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História ÓRION - jjk pjm - jikook; - Microscopium;


Escrita por: yulleby

Notas do Autor


Oi, gente goxtosa, tudo bem?
Eu preciso conversar com vocês um minuto, antes de começar o cap.

Eu ando meio infeliz com a minha escrita (mesmo com vocês me elogiando e me ajudando em todos os capítulos, sério, vocês são perfeites demais), mas é uma coisa minha comigo mesma sabe?

Eu tô sentindo que eu não tô conseguindo escrever bem sob pressão, de ter que entregar 1 capítulo por semana correndo. Apesar do roteiro estar pronto, eu preciso de um pouco mais de tempo pra desenvolver Órion com o carinho que ela merece e eu tenho sentido que eu estou fazendo as coisas de "qualquer jeito" e eu não quero que seja assim.

A partir de agora eu não vou ter mais data certa de atualização, mas tentarei manter uma faixa de 15 em 15 dias, mas sem prometer nada, ok? Vou postar apenas quando me sentir confortável com o capítulo, de forma que ele não saia uma porcaria.

As vezes eu não estou no clima pra escrever e escrevo só porque eu tenho que postar e acaba que não fica do jeito que deveria ser e eu não quero mais isso.

Então desculpa à todes que sempre esperam as atualizações nas quintas, mas eu vou ter que aumentar um pouquinho essa diferença de dias pra atualizar.

Obrigada por estarem com o médico e o bandido até agora e por sempre me ajudarem tanto, tanto, tanto com seus comentários e votos!

Um beijão e espero que gostem do capítulo!

Capítulo 12 - Microscopium;


Fanfic / Fanfiction ÓRION - jjk pjm - jikook; - Microscopium;

 

 

 

CAPÍTULO 12;
Microscopium

 

 


"Inscrições abertas para o vestibular da Academia de Cinema de Seul"

 

Era o que dizia o grande letreiro na página aberta no navegador do meu notebook.

O encarando por mais tempo do que o necessário, respirei fundo, lendo o título mais uma vez, ainda sem coragem o suficiente para inscrever meu nome num processo seletivo que teria por data final o dia de amanhã.

Tirando meus olhos da tela e os arrastando para o lado, observei o cinzeiro abarrotado com guimbas de cigarro em excesso.

Eu estava fumando demais, melancólico demais, duvidoso demais e, mais do que nunca, cético sobre o meu futuro e me sentindo incapaz de encarar uma prova que colocasse meus conhecimentos em jogo.

Desanimado com o meu próprio intelecto que sempre diminuía, catei um maço de cigarros de uma marca aleatória, dentro da minha gaveta.

Porra, tinha que ser um Treasurer.

Estalando a boca em escárnio, acendi o cigarro e o traguei, percebendo como, gradativamente, o efeito da nicotina parecia me satisfazer menos e ir embora cada vez mais rápido.

Eu nunca havia me sentindo culpado por fumar, mas, desde quando fui embora do apartamento de Jimin, os números de maços que eu consumia triplicaram, fazendo com que eu questionasse que tipo de vício gritava mais alto dentro de mim.

Jimin ou o cigarro?

Nem a nicotina era capaz de apagar os efeitos que o médico tinha sobre o meu corpo e era agonizante a forma como eu sentia sua falta todo santo dia.

Não era novidade que isso estava ligado ao tratamento que ele tinha comigo, estava claro, mas quanto mais os dias se passavam mais eu tinha certeza de que me isolar e não procurar por ele foi uma péssima decisão da minha parte.

Ali, ocioso em meu quarto, girando na minha cadeira de rodinhas após ter terminado o cigarro, observava toda a bagunça acumulada do local e minhas câmeras velhas empilhadas ao canto, gritando para serem consertadas.

Entre elas estava a Hitachi FP-10, a câmera antiga da minha mãe, que foi a primeira filmadora que eu tive nas mãos.

Buscando por migalhas de lembranças, me levantei da cadeira e fui até o objeto largado ao chão, próximo do meu armário.

Voltando a me sentar, afastei meu notebook e coloquei a antiga filmadora na minha mesa de estudos, observando sua lente solta e seus botões folgados.

Apesar disso, ela ainda funcionava, mas seu foco estava danificado pelo anel de zoom já avariado.

Eu consegui liga-la e, junto com a funcionalidade da filmadora, vieram as memórias de vários momentos que aquele objeto proporcionou entre mim e meus pais.

Eu tinha pouco mais de 7 anos quando peguei na Hitachi pela primeira vez. Minhas mãos eram pequenas e curiosas e eu mal entendia a funcionalidade de todos aqueles botões.

Minha mãe ria, segurando meus dedos trêmulos e me ajudando a capturar todas as coisas interessantes que haviam dentro da nossa casa pequena, mas tão colorida e cheia de vida na época.

Constantemente, meu pai era o foco das nossas filmagens, amadoras da minha parte e profissionais da parte dela, mas ele nunca pareceu se importar. Acho que até gostava.

— Vai fazer um filme sobre o que, meu cineasta? — ele dizia rindo, espremendo os olhos pra conseguir me enxergar, depois se levantando e catando os óculos pela casa.

— Sobre um homem muito rico. — eu dizia, com os dedos infantis e curtos sendo sobrepostos pelas mãos da minha mãe que tentava me ensinar a enquadrar as pessoas na lente.

— Eu sou esse homem? — ele continuava a rir, já com os óculos no rosto, se sentando no sofá e cruzando as pernas de forma imponente, entrando completamente na minha brincadeira.

— Agora gira aqui, pra gente dar zoom na cara boba dele. — minha mãe falava suave ao meu ouvido, me fazendo rir facilmente por chamar meu pai de bobo.

— Pera lá! Um homem muito rico não tem nada de bobo! — seu rosto beirava chateação, mas não por muito tempo. Ele mal conseguia fingir estar nervoso, o que sempre me fazia rir.

— E ele ia ser roubado por um ladrão perigoso. — falei, apontando a câmera abruptamente para uma versão de 16 anos de Seoojon, que entrava pela porta naquela mesma hora.

Graças à habilidade de minha mãe, a câmera não caiu ao chão, mas recebeu um forte solavanco, demorando alguns segundos para retornar ao foco anterior.

— Não enche, moleque... — foi o que eu ouvi de meu irmão, que passou por nós sem nos dar nenhuma atenção, indo pro seu quarto e se trancando nele.

— Que ladrão mal educado. — foi meu pai quem disse, acostumado com o temperamento difícil de Seojoon, ainda mais naquela idade.

E naquele dia, naquela hora, eu ri.

Ri de como meu pai fugia do padrão "sério e conservador" das outras famílias tradicionais.

Ri por me sentir cuidado e protegido pela minha mãe, com tanto carinho e amor que poderia inundar aquela casa inteira.

Ri e me permiti aproveitar todos os segundos que se passaram naquele dia, sem ter noção nenhuma do que viria três anos depois, com o acidente.

Mas Seojoon não riu. Nem naquele dia, nem nos outros que se passaram e, menos ainda, nos anos após o acidente.

Quando se entregava ao álcool e choro desesperado no seu quarto, era porque se sentia culpado por ter sido um ser filho péssimo enquanto meus pais estavam vivos e agora não havia mais a possibilidade de voltar atrás.

Ele nunca poderia dizer adeus, nem pedir perdão pelo temperamento de merda e por isso internalizava todos os sentimentos dentro si, criando essa camada grossa e impenetrável dentro de seu coração.

Mas era inegável que, o que ele errou como filho ele tentava, do jeito dele, acertar como irmão.

Era nas suas perguntas brutas e nas suas falas de preocupação, mesmo sem saber exatamente como se expressar, que eu sabia que ele se importava comigo.

Inclusive na forma como sempre perguntava se eu precisava de dinheiro ou comprando comida cara pra mim no meio da semana, completamente sem motivos.

Seojoon se preocupava comigo quando trazia gibis aleatórios pra casa, rolos de filme, pra eu usar nas câmeras antigas de fotografia e até, quando eu não estava em casa, jogava umas peças de roupas na minha cama, que ele sabia fazer meu estilo, mas que não tinha coragem de chegar e falar "toma aí, é presente".

Ele era distante, grosso e bruto, mas cuidava de mim.

Ainda sim, não era o suficiente.

Porque depois que você experimenta dos cuidados e devoção de Park Jimin sobre o seu corpo, nada mais é suficiente.

Sempre te falta alguma coisa que só era preenchida com ele.

E cada dia que se passava era uma lembrança diferente que massacrava minha mente.

Eu sentia saudade da comida dele, do cuidado pra me vestir e tirar minha roupa, da preocupação em me dar os meus remédios, que inferno, até da forma como ele me dava banho nervoso porque não conseguia me ver pelado.

— Tá drogado? — Seojoon apareceu na porta, me pegando exatamente no momento em que eu estava maneando a cabeça negativamente e rindo, pela memória de um Jimin apavorado pra sair do banheiro enquanto eu tirava a minha cueca.

— Não. — falei pigarreando, voltando a ficar sério, colocando a filmadora em cima da minha mesa e fechando a tela do meu notebook com mais pressa do que gostaria — O que foi agora?

— Vamos trabalhar hoje.

Revirei os olhos com força, enquanto me afastava da mesa, me levantando e jogando meu corpo de bruço na cama.

— Dá um tempo, Seojoon. — falei com a voz abafada pela minha cara enfiada no travesseiro.

— Já fazem dois meses, pivete... — ele disse entrando no meu quarto e se sentando na minha cadeira, agora vaga — teu ombro já tá cicatrizado, eu já te dei férias demais.

— Vocês ainda não acharam ninguém, cara? — disse virando meu corpo na cama e olhando o teto, completamente desanimado em ter que voltar a fazer batidas de contrabando na madrugada.

— Ninguém tão bom quanto você.

Levei minhas mãos ao rosto, esfregando as palmas cansadamente pela extensão do local, antes de soltar a respiração pela boca de forma longa e lenta.

Então me sentei, olhando pro meu irmão truculento que se balançava devagar, pra lá e pra cá, na cadeira de rodinhas.

— Olha... eu sei que vocês precisam de mim. Eu sei que Namjoon demora muito pra confiar nas pessoas, eu sei que você também. — ele havia parado de se balançar e me olhava quieto agora — Mas eu falei sério quando disse que não queria mais isso e dois meses é tempo demais pra colocar alguém no meu lugar.

— Cara, você vai sair, é questão de tempo, mas você acha que as contas se pagam sozinhas, não é, pivete? — ele dizia, começando a alterar a voz pra um tom agressivo.

— Eu sei que nós temos dinheiro até demais, Seojoon. Nós não moramos num lugar melhor e nem temos mais luxo porque você tem essa mania de achar que qualquer won a mais vai levantar suspeitas.

— E vai. — estalei a língua, voltando a revirar os olhos.

— Vai nada, porra. Você parece um velho muquirana.

— E por isso nenhum policial bateu aqui em casa perguntando da nossa vida. Você devia ser grato, moleque. — ele disse, enquanto cruzava as pernas de forma folgada e olhava pros lados entediado.

— Eu devia ser o que? — falei jogando as pernas pra fora da cama, tocando os pés no chão de maneira abrupta enquanto encarava meu irmão, sentindo o sangue nas minhas veias começar a esquentar — Grato por você achar que ser traficante de cigarros era o futuro que o pai e a mãe queriam pra nós dois?

— Cala a boca, Jungkook. — sua voz era baixa e sinalizava perigo, assim como suas pernas se descruzavam em posição de alerta, mas eu não parei.

— Grato por tomar um tiro quando você tinha que estar me protegendo e me mantendo afastado dessa merda?

Ele se mantinha em silêncio e seus punhos começavam a se cerrar sobre as próprias coxas, ainda sim, eu continuei.

Eu não parei porque aquela história toda de voltar à trabalhar como um bandido no meio da noite entupia minha cabeça e meu coração de sensações ruins, como se eu fosse ficar preso à aquela vida pra sempre.

Eu não queria isso, porra, eu não podia levar essa vida pra sempre.

E eu precisava dizer...

Seojoon precisava saber o quanto aquilo me deixava com raiva, o quanto me enfurecia ele querer me arrastar de volta pra essa merda toda, mesmo depois de eu ter quase morrido.

Então eu continuei falando e vomitando tudo o que estava na minha cabeça, sem nem mesmo pensar sobre o que eu dizia.

— Grato por... caralho! — eu começava a gritar, num rompante de raiva que se acendia dentro de mim, alimentado pela insistência de Seojoon para que eu voltasse à aquele emprego sujo — Grato por pedir pra você me tirar dessa lama e você insistir, indo contra tudo o que o pai e a mãe ensinaram pra gente do que é ter uma vida honesta? 

Meu rosto esquentava e as palavras saíam de mim desenfreadas e sem filtro algum.

— Porra! Pelo que eu deveria ser grato? Por você ter sido um merda com eles e agora ser um merda comigo?

E foi naquele momento que eu me calei abruptamente, sentindo o amargor instantâneo se instalar na minha garganta, me arrependendo, automaticamente, do que eu havia acabado de dizer.

Eu senti que, por muito pouco, Seojoon não me bateu.

Diferente disso, baixou os olhos pro chão, sério e fechado, empurrando o interior da bochecha com a língua, enquanto balançava a cabeça numa confirmação muda e decepcionada à tudo que eu havia dito.

Então ele se levantou devagar e saiu do meu quarto, sem dizer nenhuma palavra.

Ali eu soube que havia cruzado uma linha que jamais deveria ter chego perto e foi inevitável que a culpa instantânea se embolasse no meu estômago.

Eu havia falado uma merda sem tamanho e sem precedentes. 

E continuei me sentindo mal pelo resto do dia, mas não o suficiente pra tomar coragem e ir pedir desculpas.

Porque, apesar dessa ser minha vontade, conhecia o temperamento teimoso e cheio de rancor de Seojoon, e sabia que ele não iria me perdoar com facilidade, ainda mais depois de falar tanta coisa sem nem mesmo pensar.

Quando a noite se iniciou e eu percebi sua movimentação para deixar a casa, me apressei em colocar uma jaqueta, meus coturnos e entrei no seu carro antes que ele pudesse alcançar o veículo, dar partida e ir sem mim, o que sabia que faria.

Eu não queria ir, ainda sim, a culpa foi meu combustível pra que eu tomasse a decisão de acompanha-lo naquela noite.

Quando ele entrou no lugar do motorista, me lançou um olhar furioso e jogou a bolsa dele no banco de trás, depois ligou o carro e iniciou o caminho pro nosso destino.

Depois de algum tempo dirigindo, percebi que estávamos na divisa de Seul, ainda longe do hospital, mas perto o suficiente para que eu ficasse incomodado com uma saudade adolescente que sempre me fisgava quando a imagem do médico me vinha na mente.

Mas eu não ia focar minha cabeça nisso, tendo tanto trabalho que eu sabia que teria à fazer.

Tão silenciosa quanto a nossa ida, foi a nossa chegada e dei graças a Deus pelo gelo ter sido quebrado quando percebi um corpo conhecido se aproximar do carro e abrir minha porta, assim que estacionamos.

— Achei que Seojoon estava escondendo seu corpo morto dentro de casa, garoto. — Namjoon disse rindo, me dando um abraço fraterno sincero, depois de me puxar pelo braço pra fora do veículo — Senti sua falta.

— Eu também, hyung. — disse em um sorriso sutil, enquanto observava meu irmão bater a porta com força e se distanciar do seu Cadillac velho.

E era verdade, porque, apesar de não querer mais aquela vida bandida, sentia falta de Namjoon e da sua companhia.

Ele não era exatamente um amigo, estava mais pra um mentor, mas era sempre muito inteligente e esperto, o que fazia com que nossas conversas sempre fossem maneiras e eu o olhasse como um cachorro babão olha pro dono.

Eu admirava o cara pra caralho e gostaria muito que nosso relacionamento não fosse estritamente por causa de roubos e cigarros.

Isso acontecia às vezes, em pequenas saídas em grupos que dávamos para relaxar após os roubos, mas eram raras demais para que eu já pudesse dizer que existia uma amizade inabalável rolando.

Eu ainda o via, quase completamente, como um chefe.

— Deixa eu ver esse rombo aí, cara. — ele falava aprontando pro meu ombro.

Baixei a jaqueta, o suficiente pra que ele pudesse ver e, com a regata por baixo, deixei que tivesse uma visão clara do local da cicatriz que, até pouco tempo atrás, era morada de um ferimento bem, bem feio.

— Parece que você foi mordido por um tubarão. — ele falou rindo, olhando minha pele marcada de perto e passando a mão em cima da da derme já curada — Vai cobrir com tatuagem ou deixar assim?

— Deixar assim... — disse rindo com ele e voltando a colocar a jaqueta — me faz lembrar de tudo... — do que eu queria fugir, claro — e me deixa com cara de delinquente, aí ninguém me enche o saco.

— Cara de delinquente você já tinha antes. — ele falou passando o braço pelo meu ombro e me puxando pro galpão, num meio abraço frouxo.

Balancei a cabeça rindo e andei junto com ele, pra aquela que seria mais uma noite cansativa de roubos e pilhagens, como o perfeito pirata da cidade que eu era.

Mas eu me assustei ao chegar no depósito e perceber que o local não guardava só containers de cigarros, e sim, galões com insumos hospitalares que eu não conseguia identificar as propriedades.

Confuso, olhei dos galões pra Seojoon, que continuava sério a alguns pallets de distância de mim, verificando caixas e anotando tudo numa prancheta nova que havia pego em algum canto por ali.

Coberto por dúvidas, me aproximei dele pra tentar entender porque, depois de tantos anos, estávamos fazendo aquilo, com mercadorias tão específicas e diferentes.

Mas ele não parecia estar disposto a me esclarecer nada.

— Sem perguntas. — ele disse seco — Vai até o carro do Namjoon e atualiza a frequência da polícia, você está de vigia hoje.

Assentindo com a cabeça, obedeci, saindo do galpão e indo até o carro já tão conhecido por mim. A Pick up grafite que me levou a Wooridul como se fosse um foguete.

Respirando fundo e atordoado pela mudança de mercadoria nos últimos meses em que não estive lá, entrei no veículo e liguei o rádio da polícia colado no painel do veículo.

Depois, pegando o Notebook largado ao lado, no banco do carona, liguei seus fios ao rádio adulterado pelos sistemas, que eu já havia montado antes, e comecei o trabalho de descriptografia de dados, liberando o acesso ao serviço de comunicação entre as viaturas.

Como na maioria dos dias, tirando a vez em que fui baleado, tudo estava calmo e sem aventuras para nós.

Havia denúncias de mulheres espancadas, o que parecia ser terrivelmente comum à essa hora da noite, uns pequenos roubos e muitos pedidos para viaturas comparecerem às locais com som alto.

"...vizinhos estão se queixando de ouvirem gritos na casa ao lado... o nome da moradora que parece estar recebendo ataques do marido é Park Hyeun..."

"...estou mandando uma viatura pra lá agora..."

E eram chamados assim que acabavam deixando minha noite melancólica, mesmo que eu não conhecesse aquelas pessoas.

Porque quando você não sabe das merdas que acontecem por aí, você se torna apático.

A ignorância é uma benção, realmente.

Mas acompanhar essas desgraças ali, constantemente, te faz ter uma percepção muito mais sinistra de como a vida realmente é.

Acabava sendo bem triste ter a função de vigia e ter noção de que o mundo é muito mais fodido do que a gente imagina ou pelo menos tenta imaginar.

Mas, por um milagre, não precisei ficar muito tempo ouvindo a frequência do rádio, pois logo ouvi a batida de dedos finos na janela do meu lado, me fazendo baixar o vidro.

— Alguma coisa? — era Namjoon.

— Nada, só uns problemas familiares, homens babacas e uns roubos de galinha.

— Beleza. Troca de lugar e vai pro carona. — ele disse, o que me fez descer do carro e ir pro outro banco.

Quando voltei a entrar no carro, ele já estava no assento do motorista, girando a chave e ligando o motor.

— Teu irmão vai ficar responsável pelo galpão, disse que não quer olhar na sua cara. — ele falou naturalmente, sem querer fazer daquilo um drama — Então você vai comigo pegar uma encomenda.

— Tranquilo. — assenti, ainda me sentindo mal por Seojoon não querer falar comigo.

A corrida devia ter durado meia hora, quarenta minutos, no máximo, mas que passaram rápidos tendo em vista as várias conversas que nós tivemos no percurso.

Facilmente envolvido por qualquer assunto que Namjoon soltasse dentro daquele carro, não percebi o exato momento em que os locais que nos cercavam foram ficando familiares demais.

As ruas iluminadas à noite mostravam calçadas com pouca ou nenhuma movimentação, mas, um pouco mais a frente, um local funcionava 24h por dia, sem pausas.

Namjoon estava me levando para Wooridul e eu não fazia ideia do porquê.

— Saudades do seu quarto cinco estrelas? — ele disse rindo, entrando no estacionamento dos funcionários, o mesmo que Jimin deixava seu carro que me tirou dali dois meses atrás.

E a visão do seu veículo ali, estacionado, praticamente na nossa frente, foi o suficiente pro meu coração bater um pouco mais forte. Um pouco mais rápido.

Saber que Jimin estava tão perto me fazia querer abrir a porta do carro e sair correndo hospital a dentro até encontrá-lo.

— Até que sim. — falei rindo fraco, tentando não transparecer o quanto estar ali me desestabilizava.

Namjoon estacionou a Pick up numa das vagas mais distantes da saída de funcionários e desligou o motor, depois sacou seu celular e começou a mandar mensagem pra alguém.

Poucos minutos depois, um funcionário da limpeza apareceu, empurrando o que parecia ser um carrinho com roupas sujas até a margem, vindo em nossa direção.

— Não sai daqui. — Namjoon ordenou e, assentindo com a cabeça, o observei saindo do carro e indo de encontro ao homem que havia parado o carrinho ao lado da porta dele, um pouco afastado.

Ele e o homem baixo trocaram algumas palavras, depois, futucando o interior do carrinho, Namjoon tirou uma maleta grande, que parecia refrigerada e, abrindo a porta do carro e colocando metade do seu corpo pra dentro, a empurrou pra mim.

— Segura como se fosse a sua vida. — ele falou, depois voltou pra fora do veículo e continuou conversando com o homem, entregando pra ele um envelope pardo pequeno e grosso, que parecia ter dinheiro dentro.

Enquanto isso eu encarava a grande mala térmica de acrílico em minhas mãos e sentia que, independe do que estivesse ali, era algo muito valioso e igualmente duvidoso.

Sem me dar mais espaço pra minha curiosidade, ouvi a porta do carro se abrindo de novo e, logo após, Namjoon tomando seu lugar no volante.

Meus olhos, antes na caixa, agora acompanhavam o homem pequeno empurrar o carrinho com roupas sujas de volta pelo estacionamento, até a entrada de serviço dos funcionários, mas, ao mesmo tempo que ele entrava no local, uma silhueta, que me era inconfundível, saía de lá.

Jimin, vestindo uma blusa azul clara folgada e calças pretas justas, deixava o hospital com sua bolsa lateral transpassada pelo corpo, marcando seu peitoral não tão grande, mas deliciosamente definido.

Meus olhos se arregalaram levemente e eu levei o corpo um pouco pra frente, como se quisesse ver melhor aquela imagem que se aproximava com certa pressa.

Ao chegar em seu carro, abriu a mala e tirou de lá um casaco maior que seu corpo, o vestindo em seguida.

Seu rosto pálido estava com o nariz vermelho em evidência pelo frio da noite e suas bochechas protuberantes ficavam ainda mais fofas com um leve tom róseo causado pela baixa temperatura da madrugada.

Minha respiração estava falhada e eu nem mesmo conseguia pensar em controla-la, tendo em vista o quanto não esperava ter como acontecimento na noite, a presença de Jimin.

Os vidros escuros da Pick up não o permitiam me ver ali, mas Namjoon certamente percebeu o quanto fiquei afetado pela simples caminhada do médico até seu carro.

— Quem é? — ele perguntou calmo, colocando seu cinto.

Então pigarreei, tentando recobrar minha lucidez.

— Meu médico... não, quer dizer... — pigarrei novamente, pateticamente nervoso com a presença de Jimin — o médico que cuidou de mim quando estava no hospital.

— Quer ir lá falar com ele? — Namjoon disse segurando o riso e parecendo estar se divertindo com aquela situação.

E eu queria. Céus, como eu queria descer do carro, ir correndo até Jimin e beijar aqueles lábios cheios que tanto me fizeram falta nos últimos meses.

Como eu queria segurar aquele rosto bonito, depois enterrar meu nariz na dobra do seu pescoço, enquanto sentia o cheiro que eu tanto desejava experimentar mais uma vez.

Mas antes que a inconsequência tomasse conta de mim, percebi que o corpo de outra pessoa, alegre e agitada, se aproximava dele.

Era Jess, a outra médica que havia cuidado de mim.

E eles riam, bem mais alto do que o indicado ou permitido para um hospital.

— Ri baixo, sua escandalosa. — ouvi a voz dele de longe, reprimindo a amiga, mesmo que nem ele conseguisse segurar o próprio riso, seja lá por qual motivo, enquanto fechava a mala de seu carro.

E por um momento eu quase ri com eles, mas o amargor da saudade era mais ferrenho do que o humor que eu pudesse vir a ter.

— Não precisa, já agradeci o bastante. — falei, tirando o olhar de Jimin e o descendo até a mala em meu colo.

Ele não precisava que eu o atrapalhasse e nem o constrangesse em seu âmbito de trabalho, então apenas me controlei e emudeci dentro do carro, visivelmente incomodado pela sua proximidade tão acentuada.

— Ele deve ter cuidado muito bem de você, pelo visto. — Namjoon falava dando partida no carro, com um sorriso lateral que beirava deboche — Nunca te vi nervoso assim por causa de ninguém.

— Não comenta nada com Seojoon, por favor. — pedi baixo, meio sério.

A situação era que: nada era tão pequeno que não pudesse ser percebido por Namjoon e não adiantaria eu negar qualquer coisa que ele já não tivesse notado e ligado os pontos.

Ele não tinha ciência da intensidade do que eu sentia pelo meu médico, mas já sabia que tinha alguma coisa acontecendo e eu não ia perder tempo fazendo algum teatro pra esconder a real circunstância.

— Relaxa, garoto... — ele falou, e começou a tirar o carro garagem de funcionários, enquanto eu dava uma última olhada pra pessoa que fazia tudo dentro de mim desregular — eu sei dos teus pulos a muito tempo.

Ele dizia rindo leve, mais uma vez, sem fazer daquilo uma grande coisa, mas, só o fato dele ter conhecimento dessa área da minha vida, me fez engolir em seco, completamente sem jeito.

— Como assim? — perguntei, observando ele jogar o carro pra avenida principal e seguir para chegar à rodovia que nos ligaria a outra cidade.

— Seojoon é muito inteligente, não é atoa que ele é meu braço direito, — ele dizia olhando pelo retrovisor e depois mantendo os olhos na estrada, sem olhar pra mim — mas ele é um tapado pra algumas coisas.

— É, eu sei...

— E você, Jungkook, não sabe disfarçar nada que passa dentro de você. A sua cara e seu corpo entregam absolutamente tudo o que você quer ou está sentindo.

Continuei mudo, ouvindo suas palavras.

— Você não disfarçou quando ficou atraído por um dos nossos clientes, na entrega do carregamento do ano novo, — ele começou o que parecia uma lista — não disfarçou quando sumiu com o garçom nos fundos do bar, ano passado, quando seu irmão tomou um porre de vodka tão forte que tivemos que carregar ele pra casa, — então virou o volante levemente para pegar a faixa da direita — e, com certeza, não disfarçou quando tinha um garoto loiro rebolando em cima do teu colo, naquela boate escondida no porão da loja de eletrodomésticos, uma semana antes de você tomar um tiro.

Arregalei meus olhos no momento em que ele começou a falar do último fato que eu, sequer lembrava.

Sim, eu sabia que tinha ficado com alguém naquela noite, mas tinha bebido tanto e por tanto tempo que não era capaz de lembrar o nome do cara, muito menos sua cor de cabelo.

Incapacitado de falar, olhei pra ele levemente em choque por esse ter sido detentor dessa informação até agora. Como ele poderia saber?

— Eu estava lá naquela noite, visitando um cliente e fechando um contrato. — ele disse voltando a rir, como se entendesse minha pergunta não dita apenas pela minha expressão confusa.

Tudo aquilo parecia ser muito engraçado para Namjoon e aterrorizante para mim.

— Eu não vou forçar você a sair do armário e nem contar uma coisa que você não se sente confortável pra fazer. E você não é nem mais e nem menos importante pra mim porque gosta de caras e de mulheres na mesma proporção, se é o que te preocupa.

— Ultimamente, mais de caras... — falei, soltando o ar pelos meus pulmões com força, não percebendo o quanto minha respiração estava travada com aquela chuva de revelações saindo da boca de Namjoon.

Não sabia que seria dessa forma, mas saber que, mesmo assim, Namjoon não me julgava, fazia com que meu peito fosse massageado com um alívio genuíno.

Um alívio que eu não experimentava há muito tempo.

— De um cara em especial, não é?

— Sim... — confessei, tamborilando os dedos por cima da mala dura de acrílico, me sentindo levemente melancólico com aquele assunto. — Mas deixa isso pra lá, o que tem aqui, hyung? — perguntei, agora balançando a alça da mala e tentando, por tudo, fugir daquele assunto incômodo.

— Um rim. — ele disse calmo, com os olhos atentos à estrada.

— Custa um rim de tão valioso? — falei, não querendo acreditar no que ele realmente dizia.

— Não, Jungkook. É, literalmente, um rim. 

— Puta que pariu! — soltei apavorado, balançando as pernas num solavanco assustado que fez a maleta dar um pequeno salto em cima do meu colo — Como assim!? — perguntei, ainda em total choque.

— Se você fizer esse rim virar pudim, eu juro que te mato. — ele falou ainda calmo, sem olhar pra mim, prestando atenção a próxima curva acentuada que ele teria que entrar pra se dirigir à saída da próxima rodovia. 

Fiquei em silêncio, ainda sem saber exatamente o que pensar daquele assunto, com julgamentos passando como raios dentro da minha cabeça. 

— Não matamos ninguém clandestinamente, se é o que você quer saber. — ele falou, mais uma vez, soltando respostas pra perguntas não ditas, mas que eram claramente lançadas no ar com minhas feições que tinham dificuldade de entender o que estava acontecendo ali.

— Mas como, porque vocês...? 

— Olha, garoto... — ele respirou fundo, soltando o ar pelos pulmões devagar — pessoas morrem e são enterradas todos os dias e seus órgãos, que poderiam ser usados pra salvar mais vidas do que você imagina, são jogados a sete palmos do chão pra serem comidos por vermes.

Me assustava o modo como ele falava desse assunto com aquela calma.

— O que eu faço é resgatar os órgãos das pessoas que não deram autorização para doação e vende-los no mercado negro, para outras pessoas que estão à beira da morte e que pagariam qualquer coisa para continuar vivendo. 

Eu não sabia o que dizer. Aquele assunto era complexo demais, delicado demais e problemático demais para que eu assimilasse tudo de uma vez.

— E, antes que você venha com um discurso de que isso é anti-ético, pense: quantas pessoas estariam vivas se o sistema mundial obrigasse a doação de órgãos funcionais? Ou se as pessoas fossem menos egoístas e liberassem, por elas mesmas, a doação das suas partes que não vão servir pra nada depois que elas morrerem? 

Aquilo estava mesmo acontecendo? Porra, eu sequer tinha uma opinião sobre isso tudo?

— Um corpo morto é só carne, muito diferente do espírito que é eterno, — ele falava, dando ênfase em suas crenças que eu, tampouco, conhecia — então por que não dar a chance a uma criança ou uma mãe que quer sobreviver, mas está a anos na fila de espera, achando que a qualquer momento vai ser seu último dia de vida?

— Eu... — disse atordoado, com aquele caminhão de informações que despertavam dentro de mim um dos dilemas mais confusos que eu já presenciei na minha vida — não sei o que opinar, Namjoon. 

E era verdade, eu realmente não sabia. Eu sequer havia tido tempo para pensar sobre questões morais que iam além da minha compreensão, ainda mais com a pressão de ter um rim humano no meu colo.

Cigarros? Eu conseguia lidar com isso, mas órgãos de pessoas?

— Não precisa, não nesse momento, só tenha na cabeça que eu não estaria fazendo isso se alguém se machucasse nesse processo. — sua voz continuava calma, enquanto a velocidade do carro aumentava a medida que a estrada vazia se mostrava ainda mais deserta.

Assentindo silenciosamente, o observei ligar o rádio e deixar que músicas aleatórias preenchessem o vazio do incômodo frente aquele assunto.

Não muito o tempo depois, voltamos ao galpão e, tendo Seojoon terminado o trabalho, me despedi de todos e voltei a entrar no Cadillac enquanto via meu irmão e Namjoon conversando pelo retrovisor por longos minutos, enquanto o chefe do crime segurava a maleta, antes no meu colo, agora em uma de suas mãos.

Quando, enfim, Seojoon voltou pro carro e deu partida, percebi que o silêncio da nossa vinda ao galpão persistiu até que chegássemos em casa, mesmo que a viagem fosse agonizante e lenta por vários motivos.

Eu queria entender que tipo de merda eles, e consequentemente eu, estávamos envolvidos dessa vez e porque não podíamos ficar só com a merda dos cigarros.

Eles já não traziam dinheiro suficiente?

O meu armário tinha tanto dinheiro que eu não sabia mais onde esconder aquela porra, porque precisava de mais aquela merda?

Ou o Namjoon estava tão alienado que precisava dar uma de Robin Hood do submundo e contrabandear, também, órgãos humanos?

Me deixando afundar no banco do carro, atolado em pensamentos ruins que não paravam de bombardear minha cabeça, mal percebi o carro perdendo força ao chegar na nossa garagem e estacionando.

Quando aconteceu, abri a porta e saí do veículo, deixando um Seojoon ocupado com coisas na mala pra trás.

Ao entrar em casa me deparei com as luzes apagadas e a televisão acesa, que estava sendo assistida por Chaeyoung, namorada do meu irmão bem mais velha que eu, mas mais nova que ele.

A garota deu um pulo no sofá quando eu entrei abruptamente pela sala.

— Nossa Goo, que susto. — ela disse levando a mão ao peito, se recuperando do choque.

Quando me aproximei do sofá, entendi porque ela estava tão alterada.

Na televisão estava passando "O Chamado" e, se eu estivesse assistindo aquilo com todas as luzes apagadas e ouvisse algum barulho, me cagaria todo.

Diferente disso, ela só se assustou mesmo.

— Troca isso, essas coisas são assustadoras pra porra. — falei sentando no sofá e encostando a cabeça em na parte de trás, até que ficasse encarando o teto.

Eu odiava filmes de terror e, especialmente aquele dia, não estava afim de encarar outros medos além dos meus próprios, depois de sair por aí carregando órgãos frescos.

— Você é só um bebê, não é? — ela disse rindo carinhosa, passando a mão na minha cabeça, depois trocando o canal pro primeiro filme de ação que encontrou.

— Mais ou menos. — falei baixo, ainda olhando pro teto, porém arrastando meu corpo pro lado e deixando minha cabeça tombar até seu ombro, me recostando ali.

Chae não fez oposição nenhuma ao meu contato porque aquilo já havia se tornado comum.

Respeitosamente e sem nenhum teor sexual, até porque, porra, ela era namorada de Seojoon e me olhava apenas como uma criança, Chaeyoung se aproximou de mim tanto quanto se aproximava de nossas vidas e, quando eu percebi, sua presença dentro da nossa casa mais me alegrava do que incomodava.

A princípio eu achava a garota uma planta, mas foram necessários apenas alguns jantares em família — e com família eu queria dizer apenas nós três — para que eu percebesse que sua mente era tão afiada quanto inteligente.

E ela tinha um coração bom.

Inundada em sabedoria e disposta a mudar a cabeça de Seojoon para um ser humano melhor, Chaeyoung preferia observar antes de dizer alguma coisa ou, até mesmo, se aproximar de mim, mas quando o fez, depois de semanas enfurnada na nossa casa, não viu rejeição alguma de minha parte.

Apesar de insubstituível, seu carinho e inteligência me lembravam de minha mãe, ao passo que o rosto marcado e másculo de Seojoon era a cópia perfeita de meu pai.

Daquela forma, quebrada e incompleta, eu tinha minha própria família imperfeita dentro de casa, mas que se encaixava tão bem dentro de mim.

Eles não eram meus pais, nunca seriam, mas havia algo de reconfortante e tem a figura dos dois por perto.

Ainda sim, não era o suficiente porque o vazio dentro de mim não era preenchido pelo amor bruto de Seojoon e muito menos pelo carinho de Chaeyoung, por mais que ela sempre se esforçasse pra mostrar o quanto eu podia contar com sua ajuda.

O que eu queria, só Jimin poderia me dar.

— Cadê seu irmão? — Chae perguntou, me tirando do meu transe de chateação, olhando pra televisão que passava algum filme merda do X-Men que eu ainda não conseguia identificar qual era.

— Arrumando alguma coisa no carro. — falei meio baixo, tentando não demonstrar que estávamos brigados, mas foi tarde demais.

Entrando como se fosse matar alguém, Seojoon nem se deu o trabalho de tirar os sapatos na porta de casa, pisando pesado pelo chão de madeira, até entrar em seu quarto e bater a porta com força.

— O que aconteceu? — ela perguntou, com o tom levemente assustado por Seojoon entrar daquela forma, como se fosse um cachorro com raiva.

Deixando meu corpo pender pra frente, coloquei meus cotovelos no joelho e enterrei meu rosto nas palmas de minhas mãos, respirando com tanta força que sentia meus pulmões doendo.

— Eu falei uma merda imensa mais cedo, Chae. — disse abafado pelas minhas mãos ao rosto.

— O que você disse? — então senti seu corpo se aproximando do meu e sua mão pequena fazendo um carinho encorajador nas minhas costas, apesar de bem leve.

— Que ele foi um merda com a mãe e o pai e que agora estava sendo comigo, por continuar a me fazer trabalhar.

Seu carinho parou e sua mão, antes nas minhas costas, agora se juntavam na frente do seu corpo, com os cotovelos igualmente apoiando sobre os joelhos, como eu.

— É, Goo... falou merda mesmo. — ela disse soltando o ar pelo nariz, parecendo um tanto decepcionada — Você tá certo em querer meter o pé desse trampo, eu tento convencer o Seojoon todo dia, da mesma coisa, sabe?

Ela confessou, me fazendo olhar pra ela e prestar atenção nas suas palavras de conforto, com um toque de reprovação e sermão.

— Mas teu irmão te ama demais e ele sempre quis o melhor pra você. Ele só não enxerga como pode ser esse "melhor", entende?

Assenti envergonhado, voltando a olhar pras minhas mãos, me sentindo um bosta.

— Todo dia, antes de dormir, ele conta sobre algum cara novo, que ele tá tentando colocar no teu lugar.

Então ela soltou uma risada fraca, meio azeda, sem sentir graça nenhuma do que falava.

— E aí, toda vez que aparece alguém, ele solta a mesma frase: "Acho que é dessa vez que o pivete sai dessa", porque ele sempre acredita que encontrou alguém pra te substituir, mas nunca consegue achar ninguém que ele goste tanto quanto você.

A essa altura eu já não sabia se ela falava aquilo tudo pra me torturar ou porque queria que eu tivesse noção do quanto Seojoon se importava comigo.

A única coisa que eu sabia era que meu estômago se revirava em enjoo por ser tão babaca e estar sentindo tanto remorso por ter dito palavras tão cruéis.

— E, — ela continuou — mesmo que o que você disse tenha sido bem merda... ele vai te perdoar.

Então voltou com o seu corpo pra trás e a mão pras minhas costas, naquele carinho sutil, mas que significava muito pra mim naquele momento.

— Eu tento falar com ele agora? — perguntei, sentindo minha voz falhar, com um nó na garganta que não ia embora nem pelo cacete.

— Hoje não, Goo... — ela falou dando alguns tapinhas nas minhas costas e se levantando. — eu vou ficar com ele um pouco, espera a poeira baixar, tudo bem?

Assenti com a cabeça, não tendo mais nada a fazer, e percebi seu corpo se aproximando de mim, quando ela beijou o topo da minha cabeça suavemente, lançando um "boa noite" que retribuí, antes que ela se afastasse e entrasse no quarto do meu irmão.

Morto de fome, fui até nossa cozinha bagunçada e preparei qualquer coisa com qualquer porcaria que tivesse na nossa geladeira.

Pão com fatias de presunto maturado de pernil foi a opção de noite e, depois de pegar três garrafas de Soju, porque, aparentemente eu precisava delas, arrastei meus pés até meu quarto, me jogando na minha cadeira e abrindo meu notebook após colocar a bebida sobre a mesa.

A página que vi foi a da inscrição da faculdade, ainda piscando com letreiros bregas que tentavam chamar a atenção, mas que eu duvidava que aquelas letras neon fariam alguém se decidir sobre que curso seguir carreira.

Enquanto lia todas as regras de inscrição novamente, a primeira garrafa foi finalizada como se fosse água, ignorando que um dia aquele gosto já foi forte, mas naquele dia não parecia ser.

Não querendo pensar mais naquela decisão que não tomaria naquele momento, abri a aba do navegador e coloquei minha playlist de músicas melancólicas para ouvir.

Hurt, do Johnny Cash, foi a primeira e, numa escolha idiota, coloquei a mesma em looping infinito, o que me fez terminar de comer e matar a segunda garrafa de Soju com um pouco mais de demora do que a primeira, mas igualmente inconsequente.

Enquanto ouvia a voz de Cash dizer que "todos que eu conheço, vão embora no final", me levantei da cadeira levando a garrafa fechada de Soju pra cama, e deixei meu corpo pender, sentindo o baque indolor das minhas costas na superfície macia coberta pelo meu edredom.

Aquela não era a música certa pra se ouvir naquele momento, eu sabia disso, mas parecia ser a que eu precisava.

Ouvindo mais algumas vezes a mesma canção, terminei a terceira garrafa de Soju aos poucos, não bêbado ainda, mas suficientemente alterado pra conseguir sentir meu rosto esquentar e meu coração doer.

Talvez eu estivesse bêbado sim.

Então, sem pensar muito, peguei meu celular, discando o número que já havia decorado depois de tantas tentativas não concluídas de discar pra pessoa que havia visto mais cedo, no estacionamento de Wooridul.

Diferente das outras vezes, movido pela coragem que o álcool me dava naquele momento e pela saudade que se acumulou por tê-lo visto, apertei o botão verde do aparelho, deixando, pela primeira vez, seu número chamar.

Uma ansiedade lenta, misturado com as sensações da bebida consumida rápida demais, se misturavam dentro de mim e eu não sabia dizer por quanto tempo minha respiração parecia estar presa.

Até ele atender.

— Alô? — ouvi sua voz embargada pelo sono soar rouca ao telefone — Alô, quem é? — ele perguntava confuso.

Meu coração tamborilava como se eu fosse morrer a qualquer minuto, de um ataque cardíaco fodido.

— Eu consigo ouvir você respirando, seu idiota. — ele dizia irritado, provavelmente possesso por ter sido acordado depois de um dos seus plantões cheios.

E, segurando o riso que começava a se alastrar pelo meu rosto, desliguei o aparelho, me sentindo satisfeito apenas em ouvir sua voz, ainda que fosse por ele me xingar por não saber quem o estava acordando naquela madrugada, quase com o dia amanhecendo.

Meu celular estava configurado para aparecer como "Número Desconhecido" então ele não teria como saber quem era.

Mas meu riso se findou, no exato momento em que a saudade me atingiu como um raio, me fazendo voltar a melancolia de sempre.

Eu não parava de fazer merda e ligar pra Jimin, ouvir sua voz e me torturar com aquilo, foi só mais uma delas.

Virando o resto das gotas na garrafa de Soju, como um maldito alcoólatra, senti as pontas dos meus dedos começarem a formigar e, o sono forte misturado com a bebida, abraçarem meu corpo com força, de forma que cair nos braços de Morfeu se tornou tarefa obrigatória, sem escape.

Quando acordei, me sentindo levemente nauseado, antes mesmo que pudesse abrir meus olhos, senti um peso no meu colchão e uma mão fazendo uma massagem meio bruta na minha barriga.

— Jimin? — chamei iludido e esperançoso, tentando abrir os olhos, ainda meio tonto pelo álcool que ainda circulava no meu sangue.

— Quem é Jimin, seu puto?

Aquela voz inconfundível me fez abrir os olhos com força, sentando rápido e dando um abraço forte no cara a minha frente.

— Caralho, que saudade seu animal. — dizia rindo meio grogue, porém feliz de verdade por Seokjin estar ali.

Eu nunca fui de abraços e nem muito contato físico, mas ultimamente parecia estar precisando mais disso do que imaginava e não tinha vergonha de admitir, nem de expressar isso.

— Calma, calma, eu não morri, ranhento. — ele falava rindo, retribuindo meu abraço de forma desajeitada, não acostumado com aquele contato repentino.

Ranhento era o jeito que me chamava a mais tempo do que eu lembrava enquanto fomos crescendo. Confesso que, no começo, eu odiava pra caralho.

Depois de um tempo eu comecei a sentir falta...

— O que tá fazendo aqui, cara? — perguntei naquela animação sonolenta, ainda não acreditando que estava feliz por uma visita surpresa, que eu costumava odiar.

Seokjin e eu éramos amigos desde a infância e ele costumava ser meu vizinho. Mais velho que eu e mais novo que Seojoon, era nele que minha mãe confiava quando precisava sair e nem pai, nem meu irmão estavam por perto.

Depois que meus pais morreram, Jin pareceu continuar querendo me ajudar com tudo que ele pudesse, mesmo que não fosse sua obrigação até o dia que ele foi embora, três anos atrás, porque havia passado pra Academia de Artes Cênicas em Seul, no mesmo distrito que eu pensava em cursar minha faculdade.

Com meu trabalho pesado e suas raras visitas a sua antiga cidade, nossos encontros pareciam acontecer uma vez por ano, então não consegui conter a alegria verdadeira em vê-lo ali, quando eu estava mais miseravelmente necessitado de apoio. Qualquer tipo dele.

— Vim ver meus pais e sabe como é né? Te encher o saco. — ele disse rindo, abaixando e pegando a garrafa de Soju ao chão — Mamadeira nova?

— É, eu ainda gosto de leite.

— Ok, vou fingir que você não disse isso do jeito que eu sei que você disse, seu porra.

— É exatamente esse leite.

— Caralho, você é um escroto. — ele dizia gargalhando, colocando a garrafa de Soju, que eu devia ter jogado no chão na noite anterior, na minha cômoda ao lado da cama.

E, pela primeira vez nas últimas semanas, eu pude rir com vontade e sinceridade, agradecendo a Deus por meu amigo estar ali, mesmo que fosse pra ouvir minhas piadas sujas que eu só falava com ele, porque era engraçado ver sua reação apavorada.

Seokjin era o hétero mais afetado que eu conhecia e, não fosse sua vida certinha e padronizada aos olhos dos reles mortais, teria o arrastado comigo para as minhas aventuras, mas esse realmente não parecia ser o lance dele e eu respeitava.

Assim como ele me respeitou a vida inteira, sempre me apoiando e ficando do meu lado.

Apesar dos estilos de vida tão diferentes, Seokjin não parecia fazer força alguma pra ficar comigo e era muito fácil encontrar assuntos em comum entre nós dois.

Desde filmes até gibis, mangás e animes, músicas e peças de teatro, não havia nada em que não achássemos nossas compatibilidades, tornando tudo que nos ligava leve e fácil de conduzir.

— Vamos sair pra beber hoje? — ele falou, sugerindo uma das únicas coisas que fazíamos juntos na rua — Abriu um bar novo no centro, perto da pizzaria. Falaram que tem muita mulher lá.

— Ah, cala a boca Seokjin. — disse ficando sentado e batendo nele com o travesseiro — Tu escolhe uma garota só a noite toda, fica babando na menina e nunca, nunca, da o número pra ela.

Eu ria daquela situação, lembrando de todas as últimas vezes em que isso aconteceu e como o galã era ótimo se gabando da aparência, mas péssimo pra tomar coragem e se aproximar de alguém.

— Acho melhor a gente ficar aqui vendo filme, parece que vai chover. — ele disse desconversando, tentando esconder o riso.

— Também não tô no clima pra sair. — falei esfregando o rosto, depois tentando me levantar, sentindo certa dificuldade por conta da leve ressaca que me abraçava.

— Claro, já encheu a cara ontem.

— Isso também. Aguenta aí. — então eu sorri fraco, me levantando da cama e indo até o banheiro.

Depois de tomar um banho rápido e engolir umas aspirinas, voltei pro quarto e me deparei com a imagem folgada de Seokjin deitado na minha cama.

Como de costume, sem frescura nenhuma, empurrei ele pro lado e deitei também, olhando pro teto de tinta lascada do meu quarto.

— Como tá a faculdade? — perguntei, tentando disfarçar o repentino interesse eufórico naquele assunto.

— Mesma merda. — ele falou soltando o ar pelos pulmões, de forma cansada — Professores achando que nós somos robôs, uns babacas na sala que pensam que são reis da Inglaterra, uns estágios meio bunda em uns teatros duvidosos e caindo aos pedaços...

— Parece legal. — coloquei um dos braços pra trás da cabeça, a apoiando, enquanto o outro ficava preguiçosamente sobre a minha barriga.

— Tenho certeza que não é mais legal do que sair aí de madrugada pra desafiar o Batman. — ele falou dando aquela risada alta, que poderia facilmente me irritar, mas na verdade eu sempre gostei.

— Ele nunca apareceu pra me impedir. — disse rindo com ele, mas sentindo o peso daquilo me acertando novamente, o que fez meu sorriso perder forças — Eu tô tentando largar tudo, Jin. — confessei baixo.

— Tudo... Tudo? — ele perguntou surpreso, olhando levemente pra mim.

— Tudo, tudo... Eu estava... — então estalei a língua, impaciente — Nada, deixa pra lá.

— Agora fala, ranhento, para de ser criança. — ele dizia me sacudindo, o que quase me deu vontade de vomitar pela sensação ainda presente do álcool no meu estômago.

— Estava vendo vagas para o curso de Cinema da Academia de Seul. — confessei respirando fundo.

— Eita, porra! É no mesmo distrito que a minha faculdade! — ele disse, sem se preocupar em esconder a felicidade na voz. — As inscrições não vão até, tipo... hoje?

— Eu sei disso... — disse sorrindo fraco, ainda não conseguindo me sentir completamente animado com a ideia. 

Quer dizer, a faculdade de cinema me animava demais, eu só não sabia se era a decisão certa e, menos ainda, não sabia se teria capacidade de passar nesse vestibular. 

— Por que essa cara de bunda, ranhento? — ele disse se sentando, identificando a minha confusão mental que se instalava na minha cara.

—  Eu não sei se eu consigo, Jin... — confessei, me sentindo um merda.

— Ah, vai chupar um canavial de rola, vai. — ele falou dando um soco na minha coxa, depois se levantando e indo em direção a minha escrivaninha.

Sem muita demora, pegou meu notebook e voltou pra cama, sentando do meu lado, o abrindo e ligando.

— Você faltava pra um caralho na escola e ainda tinha um dos melhores boletins da sala, — ouvi o barulho do sistema do computador se iniciando, enquanto tinha voltado à olhar pro teto — criptografa e descriptografa sistemas com a facilidade de quem peida — ouvi o som do cursor do notebook sendo apertado algumas vezes — e quer meter essa pra mim, ranhento? Senta aí.

Obedeci, já imaginando o que ele estava fazendo.

— Toma, se inscreve nessa merda agora. — então ele entregou o notebook no meu colo, com a página do vestibular pra Academia de Cinema de Seul aberta, já pronta pra receber todos os meus dados. 

Já com toda minha documentação separada e digitalizada em pastas da minha área de trabalho, finalizei a inscrição sem muita dificuldade, me sentindo estranho por ter tomado aquela atitude, mas inegavelmente feliz pela esperança de começar a ir por um caminho diferente na minha vida.

Mesmo que nada fosse certo ainda.

Mesmo que Seojoon não tivesse me liberado do meu trabalho e que eu, sequer, tivesse passado na prova. 

Mas aquilo, aquela migalha de esperança que se acendeu no fundo do meu estômago foi uma das melhores sensações que eu pude experimentar em muito tempo.

— Pronto... — falei respirando fundo, expulsando o ar pelas narinas com um peso que eu nem tinha percebido crescer nos meus pulmões. 

Seokjin olhou pra mim sorrindo pela minha atitude e eu ri com ele, agradecendo mentalmente ao universo por ter ele ali, naquele específico dia.

Porque eu sabia que eu não teria me inscrito se Jin não tivesse aparecido na minha casa.

— Agora me conta sobre aquele cara que você foi lá na casa dele brincar de médico. — ele falou aumentando a risada, se referindo às poucas coisas que eu havia contado pra ele por mensagem, dando um soco no meu ombro e voltando a cair deitado na cama.

Após fechar a porta, para que meu irmão não ouvisse nada, contei pro meu amigo tudo o que havia acontecido nos últimos meses e ele ouviu pacientemente, esperando que eu chegasse às conclusões finais pra começar a me zuar e implicar comigo.

Me chamou de burro mais vezes do que eu conseguia contar e acrescentou os comentários dizendo que o telefone de Jimin na receita era, obviamente, a dica de que eu precisava pra correr atrás do doutor.

— Ninguém dispensa um médico não, seu tapado. — ele falou debochado, esfregando as mãos no rosto enquanto tomava ar pra continuar falando sem parar — Era só você ter ligado fingindo que tava com algum problema, aí você via a reação dele e ia ter certeza se ele queria alguma coisa ou não. Você fode com a Coréia inteira, mas não sabe lidar com alguém quando tá apaixonado? Você é um ranhento mesmo.

— Ah, cala a boca hyung. — falei chutando as pernas dele na cama, depois me levantando a indo pra cozinha.

— Quer fugir do assunto? A gente foge do assunto. — ele falou se levantando também e me seguindo — Tô com fome o suficiente pra comer um boi e meio.

Então ficamos por ali um tempo e comemos o que achamos pela geladeira, sem muitas opções pela preguiça eterna que habitava nos moradores daquela casa de ir no mercado, então quando a noite chegou, pedimos pizza e cervejas.

O resto do dia se passou de forma calma e agradável.

A presença de Seokjin amenizou um pouco o fato de que Seojoon nem olhava na minha cara e, toda vez que eu aparecia em algum cômodo, ele fazia questão de se levantar e ir pra outro.

Chae havia saído cedo pra trabalhar e, quando voltou de noite, bem na hora que as pizzas chegaram, a apresentei pra Jin, que ficou com a gente até tarde da noite. 

Rindo e vendo o máximo filmes que conseguíamos, matamos cervejas o suficiente pra que eu ficasse tonto mais uma vez, mas não tanto quanto na noite passada.

Me despedi de Seokjin com outro abraçado apertado, mais bem recebido dessa vez, e ele me desejou boa sorte no exame, mesmo que aquilo fosse demorar ainda um pouco pra acontecer.

Só a menção daquela prova já fazia com que meu estômago se revirasse e eu tivesse vontade de vomitar toda a pizza que havia acabado de comer.

Tentando afastar minha cabeça disso, guardei as pizzas que sobraram na geladeira, enquanto Chae me dava boa noite, bocejando como uma criança, e entrava no quarto de Seojoon.

Com a sala razoavelmente arrumada, naquela bagunça organizada tão característica da nossa casa, voltei pro meu quarto e sentei na minha cadeira, abrindo o notebook de novo e dando de cara com a página de inscrição da Academia de Cinema de Seul.

"Inscrição feita com sucesso! 
Aguarde mais informações em seu e-mail com a data e o endereço da prova."

Respirando fundo, ainda não acreditando completamente que havia feito aquilo, abri outra aba do navegar e, movido pelo discurso de Seokjin, de que eu era um tapado que perdia oportunidades boas, procurei algo que estava na minha mente há algum tempo.

— Como um cara que ama as estrelas não tem um telescópio? Noob do cacete... — falei pra mim mesmo, balançando a cabeça pros lados, não entendendo o motivo de Jimin ter um apartamento tão vazio e descaracterizado dos seus próprios gostos pessoais.

Após muita pesquisa e reviews de vídeos no Youtube sobre a melhor marca e o melhor modelo, tendo uma certa facilidade na escolha por já conhecer lentes em geral, optei pro um Celestron, que custava um pouco mais de 400.000,00 wons, e ainda sim, não seria o suficiente pra agradecer por ele ter salvo minha vida.

Endereçado à mim, recebi o telescópio uma semana depois, o que me deu tempo o suficiente de verificar as peças e a funcionalidade do produto caso precisasse trocar, escrever um bilhete mal feito, mas sincero, e endereçar novamente ao seu apartamento, cujo o endereço ainda tinha salvo no meu celular.

Com o passar dos dias e o presente entregue, duas coisas martelavam na minha cabeça como se ela estivesse prestes à explodir.

Jimin havia gostado do presente? 

Eu estava pronto pra prova, no dia seguinte?

Inquieto, mas tentando me forçar a dormir, deixei meu corpo relaxar por sobre meu colchão macio e encarei o teto até que o sono me consumisse, mas não antes de ter meus últimos pensamentos barulhentos sobre o meu futuro.

Seul...

Talvez eu pudesse me acostumar com isso.



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