História Os sobreviventes (Simbar) - Fazendo as pazes

  POV MATTEO

Não consegui dormir direito essa noite. A consciência me pesou e muito. Acordei bem cedo, e fiquei apenas deitado, envolto em meus pensamentos. Eu realmente agi como um completo idiota ontem. Eu não queria ter dito nada daquilo, ainda mais pra Daniela. Ela deve estar muito magoada comigo. Também não é pra menos! Eu to me sentindo muito mal, muito mesmo. Meu estômago está revirado, como se me chutassem de dentro para fora. Meus olhos estão ardendo de tanto ficarem abertos e eu acabar me esquecendo de piscar. Eu só sei pensar em como eu a magoei, a chateei, a deixei se sentindo a pior garota do mundo, a mais indesejada! Mas a verdade é o contrário. Ela é a melhor garota que eu já poderia ter conhecido! Eu a conheço desde os nove anos. Ela tinha oito, sou um ano mais velho que ela e Luna. Isso é praticamente uma vida inteira! São dez anos! Mas eu sempre a vi como apenas mais uma irmãzinha, e era tão protetor com ela como era com a minha própria irmã de sangue.

Eu me lembro de uma vez em que a defendi de umas meninas que ficavam fazendo bullying com ela no quinto ano, quando elas entraram pro ginásio. Luna começou a andar com umas meninas mais populares, e meio que deixou Daniela de lado. Até que teve um dia que essas meninas foram aprontar com ela, e eu a salvei.

           *flashback on*

Eu me lembro que estava com uns colegas na porta da sala, era hora do intervalo. Todos estavam nos corredores da escola. Eu estava rindo de alguma piada que um colega contou, mas que não lembro qual era, quando de repente ouvi alguém gritando. Vinha de dentro de uma das salas.

          — Me deixem em paz, por favor!

Era a voz dela. Depois de alguns anos de convivência não tinha como não saber. Eu saí de onde estava e fui até a sala dela. Ela estava rodeada por umas garotas. Eram As Gatas, um grupo de meninas populares na época. Mas o que tinham de gatas, tinham de fúteis e malvadas.

           — Que foi? Vai chorar? Nós só queremos te ajudar fofa! A Luninha quer tanto que você entre no nosso grupo, afinal vocês são tão amigas né? E como nós também somos amigas, qualquer amiga dela é nossa amiga também! Ou você não quer ficar com a sua amiga?

           — Eu não preciso disso! Eu não sei o que a Luna tem na cabeça por andar com vocês! Vocês não prestam! E eu nunca vou me juntar a vocês! E quando ela vir quem vocês são, ela vai sair fora rapidinho!

            — E quem vai contar? Você? É a sua palavra contra a nossa... e sinceramente depois que você a abandonou, nos tornamos as novas amigas dela, e é claro que ela iria acreditar na gente! E você é uma ingrata! Nós viemos aqui em paz te oferecer a nossa amizade, e você nos trata assim? Acho que você está merecendo uma liçãozinha... Meninas peguem ela!

Quando eu vi o que elas iriam fazer, eu entrei na mesma hora e mandei colocarem ela no chão. Elas ficaram assustadas e a largaram na mesma hora. A líder delas foi a que mais ficou assustada. Ela tinha um crush em mim e com o que eu tinha visto ela sabia que tinha perdido qualquer chance de ter algo comigo. Eu percebi que ela ainda olhou pra Daniela furiosa prometendo vingança. Quando ela ia saindo, a peguei pelo braço e falei que se ela tentasse fazer mais alguma outra coisa com a Daniela, ela iria se ver comigo. Quando ela finalmente saiu, ela estava chorando. Eu fui até ela e a abracei.

             — Calma, elas não vão fazer mais nada com você, eu prometo! Eu não vou deixar!

             — O-obrigada Matteo! — ela ainda soluçava e chorava no meu ombro.

Luna não tinha ido à escola aquele dia, pois tinha pegado catapora. Mas eu contei tudo pra ela assim que cheguei em casa, e abri seus olhos. Ela ficou chocada e na semana seguinte mandou aquelas garotas pro espaço, se desculpou com a Dani e voltaram a andar juntas.

           *flashback off*

E agora eu agi igual aquelas meninas. Ou até pior. Mas a verdade é que agora eu não sei se eu a vejo mais como apenas uma irmã. No começo ela foi apenas minha segunda opção de companhia pra festa, pra não ficar sozinho, porque no fundo, eu não gostava disso. Por isso eu ganhei essa fama de pegador. No fundo só queria achar uma garota legal, pra ter algo sério, que me fizesse bem e eu a ela. Mas nunca encontrei. Mas aí quando eu fui com a Daniela pra festa, eu percebi uma coisa que eu nunca tinha percebido antes. O quanto ela era linda. E inteligente, divertida e engraçada. Eu nunca tinha me sentido bem desse jeito com nenhuma garota antes. Eu nunca fiquei tão sem jeito perto de alguma garota. Realmente estava tudo perfeito, até a Jim aparecer e estragar tudo! Se tem alguém com quem estou com muita raiva, esse alguém é ela! mas agora não tenho tempo pra pensar nisso, e sim em procurar a Daniela e me desculpar com ela, e dizer o que eu sinto!

               — Já está acordado? — Gastón fala me tirando dos meus pensamentos

               — Na verdade eu nem consegui dormir! Estava pensando em ontem!

               — É cara, você vacilou e muito! E aí o que você vai fazer?

               — A coisa certa! Tenho que ir!

               — Calma aí cara! Temos que ir pra aula primeiro! E ela com certeza já deve ter ido!

               — Caraca! É verdade! Nem vi o tempo passar!

Corri pra me arrumar. Me aprontei em 5 minutos. Quando eu abri a porta pra sair eu encontro o Simón do outro lado. Ele me cumprimentou com o olhar e passou por mim, entrando no quarto.

               — Simón, eu sinto muito por ontem, eu não queria ter agido assim...

               — Tudo bem cara, eu te desculpo, mas não é só comigo que você precisa se desculpar...

               — Eu sei, eu vou falar com a Âmbar depois.

               — E a Daniela

               — Ela é um caso a parte... Mas não se preocupe

E demos um abraço. Me tirou um terço de peso das costas, faltam agora os outros dois terços.

***

POV DANIELA

Eu ainda estava mal por causa do Matteo. Mas eu não ia deixar isso estragar meu dia! Me despedi das meninas e fui pras minhas aulas. Tudo estava correndo muito bem, apesar de ainda estar meio aérea. Até a penúltima aula. Eu fui a última a sair, pois esqueci de guardar as minhas coisas antes e acabei levando um tempo  pra guardar tudo. Quando eu estava saindo, eu vejo alguém na porta. Alguém que infelizmente eu sabia quem era.

              — Ora, ora, ora... O que é que nós temos aqui? A caloura idiotinha que roubou meu cara!

Era a tal menina que estava aos beijos com o Matteo na festa. Senti meu estômago revirar. Fiquei com a garganta seca. Ela me olhava com um olhar de quem poderia me matar a qualquer momento. Fiz um movimento pra sair, mas ela barrou a porta e me impediu. fechou

              — Me deixa sair por favor!

              — Só se você me disser o que você quer com o meu cara!

              — Nós não temos nada, somos apenas amigos!

              — Mentirosa! Eu sei que você gosta dele! E não sei o que você tá fazendo pra ter conseguido chamar a atenção dele, mas eu não vou permitir!

              — Como assim eu chamar a atenção do Matteo? Ele não quer nada comigo e já falou, fique despreocupada.

               —Eu vejo como ele te olha garota! Não se faça de sonsa! Fique longe dele! Ou vai se arrepender!

               — Me obrigue! Não tenho medo de você sua louca!

Quando eu chamei ela de louca, ela acabou enlouquecendo mesmo. Ela avançou pra cima de mim, eu só soube me defender, mas depois comecei a atacar. Depois de um tempo consegui me livrar dela e me levantar

              — Você é louca? Está fazendo isso por causa de homem?

              — Sim, e vou continuar defendendo o que é meu! Igual eu fiz na festa!

              — Peraí, então foi você quem o beijou?

              — Sim queridinha! E darei quantos beijos forem necessários até você entender que ele é meu!

              — Ah, mas você está muito enganada, ele nunca vai ser seu! Ele nunca ficaria com uma bitolada que nem você!

              — Isso, é o que veremos!

Ela me empurrou e eu caí no chão. Então saiu correndo e trancou a porta pelo lado de fora. Eu não acredito! Ela me trancou aqui! Essa garota enlouqueceu! Eu corro pra porta, tento abrir, mas inutilmente é claro. Eu começo a socar a porta, gritar por ajuda, mas nada. O prédio já tinha esvaziado, já fazia muito tempo desde a última aula, a discussão com aquela garota durou mais do que eu imaginava! Não tem mais ninguém aqui. Continuo gritando até minha voz começar a falhar. Parecia que a sala era a prova de som. Eu sento em frente pra porta me encolhendo e chorando, mas de raiva! Não acreditava que isso estava acontecendo! Mas pelo menos agora sei que o Matteo falava a verdade. Como eu fui besta! Mas agora não adianta mais chorar o leite derramado. Me levanto e volto a gritar e bater na porta. Então tive uma ideia. É claro! Meu celular! Corri na minha mochila pra pegar. Mas ele estava descarregado! Droga! Justo quando eu mais preciso! Acabei de perder as esperanças! Quanto tempo terei de ficar aqui? Abaixo a carteira na mesa e começo a chorar de novo.

POV MATTEO

Eu estava ansioso por encontrar a Daniela. Eu pedi às meninas que avisassem a ela pra se encontrar comigo, pra poder me desculpar. Mas antes claro eu me desculpei com elas, principalmente com a Âmbar, e ela aceitou minhas desculpas.

Depois que saí da aula fui correndo pro pátio pra encontrá-la, mas ela não estava lá. Eu estranhei. Perguntei pra Luna se ela tinha avisado e ela disse que sim, que mandou uma mensagem. Ela foi verificar e viu que Daniela não tinha nem ao menos visto a mensagem. Ela disse que ia no dormitório ver se ela já não estava lá e qualquer coisa me mandava mensagem. Depois de dez minutos me mandou mensagem dizendo que Dani não estava lá, e eu comecei a me preocupar. Já tinham se passado uma hora desde a última aula dela, e nada. Então resolvi ir procurá-la no prédio onde ela estuda, o de artes modernas, pra ver se ela ainda estava lá. Algo que me dizia que ela não havia saído de lá. Então fui correndo o mais rápido possível. Cheguei lá e comecei a procurar pelas salas e gritando seu nome.

POV DANIELA

Eu continuava chorando. A mesa já estava encharcada de lágrimas. Eu já estava perdendo as esperanças, quando uma voz conhecida me fez sorrir automaticamente.

            — Daniela! Daniela! Cadê você??

Era o Matteo! Não acredito! Ele estava procurando por mim! Eu logo corri pra porta e comecei a gritar e a bater na porta de novo! Tomara que ele consiga me ouvir!

POV MATTEO

Eu já tinha procurado em várias salas, e nada! Mas de repente eu começo a ouvir um barulho do que parecia alguém batendo na porta. Fui seguindo o barulho até chegar na última sala do prédio. E lá estava a Daniela! Ela estava trancada na sala! Por isso ela não apareceu! Ela nem conseguiu sair! Ela ficou muito feliz em me ver! Mas não tanto quanto eu!

POV DANIELA

Como eu fiquei aliviada em ver o Matteo ali! De repente eu esqueci toda a nossa briga de ontem...

              — Calma aí Dani! Eu já vou te tirar daí!

Eu assenti com a cabeça. De repente ele sumiu das minhas vistas. O que será que ele iria fazer? Bom, só me restava esperar.

Ele volta depois de alguns minutos com um homem. Era o zelador! Claro! Ele tinha todas as chaves das portas daqui! Eu me afastei enquanto o Zelador abria a porta. Quando finalmente ele a abre, minha primeira reação foi pular nos braços de Matteo em um abraço apertado.

               — Pode nos deixar um momento a sós? É que precisamos conversar — disse Matteo pro zelador.

               — Vocês têm 15 minutos.

Ele então sai, e Matteo fecha a porta novamente.

               — Como sabia que eu estava aqui?

               — Foi um palpite

               — Eu nem sei como agradecer, sério mesmo!

               — Bom, se você me perdoasse já seria ótimo pra mim!

               — Mas é claro que eu te perdoo! Você veio até aqui só pra me procurar! E eu também te devo desculpas... Desculpa duvidar de você, agora eu sei a verdade

               — O que? Como assim?

               — A garota que me trancou aqui, ela me disse que foi ela quem te beijou! Ela é uma doida! Ela veio pra cima de mim, me xingou, me bateu, e depois me prendeu aqui!

               — Ela o que?? Eu não acredito! A Jim chegou longe demais! Mas ela vai ver só!

             — Deixa pra lá Matteo, não vale a pena! O que importa é que eu to bem, e você me achou! Agora eu sei que você gosta de mim de verdade!

               — Claro que eu gosto, gosto muito! Desde aquele dia da festa, eu percebi o quanto você é incrível! Pena que a Jim estragou tudo!

               — Pois é, eu só sinto pena dela! Ela precisa de amor próprio!

               — Ela precisa é de um psiquiatra, isso sim! — eu ri — mas é sério, eu gosto mesmo de você! Me perdoe de verdade!

               — Eu também gosto muito de você Matteo! Você não sabe o quanto!

Então demos mais um abraço, bem apertado e demorado. Eu não queria mais sair daquele abraço. Quando nos afastamos, senti ele se aproximar do meu rosto, e eu faço o mesmo, mas quando estávamos a ponto de nos beijarmos, o zelador aparece e nos fala que o nosso tempo acabou. Nós nos olhamos e rimos. Então ele me dá a mão e voltamos assim, de mãos dadas, para o nosso dormitório.