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História Origins - Dor e nada mais


Escrita por: DixBarchester

Notas do Autor


E agora é a hora.

Chegamos no capitulo que é um divisor de águas na historia, tudo muda a partir daqui.
Espero que gostem, falamos mais na embaixo, sinto que vocês vão querer ler as notas kkkkkk

Boa leitura

Capítulo 23 - Dor e nada mais


Fanfic / Fanfiction Origins - Dor e nada mais

 

Charlotte Walsh
Fazenda Greene

Eu nem ao menos entendia como as coisas haviam saído dos trilhos tão rápido. Em uma hora tudo parecia estar se encaminhando para dar certo, e na outra tudo parecia estar dando terrivelmente errado.

Randall havia sumido, mas a porta estava trancada e as algemas ainda estavam lá. Eu pude ver o pânico no rosto de alguns de nós.

E então Shane saiu de dentro da floresta, gritando e com a cara toda arrebentada. Algo nos olhos dele marcou a minha mente, como uma cena chocante em um filme de terror.

O garoto o havia atacado, roubado sua arma e fugido. E tudo me pareceu uma bagunça muito grande. Eu sequer podia ouvir os meus próprios pensamentos, com Rick gritando ordens e a Carol pedindo pra eles não irem.

T-Dog tinha que nos levar de volta pra casa, enquanto Rick, Shane, Glenn e Daryl iam à floresta procurar.

— Volte e fique em segurança. — Daryl tocou o meu braço levemente me incentivando a ir. — Vai ficar tudo bem.

Mas o meu coração não dizia o mesmo, algo apitava em mim como um alarme. Tinha alguma coisa muito errada. E eu até tentei protestar, mas não tive tempo pra isso.

— Leva ela T-Dog, por favor. — Shane pediu e eu me senti ser conduzida enquanto ainda olhava pra trás vendo-os sumir na floresta.

Os olhos azuis do Daryl focaram em mim e algo ficou suspenso no ar. Um gosto amargo na minha boca e um peso enorme no meu coração.

Conforme as horas iam passando, eu ficava ainda mais nervosa, algo naquela história toda estava muito errado. E aquela agonia crescia dentro de mim me engolindo como uma cobra engole sua presa.

Eu andava de um lado para o outro, o chão de madeira rangendo sob os meus pés.

— Vai acabar abrindo um buraco no assoalho. — Andrea comentou, parada em um canto, a arma em punho como se estivesse pronta pra qualquer coisa.

Olhei em volta e o restante do grupo, embora visivelmente apreensivo, parecia envolvido nos próprios afazeres, arrumando camas e sofás e cuidando do jantar.

Mas eu não podia, eu simplesmente não conseguia não pensar que Daryl e Shane estavam lá fora. E o olhar que eu vi no rosto de meu irmão não era dos melhores.

Aquilo tudo estava muito errado... Subi as escadas sem aviso e entrei em um dos quartos, olhando pela janela e percebendo que a luz do Sol sumia no horizonte.

Eu não podia ficar ali parada, podia ser impulsivo e imaturo, mas eu realmente não conseguia ignorar aquele pressentimento angustiante. Principalmente quando podia fechar os olhos e ver perfeitamente aquele olhar do Shane. Era o mesmo olhar de quando ele tentou me machucar, e isso não podia ser um bom sinal.

Tirei a automática do cós da calça e examinei o pente. Totalmente carregado. Então coloquei a faca com as iniciais de Daryl na bota e me preparei pra pular a janela. Eu sabia que não me deixariam sair pela porta da frente, nem que eu implorasse.

Abri o vidro e sem dificuldades cheguei ao telhado, caminhando com cautela até a beirada traseira da casa, para que não me vissem, e pulando da parte mais baixa que encontrei.

O som dos meus pés batendo no chão foi abafado pela grama, mas o impacto foi bruto o bastante pra me fazer sentir o tornozelo não cicatrizado.

Respirei fundo enquanto mancava em direção a floresta. Não que eu soubesse o que faria, ainda mais com a noite chegando tão rápido. Mas eu sabia que tinha que fazer alguma coisa. Eu sentia essa necessidade esmagar o meu peito, assim como alguém que está debaixo da água sabe que tem que emergir pra respirar.

Corri na direção que eu os tinha visto seguir. Não foi bem uma corrida, comigo mancando a cada dois passos, mas eu prosseguia o mais rápido que podia.

A noite já tinha engolido tudo, se espalhando por toda parte, quando eu ouvi algo entre as árvores. Me encostei em um dos troncos mantendo a respiração suspensa, a faca de caça na mão.

Eu reconheci os murmúrios e a voz. Eram Daryl e Glenn. Pensei em ir até eles, mas eu sabia que se deixasse Daryl me ver, ele jamais me deixaria achar o Shane e com certeza me arrastaria de volta pra casa.

Fiquei parada lá, muito quieta, evitando qualquer movimento que denunciasse minha presença, até que os dois finalmente se afastaram. Eles pareciam estar voltando ao ponto de partida. Ouvi Daryl dizendo que tentaria achar o rastro do começo, pois haviam examinado toda aquela área e não encontraram nada.

Isso me deu uma dica de que Rick e Shane estavam na direção oposta e foi pra lá que eu segui.

Eu não sei quanto tempo andei, nem saberia dizer se estava mesmo indo na direção certa, ou só andando em círculos por causa do escuro.

— Sou realmente péssima nessa coisa de andar no mato. — Falei pra mim mesma esfregando os braços por causa do vendo gelado que soprava por ali.

Algumas vozes ecoaram através das árvores, e eu fiquei atenta, parecia uma discussão e levei um minuto para reconhecer a voz do meu irmão e a de Rick.

Meu coração disparou. Comecei a correr na direção do som, torcendo pra não estar perseguindo um eco no rumo errado.

Meu tornozelo queimava, me fazendo praticamente pular em um pé só e atrasando meu trajeto.

— Por favor, Deus, não deixe nada terrível acontecer, não deixe que meu irmão faça algo que não possa ser desfeito. — Eu repetia baixinho, como um mantra, mesmo não acreditando em Deus, não havia mais ninguém a quem eu pudesse recorrer naquele momento.

As árvores foram ficando mais espaçadas e por fim, uma clareira se abriu a minha frente.

Rick e Shane estavam bem no meio, em cima de uma pequena elevação. Meu irmão tinha uma arma apontada para o melhor amigo e eu senti meu coração afundar no peito. Rick estava com se aproximando, rendido, abaixando a própria arma muito devagar.

Eu parei onde estava, qualquer movimento meu podia chamar a atenção do Shane e fazê-lo cometer uma loucura.

Rick parecia estar indo bem. Meu irmão, embora com a arma ainda apontada, não parecia tão decido a atirar. Ainda havia salvação, tudo ia acabar bem, pela primeira vez Deus tinha me ouvido.

— Vamos deixar tudo isso pra trás. — Ouvi Rick dizer enquanto estendia a python para o melhor amigo.

Shane segurou a arma e eu respirei aliviada. Cedo demais.

Rick sacou uma faca e perfurou a barriga do meu irmão. O meu grito horrorizado cruzou o ar, junto com um tiro do Shane, dado por reflexo.

— Não! Não! Não! — Eu corri até onde eles estavam.

Os olhos de Rick encontraram os meus, ele estava assustado, horrorizado, eu não saberia descrever.

— Ele me obrigou. Foi culpa dele não minha... — Ele foi deitando o corpo do meu irmão.

Eu tremia dos pés à cabeça quando me joguei o lado dele, empurrando Rick pra trás com o pouco de força que eu consegui reunir.

Os gritos de Rick continuavam ecoando. Ele continuava dizendo que a culpa não era dele, que o Shane tinha feito isso com eles.

Parei de ouvir. Minhas mãos tremiam enquanto eu tentava inutilmente conter o sangue que brotava do peito do meu irmão. Ele agonizava sob os meus olhos e eu não sabia o que fazer.

— Não me deixa. Fica comigo, irmão, por favor, fica comigo. — Pedi apavorada.

Sangue começou a escorrer da boca dele e eu sabia que era o fim. Ele estava partindo. Ele estava me deixando e não havia nada que eu pudesse fazer.

Eu continuava balbuciando as palavras debilmente, enquanto as lágrimas rolavam livres pelo meu rosto. O sangue dele estava nas minhas mãos. Tudo ao redor havia saído de foco.

Senti uma das mãos dele segurarem as minhas, sobre seu peito, ao mesmo tempo, em que a outra tentava tocar o meu rosto.

— Eu não posso te perder. Não... — Minha voz ficou presa na garganta.

Shane estava gelado, os olhos saindo de orbita e voltando, como se ele estivesse fazendo muito esforço pra permanecer ali. Ele tentou balbuciar alguma coisa e acabou expelindo mais sangue.

— Não fala nada, irmão. A gente vai resolver isso. Só fica comigo, por favor... Eu disse que não ia soltar a sua mão, mas preciso que você não solte a minha. Por favor, irmão... Eu te amo. Não me deixa. Por favor não me deixa sozinha. — Implorei aos prantos.

— Perdão.

Aquela foi a última palavra que Shane Walsh disse antes de me deixar pra sempre.

— Não! — Meu grito angustiado ecoou pelo terreno.

Doía. Doía e machucava de todas as formas que algo podia me ferir, eu me debrucei sobre o peito dele e chorei...

Chorei como nunca tinha chorado antes. Chorei como uma criança que é abandonada pelos pais. Chorei porque não importava nada do que Shane tinha feito, ele era meu irmão e eu o amava, isso nunca ia mudar.

Rick chamava por Deus. E eu sentia no fundo da minha alma, que novamente Deus tinha me abandonado...

— Char...? — Ele tocou meu ombro muito levemente depois de algum tempo.

Em um movimento brusco eu lhe apontei a automática. A arma que meu irmão me dera. A última coisa que havia restado de Shane pra mim.

— Fica longe de mim! — Mandei.

As lágrimas borravam tudo e minhas mãos tremiam, o sangue fazia meu dedo escorregar pelo gatilho.

— Não foi minha culpa... — Rick lamentou, erguendo as mãos. Ele também chorava.

Eu não respondi. Não sabia o que dizer. Mas continuei com a arma erguida. Me afastei um pouco do corpo pra me aproximar do homem que tinha matado o meu irmão.

Doía e eu não conseguia fazer parar...

— Pai? — A voz do Carl veio de um ponto atrás de Rick e ele se virou.

Ele falou alguma coisa para o menino, algo sobre ele ter que estar em casa, não ali. Carl olhou pra mim assustado, eu ainda tinha a arma erguida. Ele também ergueu a dele.

— Carl, abaixa essa arma filho, não é o que parece. — Rick pediu olhando apenas para o menino.

Ele continuou apontando pra mim, eu continuei apontando para o pai dele. Nós dois tremíamos. Eu sentia as lágrimas rolarem pelo meu rosto. Doía, mas eu não podia fazer aquilo. Abaixei a arma. Carl disparou.

Fechei os olhos esperando o impacto, mas ele não veio. O baque de algo caindo na grama me fez virar.

O corpo zumbificado de Shane estava no chão, há dois passos de mim. Ele havia se transformado mesmo sem mordida e Carl atirara na cabeça dele. Ele nunca apontou pra mim realmente.

Deixei o meu corpo ceder e meus joelhos bateram no chão. Meu irmão estava morto e eu sentia como se o meu coração tivesse sido arrancado do meu peito.

— Char, você foi mordida? — Carl se ajoelhou na minha frente e perguntou com certa inocência.

Neguei vagamente, encarando o corpo do meu irmão atrás dele.

— Eu... Eu acho melhor levar vocês dois de volta, depois eu venho e... — Rick começou, mas eu ergui minha mão fazendo-o parar.

— Leva o Carl, eu vou ficar. — Falei baixo, sem encará-lo.

— Charlotte eu...

— Não. — Respondi seca antes que ele terminasse, erguendo os olhos para fitá-lo com toda a raiva e dor que eu sentia no momento.

Eu havia baixado a arma, mas isso não significava que eu entendia, ou que eu simplesmente ia caminhar pelo gramado de mãos dadas com o homem que matou o meu irmão. Não importavam os motivos dele, talvez houvessem outras formas.

Rick tinha começado o dia falando de manter a humanidade e o terminava matando o melhor amigo a sangue frio. Ele não podia matar o Randall, mas pôde matar o Shane e minha cabeça estava pesada demais pra que eu conseguisse entender aquilo naquele momento.

Talvez houvessem outras formas.

— Eu vou ficar. Depois eu... — Não soube como terminar.

O que eu faria depois? Voltaria pra fazenda e continuaria vivendo ali? Enterraria meu irmão, em um funeral feito pelo assassino dele?

Limpei uma lágrima grossa que escorreu pelo meu rosto.

— Vou pedir pro Daryl vir pegar você. — Rick declarou me olhando um tanto penalizado.

Não respondi e ele apenas se afastou tocando o ombro de Carl para que o acompanhasse.

Mesmo a lembrança de Daryl não parecia afastar aquela dor. E não me parecia justo jogar mais aquele fardo sobre ele.

Me aproximei do corpo do meu irmão e apenas fiquei ali. A mente revivendo todos os nossos bons momentos. Porque era assim que eu queria me lembrar dele: Como o irmão superprotetor e chato que eu amava fingir que odiava.

E então minha mente ficou vazia. Não havia nada lá. Eu encarei o sangue em minhas mãos e não tive quaisquer pensamentos sobre isso. O depois sumiu. Era como se não importasse mais.

Eu era só uma garota encarando o cadáver da única família que tinha. E todo o resto sumiu, toda a minha usual preocupação. Tudo se foi. Eu estava vazia, preenchida apenas pela dor.

Foi só então que eu percebi o barulho dos grunhidos ao redor. Ergui o olhar e aquilo era realmente o inferno na terra. Uma horda imensa invadia o gramado, eles vinham de todos os lugares se arrastando incessantemente.

Por um segundo muito pequeno eu pensei em não me mexer, em simplesmente deixar que o destino me alcançasse, porque aquilo parecia tão mais fácil.

Mas Shane tinha me ensinado que o caminho mais fácil, geralmente não é o certo. O meu irmão daquela época, nunca permitiria que eu tivesse esse fim, e mesmo a pessoa que ele se tornara nos últimos dias, não deixaria que isso acontecesse.

Me levantei com a arma em punho, mas percebi que atirar só atrairia mais deles pra mim. Eu tinha uma vantagem de alguns metros, rumo a algumas árvores, no sentido oposto do qual eu tinha vindo. E foi pra lá que eu segui.

Corri o máximo que o meu tornozelo permitia, segurando a automática em uma mão e a faca de caça na outra. Por mais estranho que parecesse todo o medo havia sumido. Eu apenas sabia que tinha que continuar viva.

Alcancei as árvores no momento em que um deles agarrou minha blusa, não sei se foi por reflexo, ou outra coisa, mas em um movimento rápido, finquei a lâmina na cabeça daquela coisa e o corpo caiu no chão.

Continuei por ali, saindo do caminho dos que eu podia e tendo que matar mais dois deles antes que suas bocas me alcançassem. Ao longe, na direção da fazenda, tiros começaram a ser disparados e eu soube que a horda também havia chegado lá.

Fiz uma curva, e por um momento, parecia que não tinha nada na minha cola. Apoiei as mãos nos joelhos, tentando recuperar o fôlego e sentindo a merda do tornozelo me castigar.

De repente alguns sons mais à esquerda chamaram a minha atenção, eram sons humanos demais pra ser coisa de errante, e alguns disparos provaram isso.

Pensando que seria alguém do grupo, eu segui naquela direção. Havia um amontoado de errantes ao redor de duas pessoas que eu não reconheci de imediato. Dei mais um passo, mas algo agarrou meu cabelo, e eu me vi em luta com um errante, enquanto outro se aproximava.

Empurrei um deles, enquanto atingia o outro e ouvia mais tiros muito perto, os flashes dos disparos clareando um pouco a escuridão da noite.

Atingi a última cabeça, no mesmo instante, em que algo me atingiu na barriga, me fazendo cambalear pra trás com o impacto.

Bati as costas em uma árvore e arranquei a faca de caça da coisa morta.

Ainda não entendia bem o que tinha me atingido, até que comecei a sentir minha blusa empapar rapidamente. Coloquei a mão ali e quando a ergui havia sangue fresco nela.

Eu tinha levado um tiro, constatei estranhando a falta da dor. Devia doer, não devia? Ou talvez já doesse tanto que não fazia mais diferença. Senti meu corpo caindo, como se eu não tivesse qualquer domínio sobre ele.

Tentei focar na direção de onde viera o disparo e percebi que minha vista ia ficando turva. As coisas escurecendo aos poucos e o som dos errantes se aproximando, sedentos pela minha carne.

Aquilo que dizem, sobre toda sua vida passar na frente dos seus olhos é realmente verdade. Eu vi tudo, todos os meus sonhos antigos e percebi que meus desejos tinham saído como um tiro pela culatra.

Literalmente um tiro.

Tudo tinha começado com um tiro e parecia estar acabando com um. A minha simples e patética vida podia acabar ali, naquele frio e imundo chão...

 


Notas Finais


Calma respirem, não tem ninguem querendo me matar, tem?

Todo mundo pensando que o Shane ia viver e ninguem lembrou do tiro que a Charlotte leva no prologo, é como diria Pitty "Eu estava aqui o tempo todo só vc não viu...

Então #RipShane, foi uma cena muito dolorida e difícil de escrever, eu acho que eu sou meio a Char, sempre pensei que o Shane ia melhorar...

Agora façam suas apostas e lembrem que eu sou amorzinho, não desejem a minha morte uahsaushush
O próximo é focado no Daryl, embora não seja narrado pelo Daryl.

Bjss e até lá.


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