História Os instrumentos mortais - Sons dos Anjos - Exaustão

Quando entrou no quarto, percebeu um Magnus suado, exausto por estar usando tanto sua magia e uma Mary escorrendo sangue pelas narinas, pulsos presos por algemas e igualmente suada.

-Por que ela está assim? Por que amarraram ela? Mary não é nenhum animal!

Dorian foi até o feiticeiro e começou a tentar puxar as algemas, que se soltaram das bases assim que Magnus estalou os dedos fazendo as mesmas sumirem.

-Estou quase terminando. Ela não vai se lembrar de nada das últimas horas, nem mesmo da conversa com Julian. Mas estará ciente que voltou de uma crise, estou trabalhando nisso.

-É por isso que ela está sangrando? Porque está abusando da energia da Mary?

-Pedi para Jem que o chamasse porque ela deseja sua presença, mas se eu quiser joga-lo para fora daqui não irei pensar duas vezes.

-Heit… Heit… J-Jordan... -Ela sussurrou em meio aos gemidos de dor.

Dorian pegou na mão da garota e acariciou sua pele, ela estava fervendo, o corpo completamente quente de tamanha febre, as bochechas coradas.

-Estou aqui, Dale. Estou aqui. -Onde diabos estava o Lightwood quando a Herondale mais precisa dele?

-Lucas… -Ela soltou de modo distante.

Por isso ninguém esperava. Por que ela estaria chamando aquele estranho? Ao escutar esse nome algo estalou nas lembranças de Dorian. Ele conheceu um Lucas mas isso é completamente impossível. É coincidência demais. Teria reconhecido o rapaz a primeira vista, coisa que não houve. Não, não, é apenas uma paranóia em sua cabeça. Seu passado não pode voltar para ele agora.

Mary começou a abrir os olhos lentamente, os cílios ruivos quase inexistentes, o verde de sua íris opaca, assim como o dourado apagado.

-Heit…? O-o que está fazendo aqui em LA?

Dorian acariciou a mão da menina com cuidado com medo que qualquer coisa que fizesse a machucasse mais.

-Você não está em LA, pequena. -Respondeu Jem.

Mary sorriu de um modo exausto para o rapaz.

-Tio Jem, senti sua falta… O que houve?

-Você teve mais uma crise, uma das fortes, nada demais, ficará melhor rápido. -Magnus sorriu falsamente mentindo na cara dura para Mary, por incrível que pareça ela pareceu acreditar.

A porta foi aberta, Alec e Tessa estavam na entrada, Alec foi até o feiticeiro e sustentou seu peso o levando para fora dali, mas Mary pôde escutar a voz do tio dizer “Um Martini?” E Magnus responder “Com certeza.”

-Como você está, Mary? -Tessa entrou no quarto e se pôs ao lado de Jem.

-Não sei… cansada.

Mary estava forçando manter os olhos abertos, ela está aqui, porém distante, como estivesse se obrigando a estar no meio de todas essas pessoas, como se em sua cabeça estivesse passando pensamentos que a tirassem do momento.

Clary, Jace e Ethan entraram correndo no quarto, Mary mudou completamente. Seus olhos abriram como se ela estivesse completamente bem, ela abriu um sorriso de ponta a ponta, seu peito estufou, mas ela soltou um ar de dor. Ela está fingindo. Esta fingindo estar bem para os pais e o irmão, ela não quer preocupa-los. Isso quebrou o coração de Dorian, ela não precisa fingir estar bem, será que ela fingia esse tempo todo? E se ela já está mais quebrada do que imaginavam? Estariam eles perdendo Mary aos poucos e mal percebendo?

Jem olhou para Tessa percebendo o mesmo, o que fariam? Expulsariam a família da menina para que ela podesse repousar?

-Mãe, pai… Ethan. -Ela começou a tentar se sentar, Dorian olhou nos olhos da menina e percebeu como ela segurava as lágrimas pela dor. Isso tinha que parar.

-Clary, Jace, podemos conversar lá fora? Você também, Ethan. -Disse Dorian se levantando rapidamente, pegando no braço do parabatai e o arrastando para fora.

Clary e Jace não queriam sair, mas Dorian só falava coisas em particular quando era importante para ele. Conheciam o rapaz como um filho.

Jace fechou a porta, cruzou os braços e esperou.

-Mary não está bem. Temo que ela esteja perdendo a cabeça.

-Magnus a curou, Dorian. Está tudo bem. Você está com medo… -Começou Ethan.

-Ela está quebrada, completamente quebrada e não percebemos, ela é uma ótima atriz e posso provar.

Dorian pegou a estela dele e fez uma marca na parede que permite caçadores espionarem através de paredes, portas, etc. O interior do quarto começou tomar forma, e puderam ver Jem e Tessa falando algo. E uma Mary, olhando para o teto, vazia, respondia as perguntas por responder. Em seguida passou as mãos pelos olhos, parecia que a qualquer momento ela iria gritar ou se atirar pela janela.

-Pelo Anjo, Mary… -Disse Jace.

Jace abriu a porta, a menina fez o mesmo movimento de sorrir, tentar se sentar e deixar os olhos brilhantes. Mas Jace estava carrancudo, irritado por ela ter mentido sobre sua saúde mental porque todos sabiam que física era difícil se dizer.

-Jace, vai com calma. -Começou Clary.

-Por que mentiu para nós? Por que não confiou na sua família para dizer que não estava bem? Seríamos os primeiros a te apoiar.

Mary então desmanchou o sorriso e se permitiu cair na cama, exausta. Os olhos foram se fechando lentamente, parecia que a menina estava desmaiando, mas seus lábios começaram a se mover lentamente.

-Eu sou um peso na vida de vocês.

-Você não… -Dorian a cortou.

-Me deixe terminar. -Todos esperaram.- Desde que nasci me tornei um peso na vida de vocês, nasci no meio de uma missão importante para todos, vocês me contaram isso. E então fui capturada, fiz parte de um experimento, e fiquei doente. Todos os meses indo para a cidade do silêncio, e quando vocês saiam para missões temiam me deixar sozinha porque não sabiam se quando voltassem eu estaria bem. E as vezes isso acontecia. -Mary coçou os olhos.-  Eu não quero que tenham mais esse fardo, toda vez que eu acordo vejo vocês esperançosos, não posso acabar com isso. Não posso simplesmente acabar com a esperança de vocês. Então sim, estou bem. Só exausta.

-Sua exaustão é tudo por conta desse peso que carrega nas costas, Mary. Você não é um fardo para nós. Como sua família, queremos seu bem, e se você não nos contar o que está sentindo, não podemos ajudar. -Explicou Clary indo até a menina e se sentando ao seu lado. - Nós te amamos mais do que tudo nesse mundo, não se esqueça disso. Só queremos ajudar.

-Então por que nunca perguntaram se eu queria passar por essas sessões ou não? -Mary disse.

-Porque pensamos que ajudasse… -Explicou Jace.

Mary se afundou na cama, suspirou fundo e não disse mais nada.

-Mary, quando eu era um garoto, passei por algo parecido. Eu era um garoto doente como você, meu parabatai Will Herondale pensava que devia sempre me proteger de tudo e de todos. Eu sei muito bem como você se sente. Mas saiba que ele jamais, jamais queria que eu passasse por sofrimento, procurava todo tipo de tratamento possível pra mim, ele encontrou Magnus assim como seus pais. Magnus o ajudou em várias coisas, então pequena… -Jem se aproximou de Mary e acariciou seu cabelo.- Não os culpe. Se o tratamento não está dando certo, conte. Eles irão encontrar outros meios. Se estiver dando certo, conte também. Ninguém vai te abandonar.

Tessa olhou para Jem como a luz em dias escuros, água para uma pessoa com sede, um pedaço de pão para um faminto… olhava para ele com tanto orgulho, tanto amor que qualquer um invejaria aquilo.

Mary abriu os olhos e olhou para o Carstairs, o rapaz dava um leve sorriso, um sorriso tão familiar para ela, mas ao mesmo tempo tão estranho… Lágrimas começaram a brotar de seus olhos e a menina se permitiu chorar.

-Estou cansada, eu quero que tudo isso pare, não quero ser uma caçadora doente, só quero ser normal.

Tessa pegou na mão de Jem e começou a puxa-lo para fora dali, bem baixinho ela disse “vamos deixá-los sozinhos.” e bem de fininho se retiraram do quarto, deixando a Família Herondale e Dorian Wahrheit terem o momento íntimo.

***

-Lucas Morgenstern, lhe darei algo valioso. Você tem uma semana para entregar a garota. Uma semana! -Ele puxou do bolso um frasquinho com um líquido preto viscoso- Assim que terminar esse prazo faça ela beber isso.

Lucas esticou a mão e pegou o frasquinho analisando o líquido.

-O que isso aqui faz?

-Mary irá ficar desacordada imediatamente e serei o único que conseguirá despertá-la.

-E quanto ao garoto?

-Deixe que eu cuido disso, o garoto será o mais fácil, com todos focados na menina, eles não estarão atentos uns aos outros. Foque na Herondale e eu irei fazer o resto. Só traga ela para mim.

Lucas deu de ombros e guardou o vidrinho no bolso.

-Tem algo que quero dizer, ela teve uma crise recente. Dei algo a ela que consegui com um feiticeiro e ela me deu instruções do que eu desejava. É por isso que a quer?

Astaroth sorriu, Lucas percebeu que era a primeira vez que via um demônio sorrir.

-Totalmente, garoto. Ela tem contato com os anjos, é um dom e tanto. Não sabe controlar seu poder por isso está morrendo, mas eu poderia arrancar todas as informações que desejo e quando quero dela. Só preciso da garota comigo pra começar os estudos e acabar com todos aqueles passarinhos que se acham superiores.

-E o garoto é para que?

-São almas gêmeas. Já fez o experimento de colocá-la perto dele? Quando ela está doente? Como ela melhora? Como a cor volta para sua pele e os olhos brilham mesmo ela ou ele não notando?

Lucas parou para pensar por um momento, não tinha visto Jordan e Mary no mesmo ambiente, não que se lembrasse.

-Ainda não respondeu minha pergunta. -Disse o Morgenstern.

-Se eu começar meus estudos em Mary e der errado, ele vai estar aqui para dar energia, eu só preciso tirar pedaços da alma dele e colocar nela a cada erro. Triste vai ser se eu mata-lo porque uma hora não haverá mais energia e não terei conseguido descobrir como me comunicar com os anjos através dela.

-Vai torturar ambos? -Lucas estufou o peito de alegria com tal notícia.

-Haverá sacrifícios, por que deseja tanto isso, Morgenstern?

-Está brincando? Ela é fruto de um Herondale. A família mais ridícula, são metidos e fracos. Lightwoods, traidores e igualmente narizes em pé. Seria um honra assistir isso de perto.

-Me traga Mary Herondale viva e saudável que pensarei se irei permitir plateias. Agora suma. O cheiro angelical correndo em suas veias está me deixando irritado.

Lucas riu, achou engraçado o fato de estar cooperando com um demônio maior e conseguir irrita-lo ao mesmo tempo sem correr nenhum perigo de morte por estar cooperando. E se morrer, o demônio está perdido. Não há ninguém tão perto da Herondale como ele.

-Estarei com sua preciosa Herondale daqui uma semana.

Então virou as costas e saiu andando, seu peito estufado e postura sem igual. Quem quer que ficasse na sua frente para impedir seu objetivo, estaria com um grande problema. Lucas iria acabar com todos os caçadores de sombras, começando pelos Herondales e Lightwoods.