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História Os Fantasmas de Elizabeth - Prologue


Escrita por: alliceadams

Notas do Autor


Oi meu povo!!!
Que saudades eu estava de vocês.
Desculpem pelo enorme sumiço - quase um ano sem postar nada, podem me bater eu mereço - mas, é que eu estava planejando essa fic durante esses meses, não queria entregar qualquer coisa à vocês, pois como todo mundo sabe, isso aqui não é apenas uma brincadeira pra mim, eu sempre procuro dar o meu melhor em tudo o que faço e nesse caso não seria diferente. Se valeu a pena ou não esperar, só vocês poderão dizer ai nos comentários.
Já logo aviso que essa fanfic vai ser curtinha, o que foge totalmente do que costumo postar, já que sempre opto por fanfic´s longas. Enfim, ela terá no máximo quinze capítulos.

Notas:
- Elizabeth (Helena Bonham Carter).
- Morgana (seria a Mackenzie Foy pequenininha).
- Matthew (Colin Firth).
- Obrigada a minha amiga Ingrid por me ajudar na capa do capítulo e a Bia pela capa da história.

Capítulo 1 - Prologue


Fanfic / Fanfiction Os Fantasmas de Elizabeth - Prologue

Prologue

Ano de 1980

Era final de tarde, a sala de aula estava em um silêncio mortal, o único barulho que se podia ouvir eram os pingos de chuva batendo sobre o vidro da janela. Uma menina estava sentada toda encolhida no chão no fundo da sala. Já se fazia um bom tempo que ela estava daquela forma, com o rosto enterrado em suas mãos e os olhos cheios de lágrimas. Passaram-se mais alguns minutos de completo silêncio até que, atordoada, a garota levantou-se do chão e retirou-se do recinto.

A pequena Elizabeth atravessou os longos corredores do colégio de forma lenta se escorando às paredes, cabisbaixa. Os olhos cheios de lágrimas. Era sempre assim. Toda vez que ia para a instituição, no final da aula Liz sempre acabava sentada no fundo da sala afogando-se em lágrimas. Por mais que ela fosse boa com as pessoas; as mesmas insistiam em magoá-la. Era como se eles tivessem prazer em vê-la constrangida e humilhada.

Elizabeth continuou caminhando lentamente pelos corredores em direção ao pátio externo do colégio. Como as aulas já haviam acabado aquele dia, Liz finalmente estava livre para poder ir para a casa. Assim, que o ar gelado tocou sua pele, seu corpo tremeu incontrolavelmente.

Com os lábios arroxeados e trêmulos por conta do frio, Elizabeth fez seu caminho de volta para a casa. Não demorou muito para que chegasse a sua residência, já que a mesma ficava apenas algumas quadras dali. Após alguns minutos, Liz subiu a sacada de sua casa e girou a maçaneta; a porta estava destrancada.

Elizabeth entrou em sua aconchegante casa, ou pelo menos deveria ser; para Liz se a escola era assustadora sua própria casa era pior. Seu pai era uma pessoa muito egocêntrica que só se preocupava consigo mesmo, mas por outro lado sua mãe era um doce de pessoa. Elizabeth era a filha única do casal; fora fruto de uma gravidez indesejada, pelo menos da parte de seu pai, ele queria que fosse um menino. A garota desde sempre fora muito ridicularizada por seu pai, assim, como a sua mãe. As duas eram maltratadas pelo homem por conta dos transtornos mentais que ambas sofriam.

Liz subiu as escadas sem fazer barulho, com medo de seu pai aparecer e brigar com ela por qualquer coisa como sempre fazia. A menina de cabelos castanhos claros terminou de subir os últimos degraus correndo, queria chegar o mais rápido possível em seu quarto, ele era seu refúgio, em sua pequena cabecinha bagunçada seu quarto era como uma rota de fuga, para ela estando dentro daquele cômodo nenhum mal poderia lhe acontecer; o que já fora sido comprovado o contrário pelos ”fantasmas”, mas Elizabeth era apenas uma criança, tinha quinze anos de idade; aquele era o único canto da casa que ela poderia chamar de “seu” e de alguma forma surpreendente seu pai “respeitava” isso, na verdade ele tinha medo do que iria encontrar no quarto da filha por conta dos problemas mentais que a mesma sofria.

Elizabeth entrou em seu quarto as pressas, fechando a porta com tudo. Ela se recostou na madeira escura e ofegou por ar. Seu peito subia e descia de forma rápida e seu coração batia forte e acelerado contra seu pequeno corpo. Os olhos escuros de Elizabeth vaguearam ao redor do quarto até repousarem em uma das muitas prateleiras que havia na parede. Um sorriso largo se formou no rosto pálido da menina ao ver sua boneca preferida; Margot; que estava em cima da prateleira junto a bichos de pelúcias e outras bonecas.

Liz jogou sua mochila de qualquer jeito no chão e correu na direção da prateleira. Ela pegou Margot em seus braços e sentou-se com as pernas em posição w no centro da cama. Elizabeth passou a conversar distraidamente com sua boneca que mal percebeu que a porta de seu quarto havia sido aberta. Charles teve um ataque de fúria ao ver a filha conversando com uma boneca como se fosse uma pessoa que tivesse sentimentos. Sem pensar e de forma rápida, o homem se aproximou da garota e arrancou a boneca de suas mãos.

- O que pensas que estais fazendo, Elizabeth?!

O homem esbravejou, cuspindo saliva na direção da filha por conta de sua enorme raiva. Liz apenas olhou para o pai com um olhar assustado, aos poucos as lágrimas começavam a se acumular no canto de seus olhos escuros.

- Por quê?! Por que não pode ser normal igual às outras pessoas? Santo Cristo, por que me amaldiçoaram com essas duas mulheres inúteis?!

Charles continuou brigando com a filha, e ao final da última frase ele inclinou a cabeça para trás e levou as duas mãos ao seu rosto balançando de um lado para o outro; indignado. Ainda com a boneca de Elizabeth em uma das mãos, o homem virou-se para poder sair do quarto e deu de cara com sua esposa parada no batente da porta.

- Isto é culpa sua!

Ele disse apontando o dedo indicador na frente do rosto de Olívia, sua voz no mesmo tom de quando falou com a filha.

- Esses malditos genes são seus! Seus e da sua família; sangue-ruim! Aonde eu fui me meter ao me casar com você?!

Ele empurrou a mulher para o lado e se retirou do quarto, logo podia ouvir os gritos de Elizabeth atrás de si. A garota berrava com os olhos cheios de lágrimas para que Charles devolvesse sua boneca, mas tudo que o homem fez foi jogar a boneca dentro de uma portinha na parede e esconder a chave.

Elizabeth voltou correndo para seu quarto, ignorou a mãe que ainda estava na porta do cômodo. A garota fechou a porta e a trancou, logo caindo no chão, enterrando o rosto em suas mãos.

Ano de 1984

Era primavera; aos seus dezenove anos de idade, Elizabeth havia sido aceita em uma ótima universidade aonde cursaria teatro. Estava tudo indo bem para a jovem, os fantasmas haviam sumido e finalmente seu pai estava começando a sentir orgulho dela.

Liz estava muito ansiosa e nervosa, pois no dia seguinte seria seu primeiro dia de aula na tal renomada universidade. Elizabeth nunca teve uma boa experiência com escolas, às pessoas sempre a maltratavam e, ela acabava virando a maior piada da sala de aula. Mas, desta vez, seria diferente. Ela não era mais uma criança e as pessoas que conheceria provavelmente seriam bem mais maduras.

A morena terminou de banhar-se e retirou-se do banheiro já vestida com sua camisola lilás favorita. Ela ajustou seu despertador de cabeceira para às seis da manhã e deitou-se debaixo dos cobertores. Não demorou muito para que Elizabeth pegasse em um sono profundo, já que o dia havia sido muito cansativo com a visita de um casal de amigos do seu pai. Eles tinham dois filhos gêmeos de sete anos de idade. Liz adorava crianças, mas aqueles meninos eram dois capetas.

•❁•

Assim que o despertador tocou, Elizabeth levantou-se da cama e caminhou diretamente para o banheiro. A jovem fez sua higiene matinal; tomou um banho para poder despertar e saiu do cômodo já vestindo a roupa que usaria para ir para a universidade. Liz pegou sua mochila de pano florido e desceu as enormes escadarias da mansão em direção à sala aonde acontecia o café da manhã, almoços e jantares. A morena cumprimentou seus pais e logo tomou seu assento na grande mesa.

O café da manhã seguiu-se em completo silêncio, que acabava se tornando algo extremamente irritante. Liz, logo, terminou de comer e se levantou da mesa. Ela saiu de casa, e entrou em um dos muitos carros do seu pai, logo o motorista deu partida no veículo rumo à universidade que ficava um pouco longe da mansão Lavenza.

Foram ao todo trinta minutos para poder chegar em frente à instituição. Assim, que, o carro parou, Elizabeth saltou para fora do mesmo e atravessou o extenso gramado em direção à escada que dava acesso ao prédio da universidade. Havia diversos alunos espalhados ao longo do campus de bobeira, pois ainda não havia batido o sinal. Agarrada aos seus livros, Lizzie caminhou cabisbaixa, evitando olhar para as pessoas. Talvez se ela andasse mais rápido ninguém a notasse. Então, sem pensar duas vezes, a morena apressou seus passos. Estava tudo bem até que ela chegou perto da escadaria. Liz parou de andar ao ouvir risos surgir do seu lado esquerdo. A jovem jogou seu cabelo comprido para frente de seu rosto e subiu as escadas correndo.

- Qual o problema de vocês? Parecem que são crianças do ensino fundamental.

Disse um rapaz de cabelo castanho que estava junto ao grupinho de pessoas que estavam rindo de Elizabeth, mas a mesma já estava um pouco longe, então, não conseguiu ouvi-lo.

- Desde quando você é tão sensível?

Zombou outro homem que estava ao lado. O jovem de cabelos escuros bufou alto e subiu às escadas atrás da garota que havia saído correndo dali a alguns minutos atrás.

- Ei! Por favor, espere.

Disse assim que encontrou a garota caminhando por um dos grandes corredores da universidade. Ao ouvir a voz do rapaz ao longo do corredor, Elizabeth apressou seus passos, até que ela estava correndo para longe dele.

- Por favor, podemos conversar?

Liz sentiu um puxão, em seguida de um aperto, em seu braço esquerdo. Relutante, a morena olhou por cima do ombro para poder encarar o rapaz. Ele automaticamente soltou seu braço e, ela virou-se em seus calcanhares.

- Hum... Eu me chamo Matthew. Desculpe-me pelo comportamento infantil daqueles sem noção.

Matt disse com um sorriso. Liz piscou algumas vezes, enquanto olhava para baixo, um sorriso tímido em seus lábios. Típico de Elizabeth, ela sempre agia desta forma quando está envergonhada.

- Elizabeth.

Ela disse ao erguer o olhar na direção do rapaz. A jovem esticou sua mão e recebeu um leve beijo na mesma.

- Você é aluna nova, certo?

Ele perguntou e ela apenas assentiu com um balançar de cabeça.

- Que curso irá cursar?

- Teatro.

- Nossa!

Exclamou ele surpreso.

- Nunca conheci alguém que gostasse de teatro. Talvez por culpa dos meus pais.

- Bem, se me permite, que curso você faz?

- Direito. Era isso ou medicina.

Ele riu fraco e Liz sorriu. Matthew ficou encarando Elizabeth por um tempo. Não conseguia entender porque estava sendo gentil com ela, normalmente ele costumava ser quieto e muito frio em relação aos seus sentimentos. Mas, com ela ele não conseguia agir desta forma.

- Se você quiser posso acompanha-la até a sua sala.

- Seria muita gentileza sua. Muito obrigada.

Ela disse com um sorriso. Liz entregou o papel com seu horário de aulas nas mãos do rapaz e  logo os dois saíram dali em direção a sala de Elizabeth.

Ano de 1997

Era uma manhã fria de inverno, porém não havia nenhum sinal de chuva. Um ótimo dia para fazer um piquenique. Elizabeth estava terminando de enfeitar os cupcakes com chantilly e granulado, quando de repente:

- Peguei você, mamãe!

A voz fina de Morgana soou ao lado de Elizabeth. Um sorriso largo se formou no rosto da mulher, mas logo sumiu para dar lugar a uma expressão chocada ao sentir os dedos pequenos de Morgana passar por seu nariz o sujando de chantilly.

- Oh meu Deus!

Liz exclamou pegando pano de prato e limpando a sujeira de seu rosto. Morgana gargalhava histericamente. A mulher mais velha virou-se para sua filha e com um sorriso a puxou para um forte abraço.

- Bom dia, minha bruxinha levada.

A morena sorriu e deu um beijo em uma das bochechas rosadas de Morgana.

- Não sou uma bruxa.

Ela fez beicinho, cruzando os braços.

- Nem a bruxinha da mamãe?

- Da mamãe sim.

Elizabeth riu e abraçou a pequena um pouco mais apertado.

- Eu amo você, minha filha. Muito.

- Também te amo, mamãe.

- Bem, agora, deixe-me terminar o que eu estava fazendo querida. Suba para o seu quarto e me espere; que já irei lhe ajudar a se arrumar, huh?

Morgana assentiu com um balançar de cabeça e saiu da cozinha em direção à escada. A garota subiu os degraus e foi para seu quarto como sua mãe havia mandado. Elizabeth voltou a decorar os cupcakes. Assim que terminou, a mulher arrumou a cesta de piquenique e saiu da cozinha. Liz subiu as escadas e atravessou o corredor em direção ao quarto de Morgana.

- Desculpe a demora meu amor.

Disse Liz ao chegar em frente a porta do quarto de sua filha. A mulher entrou no cômodo e foi em direção ao guarda-roupa. Ela abriu as portas pesadas do mesmo. Logo Elizabeth puxou um vestido; meias e um casaco escuro bem grosso; de dentro do guarda-roupa. A mulher fechou as portas do móvel novamente e se aproximou de Morgana que estava sentada na beirada da cama.

- Querida não podemos demorar muito, seu pai já deve estar chegando. Tire seu pijama, huh?

A pequena assentiu e logo puxou a camisola sobre sua cabeça. Morgana tremeu quando o ar frio do quarto atingiu sua pele que era extremamente sensível. Elizabeth não demorou muito e começou a vestir a pequena. Assim que Morgana colocou o último braço dentro da manga do casaco, a mulher a puxou para um abraça e em seguida beijou o topo de sua cabeça.

- Obrigada mamãe!

Disse Morgana e Elizabeth sorriu sem mostrar os dentes.

- Bem, agora eu  irei até o meu quarto para me arrumar antes que seu pai chegue.

A mulher mais velha disse se dirigindo até a porta do quarto. Morgana apenas assentiu com um balançar de cabeça e voltou a sentar-se na beirada da cama.

•❁•

- Cheguei!

Disse Matthew assim que entrou em casa enquanto fechava a porta atrás dele.

- Elizabeth? Morgana? Tem alguém ai?

Ele pendurou seu casaco no mancebo e afastou-se da porta, caminhando em direção à escada. O homem olhou ao redor e franziu as sobrancelhas. Normalmente, Morgana apareceria correndo e pularia em cima dele, mas desta vez não. Relutantemente, ele subiu os lances de escada, percorreu pelo corredor e parou em frente à porta do quarto que dividia com sua esposa.

- Lizzy... Está aí?

Ele perguntou antes de entrar no cômodo.

- Olá!

Elizabeth respondeu assim que abriu a porta de madeira. Um lindo e grande sorriso estampado em seu rosto pálido.

- Está pronta?

A mulher assentiu com um balançar de cabeça e saiu de dentro do quarto.

- Irei chamar Morgana.

Ela disse sorrindo e atravessou o longo corredor em direção ao quarto de sua menina. Elizabeth parou no batente da porta e torceu o nariz ao olhar para dentro do cômodo. Morgana não estava no quarto. A mulher virou-se em seus calcanhares e voltou para o lado do marido que ainda estava parado no meio do corredor.

- Ela não está no quarto.

Lizzy fez careta enquanto coçava a parte de trás da cabeça em confusão.

- Deve estar escondida por aí. Ela sempre faz isso.

Matthew riu fraco e segurou Elizabeth levemente pelo braço e a guiou em direção à escada.

- Vamos querida; vamos deixá-la aqui sozinha já que ela fica se escondendo.

Ele disse em tom alto e a mulher franziu o cenho.

- O que você está fazendo?

Ela sussurrou contendo-se para não rir.

- Não!

Um grito fino surgiu atrás deles.

- Vocês não podem me deixar aqui sozinha.

Resmungou Morgana fazendo beicinho, com os olhos lacrimejantes prestes a chorar. Elizabeth riu baixo e caminhou até a menor. Assim que a mulher se aproximou de sua filha, a mesma a puxou para os seus braços a abraçando com força.

- Shh... Está tudo bem meu amor. Nunca que a mamãe iria lhe deixar aqui sozinha.

Lizzy afagou os cabelos emaranhados da pequena com uma de suas mãos enquanto a outra alisava suas costas.

- Mas, o papai disse que vocês iam sair e me deixar aqui sozinha.

Ela fungou esfregando os olhos com o dorso das mãos.

- Ele estava apenas brincando, querida. Uma brincadeira de muito mau gosto, eu sei.

Matthew riu baixo e se aproximou de sua esposa que ainda abraçava Morgana.

- Podemos ir?

Ele perguntou e a mulher assentiu com um balançar de cabeça. Os três desceram a escada e assim que eles pararam no hall de entrada, Elizabeth soltou a mão de sua filha e dirigiu-se em direção à cozinha, pegou a cesta de cima da mesa e voltou para o lado de Matthew. Logo eles saíram de casa e juntos caminharam pelas ruas de Banff em direção ao parque que ficava próximo à casa da família.

Passaram-se em torno de vinte e cinco minutos de caminhada até finalmente chegarem ao local que era um pouco afastado da cidade, perto de uma floresta imensa com árvores enormes cobertas por neve. Morgana rapidamente soltou a mão de Elizabeth e correu pela grama e jogou-se sobre um montinho de neve, contorcendo-se sobre a mesma a fim de fazer a forma de um anjinho; um sorriso largo iluminando o seu rosto pálido e delicado. Lizzy sorriu e aproximou-se da filha a pegando pela mão para que se colocasse de pé novamente.

- Vamos comer primeiro, depois você pode ir brincar.

A mulher disse após dar um beijo na testa da menina. As duas voltaram para perto de Matthew que já havia estendido a toalha de mesa no chão e estava sentado sobre a mesma. Liz sentou-se ao lado do marido e Morgana sentou-se em frente aos seus pais. A pequena pegou um bolinho de dentro da cesta e colocou metade do mesmo na boca. Ela praticamente engoliu a comida, levantou-se da grama e recebeu um olhar severo de Elizabeth. Logo ela sentou-se novamente e comeu o resto do bolinho.

- Coma devagar.

Repreendeu Matthew.

- Desculpa...

Murmurou Morgana em tom baixo. Elizabeth apenas assentiu com a cabeça.

- Quer suco de morango?

- Sim, por favor.

A mulher pegou a garrafa térmica de dentro da cesta, despejou um pouco do líquido em um copo e o entregou à sua filha. Morgana bebeu um gole de suco e colocou o copo na grama sobre toalha. Lizzy afastou o objeto para o lado e puxou a pequena para um abraço.

- Está tudo bem, huh? Só não faça mais isso, poderia ter se engasgado.

A mulher sussurrou. Morgana assentiu e deitou a cabeça no ombro de Elizabeth.

- Pode ir brincar agora.

A garotinha sorriu largo e se desvencilhou dos braços de sua mãe indo brincar nos montinhos de neve que estavam espalhados pelo gramado do parque. Elizabeth virou-se para o lado e encarou o marido com um sorriso doce em seus lábios. Ela aconchegou-se ainda mais ao lado de Matthew, a mulher deitou a cabeça no ombro do mesmo e recebeu um cafuné em seus cabelos cacheados.

- Senti tanta falta de poder ficar assim ao seu lado, vendo a hora passar e sem me preocupar se irei chegar atrasado no escritório.

Disse Matthew enquanto afagava os cabelos de Elizabeth e depositava um beijo no topo da cabeça da mesma. A morena sorriu e assentiu com um balançar de cabeça.

- Digo o mesmo. Tens sido uma loucura no teatro.

Ela disse e depois fez uma pausa como se pensasse em algo.

- Ontem eu estava sentada no sofá ao lado de Morgana assistindo a um desenho qualquer na televisão. E de repente ela parou de olhar para a TV e me abraçou com força. Questionei-a se havia algo de errado e ela disse: ”Nada mamãe. Só estou aproveitando estar perto de você, nunca se sabe quando o telefone irá tocar e você terá de se afastar de mim por muito tempo”.

Lizzy sorriu tristonha e Matthew a puxou para mais perto, fazendo com que a mulher enterrasse o rosto na curvatura de seu ombro novamente.

- Ela me disse a mesma coisa há uns dias atrás, quando eu estava em casa em meu escritório atolado de papéis para organizar. Queria passar mais tempo ao lado de vocês, o tempo passou tão rápido. Até parece que foi ontem que ela havia acabado de nascer.

Ele suspirou pesadamente pendendo a cabeça para trás.

- Não se cobre tanto, querido. Você faz o possível e o impossível tanto por mim quanto por ela. És um ótimo marido e um ótimo pai também.

- Não melhor do que você é como mãe. Eu fico bobo de ver o quão calma e atenciosa você é, muitas mães não teriam essa extrema calma ao ver seus filhos aprontarem.

Ele sorriu selou seus lábios aos dela. Elizabeth colocou os braços ao redor do pescoço do homem o puxando para mais perto de si. Ambos se afastaram depois de alguns longos segundos. Lizzy pegou um bolinho de dentro da cesta e passou a olhar ao redor tentando localizar sua filha que havia saído para brincar a alguns minutos atrás. Ao não conseguir ver Morgana, a mulher franziu o cenho e levantou-se da grama.

- Morgana!

Ela chamou em voz alta, porém não obteve nenhuma resposta. Suspirando levemente, Elizabeth passou a andar pelo parque enquanto chamava pelo nome da filha que não dava nenhum sinal de onde estava.

- Morgana, minha filha, apareça. Não é engraçado brincar com esse tipo de coisa.

Ela chamou mais uma vez pela garotinha, mas igual às outras vezes ela não obteve respostas. Matthew que ainda estava sentado observando a movimentação estranha e agitada da esposa levantou-se do lugar de onde estava e caminhou para perto dela.

- O que foi que aconteceu?

Ele disse parando ao lado de Elizabeth com as mãos nos bolsos da calça social preta. A mulher permaneceu em silêncio por um tempo até que se virou na direção do marido e o encarou com um olhar espantado.

- Não sei onde a minha filha está.

Ela disse em tom baixo e Matthew podia ver em seus olhos que ela já estava entrando em desespero. O homem encarou a esposa, visivelmente preocupado, pois não era do feitio de Elizabeth desesperar-se por com qualquer coisa.

- Não se preocupe. Ela não deve ter ido muito longe. Irei atrás dela.

Após dizer isso ele beijou a testa de Elizabeth e saiu caminhando pela grande extensão do parque a procura de Morgana. Lizzy voltou para onde estavam as coisas da família e sentou-se novamente sobre a toalha. Ela abraçou-se no intuito de esquentar-se, de repente havia ficado bem mais frio do que já estava antes. Sentindo seu coração apertar-se e sua visão ficar meio turva, a mulher deitou-se sobre grama e ficou olhando para o nada.

Elizabeth estava perdendo seus sentidos, sentia uma dor lancinante em seu peito. Após passarem-se longos trinta minutos, Matthew voltou para o parque e chacoalhou Lizzy para que ela se levantasse. A mulher deu um pulo assustada.

- Não consegui encontrá-la. Já liguei para a polícia agora é esperar.

Ele disse e a morena piscou os olhos algumas vezes, mortificada. Ela deu alguns passos na direção do marido que a puxou para um forte abraço e o mesmo alisou suas costas no intuito de tentar acalmá-la.

- Eu quero a minha filha!

Ela murmurou em tom abafado, segurando-se para não chorar.

- Acalme-se, Liz! Eles já devem estar chegando e eles irão encontrá-la.

Elizabeth apertou a camisa de Matthew entre os dedos de ambas as mãos. Ela fechou os olhos com força para impedir as lágrimas de caírem, mas foi em vão, logo seus olhos estavam cobertos por lágrimas e mesmas percorriam por suas bochechas e deixavam manchas molhadas sobre a camisa de seu marido.

Passaram-se quinze minutos e cinco viaturas pararam no parque. Matthew soltou Elizabeth e caminhou até uma mulher loira que também caminhava na direção dele. Assim que ele se aproximou, ela pediu para que o homem explicasse o que havia acontecido. Após Matthew terminar de falar a mulher se afastou dele e caminhou na direção de Elizabeth que estava olhando para baixo ainda chorando.

- Elizabeth?

A mulher perguntou enquanto ainda estava à pés de distância. Liz apenas assentiu com um balançar de cabeça e virou-se na direção da loira.

- Eu me chamo Amélia Johnson, sou uma investigadora do Departamento Nacional Investigativo do Canadá. Você poderia me entregar algum objeto de sua filha? De preferência algo que tenha o cheiro dela

Elizabeth assentiu e dirigiu-se até suas coisas. Ela abriu a bolsa, pegou o casaco extra de Morgana, que ela havia colocado dentro da mesma para caso o tempo piorasse. Lizzy voltou para aonde a loira estava e entregou a roupa na mão da mesma. A investigadora agradeceu Elizabeth e caminhou até os policiais, cinco deles estavam segurando cães farejadores que ajudariam no resgate da filha do casal. A mulher loira deu o casaco para que cada cachorro pudesse cheirar e depois o devolveu para Elizabeth.

- Podem soltá-los!

Ela disse referindo-se aos cães. Todos os agentes fizeram como instruído em seguida saíram correndo atrás dos animais, inclusive a mulher loira. Elizabeth correu para os braços de Matthew e o abraçou com força, enterrando o rosto em seu peito. O homem afagou seus cabelos.

- Venha, vamos nos sentar. Irá levar um tempo até que eles voltem.

Lizzy assentiu com a cabeça. Matthew direcionou a esposa até a toalha de piquenique que estava estendida sobre a grama. Elizabeth sentou-se e encarou o marido com os olhos cobertos por lágrimas. Ela fungou e limpou seu rosto com a manga do casaco. O homem sentou-se ao lado dela e envolveu seus braços fortes ao redor da mesma.

Elizabeth afastou-se dos braços de Matthew e passou a olhar para a floresta densa na esperança de alguém aparecer, dizendo que haviam encontrado sua filha, mas já se fazia horas que ela estava ali e o local continuava deserto. A mulher estava cansada de esperar, ela não tinha notícias de sua menina há mais de três horas; ela estava farta de ficar ali sentada olhando para as árvores e nunca aparecer ninguém.

- Aonde você vai?

Matthew disse ao ver que Elizabeth havia se colocado de pé e estava prestes a sair dali sem dizer nada.

- Atrás da minha filha.

Ela disse simplesmente sem encarar o marido e começou a caminhar na direção da floresta. O homem suspirou, levantou-se de seu lugar e foi atrás dela.

- Liz não! Espere os políciais voltarem, você vai acabar se perdendo também.

- Não! Eu já cansei de esperar, estamos aqui há mais de três horas e ninguém voltou ainda.

Ela retrucou e passou a caminhar com mais determinação do que antes. Matthew aumentou a velocidade de seus passos. Logo ele a alcançou e colocou seus braços ao redor dela, impedindo-a de continuar o seu trajeto.

- Me solta, Matthew!

Ela disse enquanto se debatia. O homem a segurou com mais força, sussurrando palavras tranquilizadoras em seu ouvido. Logo, Elizabeth parou de lutar e deixou com que seu corpo molengo caísse nos braços de Matthew. Minutos depois a investigadora saiu do meio da floresta, ela caminhou com passos largos na direção do casal, assim, que se aproximou o suficiente ela parou e encarou Elizabeth por um tempo. Puxando uma respiração profunda, Amélia estendeu uma fita preta de cabelo na direção da mulher que estava à sua frente.

- Esta fita de cabelo pertence à sua filha?

Ela perguntou de forma calma, fazendo o máximo possível para que o estado de Lizzy não piorasse ainda mais. Os olhos de Elizabeth arregalaram-se, ela puxou a o acessório de cabelo da mão de Amélia e ficou olhando para o mesmo durante um tempo, em seguida olhou ao redor do parque tentando localizar Morgana, mas não conseguia vê-la em lugar algum. A mulher voltou a encarar a investigadora com um olhar interrogativo.

- Onde está a minha filha? Cadê ela?

Ela perguntou depois de um tempo em desespero. A agente encarou a mulher por um tempo, hesitante.

- Diga logo! Cadê a minha filha?

Disse Matthew que não havia se pronunciado até o momento, em tom elevado.

- Eu sinto muito, mas não conseguimos encontrar nada além dessa fitinha, procuramos por horas. Infelizmente, irei ter que encerrar a investigação por aqui, pois logo irá escurecer, esta floresta é imensa, se não achamos nada de dia, de noite as chances serão menores ainda. Amanhã iremos continuar com as buscas.

- O que?! Você não pode simplesmente...

Ele começou, mas logo se interrompeu ao olhar pelo canto dos olhos, e ver que Lizzy estava cabisbaixa cambaleando de um lado para o outro.

- Elizabeth!

Ele berrou e correu na direção da mulher a segurando por debaixo dos braços antes que ela caísse com um baque no chão. Matthew a chacoalhou de um lado para o outro no intuito de fazê-la acordar, mas fora em vão. O homem pegou o corpo de Elizabeth em seus braços e sentou-se com a mesma sobre a toalha de piquenique. Amélia que olhava tudo sem dizer uma palavra sequer, ela aproximou-se de Matthew.

- O senhor quer que chame uma ambulância?

Ela perguntou após um tempo olhando o corpo inerte de Liz que o homem segurava em seus braços. Ele negou com a cabeça e ela afastou-se indo em direção às viaturas policiais. Por conta da metade de sua família ser compostas por médicos, Matthew sabia o que tinha de fazer.

•❁•

Elizabeth acordou mais tarde naquele mesmo dia. Ela sentou-se no meio da cama, esforçou-se para poder manter-se sentada, seus olhos vaguearam ao redor do quarto e os seus lábios soltaram um leve suspiro de alívio que ela nem havia percebido que estava segurando. Havia sido apenas um sonho ruim. A mulher levantou-se da cama e saiu do quarto. Ela atravessou os corredores e desceu às escadas atrás de Matthew.

- Querido...

Elizabeth murmurou assim que entrou na cozinha. Ela franziu o cenho em confusão ao ver seu marido sentado à mesa com um copo de uísque em uma das mãos e um cigarro por entre os dedos da outra. Ele tinha a cabeça baixa um olhar vazio e distante.

- Matthew!

Ela exclamou em um tom mais alto. Os olhos do homem arregalaram-se ao ouvir a voz de Elizabeth. Ele não havia escutado o que ela tinha dito antes. Matthew afastou a cadeira da mesa com tudo e levantou-se as pressas indo na direção da mulher. Ele segurou o rosto de Elizabeth com as duas mãos, e encarou os olhos da mesma por alguns longos segundos. Em seguida ele beijou ambas as bochechas de Liz, diversas vezes.

- Finalmente, você acordou.

Ele disse após voltar a encarar os olhos sem brilho da esposa.

- O que foi que aconteceu?

- Você desmaiou meu amor.

- Então, não foi um sonho.

Elizabeth murmurou mais pra si mesma do que para Matthew com a cabeça baixa.

- Onde está a minha filha? Por favor, me diga que ela não desapareceu; que ela está em seu quarto brincando de boneca.

Ela disse com a voz embargada, as lágrimas já escorrendo por todo seu rosto e manchando suas bochechas pálidas. Elizabeth apertou a camiseta de seu marido  por entre os dedos de ambas as mãos, com força. Ela começou a entrar em um colapso mental. Matthew abraçou o corpo da mulher com força. Elizabeth deitou a cabeça sobre o ombro do marido e passou a soluçar e tremer incontrolavelmente.

- Eu sinto muito, meu amor. Como eu gostaria que isso fosse verdade.

Ele murmurou e deu um beijo no lado da cabeça de Lizzy. A mulher ficou nos braços do marido por mais alguns minutos. Matthew direcionou Elizabeth até a cadeira em que ele estava sentado antes. Ele a instruiu a se sentar e foi até o armário pegar um calmante. O homem deu o comprimido e um copo d’água na mão de Elizabeth que se recusou a ingerir o calmante. Após um minuto de insistência, a mulher finalmente concordou em tomar o remédio.

Matthew arrastou uma cadeira para o lado da de Elizabeth e sentou-se sobre a mesma puxando a mulher para perto de si. Ela deitou a cabeça no ombro do marido e passou a soluçar baixinho.

•❁•

Havia se passado um mês desde o sumiço de Morgana. Um mês de muita dor e angustia profunda, pois o casal não obtivera nenhuma notícia desde o desaparecimento de sua filha. Morgana havia sido dada como morta pela polícia, mas o corpo não havia sido encontrado; era como se a pequena menina tivesse evaporado da face da Terra sem deixar rastros. Matthew estava extremamente triste e revoltado, pois as autoridades haviam desistido do bem mais preciso que ele e Elizabeth tinham, sem ao menos se esforçarem; mas apesar de tudo ele tinha que se manter firme por causa de sua esposa. A saúde mental de Elizabeth estava piorando a cada dia que se passava; a mulher não queria mais fazer nada além de ficar na cama. Ela recusava-se a comer sempre que Matthew lhe oferecia algo; acordava todos os dias no meio da madrugada gritando, assustada, e era sempre o mesmo motivo. O homem já não sabia mais o que fazer a respeito dessa situação. Ele não queria perdê-la também.

- Não! Não! Não!

Os gritos de Elizabeth preencheram o quarto frio pela segunda vez àquela noite. Matthew despertou de seu sono rapidamente, ele virou-se para Elizabeth que ainda continuava a gritar e tremer violentamente. O homem a abraçou pela cintura com força, puxando-a para mais perto de si.

- Acalme-se, Liz! Irá ficar tudo bem.

Ele sussurrou perto do ouvido dela e beijou-lhe na bochecha diversas vezes.

- Não...

Elizabeth choramingou novamente enquanto tremia de forma incontrolável. Ela apertou os braços de Matthew e em seguida puxou a camisa dele com força.

- Lizzy... Por favor, acalme-se. É apenas um sonho, eu estou aqui irá ficar tudo bem.

Ele sussurrou enquanto era puxado pela camisa. Elizabeth berrou algo ininteligível enquanto levantou-se de repente, sentando-se na cama assustada. O suor escorrendo por sua testa; um olhar atordoado em seu rosto; a respiração pesada.

- Lizzy...?

Matthew murmurou devagar para não assustá-la mais do que já estava. Ele mudou-se para uma posição sentada e esfregou as costas de Elizabeth com a mão direita. A mulher de repente virou-se para o marido e jogou-se em seus braços, agarrando fortemente a camiseta do homem com ambas as mãos. Matthew abraçou Elizabeth com força e os dois voltaram a se deitarem na cama.

•••

Mais tarde naquele mesmo dia...

Elizabeth caminhava pelos corredores em direção ao seu quarto. Ela passou por diversas portas até parar de repente no meio do caminho. A mulher virou-se para o lado direito e encarou a porta de madeira que tinha uma coroa de madeira branca grudada na mesma com o nome “Morgana” embaixo. Lizzy sentiu uma lágrima solitária rolar por sua bochecha, qual ela limpou com a manga de seu casaco.

Elizabeth continuou a encarar a porta por mais alguns minutos até que resolveu abri-la. Seus olhos vaguearam lentamente ao redor do quarto. Estava tudo exatamente da mesma forma que um mês atrás. Desde o sumiço de Morgana, Liz evitou entrar naquele cômodo da casa, pois ela sabia que se ela visse as coisas de sua menina iria ficar pior ainda. Matthew havia insistido na noite anterior para que Elizabeth deixasse com que ele desmontasse o quarto, mas a mulher acabou tendo um colapso mental, então o homem viu-se obrigado a deixar tudo como estava; uma espécie de funeral no meio de sua casa. Ele não poderia simplesmente acabar com a esperança de sua esposa, mesmo no fundo ele sabendo que Morgana não voltaria mais.

Assim que fechou a porta atrás de si, Lizzy entrou em choque. O aroma doce de Morgana ainda pairava sobre o ar. Era como se sua filha nunca tivesse saído dali. Ela podia sentir a energia angelical de sua filha no cômodo, mesmo só estando apenas ela, ali meio do quarto, completamente desnorteada. Elizabeth atravessou o cômodo em direção à cômoda de madeira pintada de rosa. Assim que se aproximou o suficiente, ela ficou encarando a fitinha de cabelo preta; a mesma que Morgana usava naquele dia terrível; que estava em cima do móvel. A mulher olhou ao redor até seus olhos repousarem em uma das várias prateleiras cheias de bonecas que haviam sido grudadas às paredes do quarto; ela ficou encarando naquela direção por um tempo até que sem perceber, Lizzy começou a caminhar lentamente em direção à prateleira. Ela parou na frente da mesma e a ficou observando uma das bonecas que havia ali; era a favorita de Morgana, a menina a carregava para todo o lugar que ia, mas por algum motivo curioso ela não quis levar a boneca no dia do piquenique. Liz pegou a boneca com todo o cuidado possível para não quebra-la, já que a mesma era muito delicada. Ela encarou o brinquedo por um tempo e se segurou ao máximo pra não chorar, mesmo as lágrimas já brotando no canto de seus olhos.

Elizabeth caiu no chão sobre os seus joelhos. A mulher ficou alguns minutos naquela posição até que ela caiu sentada. Liz flexionou as pernas e agarrou a boneca contra o seu corpo se enrolando feito uma bola e passou a soluçar baixinho enquanto se balançava para frente e para trás.

•••          

Matthew havia acabado de arrumar um bolo de papéis em seu escritório. Finalmente ele estava livre! Agora ele poderia passar o resto do dia ao lado de Elizabeth. Ele não via a hora de ver a expressão de felicidade no rosto de sua esposa. Desde a morte prematura de sua filha, o homem vem se atolando de trabalho como se fosse uma escapatória da realidade. Segundo ele, se manter sua mente ocupada não haverá espaço para pensar sobre o desaparecimento de sua primogênita, e de certa forma isso “amenizaria” a dor horrível que dominava o seu coração.

Durante todo esse tempo Matthew preocupou-se tanto em não pensar em Morgana que acabou esquecendo-se de sua amada esposa, Elizabeth que ainda estava viva e precisava dele mais do que nunca em todos esses anos de casamento. Ele afastou-se da mesma no momento em que ela mais precisou dele, ele nunca conseguirá se perdoar por isso.

Matthew arrumou suas coisas sobre a mesa e levantou-se, saindo da sala. Ele subiu as escadas de forma rápida e seguiu apressadamente pelos corredores em direção ao seu quarto, até que parou abruptamente no meio do caminho ao notar a porta do quarto de sua filha aberta e a luz acesa. O homem deu alguns passos para trás e encarou o cômodo por um  tempo, pensando se entrava ou não.

Suspirando pesadamente, Matthew deu um passo a frente, encostando-se ao batente da porta. Ele olhou  ao redor do quarto até seus olhos pousarem em Elizabeth, que estava sentada no meio do chão agarrada a uma boneca. O homem ficou olhando para a esposa por um tempo. Um grande sorriso espalhou-se pelo seu rosto.

- Não se preocupe; ela irá voltar, eu sei que vai.

A voz melancólica de Elizabeth se fez presente no ambiente. Matthew franziu o cenho ao perceber que a esposa conversava com a boneca que estava em seus braços. Logo o choro  e os gritos da mulher ecoaram em seus ouvidos e ecoou pelas paredes do quarto. Suspirando, o homem aproximou-se de Elizabeth que mal havia percebido sua presença ali. Ele sentou-se atrás dela e envolveu seus braços ao redor de sua cintura, apoiando a cabeça em seu ombro.

- Acalme-se! Vai ficar tudo bem, docinho.

Ele sussurrou perto de sua orelha esquerda e plantou um beijo em sua nuca.

- Você disse a mesma coisa há um mês atrás e veja onde estamos. Não aguento mais, Matthew. Eu quero a minha filha de volta.

Elizabeth disse sem encará-lo e ao terminar a última frase ela passou a choramingar baixinho, enquanto olhava para as próprias mãos que ainda estavam entrelaçadas ao redor da boneca. O homem suspirou e encarou o teto por tempo, após alguns minutos ele levantou-se e tirou a boneca dos braços de Elizabeth que o encarou com os olhos arregalados. Matthew colocou a boneca de volta na prateleira ao lado das outras e se aproximou da esposa a puxando gentilmente pelo braço para que ficasse de pé.

- Você não tomou o remédio hoje de novo, não foi?

Ele disse depois de um tempo.

- Não! E nem irei tomá-lo. Não quero viver à base de remédios, Matthew!

Lizzy franziu o cenho e metralhou o marido com os olhos, como se pudesse explodir sua cabeça com o pensamento.

- Não adianta fazer essa cara. Está agindo feito uma criança, Elizabeth. Você precisa do remédio, e sabes disso.

Ele disse severamente. A mulher cruzou os braços na altura de seus seios e ficou encarando o marido com o cenho franzido.

- Venha, Liz!

Ele a pegou pelo braço e a guiou para fora do cômodo. O casal desceu as escadas em direção à cozinha, Matthew fez com que Elizabeth se sentasse em uma das cadeiras ao redor da mesa e se dirigiu à um dos armários grudados à parede. Matt pegou as caixas de remédio e deu cinco comprimidos na mão de Liz e um copo com água.

- Toma... Por favor.

Ele afagou os cabelos da mulher e deu-lhe um beijo na testa. Elizabeth ficou encarando a porta da cozinha por um tempo até que levou a mão esquerda à boca, engoliu os comprimidos e bebeu um gole d’água. Matthew sentou-se em uma cadeira ao lado de Lizzy e ficou a observando.

Passaram-se cerca de quinze minutos e o remédio já estava começando a fazer efeito. Liz estava se esforçando para manter seus olhos abertos. O corpo já estava ficando meio mole e Matthew viu que já era a hora de tirá-la dali antes que “desmaiasse”. O homem levantou-se de seu lugar, segurou Elizabeth por debaixo dos braços e a puxou levemente para que ficasse de pé em seguida a levou para o quarto.

- Durma bem, docinho.

Matthew sussurrou assim que Elizabeth estava deitada na cama debaixo das cobertas. Ele plantou um beijo em sua testa e retirou-se do quarto.

•❁•

- Está tudo bem?

Matthew perguntou assim que parou o carro no sinal vermelho. Ele encarou Elizabeth, que olhava para o nada com os braços cruzados.

- Eu não quero ir. Por favor...

Ela choramingou, as lágrimas surgindo no canto de seus olhos. Matthew suspirou levemente e estendeu sua mão direita até a bochecha de sua esposa, acariciando a mesma com o polegar.

- Acalme-se! Irá ficar tudo bem. É o melhor hospital da cidade. Fiz questão de verificar isso pessoalmente.

Ele disse com sinceridade. Era verdade, ele não estava dizendo aquilo apenas por dizer, para fazer com que Lizzy se sentisse melhor. Matthew amava muito sua esposa para simplesmente colocá-la em qualquer hospital psiquiátrico. Na verdade, ele não queria ter que decorrer à isso, mas Elizabeth só vinha piorando ao longo do tempo. Era sua última alternativa.

Minutos depois o sinal abriu e Matthew voltou a dirigir rumo ao hospital. Durante todo o resto do caminho o casal não trocou uma palavra sequer. Quase uma hora depois, Matthew estacionou o carro na porta de um edifício enorme, de oito andares e centenas de janelas.

- Vamos?

Matthew disse assim que abriu a porta do passageiro, um sorriso doce em seus lábios. Elizabeth que encarava suas próprias mãos ergueu o olhar na direção do marido e balançou a cabeça negativamente repetidamente. Suspirando, o homem agachou-se na frente da mulher que ainda permanecia dentro do carro.

- Vai ficar tudo bem.

Ele estendeu a mão em direção à bochecha esquerda de Elizabeth que fechou levemente os olhos perdendo-se no momento. Matthew segurou a mulher por debaixo dos braços e a retirou do automóvel, trancando o mesmo com o alarme. Lizzy abriu os olhos e começou a se debater ao perceber que estava sendo levada para dentro do hospital.

- Não! Por favor, não!

- Acalme-se Lizzy, vai ficar tudo bem.

- Eu não quero ficar aqui. Você sabe tudo o que eu passei durante a minha infância; minha experiência com hospitais. Por favor, não me deixe aqui.

- Elizabeth!

Ele a segurou pelos ombros e a chacoalhou algumas vezes. A mulher olhou para o marido com os olhos arregalados.

- Não confia em mim, docinho? Eu jamais a deixaria em qualquer hospital. Eu já perdi minha filha, não posso perder você também. Eu te amo muito Elizabeth, então, por favor, confie em mim.

Matthew fez com que Lizzy senta-se em uma das muitas cadeiras da recepção e caminhou até o balcão. Ele preencheu a ficha de internação e voltou para sua esposa que ainda estava sentada, olhando para o nada com os olhos vazios.

- Lizzy?

O homem perguntou em um sussurro e afastou uma mexa que caia sobre o rosto de Elizabeth para trás da orelha. Liz afastou a mão de Matthew e continuou a olhar para o nada.

- Você vai me abandonar aqui, não é?

Ela murmurou em tom baixo, tristonha. Matthew encarou a mulher por um tempo e em seguida a puxou, envolvendo-a em seus braços. Ele plantou um beijo no topo da cabeça de Elizabeth e acariciou seus cabelos com a mão direita.

- Nunca. Eu a amo muito pra isso.

Ele sussurrou perto de seu ouvido. Lizzy que soluçava baixinho desde o momento que Matthew a tomou nos braços, enxugou suas lágrimas com a manga de seu casaco e agarrou a blusa do marido com ambas as mãos.

- Irei vir visitá-la todos os dias.

Elizabeth sorriu tristonha, sem mostrar os dentes. Era incrível a capacidade que Matthew tinha de fazer até os piores momentos serem agradáveis.

- Você promete?

Ela perguntou manhosa e ele assentiu com um balançar de cabeça. Matthew estendeu a mão para Elizabeth que a segurou e levantou-se da cadeira. Lentamente, uma enfermeira se aproximou do casal e os guiou através das grandes portas brancas. Eles seguiram pelos corredores cumpridos até um elevador. Assim que o mesmo chegou ao andar térreo, eles entraram e a enfermeira apertou o botão com o número seis. Não demorou muito e as portas abriram-se novamente. A mulher de branco, continuou a caminhar pelos corredores sem dizer uma palavra sequer até que a mesma parou em frente à uma porta com o número 621 grudado em uma placa de prata. Ela abriu a porta e apontou para dentro do cômodo.

- É aqui que ela vai ficar?

Matthew perguntou e a mulher assentiu com um balançar de cabeça. Ele olhou Lizzy com o canto dos olhos e a mulher apertou seu braço esquerdo, assustada. O homem suspirou levemente e entrou no quarto. Ele olhou ao redor e franziu as sobrancelhas de forma pensativa. Não era nada mal. Era um quarto simples, mas em bom estado.

- Veja docinho, não é ruim.

Ele disse enquanto afagava os cabelos da mulher que ainda agarrava o seu braço. Matthew a guiou até a cama que estava arrumada com lençóis limpos. Lizzy sentou-se na beira do colchão e ficou olhando para o nada. Ela franziu o cenho ao ver que havia mais uma cama do outro lado.

- Por que há mais uma cama?

Ela perguntou a enfermeira que encarou brevemente a cama e em seguida dirigiu seu olhar à Elizabeth.

- Por que é dois pacientes em cada quarto. Mas, no momento, não há ninguém nesse daqui, além da senhora. Sinta-se sortuda, poderá escolher com qual cama irá ficar.

A loira sorriu docemente.

- Éh... A senhorita poderia me informar quais são os horários de visita, e se posso trazer algumas coisas para minha esposa, como: roupas, objetos de higiene pessoal, etc.

- Claro. As visitas são permitidas todos os dias dentro desses horários: de manhã das oito horas às onze; de tarde das duas as cinco e à noite das sete às dez. O senhor pode trazer qualquer coisa, exceto objetos cortantes, como: facas ou estiletes.

- Certo.

Ele assentiu com a cabeça e a mulher se retirou do quarto, encostando a porta do mesmo.

- Então? Ela disse que você poderia escolher uma cama, vai querer ficar com essa aqui mesmo?

Ele perguntou sentando-se ao lado de Elizabeth que apenas assentiu.

- Você sabe que eu gosto de ficar perto da janela.

Ela disse olhando para suas próprias mãos, com os olhos vazios.

- Está bem. Eu tenho que ir agora.

Ele disse após olhar no relógio de pulso. Matthew levantou-se, ou pelo menos tentou, pois assim que fez menção de se levantar sentiu Elizabeth puxar seu braço. O homem olhou para trás para encarar o olhar assustado de sua esposa.

- Eu volto amanhã. Eu prometo.

Ele disse e relutante Lizzy soltou o seu braço e viu o marido partir. Ela encolheu-se em um canto da cama, abraçando as próprias pernas rentes ao seu corpo.

•❁•

Passaram-se meses desde a internação de Elizabeth, como prometido, Matthew ia visitar a esposa todos os dias na parte da tarde. Lizzy estava começando a se acostumar com sua nova rotina, o hospital não era ruim, assim como seu marido havia garantido quando pisou pela primeira vez no edifício.

A mulher estava sentada em um dos bancos da parte externa do hospital, apanhando um pouco de sol quando uma enfermeira aproximou-se. A mesma pediu para que Elizabeth a acompanha-se até uma sala, onde havia um homem e uma mulher sentados ao redor de uma mesa. Ela franziu o cenho em confusão, e receosa sentou-se na cadeira de frente para as duas pessoas.

- Elizabeth Lavenza?

A mulher de nariz arrebitado perguntou e Lizzy apenas assentiu com a cabeça.

- Você é esposa de Matthew MacNeil, certo?

Ela continuou com as perguntas e novamente Lizzy assentiu, começando a ficar inquieta.

- O que houve? Se puder ser breve... Eu lhe agradeceria imensamente. Está me deixando nervosa.

Ela disse batendo freneticamente suas unhas sobre a mesa de madeira polida.

- Bem, eu me chamo Meredith Gray, sou delegada da polícia civil. Estou aqui para lhe informar que o seu marido sofreu um acidente de carro, encontra-se internado em um hospital local em estado vegetativo sem previsões para que ele acorde. Eu sinto muito.

Assim que a mulher terminou de falar Elizabeth entrou em estado de choque, ela ficou encarando a delegada com olhos vidrados e a boca aberta.

- Não!

Ela berrou depois de um tempo.

- Primeiro minha filha e agora o meu marido. Só devem estar jogando praga contra mim.

Elizabeth levantou-se da cadeira e passou a andar de um lado para o outro agarrando os próprios cabelos e os puxando.

- Melhor chamarmos a enfermeira.

Disse o homem que não havia se pronunciado até o momento. A loira assentiu e ele saiu da sala atrás de uma enfermeira. Ao ver que Elizabeth havia caído em um canto no chão e se arranhava; Meredith levantou-se de sua cadeira e correu para a mulher, segurando suas mãos para que a mesma não se machucasse.

- Fique calma. Já vai passar.

Ela sussurrou tentando tranquilizar Elizabeth que tentava se soltar a todo custo.

- Me solta!

A morena gritou em meio às lágrimas. Em menos de cinco minutos um grupo de enfermeiros entrou na sala.

- Acalme-se Liz, vai ficar tudo bem.

Sussurrou um dos enfermeiros. Eles sedaram Elizabeth, colocaram-na em uma maca e a levaram para o quarto.

•❁•


Notas Finais


E ai gostaram?
Se sim, não se esqueça de favoritar, deixar seu comentário e compartilhar.
Beijinhos e até o próximo capítulo.


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