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História Operação Roleta Russa - LaRue


Escrita por: DixBarchester

Notas do Autor


E não é sexta/sábado, mas aqui estou, achei que não tinha nenhum bom motivo pra ficar segurando um capitulo pronto até sexta (motivos sensatos eu até tinha, bons motivos não kkkk)

Boa leitura!

Capítulo 5 - LaRue


Fanfic / Fanfiction Operação Roleta Russa - LaRue

A cozinha dos Domenichelli era um amplo cômodo que, assim como o restante da casa, mesclava o moderno e o clássico de forma perfeita. Armários de madeira envelhecida e eletrodomésticos de alta tecnologia. Tudo ali era aconchegante e o aroma de pão fresco se espalhava como uma carícia, só então Bucky Barnes notou que estava com fome.

Roxanne parou no ambiente e olhou ao redor, Benedetta não estava por ali, mas isso não pareceu incomodar a herdeira Domenichelli.

— O que você gostaria de comer hoje, James? — Ela questionou casual, virando-se na direção de Barnes e pousando seus olhos de obsidiana nele.

Bucky desejou saber se aquelas pequenas gentilezas eram verdadeiras ou apenas mentiras floridas que a italianinha contava.

— Não tenho preferências, senhorita. — Ele declarou, decidindo que aquela era a resposta que mais se encaixava em seu disfarce.

Roxanne sorriu como se Bucky fosse um garotinho de cinco anos que acabou de dizer uma besteira adorável e engraçadinha. As covinhas em suas bochechas tornavam o gesto amigável e por um instante o Soldado chegou a ponderar: o que ela ganharia em mentir para ele afinal?

— Todo mundo tem preferências, James. — A italianinha respondeu em um tom condescendente. — É algo inerente ao ser humano.

— Eu não sou um ser humano, sou uma arma. — Barnes respondeu, sabendo que eram as palavras certas para manter seu papel.

Per l'amor di Dio... — Roxanne revirou os olhos como se ele tivesse dito alguma sandice. Ela negou algumas vezes e se aproximou dois passos, aquele perfume com um toque indecifrável atingiu Bucky como um tipo de opioide. — Eu podia te fazer uma lista de coisas que você pode fazer e uma arma não. De coisas que você pode sentir.

Ele não soube dizer se o duplo sentido foi proposital ou se sua mente levou para o lado errado porque estava embriagada com aquele cheiro de mulher bonita, mas o fato é que um arrepio quente subiu por sua espinha de forma incontrolável e Bucky prendeu a respiração automaticamente.

No instante seguinte Roxanne já estava dois passos longe, provando que sim, o duplo sentido existia apenas na mente dele.

— Mas não temos tempo para esse tipo de conversa hoje. Então acho que um café da manhã americano terá que bastar. — Ela declarou prática e de fato se aproximou da pia, começando a mexer nos utensílios.

Pegou ovos, uma frigideira de ferro e bacon na geladeira, Bucky jamais pensou que veria a herdeira da máfia italiana cozinhando, — ainda mais para ele em especifico, — mas era exatamente isso que estava acontecendo.

Pensou que a ausência de Benedetta faria a italianinha ordenar que esperassem, mas ela parecia muito à vontade fatiando bacon sobre uma tábua de madeira, enquanto a frigideira esquentava no fogo.

— Sente-se, por favor, James. — Ordenou em um tom divertido. — Saber que está parado no meio da cozinha feito um cabideiro me deixa desconfortável.

Ele fez o que ela pediu, puxando uma das banquetas e se sentando, enquanto via a morena colocar o bacon na frigideira e quebrar os ovos ali também. O aroma fazia o estômago de Bucky roncar e para abster disso ele se pegou analisando a figura feminina, mesmo naquele macacão verde tão discreto os contornos de seu corpo eram notáveis, principalmente aquele abaixo do quadril...

Assim que notou o rumo inapropriado de seus pensamentos, Barnes desviou o olhar, focando nas ranhuras do mármore como se encarasse as repostas para o maior mistério de todos. Tinha uma missão ali e admirar a evidente beleza de Roxanne Domenichelli não fazia parte disso.

— Prefere café ou suco? — Ergueu os olhos quando a voz feminina questionou, a tempo de ver a italianinha se virar.

— Aquilo que a senhorita achar mais adequado. —  Respondeu de forma simples e Roxanne revirou os olhos com um suspiro irritadiço, quase como se o fato do Soldado não ter opinião própria a tirasse do sério.

Mas o que ela esperava de uma arma controlada afinal?

Benedetta entrou na cozinha nesse momento, Barnes demorou alguns instantes para vê-la, já que ele estava de costas para a entrada do cômodo, mas assim que a mais velha passou em seu campo de visão notou que ela enxugava o canto dos olhos com um lenço branco que foi colocado no bolso logo em seguida.

— Já foram? — Roxanne questionou ainda usando o inglês, voltando para virar o bacon na frigideira.

— Sim, bambina. — Benedetta respondeu, misturando seu idioma com o norte-americano, enquanto cruzava a cozinha em direção a patroa. — Frank foi com eles.

— Sinto muito mantê-lo tão longe de casa. — A mais nova declarou, quando as duas ficaram lado a lado perto do fogão.

Havia certa cumplicidade entre elas, isso estava claro, e Roxanne também tratava a governanta bem, o que podia indicar que as gentilezas dela com o próprio Bucky também não eram falsas.

Além disso, dada as reações da mais velha, talvez houvesse algum parentesco com Francesco Greco. Devia ser mãe dele. Essa era uma informação que não constava nos arquivos que o Alto Conselho forneceu.

— Fazemos o que temos que fazer, bambina. — Benedetta disse apenas, acenando para a espátula com a qual a italianinha virava os pedaços de bacon. — Deixe-me cuidar disso, sim?

Roxanne se afastou, deixando que a governanta assumisse a tarefa de terminar os ovos.

— O que deseja que eu faça com os presentes de Strovalenko? — A mais velha perguntou, passando para o idioma italiano, enquanto servia tudo em um prato e o aroma apetitoso tomava conta da cozinha.

— Se quiser queimar. — A mais nova deu de ombros, seguindo na língua materna. — Tirei fotos, pronta para encomendar as mesmas peças, caso ele decidisse apenas trocar e eu tivesse que repor no tamanho certo. Felizmente ele vai trazer outra coisa.

Bucky compreendeu que o presente não havia agradado Roxanne, ou algo do tipo, mas o fato de ser preciso montar todo um plano para lidar com isso dizia muito sobre as reações de Strovalenko. Ele com certeza não gostava de ser contrariado.

— Sirva o James, por favor, sim? — A herdeira Domenichelli pediu, se direcionando para a saída do cômodo.

Apesar das palavras direcionadas a governanta, Barnes se colocou de pé imediatamente, afinal ordens para outros não eram ordens para o Soldado Invernal.

A saída da cozinha era uma ampla abertura sem porta, com detalhes na passagem e dois degraus que levavam a uma sala de jantar. Foi exatamente ali, que Roxanne parou. Bucky ainda na saída e ela no outro ambiente, a diferença de altura dos dois se tornando muito maior por conta dos degraus que os separavam.

— Sei que suas ordens são me seguir, mas eu vou estar no andar de cima me trocando. — Ela disse simples, erguendo o queixo para que seus olhos tocassem os dele. — Fique aqui e coma, saímos em vinte minutos.

Barnes assentiu, não tinha certeza se o Soldado Invernal teria ignorado uma ordem direta do detentor das palavras para obedecer a segunda pessoa no comando, mas ele fez isso. Não seguiria a mulher até o quarto, o que faria então, ficaria vendo enquanto ela se trocava?

Esse pensamento tolo cortou a mente de Bucky com uma imagem que fez um arrepio quente correr por sua coluna, porém ele tratou de afastar tal insensatez no mesmo instante, enquanto se virava e voltava a assumir seu lugar em frente a bancada da cozinha.

— Aqui, ragazzo. — Benedetta o serviu com os ovos e bacon, além de deixar a disposição pão caseiro, queijos, frutas, uma jarra de suco, o bule de café e leite quente. Mesa posta e completa, muito mais do que ele teria esperado por ser quem era.

Acabou movendo a cabeça em agradecimento por puro costume ou impulso, algo que o Soldado Invernal não faria, mas Bucky deixou escapar.

Ele torceu para que Benedetta não conhecesse o suficiente dos costumes de um super soldado controlado para notar a falha.

— Roxanne gosta que seu pessoal seja bem servido e tratado. — Ela disse em voz alta, como se estivesse explicando a montoeira de comida sobre a mesa. — Ela não é como o pai, ou o noivo.

Bucky guardou mais essa informação em seu “quadro mental de pistas”, a verdade é que parecia estar montando duas Roxannes diferentes em paralelo, a estudante de medicina, cheia de gentilezas, que tratava bem seus subordinados e tinha covinhas adoráveis, e a herdeira da máfia, noiva que claramente não amava o noivo e tramava coisas incertas pelas costas dele, e que provavelmente havia mentido sobre não saber o nome verdadeiro do Soldado Invernal.

O problema é que ambas habitavam o mesmo corpo, um que era atraente demais para o próprio bem de Bucky Barnes...

Ele se obrigou a esquecer essa última parte e se concentrou apenas em comer, estava mesmo com fome e tudo ali estava realmente apetitoso, além disso, com Benedetta concentrada na arrumação ele podia se servir do que quisesse sem ter que fingir ou controlar os próprios movimentos.

Ele já estava terminando, totalmente satisfeito, quando uma pequena silhueta entrou correndo pela porta lateral da cozinha.  

— Benê! — A menina gritou animada, abraçando as pernas da mais velha por trás.

Era muito pequena ainda, uns quatro anos no máximo, mas talvez menos. Usava um vestidinho rodado, branco com flores rosas, que contrastava harmonicamente com sua pele negra de subtons mais claros. Seu rostinho redondo era adornado por seu cabelo castanho-médio, os infinitos cachinhos estavam presos em dois rabinhos enfeitados com laços coloridos, um em cada lado da cabeça, o volume natural dos fios fazia com que o penteado ficasse cheio e arredondado, deixando a criança ainda mais fofa.

— Buongiorno, Martinna. — Benedetta saudou de forma carinhosa, fazendo com que a pequena sorrisse.

As duas ainda estavam confraternizando quando mais duas silhuetas se delimitaram nas sombras do chão, vindas da mesma porta.

— Falaram que o nazistinha de merda apareceu sem avisar, ele já f...? — A voz feminina com um sotaque que não foi reconhecido entrou falando, mas a frase morreu em sua garganta assim que os olhos da mulher pousaram em Bucky.

Seus traços lembravam o da garotinha, mesmo formato de nariz e boca, mesmo tom de pele, mesma cor de cabelo, embora os da mais velha estivessem lisos e soltos. Estava toda de preto, seus trajes lembrando uma roupa tática, com coturno e jaqueta de couro.

Ela analisou Bucky, focando na mão de vibranium pousada sobre a mesa e algo como reconhecimento cortou seu olhar afiado quando ela puxou a garota de encontro a si, protegendo a menina com o próprio corpo.

— Leve a Martinna daqui. — Disse, empurrando a pequena em direção a porta, para alguém que permanecia do lado de fora. — Agora!

Uma mão masculina e grande pegou a garotinha e logo havia apenas a recém chegada e Benedetta ali na cozinha junto com Barnes. Ele sabia que havia sido reconhecido como Soldado Invernal, mas não tinha ideia de quem era a mulher vestida de couro.

A única coisa clara no instante é que ela não havia gostado nada da presença dele ali.

Bucky manteve sua postura distante e desinteressada, ignorando o claro clima tenso que se espalhou pelo lugar. Não podia se importar, porque uma arma não se importaria com nada daquilo.

No entanto, ainda estava atento aos movimentos da desconhecida, e se preparou para o pior, quando ela levou a mão para a parte traseira do corpo, típico movimento de quem está prestes a pegar uma arma.

Se envolver em uma briga era tudo que Bucky não queria, porém o Soldado Invernal não permaneceria inerte em uma ofensiva e ele também não resolveria as coisas diplomaticamente.

Se preparou para uma luta então, mesmo que sua postura não tivesse se movido um só milímetro.

— James é o meu novo guarda-costas. — A voz de Roxanne se espalhou pelo cômodo, antes que a mulher desconhecida terminasse seu movimento.

Bucky não podia ver a italianinha, ela estava na entrada da cozinha, nas costas dele, porém foi perceptível que as duas mulheres estavam se encarando naquele momento.

— O Soldado Invernal? — A recém-chegada jogou com desdém, mas havia um certo tom de preocupação em sua voz.

A postura agressiva ainda estava lá quando ela encostou na parede ao lado despretensiosamente, os olhos focados no ponto atrás de Barnes onde Roxanne estava.

— Ordens do Strovalenko. — A italianinha respondeu displicente.

Um instante de silêncio se fez, Benedetta voltou para seus afazeres, nada preocupada com a conversa que se seguia ao redor.

— Posso conversar com você um segundinho? — A recém chegada se moveu, enquanto falava com Roxanne e se direcionava para a saída da cozinha.

Bucky sabia que era uma conversa privada, porém naquelas circunstâncias era evidente que algo relevante seria dito com certeza, por isso ele se colocou de pé também, pronto para seguir as duas mulheres, enquanto já pensava em uma desculpa boa o bastante para justificar aquela atitude do Soldado Invernal.

Porém, assim que ele se virou e seus olhos encontraram a figura de Roxanne, que estava parada bem na entrada da cozinha, seu cérebro entrou em curto...

Ela não usava mais o macacão verde discreto e quase feio de antes. Estava toda de preto, calça social bem cortada de um tecido leve que acompanhava o formato de suas coxas, salto extremamente alto e um terninho preto que estava aberto, revelando um tipo de corpete da mesma cor.

Renda negra.

O decote em formato de “V” que acompanhava naturalmente o corte da peça emoldurava os seios médios de Roxanne como se eles fossem uma peça de arte em um museu.

Que inferno.

Barnes procurou recobrar o controle de seus próprios instintos depressa, enquanto a mulher desconhecida cruzava os braços, claramente irritada com a presença dele.

Bucky a ignorou, focando apenas em Roxanne, nos olhos escuros e não no decote.

— Ela está exaltada, pode ser um risco pra sua segurança. — Foi a melhor desculpa que conseguiu encontrar naquele momento, para justificar sua presença.

Para todos os efeitos estaria apenas seguindo ordens de proteger a noiva de Strovalenko de uma possível ameaça. Mesmo que a mulher não estivesse exaltada, não com Roxanne ao menos. E mesmo que a ordem de proteção nunca tivesse sido dada a ele diretamente.

A italianinha deu um sorriso indecifrável, a desconhecida, no entanto, realmente se exaltou dessa vez.

— Um risco pra segurança dela?! — Lançou irritada, levando a mão para a parte traseira de seu cós novamente. — Eu vou te mostrar pra qual segurança eu sou um risco.

— Corinne. — Roxanne advertiu em um tom pacífico, mas dominante.

A mulher parou imediatamente, mesmo que não parecesse nada satisfeita com isso.

— James, essa é Corinne LaRue, ela é basicamente meu braço direito aqui na Sicília, estou mais segura com ela do que com qualquer outra pessoa no planeta. — A herdeira Domenichelli explicou calmamente, focando nos olhos de Barnes. — Na verdade, em minha ausência, são as ordens da Corinne que você deve seguir.

Aquilo era inusitado.

— Ah, mas nem pensar. — Corinne retrucou em um misto de raiva e sarcasmo. — Eu não vou dar ordens para o garoto de recados da Hydra nem que minha vida dependa disso.

Bucky pontuou mentalmente que aversão de LaRue a ele se devia a um único ponto, ele era Hydra. E embora isso pudesse ser péssimo para a missão e para a estadia de Barnes ali na Sicília, ele não pôde deixar de simpatizar com a mulher por isso.

Corinne e Roxanne se encararam por um instante, como se estivessem tendo uma conversa muda e indecifrável aos olhos gélidos do Soldado. 

— É isso que ele é, Roxie, vai contar tudo que ver e ouvir para o Strovalenko. — LaRue declarou finalmente.

Ela era esperta.

— Estou ciente disso. — A italianinha assentiu de forma neutra. — Quer que eu me sente na frente da piscina e esqueça dos meus deveres por causa desse contratempo?

Então ela também sabia da espionagem ordenada pelo noivo, ainda assim estava sendo gentil e isso só deixava Bucky cada vez mais confuso.

As duas mulheres se encararam por mais uns instantes, o Soldado ainda parado ao lado delas em uma formação triangular.

— Ele não fala italiano, é o que temos por enquanto. — Roxanne declarou finalmente, usando sua língua materna.

— Duvido. — Corinne cruzou os braços.

Tudo que ela falava parecia dificultar a vida de Bucky, porém ele começou a admirá-la por sua determinação e inteligência. Alguém que não confiasse na Hydra ou em Strovalenko era um bom sinal, mesmo que fosse um problema para os objetivos do Soldado.

— Viktor vai saber de certos assuntos uma hora ou outra, ele saberia de toda forma depois do que faremos hoje, com ou sem o James. — Roxanne declarou, e o assunto subentendido na conversa não fez sentido para Bucky.

— Mas não é só... — Corinne tentou retrucar, mas foi interrompida pela italiana.

— Vai ser por enquanto.

A impaciência de LaRue era evidente, seus olhos faiscavam, alternando entre o Soldado e a herdeira Domenichelli.

— Não foi isso que combinamos. — Afirmou contrariada.  

— Estou ciente das minhas promessas e objetivos, Corie. — Roxanne respondeu firme. — Mas a menos que tenha um jeito melhor de resolver isso...

Elas usavam apelidos para se referirem uma a outra, então aquilo era mais que uma relação patroa-subordinada. Eram amigas.

Barnes guardou mais essa informação, enquanto era rapidamente examinado pelos olhos castanhos de Corinne.

— Claro que eu tenho. — Ela declarou de repente, como se tivesse montado o plano perfeito em dois segundos. — Damos um tiro na cabeça dele, cortamos em pedaços pequenos e jogamos em alto mar para os tubarões. Fim do problema.

Okay, talvez não a admirasse mais.

Roxanne riu como quem ouve uma piada muito engraçada e então focou na amiga de forma compassiva.

— Eu tenho certeza que você sabe muito bem que esse seria apenas o início do problema. Porque daí sim Viktor saberia que existe algo para desconfiar. — Respondeu de forma ponderada e Corinne fez uma careta de desgosto. — Eu preciso que você confie em mim.

— Tenho feito isso pelos últimos cinco anos, não é? — A outra devolveu como se fosse uma acusação.

Espera, cinco anos?

Isso era basicamente o tempo do blip, mais ou menos a época em que Roxanne voltou para a Sicília. Rapidamente Bucky fez algumas conexões: LaRue era um sobrenome de origem francesa e a herdeira Domenichelli estava justamente em Paris antes de voltar para sua casa.

Será que as duas haviam se conhecido lá? 

Era uma teoria precipitada, verdade, mas provável. Isso não dava muitas respostas sobre o claro ódio de Corinne contra a Hydra e Strovalenko, mas era o indício de que talvez algo maior estivesse acontecendo.

Corinne LaRue talvez não fosse um membro da máfia italiana.

— E eu já me provei indigna dessa confiança? — Roxanne questionou, e a forma como as duas se encararam naquele momento mostrou para Bucky que havia um vinculo de lealdade entre elas.

Seja lá o que tivesse acontecido em Paris, ou durante aqueles cinco anos, havia feito com que ambas as mulheres se tornassem não apenas amigas, mas parceiras focadas em um mesmo objetivo.

Porém qual seria esse tal objetivo afinal?

— Você tem um plano... — Corinne afirmou de repente, como se tivesse visto algo no olhar de Roxanne que indicava isso. Ambas ainda falavam em italiano.

— Esse é o meu trabalho, não é? — Domenichelli respondeu com um sorriso de canto que evidenciou uma de suas covinhas.

— Está certo, faremos do seu jeito. — A outra decidiu, dando um último olhar para o Soldado e se afastando dele alguns passos.  

— Ótimo. — Roxanne anuiu satisfeita. — Além disso, achei que teria um pouco mais de empatia.

— Eu tenho empatia por mim, meu marido e minha filha, o resto que se exploda. — Corinne deu de ombros em um misto de sarcasmo e desdém. — Vou esperar lá fora.

Deu meia volta e saiu pela mesma porta que havia entrado, deixando Bucky e Roxanne sozinhos ali na sala de jantar. Não tardou para que o olhar de obsidiana focasse nas íris gélidas.  

— Não se preocupe com a Corinne. — A italianinha disse em inglês. — Ela só é muito seletiva com aqueles que ficam ao meu redor.

Barnes não respondeu, não precisava afinal, mas por um instante ele se perguntou se aquela explicação gentil era apenas outro subterfúgio da herdeira da máfia, ou se ela simplesmente esquecia ou preferia ignorar quem — ou melhor, o que — ele era.

— Se quiser terminar seu desjejum eu espero. — Ela apontou a cozinha em um gesto simples.

— Já terminei. — O Soldado respondeu, seus olhos teimosos dando uma escapada furtiva para o decote que parecia lhe atrair como um imã.

Mas que inferno de mulher bonita.

Sabia que sempre tinha sido um apreciador fervoroso da beleza feminina — e as vezes da masculina também, — mas era um péssimo momento para voltar a ter esse hábito dos anos 40.

Não estava mais no Brooklyn, não era mais um rapazote cuja única preocupação eram os pais irritados de suas paqueras da vez ou as encrencas nas quais Steve Rogers se metia. Qualquer deslize seu era agora uma questão de vida ou morte, Bucky era a peça chave na ascensão ou queda de um líder nazista...

Não podia falhar por causa de um — belo — par de seios italianos.

— Vamos então. — Roxanne decidiu, alheia aos dilemas internos de Barnes.

Ela seguiu para mesma porta lateral da cozinha e ele foi em seu encalço.

— Devo esperá-los para o almoço, bambina? — A governanta questionou, assim que os dois passaram pelo cômodo.

— Acredito que não, obrigada, Benedetta. — Roxanne devolveu simples, dando um sorriso carinhoso para a mais velha. — Deixe o quarto de hospedes preparado, por favor, depois tire o resto do dia de folga, você merece.

Bucky sequer conseguia imaginar o que haveria de tão importante para ocupar o dia da herdeira Domenichelli. Mas ele esperava que fosse útil para sua missão, ou que ao menos fosse uma peça crucial no quebra-cabeças que aquela italianinha era...

Saíram para o grande pátio na lateral da casa, haviam dois carros ali, um deles um utilitário comum, modelo do ano provavelmente, ali dentro Barnes pôde reconhecer a pequena Martinna no banco de trás.

Enquanto isso Corinne estava parada na frente de um veículo antigo extremamente bem conservado. Um Cadillac preto de quatro portas com bancos de couro e detalhes cromados, Barnes nunca foi um grande entendedor de carros, mas sabia que era antigo, porque muitos detalhes ainda lembravam o design mais arredondado e comprido dos anos 40.

Ele teria assobiado de satisfação se não estivesse em seu modo soldado.

Deixando o lindo carro antigo de lado, ele focou em Corinne. Ela conversava com um homem grande e forte, a pele alguns tons mais escura que a dela, o cabelo raspado e um cavanhaque fino emoldurando-lhe o rosto, seus olhos levemente encapsulados e puxados eram exatamente como os da garotinha chamada Martinna.

Ambos pararam de falar quando viram que o Soldado se aproximava. Diferente de Corinne, o homem, que provavelmente era marido dela e pai da garotinha, encarou Barnes com um olhar compassivo de quem entende muito mais do que aparenta.

— Pierre! — Roxanne saudou animada e afetuosa. — É sempre um prazer te ter aqui.

O homem sorriu e ambos trocaram um abraço, Bucky notou que os LaRue tratavam a herdeira Domenichelli com menos cerimônia do que se comparados a Francesco Greco, isso só reforçava a certeza de que não pertenciam a máfia italiana.

A afetuosidade era um costume dentre eles, pelo pouco que Barnes sabia.  

— Martinna estava com saudades da Benê, e achei que hoje era um dia bom para testarmos receitas novas. — Pierre comentou e seu sotaque francês era perceptível, muito diferente de Corinne. — Estou quase acertando o ratatouille perfeito.

— Um francês fazendo ratatouille, que clichê. — A esposa debochou divertida, mas o sorriso em seu rosto denunciava seu carinho e seu orgulho.  

— O ponto é que eu posso ser clichê, ma cherrie. — Pierre sorriu galanteador e parecia ter algo implícito naquela frase, como um tipo de segredo ou piada interna. — E isso é tudo que importa.

— Tia Rox! — A voz infantil veio do carro, atraindo a atenção de Roxanne.

A pequena Martinna gesticulava euforicamente no intuito de ser notada e isso colocou um sorriso instantâneo no rosto da herdeira Domenichelli. As covinhas nunca estiveram mais aparentes.

— Olá, piccolina. — A italiana se aproximou do carro e abraçou a pequena através do vidro. — Como vai?

A forma como a garotinha se agarrou a Roxanne, sussurrando algo no ouvido dela e depois olhando para a mãe por cima do ombro para rir em seguida de modo cúmplice, como quem compartilha segredos, e o sorriso carinhoso e constante no rosto da italiana, fazia com que Barnes revisasse seu quadro mental de pistas.

Roxanne Domenichelli não podia ser uma pessoa ruim, quando era claramente adorada por uma garotinha fofa, certo?

Crianças e animais não deviam supostamente sentir esse tipo de coisa?

— Hey. — Suas questões internas tinham sido interrompidas pela voz de Corinne. — Pega aqui. Vamos precisar.

Só então Barnes notou que, enquanto estava focado na visão de Roxanne com uma criança, LaRue havia aberto o porta-malas do carro onde um mini arsenal se encontrava disponível. Armas de todo tipo, desde as lâminas, até as de munição mais pesada.

Uma Glock automática estava estendida na direção do Soldado naquele momento...

Ele aceitou a oferta e colocou as armas na parte traseira do cós, sendo obrigado a voltar para a realidade com a mesma brusquidão de quem acorda de um pensamento.

A verdade era uma só, afinal, não importava quantas crianças Roxanne Domenichelli encantasse com suas covinhas adoráveis, no fim do dia ela era a herdeira da máfia italiana e — obviamente — faria coisas de mafiosos.

O arsenal no carro de Corinne e a necessidade de armas naquela missão iminente eram a prova disso...

— Vai tomar cuidado, não vai? — Pierre perguntou para a esposa. Seu olhar preocupado era honesto, impossível de negar.

— Eu sempre tomo. — Corinne respondeu, pousando uma mão no rosto dele carinhosamente.

O francês respirou fundo, como quem pondera todas as decisões já tomadas na vida.

— Às vezes acho que eu devia...

— Não. — A esposa lhe interrompeu categórica, como se o simples fato de pensar no que ele diria estivesse totalmente fora de cogitação. — Eu dou conta, e você fica em casa pra ser um pai maravilhoso e o clichê ambulante que você tanto ama ser.

Pierre sorriu, como se aquela rotina pacífica fosse exatamente tudo que ele desejava da vida.

— Vai ter ratatouille quando você chegar. — Se gabou com um sorriso charmoso.  

— Espero que esteja bom dessa vez. — Corinne riu.

— Eu também... — Ele a acompanhou na risada.

— Podemos ir? — Roxanne interrompeu o casal com um sorriso calmo no rosto.

— Claro. — Corinne respondeu de imediato, apontando para o Soldado Invernal de forma displicente. — Já armei o seu garoto da Hydra.

Se Barnes pudesse teria feito uma careta de puro desgosto.

— Seja legal, ma cherrie. — Pierre pediu no tom de quem repreende uma criança.

— Eu estou sendo, dei minha melhor automática pra ele. — Corinne ergueu as mãos enquanto se defendia. — O que quer que eu faça agora, que deixe ele dirigir meu carro também?

Roxanne riu de forma divertida, enquanto escolhia uma arma pequena e a colocava na parte traseira do cós. Será que ela sabia usar aquilo?

Que pergunta besta, era uma mafiosa, claro que sabia...

— Ele pediu pra você ser legal, e não se transformar em um milagre. — Ela lançou no tom casual de quem está entre amigos. — Você não deixa ninguém dirigir seu carro, nem mesmo seu próprio marido.

Bucky admitiu para si mesmo que se tivesse um carro daqueles também não deixaria qualquer um dirigir, mas o próprio marido? Caramba, ela amava mesmo o carro.

— Ele tem as panelas dele, eu tenho meu Cadillac, acho justo. — Corinne deu de ombros, fechando seu porta-malas e se voltando na direção do marido para dar-lhe um beijo.

Eram um casal totalmente diferente de Roxanne e Strovalenko, Barnes notou naqueles curtos minutos.

Se bem que “Roxanne”, “Strovalenko” e “casal” na mesma frase era tão estranho que nem parecia certo, Bucky teve que admitir.

— Até mais tarde. — Pierre disse para a esposa e deu dois passos para trás enquanto ela se dirigia ao banco do motorista.

— Pierre. — Roxanne se despediu também, enquanto Barnes se adiantava em direção a porta do passageiro.

— Roxie? — O francês chamou. — A traga de volta pra casa.

— Sempre. — Ela garantiu com a certeza de alguém que podia controlar o mundo.

Bucky puxou a maçaneta da porta da frente, pronto para entrar no Cadillac. Afinal Roxanne certamente sentaria atrás como toda herdeira rica que anda em carros de luxo com chofer por aí... Porém, quando ele já estava com a porta aberta, pronto para entrar no carro a italianinha passou na frente dele e se sentou primeiro.

— Obrigada, James. — Ela disse, como se ele tivesse realmente aberto a porta para ela.

Barnes apenas se dirigiu para o banco traseiro, desistindo de entender aquela mulher e suas inconstâncias.

Teria que passar o dia todo ao lado dela, fazendo coisas da máfia certamente. Isso talvez não trouxesse qualquer beneficio para a missão como um todo, mas Bucky pensou que, pelo menos, acabaria com aquela vozinha incessante em sua mente, que insistia em dizer que Roxanne Domenichelli era algo diferente daquilo que seu sobrenome sugeria.

Era hora de um choque de realidade e de parar de se iludir com gentilezas gratuitas, covinhas adoráveis e um belo par de seios...


Notas Finais


O Bucky tá num constante "ela é boazinha", "ele é o próprio diabo na terra", e a cada dois segundos ele muda de ideia, coitado kkkkkkkkk

No próximo ele vai chegar em uma conclusão consigo mesmo sobre isso (e é meu preferido até agora inclusive).

Tem claramente algo rolando por trás desse noivado da Roxie com o Strovalenko... O que será que é?

Sexta/Sábado eu tô de volta (com um capitulo enooorme)

Beijos e até!


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