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História One more time, One more change - Prelúdio


Escrita por: Kvothez

Notas do Autor


Na verdade, não era para eu postar o capítulo hoje, mas no dia 20 desse mês - tava querendo postar os capítulos com a diferença de um mês. Mas daí eu fiquei ansiosa e cá estamos nós com mais um episódio dessa saga! hsuahushaush
Espero que gostem do capítulo! Tenham uma boa leitura :3

Capítulo 11 - Prelúdio


No caminho de volta ao hotel, foi inevitável que Eiji perguntasse o que seu amigo achou dos seus ex-colegas. Ash não mentiu. De alguns, sinceramente gostou e simpatizou, este foi o caso de Himuro e Ryo. De outros, ele queria distância, como foi o caso do tal Hideo.

    Embora fosse muito diferente de Ash, o fotógrafo pensou que tinha muito em comum com o mais novo, pois em verdade, ele também não simpatizava com todos os seus ex-colegas, especialmente com Hideo.

    Ash e Eiji já estavam bem cansados quando chegaram no hotel em que estavam hospedados. Ainda que sentissem que havia a necessidade de conversarem, preferiram dar o dia por encerrado. Assim, tomaram seus banhos e foram dormir, cada qual na sua cama.

    No dia seguinte, o americano acordou primeiro e chamou o serviço de quarto.

Assim que Eiji despertou, teve uma inesperada surpresa. Em uma mesa entre sua cama e a de Ash, havia um café da manhã bastante variado. De um lado: torradas, frutas, geleias, pães e bolos; do outro, café, suco e leite.

– Eu não sabia o que você poderia querer, então pedi um pouco de tudo. – Informou o americano.

– Esse hotel deve ter custado uma fortuna mesmo. – O fotógrafo alcançou seus óculos que estavam ao lado da sua cama. 

Ash fez beicinho. – Sério que essa é a primeira coisa que você fala do meu presente de bom dia? Assim eu vou me magoar.

– Desculpa. – Bocejou Eiji ainda sonolento. – Quando se tem pouco dinheiro, é inevitável para pessoas como eu medir o valor das coisas.

Ash levantou uma questão. – Você acha que fez um bom investimento comprando um apartamento? – O americano queria dizer isto desde que se inteirara mais das condições financeiras de Eiji, entretanto, como o fotógrafo estava abalado pela briga com seu pai, ele preferiu não tocar no assunto antes.

Eiji se levantou e foi até a mesa do café. – Sobre isso, eu não te expliquei os detalhes, mas o apartamento foi vendido para mim pelo Ibe-san, que praticamente cobrou por uma merreca. Mesmo economizando por alguns meses, jamais teria dinheiro suficiente para comprar um apartamento, ainda que fosse em um bairro afastado do centro. Mas não fale isso para meu pai. Ele odeia o Ibe-san, acha que foi ele quem colocou minhocas na minha cabeça para me tornar fotógrafo. E já que estamos sendo sinceros, pessoalmente, acredito que meu pai tem algum tipo de ciúmes paterno de Ibe.

O americano ficou incomodado. – Vocês japoneses tem uma mania estranha. 

Curioso, pensou que talvez Ash estivesse bravo. – Como assim? Está irritado? Eu fiz algo errado?

Ash continuou. – Não estou estou exatamente bravo. Sabe, notei que japoneses têm essa mania de não contar tudo sobre determinadas coisas. Você não havia me dito nada sobre comprar o apartamento do Ibe, também não havia me dito muita coisa sobre seus pais antes de irmos para sua casa, e ontem Ryo falou sobre seu pai ter feito alguma coisa...

Eiji não gostava daquela tensão. – Mais do que uma mania, acho que é uma conduta bem típica japonesa. Somos meio “fechados” nas nossas relações, ao contrário dos ocidentais que são bastante abertos. Muitas vezes é preciso que algumas coisas sejam diretamente perguntadas para serem respondidas. – O fotógrafo se levantou, foi até a cama de Ash e sentou-se ao seu lado. – Desculpa se pareceu que eu escondi algo de você. Quando sentir que deve me perguntar alguma coisa, apenas faça isso.

Há um minuto, Ash estava incomodado com o fato de Eiji esconder coisas dele, mas agora sentia-se culpado. Mais uma vez: que direito tinha de obrigar seu amigo a lhe contar detalhes sobre sua vida?

– Eu sou um idiota mesmo. – Murmurou. – Se existir algo do qual você não queira comentar, seja porquê te machuca ou porquê você não quer dar explicações, então não precisa se abrir comigo. Mais do que qualquer um, eu deveria entender a dor que alguns assuntos podem causar.

O fotógrafo discordava de Ash. – Não compare os assuntos que podem me machucar com os assuntos que te machucam.  Você tem justificativas melhores que eu.

– Eiji, você que não deve fazer isso. Por mais que eu tenha passado por muita coisa difícil, não quer dizer que os seus problemas sejam menores que os meus, ou os de qualquer outra pessoa. Cada um lida com a dor de uma forma diferente e às vezes algo pode representar um inferno para alguém que, para mim, por exemplo, talvez fosse uma bobagem. Devo menosprezar o sofrimento alheio, então?

O fotógrafo compreendeu o ponto a que seu amigo queria chegar. – Tem razão. Você é mesmo muito sábio, Ash. – E sorriu para o mais novo.

Por que até mesmo um sermão em Eiji fazia parecer que ele estava em desvantagem? Pensou Ash.

– Por que está fazendo esse biquinho? – Questionou Eiji.

– Nada. – O americano desviou seu olhar do outro.

– Tudo bem. – O fotógrafo afirmou. –  A propósito, sobre o que meu pai fez ao Ryo...

Ash interrompeu. – Você não precisa dizer se não quiser.

Eiji sacudiu a cabeça em negativo. – Tudo bem, não é um problema, embora seja vergonhoso. – Ele respirou fundo. – Meu pai sabia que Ryo andava com más companhias e por isso denunciou ele para polícia. Foi um tiro no escuro, mas descobriram que os amigos de Ryo estavam envolvidos com pequenos furtos, nisso, ele foi envolvido nesses crimes e parou em um reformatório. Por sorte, não esquentou muito lá, pois era inocente e isso foi provado.

Ash estava indignado. – Desculpa Eiji, mas eu preciso falar. Como alguém tão legal como você tem um pai como ele? E que bom que foi só um reformatório e não a cadeia.

Nesse momento, o fotógrafo já estava de pé para ocupar-se com seu café novamente. – Bem, aqui no Japão reformatórios podem ser grandes coisas, pois acabam te marcando para vida toda. Depois de passar por um, é difícil conseguir um emprego e isso pode dificultar na hora de entrar em uma universidade. Por sorte, Ryo teve a inocência provada e seu histórico ficou limpo. Mas ainda sim, ele foi encarcerado sem necessidade, deve ter sido horrível passar por um reformatório.

– Horrível é, mas imagino que os do Japão sejam menos piores que os da América. – Nesse momento, Ash foi absorvido por lembranças do tempo em que ele próprio havia estado em um reformatório¹.

Eiji testemunhou um olhar distante do americano, e apenas como palpite sugeriu: – Não me diga que você também passou por um reformatório?!

– Para que essa cara? – Disse o mais novo. – Eu já fui preso, ir para um reformatório é o de menos.

– Alguma vez na sua vida você viveu tranquilamente?! – O fotógrafo foi inquisitivo.

Ash arriscou dizer. – Desde que vim para o Japão estou vivendo tranquilamente.

Eiji não voltou a falar pelo minuto seguinte. Ash, inclusive, pensou que talvez seu amigo fosse esquecer daquele assunto, mas este não foi o caso. – Que idade você tinha? – Interrogou.

– 14 anos.

Eiji relutou ao dizer as próximas sentenças. – Eu não queria falar sobre isso, mas posso te perguntar mais uma coisa?

– Claro. – Apesar de dizer isto, Ash estava nervoso pelo que viria a seguir.

– Quando esteve preso eu descobri que você… deixou pessoas ruins te abusarem. Ash, quantas vezes já permitiu que fizessem isso com você? Isso aconteceu também quando passou pelo reformatório? – Como Eiji estava de costas, o mais novo não pôde ver seus lábios trêmulos ao fazer esta pergunta.

Ash inclinou sua cabeça para baixo. – Talvez você não queira saber.

No entanto, essa resposta disse o suficiente.

Eiji, que até então mal havia tocado no seu café da manhã, ficou inquieto. Depois de abandonar a mesa generosa na sua frente, se pôs a caminhar de um lado para outro até pedir licença para ir ao banheiro. Depois de meia hora embaixo do chuveiro, voltou a aparecer.

Ash não disse nada ao avistar seu amigo, mas pôde notar os olhos vermelhos do fotógrafo. Embora Eiji tentasse parecer forte não chorando na frente dele, sua expressão o denunciava.

Apenas de roupão, o fotógrafo se aproximou do mais novo e o abraçou. Como estava de pé e Ash sentado, Eiji seguro a sua cabeça contra o peito. – Eu queria ter entrado na sua vida muito antes de ter te conhecido. – Foi a primeira coisa que disse depois do abraço.

Era sempre muito reconfortante abraçar Eiji e os sentimentos de Ash, naquele momento, pareciam remeter ao dia em que havia chorado no colo do fotógrafo após desabafar. Naquela noite, sendo consolado por Eiji, ele acabou dormindo tranquilamente, acordando com o mais velho sobre seus braços.

– Eu pensei nisso ontem quando estávamos na casa da sua amiga. Eu também queria ter te conhecido muito antes, mas isso seria impossível. Mas sabe, Eiji, quando fomos dormir ontem à noite, percebi que a ideia de continuar participando da sua vida era muito mais interessante que participar de uma parte pequena dela. – Ash levou suas mãos às costas de Eiji, retornando seu abraço. – Mais do que ter participado da sua adolescência, eu quero participar de toda sua vida. 

Aproveitando o contato próximo, o fotógrafo deslizou os dedos nos cabelos de Ash e os tocou com carinho. – Eu não pretendo passar minha vida longe de você. - Inspirando profundamente, continuou. Dessa vez, Eiji voltou a uma parte desagradável da conversa que teve com o mais novo naquele dia. – Ash, por que você deixava as pessoas abusarem de você? Por que você não lutava? Eu quero entender...

O americano era compassivo com os sentimentos de Eiji. – Por que eu cansei de lutar. Era mais fácil desistir, me encolher e esperar que tudo acabasse. Eu sofreria menos dessa forma. Talvez você nunca entenda isso... com o tempo me acostumei tanto a ser maltratado que usei meu corpo como moeda de troca. Era a forma que eu encontrei para sobreviver . – Após uma pausa, continuou. – Quando eu te conheci passei a pensar que a ideia de viver era muito melhor que a de sobreviver.  Ainda que por um momento eu tenha estragado tudo isso naquela biblioteca...

Eiji ainda tentava ser forte, barrando qualquer lágrima que pudesse escapar. Mas como ele poderia ser forte nesse momento? – Você não estragou. – Ele empurrou Ash dos seus braços para poder encará-lo mais uma vez. – Você não estragou… – Repetiu, repetiu, cerrou os olhos e os abriu novamente. – Apenas me prometa que vai se valorizar daqui em diante. Que não vai deixar ninguém tocar em você ou te machucar novamente.

Por curiosidade, Ash questionou: – Não vai me fazer prometer não matar ninguém também?

O fotógrafo foi imediato na resposta. – Isso jamais.

Era óbvio que Ash ficou surpreso com a resposta. – Eu estou ouvindo isso mesmo de você?

– Eu não posso prever o futuro. Se algum dia alguém tentar te matar, eu quero que você se defenda, nem que para isso tenha que matar. Ash, para ser sincero, eu sei que lá fora existem pessoas que querem seu mal, e eu tenho muito medo de te perder. Entre isso e matar, eu prefiro a segunda opção. – Disse Eiji com certa culpa.

Isso foi inesperado. Embora soubesse que Eiji mataria por ele, como já havia feito naquele mesmo ano, quando usou uma arma e errou o alvo, Ash jamais esperaria que seu amigo verbalizasse o apoio de matar pessoas pela sobrevivência. Depois de tudo, o fotógrafo era uma pessoa que odiava violência.

– Eu espero que isso não tenha que acontecer, mas pode deixar que eu não desistirei fácil da minha vida. – Sorriu. – Sobre a promessa de não deixar ninguém me machucar ou me abusar. Poderíamos fazer aquela coisa do dedinho de novo? Dessa vez, como estou mais bem treinado em japonês, quero falar aquelas coisas que falou.

O fotógrafo fez que sim com a cabeça, então segurou o mindinho de Ash com o seu próprio. Repita comigo: – Yubikiri genman uso tsuitara hari senbon nomasu. Yubi kitta.

– Então, você estava falando coisas assustadoras naquela vez?! – De qualquer forma, Ash não tinha a menor intenção de voltar atrás com sua promessa, então repetiu as palavras: – Promessa do dedo mindinho, se eu estiver mentindo, terei que engolir 1000 agulhas e cortarei meu dedo mindinho. – Sorriu forçosamente.

Por algum motivo, o coração de Eiji começou a se acalmar e sua vontade de chorar igualmente. – Acho que agora vou terminar o café da manhã. Depois disso, podemos fazer algo no shopping, comer e voltar para minha casa pela tarde. 

– Podemos fazer isso. – Assentiu Ash. – Mais primeiro… – Ele acenou o dedo para baixo do roupão de Eiji.

– Meu deus! – Exclamou o fotógrafo. – E-eu, não vi que estava aberto! Desculpa! Você viu alguma coisa?! – Eiji tapou suas vergonhas.

Não havia sentido na pergunta de Eiji quando claramente havia sido Ash quem notou a exposição das suas partes baixas.

Depois de praticamente um ano de convívio com Eiji, esta era a primeira vez que o americano havia lhe visto nu. Com as bochechas coradas, respondeu. – Pedir desculpas pelo o quê? Você não tem culpa, e pode ficar tranquilo, eu recém percebi que você… estava exposto.

Em toda sua vida, Eiji raramente foi visto nu. A verdade era que ele era tímido demais para certos assuntos, razão pela qual nunca havia beijado ninguém no colegial, muito menos feito algo além disso. Desta forma, era razoável sentir-se tão envergonhado naquele momento. 

Depois disso, Eiji foi rapidamente pegar suas roupas na mochila para se trocar no banheiro. 

Enquanto era deixado sozinho, o americano aproveitou para verificar sua caixa de mensagens, momento que deparou-se com uma correspondência inesperada. Era Miya, irmã de Eiji. “O que essa menina quer?”, pensou o americano. Ao abrir a mensagem, descobriu o que era: “Apenas para depois você não dizer que não sou uma boa amiga: Amanhã é véspera de Natal e muitos estabelecimentos estarão fechados. Sugiro que você compre o presente do meu irmão ainda hoje. De preferência, compre algo romântico e bonito, que transpareça seus sentimentos por ele. Pelos meus conselhos e serviços oferecidos, aceito um donativo. Chocolates são legais, eu aceito chocolates. Abraços da sua cunhada”.

Ash quase tacou o celular na parede. Era como se ele estivesse sendo chantageado por um diabrete mirim. Desde quando, alguém como ele, que amedrontava mafiosos, havia se rebaixado aquele nível? O quão sem vergonha poderia ser Miya? Ele tentou relaxar. Ash não poderia ser insensato. Apesar dos devaneios da adolescente, ela não era má pessoa e nem agia de má fé, ao contrário dos seus pais. Talvez Miya realmente merecesse um chocolate ou dois, pensou.

De volta do banheiro, o fotógrafo estava mais calmo. Ele não voltou a tocar no assunto da sua nudez, mas tocou em tópico espinhoso. – Eu sei que vou estragar seu dia voltando para casa, mas vou tentar facilitar sua vida quando estivermos lá.

– Você diz me mimar? – Perguntou o americano descontraído.

O fotógrafo deu o braço a torcer e sorriu. Não dava mais para negar o quanto ele mimava Ash.

[...]

Como haviam combinado mais cedo, Ash e Eiji foram até o shopping da cidade para almoçarem. Depois disso, o plano era voltarem para casa do fotógrafo, mas o americano tinha seus próprios compromissos. – Eiji, você não quer ir na frente? Eu preciso fazer algo aqui no shopping.

– Como assim? Podemos fazer juntos.

Ash gesticulou um não com a cabeça. – Não faça perguntas. Apenas vá para casa, e não se preocupe, eu sei o caminho de volta.

Por um momento, o fotógrafo ficou abatido, mas em seguida ligou certos pontos e concordou em ir na frente. Era Véspera de Natal e poucas vezes ele e Ash haviam desgrudado um do outro. Era bastante claro que o mais novo planejava comprar presentes agora que estava no shopping. Depois de tudo, isso fazia parte do roteiro natalino – Tá bem, mas tem certeza que não vai se perder?

– Você não confia em mim? – Sorriu o americano. – Qualquer coisa pego um uber, eu já decorei o endereço da sua casa.

Eiji  já não tinha como argumentar. – Apenas se cuide então. Eu vou estar te esperando.

Assim que o fotógrafo se foi, Ash botou a mão na massa e foi atrás dos presentes de Natal. Ele precisava comprar 4: um para Eiji, um para Takeshi, um para Kaname e outro para Miya. Mas o que cada um gostava? O presente de Eiji seria o mais complicado. Quanto ao casal Okumura, o americano entendeu que não adiantava esquentar muito a cabeça sobre o que poderia dar a eles, afinal, ele mal os conhecia. Assim, decidiu dar um colar bastante elegante para Sra.Okumura e um perfume para o Sr. Okumura.

Quando passou em frente a uma loja de música, notou que em um dos cartazes havia um anúncio para o novo disco do grupo BTS. Se antes ele estava em dúvidas do que daria para a caçula dos Okumura, agora essa dúvida foi para os ares. Ash havia encontrado o presente perfeito. 

Como esperado, foi difícil  decidir o que dar ao fotógrafo O americano estava pensando em algo valioso, mas Eiji não era o tipo de pessoa que se importava com essas coisas. Por outro lado, Ash não queria dar algo simples, com receio do amigo pensar que valia pouco. Por fim, depois de rodar todo shopping, ele encontrou algo perfeito. 

Para finalizar, decidiu comprar alguns chocolates para Eiji. O fotógrafo adorava comê-los, então mesmo que não ficasse feliz com o presente que iria receber, pelo menos dos chocolates iria gostar. Ao sair da loja, o americano ainda pensou duas vezes, então decidiu retornar para dentro do estabelecimento. – Me vê mais chocolates, moça! – Depois de tudo, Ash não podia deixar Miya sem seus chocolates.

    Já era perto das 17 horas quando terminou de fazer as compras. Com fome, parou em uma cafeteria, pediu um capuccino e uma torta de limão para acompanhar. Quando finalmente saiu do shopping, ele sentia-se de alguma forma feliz e realizado. Mesmo que seu amor fosse unilateral por Eiji, sua vida havia tomado um rumo diferente. E tudo indicava que as coisas só melhorariam. Era Natal, ele estava com a pessoa que amava, na cidade que tanto sonhava em estar, e longe de todo mal que um dia lhe machucou - e parte disso, porque Dino também estava morto.

Inicialmente, o americano planejava caminhar algumas quadras antes de pedir um uber. Isto, pois às luzes natalinas nas ruas eram bastante bonitas e ele queria apreciá-las antes de ir embora. Ash, inclusive, pensou que talvez fosse uma boa ideia levar Eiji para ver aquele mesmo espetáculo de cores que estava vendo.

Após andar algumas quadras bastante admirado, ele começou a notar um carro seguindo-o. "Desde quando?" pensou. Depois de alguns passos, simplesmente parou de andar, assim, o carro parou bem ao seu lado.

    – O que você quer Nagai? – Foi logo dizendo.

    Os vidros do carro foram então abaixados, revelando o mais velho com um cigarro entre os lábios. – Como sabia que era eu? – Indagou.

    – Pela placa do carro. – Respondeu o americano.

    Nagai riu. – Sério que conseguiu lembrar? Eu demorei semanas para decorar essa placa, e olha que sou um cara muito inteligente. – Baforou um bocado de fumaça.

     “Pareceu que não o suficiente”, Ash omitiu este pensamento. – Se me der licença, estou indo para casa. – E apressou o passo.

    – Não quer carona? – Nagai continuou a segui-lo com o carro.

    – Não. – O americano foi incisivo.

    – Olha que eu vou continuar te seguindo até você aceitar!

    Ash não duvidava disso, mas fingiu não ouvir. Apenas seguiu seu caminho, na esperança que o mais velho desistisse.

    – Vamos, não seja chato! Que tal falarmos de Eiji? Tenho muito a dizer do meu sobrinho.

    Nagai já estava causando uma comoção na rua. Ash realmente não gostava daquele tipo de atenção, então finalmente deu o braço a torcer. – Está bem. – Soltou o ar trancado na garganta.

O americano entrou no veículo preto e colocou os presentes atrás do carro.

    – Coloque o cinto. – Orientou o sorridente Nagai.

    Ash fez o que o mais velho pediu e esperou o carro dar partida. Por poucos minutos, nada foi falado. A quietude era mórbida.

Pelas janelas do veículo, o americano viu as luzes de Natal dançarem em uma confusão de cores. O efeito causou uma impressão psicodélica, pela velocidade em que Nagai dirigia e pelo resultado das luzes contra as vidraças do carro.

Dentro Mercedes, Ash teve que aguentar a nicotina emanando do cigarro de Nagai. Apesar de estar acostumado com ambientes frequentados por fumantes, depois de anos, ele ainda sentia seus olhos arderem por causa da fumaça.

    – Então, o que você e meu sobrinho são um do outro?

    Ash achou a pergunta muito estranha. – O que mais seríamos? Somos amigos é claro.

– Você sabe o que eu estou sugerindo. – O homem deixou às cinzas do cigarro caírem em um cinzeiro improvisado.

– Não senhor, eu não sei. Poderia me esclarecer? - O tom de Ash era quase debochado. 

– Garoto, não me provoque. 

Os sentidos de Ash estavam em alerta desde mais cedo, mas agora apitavam com mais força. O modo como Nagai falava com ele, era como se quisesse assumir o controle da situação.

– Você gosta de histórias, Ash?

– Só das interessantes. – E acrescentou. – Mas costumo resistir aos romances mesmo quando são interessantes.

– Que pena. Eu tinha justamente uma história de amor para contar. – Apesar de lamentar, o tom de Nagai era o mesmo. – Acho que não tem problema eu contar mesmo assim, né?

Mais uma vez Ash deu de ombros. – Faça como quiser. Temos tempo até chegarmos na casa de Eiji.

Nagai então fez isso. – Quando dizem que um homem pode ter tudo e ainda sim ser infeliz, às pessoas não têm noção do quanto isso é verdade. O homem da minha história se encaixa perfeitamente no caso. Ele tinha tudo: se queria comer, mandava servirem os melhores pratos; se quisesse beber, pedia garrafas inteiras em bons restaurantes e as bebia sozinho; se quisesse sair, viajava para qualquer terra distante; se quisesse saciar sua luxúria, se esgueirava em boates noturnas e fodia com rapazes bonitos no banheiro. No entanto, ele jamais poderia amar plenamente. E esse era o ponto da sua infelicidade. Como poderia admitir seus sentimentos para um sociedade que o julgaria? Amar era proibido para esse homem. E estava tudo bem, já que até aquele momento ele realmente não havia se apaixonado por ninguém, até que um dia isso mudou. Como, você me pergunta? A negócios ele foi para um país muito, muito distante. Lá, se viu de repente com emergências masculinas. Você deve saber, homens tem essas necessidades, não vamos culpá-lo, está certo? – Nagai olhou em direção a Ash, mas rapidamente voltou a olhar em direção a estrada. – Como ele não queria passar por joguinhos e flertes para saciar seu desejo, foi em um estabelecimento de luxo que oferecia o que buscava. Lá ele deu de cara com inúmeros rapazes. Todos muito atraentes, mas nenhum deles era especial para aquele homem, o que era estranho, porque ele só queria aliviar seu líbido e até então, não era tão exigente. Foi então que, dentro da sala onde estava, ele viu passar um anjo ao lado de um demônio. Pela primeira vez na vida ele havia avistado tal criatura divina e mal conseguiu conter sua emoção. Imediatamente, perguntou para o subordinado do tal Diabo quanto custava ter uma noite com o anjo que havia visto, e sua resposta foram gargalhadas inumanas. 

Ele disse: “você não conseguiria alcançá-lo com o que tem”. O homem sentiu-se contrariado, como ele, um homem cheio de posses e influência não teria dinheiro para pagar por uma noite de amor com aquele que fizera seu coração acelerar? Foi quando ele descobriu o valor daquele menino, e entendeu que jamais poderia alcançá-lo. Em um dia, nosso protagonista fez tudo que sempre esteve ao seu alcance: viajou, bebeu das bebidas mais bem fermentadas, se alimentou das comidas mais requintadas, mas não pôde se deitar com o mais belo homem que havia visto na vida. Irônico, não?

– Mas você pensa que acabou por aí? – Sorriu Nagai. – Não! – Ele gesticulou em negativo com a cabeça. – Não! Essa história de amor que prometia ser impossível se mostrou provável. O homem, mundano e ordinário acabou se encontrando novamente com aquela criatura saída de contos homéricos.

E pela primeira vez, sentiu que o anjo talvez não fosse tão inalcançável assim. Talvez, suas asas já não estivessem mais no céu, mas sim na terra.

    – Acabou? – Perguntou Ash.

    – Sim, acabei. – Respondeu o tio de Eiji.

– Sua história é muito ruim. – Falou o americano.

– Eu pelo menos me esforcei. – Nagai mostrou seus dentes perfeitamente alinhados. – Veja só, chegamos! Ash, foi um prazer poder conversar com você. Poderíamos conversar mais vezes. 

O americano não respondeu Nagai. Ele simplesmente, levantou, pegou suas coisas atrás do carro e caminhou em direção ao portão.

Nagai, mais uma vez, chamou sua atenção. – Ei, Ash. Me diga uma coisa, o anjo ainda está debaixo das asas do diabo?

    Ash parou seu passo. – Não mais. – Ele virou seu corpo e olhou diretamente para Nagai. – Mas um youkai² apareceu para tomar sua liberdade e agora quer afugentar o anjo em baixo das suas asas, assim como o diabo fez uma vez.


Notas Finais


¹ Essa informação é verdade. Em Angel Eyes, spin off de Banana Fish, Ash conhece Shorter em um reformatório. Lá, ele ainda é abusado sexualmente :c
² Monstro, demônio ou assombração pertencente a cultura japonesa.

CONSIDERAÇÕES
1) Nesse capítulo tivemos bastante informação, né? Foram dois cenários: o primeiro onde tivemos a conversa do Ash e do Eiji e a segunda... cheia de intriga xD
2) Alguns de vocês me pediram recomendação de onde podem ler Garden of Light. Vou deixar dois links. O primeiro é uma tradução de fã para fã no facebook: https://www.facebook.com/pg/BananaFishBrasil/photos/?tab=album&album_id=294723407907706&ref=page_internal
Este segundo está em inglês, para caso não consigam acesso no facebook: https://kissmanga.com/Manga/Banana-Fish/Vol--019-Ch-061---Side-Story--Garden-of-Light?id=428053
3) Meu twitter para quem quiser ver eu falando da fanfic de vez em quando: https://twitter.com/kvothez_avila

Me apoiem como escritora comprando meu E-book na amazon (apenas 12 reais)! Link: https://www.amazon.com.br/dp/B09DTRYFDV?fbclid=IwAR2w8mvWSw1CQFyJh7b2_8nXq3Im-HaVICrDrT4mQS4LQExiJX3xWuYpDww
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