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História One Last Breath - Seu Sangue em Minhas Mãos


Escrita por: Mila_Stark

Capítulo 10 - Seu Sangue em Minhas Mãos


O vento frio cortava minha pele e as folhas secas caiam como chuva forrando o chão de modo que nem era mais possível ver a grama. Eu segurava a rosa negra a frente da lápide de meu pai. Era nossa tradição, a rosa negra simbolizava o luto, e o perfume dela o guiaria para os campos elísios, onde encontraria sua paz. De repente o vento mudou e a sua frente um espectro negro tomava forma.

— Meu sangue está em suas mãos – sibilou uma voz sinistra vinda do ser que se formava a sua frente.

E então o espectro se transformou em seu pai. Os olhos duros e penetrantes o olhavam com desaprovação, da mesma forma que o olhavam em vida.

Minha respiração estava presa na garganta. Era como se o ar me estrangulasse.

— Eu não queria que isso acontecesse – pôde dizer enfim – Eu não tinha ideia de qual seria o custo do ritual.

— E o fez mesmo assim – acusou se aproximando lentamente, ao mesmo tempo, por instinto, dei um passo pra trás sem notar a raiz na qual tropecei e me fez cair como um saco de cimento no chão – Por que Draco? Por que?

A voz ecoou e nesse instante despertei em um sobressalto. Passei a mão no rosto e estava suando frio. 

Esse pesadelo outra vez. Quando eu acho que me livrei dele ele novamente vem atormentar meu sono. Me sentei e corri a mão do rosto até a nuca. Mais uma noite mal dormida. Esse cansaço era tão constante que não se lembrava mais de como era não ter ele o acompanhando aonde quer que fosse. 

Me deitei e fiquei mais um tempo tentando dormir novamente, mas foi em vão. Me levantei indo em direção à porta, sabendo que eu não poderia dormir, resolvi ir até a biblioteca. Poderia continuar a pesquisa que tinha iniciado há algumas semanas. Caminhei pelos corredores e cheguei até onde eu tinha ordenado que fossem colocados os livros. Ao chegar na sala algo chamou minha atenção. O acervo parecia maior. Seria a disposição das estantes? Não... definitivamente havia mais livros do que me lembrava. E então percebi, eram os livros dela. Foram incorporados a minha biblioteca. Certamente Blasio deve ter enviado eles e quando os empregados foram organizá-los devem ter pensado que ficariam no mesmo espaço. Eu tinha deixado diversos cômodos a disposição de Granger, para que ela mesma escolhesse onde colocaria suas coisas. Terei que falar com Vincent pela manhã para que ele coloque os livros dela no espaço que ela escolher.

Olhei para a mesa e estava exatamente como ela ficava na mansão Malfoy, as penas e os tinteiros a direita, a gaveta com os pergaminhos no centro e a esquerda uma foto minha e dos meus pais. Peguei o porta retrato, a foto mexia-se bem sutilmente. Eu tinha oito anos naquela foto e já nessa época ostentava um suéter verde e prata com o emblema de Sonserina no peito. Nunca houve uma escolha para mim, constatei com tristeza. Não que eu pensasse que a minha casa em Hogwarts devesse ser outra. Mesmo agora sabia que pertencia à casa de Salazar, mas era nítido que meu pai não aceitaria outro caminho para seu herdeiro que não fosse o que ele já havia traçado.

— Você dominou minha vida enquanto estava nesse mundo, pai – lamentei-me com a fotografia – não é justo que me atormente ainda depois de morto. Por que não vai logo pro além e me deixa viver minha vida sem sua influência?

Como era de se esperar, a foto não me respondeu. Apenas me olhou com arrogância e desdém. “Seu sangue está em minhas mãos” estremeci me lembrando do pesadelo.

— Você realmente preferiria ter morrido pela maldição daquele demônio, pai? – perguntei novamente sem esperar que uma resposta viesse. Suspirei colocando a fotografia dentro da gaveta. Não queria mais ficar olhando pra ele. Vê-lo em seus pesadelos já era o suficiente.

Com um aceno da varinha conjurei um accio para localizar o livro que eu estava folheando dias atrás. Um livro antigo com capa em couro gasto veio até minhas mãos. Abri e comecei a anotar algumas coisas, coloquei o desenho do símbolo que eu procurava ao lado do livro e novamente me pus a procurar. A imagem daquela runa ainda estava vívida em minha mente, mesmo assim por mais que procurasse, ainda não tinha tido sucesso. Fiz algumas anotações de runas similares que podiam me ajudar a encontrar a origem daquela inscrição, e por algumas horas continuei a minha procura. Quando os primeiros vestígios da aurora coloriam o céu, a porta da biblioteca se abriu e me surpreendi ao ver Granger entrando por ela.

— Desculpe... não sabia que estava aqui – falou quando percebeu minha presença, mas estranhamente não fez menção de sair.

— Não precisa se desculpar – afirmei colocando a pena no tinteiro – acordou cedo.

Ela soltou um suspiro exausto.

— Estou acordada há algumas horas. Cansei de ficar rolando na cama e resolvi explorar o lugar. E você? Tem o costume de trabalhar de madrugada?

— Não – comentei observando-a – eu também tive insônia – ela olhou as estantes e passou os dedos na lombada de alguns dos livros que estavam ali – aparentemente misturaram nossos livros. Eu planejava pedir para o Vincent separá-los para que você pudesse escolher onde os colocaria.

Ela olhou em volta.

— Não me importo em dividir a biblioteca com você – ela falou parecendo indiferente e de forma distraída pegou um dos meu volumes de alquimia – se você não se incomodar pode deixa-los onde estão.

— Bem... nesse caso – levantei e fui para perto de onde ela estava – fique a vontade pra pegar meus livros quando quiser.

Ela assentiu e pude sentir que sua guarda estava baixa.

— Granger, eu tenho pensado e acho que seria benéfico para nós dois se houvesse uma forma de melhorarmos nosso convívio.

— O que você sugere? – perguntou com uma leve curiosidade.

— Pra começar, podíamos parar de nos chamar pelo sobrenome – ela me encarou com dúvida no olhar – nós já fizemos um sacrifício de sangue, promessas foram feitas e cumpridas, nos casamos e moramos sob o mesmo teto. Depois de tudo que já aconteceu entre nós dois, não conseguirmos nos chamar pelo nome beira ao ridículo.

Ela pareceu ponderar um instante.

— É... acho que você tem razão – concordou e vi uma sombra de um leve sorriso.

— Que bom que concordamos – comentei tentando não deixar meu alivio tão evidente – Agora, gostaria de me acompanhar no café da manhã, Hermione? – era estranho chama-la pelo primeiro nome, mas contava que isso ficasse mais natural com o passar dos dias.

— Sim... Draco – respondeu colocando o livro no lugar.

Saímos da biblioteca em direção à sala de jantar. Vincent nos encontrou em um dos corredores.

— Bom dia Senhora, bom dia Senhor – cumprimentou formal.

— Bom dia Vincent, sabe me dizer se o café da manhã já está pronto?

— Está sim senhor, inclusive estava indo avisá-lo nesse momento.

— Ótimo – olhei para Hermione – vamos?

Chegamos à sala de jantar e a mesa estava posta com pães, algumas frutas, e iogurtes além do meu amado café.

Sentamos próximos um do outro e nos servimos em silencio.

— Bem menos exagero, hein? – ela quebrou o silêncio. Obviamente estava falando do nosso café na manhã anterior.

— Sim, como eu disse antes eu não tinha a menor ideia do que lhe agradava – comentei pondo mais café na minha xícara.

— E agora sabe? – questionou em tom de desafio.

— Bem... eu sei que gosta de iogurte natural com blueberrys – apontei para a sua tigela – sei que gosta de café com leite e sei que não parece gostar muito de pães.

Ela deu um leve sorriso de canto e surrupiou a fatia de pão com queijo que estava no meu prato e deu uma generosa mordida.

— Engano seu – falou bem humorada – eu adoro pão, só não estava com vontade ontem.

Eu tomei um gole do meu café tentando mascarar o sorriso que se formava em rosto. E dei de ombros.

— Está certo então.

— Mas as outras coisas você acertou – comentou levemente surpresa – o que é impressionante já que só fizemos duas refeições juntos.

Concordei com a cabeça. É claro que ela se referia ao nosso jantar de casamento e ao café na manhã seguinte, já que ontem ela não almoçou e a noite pediu a uma das criadas que trouxesse um caldo para comer no quarto. Era estranho notar que eu realmente estava me esforçando mais do que eu normalmente me esforçaria pra deixá-la a vontade.

Meus pensamentos foram interrompidos pela minha coruja chegando com o correio. Um pacote de cartas e o Profeta Diário foram deixados ao meu lado. Dei uma olhada rápida nas cartas, não tinha nada urgente, então deixaria pra ler depois, no entanto uma delas não estava endereçada a mim.

— Essa é pra você – entreguei a ela que pegou o envelope da minha mão.

Desdobrei o jornal e como de costume ia jogando de lado o caderno de fofocas escrito por aquela petulante da Rita Skeeter pra me focar nas noticias, no entanto o titulo da matéria me impediu de descarta-lo. HERMIONE MALFOY, estava escrito em letras garrafais no topo da matéria e o texto divulgava nosso casamento realizado em segredo, e fazia inúmeras insinuações do motivo dela ter se casado comigo entre as quais estavam golpe do baú, gravidez indesejada, alpinismo social e de minha parte chantagem, ou usá-la para limpar meu nome e garantindo a simpatia dos meus algozes por estar casado com uma das maiores heroínas do mundo bruxo. Eu lia aquilo sentindo meu rosto queimar de raiva, sem poder acreditar que aquela cretina teve a coragem de inventar tantas calunias. Quando olhei para Hermione ela estava ainda com a carta em mãos e sua expressão era séria e seu rosto estava pálido 

— O que houve? – perguntei estranhando a forma como ela lia aquele papel. 

— Meu estágio no Ministério foi negado – falou ainda observando a carta – Não consigo entender.

Respirei fundo tomando coragem.

— Acho que eu sei o motivo – estendi o jornal pra ela, e ao ver o titulo da matéria agarrou incrédula as páginas do Profeta.

Passou os olhos no texto e pude ver conforme sua íris ia pulando de palavra em palavra seu cenho se franzia mais e mais.

— Shacklebolt não pode ter acreditado nesse monte de mentiras – falou enraivecida ao finalizar a leitura.

— Provavelmente ele não acreditou, mas... ele e Karhold são melhores amigos. Eles estudaram juntos em Hogwarts. É bem provável que aquele bastardo influenciou a decisão do Ministro.

— Acha mesmo que Karhold tenha feito a minha caveira? – o olhar dela era quase desolado quando me perguntou isso.

— Acho – falei reafirmando minha opinião – nesse momento o senhor Hudson já deve ter tomado posse da minha antiga casa e Karhold deve ter rastreado nosso paradeiro, afinal, não estamos escondidos. Agora ele provavelmente está espumando de raiva por ter perdido a chance de me ver pendurado pelo pescoço e se sentindo um estúpido percebendo que eu estou fora da jurisdição dele. Com certeza já deve ter formalizado um pedido ao governo francês para que eu seja extraditado e pelo que minhas fontes me informaram o pedido será submetido a semanas de burocracia e será negado alegando que um cidadão francês deverá responder pelos seus crimes na França e só então eles descobrirão o porquê de termos nos casado.

Ela respirou fundo tentando conter a raiva que crescia nela. Colocou o jornal de lado e se levantou.

— Perdi a fome – avisou ao me deixar sozinho.

Peguei o jornal e reli a matéria, apenas para me sentir mais irritado e inconformado com a cara de pau daquela miserável.

— Senhor Malfoy – Vincent chamou minha atenção – O senhor Zabini deseja vê-lo.

Sem esperar minha resposta Blasio passou irritado pela porta.

— Não precisa me anunciar, seu pinguim engomadinho – comentou sem paciência vendo o mais velho se retirar – e você precisa mesmo de toda essa pompa, Malfoy?

— Tenho problemas maiores do que regras de etiqueta pra me preocupar Blasio – resmunguei cortando esse assunto inútil.

— É eu sei – ele falou pegando o jornal – foi por isso que eu vim, queria te avisar antes que você lesse essa droga pra que você não ficasse tão nervoso.

— Como eu não vou ficar nervoso? – a irritação parecia exalar pelos meus poros tirei o jornal das mãos dele – “...Em contrapartida, não se pode descartar a possibilidade de Draco Malfoy ter apelado para métodos obscuros para convencer a jovem senhorita Granger a aceitar seu pedido, já que minhas fontes garantem que a grande heroína jamais suportou o herdeiro Malfoy, e que somente sob influencia da maldição imperius ela teria concordado em se unir a ele em matrimônio.” – joguei pra longe a droga do jornal ao ler novamente aquele trecho e passei a mão no rosto respirando fundo tentando controlar minha respiração.

— Minha reação foi a mesma. Até mesmo pra ela isso foi baixo – comentou sentando-se ao meu lado – Granger já viu isso?

— Já – levantei indo em direção a janela – acabou de sair daqui.

— Ouça – começou hesitante – eu tenho motivos pra acreditar que foi o Weasley quem vazou a história pra Skeeter.

— O que? – olhei para ele espantado – tem certeza?

— Não... é só um palpite, eu vi os dois conversando no Beco Diagonal – ele deu de ombros – ele era uma das poucas pessoas que sabiam.

Senti meu sangue ferver de novo e não pude deixar de desejar que eu tivesse deixado ele morrer. Ao mesmo tempo a conversa que eu tive com Hermione sobre ele me veio a mente. Ela considera ele muito virtuoso, e o conhece melhor do que nós dois, talvez eu e Blasio estejamos julgando ele precipitadamente.

— Acho que não – falei enfim – essa história pode ter vazado por outros meios. Alguém que cuidou da nossa papelada no ministério francês ou o oficiante do casamento. O Weasley tem grande consideração por Hermione, não a prejudicaria dessa forma. Mesmo assim, fique de olho e se souber de alguma outra coisa me conte.

Ele assentiu e serviu-se de uma xícara de café.

— Eu também queria te avisar que sua mãe já está instalada no chalé De La Forêt. Ela pediu pra dizer virá te visitar em breve – ele falou mudando o assunto.

Confesso que relaxei um pouco ouvindo isso. Minha mãe havia escolhido a dedo esse lugar pra ser sua nova casa, depois de anos vivendo na Mansão Malfoy, decidiu que preferiria viver sozinha num pequeno e luxuoso chalé nos arredores de Marselha.

— Obrigado, Blas – coloquei minha mão no ombro do meu amigo – não sei o que eu faria sem você. Sua ajuda e sua amizade tem me dado forças pra continuar. Nunca poderei te pagar por tudo o que está fazendo por mim.

— Enquanto eu puder te ajudar meu amigo, pode contar comigo.

Nunca fui dado a demonstrações de afeto, mas naquele momento foi inevitável o impulso de dar nele um abraço.



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