Jordan´s POV
Hoje é o dia em que vou retornar á escola depois de uns tempos a tentar habituar me a viver com Luke e Maria. Confesso que é não é fácil e até me parece bastante estranho ver pessoas a rirem e sorrirem todos os dias, a amarem se, mas mais impressionante de tudo a tentarem amar me como um filho. Mas caramba, eles não conseguem perceber que eu não estou nem nunca estive bem nem feliz. Sempre tive uma vida miserável, a preto e branco, sem música de fundo. Depois destes anos todos finalmente consigo ver a vida com um pouquinho de cor, como se fosse daltónico, que vê apenas um pouco mais que preto e branco. Também já consigo sorrir naturalmente de vez em quando, parece que aos poucos e poucos todos os meus traumas estão a esconder se cada vez mais para me deixarem começar a viver. No entanto, estou sempre com aquele receio assustador que o passado volte para me aterrorizar. Por exemplo, as cicatrizes nos meus pulsos ficarão provavelmente para o resto da minha vida ali, a relembrarem me de tudo.
Bom, acabo de tomar o pequeno almoço que Maria insistiu para que eu comesse, e caminho em direção á escola, tendo em conta que a casa onde vivo é bastante perto.
Quando entro, todos os olhos param em mim, uns de pena, outros de julgamento. Ponho o carapuço do meu casaco preto para me sentir mais distante de toda esta gente feliz, e ficar no meu pequeno e escuro mundo.
- Olá Jordan! A minha mãe já me contou que foste viver com os teus pais adotivos para a nossa rua, mesmo á frente da nossa casa. – Continuo a andar para a frente tentando ignorar a felicidade idiota de Isabella. – A minha mãe diz que quer fazer uma tarte de limão para irmos levar a tua casa e dar te as boas vindas! – ela salta de alegria enquanto eu apenas me encosto na parede da sala á espera do professor e respondo o mais secamente possível.
- Iupi.
- Isabella! Então estás aqui gatinha... – Jake, o namorado de Isabella grita de longe enquanto anda em direção a ela, com ar de quem a vai comer ali mesmo.
Quando Isabella ouviu o namorado, os seus olhos congelaram ali á minha frente, como se ela tivesse visto um fantasma. Faço de conta que estou indeferente, mas a verdade é que estou muito surpreendido pela reação de Isabella ao ouvir Jake.
Jake é um ou dois anos mais velho que ela, mas já reprovou imensas vezes, e por isso já está no décimo ano pela terceira vez. Felizmente ou infelizmente para Isabella ele não está na nossa turma. Jake é o “rebelde” da escola, e já namora com ela desde o ano passado.
Quando ele chega até ela, puxa a pela cintura e parece que faz questão de a beijar com os olhos abertos á minha frente. Isabella parece desconfortável, mas também não se manifesta. Ignoro de novo, e entro na sala sem vontade nenhuma de levar com a aula de matemática logo pela manhã.
[...]
Chego a casa depois dum longo dia, e pela primeira vez sinto uma vozinha (desta vez boa) na minha cabeça a dizer me para eu fazer os trabalhos de casa. Tenho carradas e carradas deles, e pela primeira vez sinto que valho alguma coisa. Por isso, sento me na secretária de madeira junto á janela agora de cortinas abertas, e poiso a mochila em cima dela. Quando estou para tirar o livro de física, vejo do outro lado da rua, Jake a bater á porta de casa de Isabella. A sua mãe abre a porta, e parece super feliz por ver lo, como se ele fosse um anjinho virgem. Mais uma vez consigo ver absolutamente tudo o que se passa no quarto de Isabella devido á gigante janela constantemente com as cortinas abertas. Vejo Jake a entrar no quarto dela, e mais uma vez ela quase que cai para o lado com a presença dele. Quando ele se aproxima para a beijar, ela vira a cara e afasta se.
- Mas que raio... Oh hum, vou mas é tentar fazer isto. – tento ignorar aquela novela a passar se a uns 20 metros á minha frente, e retiro o livro de física da mochila.
Involuntariamente, os meus olhos desviam se de novo para a janela do quarto de Isabella. E não gosto do que vejo. Vejo Jake na cama em cima dela, a beijar o seu pescoço, e ao mesmo tempo a prender os seus braços, enquanto ela esperneia e se tenta soltar. Aí vejo Jake a tirar violentamente a roupa de Isabella, enquanto agora ela chora como nunca a vi chorar. Está para acontecer o que eu penso que está prestes a acontecer? Nesse momento, Jake dirige se á janela do quarto e fecha as cortinas com um sorriso satisfeito e sujo no rosto.
- Mas...
Olho para a janela da sala onde os pais de Bianca fazem de conta que não ouvem o seu choro. Ambos olham um para o outro com cara de desconforto, mas não fazem nada. Neste momento a melhor palavra para me descrever é “confusão”. Isabella está a ser violada pelo namorado? Os pais fingem que não se apercebem? Não pode ser. De certeza que estou a ver mal. Mas a verdade é que reparei que sempre que Isabella vê Jake ela entra em pânico. E se não é a primeira vez que isto acontece? Nah... Não é possível ela passar por isto e depois fingir ser tão feliz enquanto está na escola. Ou é possível?
Fico uns 15 minutos especado a olhar para janela do quarto de Isabella, á espera de algum sinal de vida, mas nada.
- Jordan! – oiço Luke a chamar me, por isso tento fingir que não vi nada, e desço as escadas para ir ter com ele.
- Chamas te?
- Sim, era só para me ajudares aqui a escolher uma receita que gostes para eu fazer. Os nossos vizinhos da frente vêm cá jantar para te conhecerem. Eles têm uma filha da tua idade, deves conhece-la lá da escola não?
- Hum... sim já a vi por lá. Mas tu conheces os pais dela?
- Mais ou menos... conheço o suficiente para achar que são muito esquisitos. Muito fúteis, só pensam em dinheiro. Mas a Isabella até me parece bem diferente deles.
- Pois. – as palavras quase nem me saem da boca, pois continuo sem saber ao certo o que está a acontecer naquela casa á nossa frente.
- Então o que achas que é melhor eu fazer para o jantar?
- Eu sei lá. – ignoro a pergunta, e subo de novo para o meu quarto.
Dirijo me á janela, quando vejo Isabella no seu quarto já com as cortinas abertas, a olhar se ao espelho. Ela usa um vestido rosa bebé justo na cintura e aberto em flor até aos joelhos. Ela olha se ao espelho e chora sem parar, ao mesmo tempo que puxa os próprios cabelos. Jake está agora na sala de estar e ao que me parece despede se dos pais de Bianca, com aquele sorriso idiota na cara. Volto os meus olhos de novo para Isabella que agora prende o cabelo num rabo de cavalo ainda chorando. Aí, limpa as lagrimas e força um sorriso. Vejo ela a agarrar em batom, base, e pó, e a maquilhar se freneticamente como se quisesse esconder algo no seu rosto. Calça uns sapatos com um pequeno salto, respira fundo, e sai do quarto com um grande sorriso na cara.
“STICKS AND STONES MAY BREAK MY BONES, BUT WORDS WILL RIP MY SKIN APART.”
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.