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História Origins - Sem chão


Escrita por: DixBarchester

Capítulo 18 - Sem chão


Fanfic / Fanfiction Origins - Sem chão

 

 

Charlotte Walsh
Fazenda Greene

Continuei a li parada com os olhos no chão, encarando o corpo de Sophia e seu crânio dilacerado...

Senti quando Daryl se aproximou e ergui meus olhos para ele. Parecia querer me tocar, mas eu sabia que ele não o faria ali na frente de todos. Carol havia partido a pouco, eu ouvira seu choro se afastando.

— Ela vai precisar de apoio. — Limpei as malditas lágrimas que escorriam. — Você pode...?

Daryl assentiu, mas ainda ficou ali por algum tempo até que Shane se aproximou pelo outro lado e ele saiu pisando duro, obviamente para não dar na cara do meu irmão.

Shane se abaixou e pegou minha arma, estendo-a para mim e tentando tocar meu ombro enquanto perguntava se eu estava bem.

— Fica longe de mim. — Respondi entredentes, enquanto arrancava a minha automática da mão dele.

— Charlotte, eu...

— Não! Não diz nada. Não quero ouvir você se fazendo de coitado agora. Não quero ouvir a sua voz. Só... Fica longe de mim, é sério. — Ergui a mão e dei vários passos para trás.

Percebi que algumas pessoas me encaravam, mas eu apenas dei meia volta e me afastei.

Percebi que Beth corria em direção aos corpos, chorando compulsivamente. Até eu, que não gostava muito dela, fiquei com dó.

Me afastei do acampamento, saindo para a estrada de terra que ficava na frente da fazenda e caminhando por um tempo, sem rumo ou objetivo.

Sabia que deveria estar com a Carol, estar ao lado dela, mas a verdade é que eu não fazia ideia do que ia dizer, não fazia ideia de como a gente ia superar isso...

Eu andava rápido, como se estivesse fugindo daquilo, quase correndo, mas por fim parei. Eu já estava há alguns quilômetros da fazenda e sabia que tinha que voltar. Eu tinha que ajudar a cuidar daquela situação, tinha que dar apoio a Carol, tinha que impedir o Shane de fazer mais besteiras. Eu não podia simplesmente fugir, não podia...

Respirei fundo, mas não fui capaz de dar outro passo, eu sabia que tinha, mas não me movi.

Apenas me sentei no chão, bem ali no meio da estrada de terra e chorei. Chorei tudo que eu não tinha chorado desde que aquela merda tinha começado. A lista de coisas pelas quais eu chorava era tão longa que eu sabia que Sophia fora só a gota d'água...

Eu estava sem chão, a esperança se esvaindo de mim em lágrimas pesadas, a dor se apossando do meu corpo e tudo deixando de fazer sentido.

Não sei por quanto tempo chorei, mas eventualmente as lágrimas secaram e, quando finalmente voltei a fazenda, um tipo de velório já estava montado.

Passei pelo trailer e dei de cara com Daryl saindo de lá.

— Onde é que você estava? — Perguntou e eu percebi que ele estava bravo.

— Por aí. — Respondi vazia. — Carol?

— Lá dentro. — Apontou com um gesto. — Ela não vai ao enterro. — Se afastou sem dizer mais nada, frio e pisando um tanto duro.

Entrei no trailer e Carol estava sentada, olhando pela janela, os olhos tristes e perdidos.

— Se veio pedir pra que eu vá... — Ela começou, mas eu a interrompi.

— Não vim.

Me sentei na sua frente e segurei sua mão sobre a mesa.

— Não quer ir, não iremos. Não preciso saber seus motivos. — Lhe dei um sorriso triste e ela me retribuiu com outro.

Ficamos lá sentadas por um tempo. Em silêncio e de mãos dadas. Acho que eu não tinha nada a dizer e ela não tinha nada a falar.

— Eu... eu preciso de um ar. — Carol se levantou depois de quase meia hora na mesma posição.

— Quer que eu vá com você?

— Não. Obrigada.

Assenti enquanto ela se afastava e aproveitei para sair do trailer também.

A primeira coisa que vi foi que Daryl estava arrumando suas coisas, juntando todas.

— Mudança? — Perguntei sem ânimo.

— Meu lugar não é aqui. — Ele respondeu ainda grosso.

Acabei percebendo que Daryl também não sabia como lidar com aquilo, como um bicho acuado ele tinha essa mania de atacar quando se sentia ferido. Respirei fundo, cansada. Cansada de Daryl e a sua bipolaridade, cansada de aceitar migalhas, cansada de tudo...

Dei meia volta e apenas me afastei, porque estava claro que ficar perto dele naquele momento não seria bom.

Tive que desviar de Shane no caminho porque também não estava querendo lidar com ele...

Percebi que mesmo tendo voltado, eu continuava fugindo. E eu não sabia como resolver aquilo. Eu não queria estar ali, mesmo sabendo que eu tinha que estar, que era o certo, que eu não podia simplesmente fechar os olhos e deixar o Shane descer a ladeira da loucura. Eu não podia me afastar e deixar o Daryl se isolar do mundo. Eu não podia deixar a Carol passar por aquilo sozinha. Eu tinha que estar lá por eles, por todos eles.

Dei de cara com Hershel. Ele caminhava decidido com as chaves de um carro na mão.

— Vai sair? — Perguntei por impulso.

— Não é da sua conta. — Respondeu rude e eu não pude culpá-lo por isso, não depois de tudo que tinha acontecido.

— Sinto muito. — Disse enquanto ele entrava no carro. — De verdade.

Hershel parou um minuto e me encarou, pareceu ensaiar dizer algo, mas não o fez, dando a partida e me deixando ali parada vendo o carro se afastar. Queria poder fazer o mesmo.

Tudo estava mesmo desmoronando. Eu podia sentir isso. E eu continuava de pé, apenas por estar...

Depois de um tempo, encontrei Andrea, T-Dog, Dale e Lori cuidando dos últimos corpos e colocando-os na caminhonete, aqueles seriam os que queimaríamos.

Na verdade Andrea e T-Dog eram os que trabalhavam, os outros dois mais olhavam do que outra coisa.

— Onde você estava? — Lori perguntou assim que me viu chegando.

Dei de ombros como resposta, não queria falar com ela, não mesmo.

— Não é hora de bancar a adolescente agora, Charlotte. As coisas estão um caos, você devia ajudar um pouquinho e parar de achar que o mundo gira ao seu redor. — Ela reclamou em um tom materno que fez meu sangue ferver.

Eu dei dois passos em direção a ela, mas a voz de Rick se aproximando me deteve. Ele comentou algo sobre o trabalho estar acabando e iniciou uma conversa com Andrea e Dale. Logo o assunto passou para Shane e eu me afastei sem dizer nada, tentando não pensar. Fugindo outra vez.

Pensei em voltar para perto de Daryl, talvez ficar com ele um pouco me ajudasse a pensar melhor, mas as palavras de Lori ficaram ecoando na minha cabeça "o mundo não gira ao seu redor". E se ela estivesse certa? E se eu tivesse tornando tudo sobre mim? E se eu estivesse dramatizando e sentindo muito mais do que eu devia?

Desisti do Daryl, eu não tinha que envolvê-lo nisso, ele devia estar passando pelos próprios problemas eu não tinha o direto de intoxicá-lo com os meus dramas.

Eu estava sozinha. Me dei conta daquilo naquele momento. Eu não podia contar com ninguém. Cada um deles parecia ter os próprios assuntos e eu me sentia no meio de tudo, mas não era como se realmente fizesse parte de nada. Eu não me encaixava ali... E ao mesmo tempo estava presa, acorrentada a tudo aquilo sem ter como escapar.

Acabei dando de cara com Shane. Limpei as lágrimas, que eu nem percebi que estavam rolando, quando ele me parou.

— Olha, Charlie, você tem que saber que eu... — Meu irmão começou, mas eu não deixei que terminasse.

— Vamos embora. — Pedi sentindo o desespero me abater. — Vamos agora. Pegamos nossas coisas colocamos em um carro e vamos embora sem olhar pra trás. Só eu e você, por favor.

— Você quer fugir? Claro que não! Acha que eu fiz tudo isso pra que? A Lori está esperando um filho meu, Charlotte. Eu não vou a lugar nenhum. — Ele respondeu surpreso.

— Essa criança nunca vai ser sua Shane. A Lori nunca vai ser sua. Não tem nada aqui pra gente. — Neguei sendo um pouco mais dura. — Você está enlouquecendo por causa disso... E não vai adiantar de nada. Por favor, eu imploro...

— Você não sabe o que está dizendo. Essas pessoas precisam de mim. Acha que elas ficarão vivas sob a liderança do Rick? Por ele aquele celeiro ainda estaria fechado e estaríamos arriscando nossa vida na mata por uma garota morta! — Shane gesticulou perdendo um pouco do controle.

— Eu preciso de você! Eu estou aqui. Eu estou viva, eu sou a sua família. — Retruquei detendo-o. — Você podia ter me matado hoje, Shane.

— Foi um acidente, eu sinto muito. E eu estou aqui por você, mas agora eu tenho outra família também, tenho um filho vindo por aí. Eu amo Lori, amo o Carl e amo essa criança, você pode fazer parte dessa família, mas eu não vou abrir mão deles por você. Já abri mão de grande parte da minha vida por você. — Devolveu sério. — O mundo não gira ao seu redor.

Me calei, sentindo aquelas palavras me ferirem como tiros, sentindo as lágrimas rolarem. Apenas balancei a cabeça positivamente e dei meia volta. Eu não tinha o que dizer, não quando Shane havia deixado bem claro o peso que eu era na vida dele....

Ouvi Glenn chamado por ajuda da varanda da casa, mas não parei para ver o que era... Não importava.

Eu mal sentia minhas pernas quando cheguei na barraca, simplesmente entrei e fechei o zíper atrás de mim, sem forças pra mais nada a não ser desabar e chorar.

Eu estava sem chão, sem esperanças, sem nada. Talvez eu fosse mesmo a pessoa horrível que todo mundo pensava que eu era. Egoísta e infantil.

A barraca pareceu pequena demais, como se eu não pudesse respirar. Saí afobada de lá, tentando sugar todo o ar possível. Meus pulmões queimavam. Acho que se eu pudesse cavar um buraco no chão eu faria, me esconderia nele, sumiria do mundo.

De repente parei onde eu estava, eu podia mesmo sumir no mundo. O que me impedia? O que eu tinha ali?

Meu maior vínculo era Shane, e ele acabara de dizer que não dava a mínima pra mim... Fugir parecia covardia, mas não era exatamente isso que eu sempre quis? Viver a minha vida livre? Então por que ficar?

Mas por algum motivo minha mente ficava tentando achar motivos para me prender ali e quanto mais eu pensava pior eu ficava, porque percebia que não tinha nada naquele acampamento para mim. Shane tinha deixado isso bem claro. Rick tinha os próprios problemas e eu era só mais alguém com quem ele tinha que se preocupar...

Claro que tinha o Daryl, mas de certa forma eu sabia que se pudesse fugir de mim ele o faria. Minha presença era um fardo para ele também.

Respirei fundo. Eu tinha a amizade da Carol. Podia ficar por ela... Mas na verdade em seu momento mais difícil eu não pude ajudar de nenhuma forma.

Acabei percebendo que talvez eu não quisesse mesmo fugir, afinal eu estava tentando me agarrar a qualquer coisa que me mantivesse ali. Qualquer motivo que me fizesse ficar. Porque encarar o mundo sozinha era apavorante....

Eu podia acabar morrendo sozinha. E por mais que eu estivesse confusa sobre tudo, eu não estava sobre isso, eu não queria morrer. Nunca quis.

Voltei a caminhar olhando meus próprios pés, minha vista embaçada pelas minhas lágrimas e minha mente nublada pelas minhas preocupações.

Não conseguia enxergar qual era a coisa errada e qual era a certa. Qual era a opção covarde e qual era a corajosa. Eu não conseguia colocar minhas próprias ideias em ordem e isso estava me matando. Acabando comigo lentamente como uma doença terminal.

Senti alguém me segurar e me assustei por um momento, percebendo que eu estava andando sem rumo e sem ao menos ver para onde.

— Hey. Charlotte? Você está bem? — Ergui os olhos e vi Daryl me encarando preocupado.

Acenei positivamente algumas vezes e tentei me desvencilhar.

— Está machucada? — Perguntou examinando meus braços.

— Estou bem. — Me afastei alguns passos, limpando o rosto com o braço. — Eu estou bem. — Repeti mais alto, porque queria que ele acreditasse, porque eu queria acreditar.

— Não. Não está. — Daryl me puxou para perto outra vez, examinando minha testa, e eu percebi que eu nem tinha dado atenção ao machucado que fizera de manhã. — Você nem limpou isso, ainda tem sangue na sua testa e no seu cabelo. — Ele tentou desgrudar os fios colados ali e eu protestei, pois a dor, embora não fosse grande, era chata.

Daryl me tomou pela mão e me sentou em uma pedra, tirando um lenço vermelho do bolso e derramando um pouco da água de uma garrafa nele. Limpando minha testa com cuidado.

— Você pelo menos comeu alguma coisa hoje? — Perguntou parecendo zangado.

— Você comeu? — Devolvi apática.

— Não estamos falando de mim. — Retrucou e eu segurei sua mão, movida por uma raiva que eu sequer sabia de onde vinha.

— Eu disse que estou bem. — Afirmei seca, me levantando.

Ele segurou meu braço e me puxou de volta.

— E eu sei que não está.

Eu encarei por um tempo, perdida em seus olhos e percebendo o quanto eu queria simplesmente abraçá-lo e deixá-lo cuidar de mim, e ao mesmo tempo, me machucava tanto saber que eu simplesmente não podia jogar sobre o ombro dele essa responsabilidade. Eu não podia tornar o Daryl o meu ponto de apoio, não seria justo com ele.

Percebi que estava cansada de me afastar para respeitar as vontades dele. Percebi que eu acabava ainda mais ferida por ter esperanças e saber que elas eram falsas. Eu não queria a amizade dele e tudo que ele podia e queria me dar no momento era isso. Mas eu não queria migalhas, porque entendi que elas eram piores do que nada.

Enquanto Daryl estivesse no meu caminho eu sempre ia querer que ele fosse o meu salva-vidas. Mas ao mesmo tempo eu sabia que não podia dar a ele esse papel. Ele tinha que me manter por perto, porque de alguma forma isso era o suficiente pra ele. Contudo ficar por perto naquelas condições apenas me machucava mais. E eu estava cansada da dor...

Pisquei algumas vezes e encarei o chão.

— Não, você não sabe. — Falei sem encará-lo. — A verdade é que você não me conhece, Daryl. Então pare de se preocupar comigo, nós não somos amigos. Nunca seremos. Somos diferentes demais e nossas vidas nunca se encontrariam. "Eu e você" nunca daria certo, de nenhum jeito, em nenhuma realidade paralela, nem hoje nem daqui alguns anos. E eu estou cansada de bater na mesma tecla, cansada de tentar ser melhor pelos outros pra me encaixar em seus mundinhos. Eu só quero ser eu mesma no meu próprio mundo. — Senti cada palavra atingir a mim mesma como uma facada.

Eu estava quebrando algo ali, e sabia que não teria conserto. Daryl apenas soltou o meu braço lentamente e assentiu sem me encarar, virando as costas e caminhando em direção a própria barraca.

Eu dei meia volta e caminhei para longe, ainda não sabendo como seria dali para frente, e sem ter a mínima certeza se eu tinha feito o certo afastando o Daryl de mim. Afinal eu o afastei porque estar perto dele doía, mas naquele momento, eu sentia que estava doendo bem mais.

Será que um dia essa dor passaria?  


Notas Finais


Charlote está realmente sem chão, claro que ela acabaria fazendo algo impulsivo. Veremos o que vem a seguir e como ela vai consertar isso.

Bjss e até.


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