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História One more time, One more change - Frustração


Escrita por: Kvothez

Notas do Autor


Aviso de gatilho: Esse capítulo tem linguagem pesada e assédio. Para algumas pessoas pode ser forte, por isso estou avisando >3<

Capítulo 15 - Frustração


Ash e Eiji permaneceram por mais 30 minutos no abrigo que foi palco da confissão mútua dos sentimentos deles. Entre música, risos e mãos dadas, de repente, o clima agradável foi interrompido. 

– Eu sei que vou estragar o momento, mas poderíamos ir embora, Ash?

O americano olhou para o lado, em direção a pessoa que agora podia chamar de namorado. – Aconteceu alguma coisa?

– Aconteceu. – Respondeu o mais velho. – Eu comi demais e misturei coisas que não devia. Você sabe, bebida com chocolate. Acho que meu corpo não tá acostumado com esse tipo de coisa… eu realmente não estou me sentindo bem. 

Ash tentou abafar o riso. – Eu avisei. Você não está acostumado a beber e comer tanto, parecia uma criancinha...

– Mas é que é bom demais. – Retornou o fotógrafo.

– Quando você estiver discutindo comigo, eu vou lembrar de usar esse seu argumento. 

– Não seja mesquinho, estou mal e você ainda aí me provocando. Pensei que quando fossemos um casal você seria mais bonzinho! – Rebateu Eiji.

– Quer que eu te leve no colo? Eu não teria problemas com isso.

Eiji sentou-se. – Não me coloque em uma posição ainda mais vergonhosa. Apenas chame um uber e vamos para casa, por favor. 

Ash fez como o namorado disse. Pouco depois, saíram da tenda para encarar o frio avassalador.

– Olha, Eiji! – Chamou o mais velho. – Eu só percebi agora, mas essa barraquinha era para simular um pinheiro. Não acha isso meio cafona?

– Eu acho fofo. – Enquanto segurava a barriga, o fotógrafo não sabia se sentia mais frio ou dor.

– Você tem um péssimo gosto.

Eiji torceu o nariz diante da resposta que recebeu.

– Está bem, está bem. – Ash se aproximou do mais velho. – Mesmo cafona, por dentro é confortável e quente, e eu também nunca vou esquecer dessa noite. Satisfeito? – Falou tentando disfarçar a timidez.

Apesar da dor, Eiji sorriu. Ele nunca pensou que advogaria por um pinheiro falso. – Muito satisfeito. Agora se o senhor puder ser bondoso, poderia colocar o lixo das embalagens e do chocolate quente fora?

Ash fez esse favor, já que o namorado parecia se sustentar de pé com muita dificuldade. Pouco depois, o uber chegou.

Era por volta das 22:00 horas quando eles retornaram para casa. E não foi surpresa para nenhum deles serem recebidos pelo casal Okumura.

Com os cenhos franzidos e algumas rugas que saltavam ao rosto, Takeshi foi logo pedindo explicações. – Quer dizer que sua mãe faz um jantar delicioso para os dois, e vocês simplesmente somem?! E por que diabos sozinhos? Eiji, poderia pelo menos ter levado sua irmã ou a Mamoru-chan com você!

O fotógrafo respirou fundo. – Pai, primeiramente, não estou em condições de brigar. Se o senhor não está vendo, estou passando meio mal aqui. Segundo, mamãe pode guardar as coisas do jantar para o almoço de amanhã. Hoje é apenas Véspera de Natal, o Natal mesmo pode ser muito bem comemorado no dia certo. Não concorda? E só para o senhor saber, eu e meu amigo somos dois rapazes, queríamos fazer programas de homens, por que levaríamos duas garotas conosco?

No primeiro momento, Ash especulou qual seria esse programa de homens, mas logo se deu conta que Eiji estava apenas dando uma desculpa.

Takeshi se aproximou do filho, então tapou o nariz. – Meu deus, você bebeu! – E deu um passo para trás. – Ash, você é responsável por isso?!

– Hum?! – O gângster foi pego de surpreso. – Não, senhor, ele gosta de beber mesmo.

– Ei, não vá colocando a culpa em mim! – Se defendeu o fotógrafo.

– Eiji! – Exclamou Ash indignado.

– O quê?! – Respondeu o mais velho. Por dentro, ele ria da situação toda.

– Meu deus, isso que dá meu filho andar com americanos, fica todo liberalzinho! Vá para cima logo, tome um banho e se deite. Sua mãe vai fazer um chá para você.

Ainda indignado por ter sido responsabilizado pela “bebedeira” de Eiji, o americano acompanhou os pais do namorado que agora poderiam ser chamados de seus sogros. Embora esse detalhe, fosse desconhecido a eles.

Muito hábil, Kaname chegou à cozinha e já foi logo pegando um monte de ervas e galhos para fazer uma infusão de chás. Enquanto isso, Takeshi remoía a situação anterior.

– Eu não acredito em uma coisa dessas! O garoto não pode tomar uma bebida que já fica mal do estômago! 

Ash pensava consigo mesmo: “ele está bravo porquê o filho bebeu ou porque Eiji não é um exemplo de masculinidade?".

– Por acaso vocês não foram para esses lugares suspeitos, né? – Sugeriu Takeshi.

O americano ficou um pouco confuso. – De que lugares o senhor fala?

– É claro que estou falando de bordéis!

Ash levou a mão até sua boca para esconder o riso. – O senhor pode ficar tranquilo, não fomos há nenhum desses lugares. Você deve conhecer bem seu filho, ele jamais frequentaria um ambiente desses.

O mais velho pareceu não escutar. – É óbvio que vocês não diriam se fossem. Em todo caso, se pretendem ir no futuro, pelo menos usem preservativo. É o mínimo! Não quero nenhuma mulher do mundo batendo na porta da minha casa com uma criança no colo!

– Takeshi! – Sua esposa ralhou – Você não vê o quão inconveniente está sendo?! Eles só foram beber! É por isso que nosso filho prefere sair de casa ao invés de ficar com os pais dele. Por causa dessas atitudes suas!

Na verdade, Eiji só havia bebido um copo de chocolate quente com conhaque, não era como se ele tivesse tomado longas doses de álcool. Mas Ash preferiu não se meter na discussão. Antes, ele já havia sido culpado pela "bebedeira" do namorado.

O Sr. Okumura ficou quieto. Se tinha uma coisa que ele não gostava, era de brigar com a esposa. 

– Faça algo útil e vê se teu irmão precisa de algo. Depois disso, vá arrumar nossa cama que eu já estou indo dormir.

– Nagai está aqui?! – Ash ficou em alerta, olhando para as duas entradas da cozinha.

Kaname achou curiosa a reação de Ash, mas não pensou muito sobre isso. – Ele quis passar o Ano Novo com a gente já que não tem uma família. Então aproveitou para dormir aqui. A decisão veio em um bom momento, pois vamos almoçar todos juntos amanhã.

Só de saber que iria dormir no mesmo teto que Nagai naquele dia, causou arrepios em Ash.

Takeshi se levantou e foi em direção a sala. – Não sei porquê tu tem sempre que brigar comigo... – Falou para esposa antes de sair.

Em resposta, a Sra. Okumura exclamou: – Pela amor de deus, eu é que digo, por que tem que ser tão sentimental?!

Takeshi não respondeu, apenas seguiu seu caminho de cabeça baixa.

– Aposto que ele vai chorar. – Comentou Kaname.

 – Eu pensei que ele fosse durão.

– Takeshi? – Kaname se virou para Ash. – Mas nunca! Ele se faz de másculo, mas é uma manteiga derretida. É só cutucar que começa a chorar. Por exemplo, quando Eiji e você foram para o hotel e ficaram alguns dias lá, esse homem ficou insuportável. Noite e dia só falava sobre o filho odiá-lo.

Ash estava conhecendo um outro lado de Takeshi. Mas apesar disso, ele era consciente de que não podia baixar sua guarda. Afinal, o pai do seu namorado mandou Ryo para o reformatório e bateu no filho quando suspeitou que fosse gay. Só de imaginar essa situação, deixou o americano apreensivo. Se antes Eiji apanhou pela simples suspeita de ser gay, agora que namorava um homem, o que poderia lhe acontecer? Essa, no entanto, era a escolha do fotógrafo, que mesmo sabendo das consequências, decidiu ficar com a pessoa que gostava, e Ash iria respeitar essa decisão.

– Eu sei que isso é meio do nada, mas hoje vi o seu filho cantar e tive muita vontade de vê-lo tocando também. A senhora, por acaso, tem algum violão? Não vi nenhum no quarto do Eiji. – Desconversou o mais novo.

– Música e noite não são uma boa combinação, Ash. – Pontuou a mais velha. – Mas, Eiji sabe tocar violão desde quando? Ele aprendeu na América?

As memórias de Ash sobre o suposto futuro de Eiji eram meio nubladas em alguns pontos, mas ele nunca duvidou que essas premonições fossem falsas. Mas agora, pela primeira vez, ele confrontou a possibilidade real de que o que viu, enquanto estava em coma, não era real. O pensamento, entretanto, era perigoso, pois colocava Ash em uma posição muito confortável. Afinal, ele se livraria da culpa por condenar os dias de Eiji ao luto.

– Equívoco meu. Achei que ele soubesse já que se dá muito bem com a música.

– E não é? Ele sempre teve o jeito para coisa. No fundo, sempre acreditei no meu filho como um artista. Ele tira fotos tão bonitas, canta tão bem… aposto que se resolvesse pintar ou mesmo tocar um instrumento, teria facilidade em aprender.

Ash estava gostando daquela conversa. – Acho que somos o completo oposto um do outro. Enquanto ele se dá bem nas artes, eu sou péssimo nessa área¹. Posso ler vários livros com facilidade, programar em linguagens complexas e fazer cálculos difíceis, mas se me pedirem para desenhar, provavelmente não faria um trabalho melhor do que o de uma criança.

Kaname entregou um copo de chá para Ash. – Não só nas habilidades. A personalidade de vocês é diferente. Ele é mais gentil e altruísta, você já me parece mais obstinado, sério e confiante. 

– Eu sou sério? – Ash riu, mas logo se deu conta do óbvio. – Ah, de fato muita gente pensa assim, Eiji com certeza é uma das exceções. E provavelmente deve ser o único que conhece meu lado mais sensível.

– É porque vocês são amigos. – A Sra. Okumura observou. – Com certeza entre vocês as conversas são mais descontraídas e abertas. Por exemplo, você deve conhecer um lado do meu filho que eu jamais terei acesso. 

Ash refletiu sobre aquelas palavras. Até então, Eiji era seu amigo e os dois se tratavam como tal, mas e agora? Como seria o relacionamento deles na qualidade de namorados? O fotógrafo seria mais tímido? Mais sincero? Mais afetivo? As coisas entre eles mudariam?

– Queria que ele fosse mais carinhoso. – Falou com beicinho.

– Disse algo, Ash?

O americano se deu conta que falava em voz alta. Imediatamente tapou a boca. Como se tivesse sido pego por um delito. 

Enquanto o gângster estava nervoso, Kaname entrou em outro assunto. – A propósito, a dor na barriga do meu filho, seria o que mais especificamente? Vômito ou… – Ela tossiu fingidamente e continuou. – ... ou você sabe.

Ash quis rir. – Eu apostaria na segunda coisa. É por isso que preferi dar espaço para ele. Provavelmente ficaria envergonhado se o seguisse imediatamente para o quarto, assim que chegamos.

– É bem a cara dele mesmo. – A mais velha abriu outra gaveta. – Ele fica muito tímido quando o assunto é sua intimidade. Uma vez quase peguei ele nu, por causa disso ficou três dias sem olhar no meu olho! Ah, achei! – Em seguida, aproximou-se de Ash. – Além do chá dê esse remédio a ele. E se por acaso meu filho continuar se sentindo mal e indo no banheiro, prepare um soro caseiro. Saberia fazer?

Ash fez que sim com a cabeça para confirmar. 

– Certo. Agora se você me der licença, vou ir dormir. Boa noite, Ash.

Assim que se despediu da Sra. Okumura, o americano subiu as escadas e foi direto ao quarto de Eiji. Quando chegou lá, o fotógrafo recém estava saindo do banheiro. – Como está sua barriga? – Indagou.

– Nem me pergunte... – Eiji subiu na cama e se enrolou no cobertor.

– Ei, aqui seu remédio. Sente-se.

– Eu não quero fazer isso. – Reclamou Eiji.

– Eiji, você está muito mimado hoje. – Pontuou o mais novo.

o fotógrafo se esforçou para sentar. – Na próxima vez não me deixe comer tanto. 

– Um cara dessa idade e eu tenho que te censurar? De qualquer forma, você é teimoso demais para eu tentar te impedir de qualquer coisa... – Ash alcançou um copo de chá e um envelope de remédio para o mais velho. A situação era meio cômica, na verdade. Geralmente era Eiji quem fazia o papel de mandão e não o americano.

– Isso aqui é remédio para disenteria. – O rosto de Eiji estava pálido.

– Sim. – Afirmou o Ash. – Vai te fazer bem.

De branco como papel, a tez de Eiji foi adquirindo um tom vermelho, denunciando seu constrangimento. – Eu nunca iria imaginar que passaria uma vergonha dessas no primeiro dia de namoro com, justamente, meu primeiríssimo namorado. – E alcançou o remédio.

Ash esforçou-se para não rir. – Ei, você tem a intenção de namorar outras pessoas? – E continuou. – Eu não vejo problema nas suas partes feias. Se um dia ficar doente e precisar ser cuidado, eu irei te ajudar no que precisar.

Eiji devolveu o copo e o envelope de remédio para o outro. Em seguida, deitou-se novamente. – Eu sei que posso contar com você para qualquer coisa, mas entenda, isso não vai diminuiu toda a vergonha que estou sentindo no momento. 

– Não seja bobo. Por que ficar constrangido com uma coisa tão natural?

O fotógrafo não quis responder.

Chateado com o silêncio, Ash levantou a blusa de Eiji.

– O-que você está fazendo?!

O mais novo explicou: – Vou fazer massagem na sua barriga. Assim, você vai se sentir melhor. 

– Meu deus, Ash, eu vou é piorar! – Eiji não sabia se ria ou chorava. – Você com certeza não pode ter filhos, vai ser um perigo para a criança!

O americano torceu o nariz. – Pois saiba que eu sobrevivi por 18 anos, cuidando de mim mesmo. E veja só, estou inteiro!

Eiji já não poderia dizer que o namorado estava inteiro. Por dentro ele sabia que Ash tinha muitas feridas, mas preferiu não tocar nesse assunto. – E vai continuar inteiro, enquanto eu estiver ao seu lado. – E segurou a mão pálida do outro. – Eu vou cuidar de você.

Sem graça, Ash aproveitou para levantar uma questão. – Eiji, por acaso você é gay? 

– Por que isso do nada? – Enquanto falava, deu um tapa na mão de Ash que tentava se aproximar mais uma vez da sua barriga. – Acho que sou Ashsexual mesmo. 

O americano não sabia o que dizer. – Eu estou falando sério!

– Eu também. – Acrescentou o mais velho. – Se você fosse mulher eu também te amaria. Eu me atrairia por você independente do gênero.

Ash inevitavelmente ficou tímido. Levando uma das suas mãos a boca afirmou: – Então, provavelmente você deve ser panssexual.

– Ei, não dê nomes esquisitos a minha sexualidade!

Ash não respondeu o mais velho, mas ainda sim sentiu-se tocado por suas palavras. No dia anterior, o fotógrafo provocou ele, chamando-o de grudento e isso fez Ash achar que talvez seu namorado não fosse do tipo carinhoso. Mas agora, enxergava o quanto Eiji gostava dele. – Vamos parar de brincar. Que tal ir tomar um banho? – Sugeriu ainda tímido.

Assim que ouviu as palavras de Ash, Eiji se enrolou no cobertor.

– Definitivamente você está sendo mimado hoje!

Eiji ainda sentia dores no estômago, por isso ficou enrolando embaixo da coberta por um tempo, mas passados alguns minutos, os remédios que havia tomado finalmente fizeram efeito.

– Eu vou tomar banho. – Anunciou ao se destapar.

O americano já estava ficando impaciente com a demora de Eiji, mas por outro lado entendia que talvez as dores do namorado não pudessem ser subestimadas. – Tudo bem. – Ele acariciou o cabelo do fotógrafo. – Leve o tempo que precisar tomando banho, vai aliviar suas dores e seu estresse.
 Enquanto Eiji foi ao banho, Ash desceu até o primeiro piso, levando consigo uma cartela de remédio e a louça suja.

[...]

Ash desceu as escadas e silenciosamente, com o intuito de não acordar ninguém, seguiu até a cozinha. Lá, cuidou para colocar o envelope de remédio no seu devido lugar - felizmente, ele tinha uma boa memória e lembrava exatamente qual gaveta Kaname guardava os medicamentos. Em seguida, foi lavar a xícara de chá de Eiji.

Aproveitando que estava com a mão na massa, ainda lavou o restante da louça que estava na pia. Satisfeito com seu trabalho e cansado, decidiu finalmente voltar para o quarto.

No entanto, Ash devia esperar pelo que viria, e de certa forma, ele estava com esse incômodo desde cedo, mas só foi lembrar do problema quando finalmente ele apareceu no seu caminho, mas especificamente, nas escadas.

– Poderia me dar licença?

– Por que você me odeia tanto, garoto? Eu acabei de fumar na rua e voltei agora para dentro. É pura coincidência nos encontrarmos aqui.

– Coincidência uma ova. Vai dizer que resolveu dormir nas escadas também? Mas posso dizer que estou surpreso que um tipo como você ainda se digna a fumar fora de casa. – E acrescentou. – Acho que até mesmo desgraçados podem ser educados. – Ash seguiu seu caminho sem olhar para trás.

O empresário se levantou. – Garoto, você não acha que está sendo presunçoso demais? 

Ash virou para trás. Ele sabia que não era racional responder Nagai, mesmo assim continuou. – Lixos como você merecem coisa pior. 

– Como assim, lixos como eu?

– Você ainda pergunta? – O americano carregava certo rancor enquanto falava. Embora Nagai nunca tivesse feito nada contra ele, especificamente, só por saber quem o homem era de verdade, fazia Ash lembrar de todos os homens e mulheres que o tocaram sem consentimento. – Você é um velho nojento e pedófilo!

O empresário subiu três degraus rapidamente, aproximando-se de Ash. – Tome cuidado com o que você fala. Aliás, por que está me julgando como um pedófilo?

O americano não sentiu-se ameaçado. – Você tem problemas de autoconsciência? Será que não ficou claro?

Nagai estava sério. – Acho que você me interpretou muito mal. Eu simplesmente não pergunto a idade das pessoas com quem eu fico. Isso não é perfeitamente normal? E saiba que você foi o garoto mais jovem pelo qual me interessei.

– Já vi muito pedófilo com a mesma desculpa. – Ash provocou.

– Você nunca ouviu que o amor não tem idade? Qual o problema de eu gostar de você?

O estômago de Ash revirou. Ele não acreditava no que estava ouvindo. – Não adianta discutir com você, seu ego jamais vai permitir que você esteja errado. E o que diabos você quer dizer com amor?! Seja qual forem os sentimentos distorcidos que você tem por mim, isso jamais se encaixaria como amor! 

O empresário franziu o cenho. – Você não pode dizer o que eu sinto ou não. E mesmo que eu não goste de você de verdade, como explicaria o fato de eu nunca mais ter conseguido me relacionar direito? Por muito tempo, só consegui fazer algo na cama quando projetava seu rosto nas pessoas com que eu dormia. Acha isso pouco?! – Seu tom começou a ficar alterado.

Ash contrapôs. – Você sabe o que gosto de comer? Sabe o dia do meu aniversário? Conhece minhas manias, defeitos e qualidades? Me descreveria para além dos adjetivos relacionados a minha aparência? Não se dê ao trabalho de responder. Você não me ama, nem nunca me amou. Você persegue uma imagem estética, não a pessoa real por trás desse rosto. Se amanhã eu acordasse em outro corpo, ainda seria capaz de gostar de mim?

Nagai subiu mais um degrau. – Para um prostituto, você até que é bastante sentimental. 

O americano cerrou os dentes.

– Por que é isso que você é. – Nagai ajeitou o paletó. – Eu até agora estava tentando ser legal. Sabe, eu não queria criar esse clima entre nós dois. Tudo o que menos quero é estar em atrito com você. Está vendo o que me faz fazer? – E continuou. – Ash, vamos ser sinceros. Você não está em posição de se defender. Eu posso ser um ser humano horrível, como você fala, mas o que sobra para ti? Como prostituto, não tem moral nenhuma para me acusar de algo. Provavelmente você já dormiu com homens muito piores do que eu. Então, qual o sentido de me negar? Você não está sendo muito orgulhoso?

Nagai estava certo, Ash realmente tinha deitado com pessoas desprezíveis, mas isso não era razão para aceitar ser abusado novamente. – Eu deixei o meu passado para trás. – Ele sentia-se um lixo, tudo que Ash queria era sair dali, motivo pelo qual recuou mais um passo.

– Você pode ter deixado o passado para trás, como diz ter deixado, mas jamais poderá dizer que não se prostituiu. Por que simplesmente não aceita isso? Por que não paramos com esses joguinhos? Se você quiser dinheiro, eu posso te dar. Na verdade, posso te dar muito mais que isso. Se quiser uma vida cômoda, eu te darei.

– Dinheiro? – Ash riu . – Por que acha que eu precisaria de dinheiro?

Nagai sentiu-se contrariado. – Não se faça de tolo! Você fazia sexo por dinheiro, deve adorar ser bancado e mimado.

Nesse ponto, o estômago de Ash doida, tamanha era sua raiva e frustração. – Eu não fazia aquilo porque queria! – Em seguida, apontou seu dedo para o rosto do empresário. – Escuta aqui seu velho nojento, é muito óbvio que você quer me ameaçar, mas saiba que eu não vou ceder. Eu conheço pessoas como você. Deve ser um daqueles caras que valoriza a reputação mais do que tudo, é por isso que não se arriscaria revelando meu passado. E também é por isso que vai manter essa boca asquerosa fechada. – Apesar do tom exaltado, Ash cuidou para não falar alto demais. Tudo o que ele menos queria naquele momento, era acordar as pessoas na casa.

Dessa vez, Nagai não conseguiu se controlar. Subindo mais alguns degraus, ele finalmente estava a um passo de Ash. Com rapidez, levou sua mão ao rosto do americano. Ash estava pronto para reagir quando Nagai voltou a falar. – Você pensa que tudo que posso usar contra você são palavras? – Nagai segurava o queixo de Ash com força. – Garoto, você tem noção de que não está em condições de negociar? Por acaso você ao menos sabe sobre seus vídeos?

– Que vídeos?! – O coração de Ash disparava.

Nagai gargalhou. – Você não lembra de ser filmado quando era mais novo? Enquanto era usado por algum dos seus clientes?

– Como você sabe sobre esses vídeos?! – As palavras de Ash saíam cortadas. Ele sabia muito bem que foi filmado inúmeras vezes. Era por essa razão que ele odiava ser fotografado.

– Eu posso não ter conseguido pagar para dormir com você, mas pelo menos pude comprar seus pornôs na época em que estive no bordel. Você tem noção do quão excitante você estava, mesmo atado a um velho por trás? 

Até então, Nagai ainda segurava o queixo de Ash com força, mas ao responder a pergunta do mais novo, ele tentou alisar seu rosto. Ash podia suportar a violência com que o empresário segurava sua extremidade, mas não podia suportar ser acariciado por ele. – Não me toque! – E bateu nas mãos que o tocavam.

Nagai respirou fundo. – Eu já disse, você não está em posição de ser resistente.

– E por que acha que cederei as suas ameaças?!

– Acha que sou cego? – Respondeu Nagai. – Você pode realmente não dar a mínima para os vídeos, afinal, não cometeu nenhum crime. Mas o que acharia Eiji e os pais dele disso? Talvez você pudesse dizer que não se importa com isso também, mas não seria verdade, não é mesmo? Eu vejo como você olha para meu sobrinho. Mesmo que vocês não tenham nada, você se importa com a opinião dele. Talvez até mais do que isso… então, me diga, como acha que Eiji ficaria vendo seus vídeos? E o meu irmão, ainda deixaria que o filho tivesse amizade com alguém como você?

Desde que Nagai mencionou os vídeos, Ash sabia no que isso poderia implicar. De todos os cenários possíveis, este realmente era o pior. – O que você quer de mim? – Perguntou friamente.

 O empresário sorriu. – Eu quero tudo. – Respondeu simplesmente.

O americano respirou fundo, tentando resgatar todo seu autocontrole. Depois de soltar o ar, disse. – Entendo. – Seus olhos, não conseguiram encarar os de Nagai. – Boa noite. – Ao dizer isso, virou as costas e foi para o quarto de Eiji, deixando Nagai sozinho nas escadas.

Nagai ficou um pouco confuso com a reação do mais novo, mas ainda assim, estava satisfeito. Afinal, Ash não lhe negou ou resistiu, apenas parecia conformado. E já que conquistara pelo menos isso, o empresário se contentou. Logo em seguida, foi dormir bastante feliz consigo mesmo.

[...]

Quando Ash voltou para o quarto que compartilhava com Eiji, não avistou o namorado ali. Então, aproximou-se da porta do banheiro e deu uma batidinha na madeira. – Eiji, você ainda está tomando banho?

Não demorou muito para uma resposta ser ouvida. – Por acaso estou demorando demais? Acho que perdi a noção do tempo. Quer que eu saia para você tomar um banho também?

– Fica tranquilo, eu posso fazer isso em outro banheiro da casa. Só queria te avisar caso eu demore também.

– Ash, você está bem? – Falou o fotógrafo repentinamente.

– Por que pergunta isso? – Respondeu o mais novo.

– Sua voz parece meio estranha. 

Ao mesmo tempo, Ash gesticulou em negativo com a cabeça e falou. – Não aconteceu nada, só queria te dizer uma coisa.

– Pode falar. – Incentivou Eiji.

– Eu era infeliz até você entrar na minha vida. E mesmo quando a gente passou por todas aquelas coisas ruins, eu sentia que estava vivendo o melhor momento da minha vida. E isso não mudou. Na verdade, mais do que nunca me sinto feliz ao seu lado². – Do banheiro, Eiji não pode enxergar a tristeza na face de Ash. – Eu te amo. Desculpa se não fui tão bem claro nisso mais cedo. – O americano tinha vontade de chorar, mas conteve-se.

Eiji sorriu bobo. – Não precisa pedir desculpas. É muito claro para mim o que você sente, eu nunca duvidei disso. Mas, Ash, – Eiji chamou –, eu quero ouvir isso de você pessoalmente depois que sair do banho.

– Eu posso falar isso quantas vezes você quiser. – Respondeu o mais novo.

Tímido, Eiji ainda falou: – Vai logo tomar seu banho, depois quero te ouvir, e se não for muito incomodo... – O fotógrafo deu uma pausa antes de continuar. – Se não for muito incomodo, gostaria de te abraçar.

O americano sentiu seu coração aquecido só de ouvir a voz do namorado. – Farei como você diz.

Com o peito ainda dolorido pelo que acabara de passar com Nagai, mas confortado por Eiji, Ash se dirigiu ao banheiro principal da casa. Ele sentia que precisava urgentemente de um banho quente.


Notas Finais


¹ Na verdade, eu não sei se Ash é bom nas artes ou não, mas até onde lembro, pois não tive coragem para ver Banana Fish duas vezes, ele não demonstrou nenhum talento nessa área.
² Vocês lembram do episódio em que Ash levou uma surra do Blanca e caído no chão disse que estava feliz, apesar da vida dele, por ter encontrado Eiji? Essa fala do Ash é inspirada naquela cena :')

Não me xinguem :') Eu sei que eu feri os sentimentos de vocês nesse capítulo... mas a trama precisa ser movimentada :p

Considerações:
1) Eu particularmente vejo esse capítulo em duas partes. A primeira delas é engraçada, com a disenteria do Eiji, (aliás, eu sou corajosa por abordar esse tipo de questão. A maioria dos yaois gostam de mostrar somente o lado perfeito dos personagens, quando essa questão de perfeição não existe) a segunda é triste com as ameaças do Nagai :')

2) Se mês que vem eu não postar no dia 17, postarei só em agosto. Eu sei, é muito tempo, mas eu estou quase me formando e preciso terminar meu TCC logo (aliás, eis uma curiosidade: estou me formando como professora de História). Além disso, comecei a participar de um monte de concursos literários, pois um dia ainda pretendo ser uma escritora profissional. Desde já quero pavimentar essa carreira, então, por favor, me deem apoio T_T

3) Me pediram para postar imagens das aparência aproximadas dos personagens não canon, mas como levo muito tempo editando a fanfic no dia que posto capítulo novo (2-3 horas, acreditem), farei isso através de um jornal aqui no spirit. Caso vocês não sejam notificados desse jornal, deixarei o link aqui no próximo capítulo.

4) Várias pessoas estão seguindo a playist que fiz de Banana Fish no Sportify. Meu intuito é adicionar mais músicas, mas gostaria que vocês comentassem sobre quais músicas lembram vcs Banana Fish tbm. Assim, vou tornar a playist mais colaborativa :)
Link da playist: https://open.spotify.com/playlist/7AymLJ9M1e5E7LRu27YE7z?si=hKg_n30KQ0moHbIKtXyltQ


5) Quem quiser me seguir nas redes sociais:
Twitter: @kvothez_avila
Instagram: @Kvothez

6) Eu tenho duas debilidades na gramática: a primeira delas é com vírgula e a segunda com crase. Provavelmente vocês já viram muitos erros do tipo nessa fanfic, mas peço que relevem e não achem que sou uma má escritora por causa desses detalhes :')

Me apoiem como escritora comprando meu E-book na amazon (apenas 12 reais)! Link: https://www.amazon.com.br/dp/B09DTRYFDV?fbclid=IwAR2w8mvWSw1CQFyJh7b2_8nXq3Im-HaVICrDrT4mQS4LQExiJX3xWuYpDww
Vocês também pode optar por me mandar um e-mail, onde eu posso disponibilizar o PDF do E-book. Essa opção é mais vantajosa para mim, uma vez que a Amazon cobra impostos altos sobre os E-books (por esse meio, cobro 10 reais). Meu e-mail é: [email protected]


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