História Os olhos de Helena. - Os olhos de Helena.

Os olhos de Helena.

Todos sabemos como a vida começa, o nascimento, o bebê chorando e tudo aquele conto de fadas que nos dizem.  Mas comigo não é assim, nasci junto com o mundo e tiro deles todos os seres vivos, inclusive os seres humanos. Nasci no momento que a primeira criatura viva morreu. Uma criatura sem sentimentos, sem emoções, apenas aqui para cumprir seu propósito dia após dia, esse sou eu. Fui aliado de vilões da história mundial, fui inimigo de mães e pais, muitos me odeiam e muitos me desejam.  Mas tudo isso mudou quando Helena nasceu. Em seus primeiros minutos de vida fui busca-la e quando ela estava quase em meus braços os médicos trouxeram a vida novamente a ela, ela escapou pelos meus dedos e a perdi. Desde então comecei a acompanhar todos os dias, ela nunca mais chegou perto de mim novamente até quando chegou o momento certo. Eu a vi crescer, desde criança era inteligente e voraz, linda. Seus cabelos castanhos claros começaram a crescer e a roçar seus ombros, olhar em seus olhos cinzas era como observar um dia nublado, pálido. Quando adolescente atraia diversos olhares de rapazes e homens, foi nessa época que descobri o sentimento de ciúme, e ao mesmo tempo descobri que a amava. A desejava todo santo dia, mas a desejava tanto que não a queria vindo de encontro a mim. Queria que ela aproveitasse tudo que a vida pudesse dar a ela. Queria vê-la feliz, e até então ela sempre havia sido. Até o dia que seus pais se separaram, vieram discussões e brigas constantemente, problemas em sua escola e a indecisão do futuro. Vi a explosão de sentimentos através de seus olhos, chorei quando ela me desejou, mas não era a hora ainda dela me ter, e eu a amava de mais.

Os problemas se acalmaram, e ela inteligente como era passou em uma faculdade, tinha certeza do que queria para sua vida. Na faculdade conheceu o amor, e também sentiu seu coração partido. A vi chorar por outro que não era eu, e juntos no silêncio da noite choramos juntos. Vi ela se formar, arrumar um emprego e novamente se apaixonar profundamente. Vi o amor em seus olhos, aqueles olhos, eu os chamava de janela do paraíso. Nunca os esquecerei.

Ela se casou, teve dois filhos e apenas um puxou os seus olhos. O mais velho puxou seu jeito de ser curioso e teimoso, o mais novo seus olhos e sua meiguice. Acompanhei-os crescendo, se machucando e ela sempre por perto os protegendo. Mas não adiantou , o mais velho veio de encontro a mim e novamente ela me desejou e eu a neguei para que ela visse mais da vida. O mais novo cresceu, saiu de casa, se formou, construiu uma família e deu a ela netos. Lembro-me da felicidade transbordando de seus olhos quando conheceu o primeiro neto, uma menina na verdade. E a neta havia puxado seus lindos olhos também.

Ela adoeceu, com 83 anos a vi quase vindo de encontro a mim. E chorei, pois havia esperado tanto para tê-la, eu a amava. Quase para falecer, no breu de uma noite em seu quarto, com seu marido adormecendo a seu lado ela sussurra “Acho que chegou o momento que você tanto esperou meu querido”. Então me ajoelhei à beira de sua cama, rocei seu rosto com as pontas dos dedos, enxuguei lhe uma lágrima que ali estava com um beijo e ela se levantou e me deu sua mão. Quando fez isso voltou a ser a garota de cabelos castanhos até o ombro, não mais grisalhos. Voltou a ser a menina sorridente com o nascer do sol em seus olhos, e de mãos dadas a levei, minha amada agora estava comigo.