Algo como "faça o que tiver que fazer pra não deixar ela cair" – a de orbes anil piscou rapidamente, impressionada por ele lembrar de algo tão bobo, acabando por corar ao entender melhor o contexto da situação. 

 

— E-eu prometo não dar muito trabalho – gaguejou envergonhada. 

 

— Não se incomoda com isso… – pegou a mão da mais nova, dando alguma estabilidade no momento que ela pisou na pista de patinação — Tudo bem? Tá pronta pra ir? – perguntou, sendo o mais atencioso possível. 

 

— Acho que sim – confirmou, mantendo-se estável sobre o gelo. Lembrando-se da situação que o garoto estava passando, soltou sua mão tentando manter certa distância — Vamos lá com o pe- – antes que pudesse completar sua frase na intenção de ir em direção ao quarteto que estava competindo, desequilibrou-se e segurou-se na barra ao seu lado, enquanto Adrien estava segurando um de seus braços, que foi o quê a impediu de cair — Valeu… – desviou o olhar, timidamente. 

 

— Não precisa ter pressa… A gente veio se divertir, não é? – mais uma vez, deu-lhe um olhar sereno que fez com que a mestiça ficasse com um leve rubor em suas bochechas.

 

— Claro…

 

— Então, confia em mim – ofereceu a mão a ela mais uma vez, dessa vez sendo correspondido.

 

Patinaram juntos por algum tempo, até que Marinette voltasse a se acostumar com os patins e a pista, segurando a mão de Adrien durante todo o processo que levou cerca de vinte minutos, com inúmeras vezes dela perdendo o equilíbrio e sendo segurada pela loiro, que não a deixava cair. Logo se juntaram a seus amigos, que seguiam fazendo competições amistosas entre si, nas quais o modelo se propôs em apostar corrida com Luka, Kagami e Nino, enquanto as outras garotas assistiam empolgadas e jogavam papo fora enquanto perambulavam pelo ringue. Várias músicas tocavam nos auto-falantes espalhados, dando um clima mais agradável e descontraído ao ambiente. O Agreste parecia distraído, com a cabeça longe das inúmeras preocupações que possuía envolvendo seu pai, apenas se divertindo com os amigos e até mesmo se acostumando um pouco mais à presença de Luka, que era alguém fácil de conversar.  A Dupain-Cheng, consequentemente, parecia feliz em vê-lo à vontade depois do estado que o viu na noite anterior, sabendo que precisava dar um jeito de ajudá-lo. Precisava pensar e então se afastou um pouco de Alya, Juleka e Rose, indo até um canto mais vazio com uma feição pensativa em seu rosto, até que ouviu uma melodia muito familiar, além de muito marcante. Aquela música… 

 

— Marinette… – ouviu a voz meio rouca de Adrien perto de si e levantou o olhar, já imaginando o que era aquela situação — Essa é-

 

— Quer dançar? – perguntou, como se lesse a mente do garoto, que sorriu um pouco tímido.

 

— Bom… Tirando o fato de que a gente tá no gelo, então deve ser mais difícil dançarmos como sempre, mas… – coçou sua nuca, num gesto já reconhecível para a de olhos azuis e estendeu a mão a ela — A gente pode só curtir a música e tentar dançar – enfim concordou com o convite, esperando que ela o acompanhasse, o que não demorou muito, com o mais alto puxando-a para que ambos patinassem juntos ao redor da pista, mais uma vez. 

 

Faltava pouco tempo para que tivessem que deixar o ringue, mas naquele momento não era algo que importava, com o casal arriscando alguns passos simples de patinação artística. Ambos riam com todas as vezes que trocavam olhares quando Marinette se desequilibrava e Adrien a segurava sempre sendo extremamente cuidadoso. Estavam se virando bem, até que o loiro lembrou-se de quando havia patinado na presença de Marinette, que estava acompanhada de Luka, e viu o músico levantando-a, resolvendo tentar fazer o mesmo. Guiando ao som da música, o mais velho colocou as mãos na cintura da garota, que pareceu perdida por um momento até ser levantada pelo de orbes esverdeadas com sucesso. Mal sabiam, porém Alya estava filmando tudo, ao lado do resto do pessoal que observava a cena com sorrisos no rosto. A pista era só daqueles dois no momento. Quando o de madeixas claras colocou a mestiça no gelo mais uma vez, de frente para si, ambos se perderam nos olhos um do outro, como já havia acontecido outras vezes, sorrindo de maneira extremamente abobalhada.

 

— Você tinha razão… Tá sendo divertido – o francês comentou sem tirar os olhos da mestiça — Agradeço pela dança, princesa – se curvou e pegou uma das mãos da de cabelos pretos, dando um breve beijo na região, sem pensar muito.

 

— Eu que agradeço, Senhor Perfeito – também falou no automático, com um olhar afiado em seu rosto e uma confiança aparente, como se sua mente tivesse associado o gesto típico de Chat Noir ao modo que o gatuno se referia a Adrien.

 

— O quê?! – ambos se questionaram em uníssono, confusos quando se tocaram do que havia acabado de acontecer. Haviam, claramente, flertado um com o outro, de maneira que Marinette confundiu Adrien com Chat Noir ao escutá-lo usar o apelido que o herói havia lhe dado com fins de provocação. Ao mesmo tempo que Adrien estranhou a maneira como Marinette respondeu ao seu flerte de maneira rápida, assim como Ladybug fazia de vez em quando, com o mesmo olhar afiado e confiança. Os pés pararam de se mover no gelo, com nenhum dos dois percebendo que deslizavam em direção à mureta, na qual o loiro bateu as costas e se desequilibrou com a franco-chinesa batendo em seu torso e caindo junto a ele.

 

— Marinette! 

 

— Adrien! – quando ambos olharam, caídos sentados no gelo, viram seus amigos se aproximando preocupados, com Alya e Nino tendo sido os que chamaram por seus nomes.

 

— Vocês estão bem? – Jukeka foi quem perguntou, colocando em palavras a preocupação de todos, enquanto o casal, ainda todo atrapalhado enquanto se levantavam com a ajuda de Luka e Rose, se entreolharam e riram da situação, com certo nervosismo implícito.

 

— Sim… Foi só um acidente – Marinette respondeu enquanto olhava para Adrien — Você se machucou, Adrien? – indagou, um pouco receosa, já que ele tinha recebido o maior impacto.

 

— Não, eu tô bem… E você, não se machucou, não é? – devolveu a pergunta, vendo ela negar com a cabeça enquanto desviava o olhar naquela situação estranha que havia se instalado entre os dois.

 

— Vocês deviam tomar mais cuidado! – alertou Kagami, também com um olhar de preocupação. 

 

— Eles estavam distraídos demais flertando, você não viu? – Alya provocou. 

 

— Mas estavam tão lindos juntos! – Rose empolgou-se, vendo o casal que contrastava ficar envergonhado, olhando em direções opostas. 

 

— A gente devia ir, já deu nosso horário – avisou Luka, olhando a hora em seu celular. O grupo concordou e foram até o lado de fora do ringue tirarem seus patins para devolverem, o que não demorou muito tempo. Em poucos minutos todos estavam do lado de fora, na calçada, já vendo que havia escurecido um pouco, estando perto das sete horas — Bom, eu e a Juleka vamos por aqui. Tchau pessoal! – o músico se despediu, com a irmã repetindo o gesto de aceno enquanto ambos se afastavam do pessoal, junto de Rose.

 

— Seu guarda-costas vai vir, ou quer uma carona? – Kagami perguntava à Adrien, que mexia em seu celular um pouco distraído, enquanto Nino e Alya conversavam com Marinette de modo descontraído, sobre algum assunto que o loiro não prestava atenção. 

 

— Ele vem… Valeu por perguntar – respondeu sem muita emoção, ainda pensativo sobre o que havia acontecido com  a franco-chinesa alguns minutos antes.

 

— Tá legal, e vocês, vão querer carona? – a de olhos castanhos perguntou ao trio.

 

— Não precisa! Eu e o Nino temos um lugar pra ir – Alya recusou, com um sorriso no rosto e o de cabelos castanhos fez um gesto com o boné, concordando com a namorada.

 

— Marinette? – ainda esperava a resposta da mestiça, que, assim como Adrien, parecia um pouco avoada. 

 

— Eu… – naquele momento, o carro do Agreste estacionava atrás do da Tsurugi, fazendo com que a Dupain-Cheng trocasse um rápido olhar com o de madeixas claras, que pensava em oferecer-lhe carona, porém, por diversos motivos, estava hesitando, agora com mais um medo em sua lista, por ter deixado escapar algo que podia fazê-la desconfiar de sua identidade, receoso de que ela fosse perguntar algo. Vendo que o mais alto parecia inseguro, imaginando que o motivo fosse somente o que ela havia descoberto no dia anterior, como Ladybug, a garota desviou o olhar para Kagami — Pode ser, se não for incomodar – concordou com a carona.

 

— Tá bom… – a de cabelos mais curtos pareceu perceber algo estranho entre os dois, vendo que Adrien suspirava, parecendo um pouco aliviado, o que fez com que a de olhos castanhos franzisse o cenho para ele quando seus olhares se encontraram.

 

— Valeu – Marinette agradeceu, entrando no carro, que estava com a porta aberta há algum tempo, dessa forma, escapando do olhar questionador da Césaire, que havia notado algo errado.

 

— Eu vou indo, pessoal… Até amanhã – o de olhos verdes anunciou, entrando no carro com certa pressa e o olhar baixo, enquanto Alya, Nino e Kagami acenavam.

 

— A gente tá indo também. Até amanhã, vocês duas! – Nino falou, passando o braço por trás dos ombros da de californianas, que olhou para trás enquanto caminhava para longe com Nino e disse:

 

— Marinette, me liga quando chegar! – logo, sumiu de vista.

 

— Até amanhã! – Kagami exclamou, enquanto entrava no carro e ficava com uma expressão um pouco séria — Tatsu: Padaria do Tom e da Sabine – dava o comando ao veículo com inteligência artificial que começou a andar ao reconhecer as instruções. 

 

Um silêncio se instalou naquele carro quando as duas garotas ficaram sozinhas. A franco-chinesa sentia o olhar desconfiado da japonesa sobre si, porém estava muito nervosa para começar a falar qualquer coisa, sabendo que uma hora ou outra a de cabelos mais curtos começaria a falar. Marinette ainda estava preocupada com Adrien, porém sua mente também havia se prendido em outra coisa: o modo como o loiro havia a chamado alguns minutos mais cedo. Não fora a primeira vez que, por um momento, Chat Noir entrou em sua mente enquanto ela estava na presença do Agreste, fazendo-a realizar comparações entre os dois, contudo sabia que era impossível. De toda forma, não queria pensar muito no assunto, pois ainda não estava pronta para saber a identidade dele… Tinha que se preocupar com Shadow Moth e, talvez, depois poderiam parar com tantos segredos. Precisava ser logo… Aquele não era mais um assunto que dizia respeito só a ela e seu parceiro, mas também, possivelmente, envolvia pessoas próximas caso todos os indícios fossem verdadeiros.

 

— Então… O que rolou com você e o Adrien? – como esperado, a de olhos castanhos puxou o assunto.

 

— Nada… É só… Coisa normal da vida dele – falou, sabendo que o assunto não lhe dizia respeito.

 

— O pai dele fez alguma coisa? – indagou, já tendo conhecimento de como as coisas funcionavam na casa do loiro.

 

— N-não… Não é… Nada pra se preocupar. A gente tá bem – evitava olhá-la nos olhos, mesmo que soubesse que estava mentindo mal.

 

— Tem certeza? Eu posso falar com o Adrien por você, se quiser. Às vezes ele precisa que eu abra o olho dele – disse ainda em tom sério, mas sendo possível perceber certo humor.

 

— Não precisa! – riu um pouco — Tudo vai se resolver… E… A gente nem tem certeza se vamos ficar juntos, já que ele ainda não superou a garota que ele foi apaixonado por anos e… Eu tô gostando de um amigo meu – deixou aquela questão sair, um pouco curiosa para saber se Kagami sabia de alguma coisa.

 

— Se quer que eu seja sincera, eu nunca vi essa garota… Não sei quem ela pode ser – cruzou os braços, um pouco frustrada enquanto tentava forçar a mente para pensar em alguma possibilidade — Mas e esse seu amigo, quem é? – perguntou, curiosa.

 

— É do meu… Curso de moda! Você não conhece… 

 

— Você e o Adrien são complicados mesmo – suspirou — Mas… Se o pai dele tentar fazer alguma coisa, não precisa ter medo… O Adrien é forte e você também é – abriu um pequeno sorriso de canto de rosto enquanto olhava para a mestiça, que retribuiu o gesto ao levantar o olhar brevemente enquanto assentia com a cabeça. 

 

— Então… – olhou pelo vidro da janela e tentou pensar em algo para falar — Você e o Luka-

 

— Nem pense nisso – cortou o assunto com a voz seca, fazendo Marinette olhá-la um pouco perplexa, porém, logo, ambas caíram na gargalhada.

 

— Mas é sério… Não tá gostando de ninguém? – perguntou, mais confortável com a conversa.

 

— Não. Eu não tenho muito tempo pra pensar nisso com a faculdade. Ainda tenho que me preocupar em falar sobre isso com a minha mãe – Kagami abaixou um pouco o olhar, perceptivelmente incomodada com algo.

 

— Vocês ainda não conversaram sobre o que você quer fazer? É assim tão complicado? – recebeu um silêncio como resposta — O que… É? 

 

— Olha… – a japonesa olhou para sua mochila e suspirou — Promete que não vai rir? 

 

— Por que eu faria isso? – com a resposta, a Tsurugi retirou um bloco de sua mochila e abriu-o, revelando alguns desenhos extremamente bem detalhados — Isso… Isso é incrível! Foi você que fez, não é? 

 

— Foi, mas… Minha mãe diz que eu não tenho talento pra isso e que deveria me focar na esgrima.

 

— Sua mãe tá completamente enganada! Você tem muito talento! – dizia em êxtase enquanto folheava o bloco com os olhos brilhando, maravilhada com os desenhos.

 

— Valeu, mas… Minha mãe nunca aceitaria eu fazer uma faculdade de artes, além de que é difícil passar no exame de admissão. Eu não sei se consigo… Minha mãe deve estar certa, é só um passatempo.

 

— Kagami… – fechou o bloco de desenhos e colocou uma mão no ombro da de olhos castanhos, que, pela primeira vez, parecia insegura — Se isso é o que você quer, então vai atrás… Não deixa sua mãe te impedir de ir atrás do que você quer. Você é a pessoa mais corajosa que eu conheço, então… Vai em frente – a de cabelos mais curtos olhou para a Dupain-Cheng com um pequeno sorriso nos lábios.

 

— Valeu, Marinette. Pode contar comigo se precisar de qualquer coisa.

 

— Você também – a mestiça retribuiu o sorriso e, Kagami, um pouco tímida, abraçou a amiga, em um gesto bem raro para ela, o que pegou a de olhos claros um pouco de surpresa, contudo, isso não a impediu de retribuir o afeto. 

 

— Melhor você ir – disse a japonesa, vendo que o carro havia parado na porta da padaria.

 

— Claro – pegou sua bolsa e sua mochila rosa e abriu a porta, saindo do carro — Até amanhã – acenou com uma feição gentil.

 

— Até… Qualquer dia a gente podia marcar de fazer algo juntas – sugeriu.

 

— Eu ia adorar. A gente vê isso com mais calma depois – concordou com a ideia, vendo a Tsurugi assentir com a cabeça e partir com o carro, deixando a franco-chinesa sozinha com um sentimento de leveza. Gostava muito da amizade de Kagami, mesmo que, por muitos anos, tenha tido inveja dela… Era até um alívio poder dizer que ela era sua amiga. 

 

Amiga. Amiga. Aquela palavra martelou sua cabeça enquanto ainda estava parada na frente da padaria. Adrien. Agora ela não era só uma amiga dele, porém, não foi isso que ocupou a cabeça de Marinette quando a palavra lembrou-o do loiro. A cena de quando estavam patinando e flertaram mutuamente voltou a rodar em sua mente, fazendo a garota arregalar os olhos com os inúmeros pensamentos. Com pressa, a adolescente entrou no estabelecimento e passou por seus pais, dando apenas um comprimento rápido enquanto corria até seu quarto com um semblante de choque. Abriu o alçapão com um estrondo, jogou sua mochila em um canto e a bolsa em cima do divã.

 

— Ai! – Tikki exclamou, saindo de dentro do objeto com uma expressão de reprovação — O que deu em você?

 

— Desculpa, Tikki… Eu só… – sua cabeça estava a mil. Algo estava muito errado… Como se algo estivesse fora do lugar e ela estivesse tentando raciocinar o que era.

 

— Aconteceu alguma coisa? – Wayzz se aproximou junto de alguns outros kwamis, todos vendo o semblante tenso no rosto da guardiã. 

 

“— Agradeço pela dança, princesa.”

 

— Por que ele me chamou assim? – murmurou, começando a andar de um lado para o outro — Só o Chat faz isso… Mas eu não devia estar pensando nisso… Só que faz sentido.

 

— Marinette? – a kwami da joaninha chamava.

 

— Ele e o Chat Noir estão trabalhando juntos… Talvez os dois falaram sobre mim? 

 

— O que deu nela? – Trixx questionou.

 

— O Adrien chamou ela de "princesa" – Tikki explicou, fazendo os outros kwamis se entreolharem preocupados.

 

— Sim, Tikki! Ele não faria isso! Tudo bem, pode ser só um apelido normal, é bem clichê, só que se fosse só isso, por que ele teria aquela reação depois? 

 

— Talvez porque você chamou ele de "Senhor Perfeito", o que não é nada comum – argumentou a kwami avermelhada.

 

— Tá, mas e se em alguma possibilidade ele e o Chat Noir conversavam sobre mim e por isso ele usou o apelido. Só que eu fiz besteira, porque se os dois conversam sobre a Ladybug, o Chat já deve ter usado esse apelido pra se referir ao garoto que eu gosto, que o Chat não sabe que é o Adrien, então sempre usa esse apelido bobo… Só que eu usei isso com o Adrien como Marinette, e se agora ele suspeitar de alguma coisa?! – com a lógica, completamente confusa e extraordinariamente mirabolante da franco-chinesa, os kwamis ficaram de boquiabertos sem acreditarem.

 

— Como ela consegue fazer isso? – Sass indagou sussurrando para Tikki, que abriu um sorriso todo atrapalhado enquanto dava de ombros. Essa era Marinette… Sua dona que sempre pensava no mais complicado ao invés da opção mais óbvia.

 

— Olha só, Marinette. Eu tenho certeza que não foi nada demais… Ele só deve ter estranhado, não se preocupa tanto com isso, já que tem coisas mais importantes pra resolver – a pequena joaninha voava para mais perto da mestiça, que roía as unhas ainda pensativa. 

 

— Você tá certa… Tá, tudo bem. Não é nada demais… Tudo que eu tenho que me preocupar é em como resolver essa situação do Adrien – seus lábios foram murchando em uma expressão triste enquanto lembrava-se do rosto do modelo no dia anterior… Com certeza ele não estava bem… Só queria acabar com aquilo logo… — Preciso falar com o Chat Noir – falou de repente, apressando-se para subir as escadas até a claraboia. 

 

— Marinette, você tem lição com o grão-mestre agora! – alertou Tikki, seguindo-a.

 

— Verdade! – parou de andar, voltando para o meio de seu quarto ainda bastante agitada — Eu vou treinar pra ficar mais forte e depois vou patrulhar com o Chat Noir – foi até a caixa de miraculous e pegou os óculos de Kaalki, colocando-o — E aí eu vou perguntar pra ele sobre o que ele conversa com o Adrien! E também… Ver se ele consegue dar um jeito do Adrien não precisar mais participar tão diretamente da investigação.

 

— Não tá esquecendo de nada? – inferiu a kwami, olhando para Marinette com um olhar de reprovação. 

 

— Eu tô? 

 

— Você não ia conversar com ele sobre entregar os miraculous para outros portadores? – Kaalki relembrou, fazendo uma luz se acender na cabeça da de cabelos pretos. 

 

— Claro! Claro… Eu não esqueci disso – deu um sorriso um pouco torto, tentando disfarçar sua mentira — Bom, vamos indo… 

 

— Você quem manda – Tikki falou.

 

— Tikki, Kaalki: Combinar.



 

[...]



 

— Pai, cheguei! – Adrien anunciava ao pisar dentro da mansão Agreste, mesmo sabendo que não iria encontrá-lo. Não era algo que ele se importava mais, na verdade, era até melhor ficar um tempo longe de Gabriel com tudo que estava acontecendo. Desde o dia anterior o adolescente não olhava na cara de seu próprio pai, que mal tinha aparecido desde a discussão que tiveram — É tão bom estar em casa… – ironizou, andando em direção às escadas para ir até seu quarto com um semblante atordoado.

 

— Não fica pilhado assim não, você conhece o seu pai – Plagg voava ao seu lado, vendo que o salão principal estava vazio.

 

— Não tem como não ficar com tudo que tá acontecendo… Além disso, nem era nisso que eu tava pensando – retrucou desanimado.

 

— Então o que-

 

— Shhh! – o garoto colocou o indicador em frente aos lábios, pedindo silêncio ao escutar uma voz familiar do andar de baixo ao terminar de subir as escadas. Ficou agachado, escondido atrás do cercado da escada, espiando.

 

— Não se preocupe, Gabriel. As coisas estão correndo como planejadas… – era a voz de Lila Rossi, que andava até o centro do salão, ficando diante da porta de entrada.

 

— Ótimo… É sempre bom poder contar com você para cuidar do meu filho – uma segunda voz, que causou arrepios no loiro, Gabriel Agreste, surgia acompanhando-a um pouco mais atrás, junto de Nathalie.

 

— Só tô me certificando de que ele não seja influenciado por más pessoas… Eu sei como seria péssimo para a empresa se acontecesse algum escândalo por causa disso tudo – ela forçava uma risada.

 

— Eu agradeço, mas ainda temos muito trabalho pela frente, senhorita Rossi. E, como eu falei, o problema não irá se resolver somente se eles se afastarem – Adrien ouvia cada palavra, perplexo, sem entender o que era aquilo que estava acontecendo — Contudo, suponho que não preciso me preocupar, afinal, temos um acordo – Gabriel, então, estendeu a mão para a adolescente, como se quisesse cumprimentá-la.

 

— Pode contar comigo… Farei de tudo para que dê certo – quando a italiana selou o acordo com um aperto de mãos, o modelo sentiu seu estômago se revirar e correu para dentro de seu quarto, de modo que ninguém o visse, trancando a porta.

 

— Plagg… – o garoto estava de costas para a porta com um olhar assustado.

 

— Olha, calma, tá? Lembra do que a Ladybug falou. Respira… E…

 

— Eles tavam falando da Marinette… Eu sei disso… Eu sabia… É culpa minha. Eu realmente preciso-

 

— Precisa falar com ela! Nem pense em se afastar do nada – o kwami repreendia-o, sabendo bem como a cabeça do loiro estava raciocinando.

 

— Mas, Plagg-

 

— "Mas" nada! – foi até a frente do rosto do de madeixas claras, demonstrando sua feição irritada — Você mesmo ouviu! Só vocês se afastarem não está bom, então mesmo que você faça isso, eles vão ainda querer fazer algo contra ela! Você precisa alertar ela e enfrentar o seu pai! – apontava na cara de seu dono, conseguindo intimidá-lo com uma aura ameaçadora — Fui claro?!

 

— Sim… Eu sei… – suspirou — Por que meu pai tá fazendo isso? – resmungou enquanto cerrava os punhos — Eu vou falar com ela quando puder, mas eu ainda acho que é melhor eu me afastar enquanto tudo isso tá acontecendo – andou até seu sofá e olhou para a grande janela.

 

— Pelo menos cheguem a um acordo. Vocês podem não ficar juntos, só que ela precisa saber dessas coisas. Por mais que você não queira, ela já está envolvida.

 

— Eu preciso resolver tanta coisa… E eu ainda não sei o que fazer sobre a Ladybug… Eu nem mesmo tive tempo pra pensar sobre o… – interrompeu-se, apertando o estofado do sofá com tamanha frustração.

 

— Por que não tira um tempo pra você? – sugeriu Plagg.

 

— O quê? – estranhou a sugestão.

 

— Fica um tempo longe dessas coisas. Essa coisa toda de amor, seu pai… Se concentra em colocar a cabeça no lugar.

 

— Eu não posso fazer isso. Eu tenho uma missão e também preciso patrulhar…

 

— Você pode conversar com a Ladybug pra pedir um tempo… Ela mesma já ficou sem patrulhar por um período e agora ela tá bem, não tá? – o francês concordou com a cabeça — Então… Primeiro se concentra em resolver sua situação com a Marinette, e quando vocês chegarem a um acordo… Aí você volta a se concentrar nessa coisa do Shadow Moth.

 

— Mas eu não quero ficar sem ver a Ladybug… Eu-

 

— Ela mesma disse que ia vir aqui te ver, então… De qualquer forma, você não vai ficar sem ver ela – Adrien não tinha argumentos contra aquilo pois sabia que Plagg estava certo — Todo mundo precisa de um tempo pra si… A Ladybug vai entender… E quanto a Marinette… Eu não acho que vocês precisem parar de se falar, só precisam conversar.

 

— Você realmente sabe falar algumas coisas que não envolvem queijo, não é? – brincou, vendo o kwami abrir um sorriso.

 

— Claro, eu sou um gênio. Só que é muito chato ficar tendo que pensar – Adrien riu.

 

— Eu vou falar com a Ladybug e a Marinette… Você deve estar certo… Eu preciso pensar… Eu sempre fiz tudo pensando nos outros… Inclusive ainda nem sei o que eu vou fazer depois que me formar.

 

— Relaxa, você ainda tem tempo pra descobrir sua vocação. Além disso… Você sempre vai poder ser o Chat Noir – olhou-o com cumplicidade.

 

— É, mas não é como Chat Noir que eu vou ganhar dinheiro pra viver – revirou os olhos.

 

— É, tem razão… Quem sabe a gente não abre uma empresa de queijos?

 

— Vá sonhando, Plagg… – olhou para a tela de seu computador e viu que uma mensagem de chamada de vídeo estava em exibição, a qual ele foi atender sem demora.

 

— Adrien, o jantar está pronto – Nathalie foi quem apareceu na tela, já sentada na cama de seu quarto para descansar.

 

— Certo, eu vou descer. Obrigado – a chamada se encerrou de imediato e o garoto suspirou, lembrando de toda a conversa que tinha escutado a pouco, a qual a assistente de seu pai estava presente.

 

— Melhor ir logo, daqui a pouco é a hora da sua patrulha com a Ladybug – alertou o kwami com um pedaço de camembert em mãos. O Agreste andou até sua porta com certa pressa e falou:

 

— Eu sei… Tô indo… Quero ir logo conversar com ela.



 

[...]



 

Já era tarde naquele dia. A lua estava bem alta e Chat Noir estava olhando-a ao fim de mais uma patrulha, que dessa vez havia feito acompanhado de Ladybug, que estava ao seu lado, também olhando para o céu em silêncio. Estava um clima estranho, pois ambos tinham coisas para falar um com o outro e sabiam disso, pois se conheciam a tempo o suficiente para reconhecerem o nervosismo um do outro, porém não sabiam como começar a falar. 

 

A joaninha brincava com seus dedos, enquanto olhava para aquela vista estonteante do topo da Torre Montparnasse. Por outro lado, o felino evitava olhá-la, pois não sabia como lidar com sua presença naquele momento, sabendo o que tinha para falar. Não queria magoá-la, então queria que ela falasse primeiro, por saber que ela tinha algo a dizer. O que também estava o deixando ansioso. 

 

Ficaram mais alguns poucos minutos nesse silêncio constrangedor, até que a coragem foi reunida:

 

— Chat…

 

— M'lady – acabaram falando ao mesmo tempo, tendo colocado suas mãos uma sobre a outra ao se virarem um para o outro.

 

— F-foi mal… – a de cabelos escuros sentiu suas bochechas arderem e tirou sua mão de cima da de seu parceiro em um reflexo.

 

— Relaxa… Eu não queria ter te interrompido – levou sua mão recém-encostada pela de Ladybug até sua nuca e desviou o olhar — As damas primeiro – deu a palavra à parceira, usando seu humor de sempre.

 

— Tá legal… Eu… Fiz algum progresso com aquela tabela que você me deu – começou a falar, esforçando-se para manter a calma, com receio de que aquela conversa fosse para o caminho errado.

 

— Isso é incrível! O que você descobriu? – perguntou, genuinamente feliz em ouvir aquilo.

 

— Bom, eu arrumei um jeito de evoluir meus poderes e… Ao que parece eu posso criar objetos mágicos pequenos.

 

— Como o quê?

 

— Eu não sei qual o meu limite, então eu tentei criar uma espécie de amuleto que protege contra akumas e, ao que parece, deu certo – contava as notícias com a voz um pouco tímida, vendo a expressão do loiro se animar com aquilo.

 

— Espera… Então a gente pode usar esses amuletos pra impedir que os outros sejam akumatizados. Isso é incrível, M'lady! Por que você não me contou antes?! – estava eufórico. Aquela era a primeira notícia boa que ele escutava em muito tempo — Você pode criar um pra nós dois e aí a gente não vai precisar se preocupar em sermos akumatizados! 

 

— Calma, gatinho… Não é tão simples assim – cortou a empolgação de seu parceiro, estando com um sorriso meio melancólico — Meu poder mágico ainda é fraco e a gente nem sabe se o amuleto funciona muito bem. O grão-mestre disse que uma emoção muito forte pode quebrá-lo, então eu ainda preciso me aprimorar… Eu só fiz um protótipo que eu dei pra minha amiga que… Bom… Ela sabe minha identidade, então acho que nada mais justo do que ela ser a primeira – enquanto explicava os pontos fracos do planejamento de Chat Noir, viu a expressão dele se fechar aos poucos.

 

— Ah, claro… Mas… Eu tenho certeza de que você logo vai conseguir. Você é a Ladybug… Consegue fazer tudo – abriu um sorriso pequeno em seus lábios, ainda com seu tom meio bobo de sempre, contudo, ver a expressão de inquietação oculta no semblante de sua parceira ainda o preocupava.

 

— É… Então… Mesmo sendo fraco… Eu queria poder usar esse amuleto em algo, junto com outra coisa que eu descobri – sua voz foi começando a ficar mais baixa, enquanto a heroína via o gatuno arquear uma sobrancelha, curioso.

 

— E o que seria? – perguntou, um pouco receoso. 

 

— Eu tava pensando… Eu sempre tentei fazer tudo sozinha e só nesse último mês que eu percebi que precisava confiar em outras pessoas… Então, eu tava pensando em… Dar alguns miraculous para a gente ter um time fixo já que as coisas estão se complicando, então sempre é bom ter ajuda… Além de que se algo acontecer comigo, nem todos os miraculous estarão na caixa – aqueles olhos verdes que a encaravam, enquanto sua fala era ouvida atentamente, piscavam em sequência, como se o garoto ainda estivesse raciocinando. Era um ideia que, de certa forma, havia incomodado-o um pouco, já que, desde sempre, foram apenas os dois como heróis fixos de Paris, só que, com o plano de sua parceira, qualquer um poderia aparecer a qualquer hora… Então ele seria apenas mais um dos portadores dentre os outros, já que Ladybug ainda seria essencial por ser ela a única a capturar akumas, porém ele… Tudo que ele fazia era destruir coisas com seu cataclismo — Chat?

 

— Eu… Não acho que seja uma boa ideia – falou sem raciocinar muito bem, estando visivelmente perturbado.

 

— Por quê? – indagou, tendo temido aquela reação por parte de seu parceiro, mas não tão cedo.

 

— A gente… A gente tá nisso há anos, M'lady! Confiar os outros miraculous permanentemente a outras pessoas… 

 

— O mestre Fu confiou os miraculous da joaninha e do gato preto a nós dois sem nos conhecer e olha onde a gente tá agora! 

 

— Mas ele… – interrompeu-se, sem argumentos — Eu não acho que deva ser uma boa ideia… O que ele fez foi arriscado… 

 

— Eu sei… É por isso que eu não pretendo dar todos os miraculous… Só alguns… Pras pessoas que a gente sabe que pode confiar.

 

— Você não tá pensando em devolver os- – parou de falar, vendo a expressão tensa no rosto da de olhos azuis, que parecia estar falando sério — Ladybug, não! A gente não pode arriscar pessoas que o Shadow Moth sabe a identidade… 

 

— É por isso que eu queria usar os amuletos! Eu iria dar esses que eu consigo fazer por enquanto para eles… Além de que eu conversei com o grão-mestre e ele falou que é possível um portador de miraculous mudar sua aparência de herói! Ele só precisaria criar um alter-ego – continuava a tentar convencer o mais alto, que estava com uma feição preocupada.

 

— Mas, mesmo assim… A gente não pode usar eles como cobaia dos seus amuletos… Se um deles for pego, seria um miraculous a mais na mão no Shadow Moth.

 

— Não são cobaias! A gente precisa de ajuda Chat! Eles já foram heróis antes… O Luka, a Kagami, a Alya, o Nino… Eles sabem como lidar com akuma melhor do que qualquer um… Se eles puderem mudar as identidades antigas deles e tiverem o amuleto, que protege de akumas, então a gente não estaria arriscando eles… E como você mesmo disse… É melhor do que escolher pessoas aleatórias e correr um risco como o mestre Fu correu nos escolhendo – o felino ficou calado, continuando a escutar os argumentos de sua amiga com certo aperto em seu peito. Todos aqueles nomes… Já tinha Marinette envolvida em algo possivelmente grave… Não queria que seus amigos se envolvessem também.

 

— Eu não quero ter que arriscar eles de novo… Eu ainda acho que… Dar os miraculous permanentemente é muito… – não conseguia terminar de falar. Aquilo era demais para a cabeça do adolescente, que já estava tendo que se preocupar com tanto.

 

— A gente tem que confiar neles… E você tem que confiar em mim… Se eles aceitarem… Vai ser escolha deles, não vai? – Ladybug via Chat Noir cerrar um de seus punhos, nervoso, enquanto seu semblante demonstrava certa insegurança.

 

— Eu confio… Eu confio, mas… Eu não sei… – sentia um aperto em seu coração. Logo quando ele precisava de um tempo para ele, sua parceira estava pensando em recrutar novos heróis. Estava com medo… Por um lado, tinha que resolver suas coisas com Marinette e precisava colocar a cabeça no lugar. Por outro… Estava com medo de ficar um tempo fora e ser substituído. Talvez devesse desistir da ideia de dar um tempo das patrulhas… Ele ainda podia fazer aquilo.

 

— Chat? O que foi? – dessa vez, propositalmente, colocou a mão sobre o punho fechado do herói de preto e fitou-o preocupada — Você tá estranho… Você tinha alguma coisa pra me falar também, não tinha? O que é? – foi cautelosa em sua pergunta, tentando, de verdade, entender o lado do parceiro.

 

— Eu… – inquieto, olhava para a mão de Ladybug que segurava seu punho fechado com carinho. Não era algo que o incomodava, porém estava o machucando… Respirou fundo. Precisava falar… Ele sabia que podia confiar nela… E se não pudesse… Em quem mais confiaria? — Eu preciso de um tempo pra mim… – falou encolhendo seus ombros, vendo as sobrancelhas da parceira baixarem.

 

— Como… Assim? Tá tudo bem? – levou sua outra mão, devagar, na direção do rosto do loiro, que a impediu, agarrando sua mão. O que foi uma surpresa para ela, que conseguia entender, apenas pelo olhar dele, que não estava tudo bem — É por causa do que eu falei?

 

— Não! Eu só… Tô com muita coisa na cabeça, sabe? O gato aqui tem seus assuntos pra resolver – tentou satirizar um pouco de sua situação para não preocupar muito a joaninha — Eu preciso resolver uma coisa… Então, eu acho que vou ficar algum tempo sem patrulhar – tirou seu punho fechado do contato com uma das mãos da heroína e segurou a outra mão dela com ambas as mãos — Eu vou tentar continuar com a investigação, mas eu não tô muito legal pra isso… E eu ainda vou aparecer quando tiver um akuma… Se… Você precisar, claro… – desviou o olhar em sua última frase.

 

— Por que eu não precisaria? – inferiu confusa.

 

— É que… Eu confio em você se você quiser dar os miraculous para outras pessoas… Mas se isso acontecer… Eu vou ser só mais um portador de miraculous qualquer… Eu não sou igual a você que é necessária para capturar o akuma. Você não vai mais precisar de mim como antes agora que a gente vai ter um time – colocou para fora aquele seu receio que havia surgido em meio ao plano de Ladybug, evitando encontrar o olhar dela, para não demonstrar sua insegurança.

 

— Claro que eu vou precisar! Não é porque seremos mais heróis que você vai deixar de ser importante pra mim… Eu… – levou sua mão livre até a frente de seu peito, sentindo seu coração agitado — Eu não estaria aqui hoje se não fosse por você que me apoiou desde o primeiro dia – olhou nos olhos do parceiro com confiança em suas palavras, porém com um fitar tímido.

 

— M'lady… – seu jeito de usar aquele apelido em um tom de voz tão reconfortante fazia a de madeixas escuras derreter internamente.

 

— Confia em mim… – largou as mãos dele e tomou o rosto do garoto em suas mãos, querendo ter certeza de que seus olhos ficassem mergulhados no verde — Se você precisar de um tempo pra resolver suas coisas, então, por mim, tudo bem… Mas eu gostaria que você ainda lutasse ao meu lado, não importa se tiverem outros heróis juntos… Você sempre vai ser meu favorito. E eu prometo… Assim que eu puder… Quando eu tiver certeza de que consigo… Eu vou fazer um amuleto pra nós dois, o mais breve possível, e então a gente não vai mais precisar de segredos. Confia em mim… – repetia aquela sentença com seu sorriso mais gentil do que nunca, conseguindo entender um pouco do que seu parceiro queria dizer com precisar de um tempo. Ela também precisou disso quando ninguém sabia de seu segredo… Quando foi akumatizada.

 

— Eu confio em você, Bugaboo… Valeu, por isso… E… Pode confiar em mim… Eu vou aparecer ainda e… Prometo resolver tudo logo. A gente vai acabar com tudo isso… – sua voz soou um pouco rancorosa, como se estivesse com raiva só de lembrar quem era a possível causa de tudo aquilo. Seu pai. Ainda não tinha provas, mas… De qualquer forma… Ele sabia de algo e isso o enfurecia.

 

— Eu sempre vou confiar em você, gatinho. Somos nós contra o mundo – encostou sua testa na do felino, que abriu um sorriso brincalhão.

 

— Sempre – fechou os olhos para aproveitar o momento. Não importava o que fizesse… Nunca conseguiria superar aquela garota. Por mais que também amasse Marinette, sabia que sempre seria apaixonado por Ladybug, não importava qual fosse a situação. Ele, realmente, precisava conversar com Marinette sobre isso, além de várias outras coisas. Como ele podia estar apaixonado por duas pessoas ao mesmo tempo e na mesma intensidade? Abriu os olhos e mergulhou sua visão naquele azul anil mais uma vez.

 

"— Eu que agradeço, Senhor Perfeito."

 

Chat Noir se assustou com aquela lembrança repentina do ocorrido de mais cedo, que havia sido tão estranho. Aquele era um apelido que ele usava apenas com Ladybug para se referir ao garoto que ela gostava… Então… Por que Marinette sabia e tinha usado-o com ele como Adrien? Teria sido apenas uma coincidência? E se… Ambas se conhecessem? E se ela fosse a garota que sabia a identidade de Ladybug? Faria sentido… Era a única coisa que fazia sentido. Isso significava que a joaninha era alguém próximo a ele, já que nunca havia visto Marinette com ninguém que não fosse da escola, porém não era algo para ele ficar pensando. Não estava com pressa de descobrir. Assim como Ladybug achou melhor deixar o assunto sobre Adrien tê-la chamado de princesa para trás… Chat e o modelo deviam conversar, então não era nada que devesse se preocupar, já que eles estavam investigando na mesma casa. Além de que, se ela perguntasse algo, seria estranho, já que só Marinette havia escutado. Ao invés disso, ambos ainda se encaravam com a garota, rapidamente, desviando o olhar até a boca do loiro, que percebeu.

 

— O… Encontro – o herói se afastou, sabendo que não poderia ficar muito mais tempo daquele jeito. Ainda não era o momento certo… Não queria apressar. Talvez fosse tudo coisa da cabeça dele, porém ele havia notado que Ladybug estava diferente — Eu também vou pensar sobre isso… – sorriu, desviando o olhar.

 

— Achei que tinha esquecido – falou um pouco nervosa, mas ao mesmo tempo aliviada por ele ter tocado no assunto.

 

— Eu nunca esqueceria, M'lady – voltou ao seu tom brincalhão de sempre — Mas acho que, por hoje, já tivemos uma bela noite – disse, levantando-se e oferecendo a mão à joaninha, que a agarrou e também ficou de pé. 

 

— Você não tá me enrolando, né? – retrucou a sátira, no mesmo tom leve, mesmo que aquilo fosse um medo de verdade que ela tinha. Não queria criar esperanças.

 

— Eu nunca faria isso com você… Eu só preciso resolver minhas coisas antes, e aí… Eu prometo te dar o melhor encontro que você já teve – trouxe a mão da heroína para mais perto de seu rosto e a beijou, em seu gesto já característico. 

 

— Então você acabou de aceitar? – perguntou com um olhar sugestivo.

 

— Eu ainda não sei… Eu ainda preciso de um tempo pra pensar – suspirou, não correspondendo ao flerte de sua parceira.

 

— Não precisa ter pressa… Resolve suas coisas com calma. Você sabe que eu vou sempre estar aqui – mesmo que um pouco decepcionada, a mais baixa se aproximou do felino e lhe deu um breve beijo na bochecha.

 

— Valeu por ser tão compreensiva, M'lady… – soltou a mão da garota e a viu andar mais para o lado, tirando o ioiô de sua cintura.

 

— Como eu disse… Pode contar comigo… – sorriu com um olhar sereno e jogou seu ioiô para longe — Boa noite, Chat – desejou, ficando só tempo o suficiente para ouvir a resposta do parceiro, que partiu na direção contrária após responder:

 

— Boa noite.

 



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