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História Onde o Coração Pertence - Parte 2


Escrita por: ArikaKohaku

Capítulo 2 - Parte 2


 

Amor é fogo que arde sem se ver,

é ferida que dói e não se sente;

é um contentamento descontente;

é dor que desatina sem doer.

 

É um não querer mais que bem-querer;

é um andar solitário entre a gente;

é um nunca contentar-se de contente;

é um cuidar que ganha em se perder.

 

É querer estar preso por vontade,

é servir quem vence o vencedor,

é ter quem nos mata lealdade.

 

Luis de Camões em Líricas

 

Ela bateu com os pés fortemente na terra. A sua respiração era ligeiramente ofegante tinha corrido até ali. Era um parque infantil no meio de uma zona de merenda dentro de um jardim zoológico, havia crianças a correr por todos os lados e alguns adultos a observá-los. Agora em passos mais calmos ela foi sentar-se num dos baloiços, ao lado dela estava uma menina, metade da sua idade, que sustinha a mesma expressão arreliada que ela.

 

Sentiu o seu coração a bater fortemente depois da corrida. Lançou as pernas para frente e começou a baloiçar. De inicio devagar, mas depois mais rápido. O vento que provocava batia-lhe contra os cabelos. Furiosamente foi baloiçando e ficou assim vários minutos, até que finalmente abrandou e ficou simplesmente agarrada às cordas do baloiço. Ela não queria estar ali, embora tivesse sido ela a pedir ao seu omma para irem ali. No entanto, o que ela realmente queria era encontrar o seu appa. Um que ela nunca tinha conhecido. Só que já estavam naquela cidade há quase uma semana e ainda não tinha encontrado o seu appa. E o seu omma não parecia ter grande vontade de o encontrar.

 

- Heemi! Não queres comer? - Um homem alto, de roupas simples e de cabelo negro e estilizado, estava a alguns metros dali sentado num banco, com uma bebé ao colo a quem ele dava um biberão.

 

- Não, não quero! - Respondeu alto a menina de cinco anos ao seu lado no baloiço.

 

- Ainda estás assim por causa dos dinossauros?

 

- Aquilo não são dinossauros! São ossos! - Gritou a menina arreliada com o próprio pai. Heemi levantou-se do baloiço, deu a volta ao mesmo e sentou-se de costas para Minho, isto sobre o olhar curioso da criança que tinha ao seu lado. O homem, no entanto, soltou uma gargalhada e observou por momentos as costas da filha antes de brincar um pouco com o bebé. Rémi por seu lado, tinha os seus grandes olhos sobre o rosto de Minho, e indiferente à birra da irmã, parava por vezes de mamar para se rir das brincadeiras do pai, deixando Minho completamente babado com as gracinhas que a sua filha estava a aprender.

 

- Eu já te tinha dito que os dinossauros não existem mais. - Falou Minho, não reparando nos olhos curiosos que estavam fixos na sua figura. Com Rémi sentada no seu colo e com uma mão a segurar o seu biberão, que ela ajudava a equilibrar com as suas pequenas mãozinhas, ele usava a mão livre para vasculhar um saco de bebé e retirar a lancheira da filha mais velha para fora. - Heemi, vá lá vem comer qualquer coisa.

 

- Eu não tenho fome. Além disso vamos buscar a mãe daqui a pouco. - Respondeu Heemi, depois olhou para a menina parada ao seu lado e puxou-lhe a manga da camisola para ter a sua atenção. - Queres brincar ali?

 

Apontou para o grande parque de areia que ficava alguns metros mais ao lado e quando a outra menina concordou silenciosamente, Minho viu as duas meninas moverem-se juntas até à areia. Suspirou resignado e com um pouco de inveja. Na idade da filha era tão fácil fazer amizades. Era só um simples “vamos brincar” e já se tinha parceiro contra a solidão. Remí gargalhou quando acabou de comer e Minho trouxe-a para uma posição direita para que ela desse o habitual arroto depois de comer.

 

- Ficámos só tu e eu. - Declarou Minho, Rémi começou a espernear e Minho percebeu que ela queria andar, então agarrando nos seus bracinhos colocou a bebé em pé no chão. Enquanto Heemi e a menina construiam com a areia aquilo que parecia uma montanha. Olhou em volta e estranhou não ver mais ninguém sentado por perto, mas não pôde pensar muito mais, pois Rémi começou a andar rapidamente em direcção ao parque de areia, onde via a irmã a divertir-se, e sendo o seu apoio Minho foi quase arrastado.

 

- É a mana, não é? Está a brincar com outra menina... - Rémi respondeu com um balbuciar de bebé e continuou vigorosamente em direcção ao parque. Em breve, pensou Minho, Rémi deixaria de precisar de lhe dar as mãos para conseguir andar. Em casa ela já andava agarrada as coisas, e quando queria algo rapidamente, ela gatinhava velozmente para o que queria. A sua bebé estava a crescer. Sorriu. Era um pai complemente orgulhoso.

 

- Bumin!- Minho levou um ligeiro susto com o berro quando um ómega passou por ele em direcção ao parque. Um bonito ómega, se Minho pudesse observar. Parecia um homem de gostos requintados pela maneira como se vestia e naquele momento a sua testa suava e as suas bochechas estavam completamente vermelhas como se tivesse corrido durante muito tempo. O mesmo ómega não se fez rogado e puxou a menina que Rémi acabara de conhecer para fora do parque e olhou-a de maneira muito arreliada. - O que é que te passou pela cabeça Kim Bumin para começares a correr daquela maneira e desapareces da minha vista?

 

- Eu não quero estar aqui! Nós devíamos estar à procura do appa e não aqui. - Gritou a criança soltando-se das mãos do seu progenitor e querendo começar a correr novamente, porém o ómega tentava agarrá-la. Ela não viera para uma cidade nova e dissera adeus a todos os seus amigos para estar a conhecer o jardim zoológico. Na realidade, o seu omma andava a fazer-lhe uma visita guiada pela cidade desde que tinham chegado. Ela já vira quase tudo, mas ainda não vira o que realmente queria, o seu appa. Aquela pessoa que nunca tinha conhecido por causa do seu omma mentiroso.

 

- Onde pensas que vais outra vez? Eu não te vou deixar fugir. - Dizia o ómega, claramente furioso agarrando um dos braços da filha.

 

Havia qualquer coisa naquela criança que lhe lembrava o feitio de Heemi, pensou Minho ao ver toda aquela cena. A bebé balbuciou qualquer coisa alta o suficiente para atrair a sua atenção novamente e então ele reparou que tinham parado e que isso estava a irritar Rémi que queria ir depressa ter com a irmã ao parque de areia. Então ele recomeçou a andar a passinhos de bebé, afinal ele não tinha nada a ver com o que se passava com a outra criança e o seu omma, mas isso foi até a sua filha mais velha se juntar à confusão dando um valente pontapé na perna do desconhecido que tentava controlar a sua filha. O desconhecido soltou um sôfrego de dor, Heemi olhou para ele desafiadoramente e Bumin olhou para a criança de forma surpreendida.

 

- Não se deve tratar mal as crianças! - Brandou Heemi para o ómega com as mãos nas ancas e uma aura que inspirava justiça. A sua postura era a mesma que Jonghyun usava quando ralhava. Naquele momento, Heemi era em toda a sua figura, uma verdadeira miniatura de Jonghyun. Pelo menos na sua impulsividade e forma de agir.

 

- HEEMI! - Berrou Minho, depois do choque inicial. Agarrou em Rémi ao colo e percorreu os poucos metros até ao parque de areia. - O que pensas que estás a fazer?

 

Ela olhou para o pai e depois apontou para o, ainda mudo de surpresa, ómega. E apontou para ele sem qualquer vergonha e embaraço.

 

- Ele estava a tratar mal a minha nova amiga!

 

- Choi Heemi, pede desculpa neste preciso momento. - Ordenou Minho, percebendo que a filha tinha interpretado mal a situação, mas não querendo naquele momento explicar-lhe que não devia de andar a dar pontapés às pessoas só porque estas ralham com os filhos.

 

- Mas...

 

- Já!

 

Heemi não compreendeu o comportamento do seu pai, no entanto, depois de um breve embate de vontades, ou mais um cruzar de olhares carismáticos, Heemi finalmente deixou a sua postura de guerreira, colocou-se muito direita e pediu desculpa ao senhor desconhecido fazendo uma vénia, como a boa educação que tinha recebido.

 

- Peço desculpa pelo comportamento da minha filha. - Pediu Minho também sobre o olhar ainda surpreendido do ómega. Assim de perto, Minho conseguia ver ainda mais o quanto o outro era bonito de linhas finas, quase desenhadas, e uns olhos felinos.

 

- Oh está tudo bem. Já vi que tem uma pequena guerreira justiceira. - Brincou o desconhecido massajando a perna. Ia ficar com uma nódoa negra, mas tendo uma filha de comportamento impulsivo como aquela menina, ele simplesmente não podia culpar o alpha pelo que tinha acontecido. E talvez tivesse assustado a pequena pela maneira como tinha interrompido a brincadeira entre as duas crianças e pela forma como tinha falado com a filha. - Eu assustei-te?

 

Heemi escondeu-se então atrás das pernas do pai quando viu o estranho falar com ela. Sim, ela tinha-se assustado e tinha pensado que aquele senhor estava a fazer mal à sua nova amiga. Fora por isso que lhe dera um pontapé, pois acima do seu medo ela tinha coragem e bons ensinamentos sobre justiça.

 

- Desculpa. O meu nome é Kim Kibum e esta é a minha filha Kim Bumin. Eu não estava a fazer-lhe mal, eu estava a ralhar com ela, porque ela fugiu e desapareceu da minha vista. - Explicou o desconhecido à pequena Heemi. - Sem a ver, eu estava muito preocupado e entrei em desespero. Nunca deves desaparecer sem avisar, certo?

 

- Sim. - Heemi concordou. O seu omma tinha-lhe ensinado isso mesmo. - Então a Bumin portou-se mal!

 

- Sim, a Bumin portou-se mal. - Kibum olhou para a filha que estava cada vez mais arreliada com aquela conversa e por a sua nova amiga se ter colocado do lado do inimigo. Bumin cruzou os braços e evitou o contacto com o seu omma. - O que devo fazer quando uma menina se porta mal?

 

- Quando uma menina se porta mal não tem direito a sobremesa. - Respondeu rapidamente Heemi para espanto de Kibum que fizera a pergunta, apenas por fazer.

 

- Exactamente. Quando uma menina se porta mal, fica sem sobremesa. - Rematou Minho com um sorriso e piscando o olho em compreensão ao novo conhecido.

 

- Eu já não tenho cinco anos. - Ripostou Bumin. - Passo bem sem uma sobremesa.

 

- Mas será que passas tão bem assim sem o teu tablet? - Questionou Kibum. Os olhos da filha abriram-se em choque. Não acreditava que o seu omma lhe iria fazer aquilo. Era a primeira vez, mas também fora a primeira vez que fugira. - Minha querida, vais ficar um mês sem o tablet!

 

- Omma!

 

- E não te atrevas a fugir outra vez. Tens a noção do susto que me deste? Tens a noção do que podia ter acontecido? Podias-te ter perdido e um maluco qualquer podia ter-te levado. - Enquanto ralhava a menina continuava a olhar para ele sem entender a preocupação pela qual o seu progenitor tinha passado. Ela apenas sabia que ele não compreendia. Não compreendia o quanto magoada ela se sentia, o quanto ela tinha raiva dele. Ela só queria correr para longe dele. Queria fugir dele. Para ela, o seu omma era um sufoco.

 

- Eu quero continuar a brincar com a Heemi. - Declarou a filha quando Kibum se tinha calado para respirar fundo, virando as costas e saltado para o parque de areia sem autorização. Vendo a amiga a regressar à areia, Heemi saiu de trás das pernas do pai e juntou-se a Bumin.

 

- Heemi, espera...

 

- Eu também quero continuar a brincar.

 

- Mas... - Minho estava reticente, afinal o tal Kibum tinha acabado de castigar a filha.

 

- Não faz mal. Pode deixá-la estar. - Concordou Kibum perante o olhar inquisidor de Minho. Era melhor ter a filha concentrada em algo do que a fugir por ali.

 

- Bem, parece que a sua filha é tão teimosa quanto a minha guerreira justiceira. - Riu-se Minho tentando quebrar a tensão que se tinha criado por toda aquela situação. Estendeu o seu braço desocupado, no outro estava encaixada Rémi e cumprimentou o estranho. - Choi Minho.

 

Era uma maneira estranha de conhecer pessoas, pensou Minho, esperando que a sua filha não fizesse questão de dar pontapés a todos os estranhos que achava que estavam a ser maus para as suas filhas.

 

***

 

- Já não era hora do o Minho-hyung ter chegado? - Questionou Taemin ao entrar na loja de flores “Kim SunFlower”. Trazia na mão um enorme jarro, repleto de cravos vermelhos, que deu a Jonghyun para este arrumar. Estava na hora de fechar a loja e apesar de não trabalhar ali, como amigo, Taemin viera ajudar Jonghyun. Além disso, Taemin casara com alguém de bastante dinheiro e não precisava de trabalhar. Era um autentico dono de casa, mas eram mais as vezes que estava a ajudar Jonghyun na loja do que dentro de casa.

 

- Ele mandou mensagem a dizer que vai chegar mais tarde. Parece que a Heemi arranjou uma nova amiga. - Explicou Jonghyun continuando a desfazer a montra para arrumar as flores num lugar mais apropriado para a sua conservação. Nesse momento o sino do cemitério tocou. As portas do mesmo iam encerrar e depois observou-se o silêncio. A calmaria dos mortos. E com a mesma calma eles continuaram a arrumar as plantas.

 

Cerca de trinta minutos depois a porta da loja abriu-se e uma Heemi entusiasmada apareceu para se agarrar ao seu omma e para lhe contar tudo sobre a nova amiga. Chamava-se Bumin e elas tinham muitas coisas em comum. Gostavam de cantar e dançar. O sumo favorito delas era o de cenoura com laranja e ambas concordavam que a melhor goma do mundo era o beijinho de nata e morango.

 

- Além de que são as duas teimosas e embirrentas. - Concluiu Minho, aproveitando uma aberta entre o palrar da filha para finalmente beijar o esposo. Obviamente que assim que se aproximou de Jonghyun, Rémi, que estivera no colo de Minho durante o monólogo da irmã sobre a sua nova amiga, passou para os braços de Jonghyun e este quase que a agarrava desesperadamente.

 

Tinham sido apenas algumas horas, mas os seus instintos maternais eram extremamente fortes com Rémi. Eram fortes com as suas duas crias, mas Rémi era ainda uma bebé, ela dependia ainda mais de si e dos seus cuidados. Embora ele soubesse que ela estava perfeitamente bem aos cuidados do pai. Mas ele era o omma.

 

- Ela comeu? - Perguntou verificando o estado da bebé. Estava limpa e contente, como sempre.

 

- Comeu. - Respondeu Minho habituado às perguntas que Jonghyun lhe fazia depois de ficar algum tempo longe das filhas.

 

- Tudo?

 

- Tudo. Tudinho. Ela nunca teve esse problema.

 

- Linda menina. - Congratulou-a Jonghyun e a bebé respondeu-lhe com uma fala e um sorriso de quatro dentes. Minho sorriu para a adoração que Jonghyun tinha pelas suas duas filhas, era um calor especial. Quem diria... vendo Jonghyun daquela maneira, completamente derretido, com paciencia, com amor no olhar... quem diria, que anos antes, ele lutara tanto contra tudo aquilo. Minho tinha um orgulho assumido em Jonghyun. O alpha lembrava-se de cada passo que a sua relação com Jonghyun dera.

 

Tinha sido tão doloroso para Jonghyun. Ele era uma pessoa naturalmente emotivo, sensivel, ele tinha uma sensibilidade extrema para as coisas, para compreender as coisas, para tratar dos outros. Era talvez por isso que as pessoas procuravam a sua protecção, os seus conselhos sem o conhecer. Ele tinha uma alma cuidadosa. Ele devia ter sido um alpha perfeito, sempre pronto a proteger os seus, a colocar-se em frente de uma linha de fogo sem pensar. Pelas pessoas que amava, pela justiça do mundo. Jonghyun era um guerreiro.

 

Fora doloroso para ele, bem mais do que muitas pessoas sabiam e pensavam, pois Jonghyun escondia bem as suas dores mais profundas. Ele quase que enlouquecera. Ele quase que cometara parvoíces. Minho sabia que era abençoado. Minho sabia que tinha sorte, que Jonghyun realmente o amava, porque de outra forma não o tinha deixado entrar na sua vida. Não tinha ultrapassado tantas batalhas mentais. Os ciclos... o estar apaixonado por um alpha... quando tinham descoberto, por descuido, que estava grávido...

-Por que estás a olhar para mim dessa forma? - Questionou Jonghyun ao perceber o olhar fixo e intenso do marido sobre a sua figura.

 

- Estou a agradecer aos deuses por te ter ao meu lado.

 

- Pateta... - Comentou embalado a filha mais nova nos seus braços numa brincadeira dançada e depois embatendo contra o corpo do alto alpha que se tinha aproximado. Recebeu os lábios de Minho.

 

Com a loja arrumada, as luzes apagadas e a porta fechada, a família Choi despediu-se de Taemin e seguiram o seu rumo para o almoço familiar. Como estava sol decidiram por um restaurante à beira mar, num restaurante que ficava simplesmente a alguns quilómetros da cidade.Heemi continuou com o relato dessa manhã. De como dinossauros já não existiam. Como é que criaturas tão grandes tinham morrido? E em como tinha falado muito sobre a nova amiga e sobre as coisas que aprendera sobre ela.

 

E depois do almoço a família deu um pequeno passeio pela praia, antes de regressarem à cidade com uma bebé adormecida, e uma criança mais calma para ir ver os avós.  



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