1. Spirit Fanfics >
  2. Origins >
  3. Um reencontro doloroso

História Origins - Um reencontro doloroso


Escrita por: DixBarchester

Capítulo 28 - Um reencontro doloroso


Fanfic / Fanfiction Origins - Um reencontro doloroso

 

 

Daryl Dixon
Atlanta

Um raio cortou o céu. Escureceria em alguns minutos e eu percebi que Rick e Michonne ainda não haviam voltado, e eu estava sentado no mesmo lugar desde que eles haviam saído.

Tudo que eu conseguia sentir naquele instante era o quanto eu era inútil. Deixei minha cabeça bater na parede enquanto enumerava todas as minhas falhas.

Fechei os olhos e pude ver Beth morrendo novamente, o corpo dela caído no chão e todo o sangue. Minha culpa. Eu não tinha que ter feito nada mais além de protegê-la, mantê-la viva e trazê-la de volta para a irmã. E eu falhei. Fiz tudo errado.

Percebi Carol sentando ao meu lado e cutucando o meu joelho com uma garrafa de água.

— Não vi você beber ou comer nada hoje. — Comentou com aquele jeito cuidadoso que ela tinha.

— Eu estou legal. — Resmunguei, sem vontade nenhuma de conversar.

— Não está. Isso abalou você... E eu tenho uma teoria do porquê. — Ela ficou calada um momento, esperando que eu falasse, mas eu continuei em silêncio. — A opinião geral é que você gostava da Beth... Mas não é nisso que eu acredito.

— Claro que eu gostava. Ela era família.

— Não é esse tipo de gostar... — Carol deixou a frase no ar.

— Ela era só uma criança. Era como a minha irmã. É o mesmo que eu sinto pela Maggie ou pelo Carl, ou mesmo pela Bravinha...

— Eu sei. — Ela me interrompeu. — Mas não era só isso. Você viu nela traços de uma outra garota que você costumava ver como uma criança. E queria proteger a Beth como queria proteger a...

— Mas eu falhei. — Não permiti que Carol terminasse a frase. Porque dizer aquele nome em voz alta ainda era como mexer em uma ferida aberta.

Uma maldita ferida que não cicatrizava, mesmo depois de tanto tempo. Mesmo que os gritos terríveis dela sendo devorada nos meus pesadelos não me acordassem mais a noite. Mesmo que eu não sentisse mais os lábios dela contra os meus. Mesmo que o perfume dela tivesse se esvaído por entre o fedor de morte. A imagem dela permanecia tão viva na minha mente, que era como se eu pudesse tocá-la.

Se eu fechasse os olhos eu ainda podia ver os dela, as doces íris caramelo e tudo que eu podia ver através delas. Porque tudo que ela era e sentia estava ali naqueles olhos. Era como navegar em um mar de emoções. E mesmo depois de tanto tempo, eu sabia que era por ter me afogado naquele mar cor de caramelo, que eu havia voltado a sentir de novo. Aqueles olhos me despertaram para a vida. E eu nunca seria capaz de esquecê-los.

Mas eu tinha falhado com ela, assim como tinha falhado com Beth. As duas estavam mortas... Eu nunca mais veria aqueles olhos caramelo de novo, assim como Maggie nunca mais abraçaria a irmã.

— Não foi sua culpa. — Carol falou muito séria, apertando a minha mão.

Não respondi. Me levantando e seguindo para a janela onde Sasha vigiava.

— Algum sinal deles?

— Não. Nada ainda. — Ela respondeu preocupada.

— Eu vou atrás deles. — Decidi. Não estava disposto a perder mais ninguém.

Comecei a preparar a crossbow quando o ruivo que vigiava do outro lado fez um gesto para que eu esperasse.

O farol de um carro iluminou a rua, no mesmo instante em que uma chuva grossa começou a cair.

Assim que Rick e Michonne desceram, percebi que tinha algo errado. E isso não era pelo estado em que estavam, como se estivessem se engalfinhado em uma luta mano a mano. Era pelo olhar no rosto de Rick, ele estava assustado...

— O que aconteceu? — Carl foi o primeiro a perguntar.

Rick abraçou o filho e Michonne ficou atrás dele muito quieta. Seja o que fosse ela não contaria se Rick não se pronunciasse primeiro.

Ele passou os olhos pelo filho, por mim e por Carol, voltou pra mim de novo. Chegou a abrir a boca, mas a fechou. E então negou como se não fosse nada.

— Encontramos uma dupla de sobreviventes. Tivemos uma briga, mas estamos bem. Infelizmente não conseguimos tudo que precisávamos. — Rick explicou sem entrar em detalhes.

— Cuidaram dos filhos da puta? — Abraham perguntou.

Foi Michonne quem negou, em um movimento que pareceu involuntário da parte dela. Todos começaram a falar ao mesmo tempo. Coisas como "Tem sobreviventes lá fora?", "Eram do hospital?", "Por que não os mataram?", "Talvez aqui não seja mais seguro".

Tudo que eu conseguia pensar era no por que Rick deixaria alguém, que fizera aquilo com ele e com a Michonne, vivo? Ele não era o tipo de homem que deixava coisas inacabadas e o olhar no rosto dele era tão estranho, que eu só pude supor que esses sobreviventes deveriam ter um poder de fogo muito grande.

— Talvez seja melhor partimos agora. — Falei caminhando para a porta.

— Não podemos! — Rick deu um passo e se colocou na minha frente estendendo a mão para me deter. — Quero dizer... Não é inteligente sair por aí à noite, na chuva. Nós vamos pela manhã, como combinamos.

Franzi as sobrancelhas, geralmente eu entendia a linha de raciocínio de Rick, mas naquele momento eu simplesmente não conseguia. O que me levava a pensar que, ou ele não tinha contado tudo, ou ele não estava pensando direito.

— Eu preciso que confie em mim. — Me pediu com aquela convicção que ele tinha. E eu apenas assenti me afastando.

Eu já confiava nele, não era algo que alguém precisasse me pedir. E por esse motivo percebi que, seja lá o que fosse, era importante...

A noite seguiu. Nós arrumamos o pouco que eles tinham conseguido, arrumamos os dois carros pra partida e então esperamos enquanto comíamos algumas latas de qualquer coisa que eles haviam trazido.

A chuva castigava. O barulho dos trovões se misturando ao barulho de alguns errantes, que haviam se aproximado da enorme porta de correr. Eles batiam e gemiam e eu queria mesmo era ir até lá e enfiar uma flecha na cara deles.

Michonne e Rick conversavam em um canto e não viram quando eu me aproximei e me sentei no chão, encostado em uma pilastra. Eles falavam baixo, um muito perto do outro, como se estivessem em uma discussão de namorados. E eu percebi que não devia estar ali.

Tentei focar em outra coisa, mas ainda podia ouvir a voz deles, então decidi sair, mas algo que Rick disse chamou minha atenção.

— Não posso contar isso assim. Ela pode não vir, ou na pior das hipóteses, ele iria atrás dela imediatamente. Vamos esperar e amanhã, quando clarear, se ela não vir, eu conto e vou com ele em uma busca.

Tentei encaixar aquilo em qualquer contexto e a única coisa que consegui pensar foi que talvez eles tivessem encontrado alguma amiga do garoto chamado Noah. Ela devia estar com ele no hospital e agora queria aceitar a proposta que havíamos feito quando saímos de lá: Qualquer um que quisesse podia ver conosco.

Mas isso ainda não explicava uma porção de coisas... Por fim resolvi que aquilo não me interessava e me levantei no mesmo momento em que ouvia Michonne dizer:

— Você realmente quer essa garota conosco? Ela é uma vadia... Me desculpe, mas ela é sim.

Não ouvi bem a próxima coisa que Rick disse, mas foi algo como: "Você não a conhece".

Me afastei e sentei em outro canto. As horas se arrastando e a chuva começando a bater na porta de ferro, os errantes se acumulando por ali, preenchendo tudo com o som da morte. Era deprimente de todas as formas que algo poderia ser.

Eu achava estupidez sair do estado e ir em busca de algo na Virginia, eu sabia que não haveria nada lá. E mesmo que houvesse, quanto tempo duraria? Quanto tempo até estarmos na rua novamente?

Respirei fundo e corri os olhos pelo ambiente. Rick me encarava, parecia impaciente. Judith dormia em um berço improvisado sob a vigia de Tyresse.

— Temos companhia. — Sasha falou ainda na janela.

Como se fossemos um só organismo, todos nos preparamos, armas em punho a postura ofensiva.

— Uma garota e um cara em uma caminhonete. — Abraham avisou.

Rick ergueu as mãos pedindo calma, caminhou até a grande porta e a abriu, ele não parecia preocupado, como se soubesse exatamente quem era.

O farol da caminhonete iluminou o lugar e me cegou por um momento. Um cara desceu do banco do passageiro, derrubando alguns errantes sem dificuldade alguma.

— Eu disse que ia trazê-la. — Comentou com Rick.

O farol foi apagado e a pessoa desceu do carro, eu não pude vê-la, mas sabia que era uma garota, pelo pouco do cabelo que pude enxergar.

Um errante se colocou entre o recém-chegado e a garota, impedindo a minha visão. Mas antes que qualquer um de nós pudesse se mover pra derrubar o morto, uma lâmina atravessou seu crânio e ele caiu no chão.

Demorei um longo minuto pra processar toda a cena, como se o mundo tivesse parado naquele instante, o corpo caindo lentamente no chão, enquanto a figura por trás dele se revelava.

A mão que segurava o facão descendo lentamente, enquanto os olhos subiam, era como se tudo ao meu redor não existisse, tivesse desaparecido no momento em que nossos olhares se cruzaram.

Tudo meu mundo ruindo, pra renascer no mesmo instante, mais sólido e mais colorido. Como se eu voltasse a respirar depois de ter me afogado por um longo tempo. Era como voltar a viver. Era como olhar o céu pela primeira vez.

Eu fiquei em choque, incapaz de dizer uma só palavra. Incapaz de fazer qualquer coisa que pudesse acabar com aquele momento, pois eu temia que ele fosse se esvair, escapar das minhas mãos, acabar assim como um sonho bom. E então eu teria que acordar para a realidade e ela não estaria lá.

— Charlotte? — A voz de Carl me trouxe de volta.

Foi como um beliscão provando que tudo era real. Eu voltei meus olhos para Rick. Toda a conversa dele ficando clara na minha mente. Mas ele não prestava atenção em mim, pois tinha estendido o braço para impedir Carl de avançar. Uma postura hostil como se Charlotte fosse algum tipo de ameaça.

Os dois se encararam, se enfrentando de igual para igual, até que o cara de olhos negros tocou levemente a mão de Charlotte e tirou o facão dela. Trocaram um olhar, algo muito sutil, mas que mostrou o quanto estavam conectados, como se ele fosse capaz de passar paz a ela com aquele simples gesto.

Algo dentro de mim se rebelou com o significado daquilo, acho que realmente cheguei a dar um passo pra frente apenas pelo impulso de socar a fuça daquele idiota.

Mas Carol acabou cortando todo aquele clima tenso, quando acabou com a distância entre ela e Charlotte e abraçou a mais nova sem aviso.

Contudo Charlotte não pareceu esboçar reação alguma, talvez pelo choque da atitude repentina, ou talvez fosse algo mais que eu não fui capaz de perceber naquele momento.

— Pensamos que estivesse morta... — Glenn comentou ainda um pouco atônito e Carol assentiu dando um passou para trás e encarando a garota com um sorriso genuíno. — Você não sabe como é bom te ver.

Ele se aproximou, provavelmente para abraça-la também, porém Charlotte deu um passo para trás e estendeu a mão direita, impedindo que ele se aproximasse mais. Ela respirou fundo e trocou outro olhar com o cara ao lado dela.

— Vocês estavam certos em pensar assim. A Charlotte Walsh que conheceram no acampamento da pedreira... — Ela fitou Carol, Glenn e passou os olhos rapidamente por mim. — Está morta. Eu não sou mais aquela garota. Espero que isso fique claro desde já.

— Todo mundo aqui mudou. É o preço da sobrevivência. — Rick afirmou sério.

Charlotte o encarou por um instante. A postura rígida e a cabeça erguida. Tudo na nela mostrava o quanto desafiava Rick. Ela negou por um momento, deixando um riso totalmente sem humor escapar pelo nariz e então respirou fundo. Era como se ela estivesse desistindo de alguma ideia.

E de fato ela pareceu fazer menção de dar meia volta e foi nesse momento que o moreno tocou o braço dela, muito de leve. Novamente eles conversaram apenas com um olhar. Algo muito sutil e íntimo. Charlotte concordou com um movimento mínimo de cabeça.

Senti minhas unhas machucarem a palma da minha mão, e só então percebi o quanto eu tinha cerrado os punhos.

Os olhos dela pousaram em mim, ela realmente me encarou dessa vez. O queixo levemente erguido. Foi naquele momento que eu realmente me dei conta...

Eu não enxerguei baseado na postura e em todos os pequenos detalhes. Mas vi claramente quando encarei os olhos caramelo. Aqueles olhos que outrora tinham me trazido de volta a vida, pelo tanto de sentimento que transmitiam, não tinham mais o mesmo brilho. Na verdade, embora fossem os mesmos olhos, eles pareciam ser de outra pessoa. Se antes eram capazes de revelar tudo que ela sentia, pelo modo como brilhavam. Naquele instante eram um enigma. Frios e vazios.

Charlotte realmente tinha falado sério quando disse que não era mais a mesma. Ela havia mudado. Não era apenas atitude. Algo dentro dela mudara também.

— Você diz que mudou. Mas tirando essa barba horrorosa, eu não vejo mudança nenhuma. Você ainda é o mesmo cara da fazenda. O cara que não quer machucar as pessoas, mas vai se isso for necessário. Esse sempre foi você, Rick. — Ela declarou muito fria, em um tom que eu nunca a imaginaria usando com Rick. — Mas quando nos vimos pela última vez, eu era a garota que queria muito te machucar, mas nunca o faria realmente. Você era família.

Rick abaixou a cabeça por um momento. Eu sabia bem o quanto ele ainda se culpava por tudo o que acontecera na fazenda, por Charlotte ter presenciado aquilo, e depois por ele ter tido que escolher entre a segurança de Carl e voltar para achá-la. Ele era o tipo de cara que se sentia responsável.

— Mas agora... — Charlotte continuou, dando um passo pra frente e encarando Rick de frente, em nada parecendo a garota da fazenda que amava-o tanto quanto amava o irmão. — Não importa quem você seja, não importa quanto tempo nós nos conhecemos, se você machucar alguém que eu amo de novo, eu vou matar você. Simples assim.

Todo o clima ficou tenso instantaneamente, os dois continuaram se encarando. Charlotte só podia ser louca de dizer aquilo no meio de todo o grupo, ela estava em clara desvantagem. O moreno continuava no mesmo lugar, aparentando toda a calma do mundo.

— Você me chamou pra vir aqui, pra seguir viagem com vocês... — Ela deu um passou pra trás como se não tivesse acabado de ameaçá-lo de morte, falando muito casualmente. — Eu não queria vir, mas eu vim, porque resolvi ouvir alguém que eu amo. — Parou do lado do moreno e sorriu pra ele. — Mas eu não vou mentir, essa é quem eu sou agora. Esses são os meus termos. Então a escolha é sua, você pode retirar o seu convite agora, eu dou meia volta e nós nunca precisaremos nos ver outra vez. Simples. Ou você mantém seu convite, nós vamos com vocês, mas você fará isso sabendo que não pode confiar em mim. Porque eu nunca vou confiar em você outra vez. Você que sabe...

Charlotte terminou dando de ombros como se realmente não se importasse.

Eu não sabia o que Rick decidiria, mas naquele instante eu cheguei a desejar que ele não a mantivesse conosco, pois eu sabia que olhar para ela todos os dias me faria sofrer bem mais. Eu não significava mais nada pra ela... E por mais que se parece com a Charlotte Walsh que um dia eu amei, eu sabia que aquela garota estava morta, e olhar pra essa nova mulher todos os dias, seria como sofrer o luto de novo e de novo, um ciclo sem fim de dor e agonia.

Ela havia reconstruído meu mundo quando reapareceu, só pra fazê-lo desmoronar outra vez, deixando-o ainda mais em ruínas.

Eu não queria que essa Charlotte ficasse...


Notas Finais


Char super revolts kkkkkkkk Destruiu o coração do Daryl nem nem falar com ele.

Logo vemos que por mais que ela realmente esteja falando sério, ela não culpa o Rick tanto quanto parece.
E o que será que ele vai dizer?

Nos vemos no proximo
Bjss

Vou colocar os comentários em dia agora.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...