História Os Meus, os Seus, os Nossos - Aquele dos ursinhos de bluebarry

Uma vida de artista costuma ser bastante movimentada e exposta. Sempre cheios de horários, compromissos, paparazzis a cada esquina, prontos para capturar algum momento constrangedor dos ídolos e os detonar na mídia; baladas com muitos famosos, bebidas e muitos escândalos os envolvendo. Entretanto, muitos artistas lidam com a fama de formas diferente, uns são mais reclusos enquanto outros são ativos nas redes sociais.

Até mesmo escritores precisam de certos cuidados ao se tratar da fama, mesmo sendo um profissional que está mais cercado por livros do que por flashs de câmeras, pode ser até mais tranquilo lidar apenas com o notebook, bloqueio mental, ficar sem escrever por meses e deixar todos os fãs irritados com um desenrolar da história totalmente diferente e até fugir de algumas fãs. Essa seria uma vida normal de um escritor. Mas nem todos seguem essa mesma regra.

Em uma livraria em Seoul acontecia um fansign de um dos livros mais aclamados atualmente. Overdose é o terceiro livro da série Two Moons, um romance escrito por Kim Junmyeon ou apenas Kim Suho como é conhecido por ser seu nome artístico. Desde que estreou ele conseguiu fama rapidamente por várias razões, a primeira seria que suas histórias são incríveis e apaixonantes, cada escrita, cada fala consegue levar o leitor diretamente ao espaço da história e fazer os leitores amarem e odiarem os personagens a cada momento. Ele conquistou com suas histórias fãs de todos os tipos, meninos, meninas, jovens de todas as idades, até mesmos adultos, principalmente as mulheres o que nos leva a segunda razão de toda a fama.

Suho é dono de uma grande beleza como um galã de novela, educado, fino, vindo de uma família rica, e era pai solteiro. O que atraía os olhares das mulheres fantasiando que um dia seria a sortuda esposa de Suho e mãe de seus filhinhos.

O fansign estava um sucesso, Suho terminava de assinar os livros e falar com os fãs.

 – Senhor Kim Suho, as fãs estão bastante curiosas quanto a isso – Perguntou o apresentador bastante animado. – Sabemos que é pai solteiro, então é verdade que tem cinco filhos? 

 – Sim, é verdade!

 – Uau, isso é incrível! Cinco filhos e ainda é um dos homens mais bonitos! É sonho de todas as mulheres mesmo ein senhor Suho.

Suho corou com o comentário e com as fãs gritando excitadas. Suas bochechas ficaram rosadas e marcantes quando abria um sorriso. Fez algumas piadas icônicas para divertir seus fãs, até mesmo o apresentador ria e se divertia com o carismático Junmyeon.

Algumas pessoas o achavam corajoso e forte em cuidar sozinho de cinco crianças, até mesmo foi eleito como ‘’Marido e pai dos sonhos que toda mulher gostaria de casar’’ pelas revistas populares, mas elas não imaginavam o quanto era difícil e ainda havia aqueles que o julgavam, o chamando de irresponsável, fofocando que sua esposa o deixou por culpa dele, por descuido, por ‘’ ter feito filhos demais’’. Sempre ia haver comentários como esses na sociedade, ainda mais para um pai solteiro, porque o certo, de acordo com pessoas conservadoras, era as crianças ficarem com suas mães.

Com o evento finalizado, Kim Suho se despedia de todos os staffs e ajudantes agradecendo formalmente a contribuição de cada um para que o fansign ocorresse bem. Todos estavam satisfeitos por ter sido um grande sucesso. Terminou de pegar seus presentes, entrou no carro e estava pronto para ir pra casa descansar.

Assim que ligou o carro e começou a andar alguns quarteirões nas ruas iluminadas pelas lojas do centro que ficavam mais bonitas sob a luz noturna, seu celular começou a tocar.

Como se espera de uma pessoa famosa, o telefonema deveria ser um convite para alguma festa, boates frequentadas pela alta classe em Gangnam, afim de comemorar o sucesso de seu livro com muita bebida e muitas mulheres. Muitos fariam isso, iriam para várias festas, encher a cara, voltar para casa apenas na manha seguinte com alguma garota sortuda e depois acordar 10 horas depois com uma ressaca infernal. Um famoso geralmente fazia tais coisas, não todos, e muito menos Kim Suho.

Quando atendeu, ouviu do outro lado da linha uma voz baixa e dengosa.

 – Pai, você já ta voltando pra casa?

 – Oh sim, Sehunnie, já estou voltando. Você e seus irmãos já jantaram? A senhora Minhae deixou alguma comida?

 – Ainda não, mas pedimos umas pizzas. Ela só deixou o arroz pronto e o kimchi na geladeira...

 – Caramba, depois de anos ela ainda se esquece de deixar a janta pronta, e avisei que voltaria tarde.

  – Ah pai meu docinhos de bluebarry sumiram, porque alguém chamado Chanyeol hyung comeu tudo escondido, tenho certeza que foi ele e não sobrou nada.

No outro lado da linha, Suho conseguia ouvir toda a barulheira do outros meninos, conseguia ouvir os gritos do Baekhyun e Jongin pelo controle do vídeo game, e o som alto da TV. Poderia até imaginar a cena de Baekhyun tentando tirar o controle do mais novo enquanto o Jongin dava uma chave de braço no pescoço do outro, já que a voz estridente do mais velho poderia ser ouvida em qualquer lugar’’ Ya seu desgraçado sai de cima de mim! Sai Jongin é a minha vez EU VOU TE MORDER! AAAA SAI! PAREM COM ISSO VOCÊS DOIS ‘’. Uma terceira voz se sobressaiu e foi ouvido um barulho de algo batendo e logo após sons de vidro sendo quebrado. Era a voz de Kyungsoo, o terceiro filho.

Sempre cuidava dos outros irmãos, parecia que era o mais velho dos cinco, era mais responsável, algumas vezes quando não o irritavam, senão ele apenas atirava qualquer coisa que via para machucar os outros.

Era assim que Kim Suho sabia que estava tudo tranquilo em casa, por incrível que parecesse, era assim que sabia que estavam todos bem e saudáveis. No contrário se estivesse todos quietos e a casa calma era porque ou estavam doentes ou planejando a dominação do mundo.

Da ultima vez que encontrou a casa totalmente silenciosa, encontrou Baekhyun amarrado na árvore do jardim com uma melancia presa na cabeça.

 – Pai, compra os meus doces okay, são os ursinhos azuis, o senhor sabe qual é.

 – Está certo eu vou comprar, vá tomar banho antes de jantar certo?

 – Tá! – Desligou o telefone.

Suho mudou seu caminho para o supermercado mais próximo agora, aproveitando o pedido do filho para comprar mais asas de frango e alguns lanchinhos.

Já estava chegando perto do supermercado, quando seu telefone tocou novamente, pensou que poderia ser seu filho ligando outra vez com mais um pedido. Quando olhou a tela o visor mostrava o nome Choi Min-ho e uma foto dele bem vestido segurando uma taça de champange com um sorriso bastante amigável.

É o melhor amigo de Suho desde o primeiro ano da faculdade. Nessa época Suho era bem tímido, tolo e um tanto perdido, principalmente em seus passos. Ele estava andando pelo campus procurando o prédio da Arquitetura quando se chocou com um garoto bastante atlético com cabelos longos, ele segurava uma caixa com várias roupas e acessórios brilhantes e chamativos, tinha até um troféu que agora estava tudo no chão. O garoto começou a gritar irritado com a atitude lerda do outro. ‘’ Ya! Se não tivesse olhando pro céu feito um pateta meu figurino não estaria arruinado! ‘’

Minho sempre olhou para o próprio umbigo, porque os livros de Suho também foram ao chão.

Na semana seguinte, eles se encontraram tendo a mesma aula. Era a vez de Minho estar perdido e despreparado, enquanto 35% da turma entregava o esboço de uma silhueta, incluindo Suho que era o único rosto conhecido que Minho via. Na mesma hora ele alegremente puxou uma cadeira para perto do outro e sugeriu que fizessem o trabalho juntos, já que ele não tinha sequer um esboço pronto. Minho conseguiu uma das notas altas e Suho também. Apenas 2 semanas depois que Choi Minho percebeu que estava na sala de aula errada, não fazia parte de sua grade. Mas para sua surpresa a amizade com Junmyeon continuou firme e forte ao passar dos anos até se tornarem adultos.

Minho é um modelo bem sucedido e popular, foi ele que incentivou que Junmyeon desse início a carreira de escritor.

 – Unmie pare imediatamente o que você estar preste a fazer e venha para Gangnam, meu amigo inaugurou a boate e vai ser incrível Unmie, já tem muita gente chegando. Eu e o Taemin estamos te esperando aqui e nada de recusar ok!

 – Olha Min, hoje não vai dá desculpa. Acabei de sair do fansign e to indo direto pra casa descansar.

 – Ah não Junmyeon! Nada disso, você vai sim, e venha vestindo aquela calça de couro da Gucci que te comprei!

 – Minho... – Suho é uma pessoa bastante paciente, ainda mais com Choi Minho que é bem explosiva e sempre com respostas sagazes na ponta da língua, então já é normal ouvir as reclamações e as discussões do amigo.  Esperava ele descarregar suas palavras enquanto dirigia calmamente, quando terminasse de falar aí seria a hora de Junmyeon dizer algo.

 – Eu realmente não vou poder ir, passei o dia trabalhando e não to com nenhuma vontade de ir pra festas, e tenho meus filhos, amanha tenho que levá-los a casa da mãe deles e Jongin tem ensaio bem cedo.

Minho bufou bem forte.

 – Sério? A empregada pode muito bem levar eles.

– ...

 – Arh Unmie!! Você nunca vai as festas que te convido, ta sempre mofando em casa e no trabalho

 – Eu nunca vou Minho é sério? Esqueceu na semana passada que tive que passar a noite te segurando porque você queria brigar com a garota que olhou pro Taemin.

 – Claro! Aquela puta claramente estava dando encima dele. Eu a vi entregando uma bebida pra ele Junmyeon! Eu vi tudo isso!

 – Ela era a anfitriã da festa – Suho riu com o exagero do amigo. Ouviu o amigo suspirou fundo e imaginou que Minho estaria revirando os olhos nesse exato momento. Conseguiu ouvir uma voz baixa chamando por Choi Minho.

 – Eu tenho que ir agora e você como um amigo maravilhoso que é, me deixou na mão outra vez.

 – Desculpa Min.

 – Fique sabendo que está me devendo muito depois dessa. Da próxima vez você não escapa Kim Junmyeon!

Ele desligou.

Era sempre assim, Minho sempre surgia com festas e eventos badalados para se divertirem e socializarem com muitas outras pessoas importantes, principalmente para mostrar as roupas das melhores marcas, porque o que é bonito tem que ser admirado, como Minho dizia sempre.Todo final de semana quando não estava trabalhando ele gostava de reunir os amigos, sempre saindo com Taemin, Hyojung e Junmyeon mesmo esse sendo o mais ausente.

Obviamente entendia o lado do amigo, cuidar sozinho de uma criança é muito difícil e logo Suho tinha cinco delas, todas entrando na adolescência já percebe-se o caos que é com todos os hormônios a flor da pele de pequenos humanos. Por isso ele queria que Suho pudesse se divertir mais, dá um tempo nos problemas domésticos e relaxar um pouco.

 Minho tinha muito respeito e admiração pelo amigo, até se espelhava nele quando fosse formar uma família. Deus ele mal conseguia cuidar do seu gato, imagine de uma criança e de brinde vir mais 4 delas. Não que Minho não gostasse dos filhos do amigo, ele os amava e sempre ajudava quando podia, principalmente quando as crianças ainda eram pequenos que foi um momento critico para todos eles, pois nesse período Suho e a sua esposa estavam abrindo o processo de divorcio e a guarda das crianças.

Ele odiava ver o amigo triste e passando por problemas, ninguém gostaria de ver seu melhor amigo dessa forma. Esse era o jeito dele de tentar animar Suho, sempre o chamando pra se divertir nem que seja um pouco, lembrar que ele não é apenas um pai, mas também um homem forte e muito bonito e nem um pouco velho. Isso era óbvio.

Mas Suho até que era mais caseiro e gostava de ficar perto de suas crianças. Ele cresceu em uma casa bem grande com dois irmãos. Um irmão 4 anos mais velho e uma irmã 2 anos mais nova. Sua família é rica, donos de uma linha de hotéis de alta classe.

Seus pais estavam sempre trabalhando é claro e Junmyeon e seus irmãos ficavam só entre eles e com uma babá, dificilmente via os pais em dia de semana e quando estavam fora do trabalho ou ficavam no escritório ou no SPA. Era como se tivessem tido filhos apenas para dar herdeiros a empresa, pois durante sua infância Junmyeon nunca viu os pais se amarem de verdade, apenas quando havia festas com mais de 100 convidados em um clube requintado, em casa se tratavam apenas como se fossem dois funcionários de uma empresa que se acostumaram com a presença de um e do outro. Era tudo bastante profissional.

Certa vez quando Junmyeon tinha por volta de seus 13 anos de idade quando juntou toda sua coragem, encheu sua mochila com roupas, comida, algumas economias por volta de 10.000 wons e fugiu de casa pela primeira vez correndo para longe o mais rápido possível. Havia todo tipo de sentimento, uma mistura de ansiedade, medo e uma grande dose de adrenalina. No entanto estava feliz.

Ele foi parar na estação, a agitação havia passado, porém só que acabou percebendo algo: Pra onde ele iria e se tinha dinheiro suficiente pra passagem. Estava anoitecendo, Junmyeon continuou vagando na entrada da estação de metro quando um homem o parou e perguntou gentilmente se ele havia se perdido de seus pais.

Ele negou com a cabeça sorrindo torto.

O homem o chamou para entrar no café ao, pois estava muito frio e perigoso pra uma criança andar sozinha. Junmyeon o acompanhou relutante com uma voz muito alta em sua cabeça gritando ‘’ Não devia seguir estranhos ou eles vão vender seus órgãos no leilão! ‘’. Viu o homem se afastar e depois falar com outra pessoa no canto, era um segurança local.

Junmyeon pulou de susto e correu pra fora assim que viu os dois andando em sua direção, correu tão rápido que caiu no chão arrastando seu queixo e braços no asfalto. Quase 11 horas da noite que ele voltou pra casa, a empregada foi a primeira a mostrar preocupação pelo sumiço do garoto e pela sua aparência. Ele esperava levar uma bronca de seus pais, mas tudo que conseguiu foi ‘’ Vá logo tomar um banho está sujando o carpete Italiano, você vai me dar outro por acaso? São extremamente raros!’’.

Suho viu seus irmãos crescerem frios, narcisistas e egocêntricos. Era algo que ele nunca desejaria que acontecesse com seus filhos, por isso se esforçava sempre para estar sempre presente e dar todo amor e carinho possível.

Finalmente havia chegado ao supermercado, estacionou seu carro perto da entrada e se dirigiu para suas compras.

Como era final de semana o supermercado estava pouco movimentado, o que era bom, ele podia fazer suas comprar calmamente e não teria filas no caixa. Assim fez.

Primeiro colocou umas dúzia de maçãs e dois cachos de banana no carrinho e foi em direção onde ficava as prateleiras de doces. O ambiente estava bem agradável, tocava ao fundo um som ambiente. Havia todo tipo de guloseimas que poderia imaginar, provavelmente o sonho de Sehun seria morar em um corredor só de doces, pensou Junmyeon.

Achou a marca que Sehun gostava. Havia vários deles, tinha Red bears de morango, Apple Bunnys, rainbow bears e BlueBears, que era os favoritos dele. Junmyeon sorriu e esticou a mão para pegar a caixa, mas antes dele conseguir uma mão mais rápida agarrou a caixa primeiro.

Suho recuou sua mão com o ato inesperado e mal educado da outra pessoa, olhou pro lado e havia um homem alto falando ao telefone e usando óculos escuros, como se não prestasse atenção no que acontecia ao seu redor. Junmyeon imaginou que o homem não poderia ter percebido a ação rude, então deixou passar. Voltou seu olhar pra prateleira, não havia nenhuma outra caixa daquela, era a ultima.

 – Droga...

Sem pensar duas vezes, ele segurou o braço do homem de óculos escuros antes que ele fosse embora, o outro de imediato olhou confuso para Suho.

  – Espera!

 O homem tirou o celular do ouvido e pedindo para a pessoa da outra linha aguardar.

 – Algum problema? – Ele tinha um certo sotaque.

Suho pensava no que ia dizer, já tinha parado o homem de óculos, o que restava era ir em frente.

 – Eh... Sim na verdade... – Suho sorriu sem graça e vagarosamente soltou o braço do outro quando percebeu que o ainda estava segurando. – Eu estava pegando essa caixa de doces, mas parece que é a ultima.

O homem não disse uma palavra, continuava o olhando por cima dos óculos, Junmyeon poderia jurar que ele o estaria fuzilando com os olhos, aliás, quem usa óculos escuros a noite?!

 – Então... Elas eram as ultimas e estou precisando delas, então você poderia dá-la pra mim?

 – Não.

Claro que ele não daria, foi muito estúpido achar que ele simplesmente daria o ultimo pacote de doces, pensou Junmyeon, tentando parecer amigável sendo que o humor do outro não ajudava nada com aquela cara fechada e os óculos escuros.

Ele começou a se virar pra ir embora, voltando a por o celular perto do ouvido.

 – Espera, espera – Suho segurou o braço do outro novamente o fazendo virar.

 – Eu te ligo depois ta. – Ele desligou o celular dando um suspiro baixo e voltou a atenção para Suho esperando o que ele queria dessa vez.

 – Olha – Tentou sorrir – A verdade é que eu tenho um filho que gosta muito desses doces sabe e ele vai ficar muito triste se eu chegar em casa e estiver sem eles.

 – É só pegar outro doce – Ele apontou paras as outras caixas similares á aquela.

 – Verdade, tem tantos outros sabores, por que não leva outro e deixa esse comigo? – Suho sorriu.

O homem deu uma risada abafada e tirou seus óculos. Seus olhos eram vívidos e tinha uma expressão forte, um olhar bastante marcante. Se ele fosse uma garota, Suho com certeza se apaixonaria, mas não era o momento para isso. Nesse momento ele estava bastante irritado para notar a beleza do outro.

 – Mas eu quero esse daqui. – O homem puxou seu braço de volta que Suho ainda estava segurando.

 – Ta certo, eu compro essa caixa de você okay, quanto você quer?

 – Eu quero que largue o meu braço, se não conseguiu pegar os doces antes aí é problema seu.

Durante aquela noite Junmyeon estava sendo bonzinho demais, ele era paciente, mas nem tanto. Suho levantou uma sobrancelha surpreso com a audácia do outro.

 – Escuta, pode ficar com esses doces ta, aproveite bem e espero que se engasgue com eles! Ou melhor, que você engorde!

 – Idiota – O homem dos óculos levantou o dedo do meio e foi embora levando os doces.

 – Seu ladrãozinho de doces!

Com sua missão fracassada, agora Suho teria que chegar em casa e ouvir Sehun reclamar e tudo por causa desse idiota de óculos escuros. Pra não chegar com mãos vazias, ele pegou uns chocolates, pagou contra gosto e foi para casa.

 As luzes da casa ainda estavam acesas, Junmyeon estacionou o carro na garagem, pegou as caixas com os presentes e as compras e entrou dentro de casa, não antes de ser abordado por seu segundo filho mais velho que logo segurou uma das caixas de presentes que Junmyeon carregava. As vozes altas e animadas dos meninos poderiam ser ouvidas do lado de fora do jardim junto com os latidos dos três cachorrinhos que anunciava a chegada de Junmyeon e ficava mais nítido quando adentrava na casa.

 – O que você ganhou pai? – O garoto alto olhava curioso, a caixa cheia de presentes que as fãs havia dado a seu pai.

 – Tem uns ursinhos de pelúcia e chocolates que são pra você e seus irmãos, leve logo pra dentro Chan, mas só vão comer depois de jantar. – Disse seguindo o filho até dentro de casa.

O garoto abriu um sorriso, um sorriso de quem ganhou seu primeiro presente do papai Noel. Chanyeol era um dos que ajudava a tomar conta dos irmãos, para Suho o filho tinha um sorriso encantador, estava sempre com uma alegria contagiante e calorosa. Quando Suho estava perto é claro, mas isso mudava quando ficava perto dos outros ou de Baekhyun que era seu ‘’parceiro de crime’’. Chanyeol sempre foi extremamente bagunceiro e encapetado como uma criança de 14 anos é. Ele era um dos principais responsáveis pela bagunça e inquietação na casa, e seu irmão mais velho acompanhava aprontando com ele.

Ele correu pra dentro com passos largos chamando pelos outros. Baekhyun estava gritando com Jongin que não conseguia matar o time inimigo no Battle Field, ele pausou o jogo assim que viu Chanyeol chegar com a caixa.

 – Woah o que tem aí, o da frente é meu, já avisei. – Baekhyun falou com uma voz bem infantil.

 – Espera aí, ainda vou dividir tudo. – Chanyeol pôs a caixa no canto da sala.

 – Cheguei em casa ~ - Suho tirou seus sapatos na entrada e calçou suas pantufas amarelas.

Finalmente em casa o escritor Kim Suho se transformava de imediato em Kim Junmyeon. Era um alivio estar no ambiente caseiro, onde poderia ser ele mesmo e relaxar depois de um dia bem movimentado. Porém não iria descansar ainda, principalmente quando viu as louças sujas na pia da cozinha.

Ele colocou a outra caixa do lado da outra, a que Chanyeol e Baekhyun já estavam revirando de ponta cabeça e escolhendo os presentes. Baekhyun pegou uma caixa suspeita bem pesada, balançou pra ver o que poderia ser.

 – Ei não vá quebrar nada – Reclamou Chanyeol. Baekhyun fingiu escutar e sem o outro ver, ele abriu a caixa e arregalou seus olhos de surpresa. Havia cinco CDs de jogos que lançaram nas ultimas semanas, ele fechou a caixa rapidamente e foi até Junmyeon que estava organizando a mesa junto com Jongin para jantarem.

 – A senhora Minhae preparou alguma comida antes de ir embora?

 – Não, ela só fez o kimchi, então eu e o Kyungsoo hyung fizemos um pouco de chocolate.

 – Um pouco?Jongin,tem quatro panelas sujas de chocolate.

 – O primeiro chocolate queimou...

Junmyeon riu sem acreditar na tolice que Jongin dizia, não podia ficar bravo com ele, parecia tão fofo fazendo um biquinho quando se sentia envergonhado. Com certeza ele iria lavar tudo aquilo depois, sem falar nos pratos que usarão para as pizzas.

 – Vá chamar seus irmãos pra jantarem.

 Jongin balançou a cabeça afirmando e correu subindo as escadas. Ele e Sehun são os filhos mais novos, era uma hora e meia mais velho que Sehun, irmão gêmeo de Sehun que não se pareciam nem um pouco. Sempre foi obediente e bastante tímido, mas fazia amizade rápido quando gostava de alguém. Na maior parte do tempo ele era desligado e estava sempre perdendo suas coisas ou se perdendo que era o que mais acontecia, todo o momento em que saíam, Junmyeon tinha que ficar segurando a mão do garoto, senão ele ia se perder fácil.

A televisão estava ligada aberta em um jogo de FPS que Baekhyun, Chanyeol e Jongin gostavam de jogar no tempo livre. Após seu pai chamar para a mesa, o maior deixar a TV ligada em um programa qualquer de variedade e sentou-se a mesa, esperando os outros.

Baekhyun estava bastante inquieto na cadeira, se mexendo pra lá e pra cá como se algo estivesse no assento dele, o irmão menor logo percebeu que ele havia nas mãos um dos presentes.

 – Ei não era pra você ter pego, era só quando tivesse todo mundo junto! – Chanyeol gritou.

 – Aaahn – ele se levantou num pulo e agarrou o braço de seu pai – Posso ficar com essa daqui né mamãe~ - Baekhyun falou com uma voz dengosa esperando que isso o ajudaria a ganhar o presente.

 – Ei isso não vale! – Chanyeol se levantou e foi em direção ao outro que continuava agarrado ao braço do pai que tentava repartir as fatias de pizza calmamente.

 – ‘’ Ei’’ ? Eu sou o mais velho você tem que me respeitar viu! – Baekhyun gritou mais alto.

 – Mais velho tsc, mais velho que rouba dos mais novos. – Chanyeol apenas resmungou sentando de volta na cadeira.

 – Esses presentes são pra todos vocês, Baek vá deixar isso lá de volta. Vocês tem que saber dividir, Sehunie e Kyungsoo nem virem os presentes ainda.

Baekhyun fez uma cara feia mostrando a língua. Os dois praticamente ignoraram as palavras de Junmyeon,estavam ocupados demais xingando um ou ao outro com gestos.

Kim Jongin literalmente desceu as escadas pulando, chegando logo a mesa e pegando uma fatia de pizza de frango, que era sua favorita. Ele veio seguido por Kyungsoo e Sehun que não largava o celular, sentando-se ao lado do segundo caçula.

 – Pai eu comprei as pizzas com seu cartão, a senhora Minhae saiu mais cedo, então comprei a que você gosta também – Kyungsoo aponta para a pizza de peperoni.

 – Obrigado querido. – Junmyeon beijou a testa e afagou os cabelos do filho – Coma tudo que eu tenho uma coisa pra você okay, está muito magrinho. Sua orientadora me ligou hoje de manha, disse que ficou na enfermaria durante duas aulas.

O garoto sorriu com afeto. Abriu a geladeira, pegou a coca-cola e passou servindo cada um dos irmãos.

 – Não foi nada demais, só fiquei enjoado com a comida de lá. - Kyungsoo se sentou a frente e Chanyeol na ponta pra ficar longe do irmão mais velho.

Todos estavam concentrado nas pizzas, comendo e falando como tinha sido o dia de cada um deles, Junmyeon contando que teve muito sucesso com seu livro e estava bem orgulhoso, era uma mesa de jantar bem calorosa como acontece em filmes. Enquanto todos falavam, Sehun parou de comer e olhou ao redor, primeiro para a sala onde as caixas com os presentes estavam com um olhar preciso de quem procurava algo importante, voltou seu olhar para o balcão da cozinha, havia uma sacola de supermercado. Os seus doces.

Ele se levantou devagar sem que os outros prestassem atenção, foi até o balcão, abriu a sacola procurando por seus doces. E um sorriso que estava prestes a sair, foi murchando cada vez mais quando não viu o que ele queria.

 – Ei, ei termine seu jantar primeiro, depois os doces. – Junmyeon o advertiu.

 – Pai, o senhor não comprou os ursinhos de bluebarry ?- Disse, virando-se para Suho.

 – Quando fui comprar só tinha um dele e ...já tinha sido comprado. Outro dia eu compro ta.

 – Hm – Sehun fechou a cara, voltou para sua cadeira com uma expressão chateada e Suho não deixou de perceber a reação do filho.

 – Termine de comer Sehun.

Ele não respondeu, apenas ficou cortando os pedaços de pizzas, enquanto os demais apenas enrolavam e literalmente engoliam a fatia de pizza. Já era o quarto pedaço que Jongin comia, e por uma razão misteriosa ( nem tanto assim) mais pedaços surgiam no seu prato. Do seu lado Sehun silenciosamente colocava seus pedaços de pizza no prato de Jongin e no prato de Kyungsoon, que apenas comia sem falar muito.

Sehun suspirava baixinho.

 – Ah só queria meus doces, só isso...

Horas depois, as crianças estavam de volta na sala animados com os novos jogos que ganharam, Jongin estava deitado no chão cutucando o olho de um cachorro de pelúcia, Kyungsoo ajudava Suho a lavar a louça e a guardar no armário, enquanto Sehun ficava debruçado sobre a mesa brincando com os talheres.

 – Sehunnie coloque seus pratos aqui e lave, falta só você. – Suho tirou as luvas, guardou na gaveta e foi para a sala mandar as crianças guardarem seus pertences e irem dormir.

Mesmo depois de Suho mandar o filho lavar a sua louça, ele continuou sentado na cadeira resmungando ‘’ Se eu tivesse meus doces, até faria algo’’, ‘’ Eu mesmo deveria ter saído pra comprar meus ursinhos’’. Kyungsoo pegou os pratos e os talheres de Sehun e começou a lavar.

 – Pare de reclamar, o pai vai comprar os teus doces.

 Sehun bufou desceu da cadeira revirando os olhos.

 – Quero meus doces de bluebarry! – Ele subiu as escadas pisando forte propositalmente cada degrau, mostrando para os outros sua birra.

O caçula falava com uma voz dengosa e baixa mal abrindo a boca enquanto falava, ao contraio de Baekhyun que gritava a todo momento. Por ter a língua presa, tinha dificuldade em pronunciar algumas palavras, principalmente quando ficava zangado, acabava atropelando as palavras na sentença, perecia que estava sempre resfriado.

Kyungsoo terminou de lavar os pratos e os de Sehun, sentou-se no sofá pra abrir o presente que Suho tinha trazido pra ele. Abriu a sacola e tinha dois figures do anime que ele gostava, ele abriu um grande sorriso admirando seus novos figures, abraçou o pai agradecendo pelo presente.

Baekhyun e Chanyeol continuavam jogando e Jongin estava dormindo no chão. Junmyeon em um sussurro mandou os meninos desligarem o vídeo game e irem dormir, ele ia terminar de arrumar a mesa, a sala e levar Jongin pro seu quarto.

 – Eu o levo pro quarto – O irmão se abaixou para acordar o irmão mais novo, balançando seu braço e chamando seu nome.

Ainda sonolento, o mais novo colocou os braços ao redor dos ombros de Kyungsoo que o ajudou a levantar e a subir até seu quarto que era o quarto que os dois dividiam. Colocou Jongin deitado em sua cama, e foi até a estante do seu lado do quarto colocar seus dois Actions Figures ao lado dos outros. Foi até o irmão, arrumou o travesseiro, tirou suas meias e o cobriu com a coberta pra não pegar um resfriado a noite.

Os dois sempre foram companheiros de quarto e como Jongin era mais novo, ele sentia que tinha que cuidar dele, até porque o mesmo se atrapalhava em tudo e era muito inocente. Desligou a luz do quarto deixando apenas a do abajur ligado perto dele e no seu lado da cama. Kyungsoo colocou seu pijama, pegou seu celular e começou a assistir um filme esperando o sono chegar.

No andar de baixo, Chanyeol havia ido dormir, na sala estava apenas Junmyeon e seu filho mais velho, colocando tudo nos lugares. Baekhyun guardou os brinquedos no baú de brinquedos, fazendo uma pilha, enquanto seu pai aspirava o chão se livrando dos restinhos de comida que poderia ter caído.

Baekhyun bocejava a cada 20 segundos enquanto contava sobre a professora que o tinha dado uma advertência por ‘’engano’’.

 – As suas notas ainda estão baixas, também é um engano?

 – Ahn... isso é outro assunto, por favor pai agora não

 – Agora vá lavar o rosto e ir dormir e nada de ficar jogando, é por isso que suas notas estão baixas, finge que ta dormindo pra depois ir jogar, por isso que é uma lesma pra acordar cedo.

 – Ninguém gosta de acordar cedo, ainda mais num sábado tsc... – suspirou pensativo – Eu tenho mesmo que visitar a ... Soohyun,não pode ser outro dia?

 – Você tem que ir, já faz dois meses, tem que cumprir o combinado e ela é a sua mãe.

Baekhyun suspirou desgostoso.

 – Tenta se divertir, você não vai sozinho, seu irmão vai ta junto e ela não é má pessoa, sabe disse Baek, ela ... ela ama vocês, todos vocês ta.

 – Hmm sei.

 – Ta, agora vá dormir, quer ficar com olheiras no rosto? Vá logo – Suho deu umas palmadas nos quadris do filho para que ele subisse logo.

Ele entendia que o filho não queria ver a mãe, mas não tinha tanta escolha assim