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História Os Guardiões - Bem vindo a minha vida idiota.


Escrita por: kastennu

Notas do Autor


SPIN-OFF de IMORTAL.

Capítulo 1 - Bem vindo a minha vida idiota.


           CAPITULO UM

                             Oito de Janeiro de 2014.

 

 

 

 

Ás vezes,  eu só quero ir para minha casa, me enrolar no meu cobertor e chorar até que eu morra.

Desde pequeno, eu sempre fui muito complicado, as pessoas não me entendiam, não me achavam normal. Eu também nunca consegui me adequar...

Mal compreendido, esquecido, sempre errado.

Acordei pela manhã, me levantei da cama observando o relógio na parede, eram 07h55min. Eu estava atrasado, corri até o banheiro e tomei um banho frio. Penteei meu cabelo com leveza. E então me olhei no espelho. Eu podia ver claramente meu cabelo preto, extremamente cacheado e partido ao meio, chegando à altura dos ombros. Olheiras horríveis e um rosto triste. Peguei o meu sobretudo púrpura e vesti. Em minhas mãos estavam todos os meus anéis. Um com uma pedra vermelha brilhante, uma azul, e uma verde. Pus minhas pulseiras e meus colares com minerais esverdeados e roxos, um deles havia uma cruz enorme como pingente. Ganhei do meu pai há um ano. Desci as escadas até chegar à sala, minha mãe, Luane. Estava pondo a mesa para o café da manhã.

Sentei-me a mesa enquanto ela arrumava.

— Está tudo bem, Nicolas? — ela pergunta para mim.

— Está sim. Eu só estou um pouco cansado. — eu respondi.

Eu sabia que minha mãe não estava bem com a situação, ela estava com um olhar tão triste. Acontece que o meu pai morreu há dois dias, e desde então ela não anda muito bem, e eu, estou pior ainda.

Desde sempre eu ando cercado com a morte, cresci vendo todos a minha volta morrer. Não podia aceitar a morte, não posso aceitar, e nem vou. É algo que me deixa estranho, eu sei que é o ciclo normal da vida, mas é tão estranho...

Comi o cereal que estava na mesa, bebi um pouco do leite e comi uma torrada, levantei-me da mesa e me despedi de minha mãe. Fechei a porta de casa, quando me deparei com a rua, me senti estranho.  Estava muito frio aqui em Salvador, Bahia.

Enquanto andava, via aquelas folhas caindo no chão, eu pensava como Salvador, quente do jeito que é, poderia estar tão fria neste dia?

Os pensamentos que eu tinha em mente, estavam me causando curto-circuito, bom, meu pai morreu há dois dias e eu não sabia como lidar com isso. Havia um buraco no meu coração, e ele não poderia ser preenchido com nada, amigos, namorada... NADA. Eu só queria o meu pai de volta, mas nem meu pai biológico ele era. Meu pai verdadeiro — digamos assim — abandonou a minha mãe ainda grávida de mim. Nunca irei superar esse fato. Eu cresci com Roberto, ele a conheceu dois anos depois do meu pai ter nos abandonado, e foi ele quem eu chamei de pai por treze anos.

 

Eu tenho apenas dezesseis anos. O que eu sei sobre a vida? O que sei, é que se torna bem cruel com o passar do tempo.

Cresci sendo o esquisito em tudo, até na minha família, que nem eu mesmo conheço inteira, na escola eu sempre sofri bullying. Era apelidado de todo o tipo de coisa, só por ser diferente.

Enquanto a maioria dos garotos queria jogar futebol, jogar jogos violentos no videogame, eu só queria sentar no meu canto e ouvir uma boa música enquanto desenhava.  Os professores sempre me elogiaram muito pelos desenhos, porém faziam muitas queixas a minha mãe. Porque eu deixava de prestar atenção na aula para desenhar. Mas, desenhar era como ter um amigo que realmente gostava de mim, estava sempre comigo. Eu ficava calmo toda vez que desenhava.

Antigamente, quem me buscava na escola, era a minha mãe, ou meu pai, Roberto. Só que quando eles demoravam, eu chorava tanto que chegava a soluçar, eu tinha medo.

Medo de que eles me deixassem.

Medo de que nunca mais voltassem por mim.

Medo de que eles nunca tivessem sequer me amado algum dia.

Mas no fim, eles sempre apareciam e tiravam essa dor de mim.

Eu não cresci totalmente sozinho, eu consegui fazer alguns amigos nessa época, mas eu sempre saía de uma escola para outra. E então eu os perdi. Desde então, nunca consegui fazer uma amizade que durasse o bastante. Até porque não era amizade, era só alguém que falava comigo, e que só estava comigo na hora da diversão, mas quando eu precisava, caía fora.

Mas no ano passado, eu até consegui fazer alguns amigos. No máximo dois ou três.

Eu continuava andando pelas um ônibus. Quando cheguei à escola, senti ruas, parei e peguei calafrios. Meu pai havia morrido só há dois dias e eu já estava vivendo minha comum, mas eu não queria ficar em casa de luto. Eu estava destruído por dentro, mas não podia continuar pensando nisso, eu iria acabar explodindo uma hora ou outra, eu não podia...

Eu entrei no campus e vi várias pessoas, eles me olhavam e comentavam a todo o momento sobre o meu pai, alguns chegavam até mim e me perguntavam como eu estava. Eu dizia que estava bem, mas era óbvio que não podia ser verdade.

Meus amigos ainda não haviam aparecido. Então eu me sentei em um daqueles bancos.  Fiquei observando as folhas das árvores caindo na grama verde do campus. Eu já estava no segundo ano do ensino médio, e nem sabia o que eu iria fazer da minha vida.

Coloquei meus fones de ouvido, peguei o meu smartphone e selecionei o modo aleatório nas músicas, apenas abaixei a cabeça e fiquei no meu canto. Eu podia sentir que as lágrimas iriam sair e escorrer pelo meu rosto. Eu tinha que tentar ser forte, mas acontece que não dá para ser forte o tempo todo.

Ouvi a sirene de o colégio tocar. Levantei-me e fui para minha sala.

Enquanto andava naqueles corredores enormes, frios e cheios. Eu senti alguém tocar nas minhas costas, me puxaram pela camisa e me jogaram no chão.

Eram três garotos, Mário, Enzo e João. Eram aqueles típicos imbecis que não me deixavam em paz em momento algum, sempre estavam ali me enchendo o saco, me magoando, me destruindo praticamente todos os dias. Eu queria chorar, mas eu tentei ser forte. Tentei ao máximo.

— E aí, viadinho? Tudo bem? — diz o João.

— Me deixa em paz! — eu exclamei.

— Oh, gente. Olha lá, ele quer ser deixado em paz... — Mário ri.

— Você merece umas tapas, rapaz! Veste-se como uma garotinha. — Enzo berra.

Eu engoli em seco, esperando apenas que eles fossem embora e me deixassem quieto no meu canto, eu nunca entendi porque esses garotos gostam de me importunar, eu nunca fiz nada a eles.

Eles não saíam, queriam ficar ali me destruindo com palavras e agressão física.

Eu tomei coragem, e tentei me levantar e correr deles. Mas me pegaram novamente. E o que mais me deixava triste, era que numa escola tão cheia, tanta gente passando ao redor, ninguém notava o que estava acontecendo.

Eles me deram algumas tapas no rosto, foi aí que eu gritei e os empurrei, saí correndo feito louco para o banheiro masculino.

Entrei em uma daquelas cabines e chorei tanto, mas tanto...

Por que eu tenho que passar por isso? Eu pensava.

Alguns minutos depois, eu saí do banheiro e fui para aula. Meus olhos ardiam do tanto que eu chorei. Sentei-me em uma das mesas e ainda triste e com medo, peguei o meu bloco de desenhos e comecei a desenhar. E tudo ia se acalmando, entrei em outro mundo e me esqueci daqueles idiotas. Como poderiam entender minha mente? Eram burros como uma porta.

De repente, entra um rapaz na sala. Ele era alto, magro, musculoso. Tinha a pele branca, olhos castanhos e o cabelo liso e chegando a altura dos ombros, assim como o meu. O rapaz tinha um olhar sério, e ao mesmo tempo alegre. Ele se senta ao meu lado.

Eu pensei que ele deveria ser só mais um daqueles garotos padrão. Que são bonitos e ‘’perfeitinhos’’ por fora, mas por dentro são totalmente sem conteúdo. Eu sou o tipo de pessoa que se apaixona por qualquer um independente do gênero, eu não me importo com isso. Eu só quero amar alguém. Mas nesses tempos eu não tinha nem pensado no assunto.

Esqueci-me do garoto e continuei desenhando, eu vejo uma mão encostar-se à minha mesa.

— Você tem uma caneta que possa me emprestar?

— Claro...

Eu abri meu estojo e peguei uma caneta e entreguei.

— Ele é o professor de...?

— Biologia. O nome dele é Vereno, não esqueça.

— Vereno? Que nome é esse? — o garoto zomba.

De repente, o professor vira-se para ele.

— Alguma graça no meu nome, Felipe? — o professor levanta uma das sobrancelhas.

— Não, não senhor. Eu só estou me acostumando. — ele responde nervoso.

Que rapaz engraçado. Eu pensei.

O garoto, Felipe. Voltou a anotar no caderno o que o professor dizia. E eu continuei nos meus desenhos. Quando terminaram as três primeiras aulas, veio o intervalo, voltei para o campus e sentei-me a uma mesa. E fiquei desenhando novamente. Desenhos para cá, desenhos para lá, silhuetas femininas, mulheres com vários braços... E então uma sombra escurece todo a minha visão, era Felipe. Ele se senta novamente ao meu lado.

— Posso ver?

— Sim, claro.

Ele folheava cada página admirando os desenhos.

— Estão ótimos, você é um artista. Consegue passar tudo o que sente num papel. — ele diz.

— Ah, eu só faço para relaxar.

Eu até que estava gostando da presença dele ali, era como se eu estivesse com os meus amigos, eles era a única coisa que fazia com que eu me sentisse melhor.

— Agora eu preciso ir. Você parece um anjo.

Eu fiquei desconcertado. Nunca recebi elogios de um garoto como ele. Nunca. O máximo que eu ouvia de elogios, eram por causa dos desenhos e de pessoas próximas, ou de senhoras na rua.

Eu nunca me senti seguro em relação a gostarem de mim, eu sempre achei que uma hora elas iriam sumir e me deixar.

Felipe levantou-se da mesa, e foi embora. E logo em seguida vem o João e o Enzo. Meu coração gelou. Eu não queria vê-los de novo. Levantei-me rapidamente.

Eles me seguraram novamente, eu tentei gritar.

— Se você chamar o boiola do seu amigo de novo, vai ser pior para você.

Eu comecei a chorar, eu tentei chutar, empurrar, mas não conseguia de jeito nenhum, eles eram mais fortes que eu. Eles estavam sempre no time de futebol da escola.

Eles me socaram e me chutaram, e ninguém fazia absolutamente nada. NADA. O Felipe nem ali estava mais, e por que ele me ajudaria? Mal me conhecia.

Sempre foi a mesma coisa comigo, eu me tornei uma pessoa que ninguém entende, na verdade, nunca entenderam. E nem vão entender nunca. É tão complicado, olha só o que eles fizeram? Eu me odiava. Ficavam sempre nesse jogo repetitivo de maldade.

Mais tarde, na saída da escola, eu encontrei uma pequena flor morrendo. Eu me agachei, e fiquei vendo como ela era sortuda, de não ter que se preocupar com valentões, nem com família, nem com ser popular.

Quando me dei conta, ela voltou a viver. Foi totalmente esquisito. A flor estava seca, morta. E de repente desabrochou e ficou saudável. Assustei-me por um minuto, joguei a flor no chão e fui para casa.

O caminho todo eu só pensava em como estava com o corpo dolorido, e como eu faria para minha mãe não ver minhas marcas. O sol do meio dia estava queimando a minha pele sensível e marcada de agressão. Eu entrei em casa suado, corri direto para o meu quarto. Minha mãe nem notou, eu podia vê-la chorando escondida para que eu não percebesse. Eu entrei no banheiro que havia no meu quarto. Tirei toda a minha roupa, fiquei despido e me olhei no enorme espelho.

Haviam marcas meio roxas no pescoço, algumas avermelhadas no rosto, e outras pelo braço e nas minhas costas. Eu olhava para mim mesmo no espelho, e só me sentia um lixo. Eu já estava cansado disso tudo, eu não queria continuar nesse mundo, eu não queria continuar nesse lugar onde só existe dor, pessoas ruins e tristeza. Eu queria descansar, eu queria finalmente encontrar uma paz. Uma paz que eu nunca soube o significado, porque desde que eu nasci eu passei por maus bocados.

Estava cansado de todo o santo dia minha mãe falar mal das minhas roupas.

Estava cansado de todo o santo dia ser discriminado e agredido tanto fisicamente quanto psicologicamente no colégio.

Estava cansado de ter que sentir a mesma dor o tempo inteiro, eu não queria atenção, eu só queria me deitar e descansar. Sumir.

Eu olhei para pia, e nela havia uma navalha, a mesma que o meu pai Roberto usava para fazer a barba. Ela me trazia tantas lembranças. Quando ele me ensinava como raspar, quando eu era pequeno...

Meus olhos ficavam cheios de lágrimas, e a saudade só aumentava, a dor só aumentava, a vontade de MORRER só aumentava.

Eu só pensei em pegar aquela lâmina e passar na minha garganta e cair já no sono eterno, assim eu não teria mais que me preocupar com nada. Eu fui pegando e passando no pulso com força, mas quando a lâmina entrou em contato com a minha pele, algo aconteceu.

O chão se tremeu. O céu parecia esbravejar. Eu senti uma coisa subindo dos meus pés a minha cabeça. Uma ventania no meu quarto fez a porta se abrir, eu estava completamente assustado. Uma energia, ou sei lá o que era aquilo, entrou. Era uma espécie de raio de luz. Era tão linda e tão assustadora, ela chegava derrubando tudo que havia no meu quarto. E eu surtava enquanto isso acontecia. Além do colar com um crucifixo, eu tinha um colar com uma Cruz ankh. Ela estremecia e cintilava no meu peito. Eu me senti revigorado, as marcas sumiram do meu corpo. Eu não sentia mais dor. Eu me senti totalmente diferente. Mas apesar de ter passado a dor carnal, ainda existia a emocional.

Depois a ventania e aquela coisa toda passaram, eu senti uma coisa na cabeça, uma dor horrível e caí desmaiado.

 



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