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História Os dias eram assim - Feliz Natal, Tomito


Escrita por: ladyjack

Notas do Autor


Olá galera! Tudo bem com vocês? Espero que sim.
Estou aqui para postar mais um capítulo. Espero que gostem.
Obs: fiz um grupo no whatsapp da fic, caso queira participar é só ir nas notas finais e clicar no link.
Sem mais enrolações.
Boa leitura!

Capítulo 39 - Feliz Natal, Tomito


Vrigne-aux-Bois ¹, dezembro de 1940

 

Itachi se sentia enregelado naquele momento. O vento frio misturado a garoa fina, que vinha caindo durante todo aquele dia, o deixou molhado. Mesmo vestindo um tecido grosseiro, que impedia a absorção da água. Sentia-se desanimado, não vendo a hora de encontrar algum abrigo, algum lugar que estivesse minimamente seco para poder descansar.

Tomito andava ao seu lado, quieta, absorta em seus próprios pensamentos. Era visível o frio que sentia, mesmo estando usando o casaco que tinha a emprestado. Provavelmente, suas roupas deveriam estar tão molhadas quanto as dele, ou até mais. E isso era um perigo para a saúde. Se continuassem molhados como estavam por mais algum tempo, iriam acabar ficando doentes. O ideal seria trocar de roupa, mas sabia que era impossível, e, pelo menos deveriam secá-las. Estava até mesmo disposto a acender alguma fogueira para realizar tal coisa, mas somente se o ambiente fosse propício. Não iria arriscar.

Suspirou em desânimo, olhando a sua volta, vendo apenas densas árvores subirem altas em direção ao céu, logo acima de si, formando um túnel natural, envolta daquela estrada. Tinham a encontrado mais ou menos duas horas atrás, e seguiam nela desde então. Depois disso, começou a ficar frequente a visualização de placas de direção, indicando que estavam se aproximando de algum vilarejo. A última placa que viu, indicava o nome Vrigne-aux-Bois e faltava apenas dez quilômetros para chegarem ao destino. Agora, já passado uma hora de caminhada, sabia que estavam bem próximos e não demoraria muito para começarem a visualizar as construções.

O mais certo a se fazer naquela situação, era pegar um desvio. Passar longe da civilização era o mais sensato. Até porque, não sabiam se aquele lugar ainda estava sobre a jurisdição francesa ou teria caído em mãos nazistas. Não seria nenhum pouco agradável encontrar um bando de soldados alemães prontos para usá-lo como alvo, apenas por diversão. Mas, aquela estrada estava estranhamente deserta, não tendo encontrado uma alma viva sequer. Viu, a uns dois quilômetros atrás, algumas árvores caídas e queimadas, indicando que tinha acontecido um incêndio naquele lugar, e não deveria ter ocorrido há muito tempo atrás, pois, o cheiro de fumaça ainda pairava densa no ar. Mesmo assim, o silêncio era surreal. Escutava, apenas, o soprar do vento de tempos em tempos. Isso era muito estranho. Sempre que estavam próximos de alguma cidade, por menor que fosse, a alguns quilômetros de distância, já era possível ver o movimento, a agitação e o barulho de pessoas indo e vindo.

Sentia-se desconfortável. Algo o incomodava profundamente e não conseguia identificar o que era. Apenas sabia que todo aquele silêncio não era algo normal, e isso o preocupava.

Olhou novamente para Tomito, que parecia não ter notado a mesma coisa. E, se sim, não demonstrava. Pensou por alguns instantes no que deveria fazer. Sabia que o melhor seria adentrar a mata e seguir por ela, deixando aquela comunidade para trás. Mas, também sabia que se fizesse isso, provavelmente, não iria conseguir encontrar um abrigo antes que a noite caísse.

Alguns passos mais a frente, viu outra placa de indicação, caída. Teve que se aproximar para conseguir lê-la. O vilarejo se encontrava a dois quilômetros dali.

Parou de andar, olhando atentamente no caminho mais a frente, tentando ver algo mais além da vegetação. Mas, os troncos e galhos impediam que visse mais à frente. Com certeza, o vilarejo deveria estar localizado logo atrás daquelas árvores, sendo ocultado.

 

-Tive uma ideia. – Disse por fim, chamando a atenção da morena, que o olhou atentamente. – Vamos aproximar do vilarejo pela mata, para ter certeza se é seguro, antes de decidirmos se vamos ou não entrar nele.

 

-Você acha que tem algo de errado? – Ela o questionou curiosa.

 

-Bem, não custa nada ter um pouco mais de cautela. Estamos adentrando cada vez mais nas regiões que foram mais afetadas pelas batalhas. Não ficarei surpreso se quando chegarmos lá não exista mais esse vilarejo. Ou sendo dominado por alemães. Sei que para você isso não deve fazer muita diferença, mas não acho que seja seguro encontrar qualquer pessoa. Tantos alemães, como franceses. Por isso, penso que seja melhor contornarmos.

 

-Eu sei que é perigoso. Na verdade, não me sinto nada bem ao saber que pode ter soldados mais à frente. Porque, independente do exército que pertençam, isso não vai ser uma boa coisa para nenhum de nós dois.

 

-Porquê? – Indagou curioso pela resposta, apesar de saber do que se tratava.

 

-Porque se forem franceses, as coisas não vão ficar muito boas para mim, já que sou alemã. E, querendo ou não, nos dias de hoje alguém como eu, não é visto com bons olhos. E, se forem alemães.... Bem. Eu não sei o que vocês fazem com os seus desertores, mas os nazistas não veem com bons olhos tais pessoas e, posso te garantir, eles não são nem um pouco compreensíveis com relação a isso. Se pudesse escolher, acho que prefiro os franceses do que ir para na mão deles.

 

-Mas, você não desertou. Eu te sequestrei. Você veio comigo obrigada.

 

-Até certo ponto isso é verdade, mas, diga com sinceridade. Você acha que eu realmente pareço uma prisioneira? Que não vê a hora de encontrar uma chance de escapar? – Falou entrando na sua frente, olhando dentro de seus olhos com intensidade.

 

Era uma ótima pergunta. É claro que ela não parecia uma prisioneira. Até porque, ela não era. E, era mais do visível que estava ali por vontade própria.

 

-Você tem razão. – Disse por fim.

 

-Eu sei disso. E, é por esse motivo que escolho ir pelo mato. – Terminou de falar lhe dando as costas, saindo da estrada, se embrenhando no meio da vegetação.

 

Deixou escapar um leve sorriso diante de tal atitude. Tomito era sempre muito racional, logística, sempre fazendo as escolhas mais sensatas. Não importava se era o caminho mais difícil ou não, sempre fazia a escolha mais sábia.

Olhou em ambas as direções da estrada, a procura de algum observador, mas não viu nada, apenas as folhas a voarem com o vento. Não demorando muito para segui-la.

Não tardou em ficar ao seu lado. Andaram por mais alguns minutos em total silêncio, apreensivos, a procura de qualquer coisa diferente.

Percebeu que quanto mais andavam, mais forte o cheiro de queimado ficava. Olhou para cima, a procura da fumaça, não demorando muito para ver surgir no seu campo de visão uma pequena nuvem cinzenta, a subir lentamente rumo ao céu. Parecia estar vindo diretamente da vila.

Tinha uma vaga ideia do que poderia ser, mas não querendo tomar conclusões precipitadas, limitou-se apenas em seguir em frente, sem nada falar. Pretendia descobrir o que tinha acontecido naquele lugar.

Tomito parecia compartilhar da mesma opinião, também curiosa para descobrir o que estava acontecendo, disposta a seguir até aquele lugar, mesmo sabendo que poderia ser perigoso.

Ela tinha mudado bastante desde aquele incidente. Agora, estava mais dotada de coragem. Não que antes ela não fosse corajosa, mas agora parecia estar mais disposta. Imaginou que com o acidente, ela iria ficar retraída, com medo. Mas, se enganou, porque foi o total oposto. Parecia que estava mais incentivada a encarar os problemas de frente, sem recuar. Além disso, depois que a salvou, a relação entre eles mudou drasticamente. Agora agiam praticamente como velhos amigos, conversando sobre tudo e qualquer coisa. Ela contava coisas referente a seu país, sua cultura, sobre sua família, e ele fazia o mesmo, apesar de sempre ter muito cuidado quando se tratava de falar da sua família. Pois, não queria que ela soubesse o que ele fazia para sobreviver. Não achava que ela iria lidar muito bem com tal informação. Tomito era muito correta para ver tal coisa com bons olhos. Com certeza o julgaria e as coisas iriam ficar muito estranhas. Talvez, ela pudesse querer até mesmo ir embora, se separar. E, não a julgaria por isso. Estaria no seu direito, tendo razão em querer se afastar de alguém como ele. E, era por esse motivo que omitia tais fatos, para evitar que algo assim acontecesse. Gostava muito de sua companhia. Admitia que tinha muita sorte em ter a encontrado e sua amizade tinha se tornado muito importante. E, isso fazia que, bem no fundo da sua consciência, soubesse que tinha medo de perdê-la.

Passados alguns minutos, viu pela primeira vez mais a frente, alguns telhados projetando na paisagem. Diminuiu o passo, começando a andar cautelosamente, tentando omitir o som que seus pés produziam ao pisar naquelas folhas mortas. Tomito o imitou, andando vagarosamente, o olhando com indagação, na procura de orientação. Quando estavam aproximadamente a uns dez metros de distância, a lateral de uma casa ficou completamente visível a sua frente, com as paredes de tijolos manchadas pela umidade da chuva. Havia uma janela entreaberta, a balançar lentamente, conforme o ritmo do vento.

Parou de andar, levantando levemente a mão, sinalizando para Tomito também parar. Ela o fez, o olhando desconfiada, no qual apenas apontou em direção a janela, logo em seguida a olhando, falou sussurrando:

 

-Vou até lá. Ver se encontro alguma coisa. Fique aqui e espere por mim. Se escutar ou ver qualquer coisa suspeita, se esconda.

 

-E você?

 

-Não se preocupe comigo. Preciso saber o que está acontecendo, por isso, faça o que eu disse.

 

Ela lhe lançou um olhar sério, indicando que o que ouviu não a agradou. Sempre fazia aquela mesma expressão quando ele dizia algo que não gostava. Principalmente, quando era algum comando, sempre o cortando e falando que ele não era seu pai para lhe dar ordens. E, não conseguia tirar sua razão. Não tinha nenhum direito de fazer alguma imposição. Mas, o modo que falava era apenas costume.

 

-É só um pedido. – Disse por fim, tentando contornar a situação.

 

 

Suspirou frustrado. Estava perdendo um tempo precioso ali, mas não podia deixar as coisas como estavam, por isso, voltou a falar:

 

-Me desculpe. Não foi minha intensão, não queria...

 

-Tudo bem. – Falou rapidamente, o cortando. – Vocês homens nunca tem a intensão. – Concluiu em um tom sarcástico.

 

-Não, você entendeu errado. Essa não foi minha intensão, é sério. Vamos fazer o seguinte: vou lá ver o que está acontecendo e quando voltar, vamos conversar direito sobre isso. E, vou esclarecer tudo.

 

-Tudo bem. – Falou encostando em um tronco, cruzando os braços a frente do peito, o olhando em expectativa.

 

Mulheres em geral costumavam ser complicadas, mas Tomito estava um nível acima. Mas, isso não era algo que o preocupava, muito pelo contrário. Admitia que lidar com sua personalidade era um desafio, no qual ele gostava.

Balançou a cabeça, tentando limpar a cabeça e deixar tais pensamentos para mais tarde. No momento, tinha que focar no que pretendia fazer.

Deu as costas, sabendo que deveria estar sendo fuzilado pelo seu olhar. Tentou parar de pensar, apenas se dedicando a andar. Alguns passos mais a frente, chegou a margem da mata, tendo a casa a apenas um braço de distância. Olhou para os lados, não vendo nada. Percorreu os últimos centímetros, se encostando na parede. Como tinha imaginado, ela estava úmida ao toque. Arrastou-se com cautela para o lado, nunca se afastando da parede, até ficar rente a janela. Cautelosamente, esticou sua mão, tocando na estrutura de madeira que abria para o exterior, a puxando. Ela emitiu um leve som, semelhante a um suspiro. Levantou a arma a frente do rosto, com o dedo no gatilho, pronto para atirar se fosse preciso. Olhou sobre o umbral, vendo um cômodo escuro, que parecia estar vazio. Colou-se de frente, conseguindo reparar que se tratava de um quarto mobiliado com uma cama de casal, um pequeno guarda-roupa mais ao canto e uma estante com um espelho, na outra extremidade. Percebeu que tinha algumas folhas no chão, indicando um possível abandono. Resolveu entrar, a pulando com facilidade, já que era bem larga e de parapeito baixo. 

Já dentro do quarto, sentiu um cheiro diferente, mas que não incomodava, assim, deixando de lado. O chão era de madeira, produzindo um ranger seco a cada passo que dava. O barulho o deixava agoniado, pois, lhe dava a impressão de que aquele som estava sendo ouvido a quilômetros de distância. A porta que dava acesso ao corredor estava aberta. Não demorou muito para atravessá-la, dando para um pequeno corredor mal iluminado e vazio. O cheiro ficou mais forte, de algo estragado. Seguiu na única direção que tinha, vendo mais ao longe uma pequena luminosidade.

Não demorou muito para chegar ao próximo cômodo, que se tratava de uma sala pequena, mas bastante aconchegante, mobilidade com dois sofás, uma mesa de centro e alguns aparadores. A luz era natural, provinda da janela aberta. O cheiro agora era muito forte, quase insuportável, definitivamente, alguma coisa estava apodrecendo dentro daquela casa.

Andava com cuidado, prestando atenção a qualquer barulho, mas nada ouviu. Era como se estivesse dentro de um túmulo escuro, úmido, frio e sem vida. Reparou em uma pequena mancha escura de um tom avermelhado, na parede mais à frente, do lado de um portal que dava para outro cômodo. Aproximou-se, passando o dedo e o levando até o nariz, sentindo um cheiro de ferro. Não tinha dúvidas que era uma mancha de sangue. Alguma coisa ruim tinha acontecido naquela casa. Apesar de tudo estar em perfeita ordem, como se os donos tivessem apenas saído para dar um passeio pela vila, para fazer alguma compra ou ir à igreja, mas logo voltariam. Mas, aquela mancha de sangue era a única coisa que dizia o contrário. Estava com medo do que poderia encontrar, mas, tinha que seguir em frente, já que a saída ficava apenas na outra sala.

Atravessou o batente da porta, deparando com um ambiente claro de uma cozinha, com todos os utensílios domésticos, ao mesmo tempo que o cheiro era tão intenso que fez seus olhos arderem. Cobriu rapidamente o nariz, dando alguns passos para trás, enojado. Então era dali que aquele odor vinha. Torcia que fosse apenas uma carne que tinha sido esquecida na mesa e estava estragada.

Voltou a entrar, vendo cacos de vidros espalhados pelo chão, com duas cadeiras caídas. Aproximou-se, vendo uma poça de sangue no carpete. A contornou, vendo dois corpos caídos. Um deles, pertencia a uma mulher de meia-idade, e o outro, era uma menina que não deveria ter mais do que doze anos. A menor estava por baixo, indicando que aquela mulher deveria ter tentado proteger a filha, mas não teve muito sucesso. Pelo cheiro e a avançada decomposição dos cadáveres, que estavam inchados e de cor esverdeada, deveriam ter morrido a mais ou menos uns cinco dias.

Agradeceu em pensamentos por Tomito não ter o seguido, pois, não queria que ela visse tal coisa.

Suspirou em tristeza, sabendo que deveria fazer alguma coisa. Não podia simplesmente deixá-las ali, apodrecendo ao ar livre. Deveria encontrar alguma pá para poder enterrá-las, mas, antes disso, ia averiguar o perímetro a sua volta, para saber se tinha alguém. Afastou-se vagarosamente daquela cena de massacre, saindo pela porta da frente, que estava aberta, com o vento arrastando folhas para dentro do recinto, juntamente com as gotas de chuva. Chegou em um pequeno jardim malcuidado. Estava com sua atenção redobrada, com seus sentidos em alerta. Seguiu em frente, olhando a sua volta nos mínimos detalhes. Apenas dez passos foram o suficiente para chegar ao pequeno portão de ferro, que dava para a rua. O calçamento estava destruído e cheio de poças de água e lama, parecendo que uma grande excursão de pessoas, veículos e animais tinha passado por ali. A rua, em ambos os lados, tinha diversas edificações que seguiam em ambas as direções. De um lado, seguia reta até sumir de vista. Do outro lado, apenas a dez metros mais a frente, terminava abruptamente em uma casa, com uma curva suave, que deveria dar acesso à rua de baixo. Seguiu naquela direção, à procura de um edifício mais alto, para que pudesse ter uma melhor visão de todo o vilarejo.

Conforme andava, percebeu que as casas a sua volta estavam intactas, como se nada tivesse acontecido, mas sabia muito bem que se aventurasse a entrar em algumas delas, as chances de encontrar mais pessoas mortas eram grandes. O silêncio o perturbava, já que as únicas companhias que possuía eram o barulho suave do tilintar da chuva no teto das casas e no chão, e do vento a uivar.

Como imaginou, chegou do outro lado, em uma rua larga, mas que estava tão vazia quanto a outra. O calçamento estava do mesmo jeito, todo destruído. Mas, agora era possível ver alguns detalhes que indicavam o que tinha acontecido. Viu alguns buracos nas paredes, de munições que a perfuraram, além de algumas casas que estavam parcialmente destruídas, com suas paredes ou tetos caídos, espalhados a sua volta. Indicando que tinha acontecido um tiroteio e, provavelmente, alguns canhões deveriam ter passado por ali. Aquele vilarejo tinha sido massacrado, destruído pelo exército alemão. Duvidava que os aldeões que estivessem por ali, quando o exército chegou, sobreviveram.

Andou por alguns metros, tentando se ocultar na sombra dos prédios. Agora estava com sua atenção redobrada. Não demorou muito para ver, se destacando mais à frente, a torre de uma igreja. Encolheu-se o máximo que conseguia em um canto. Sabia muito bem que se tivesse um atirador vigiando dentro daquela torre e se o visse, seria capaz de matá-lo. De qualquer forma, sabia que era para lá que deveria seguir. Em uma pequena cidadezinha como essa, não teria outro lugar com visão mais ampla do que aquele, além de estar no centro, permitindo que tivesse uma boa visão de todas as direções. Tinha que pensar com bastante cautela, não podia simplesmente seguir pela rua, pois, seria um alvo fácil. Se conseguisse contornar, entrando nas casas, poderia ser uma boa opção, apesar de ser muito mais trabalhoso e maior demanda de tempo. Além de que, sem querer, poderia encontrar com soldados que montavam acampamento. Mesmo assim, era melhor que ser surpreendido por um tiro de fuzil disparado de vários metros de distância, que mesmo se conseguisse desviar, era impossível revidar. Viu na sua frente a faixada de uma pequena loja de roupas. Sabia muito bem que aquele estabelecimento deveria ter uma porta dos fundos, no depósito. Todas as lojas tinham e aquela não seria diferente. Se esse fosse o caso, iria chegar na rua de baixo, que era mais protegida, sendo mais difícil de ser visto.

Respirando fundo, correu naquela direção, tendo sorte pela porta da entrada estar destrancada, adentrando no ambiente. Não deu muita atenção no que tinha a sua volta, sabia que eram balcões e tecidos, peças de roupas. Mas, isso não importava.

Atravessou rapidamente, chegando a porta dos fundos, adentrando na sala onde ficava o estoque. Como tinha suposto, havia outra porta. Mas, para seu azar, estava trancada. Sabia que se tentasse, poderia arrombá-la, mas temia que o barulho pudesse chamar a atenção. Voltou para a frente, abrindo as gavetas a procura de alguma chave. Na terceira, teve sorte de encontrar um molho de chaves. Agora teria apenas que testar uma por uma até descobrir qual abria. Voltou para os fundos, indo até à porta, colocando uma chave de cada vez. O tempo passava e não conseguia abrir. Estava começando a ficar nervoso, até, finalmente, ouvir soar o barulho da tranca se abrindo. A sorte ainda não tinha o abandonado. A atravessou com cautela, dando em uma pequena viela com muros altos. Correu para a rua mais a frente, tendo a mesma visão de antes de destruição. Agora era possível ver fumaça subindo densa para o céu, do que antes era uma enorme casa de madeira. Aquela fumaça era apenas o resquício do que antes deveria ser um grande incêndio. Seguiu em frente, tentando manter na mente a direção que a igreja estava.

Devia ter demorado uns trinta minutos de vai e vem, fazendo contornos, entrando em vielas estreitas, tudo para não ser visto por um provável atirador. Finalmente, tinha se aproximado da igreja, que era simples, tendo apenas uma torre central com um sino. Nem era alta, deveria ter a altura de um prédio de cinco andares. Mas, se já estava ali, iria até o final.

Seguiu para uma porta dos fundos, tendo o silêncio e a solidão como suas únicas companheiras. Começava a achar que estava fazendo um papel de idiota, porque tudo indicava que aquele lugar estava desocupado. Não deveria ter uma alma viva sequer naquele vilarejo. Mesmo assim, não podia arriscar. Torcia para que Tomito estivesse bem, estava demorando demais e ainda tinha a questão dos cadáveres da mulher e da criança, que deveria dar um jeito, antes de, finalmente, poder voltar para ela e contar o que tinha visto.

Entrou com facilidade na igreja, já que a porta era de madeira, sendo muito fácil de arrombar, sem produzir muito som. Entrou em uma salinha com pequenas mesas, devendo se tratar da sacristia. Seguiu em frente, chegando em duas portas, uma que dava para o altar e outra que seguia para uma escada. Foi nessa direção, subindo a escada de madeira o mais calmamente possível, para não produzir sons. Era estreita e bastante inclinada, tendo que segurar no corrimão para conseguir subir. Alguns vãos acima, a luz surgiu, indicando que deveria ter chegado no topo da torre, onde ficava o campanário e o sino. Segurou o rifle com firmeza a frente do corpo, atravessando a entrada, vendo que o lugar estava completamente vazio.

 Era um lugar pequeno que abrigava apenas um sino grande, que estava preso logo acima de sua cabeça, e mais à frente, a pequena abertura que tinha visto da rua. Aproximou-se da mesma. Chegando na beirada, foi atingido por uma forte rajada de vento que jogou seus cabelos para trás. Viu toda a cidade se estender a sua volta. Era bem pequena, não deveria ter abrigado mais do que mil habitantes. Não importava em que direção olhasse, não via ninguém, apenas as casas a emergirem negras do chão, como mausoléus. Viu, pela primeira vez, que do outro lado do vilarejo, do lado oposto do que tinha vindo, tudo estava destruído. Não tinha um edifício em pé e as únicas que sobraram eram esqueletos fumegantes. Agora sabia de onde toda aquela fumaça que tinha visto mais cedo vinha. Por onde o exército passou não deixou nada em pé, simplesmente, passaram por cima sem se importar. Percebeu que o sentindo que a tropa tinha seguido, era o mesmo que ele pretendia seguir. O pior era que a partir dali, conforme fossem seguindo em frente, as coisas que iriam encontrar pelo caminho ficariam piores.

Percebeu que o sol estava baixo, quase se pondo e tudo indicava que a chuva não iria parar tão cedo. Resolveu encontrar um abrigo apropriado, para passarem a noite. Sabia que deveria ter alguma casa que estivesse em uma posição ideal, boa o suficiente para abrigá-los. Resolveu voltar para a rua.

Antes de descer, olhou um pouco mais atentamente, vendo algumas casas mais ao norte que estavam um pouco danificadas. Decidiu ir naquela direção, agora estava mais despreocupado, podendo andar mais rápido. Sabia que ainda podia ter alguém se escondendo, algum sobrevivente, algum viajante, até mesmo um desertor como ele. Por esse motivo, ainda não tinha soltado a arma.

Não demorou muito para encontrar uma casa que seria um lugar ideal para passar a noite. A parede que dava para a rua tinha caído e os escombros que amontoavam ao lado eram fáceis de escalar, para conseguir chegar, no que antes foi uma sala de estar, que ficava no segundo andar. Ali seria perfeito, pois, teria uma visão ampla e saberia se alguém se aproximasse.

Fez o caminho de volta o mais rápido possível, agora a procura de qualquer coisa que pudesse o ajudar a enterrar aquelas duas. Esse, com certeza, foi seu trabalho mais difícil. Não ficou um trabalho bem feito, mas conseguiu pelo menor dar um pouco de descanso a elas, ao enterrá-las no jardim de sua casa. Quando terminou, a lua subia cheia e brilhante no céu e o sol se escondido atrás das casas, deixando uma penumbra. Tinha que voltar onde estava Tomito. Já tinha demorado muito e ela deveria estar preocupada.

Dessa vez contornou a casa, entrando na mata.

 Acabou a encontrando no mesmo lugar, sentada no chão, a revolver a terra com os dedos da mão. Ao perceber sua presença o olhou. Sua expressão não era muito agradável. Estava séria e entendia o porquê.

 

-Desculpe. É que tive que andar por toda a vila para ver se encontrava alguém. E, isso acabou demandando um pouco de tempo. Aconteceu alguma coisa?

 

-Eu não estaria aqui se tivesse. – Disse um pouco ríspida.

 

-Sinto muito. É que...

 

-Tudo bem, eu entendo. – Falou o cortando, ao mesmo tempo que se levantava, limpando a sujeira da roupa. – Encontrou alguma coisa de interessante?

 

-Sim e não.

 

Tomito arqueou a sobrancelha em indagação, pedindo com o olhar que continuasse, no qual ele não demorou a fazer.

 

-Encontrei um ótimo abrigo para que possamos passar a noite. Por outro lado, não encontrei ninguém. A vila está totalmente deserta.

 

-O que aconteceu?

 

-Sabe a fumaça que estávamos vendo?

 

 -Sei 

 

-Era de dezenas de casas que foram queimadas. O local foi invadido e destruíram praticamente tudo o que encontraram pela frente. Estamos do lado que foi menos atingido, mas no sentido leste, não ficou nada em pé.

 

-Isso é horrível.

 

 -Sim.

-Tem certeza que não tem mais ninguém?

 

-Não posso garantir com toda a certeza, mas não vi ninguém.

 

-Então, vamos para esse lugar, porque já está ficando escuro. - Disse parecendo chateada.

 

Itachi não tinha se esquecido de que prometera conversar com ela quando voltasse, assim voltando a falar:

 

-Eu sei que você está magoada porque queria ter ido comigo, mas era perigoso e não podia arriscar.

 

-Eu entendo. É que fico preocupada, sem saber o que está acontecendo. Me sinto uma inútil por não poder fazer nada para ajudar.

 

-Isso não é verdade, você tem me ajudado muito. Se não fosse por você, nem consigo imaginar o que já poderia ter me acontecido.

 

-Só está falando isso para me agradar.

 

-Mas, é verdade, você nem faz ideia do quanto tem me ajudado.

 

Tudo o que falava era verdade. Só de ter sua companhia era mais que o suficiente para mantê-lo seguindo em frente. Não sabia o porquê, já que se conheciam a pouco tempo, mas sua presença era fundamental. Não conseguia mais imaginar como seria estar sem ela.

Tal pensamento o perturbou, ao perceber que estava começando a ficar muito afeiçoado à morena, e tinha medo do que poderia acontecer caso algo a mais acontecesse.

Resolveu livrar-se rapidamente da ideia, antes que outras bobagens surgissem em sua cabeça. Admitia que ela era muito inteligente, interessante e bonita. Seria um idiota se não percebesse todas essas qualidades. Mas, tinha que parar de pensar nessas coisas, pois, podia até ter um interesse nela, mas isso não significava que seria recíproco. Já tinha se iludido demais com Izumi para repetir a dose.

Remoía tais pensamentos, por enquanto que percorriam o caminho até a casa, para passarem a noite. Tomito se limitou a fazer breves perguntas sobre o que ele tinha visto, do qual, tentava responder da melhor forma possível.

Não demoraram muito para chegar na casa. A contornou, procurando pelo melhor lugar para escalar os escombros, que davam acesso ao segundo andar.

Tomito parou de frente, o olhou por alguns instantes, perguntando:

 

-É aqui que vamos ficar?

 

-Sim, é um ótimo lugar. Vai nos proporcionar abrigo de chuva e fornecer uma visão ampla do perímetro, estando em uma boa localização.

 

-Não podíamos simplesmente entrar pela porta? – Questionou, olhando a sua volta, à procura de algum lugar seguro que pudesse colocar o pé e começar a subir.

 

-Seria bem mais fácil mesmo, mas, infelizmente, não tem outra entrada. A porta foi encoberta com o desmoronamento dessa parede, e era a única entrada.

 

-Tudo bem. – Disse desanimada, começando a subir logo atrás de si.

 

Quando estava próximo da beirada, virou-se, a estendendo a mão, que ela não hesitou em segurar, assim a ajudando.

O cômodo era bem espaçoso, com um piso de madeira, alguns quadros na parede e um sofá totalmente destruído, não tendo chances alguma de poder usá-lo. Sua carcaça era a única coisa que restava. Mais à direita, tinha uma porta fechada.

Achou estranho ter apenas aqueles objetos em um espaço amplo como aquele, mas, deduziu que os moradores deveriam ter vendido os móveis antes de ter ido embora, já que era possível ver manchas de sujeira nas paredes, onde deveriam ter ficado.

Por fim, retirou o rifle do ombro, o encostando na parede, juntamente com a mochila, permitindo-se relaxar um pouco. Apesar de estar acostumado com o peso extra, quando o segurava por muito tempo, seu ombro começava a doer, começando a ficar na carne viva, onde a correia ficava, devido a intensa fricção. Sabia que o ideal seria passar uma pomada cicatrizante, mas sabia que isso era pedir demais em um lugar como aquele. É claro, que se fosse mais para o centro, iria encontrar algum boticário que pudesse ter algo, mas não estava muito disposto a sair naquele momento, principalmente, por já estar escuro.

Ponderou se deveria sair procurando pela casa, mas logo refutou tal ideia. Sabia que seria apenas perda de tempo.

Soltou o ar, cansado, sentando encostado na parede lateral, ao lado da arma, perto da abertura. Tomito estava quieta, o que era bem estranho. A olhou, vendo que estava prestando bastante atenção em todos os cantos do lugar, parecendo estar à procura de algo.

 

-Algum problema? – Questionou curioso, olhando suas costas.

 

Ela apenas se limitou a balançar a cabeça em negativa, sem dizer uma palavra.

Suspirou em desânimo. Sabia muito bem o que estava acontecendo. Estava chateada com ele, porque tinha a deixado para trás. Sabia que ela odiava quando fazia isso. Uma vez, até mesmo disse que ele era um machista, por achar que, por ela ser mulher, seria fraca e alvo fácil. Por várias vezes tentou argumentar, explicar que o único problema era que só tinham uma arma para se defender. Na hora parecia compreender, mas era só o assunto surgir novamente que tudo desandava, com ela ficando irritada e ele tentando amenizar a situação. De qualquer forma, tinha prometido que iria conversar sobre o assunto quando voltasse, percebendo que aquele era o momento ideal para começar a falar:

 

-Sinto muito, mas eu quero que saiba que, como todas as outras vezes que já falei, não tem nada a ver com você, é apenas por precaução e...

 

-Do que você está falando? – Ela disse se virando de lado, o olhando com intensidade, desentendida.

 

Estranhou a pergunta, a respondendo confuso:

 

-Prometi a você que iríamos conversar sobre a nossa discussão de mais cedo.

 

-Ah, isso? Não se preocupe, já tinha até me esquecido. De qualquer forma, eu entendo, não precisa se preocupar. – Falou tranquilamente, esboçando um leve sorriso.

 

Ficou surpreso com a resposta, não compreendendo muito bem o que estava acontecendo.

 

-Mas, você pareceu ter ficado muito chateada.

 

-Não, não foi com o que você disse, foi por causa de outra coisa. Não precisa se preocupar. – Disse balançando levemente a mãos para os lados para que ele esquecesse, logo em seguida se virando de costas.

 

-Tem certeza?

 

-Sim.

 

-E, posso saber o que você estava pensando naquele momento?

 

-Nada de mais. Era apenas algumas coisas que estavam passando por minha cabeça, mas nada de importante. Já até esqueci. – Falava tranquilamente, de costas para ele, olhando sabe-se lá para o que.

 

-Posso saber o que está acontecendo? - Perguntou curioso.

 

-Como assim? – Virou-se novamente para ele, perdida.

 

-O que você está olhando?

 

-Ah! Veja! Está vendo aquele quadro? – Falou apontando para a parede, onde tinha um quadro. – Estava o olhando. É um retrato de família. – Falou se aproximando do objeto, o tirando do lugar, voltando para perto dele, o mostrando. – Não é bonito? Ele me fez pensar em como eram as pessoas que viviam aqui. Como deveria ser seu cotidiano, seu relacionamento, o que faziam nesse cômodo quando se reunião durante a noite. Provavelmente, depois do jantar, deveriam se reunir nessa sala para contar histórias, ler algum livro. Essas coisas. – Falava pensativa, como se estivesse imaginando as cenas, o olhando sorridente.

 

Arqueou a sobrancelha a admirando por alguns instantes, depois, deu uma leve olhada no retrato, que para ele não queria dizer nada. Era apenas uma foto preta e branca, de uma família de cinco pessoas. Um homem e uma mulher, e mais três crianças. Sendo um menino e uma menina, que deveriam ter dez e sete anos, respectivamente, e um bebê de colo, que nem se quer conseguia distinguir qual era o sexo. Estavam sentados em um sofá, sérios a olhar para a frente.

 

-Você consegue ver tudo isso somente olhando para essa imagem? – Questionou curioso, ao mesmo tempo que estava impressionado com as habilidades imaginativas da garota.

 

-Bem, na verdade, só estou supondo. É claro que pode ser totalmente diferente do que pensei. Mas, não custa nada imaginar um pouco. – Deu de ombros, sorrindo minimamente, se levantando. – Mas isso não importa. Só espero que tenham conseguido fugir antes de tudo isso acontecer. – Terminou de falar se afastando, devolvendo o quadro no seu lugar, na parede. – Só espero que todos estejam bem.

 

-Sim. – Limitou-se a falar, a admirando por estar pensando no bem-estar de outros, em vista que sua própria situação não era das melhores.

 

Como já tinha concluído, Tomito era realmente única. Única ao ponto de talvez nunca mais conseguir encontrar alguém como ela. Mas, ele iria querer sair a procura de outra pessoa? É claro que não. Se sentia muito satisfeito em tê-la.

 

Sorriu em escárnio, soltando vagarosamente o ar pelo nariz, quase rindo com o pensamento. Tê-la! Como se tivesse qualquer tipo de direito, controle ou autoridade sobre ela. O máximo que conseguia era pedir, de forma bem-educada, para que o seguisse, e ainda era bem difícil. Do resto, ela fazia o que bem entendia. Além do mais, não tinham nada, para ficar pensando isso. E, pelo jeito que as coisas estavam seguindo, nunca iriam ter. Não é que ele desejasse isso com todo o afinco, mas se acontecesse, também não iria recusar. Pelo contrário.

Achava que ela tinha muitos muito. Ela era muito bonita, muito inteligente, muito esperta, muito cabeça dura. Muito encrenqueira, muito tudo.

Tinha que tirar tais ideias da cabeça, pois, qualquer coisa que pudesse surgir entre eles estava fora de cogitação. Não era porque fosse algo impossível, mas seria o melhor para ambos. Não queria se envolver muito porque caso isso acontecesse, algo de ruim poderia acontecer. Porque, já tinha aprendido que naquele mundo quando algo de bom acontecia, dezenas de coisas ruins aconteciam logo em seguida.

Suspirou alto em desânimo, acabando por chamar sua atenção, que o olhou com curiosidade.

 

-Aconteceu alguma coisa? – Tomito perguntou se aproximando.

 

-Não, está tudo bem. Só estou cansado, meu ombro está doendo.

 

-Você quer que eu olhe? – Falou abaixando a seu lado, depositando a mão em seu ombro, o olhando em expectativa.

 

Ela estava próxima demais para o seu gosto e aquelas roupas molhadas que revelavam mais do que devia, não ajudavam muito.

 

-É só você tirar o casaco e a camisa para que eu possa olhar. – Continuou a falar tranquilamente, o olhando com ingenuidade.

 

Aquele olhar o matou por dentro. Como conseguia ficar tão bonita daquele jeito? Se amaldiçoou mais uma vez por tais pensamentos, grunhindo com ódio de si mesmo, por ser tão fraco. Sasuke tinha toda a razão. Ele era um maldito tarado que ficava todo assanhado só por ver um rabo de saia. Mesmo que o rabo de saia em questão se tratasse de uma garota oito anos mais nova, muito mais íntegra, direita e ingênua. E, para coroar com chave de ouro, uma alemã que ele deveria ver como uma inimiga.

Não prestava mesmo.

Tinha que encontrar uma igreja o mais rápido possível para confessar seus pecados e procurar uma ajuda espiritual, porque estava precisando e muito.

Suspirou novamente em frustração, irritado consigo mesmo. A olhou de soslaio, vendo que estava no mesmo lugar, o encarando analítica, tentando entender o que estava acontecendo.

 

-É só tirar a blusa. – Falou novamente, direcionando as mãos para o botão de seu casaco, para abri-lo.

 

-Não! – Falou quase em um grito, se afastando de lado, assustado.

 

Tomito se sobressaltou, se afastando, o olhando intrigada.

 

-Qual o problema? Sou enfermeira, posso cuidar disso. – Disse perdida. – Só quero olhar o machucado, limpá-lo, nada demais.

 

Ah! E agora ela fez questão de o lembrar de mais um detalhe de sua vida, que ela era uma enfermeira. Ótimo! Essas malditas enfermeiras que povoavam seu pensamento. Com certeza ele tinha muitos problemas. Era um safado de primeira categoria. Se ela soubesse quais eram seus pensamentos, não ficaria menos de dois metros de distância dele. Tomito não entendia que não era porque ele estava com medo dela fazer algo, pelo contrário. Estava com medo dele fazer alguma coisa.

 

-Está tudo bem. Não se preocupe. – Falou mais calmo, tentando tranquilizá-la. – Não é nada demais, só está um pouco dolorido. Nada que uma noite de descanso não resolva. Assim, como você também precisa descansar, seu braço ainda não deve ter melhorado cem por cento. – Disse se referindo ao braço, no qual ela tinha machucado quando ficou presa nas pedras.

 

-Meu braço? Não precisa se preocupar, já está praticamente curado. – Falava por enquanto que o mexia na frente do rosto, deixando à mostra a bandagem que o enfaixava. – Não estou sentindo mais nada. –Completou sorridente. - Mas, me parece que você não vai me deixar olhar, então vou dar uma volta pela casa, ver se acho alguma coisa. – Disse se levantando, retirando a sujeira de sua roupa.

 

-O que? Não, não é seguro. É melhor que fique aqui. – Falou sobressaltado, tentando se levantar, mas ela foi mais rápida, esticando o braço para que ele parasse.

 

-Não precisa se preocupar, não vai ter nada lá dentro. Como você mesmo disse, a única entrada da casa está bloqueada, então não tem com o que se preocupar. Na verdade, acho que deveríamos ir para outro cômodo, um todo fechado, seria mais seguro.

 

-Sim, mas iria comprometer o meu alcance visual. Prefiro ficar aqui.

 

-Tudo bem, você é quem sabe. Mas, vou dar uma olhada e já volto.

 

-Cuidado.

 

-Eu sei, não se preocupe. Qualquer coisa é só gritar. – Disse sorrindo, fazendo com que ele também sorrisse.

 

Tomito lhe deu as costas indo até a porta, a atravessando, sumido de sua vista. Sentiu de imediato seu coração ficar apertado, angustiado, com medo que algo lhe acontecesse. Só iria voltar a se sentir bem quando ela voltasse, e a visse inteira, sem nenhum arranhão. Seria bem melhor se a acompanhasse, ficaria muito mais tranquilo, mas ela podia ter feito isso apenas para ficar um pouco sozinha. E, não podia ficar vinte e quatro horas por dia ao seu lado, ela precisava de um pouco de espaço. Estava pensando como um idiota. Tomito não iria longe, estaria ali a apenas alguns metros de distância, com apenas uma parede a separá-los. Não iria acontecer nada e, caso acontecesse, estaria lá em menos de um minuto.

Ajeitou-se em um canto, se abraçando, para amenizar o frio que sentia com o vento que o atingia. O ar que saia de seus pulmões condensava imediatamente, quando entrava em contato com o ar frio do ambiente, formando uma fumaça branca. Olhou para fora, vendo o brilho prateado da lua redonda e enorme, bem à sua frente. Ela estava linda, era uma lua cheia digna de admiração. É claro que aquela vista estaria bem melhor se estivesse aconchegado envolta de cobertores, em uma cama bem quentinha. Mas, tal situação iria fazer com que ele dormisse, e a última coisa que queria naquele momento era o de cair no sono. Apesar do cansaço o corroer por dentro, não podia se dar ao luxo.

Suspirou novamente, produzindo maior quantidade de fumaça. Aquela noite prometia ser bem gelada. Não duvidava se começasse a nevar a qualquer momento. Deveria estar fazendo quase zero grau, e por suas roupas estarem úmidas, piorava e muito a sensação. Não sabia como Tomito estava aguentando aquela temperatura com as roupas molhadas e, principalmente, por ter esquecido o casaco ali do seu lado, quando saiu. Sentiu-se tentado a pegá-lo para se esquentar, até porque, já era seu mesmo e não via mal nenhum nisso. Mas, logo refutou a ideia. Ela podia voltar a qualquer momento e, com certeza, iria usá-lo.

 

-Maldito frio. – Resmungou, procurando alguma coisa para esquentá-lo.

 

Sentiu o maço de cigarro bater em seu peito. Viu que seria uma boa opção, apesar de saber que não iria o esquentar em nada, pelo menos o distrairia um pouco. Pegou um cigarro, o acendendo e tragando, deixando a fumaça adentrar em seu corpo. Olhou o maço, vendo que tinha apenas um e seu estoque acabaria. Se desanimou com tal perspectiva, cogitando a ideia de sair a procura de mais. Estava em uma vila, provavelmente, não iria demorar muito para encontrar. Mas, logo ficou desanimado com a ideia de ter que sair andando no meio da noite, com aquele vento gelado. Desanimou de imediato. Não iria sair dali nem a base de pauladas. Se tivesse sorte de encontrar algum no meio do seu caminho, quanto melhor, mas se não, não importaria. Dando de ombros, guardou o maço em seu bolso, dando outra tragada, deixando com que a fumaça produzida pelo cigarro se misturasse a que era produzida por sua própria respiração.

Escutou a porta rangendo. Não olhou na direção, mas ficou atento. Tinha quase certeza que deveria ser Tomito regressando, mesmo assim não podia bobear, esticando levemente a mão na direção do rifle, o segurando. Não demorou para a porta ser escancarada, sem muita delicadeza, escutando logo em seguida um resmungo. Reconheceu o som daquela voz já tão conhecida. Relaxou de imediato, recolhendo a mão para dentro do bolso lateral, dando uma nova tragada no cigarro.

 

-Caramba, que frio. – Falou chamando sua atenção, a olhando.

 

Seus olhos se arregalaram de imediato com o que viu. Nunca tinha imaginado vê-la daquele jeito. Pelo menos não naquele momento.

 

-O que é isso? – Perguntou vacilante, com a voz trêmula, por enquanto que a analisava sem suas costumeiras roupas, que segurava em uma das mãos. Na outra tinha alguns panos parecidos com lençóis. Achou estranho, mas nada falou.

 

Ela estava vestindo um vestido branco rente ao corpo, deixando em evidência todas as curvas de seu corpo. Era curto, acima do joelho e sem mangas. Tinha botões por toda a extensão do tecido, terminando no decote, que era em V, pequeno, mas o suficiente para deixar visualizar o formato de seus seios, que não eram tão grandes, mas fartos. Sua cintura era a que mais se destacava, onde o vestido ficava colado, demonstrando o quão estreita era, devendo ter a largura de sua mão. E, para completar, estava com seus cabelos soltos, que caiam como um veludo negro, ondulante, que chegava a altura de seu quadril.

 

-Ah, isso? – Ela falou distraída, levantando a barra da saia, para ilustrar. – Encontrei no quarto ao lado. E, como minhas roupas estavam encharcadas, achei melhor trocar. Serviu direitinho, você não acha? – Falou por fim, dando um giro para que olhasse melhor.

 

Quase deixou o cigarro que estava em sua boca cair, ao se abrir em choque. Tinha que se recompor, estava quase babando. Limpou a garganta, desviando o olhar.

 

-É. – Limitou-se a falar, balançando a cabeça e voltando a fumar.

 

A última coisa que queria era que ela ficasse desfilando sua beleza por aí, e principalmente, desfilando na sua frente.

 

-Ok. Vou estender minhas roupas aqui, que até amanhã estarão secas. – Ela falou seguindo para o sofá, as colocando encima dele.

 

Voltou a olhá-la de canto de olho, começando a ficar preocupado. A noite só estava começando. Até aquele momento só tinha conseguido se manter minimamente indiferente, devido aquelas roupas que não a valorizavam em nada, por serem largas, estarem sujas, molhadas. Mas, agora com aquele vestido, a coisa ficava bem diferente. Sorriu com o pensamento, desviando o olhar para fora, pensando que iria pagar uma bela de uma penitência naquela noite. Bem, era o que merecia para poder pagar por todos os pecados que tinha cometido ao logo da vida. Iria ficar apenas admirando uma bela mulher que com certeza nunca teria na vida.

 

-Que lindo.

 

A ouviu falando com fascínio, ao mesmo tempo que seus passos ecoaram ao se aproximar da beirada, onde outrora havia uma parede. A olhou, vendo seus olhos brilharem em admiração, por enquanto que fitava a lua prateada, que brilhava intensamente.

 

-Não é lindo? –Ela perguntou animada, o olhando.

 

-É. – Falou por fim, não sabendo se estava se referindo a lua ou do que via a sua frente.

 

Se antes, quase tinha entrado em choque ao vê-la surgir com aquele vestido, agora estava fascinado, abobalhado com aquela visão perfeita. Ela admirava a beleza da natureza e ele a admirava. Viu quando o vento beijou sua face, jogando os fios logos do cabelo para o lado, a luz prateada da lua a banhava, fazendo um contraste perfeito com sua pele pálida, que estava mais branca do que o normal, devido ao frio. Não sabia o que fazer, a única coisa que sabia era que não conseguia desviar o olhar.

 

-Olhe, está nevando. – Ela falou novamente, animada, esticando as mãos para cima, deixando com que um pequeno floco de neve tocasse em sua pele. – A natureza é tão linda, perfeita, imutável. Ela não se importa com os horrores que cometemos. Isso me fez lembrar de algo que falei a meu irmão há algum tempo. De que é reconfortante saber que em algum lugar da Terra, nesse exato momento, não está acontecendo exatamente nada. Nenhuma guerra, nenhuma morte, nenhum sofrimento. Nada. Isso não é incrível?

 

Prestava atenção em suas palavras, apesar de admitir que não tinha as compreendido muito bem, pois, estava hipnotizado, não conseguindo raciocinar direito.

Ao não obter nenhuma resposta, Tomito se virou para ele, o olhando minimamente. O vento a atingiu novamente, jogando seus cabelos para o lado. Seu coração falhou uma batida com aquela visão, tirando o seu ar. Itachi viu seus olhos azuis cintilarem como duas lagoas profundas, envoltas pela pele pálida igual à neve, e seus cabelos caiam como o manto escuro da noite, formando um contraste perfeito. Ela era perfeita.

Sorriu com tal pensamento. Ninguém era perfeito, mas estranhamente, aos seus olhos, ela era perfeita para ele.

 

-Você está bem? – Tomito perguntou preocupada, se aproximando, fazendo com que saísse do transe que se encontrava.

 

Balançou a cabeça na tentativa de organizar os pensamentos, desviando o olhar, para conseguir recobrar a consciência, pois, sabia que se continuasse a olhar, não iria conseguir pensar em nada e muito menos falar.

Limpando a garganta, disse por fim:

 

-Sim, estou. É que fiquei pensando no que você falou. Achei interessante. Nunca tinha parado para pensar no assunto.

 

-Só gosto de divagar, nada demais. – Falou dando de ombros. – A propósito, que dia você acha que é hoje? - Perguntou curiosa.

 

A olhou brevemente, tragando o cigarro, disse:

 

-Natal. Ou no mais, véspera de Natal.

 

Tomito ficou o observando por alguns instantes, parecendo ponderar, logo perguntando:

 

-Porque você acha isso?

 

-Não sei. O ano passado começou a nevar na noite de Natal, então, meio que deduzi, foi mais um chute.

 

-Se é assim, então, feliz Natal, Itachi.

 

A olhou com intensidade dentro dos olhos, vendo um sorriso genuíno surgir em sua face.

 

-Feliz Natal, Tomito.

 

Suas palavras fizeram com que o sorriso dela alargasse ainda mais, voltando a olhar para a paisagem que se desenrolava a sua frente. Agora, vários flocos de neve caiam a sua volta, com o vento a jogando para dentro da sala.

 

-Não está com frio? Você está muito pálida, parece estar com frio. – Disse começando a ficar preocupado.

 

-Só um pouco, mas não é nada demais. Sou acostumada. Nessa época do ano Berlim faz muito frio, sabe.

 

-Entendo, mas acho que não é uma boa ideia você ficar assim, pode ficar doente. Melhor vestir seu casaco, para se esquentar.

 

-Tem razão. – Falou se aproximando, pegando a peça de roupa e se vestindo, colocando os lençóis estendidos no chão, logo depois, sentando ao seu lado, ficando ombro a ombro. – Você está fumando? Porquê? – Perguntou curiosa.

 

-Sinceramente falando, não tem um motivo específico, só me deu vontade. – Disse tranquilamente, dando de ombros, olhando para frente.

 

Ainda não se sentia à vontade para olhá-la.

 

-Você me parece o tipo de pessoa que faz tudo o que quer. – Ela disse deixando escapar um sorriso, o olhando de soslaio.

 

Não podia se considerar alguém que fazia tudo o que queria, mas era bem da verdade que quando tinha vontade de alguma coisa, ia e fazia, não se importando com o que os outros iam pensar.

 

-Bem, não é que eu faço tudo o que quero, mas admito, que na maioria das vezes faço sim. Por que diz isso?

 

-Nada. É porque, só preciso olhar para você para saber que não se importa com o que os outros pensam ou deixam de pensar. Simplesmente, vai atrás do que quer e ninguém, nunca, vai te julgar por isso.

-Não entendo. Você tem medo das pessoas te julgarem?

 

Tomito o olhou por alguns instantes, logo depois, balançando a cabeça em negativa, falou:

 

-Não tenho medo que me julguem, mas tenho que admitir que as coisas são um pouco diferentes entre mim e você.

 

-Não compreendo. – Falou a olhando, sem entender o que ela estava insinuando.

 

-Sou mulher. –Disse parecendo apontar o óbvio. – E, mesmo que odeie isso, infelizmente, em nossa sociedade as mulheres são julgadas por seus atos. Nunca podemos fazer nada sem que tenha alguém observando cada passo que damos, prontos para jogarem pedras sobre nossas cabeças, caso falamos alguma palavra, saímos um pouco da linha. Isso me irrita. Me faz sentir encurralada, presa, sufocada. Detesto esses sentimentos. Às vezes tenho vontade de fazer algumas coisas, simples, sem ninguém para me julgar, me olhar com reprovação. Acho isso tão injusto.

 

-Entendo.

 

-Não, você não entende. Sinto muito, mas você só está falando isso porque estou te falando e te faz pensar no assunto, mas, no fundo, você não entende, por que você é homem. E, vocês nunca irão entender pelo que passamos. E, infelizmente, as coisas só vão começar a mudar quando vocês começarem a pensar um pouco sobre o assunto, não antes disso. E, isso vai demorar um bom tempo para acontecer.

 

Ficaram em silêncio por alguns instantes, pensando sobre o assunto.

 

-Tem razão, realmente não entendo. Como você mesmo disse, faço o que quero, do jeito que quero e ninguém me julga. E, caso julguem, não me importo. E, penso que você deve fazer o mesmo. Faça o que quer e não se importe com o que pensam. É sua vida, não a deles. Você sabe o que é o melhor para você. De qualquer modo, tem alguma coisa que gostaria de ter feito, mas não fez porque ficou com medo? – A questionou, olhando com curiosidade, realmente interessado em saber.

 

Ela suspirou em desânimo, olhando para frente, balançando a cabeça, falou:

 

-Não é sobre o que quero, mas são pequenas coisas que venho pensando ultimamente, que deveria ter feito, mas não fiz. Sabe? Lembra quando eu te disse que estava pensando em algumas coisas, por isso, estava agindo daquela maneira? Era sobre isso. Comecei a pensar no meu acidente.  Que quase morri naquele dia. Isso me deixou com medo, porque não consigo mais me livrar dessa sensação de que a qualquer momento posso morrer. Estou viva nesse momento, respirando, mas quem me garante que daqui a algumas horas ainda estarei? Ninguém pode me garantir isso, e sinto medo. – Falava com uma voz embargada, parecendo estar agitada, nervosa.

 

-Garanto que nada vai te acontecer. – Falou por fim, tentando tranquilizá-la, fazendo com que sorrisse.

 

-Muito obrigado, mas você não pode me garantir isso. Veja, essa não foi a primeira vez que quase morri. Antes disso, quando ainda estava naquela aldeia, trabalhando como enfermeira, o teto da igreja quase caiu sobre mim devido a um ataque, escapei por sorte, depois disso, quase levei um tiro. Vi minha colega morrer na minha frente com um tiro na garganta, sendo que se não fosse por ela, teria me atingido. Eu podia ter morrido naquele lugar. Depois disso, ainda teve aquele rapaz. Ele quase me matou, vi em seus olhos que ele ia me executar, mas, estranhamente, ele não fez. E, mais uma vez me livrei da morte. E, antes disso, quando ainda estava em casa, aquele homem apareceu e quase matou a minha mãe e eu. Isso não aconteceu, porque eu o matei, mas passamos a correr um risco constante de sermos descobertas, presas e, sabe-se lá o que poderia ter nos acontecido depois disso. Viu, como várias e várias vezes tenho passado por situações que poderia ter colocado um fim na minha vida? Até este momento tive sorte, mas nada me garante que vai continuar assim. Posso ser uma idiota por pensar assim, mas estou com medo. Não quero morrer. E, não tenho vergonha de admitir isso. Até porque, quem quer morrer? Eu sei que algum dia todos nós vamos morrer, mas não queria morrer antes de ter feito algumas coisas, conhecido alguns lugares. Não quero ter arrependimentos.

 

A escutava com bastante atenção, atento em cada palavra. Não podia dizer que entendia com toda a clareza tais sentimentos, mas entendia muito bem a palavra medo, medo da morte. Ele mesmo já tinha a encarado de frente várias vezes e sabia qual era a sensação. Era um sentimento de que algo estava faltando, de que estava deixando de fazer alguma coisa. Talvez seja por causa de seu trabalho, que sempre o colocava em risco, que vivia sobre o ditado de que nunca deixaria algo para amanhã se pudesse fazer naquele instante. Por isso, sempre fazia o que queria, se tivesse a chance e soubesse que conseguiria, não desistia até conseguir.

 

-Tem alguma coisa que gostaria de ter feito, mas não fez? – Perguntou curioso.

 

-Bem, na verdade, são coisas que tive a oportunidade, mas acabei deixando para depois ou, simplesmente, ignorei porque pensei que era desnecessário. Mas, agora vejo que cada experiência de vida que temos é muito valiosa. Independentemente do que se trate.

 

-Vamos fazer o seguinte... – Disse tragando o cigarro, ficando em silêncio por alguns instantes, até soltar a fumaça. Tempo o suficiente para organizar todas as ideias que surgiam em sua cabeça. – Já que é noite de Natal e já que estamos na França, e essa é minha casa, decidi, como o bom anfitrião que sou, que vou te dar alguns presentes. O que você me diz?

 

Ela o fitou atentamente, curiosa para saber o que estava tramando, o questionando:

 

-Como assim?

 

-Veja bem. Pense no que gostaria de ter feito, mas não fez. Se estiver no meu alcance, irei a ajudar a realizar. O que acha?

 

Tomito ponderou sobre a proposta, logo depois balançando a cabeça, sorrindo largamente, não precisando falar nada para que ele entendesse.

 

-Ótimo. Vamos começar. Qual a primeira coisa que você gostaria de fazer? – Perguntou interessado, a olhando com intensidade.

 

Ela demorou para responder, parecendo procurar por algo. Passados alguns minutos, a viu sorrindo, apontando para mão que segurava o cigarro, falando:

 

-Nunca fumei na vida. E, acho que experimentar um pouco não vai fazer mal a ninguém. – Terminou dando de ombros.

 

-Isso? – Arqueou a sobrancelha a mostrando o cigarro preso entre os dedos. – Não, você não vai gostar.

 

-Se é assim, porque você fuma se é ruim?

 

-Força do hábito.

 

-De qualquer forma, é algo que nunca fiz e, estou disposta a fazer qualquer coisa. Sabe, novas experiências.

 

Sorriu lhe estendendo o cigarro. Ela o pegou desajeitada, o olhando a espera de alguma instrução.

 

-A única coisa que você precisa fazer é colocar na boca e sugar para dentro a fumaça. Como você não é acostumada, a tendência vai ser de que a engula. Caso contrário, a jogue para fora.

 

-Tudo bem, acho que posso fazer isso. – Disse olhando em dúvida para o cigarro, ponderando se devia ou não fazer aquilo.

 

Ele sorriu, pois, tinha toda a certeza que na primeira tragada ela iria odiar. A olhou em expectativa, incentivando a seguir em frente. Mesmo estando indecisa e até mesmo temerosa, acabou o colocando na boca, respirando fundo, sugou. No mesmo instante começou a tossir, como se tivesse engasgado. Tentava puxar o ar limpo para aliviar as vias aéreas, seus olhos começaram a lacrimejar e ficar vermelhos. Não conseguiu aguentar, soltando uma alta gargalhada, por enquanto que a ouvia resmungar.

 

-Isso é horrível. – Falava enojada o devolvendo, no qual ele pegou ainda as gargalhadas.

 

-Eu te avisei.

 

-Como é que você pode fumar isso? É nojento. Agora, tenho total certeza de que nunca mais quero saber de ver isso na minha frente. Minha boca ficou com um gosto horrível, preciso limpá-la. Água seria ótimo. – Falava olhando para os lados, vendo a mochila mais ao canto, a abrindo e tirando uma garrafa, solveu o líquido em grandes goladas.

 

Demorou alguns minutos para se recuperar e respirar com mais calma, ficando aliviada.

 

-Quem foi o idiota que inventou uma coisa dessa? E, mais idiota ainda de quem usa. – Disse ralhando.

 

-Ah! Obrigado pela parte que me toca. – Falou rindo, levando o cigarro, que estava no fim, para a boca, o tragando, em seguida o apagando no chão ao lado.

 

 

-Se antes já não entendia o porquê de fumar isso, agora, definitivamente não entendo.

 

-Melhorou? –Perguntou, fingindo não ter escutado o que ela tinha dito.

 

-Sim.

 

-Ótimo. Veja pelo lado positivo, fui capaz de realizar uma das suas vontades. Tem alguma outra coisa que a senhorita gostaria de realizar? – Perguntou curioso para saber qual seria o próximo pedido da garota. Torcia para que pudesse realizar. Estava achando tudo muito engraçado.

 

-Tem sim. Já que estamos nessa onda de experimentar coisas de gosto duvidoso, tem outra coisa que gostaria de experimentar. Sei que você tem bebida nesse cantil que carrega com você, acho que gostaria de experimentar. – Disse o olhando em expectativa, ansiosa pelo próximo passo.

 

 

Sorriu com o comentário, ao mesmo tempo que achava graça e se surpreendia por ela saber o que ele carregava naquele cantil em seu bolso.

 

-Confesso que estou um pouco supresso. Diria que até mesmo chocado. Bebida não é algo só para homens, mulheres também bebem, Tomito. Você nunca bebeu?

 

-Não. – Disse balançando a cabeça freneticamente, o olhando com esperança.

 

-Nem se quer um gole?

 

-Nunca. Nada.

 

-Quantos anos você tem mesmo? - Inquiriu começando a duvidar que ela tinha vinte e um anos. Naquele momento parecia que deveria ter no máximo uns quinze.

 

-Você sabe muito bem qual é minha idade. Como já disse, tem algumas coisas que não me interessavam e a bebida era uma delas. Nunca me interessei por isso.

 

 

-Mas, agora você quer saber como é o gosto, antes que alguma coisa te aconteça, certo? – Falava por enquanto que remexia no bolso da blusa a procura do cantil. – Você não quer ter o arrependimento de nunca ter experimentado isso aqui. – Disse por fim, balançando o objeto na mão, fazendo com que o líquido chacoalhasse.

 

-Exatamente.

 

-Tudo bem, toma. – Disse abrindo a tampa e a entregando. – Mas, garanto que não vai gostar.

 

-Vai ter alguma coisa que vou gostar? – Disse parecendo decepcionada, o olhando com desânimo e a sobrancelha arqueada.

 

Ah! Podia pensar em algumas coisas que ela iria gostar, mas nunca falaria em voz alta. Era algo que apenas manteria em sua cabeça.

 

-Na verdade, existem muitas bebidas com gostos bons, mas infelizmente, essa não é uma delas. Até eu não gosto muito. Mas, é a única que tem.

 

-Ok, entendo. Acho que um gole não vai me matar.

 

Já estava rindo antes mesmo dela levar o cantil a boca. E, quando ela o fez, solvendo um pouco do líquido, deixando transparecer uma expressão de completo desagrado, não conseguiu segurar mais, desatando a rir.

 

-Isso é horrível. – Falava fazendo caretas de desgosto, o entregando o cantil.

 

-Não falei? Mas, antes que comece a questionar o porquê de beber isso, para a minha defesa, com o tempo o gosto vai ficando melhor. – Disse solvendo um grande gole que desceu queimando a garganta, o esquentando.

 

A observava balançar a cabeça com os olhos fechados, com uma expressão nada agradável estampada na face.

 

-Melhora com o tempo, é? – Questionou, fazendo com que sorrisse e confirmasse. – Então vamos ver se isso é verdade. – Disse estendendo a mão para pegar o cantil.

 

-Melhor não. – Falou, afastando rapidamente de seu alcance.

 

-Ah, qual é? Só mais um gole. Nem experimentei direito. – Disse fazendo uma cara de pidona. – Além do mais, quero ver se essa sua teoria realmente condiz com a realidade.

 

A olhou por alguns instantes, ponderando se deveria ou não a entregar, mas acabou cedendo, a entregando. Ela o pegou, bebendo novamente, deixando transparecer a mesma feição de desagrado.

 

-Não. Definitivamente, continua horrível. – Falou aborrecida, mas bebeu novamente, o surpreendendo.

 

Não achava que ela iria fazer isso.

 

-Calma aí! – Falou, tirando de sua mão. – Desse jeito vai tomar toda a minha bebida e vou ficar sem nada. – Disse brincando, mas preocupado, já que se ela nunca tinha bebido antes, seu organismo não era acostumado e qualquer pouco de álcool que ingerisse poderia ser o suficiente para deixa-la bêbada.

 

-Tenho certeza que deve ter ficado um pouco para você. – Falou, deixando um sorriso de escárnio estampar em sua face, logo em seguida desatando a rir descaradamente. – Você está preocupado. Acha mesmo que vou ficar bêbada com três goles?

 

-O que? – A olhou surpreso por ter deduzido tal coisa.

 

-O que mais poderia ser? É claro que você não está preocupado de que isso aí acabe. Na verdade, está preocupado que eu fique bêbada e te dê trabalho. Mas, não se preocupe, isso não vai acontecer.

 

-Tudo bem. – Disse dando de ombros, ainda surpreso com a dedução, já que tinha lido perfeitamente bem seus pensamentos.

 

Ele próprio bebeu mais um pouco da bebida, em seguida perguntando:

 

-Então, qual é o seu próximo desejo? Qual é a próxima coisa que você adoraria ter feito antes, mas não fez?

 

-Sem julgamentos?

 

-Não, aqui somos iguais. Temos os mesmos direitos. Aqui você pode fazer a mesma coisa que eu. E, vice-versa. – Falava curioso para saber o que viria a seguir.

 

Itachi estava adorando aquela conversa. Fazia tempos que não ria daquele jeito, nem lembrava quando tinha sido a última vez. Ela estava o divertindo com aquela conversa. É verdade, que, no fundo tudo aquilo era um pouco macabro, já que só estavam fazendo aquilo porque ela estava com medo de morrer antes de poder experimentar algumas coisas da vida. Tinha dito a ela que não iria a deixar morrer, mas não tinha muita convicção quanto a isso. Se pudesse, com certeza, nunca permitiria que algo de ruim acontecesse, mas infelizmente, não tinha tal poder.

Balançou a cabeça para se livrar daqueles pensamentos tristes, tentando se concentrar naquele momento, que a seu ver, estava sendo muito engraçado.

A olhou, esperando pacientemente pelo próximo pedido, no qual torcia para poder cumprir.

 

-Bem, nunca dirigi um carro. Acho que gostaria de dirigir um.

 

-Um carro? – Ponderou por algum tempo, tentando lembrar se tinha visto algum na vila.

 

Infelizmente não tinha.

 

-Sinto muito, mas não vou conseguir cumprir esse pedido por agora. Mas, prometo a você que quando encontrarmos um carro, a primeira coisa que vou fazer é te ensinar a dirigir. – Falou desanimado por não poder fazer algo.

 

Ela apenas sorriu largamente, começando a rir.

 

-Qual é a graça? –Itachi questionou, sem entender onde estava a graça.

 

-Não é nada. É somente porque você me parece muito desempenhado em realizar esses pedidos. São poucas pessoas que estariam dispostas a fazer tal coisa.

 

-Como falei antes, hoje é natal e eu sou o anfitrião. Então, você pode me pedir o que quiser e vou tentar realizá-lo com o maior prazer. – Disse sorrindo, sabendo que sua expressão facial não deveria estar a das mais santas naquele momento.

 

Pensou que Tomito ficaria com vergonha, ficando vermelha e desviando o olhar, mas, foi o contrário. Ela apenas começou a rir mais alto, escondendo o rosto em seu ombro, chacoalhando o corpo devido as fortes gargalhadas. Sua risada era tão contagiante que, quando percebeu, também estava rindo. Será que a bebida estava fazendo efeito? Nela, era quase certeza que sim. Agora ele, provavelmente não. Seu organismo era muito acostumado a altos teores de álcool e tinha bebido praticamente nada. Mesmo assim, a vontade de rir era grande e, acabou se deixando levar.

Ficaram assim por um bom tempo, até conseguir se recuperar. Tomito se afastou, estando com as bochechas vermelhas e os olhos lacrimejantes devido à risada, a deixando ainda mais bonita.

 

-Isso foi engraçado. Então tá, senhor anfitrião, vou pensar em alguma outra coisa. – Ela disse olhando para frente, pensativa.

 

Não demorou muito para ver sua expressão ficar um pouco mais séria, parecendo estar pensando em algo pouco agradável. Ela acabou cruzando os braços a frente das pernas, deitando a cabeça de lado, sobre seus joelhos, o olhando apreensiva, perguntou:


-Você é casado?

 

Ficou surpreso, pois, esperava por qualquer outra pergunta, menos aquela. Porque será que ela estava o questionando sobre isso? Será que isso tinha alguma coisa a ver com algo que ela gostaria de ter feito, mas até aquele momento não tinha? Duvidava. Mas, estava curioso para saber o que se tratava.

 

-Não, não sou casado.

 

-E namorada? Você tem? – Perguntou rapidamente, nem dando tempo de pensar sobre o assunto.

 

-Também não. Separei da minha última namorada antes de entrar para o exército. – Sabia que não precisava ter contado tais detalhes, mas sentiu que ela deveria saber.

 

-Porquê?

 

-Pensamentos diferentes. – Limitou-se a falar, dando de ombros, querendo mudar de assunto.

 

-Qual era o nome dela?

 

A olhou, começando a ficar desconfortável, respondendo com outra pergunta:

 

-Isso importa?

 

-Perguntei só por curiosidade. – Disse se endireitando novamente, encostando as costas na parede.

 

-Izumi. – Falou por fim, ficando desanimado no mesmo instante, ao se lembrar da garota.

 

-O nome é bonito. Ela é bonita?

 

Suspirou em desagrado a olhando com intensidade. Acabou por pensar que Izumi era bonita, mas não tanto quanto ela. Mas ao invés de falar, apenas se limitou a balançar a cabeça em afirmação, desviando o olhar.

 

-Aposto que você deve ter tido várias namoradas, não é mesmo? – Ela falou, chamando novamente sua atenção.

 

Não estava mais entendendo nada sobre o rumo da conversa, que, a seu ver, estava ficando muito estranha. Porque ela estava tão interessada em sua vida amorosa? Ruminou sobre tais pensamentos, mas nada vinha a cabeça. Será que seu cérebro tinha congelado, para não conseguir pensar em nenhuma resposta satisfatória? Não tinha. O único problema ali era que ela estava fazendo perguntas que normalmente ninguém faria. Estava se sentindo desconfortável. Parecia que estava conversando com seu irmão naquele momento. Mas, não era ele, era Tomito. E, com toda a certeza, ela não precisava saber sobre nenhuma de suas libertinagens.

 

-Não diria que foram muitas.

 

-Mesmo? Quantas?

 

-Ah, acho que foi oito. – Disse tentando se lembrar do número exato.

 

Sabia que o número de mulheres em sua vida tinha sido bem maior, mas ela só tinha perguntado sobre as namoradas. Ainda bem!

 

 

-Oito? - Falou surpresa, o olhando espantada. – E, ainda tem a coragem de falar que não foram muitas? Quanto seriam muitas para você? – Inqueriu o olhando com intensidade.

 

-Não sei. Só sei que vou fazer trinta anos no mês que vem, por isso acho que não são tantas assim. Com certeza, seria bem pior se tivesse apenas vinte anos.

 

-Tudo bem. É que... puxa vida. – Falava fazendo caretas, pensando sobre as últimas descobertas. – Fiquei curiosa para saber, quantos anos você tinha quando deu o primeiro beijo? – Acabou por perguntar.

 

Aquela conversa estava definitivamente muito, mais muito estranha. Porque toda aquela curiosidade? Será que ela estava pensando em alguma coisa? E, estava sondando o terreno para ter certeza se falaria ou não? Se tratando dela, não duvidava. Tomito era esperta o suficiente para fazer algo do gênero. Decidiu por apenas responder, para saber onde aquele assunto chegaria.

 

-O meu primeiro beijo foi quando eu tinha treze anos. Foi com uma menina da mesma idade. Estávamos com os hormônios a flor da pele, curiosos para saber como era e acabou acontecendo.

 

-Treze anos. Caramba! Não acha que era muito novo?

 

-Não. Na verdade, penso que não tem uma idade certa. Acredito que é apenas uma questão de se sentir preparado e com vontade. Se esse for o caso, tudo bem. Não vejo problema.

 

-Bem. Isso seria impossível para mim. Ninguém se interessaria por uma Tomito de treze anos de idade.

 

-Porque não? – Agora era ele que estava curioso para saber mais sobre sua vida. A olhando com intensidade.

 

- Porque quando eu tinha treze anos, parecia que eu tinha uns sete. Tinha cara de criança. Era pequena, magra, com o rosto cheio de sardas e os cabelos rebeldes que não paravam no lugar, sempre tendo que deixá-los amarrados.

 

-Você ainda tem sardas. – Falou olhando para seu rosto, vendo as pequenas manchas de tom marrom sobre suas bochechas e nariz.

 

-Eu sei. E, quem disse que eu gosto delas agora?

 

-Por que não?

 

-Porque são manchas no rosto. Quem quer ter isso?          

 

-E, se te falar que eu acho lindo? É um charme natural, único, que poucas pessoas têm. Não deveria ter vergonha delas, porque elas te fazem ser única. Te deixam ainda mais bonita. – Disse passando com delicadeza o dedo sobre sua bochecha, onde era possível ver a maior concentração das pintinhas.

 

Sabia que não deveria ter dito isso e, muito menos estar fazendo aquilo. Parou no mesmo instante, afastando a mão, desviando o olhar, voltando a falar o mais rápido possível para que o clima não pesasse.

 

-Mas, isso não vem ao caso no momento. Está me deixando morto de curiosidade para saber o que você vai pedir.

 

A olhou de canto, reparando que ela estava rubra, provavelmente de vergonha, mas, por nenhum segundo se quer desviou o olhar. Ela nada falou, o incentivando a continuar a falar:

 

-Porque está tão empenhada em saber sobre minha vida amorosa?

 

-Não é nada demais, apenas para jogar conversa fora.

 

-Entendo. E, você? – Perguntou animado, apesar de se sentir levemente desapontado com a resposta.

 

-Eu o que? – Retrucou o olhando perdida.

 

-Já que falamos sobre mim, agora vamos falar sobre você. Quero que me conte tudo sobre sua vida amorosa. Não me esconda detalhes. – Disse brincalhão com um sorriso nos lábios.

 

Tomito soltou uma gargalhada. Balançando a cabeça em negativa, ficando vermelha, demonstrando dificuldades em falar:

 

-Como se tivéssemos falado muito sobre sua vida.

 

-É, mas falamos um pouco e, penso que isso me dá o direito de saber um pouco sobre a sua.

 

-Tudo bem. - Falou recuperando o fôlego, o olhando com intensidade, deixou sua expressão ficar séria, voltando a ser a costumeira Tomito que conhecia muito bem. – Lembra que você disse que somos iguais e que não teria julgamento? – Questionou ansiosa pela resposta.

 

Itachi arqueou a cabeça em concordância, interessado no rumo da conversa.       

 

-Ter me falado isso foi muito legal de sua parte. - Disse olhando concentrada para um ponto mais a frente, centrada e séria. - Porque a sociedade em geral não nos vê desse jeito. Mulheres não são vistas como semelhantes aos homens. Não temos os mesmos direitos e, sempre somos julgadas. Sabe, não sei como funcionam essas coisas aqui na França, como as mulheres são vistas e tratadas. Mas, em meu país o governo nazista implantou muitos ideais. Para eles as mulheres não passam de objetos que realizam todas as suas vontades. Para você ter uma ideia, é o governo que dita quais são as roupas que podemos ou não usar, se podemos passar ou não maquiagem, o tipo de penteado. Somos alienadas desde muito novas para aceitarmos tais condições. Para ser a mulher perfeita, a esposa perfeita, a mãe perfeita. É somente isso que eles ensinam. Eu era obrigada a ir em uma maldita escola onde só ensinavam como deveria me comportar diante do meu futuro marido. – Sua voz soava áspera, amarga. Era visível sua indignação, a raiva que sentia.

 

Não era nenhum idiota e sabia muito bem que homens tinham mais privilégios, isso era uma verdade implantada na cultura da sociedade há muito tempo e também sabia que seria difícil de mudar. Mas, as mulheres vinham lutando cada vez mais para obterem seus direitos, serem reconhecidas e, isso era algo bastante admirável. Mesmo assim, não imaginava que havia lugares que tratavam as mulheres daquela maneira, como ela mesmo tinha dito, objetos. Conseguia entender muito bem sua indignação.

 

-É claro que eles deram uma ótima educação, aprendi muitas coisas. Mas, a maioria das vezes era apenas sobre etiqueta, bom comportamento, como ser uma boa mãe e várias outras coisas triviais. Odiava cada minuto que passava naquele lugar. Me sentia tão reprimida, tão humilhada. Me sentia... caramba! Nem sei qual palavra usar para descrever como me sentia. Só sei que era uma sensação horrível. Era uma sensação de impotência. Sabe, tudo o que eu queria, tudo o que eu realmente almejava, não podia ter. Eu queria ir para faculdade, fazer medicina, queria aprender cada vez mais. Crescer na vida, me tornar alguém importante. Queria poder trabalhar sem que ninguém me olhasse com julgamento, queria viajar para fora, encarar o mundo de frente, colocando a cara a tapa. Aprender com meus erros, tentar, falhar, levantar e tentar novamente. Queria aprender com meus erros. Não nasci para ficar em segundo plano, esperando para alguém me dizer o que posso ou não fazer. Eu nasci para ser livre, para seguir minha vida e vencer com meus esforços. Mas, conforme os anos passavam, percebia          que cada vez mais minhas vontades seriam negadas a mim. Não por uma ou duas pessoas, mas por quase todos. Por causa disso, comecei a sentir ódio, raiva. E, acabei deixando muitas coisas de lado. Então, acabei ficando amargurada e sem vontade alguma de fazer algo. Acabei fazendo dezoito anos e, finalmente, fiquei minimamente apresentável. Mas, não me interessava mais por tais trivialidades como sentimentos, afetos. Nessa época já tinha tomado a decisão de que nunca iria me casar, nunca teria filhos, eu nunca iria compactuar com aquela ideologia arcaica. Iria lutar com todas as minhas forças para conseguir o que realmente queria.

 

Ela parou de falar por alguns instantes, pensando em algo, logo o olhando com fúria nos olhos.

 

-Porque você acha que estou aqui? Porque estou em um lugar desconhecido? É porque me recusei a fazer o que eles queriam. Eu fiz o meu próprio caminho. Eu escolhi estar aqui. Se foi certo ou não essa escolha, não sei. Talvez nunca saiba, mas estou feliz por saber que estou aqui, estou aqui para encontrar meu irmão, porque fui eu que quis. Não foi porque eles mandaram e vim obrigada. É claro que dependia de eles aceitarem o meu pedido de ser enviada para cá. Mesmo assim, ninguém me forçou, eu pedi e não me arrependo.

 

Aquele assunto era bem delicado para ela. Era perceptível em seu olhar. Se sentiu mal por saber que ela era privada de seus desejos, de seus sonhos, vontades. Apenas porque tinha nascido mulher.

 

-Sinto muito. Realmente gostaria que as coisas fossem mais fáceis para você. Que você pudesse fazer o que quer. E, tenho certeza que um dia vai conseguir. Você tem força de vontade o suficiente para isso.

 

-Obrigado. – Disse parecendo ficar mais aliviada por ter desabafado.

 

Itachi não pôde deixar de pensar em uma pergunta bastante pertinente, não se segurando para falar:

 

-Então, você não quer casar e ter filhos?

 

-Sinceramente falando? Eu não sei. Fica até engraçado falar algo assim depois de tudo o que acabei de dizer, mas é a verdade. Eu sentia raiva, era somente isso. E achava que se não seguisse o que eles diziam, iria sair por cima. Apenas queria contrariar, sem de fato parar para pensar se era o que eu realmente queria.


- Tenho certeza que um dia vai descobrir.

 

-Obrigado. – Sorriu timidamente, voltando o olhar para fora, para os flocos de neve que caiam incessantemente, deixando aquela noite cada vez mais fria. A luz da lua estava quase encoberta pelas nuvens cinzas, mesmo assim, ainda era forte o suficiente para permitir que a visse com clareza.

 

Ficaram em silêncio e Itachi aproveitou para beber um pouco mais de sua bebida, que chegou ao fim. Ficou pensativo, sem saber o que dizer sobre o assunto. A seu ver, era um tema bem pesado e que não conhecia muito bem, já que nunca tinha passado pelos mesmos problemas. Sempre que queria uma coisa ia atrás e pegava para si. E, não tinha ninguém para falar que não. Era senhor de si.

 

-Sabe, aquela proposta que você me fez de realizar minhas vontades? Ainda está valendo?

 

-Mas é claro, só estava esperando. - Disse a olhando sorrindo, balançando a cabeça em afirmação. – Acabei ficando sem saber o que fazer, já que você mudou de assunto, e pensei que não queria mais continuar.

 

-Na verdade, o que eu disse tem a ver com o que eu quero. – Falou olhando para baixo, mexendo nervosamente as mãos.

 

-Tem a ver? Por acaso você quer que eu bata em algum alemão idiota e os obrigue a deixar você estudar ou te dar um trabalho? Porque se for isso, irei fazer com muito prazer. Infelizmente, não vai dar para fazer agora, mas quando a oportunidade surgir, pode ter certeza que vou fazer.

 

Ambos começaram a rir do comentário que tinha sido bem cômico, mas tinha um fundo de verdade. Se fosse o que ela queria, iria fazer. Não importava quanto tempo demorasse e o trabalho que iria ter, mas iria fazer.

 

-Na verdade, é outra coisa. – Voltou a falar com uma voz baixa, tendo que prestar bastante atenção para compreendê-las.

 

Parecia que estava com vergonha, mas conforme ia falando, seu tom ia aumentando gradualmente, ficando mais rápido, parecendo que queria dizer tudo o que queria o mais rápido possível.

 

-Lembra quando eu disse que quando fiz dezoito anos acabei deixando muitas coisas de lado? Decidi que não queria me envolver com ninguém, de casar e nem nada do gênero.

 

-Sim, lembro.

 

-Você me perguntou sobre minha vida amorosa. Então, vamos dizer que ela não existe.

 

-Não estou entendendo onde quer chegar. – Estava desconfiado, vendo a vergonha transparecer em sua face.

 

-Estou querendo dizer que diferente de você, nunca estive com ninguém. Nunca beijei ninguém.

 

-O que!? – Foi a única coisa que conseguiu falar, surpreso. Não estava acreditando. – Você está brincando comigo?

 

Tomito estava visivelmente envergonhada, olhando em todas as direções, menos para ele.

 

-Desculpe, mas vou ter que dizer uma coisa. Os alemães são uns completos idiotas se nunca te deram atenção.

 

-Por quê? – O olhou surpresa, ansiosa pela resposta.

 

-Porque você é você. – Disse ficando nervoso, tentando desconversar, ao perceber o que tinha dito. Não podia dizer que eles eram uns idiotas por nunca ter percebido o quão linda, superinteressante e inteligente ela era, chamando a atenção de qualquer um.

 

-Ok. Bem, não posso dizer que nunca tive oportunidade, mas recusei todas. Não queria me casar, por isso, resolvi que não me envolveria com ninguém.

 

-Você não precisa se casar para beijar.

 

-Eu sei disso, mas sempre fui muito cabeça dura e quando coloco algo na cabeça, não tem quem tire. E, se tinha decidido que não iria me casar, então não me envolveria com ninguém, e isso incluía nenhum tipo de demonstração de afeto ou aproximação.

 

-Caramba, você é uma mulher de palavra, não?

 

-Um pouco. – Admitiu, dando um leve sorriso.

 

Não acreditava que estava tendo aquele tipo de conversa com uma garota. E não era qualquer garota, era aquela que já há alguns dias ele vinha pensando em coisas inapropriadas para fazer. Mas, não sentia vergonha alguma, pelo contrário, estava gostando e bastante da conversa.

 O silêncio voltou, no qual ficou a pensar sobre o que deveria ou não falar.

 

-Mas, agora mudei de ideia. Quero saber como é. – A ouvi dizer tranquilamente. – Quero saber qual é a sensação de um beijo. – Voltou a olhá-lo, agora tendo sua atenção triplicada.

 

Prestava atenção em cada palavra. Tomito o olhou com intensidade, pedido com o olhar para dizer algo. Mas, estava tão perdido que não sabia o que falar, acabando por deixar sair a primeira coisa que surgiu em sua boca:

 

-Você quer que eu arrume alguém para que você possa beijar? – Perguntou contrariado, não gostando da ideia.

 

Torceu para que não fosse isso, porque se fosse, iria inventar uma bela desculpa para não fazer.

 

-Estava pensando em outra coisa.

 

-Que coisa? – Disse distraído, não prestando mais atenção, já que se sentia revoltado e nervoso apenas com perspectiva de que ela poderia estar nos braços de outro homem. Nunca aceitaria isso.

 

-Na verdade, pensei que pudesse ser você.

 

Ouviu aquela voz serena e baixa soar em seus ouvidos, fazendo com que seu coração parasse no mesmo instante. Será que tinha sido aquilo mesmo que tinha ouvido? Só podia estar delirando.

A olhou com intensidade, a procura de qualquer coisa, qualquer mínimo sinal que pudesse mostrar que ela estava brincando ou que ele estava alucinando. Mas ao vê-la tão serena e tranquila, parecendo esperar por uma resposta, ao mesmo tempo que suas bochechas ficavam avermelhadas, o fez perceber que era verdade.

 

-Você está querendo... que... eu... – Começou a gaguejar, parando de falar no mesmo instante. Engoliu em seco, recuperando fôlego, continuou. – Você quer que eu te beije?

 

-Sim. – Sua voz melodiosa se fez presente novamente.

 

Quase caiu para trás. Se não estivesse sentado, provavelmente teria caído.

 

-Porque eu? –Perguntou não acreditando no pedido.

 

-Ora, porque não?

 

-Isso não é resposta. – Falou nervoso, a repreendendo por querer saber os verdadeiros motivos.

 

-Isso não é resposta. – Ela sorriu minimamente, o remendando.

 

-Estou falando sério, porquê? – Disse se virando de frente para ela, para vê-la com maior precisão.

 

-Por que não? Se você não quiser. Tudo bem. Vou entender.

 

Respirou fundo, sem saber o que falar. É claro que queria. Estaria mentindo se dissesse que não. Mas, não podia apenas agarrá-la sem saber o motivo. Precisava saber se era apenas porque ela nunca tinha beijado alguém ou se tinha algo a mais. Ela sentia algo por ele? Sua expressão era uma mistura de vergonha, apreensão e curiosidade, não permitindo saber se sim ou não.

 Aqueles olhos azuis intensos e brilhantes o olhavam de volta, sua pele, que deveria ser tão macia quanto um veludo e seus lábios carnudos, que, apesar do frio intenso, apresentavam um leve tom rosado. Inevitavelmente, começou a olhá-los fixamente.

Tinha voltado a pensar sobre quão bonita ela era. 

Sabia que aquele pedido não era uma coisa inusitada, era apenas um beijo. Que mal poderia ter nisso? Sua mente divagava para um universo bem distante, voltando a si apenas quando percebeu seus próprios lábios mexerem, sem sua vontade, e escutou sua voz soar distante:

 

-Ok. – Acordou de imediato do transe, se sobressaltando quando percebeu que tinha concordado. Mas, quando a viu sorri largamente de animação, se virando de frente para si, todas as suas dúvidas e conjecturas se esvaíram de imediato, conseguindo pensar apenas no quão maravilhosa ela era.

 

Engoliu em seco, se ajeitando a sua frente, no qual o olhava atentamente, visivelmente nervosa e acanhada, mas ainda assim estava pronta, esperando para saber o que ele iria fazer.

Se era para fazer, então seria do jeito certo.

 Sorriu minimamente de lado, colocando uma mecha do seu próprio cabelo para trás da orelha. Começou a falar, tentando fazer sua voz soar a mais tranquila, apesar de estar sentindo uma forte palpitação em seu peito com o nervosismo que há muito não sentia. Estava até parecendo que seria o seu primeiro beijo também. Fazia muito tempo que não sentia aquela sensação e isso estava o fascinando.

 

-Já que você nunca beijou, penso que deveríamos fazer isso do jeito certo.

 

-E qual é o jeito certo? – Perguntou ingênua, deitando a cabeça de lado, o olhando com curiosidade.

 

Sentiu uma forte vontade de agarrá-la naquele instante, mas se segurou, decidido por seguir seu plano.

 

-Vou te ensinar três tipos de beijos.

 

-Três? Essa é nova para mim. – Disse divertida, parecendo entrar na brincadeira.

 

-Sim, vejamos. O primeiro é conhecido como beijo de esquimó.

 

-Esquimó? Porque tem esse nome? É gelado? – Perguntou fazendo graça e rindo do próprio comentário.

 

-Não, mas acho que deve ser pelo gesto mesmo. Não me pergunte o porquê desse nome, porque não sei. Só sei que é assim.

 

Ela riu mais alto ainda, fazendo com que a acompanhasse.

 

-Tudo bem, senhor especialista. Então, como é esse tal beijo de esquimó?

 

-Você não tem jeito mesmo.

 

-Eu? Mas, foi você que começou a falar isso.

 

-Mas, estou falando sério. Você que começou a rir da minha cara. – Disse em falsa indignação.

 

-Ok, desculpa. – Falou ainda brincando, levantando ambas as mãos em rendição.

 

Não demorou muito para ficar séria, o olhando intensamente dentro dos olhos, mordendo levemente o lábio inferior, nervosa.

Foi um gesto simples, mas, ao mesmo tempo sedutor, quase o tirando do sério. Aquilo era praticamente um atentado ao pudor. Será que ela não percebia que tais atitudes, tão simples e feitas no automático, eram tentadoras?

 

-Tudo bem. Vou relevar só dessa vez. –Falou tentando se manter calmo, apesar de sentir um leve frio, misturado a um formigamento em sua barriga. Acabou voltando ao assunto anterior. – O beijo de esquimó é algo mais.... Como posso te dizer? Simples. Mas, ao mesmo tempo, algo que demonstra um grande afeto. Um amor entre duas pessoas. É um tipo de beijo que uma mãe daria a seu filho. Para demonstrar o quanto ela o ama.

 

Terminou de falar, aproximando seu rosto do dela. Viu seus olhos arregalarem e aquela imensidão azul ficar cada vez maior. Sorriu com o que viu, principalmente, depois de vê-la deixar escapar um leve suspiro, quando relou seu nariz no dela. Sua respiração era quente e agradável de sentir. Tomito parecia estar tremendo, mas não sabia se era de frio ou de nervosismo. Ela nem se quer piscava os olhos, atenta em todos os seus mínimos movimentos.

 

-Assim. – Voltou a falar, a vendo tremer mais forte ainda, com um arrepio.

 

Não hesitou em esfregar seu nariz no dela, com carinho. Não demorou por muito tempo, mas não queria acabar com aquele contato tão próximo, íntimo. Acabou por encostar sua testa na dela, ficando por algum tempo naquela posição, apenas sentido sua respiração quente bater em seu rosto, que, ao mesmo tempo que arrepiava seus pelos do pé à cabeça, o acalmava.

 

-Esse é interessante. – Sua voz soou quase inaudível, chamando sua atenção de volta para a realidade.

 

Mesmo que a contragosto, se afastou, a olhando com carinho, por enquanto que sorria, ajeitando novamente seu cabelo.

 

-Sim, esse é bem diferente.

 

-E qual é o próximo? –Pergunto ansiosa e ávida.

 

Sorriu ainda mais aberto ao perceber que ela tinha gostado e estava esperando por mais. Torcia que fosse isso, pois ele estava amando cada segundo.

 

-Você está me parecendo muito animada. – Falou por fim, brincalhão, dando uma leve piscadela, a fazendo corar ainda mais.

 

-Você me disse que eram três, então... – Não completou a frase, apenas dando de ombros, olhando para os lados.

 

-Você tem razão. Então, sem mais enrolações, vamos para o segundo tipo. Esse é conhecido como selinho. Ele é comum entre casais que se conhecem por um logo tempo, como marido e mulher. Apesar de ser simples, demostra um forte sentimento de amor, companheirismo, lealdade. Esse é o tipo de beijo que demostra todos os sentimentos com apenas um relar de lábios.

 

-Ah, sempre vi meus pais se beijarem assim. Achava muito fofo e romântico.

 

-Bem, é isso que quer transmitir.

 

Ela sorriu o olhando com expectativa.

Voltou a se aproximar, agora colocando seus dedos em seu queixo. Parou quando faltavam alguns milímetros de distância, a olhando para saber o que faria. Quando a viu cedendo, ao fechar os olhos, a imitou, também fechando os seus. Acabou com o espaço que os separava, relando seus lábios no dela. Eram macios e frios, do jeito que se lembrava que eram, quando teve que socorrê-la, mas naquela circunstância, estava preocupado em salva sua vida, por isso não tinha prestado atenção. Mas naquele momento, podia sentir toda a maciez, podia saborear todo aquele momento com calma. Seu coração se acelerou em um rompante, se sentindo ávido e necessitado por aprofundar aquele beijo, aumentar ainda mais o contato. Mas, sabia que deveria esperar um pouco mais, ou poderia assustá-la, e esse não era o objetivo. Naquele momento não se importava consigo, com o que sentia, com o que queria, com o que desejava. Se importava apenas com o que ela queria, com seus desejos. Por isso, iria agir tranquilamente. Queria que ela se sentisse amada, desejada.

Não sabia quanto tempo tinha passado desde que começara o beijo, mas estava amando casa segundo, apesar de saber que era preciso findar o contato. Mesmo desanimado, se afastou, a observando nos mínimos detalhes, tentando ler suas expressões. Estava vermelha, parecendo pegar fogo. Seus olhos ainda estavam fechados e sua respiração acelerada. Viu quando um leve sorriso de canto surgiu em seus lábios, ao mesmo tempo que abria os olhos lentamente. Foi mínimo e rápido, mas o suficiente para deixá-lo suspirando de felicidade. Aquela era a visão mais linda que já tinha visto em toda sua vida.

Sentia-se feliz, eufórico, admirado, surpreso, uma grande mistura de sentimentos. Só sentia que seu coração estava transbordando de alegria.

Sorriu, voltando a falar:

 

-O terceiro tipo de beijo é mais comum entre os recém apaixonados. Que se sentem entusiasmados e eufóricos, ávidos por mais contato e para sentir todas as sensações que seus companheiros podem proporcionar. – Sua voz soava rouca e desejosa, não conseguindo pensar com muita clareza.

 

Aproximou-se novamente, pedindo com o olhar para continuar. Ao receber a confirmação, roçou seus lábios nos dela. Não demorou para começar a movimentá-los, colocando uma de suas mãos em suas costas e a outra em sua nuca, segurando os longos fios negros entre seus dedos. No começo, Tomito estava um pouco tímida, sem saber muito bem o que fazer, mas logo a sentiu o envolver com seus braços delicados, aumentando ainda mais o contato de seus corpos. Estava pegando fogo e extasiado por mais. Pediu passagem com a língua, no qual ela cedeu. Percebeu que ela aprendia rápido, seguindo o ritmo com bastante precisão, o deixando louco. Sentia sua excitação crescer cada vez mais e o frio que sentia antes, não mais existia. O fogo o consumia por dentro, o desejo de tê-la em seus braços e saborear cada parte de seu corpo o inundava.

A empurrou para o lado, indo de encontro com a parede, a imprensando, por enquanto que aumentava cada vez mais o ritmo do beijo, para saciar seu desejo. Ela o seguia sem pestanejar e isso lhe dava cada vez mais confiança para continuar. Seu gosto era inebriante, não conseguindo parar.

Desceu a mão de suas costas para a cintura fina, a segurando com força. Tal contato a fez com que soltasse um gemido através de sua boca. Isso só serviu para deixá-lo mais excitado e louco de desejo. Mas, logo a maldita falta de ar se fez presente, o obrigando a se afastar, mas não antes de morder seu lábio inferior, o puxando com desejo.

Encostou suas cabeças, ainda de olhos fechados, tentando recuperar o fôlego. Sua respiração estava tão descompassada e acelerada quanto a dele. Abriu os olhos, se afastando. A viu o olhar com uma mistura de espanto e desejo. Seus lábios inchados estavam entreabertos e seu peito subia e descia, devido a respiração ofegante.

Itachi puxou o casaco para frente do corpo, na tentativa de ocultar o volume que tinha surgido em sua calça. Seria constrangedor se ela notasse. Precisava urgentemente entrar embaixo de uma água fria, de preferência uma lagoa bem gelada, para o acalmar. Faltou muito pouco para perder a razão e passar dos limites. Nem sabia do que seria capaz se naquele último instante não tivesse se afastado.

 

-Nossa, isso foi intenso e diferente. – Ela disse com a voz baixa e entrecortada.

 

-Bem, espero que tenha atingido a expectativa.

 

-Você nem faz ideia.

 

-Acho melhor pararmos por aqui, já está tarde e você tem que dormir um pouco.

 

-Não, não quero que pare. – Ela falou manhosamente, aproximando seus rostos, o deixando apreensivo.

 

Parou de respirar no mesmo instante, não acreditando no que ouviu, só podia estar delirando, porque aquilo era impossível. É claro que já teve mulheres lhe insinuando interesse, mas nunca de forma verbal e tão direta como aquela, principalmente, por saber que ela nunca tinha feito aquilo. Isso o deixou muito preocupado. Era o que mais desejava naquele momento, apesar de estar em um conflito interno, por enquanto, que a olhava com intensidade. Seu corpo dizia para que sim, mas sua mente, apesar de quase estar cedendo à vontade, ainda tinha um resquício de racionalidade.

 

-Acho que não é uma boa ideia. Você pode acabar se arrependendo e não vai ter mais volta. – Disse quase cedendo, pois, a desejava como nunca. Ela era linda e apaixonante e o queria tanto quanto ele a queria.

 

-Não precisa se preocupar com isso. Eu sei muito bem o que acontece, sou enfermeira. Mas, não me importo. A única coisa que quero é você. Eu quero você. – Terminou de falar o beijando novamente com carinho, logo começando a aumentar a intensidade.

 

Tinha medo que ela se arrependesse e não queria que isso acontecesse, por isso tinha se refreado até aquele momento, mas ao escutar aquelas últimas palavras, associado ao beijo, fez com que seu lado racional fosse totalmente reprimido, e seu desejo, que antes era grande, agora explodisse. A queria totalmente para si, em seus braços, nua a gemer seu nome.

Acabou se deixando levar por todos aqueles toques quentes e desejosos. Quando deu por si, já tinha a deitado no chão, sobre os lençóis que tinha achado mais cedo, ficando por cima dela. Sabia que naquele momento se quisesse, teria parado, mas tal ideia nem passou por sua cabeça, continuando a beijá-la. Mandou tudo para o inferno. Se fosse para ter um pouco de felicidade, que fosse naquele instante.

As línguas dançavam em um ritmo alucinante, apesar do frio, os corpos estavam em chamas devido ao beijo, quente, erótico e avassalador.

Itachi tentou se controlar ao máximo, seu membro já latejava de desejo, ficando completamente dolorido, implorando para ser liberto, mas não queria apressar as coisas, embora estivesse bem perto de enlouquecer com aquela garota.

 

-Eu acho melhor pararmos, se passarmos daqui não sei se poderei me controlar - disse ofegante, recobrando um pouco da sanidade que achava ter perdido a um bom tempo.

 

-Já disse que não quero que pare, eu quero você. – Falou manhosa, sorrindo de canto, com uma expressão sedutora estampada na face.

 

E foi com essa visão que sua mente explodiu e o pouco de sanidade que lhe restava desapareceu como pura mágica. Iniciaram outro beijo luxurioso, muito mais quente que o anterior. Era uma verdadeira dança erótica, as mãos, logo ganharam vida, ávidas por descobrirem cada vez mais um dos outros. Tomito enroscou as mãos em seu pescoço, passando a brincar com as longas madeixas, deixando o jovem cada vez mais arrepiado. Ele, por sua vez, passeava as mãos fortes e ágeis por toda a extensão das coxas torneadas, levantando aos poucos o vestido e sentindo toda a maciez da pele da jovem, essa que já havia o levado a loucura com simples frases e movimentos.

Por onde passavam as mãos deixavam um rastro de fogo. Itachi foi descendo o beijo para toda a extensão do pescoço, passando a dar lambidas e mordidas, que com certeza deixaria marcas, mas ele não estava interessado em nada naquele momento que não fosse satisfazê-la, dar a ela o maior prazer possível. Arrancava suspiros e longas arfadas da jovem, que ficava cada vez mais ensandecida devido à avalanche de sensações de seu corpo.

Foi deixando o pescoço, mas sem nunca separar seus lábios da pele quente da moça. Retirou o casaco, abrindo os botões da parte de cima do vestido, para ter livre acesso a seus ombros desnudos. Foi beijando cada detalhe, até chegar ao vale dos seios e admirou-se. Viu os bicos rosados e intumescidos de prazer, e salivou no mesmo instante. Logo levou a boca àquele lugar, chupando, mordiscando e lambendo, e admirou-se do quanto eram perfeitos e lindos. Tomito estava extasiada com a sensação de seus lábios a saboreá-la. Soltava leves gemidos, entorpecida, procurando cada vez mais contato. Jogou o pescoço para trás, lhe dando livre acesso, que continuava o trabalho em seus seios, com a boca em um e a mão massageando o outro.

Com a mão livre, Itachi percorreu a barriga lisa, chegando aonde tanto almejava, e grunhiu vendo o estado da pequena. Sua pequena. Tão linda e já tão encharcada. Controlou ao máximo a vontade de arrancar o vestido por completo e a roupa de baixo, para enterrar-se com tudo e com força dentro dela. Mas, apenas se limitou a abrir o restante do vestido, o tirando com delicadeza, por enquanto que beijava novamente seus lábios. Logo depois, a deitou com gentileza, desamarrando o laço de sua peça íntima, que se assemelhava a uma pequena sai de cetim bege. Não demorou muito para tirá-la, deixando a amostra o que mais queria. Começou a passar uma de suas mãos naquela região, observando suas expressões faciais, que o deixavam cada vez mais excitado.

 

-Hum, parece que alguém está gostando. - Disse por enquanto que massageava o ponto sensível, vendo Tomito contorcer-se e resmungar quando, de próposito, parava o movimento.

 

-Pare de me torturar desse jeito... eu não aguento mais... quero você... por favor. - Respondeu num sussurro de gritou, quando Itachi sugou e mordiscou seu ponto sensível.

 

-Calma, eu quero que você sinta todo o prazer do mundo. Deixe de ser apressada.

 

E continuou a tortura.

 Mas já estava ficando impossível, seu membro implorava por alívio e ele mesmo não aguentava mais. Subiu novamente, beijando aqueles lábios convidativos, suas intimidades se chocaram, e quando ela instintivamente rebolou abaixo de si, ele percebeu que era hora de tomá-la.

Afastou-se minimamente, se colocando sentado, retirou o casaco e a parte de cima da farda, o mais apressadamente possível, por enquanto que era observado. Tirou a blusa branca, ficando com o tronco exposto. Deitou-se novamente, voltando a beijá-la por enquanto que massageava seus belos seios, fazendo com que voltasse a rebolar embaixo de si, por enquanto que passava as mãos sobre seu abdome. Sorriu minimamente, afastando-se novamente. Tomito fez um bico de indignação, chateada pela falta de contato. Ele também não queria parar, mas tinha que se livrar das últimas peças de roupa. Levantou-se rapidamente, abrindo as calças, as tirando, juntamente com sua cueca, ficando nu. Seu membro finalmente estava livre e pronto para saciá-la.

Deitou-se novamente, voltando a beijá-la com intensidade, suas intimidades se chocaram novamente, agora de forma mais intensa e alucinante. Tomito estava vermelha de vergonha, devido a sua nudez. Sabia que isso iria acontecer, limitando-se apenas beijá-la com carinho na face, com leves selinhos românticos, na tentativa de tranquilizá-la. Conseguiu com que ela deixasse um leve sorriso transparecer em seu rosto, mostrando que estava mais relaxada. Não se aguentava mais, precisava tomá-la para si naquele instante ou enlouqueceria. Afastou suas pernas, se posicionando em sua entrada, e a beijando novamente, inquiriu:

 

-Você está pronta? Não está com medo? – Disse por enquanto que pincelava sua entrada.

 

Por pouco não entrou com tudo, quando ela se mexeu novamente.

 

-Estou. Eu quero ser sua.

 

-Se doer me avise que eu paro, ou tento parar. –Sua voz estava rouca e quase inaudível.

 

 Queria continuar o mais rápido possível, mas também queria ter a certeza de que Tomito estava se sentindo bem e segura.

 

-Tudo bem, eu confio em você Itachi, sei que não vai me machucar.

 

E assim, com seu consentimento, foi avançando, sentindo a cavidade apertada sugar seu membro. Sentiu a pequena barreira e forçou novamente a entrada. Viu uma careta de dor por enquanto que sentiu unhas cravarem em suas costas. Parou no mesmo instante, ficando imóvel para que ela pudesse relaxar e se acostumar com a nova sensação. Passados alguns segundos, que para ele foi uma eternidade, recebeu o sinal para que pudesse se mexer, ao ver seu rosto se relaxar e seus olhos se abrirem e a luxúria, e desejo se apoderarem de sua face. Ela rebolou o incentivando a continuar. Ele começou o vai e vem, ora lento, ora mais profundo. Quando a ouviu soltar um gemido mais alto, demonstrando todo o prazer que estava sentindo, não se controlou mais, passou a dar investidas rápidas, fortes, e cada vez mais profundas, sentido aquele interior quente, e tão apertado a espremer seu membro tão duro.

O suor escorria por todo seu corpo, suas costas eram arranhadas, e o único som que se ouvia era os de seus corpos se chocando com fúria, em um vai e vem desenfreado. Ela gemia cada vez mais alto e ele arfava. Sentiu seu membro ser apertado e quase gozou.

 

-Itachi...eu, vou... – Ela gaguejou palavras desconexas e falhas e ele intensificou ainda mais as estocadas.

 

Em um grito, ela desmanchou-se num orgasmo avassalador, sentindo todo o alívio que seu corpo desejava. Com mais algumas estocadas, Itachi deixou-se aliviar, gozando com prazer, por enquanto que a beijava com fúria.

Não conseguiam respirar com facilidade, devido a todo o esforço físico e cansaço. Ficou na mesma posição por algum tempo, ainda dentro dela, procurando se recuperar. Ela fazia o mesmo, ainda o abraçando, como se o usasse como amparo.

 

-Obrigada. – Ela disse depositando um leve selinho em seus lábios, que a seu ver foi o melhor beijo de todos, pois, estava carregado de vários sentimentos, o deixando feliz.

 

Ao se recuperar um pouco, se retirou de dentro dela, deitando a seu lado. A olhou, vendo seus olhos semicerrados, quase entregue ao sono. Sorriu por isso. Quase não tinha feito nada, mas já tinha a cansado. Se tivesse outras vezes, não a daria sossego com tanta facilidade, mas naquele momento ela merecia. Ele também merecia, estava exausto e sentia todo o peso do cansaço recair sobre seu corpo. Seus olhos começaram a fecha, e sono o preencher, mas não antes de esboçar um sorriso bobo nos lábios.

 

[...]

 

Acordou assustado. A claridade importunava suas vistas. Balançou a cabeça na tentativa de mandar o sono para longe. Já tinha amanhecido e a nevasca da noite passada, parado. Levantou-se minimamente, apoiando o tronco no braço, amaldiçoando-se por ter dormido. Percebeu que estava sem a parte de cima de sua farda, logo vendo que por baixo daquele lençol, estava completamente nu. Olhou para o lado, vendo Tomito deitada de costas para si, com seus cabelos caindo por seu rosto e costas nuas. Lembrou-se de imediato do que tinha acontecido, não evitando um sorriso bobo. Sentia-se feliz como nunca antes sentiu. Aquela noite tinha sido a primeira vez que tinha amado alguém com tanta intensidade e sinceridade. Sua mente estava em um turbilhão com tantos pensamentos, todos eles relacionado à noite incrível que teve.

Percebeu que Tomito ainda dormia e não queria acordá-la, pois, deveria estar cansada. Levantou-se, tentando fazer o menor ruído possível, vestindo a roupa o mais silenciosamente. Pegou o rifle que estava encostado na parede desde a noite anterior, começando a descer os escombros, para chegar a rua, na intensão de fazer uma ronda. Aquela era uma bela de uma desculpa. Precisava apenas colocar os pensamentos no lugar. Ela tinha tomado todas as atitudes e o surpreendeu bastante, mas agora, como homem, era seu papel de tomar as próximas decisões. Precisava pensar com bastante cautela para adotar as medidas certas. Iria a pedir em namoro? Isso seria o mais certo a se fazer, mas também sabia que podia ser uma atitude precipitada e talvez estivesse cedo para tal coisa. Poderiam continuar agindo como amigos até ter total certeza do que sentia e, principalmente, o que ela sentia. Apesar de saber que o que fizeram não era algo que amigos faziam.

Suspirou, deixando a fumaça formar diante de seus olhos. Aquela manhã estava muito fria. Pegou o último cigarro, o acendendo, tragando aquela fumaça, na tentativa de relaxar, para poder pensar com mais clareza o que aconteceria a seguir. Sabia que não seria ele a decidir. Tudo estava nas mãos de Tomito. Se ela decidisse por ficarem juntos, tinha toda a certeza que aceitaria de muito bom grado a proposta.

Sorriu com a ideia.

Acabou se lembrando de Sasuke, que se o visse agindo assim, provavelmente iria encher seu saco, o chamando de menininha apaixonada e sonhadora. Mas, isso não importava, porque no final das contas, era verdade. Ele estava apaixonado pela morena de olhos azuis.

Sorriu com a ideia.

Viu um brilho fraco e dourado no chão a sua frente. Aproximou-se, tirando do meio da neve um pequeno medalhão, com a imagem de um anjo. Não sabia qual era, mas tinha uma leve ideia que deveria ser algum arcanjo. Achou bonito e que deveria combinar com Tomito. Decidiu levar para ela, achava que iria gostar.

Andou por mais alguns minutos, perdido em pensamentos. Aquela ronda era uma desculpa, já que não prestava atenção em nada.

Resolveu voltar para a casa, não demorando muito para chegar. Ao subir até a sala, viu que ela ainda dormia. Sentou-se na beirada, a olhando dormir.

Não demorou muito para ela começar a se mexer, logo acordando. Parecia estar perdida, assim como ele, quando tinha acordado. Mas, quando seus olhos se encontraram e ela percebeu sua nudez, acabou ficando tão vermelha quanto um tomate. Subiu o lençol, que a cobria até seus ombros, na tentativa de ocultar-se.

 

-Bom dia. – Falou sorrindo, sem desviar o olhar.

 

-Bom dia. – Ela falou, olhando a sua volta a procura das roupas.

 

Apenas apontou para o sofá, onde Tomito tinha deixado suas roupas secando. Ela olhou na direção, ponderando sobre o que fazer por alguns instantes, logo depois o olhando, falou:

 

-Você podia me dar licença? Para que eu possa me trocar.

 

Sorriu com a timidez evidente. Ela estava com vergonha dele a ver se trocando, sendo que fazia poucas horas desde que tinha visto todo o seu corpo nos mínimos detalhes, e principalmente, o tocado.

 

-Claro. – Disse dando de ombros, saindo novamente da casa.

 

Se queria privacidade naquele momento, ele a daria. Até porque, sabia que tal atitude era bem normal, só estava com vergonha.

Ficou parado na rua, remexendo na neve a sua volta, esperando por ela. Não demorou para a ver tentando descer os escombros. Foi em sua direção, a ajudando. Ela sorriu em agradecimento. Tinha voltado a vestir suas velhas roupas sujas e surradas, deixando o vestido para trás. Achava que era bem melhor assim, porque os dias iriam ficar bem mais frios e aquele vestido deixava muito exposta sua pele.

 

-Já está tarde. Porque não me acordou? – Ela o questionou cobrindo os olhos da claridade, olhando a sua volta.

 

 

-Eu mesmo acabei acordando tarde e pensei que podia te deixar dormindo um pouco mais. Até porque, fomos dormir bem tarde.

 

Ela ficou rubra de imediato com o comentário, desviando o olhar.

 

-Ok, então vamos continuar agora.

 

-Claro, mas antes de ir, gostaria de te falar uma coisa.

 

Ela o olhou desconfiada, com os olhos semicerrados. Seu constrangimento era evidente.

 

-Não precisa se obrigar a nada. – Ela disse em um rompante, parecendo desesperada.

 

-Não estou me obrigando a nada, na verdade, só queria falar do que aconteceu.

 

-Está tudo bem. Você não precisa falar nada, é sério. Você não precisa se obrigar a ter um compromisso comigo. Só por causa do que aconteceu. Na verdade, acho que a melhor opção para nós dois é esquecermos o que aconteceu.

 

-O que? – Falou surpreso com o que tinha escutado.

 

Ela queria esquecer? Deixar de lado? Fingir que nada tinha acontecido? Essa ideia era absurda. Ele não podia simplesmente esquecer, era impossível. Nunca se esqueceria. Mas, ela estava parada na sua frente, falando aquilo, de forma tranquila, como se tratasse de algo banal, sem importância alguma.

Ficou magoado no mesmo instante, a olhando incrédulo.

 

-Como assim, esquecer?

 

-Só estou querendo dizer que você não precisa se preocupar. Não vou ficar achando que devemos ter algum compromisso só porque dormimos junto. Até porque, só foi um desejo meu, nada demais. Então, apenas vamos continuar em frente e fingir que nada aconteceu.

 

Nada demais? Era isso que ela achava? Que não tinha acontecido nada demais? Estava indignado, se sentindo usado. As palavras entalaram em sua garganta, não conseguindo proferi-las. Não estava acreditando no que ouvia. Sentiu uma forte dor em seu coração. Ele doeu mais do que quando Izumi tinha lhe dito que não poderiam ficar mais juntos. Doeu muito mais do que quando percebeu que era um maldito monstro que matava pessoas. Doeu mais ainda do que quando viu seus pais serem assassinados na sua frente. Aquelas palavras cravaram fundo em sua alma, o dilacerando por dentro.

Nada disse, ficando apenas parado no lugar, a olhando se afastar. Suspirou em descrença, se sentindo o maior dos idiotas. Tinha se deixado levar e agora, mais uma vez, sofria por um amor não correspondido. Mas, dessa vez era bem pior, porque sabia que era algo que podia ter se tornado real.

Deixou o medalhão cair de suas mãos, indo para o chão, desistindo de entregá-la. Estava furioso e, com certeza, não ia deixar aquilo barato. Ela tinha o usado e tinha o direito de saber o porquê. Estava disposto a infernizá-la até ter uma resposta satisfatória.


Notas Finais


Esperou que tenham gostado.
Primeira, gostaria de agradecer a @NanaNamikaze que me ajudou muito nesse capítulo na parte do hentai. Muito obrigada! Você arrasou.

Segundo: caso queira participar do grupo é só clicar no link: https://chat.whatsapp.com/IKOKa39u4iA6zAtTJEdsgG

Te espero lá.

Me digam o que estão achando, vou adorar ler e responder.

Notas:

1) Vrigne-aux-Bois é uma comuna francesa na região administrativa de Grande Leste, no departamento das Ardenas. Em 2010 a comuna tinha 3433 habitantes.

Até a próxima!


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