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História Os Versos Que Me Ligam a Você - Porquês e "por quês"


Escrita por: concisa

Notas do Autor


oi, eu sei que demorei e nao tenho justificativas que naos sejam: eu sou mais o renjun do que parece

enfim, hoje é menos tristeza

muito obrigada de verdade pelos comentários no capitulo passado e já já respondo tudo ok?? leio tudo com muito carinho

boa leitura

Capítulo 5 - Porquês e "por quês"


“Do frio e não me habita

Da solidão que me contempla

Da travessia visceral,

O sentimento que nos limita



 

Quando, estou sozinho. Nos sábados, é normal que eu acorde assim, já que todas sempre têm alguma coisa planejada e eu sempre planejo dormir, porém hoje é um dia diferente.

Me levanto a contragosto, sentindo o piso absurdamente gelado sob meus pés, só para me lembrar que o inverno está chegando, infelizmente. Não sou muito fã do frio. Isso me faz repensar todo meu plano de levantar e sair procurando alguém aleatoriamente pela cidade como em algum filme infantil dos anos oitenta, mas estou determinado.

Logicamente não parece ser uma boa ideia e realmente acho que não vai dar certo, só que eu não tenho nada melhor para fazer hoje e meu corpo está doendo de ficar deitado por muito tempo. Ficar parado está me dando agonia.

A verdade é que eu estou ansioso para encontrar Jaemin, ou pelo menos, para ver se eu consigo o fazer. Quer dizer, ele deixou uma pista num papel em um lugar quase que estratégico e não me pressionou a nada. É apenas um jogo bobo de caça ao tesouro, no fundo é divertido.

Pensar nisso me faz rir um pouco. Aquele cara não é alguém comum, acho que é por isso que ele me irrita tanto. Eu nunca fui uma pessoa muito ligada nessas coisas de energia e aura, mas se eu acreditasse, com certeza estaria falando sobre como essas coisas o fazem diferente.

Ou talvez ele só seja muito bonito e tenha me causado essa impressão porque isso é o que pessoas bonitas fazem. 

De qualquer maneira, nunca vou saber estando trancado dentro de casa, então troco de roupas e saio depressa, me preparando para encarar o frio que ronda a cidade. 

Surpreendentemente, apesar do vento extremamente frio transpassando minhas calças jeans de uma maneira não muito legal, o dia está bonito. O sol está esquentando um pouco, então viver fica um pouco menos sofrido.

Depois que a raiva de ontem passou, hoje estou com um bom humor invejável.

Fico um tempo aproveitando o calor do sol sobre minha pele enquanto tento me lembrar para que lado fica o bairro com as ruas de peças literárias. É um tiro no escuro, mas hoje está um dia perfeito para procurar por um maluco que eu mal conheço.

Desisto de tentar saber e caminho até a casa de Yeojin, tenho um plano.

— Que porra é essa, Jun? — Ela me atende muito bem educada, com a cara amassada e os cabelos bagunçados. Eu dou um sorriso sapeca e ela revira os olhos.

Eu bati com força direto na janela de seu quarto, não queria falar com sua mãe.

— Bom dia, raio de sol! — Digo propositalmente irritante e ela bufa, fazendo menção de fechar a janela de madeira descascada, mas eu a impeço com a mão.

— Ok, desculpa, vacilo. — Admito com a voz menos aguda. — Eu preciso de cinco minutos de favor.

— Caralho, Renjun, você não podia esperar pelo menos dar nove horas da manhã? — Ela pergunta irritada e eu rio de seu mau humor. Só agora eu percebo que talvez eu tenha acordado cedo demais, o que me faz questionar para onde minha família foi tão logo de manhã.

— É sério, eu só preciso fazer uma pesquisa rápida no seu celular, é rapidinho! — Faço cara de cachorro sem dono e ela quase rosna, mas busca o celular e me entrega.

— Compra um caralho de um telefone pra você, seu muquirana. — Sua voz está um pouco mais amena do que antes, apesar de ainda soar agressiva. Seu mau humor passa tão rápido quanto a sensação boa de sol que havia restado na minha pele.

— Tá, tá, depois eu compro. — Não dou atenção para o que ela diz e foco na minha pesquisa.

Procuro por Macbeth e Shakespeare na cidade e, para minha surpresa, o que eu encontro não é uma rua, mas um lugar ainda mais fácil de achar. Anoto o endereço na minha mão e torço para ele não apagar.

— Obrigado, Jinjin! — Entrego o telefone para ela que sorri de volta, já bem mais calma do que a recém acordada Yeojin. 

Ela confere minha pesquisa em seu celular e franze o cenho em confusão.

— Por que você tá indo nesse lugar a essa hora da manhã? — Ela pergunta e eu dou de ombros, já sabia que ela iria me perguntar sobre.

— Vou buscar um negócio! — Digo já dando as costas para ir embora. — Tchau, Jin, bom descanso! — Grito já longe, para que ela não progrida no assunto.



 

[...]




 

Tenho que pegar dois ônibus e andar um pouquinho para chegar no lugar certo. Na realidade, em alguma parte do caminho tenho quase certeza que me perdi, mas como tenho muito tempo livre, só aproveito para me planejar.

Não sei exatamente o que vou dizer quando chegar na Shakes-pizzaria, nem se é o lugar certo, mas é meu único palpite, já que foi o único resultado na busca que fiz com o GPS do celular da Yeojin. Estou dando um salto no escuro. 

Caminho nervoso pelas ruas do bairro que eu não conheço, prestando atenção nas placas, e demora um pouco até eu achar o lugar.

É um local pequeno em frente a uma pracinha igualmente pequena feita para idosos jogarem damas. As paredes da fachada são pintadas de bordô e uma grande placa preta escrito "Shakes-pizzaria: Um espetáculo de sabor" em letras cursivas brancas está pendurada. Parece ser um lugar aconchegante até. Vi por alto no Google que é um estabelecimento temático, mas não tenho a menor ideia de como isso funciona. Talvez seja o clube de teatro que Jaemin falou.

Me sento em um dos bancos da praça, encarando o lugar. Ele está fechado, como se espera de uma pizzaria às 11 da manhã, mas ainda sim fito suas portas, como se algo de interessante está prestes a acontecer. Minha perna está balançando incansavelmente.

— Nós abrimos às sete. — Um garoto provavelmente da minha idade se senta ao meu lado no banco, apoiando seu braço na mesa de damas, parecendo extremamente confiante. Atrás dele, um garoto sorridente, mas não tão confiante assim, vem carregando caixas de cerveja. Me compadeço por ele, as caixas parecem estar pesadas, apesar dele não aparentar muita dificuldade.

— Ah, sim, que bom… — Não sei o que dizer, eu deveria perguntar alguma coisa? De qualquer forma, não dá tempo para eu acrescentar mais nada, já que o menino continua a falar.

— Você veio ver alguma apresentação? — Ele me pergunta e eu balanço a cabeça, nervoso.

— Na verdade… — Começo, um pouco hesitante, mas decido falar a verdade. — Eu vim por Macbeth.

O garoto me olha com um sorriso estranho no rosto e se vira para o outro, que está descarregando caixas e mais caixas de uma pequena caminhonete.

— Ei, Jeno, ele veio por Macbeth! — Seu tom de voz é feliz, como se eu tivesse acertado em cheio no que falar. O tal do Jeno, parece realmente surpreso, mas o sorriso não sai de seu rosto. Ele tem um sorriso bonito, mais sincero que o de Jaemin e um pouco mais fechado que o do garoto ao meu lado.

 — Macbeth e outras peças só fazemos nas terças-feiras que a pizzaria fica mais vazia, sabe, mas você deveria vir... — Ele começa a explicar e eu balanço a cabeça, prestando atenção nas suas palavras. Então isso quer dizer que eu segui as pistas certas? — Você gosta de Shakespeare?

— Eu não… Não entendo muito, pra falar a verdade. — Digo envergonhado, mas ele não parece me olhar com deboche. Ele só parece estar feliz de ter encontrado alguém interessado na peça.

— "Na verdade", "pra falar a verdade". — Ele diz, com seu olhar afiado sobre mim, sinto minhas orelhas esquentarem. — Você deve mentir demais. — Sinto que ele está olhando para minha alma agora, mas para o meu alívio, o momento é interrompido.

— Se não sabe sobre Shakespeare, você veio ao lugar certo! — Jeno diz para mim, simpático, e se vira para o outro menino. — Agora, Lee Donghyuck para de encher a paciência do cara e vem aqui me ajudar, por favor? — O garoto de trás fala, seu sorriso diminuiu um pouco e suas palavras soaram irritadas, mas nada muito hostil. 

O garoto, Lee Donghyuck, revira os olhos e olha para Jeno, com os ombros caídos.

— Daqui a pouco o Jaemin chega cara! — Ele diz e eu enrijeço, então quer dizer que o Jaemin trabalha aqui. Será que esses dois sabem dos meus poemas? Quem sabe foi por isso que Donghyuck puxou assunto comigo, ou foi tão direto sobre as minhas frequentes mentiras.

— Não entendo vocês, ficam pagando de crossfiteiros mas não podem carregar um fardinho de cerveja! — Apesar da fala, ele se levanta e vai ajudar Jeno com as caixas, mas se vira uma última vez. — Volta aqui mais tarde, não tem Macbeth, mas Hamlet também é genial.

Assinto com a cabeça, olhando os dois em seu trabalho. Imagino onde Jaemin está agora, já que aparentemente ele também deveria estar aqui.

Quando me levanto para ir embora, ouço um barulho de moto e comprimentos, então me viro para olhar e confirmar o que eu já imaginava, Jaemin chegou. Ele desce da garupa de uma scooter cinza, segurando algumas sacolas, enquanto a garota que dirigia a moto encosta em algum local melhor.

Antes que ele possa me ver, me apresso para dobrar a esquina e me esconder. Porém, consigo ouvir Donghyuck falando alguma coisa sobre Macbeth e "ele tava aqui agora pouco".

Saio correndo, sem saber exatamente o porquê. Passei o dia todo ansioso para encontrá-lo e quando chega a hora, entro em pânico. Uma situação típica de Huang Renjun.

Procuro o ponto de ônibus mais próximo só para me dar conta que eu me perdi e de verdade dessa vez. Não como quando eu "saio sem rumo" pelos bairros que eu conheço. Eu realmente estou perdido, sou burro pra caralho. Procuro por algum comércio, mas infelizmente é um bairro residencial, então só fico procurando alguém para pedir informação.

— Ei, Renjun! — Ouço Jaemin me gritar na rua, enquanto ando depressa. De repente me sinto muito interessado nos meus sapatos. — Olha pra mim! 

Ele está na scooter, andando devagar na rua para acompanhar meu passo. Tento ignorar seu chamado, mas estou prevendo que ele vai ser minha única fonte de informação no momento.

— Pra onde você tá indo? — Ele pergunta e eu paro, respiro fundo e olho para ele com meu orgulho ferido.

— Não sei. — Minha voz soa baixa demais e um pouco ríspida, mas mais porque estou bravo comigo mesmo.

— O quê!? — Ele grita porque não me ouviu direito e tira o capacete da cabeça de um modo desajeitado. Só agora percebi que tem um capacete pendurado no guidão.

— Eu disse que não sei! — Falo mais alto e ele balança a cabeça indicando que me ouviu.

— Tá indo pra casa? Te dou uma carona. — Ele fala de novo e eu reviro os olhos.

— Se eu disse que não sei pra onde eu tô indo, pra casa que não é. — Não sei porque estou agindo com tanta grosseria. Geralmente eu me esforço muito para parecer simpático.

— Mas você tá indo pra algum lugar e eu tô te oferecendo uma carona, o que custa aceitar? — Ele insiste, me entregando o capacete do guidão.

— Eu nem te conheço! — Protesto infantilmente, empurrando sua mão. Ele fecha os olhos buscando forças, está sendo mais paciente do que eu esperei que ele fosse.

— Você veio até mim e acho que a gente precisa conversar. — Ele soa maduro e sério. Resisto ao meu impulso de ir embora de uma vez e pego o capacete de sua mão. 

Afinal ele tem toda razão, eu quem vim atrás dele e não posso ir embora sem uma conversa decente. Ele sorri vitorioso com meu gesto.

— Pra onde vamos então? — Pergunto assim que subo na garupa da moto, que para minha sorte, tem apoios na parte de atrás, então não preciso me agarrar em Jaemin para ter equilíbrio.

— Preciso comprar algumas coisas para a pizzaria, podemos conversar enquanto isso. — Jaemin me responde ligando a moto.

Andamos por algum tempo em silêncio. O vento cortante atravessando até meus ossos, me fazendo quase implorar para pararmos em algum lugar. Mas para minha surpresa, nós não paramos no primeiro mercado pelo qual passamos

— Pra onde você tá indo? — Grito para que Jaemin me escute mesmo através de todo o barulho de vento entre nós. Apesar de estarmos andando relativamente devagar, o vento é forte o suficiente para abafar nossas vozes.

— Já te falo! — Ele grita de volta e eu começo a ficar nervoso. Pode ser que ele esteja me sequestrando agora. Isso se configura em sequestro? Bom, eu subi na lambreta por vontade própria, qualquer coisa eu posso pular, não é como se estivéssemos andando muito rápido mesmo.

Depois de um bom tempo andando, ele finalmente para e pede para eu descer. Estamos em frente a um restaurante bem pequeno do qual eu nunca ouvi falar. Ele desce da moto logo após a mim e entra no restaurante.

Fico parado no lugar, com as mãos meio que penduradas, desajeitado. Não trouxe dinheiro o suficiente para comer num restaurante, talvez ele pegue um marmitex e volte para a pizzaria, não sei.

— Vai ficar parado que nem bobo? — Antes de entrar ele se vira para mim e pergunta. Eu bufo levemente e o acompanho, não é como se eu quisesse comer agora, de qualquer forma.

— Não tô com fome. — Digo, assim que sentamos na mesa de madeira.

É um lugar simples, parece um restaurante familiar, pequeno e aconchegante. Existem até mesmo fotos antigas penduradas nas paredes e toalhas de mesa com estampa de flores. O cheiro está bom e as pessoas que estão comendo parecem satisfeitas.

— Mas estamos num restaurante. — Ele argumenta e eu dou de ombros.

— Não tenho dinheiro e nem fome, quero só conversar. — Meus dedos contornam distraidamente as flores da toalha de mesa, estou fingindo que não sinto seu olhar sobre mim.

— Vou pedir um suco pra você, então. — Penso em impedi-lo, mas uma garçonete aparece e ele faz seu pedido. Fico calado, não quero fazer um escândalo e deixar a vida da mulher mais estressante.

Passamos alguns minutos de silêncio desconfortável. Eu encaro minhas mãos enquanto ele me olha nervoso, aparentando ter algo a dizer. Confrontar ele é mais difícil do que eu achei que fosse. 

O silêncio só é interrompido quando nossos sucos chegam, então enquanto ele agradece a garçonete eu tento quebrar o gelo. Eu raramente faço isso, mas me parece necessário agora.

— Por que… — Começo e ele me olha em expectativa. Com certeza ele sabe o porquê de eu ter vindo. — Você não comeu na pizzaria?

— Acho que não é isso que você precisa me perguntar. — Ele dá um sorriso charmoso não tão sincero e eu dou uma leve risada da minha própria situação. Mas que droga, ele poderia me explicar tudo de uma vez, já que ele já tem noção do que eu quero saber.

— O que você acha que eu quero te perguntar então? — Retruco, com uma sobrancelha levantada. Ele dá um gole longo no seu suco, não sei se para ganhar tempo ou para fazer uma pausa dramática.

— Muita coisa, não sei. — Seu sorriso continua dançando misterioso nos seus lábios, resisto à vontade de levantar e ir embora.

Respiro fundo e tento me lembrar do porquê de eu estar aqui. Jaemin tem um sorriso que me irrita muito.

— Eu quero saber… — Começo, mas penso em uma forma mais incisiva de falar. Acho que o garoto à minha frente merece maior atitude. — Quero que você me diga o porquê de ter roubado meu caderno e espalhado os meus poemas por aí. 

Minha voz sai irritada, mas ele não parece se incomodar. Jaemin é a primeira pessoa que eu conheço que não se incomoda com meu jeito. A Yeojin não se incomoda porque já se acostumou, e minha família… Bom, elas são as que mais se incomodam.

Olho para seu rosto sorridente num misto de irritação e curiosidade. No fundo, ele é uma figura muito intrigante para mim. Parece que cada detalhe seu foi feito para ser estranho. Às vezes, nem um estranho ruim, mas apenas incomum.

— Eu não roubei seu caderno, eu só peguei emprestado! — Ele fala sorrindo brincalhão e eu o olho com o cenho franzido para mostrar que não quero brincadeiras e sim a verdade. Ele morde o lábio e faz que não com a cabeça, como se estivesse desistindo de sua própria narrativa.

— Porque são seus. — Ele então me responde finalmente, me olhando de forma tão profunda que sinto minha pele queimar. Quase engasgo com meu suco.

— Como? — Não consigo disfarçar minha confusão. De repente estou sentindo muita coisa, isso é algo inusitado para mim.

— Porque são só seus. — Ele explica. — Eu… Sabe, não era minha intenção ter pegado seu caderno sem te consultar, mas aí aconteceu. — Ele dá de ombros.

— Aconteceu? Você pegou meu caderno por engano? — Tento parecer cético, mas parte de mim teme que essa seja a verdade.

— Não, tipo, mais ou menos… — Somos interrompidos pela garçonete entregando seu prato e acho até um pouco injusto que ele tenha mais tempo para formular uma resposta aceitável.

— Não é que eu peguei ele por engano. — Ele continua assim que a mulher sai. — É que eu li um pouco dele sem querer, sabe, naquele dia que você me xingou de graça. — Sinto minhas bochechas corarem um pouco com a lembrança, não era minha intenção ele ter ouvido.

— Isso não explica porque você pegou ele. — Insisto.

— Caralho, eu li ele sem querer, alguns versos só, e meio que fiquei curioso. — Apesar do palavrão ele soa tão impassível quanto antes. — Aí no dia que você saiu igual doido de lá, pensei em pegar só pra dar uma lidinha e te devolver depois.

— Isso ainda é errado. — Falo, soando ofendido.

— Eu sei, sou um filho da puta, nunca escondi. — Ele retruca dando de ombros. — Enfim, eu peguei pra dar uma olhada e percebi que eles me contemplavam, sabe?

Faço que não com a cabeça, estou curioso.

— Renjun, seus poemas, eles são… Eu nunca me senti tão contemplado na minha vida toda. Quer dizer, eles são bem melancólicos e até meio melodramáticos, mas parecia que você, de alguma forma, tava falando comigo, de mim e pra mim. — Seus olhos brilham ao contar o que sentiu e de repente estou em transe com suas palavras. — Eu sei que são suas palavras e eu vacilei por sair espalhando por aí, mas eu sentia que o mundo precisava ver… Eu ainda sinto isso. Eu acho que todo mundo tinha que ter o direito de ler pelo menos um verso seu… Assim esses jovens emos que existem por aí poderiam sentir pelo menos uma fração do abraço que eu senti. Isso faz diferença.

Estou sem palavras. Eu frequentemente fico sem palavras, mas dessa vez, até mesmo o ar falta em meus pulmões. É a primeira vez que alguém fala isso do que eu escrevi, na verdade é a primeira vez que eu sei que alguém, além de Jisung é claro, leu, e saber que ele se sentiu assim me deixa… Leve.

Me sinto quase aliviado de ter alguém que se identifica comigo no mundo. A sensação de não estar completamente sozinho volta em meu peito, muito mais forte do que antes.

Quero retrucar e dizer que ele está mentindo, mas seus olhos estão pegando fogo numa chama que apenas a verdade consegue inflamar. Meu coração bate mais forte.

— Você realmente acha isso? — Antes de eu terminar a pergunta, ele balança a cabeça inúmeras vezes, como se quisesse desesperadamente provar seu ponto.

— Fica tranquilo que eu não quero seus créditos, eu nunca mostrei o caderno pra ninguém, mas as palavras não podiam ficar guardadas comigo, eu gosto de palavras que conseguem me expressar, principalmente quando não são minhas… — Finalmente ele começa a comer, parecendo até um pouco tímido antes de enunciar as próximas palavras. — E eu meio que quis chamar sua atenção.

O fito atômico. Eu nunca fui exatamente bom com as pessoas, mas nunca conheci alguém tão confuso como ele. Tento decifrar suas entrelinhas, como faço quase sempre, mas não chego a nenhuma conclusão.

— O quê? Por quê? — Levemente me arrependo por ser tão transparente com ele.

— Porque eu queria saber mais sobre o que está escrito, tipo, não tem só poemas, tem rabiscos, listas, eu queria saber sobre isso, mas não tive coragem de só chegar no seu trabalho e falar "Aí Zé Bunda, me conta dessas parada de poema" — Ele faz uma leve atuação e uma gargalhada alta escapa.

— Você tem uma risada bonita. — Ele diz e eu fico vermelho pela décima vez no dia. Não sou nem tão tímido assim.

— Cala a boca! — Brinco, por algum motivo, mesmo ele sendo praticamente um estranho pra mim, não me sinto pressionado ao conversar com ele. Geralmente, só o ato de conversar normalmente já me drena todas as minhas energias. 

— Você poderia pelo menos ter pichado perto da loja, ou a loja, sei lá… — Exponho minhas teorias para ele, balança a cabeça, com a boca cheia. Fico feliz de realmente não estar com fome.

— Não queria prejudicar seu trabalho. — Ele dá de ombros e eu solto outra risada fraca. Estou rindo demais hoje.

— Por favor, prejudique meu trabalho… — Solto num suspiro e é ele quem gargalha dessa vez.

— Meu Deus, você é um revoltado! — Ele coloca a mão no peito intencionalmente dramático. — Não esperava por isso...

— É meu dever de proletário. — Dou de ombros. — Mas enfim, o que você quer perguntar?

— Tanta coisa… — Ele parece sonhador, mas termina de mastigar antes de continuar, o que eu agradeço.

— Tipo? — Levanto uma sobrancelha, não consigo conter minha excitação.

— Não vou falar. — Ele abre mais um sorriso grande e eu franzo o cenho frustrado.

— Por quê? — Quase elevo minha voz, mas como é um ambiente pequeno, sou cauteloso.

— Eu até poderia fazer essas perguntas agora… — Ele começa, tirando os olhos de seu prato. — Mas quero te ver de novo. — Conclui.

Eu engasgo novamente. 

— Jaemin, isso é hora de flertar? — O repreendo. Meus olhos estão arregalados e eu estou um pouco vermelho. Eu juro que não sou tão tímido assim. — Eu vou ficar bravo com você!

— Não tô flertando — Ele diz tranquilo, parece sincero — Mas eu realmente quero te ver de novo, sabe, não é todo dia que me sinto tão compreendido, principalmente por alguém novo na minha vida.

Meu coração dispara mais uma vez, eu sinto o mesmo. É estranho pensar dessa forma, mas não estou irritado com Jaemin, tampouco desconfiado, eu só estou intrigado. Quero passar um pouco mais de tempo com ele.

— Mané compreensão… — Desconverso, nervoso. Às vezes eu falo coisas que não quero dizer. — Quero meu caderno de volta!

— Ele não tá comigo. — Ele abre os braços mostrando as mãos livres, como para ilustrar o que disse. 

— Você é esperto. — Cerro os olhos, falsamente desconfiado e ele dá uma risadinha.

— Sou o maioral, Renjun, aprenda isso. — Eu sei que ele ouviu Seunghyuk falando meu nome no dia que saí correndo da mercearia, mas sua voz falando meu nome ainda me soa estranho, me dá um arrepio diferente.

— Ok, ok… — Finjo tédio, aparentemente eu realmente vou ter que voltar a falar com ele de uma forma ou de outra. Não que isso seja necessariamente ruim. Na verdade, me deixa feliz até demais. — Você não tinha que comprar alguma coisa pra pizzaria?

Assim que pergunto ele arregala os olhos.

— Puta que pariu, quase que eu esqueço! — Seus gestos são espalhafatosos e ele dá um tapa em sua própria testa, dou uma risada.

Espero que Jaemin termine sua refeição para então irmos embora e acabo que vou junto com ele em uma loja de temperos para comprar quilos de manjericão e orégano. Surpreendentemente, engatamos em uma conversa leve e divertida, nada a ver com poemas e roubos. Ele sequer perguntou o porquê de eu ter fugido naquele dia.

Jaemin é um cara engraçado, apesar de tudo, ficar perto dele é mais confortável do que pensei. Não preciso falar muito para que ele leve a conversa, sobre as cenas e pequenas peças que ele faz na pizzaria. Através de suas histórias, consigo perceber que é divertido trabalhar lá e como existe uma relação de amizade entre todos.

Depois de algum tempo juntos, eu peço para que ele me leve ao ponto de ônibus.

— Tem certeza de que não quer que eu te leve pra casa? — Ele pergunta, assim que eu desço da lambreta.

— Sim, é meio longe e você precisa ir trabalhar agora… — Coço a nuca, já são quase seis horas. Não sei para onde as horas foram, mas por algum motivo, mesmo sendo até que bastante tempo, não pareceu ser o suficiente.

— Ah, ok… Vê se passa na pizzaria depois, sabe, vai ser legal. — Ele dá um sorriso, e dessa vez um pouco mais simpático e menos malandro. — Preciso te entregar o caderno e etc.

— Vou sim, pode deixar. — Suspiro e ele vai embora, no auge dos 50k/h que sua moto pode fazer.

Suspiro cansado, não me sinto dessa forma desde… Acho que nunca me senti assim. Vou para casa, e dessa vez, existe um sorriso insistente no meu rosto.



 

[...]



 

No domingo, saio cedo de casa para incomodar Yeojin novamente, mas dessa vez é para passar o dia com ela, como não fazíamos há muito tempo. Nós conversamos e comemos juntos num restaurante simples já muito conhecido por nós. Finalmente conto a ela sobre o roubo do meu caderno e do porquê ter ido à pizzaria, mas não falo muito mais que isso. Resolvo esconder toda a parte sobre meu coração acelerar ao ouvir Jaemin falando e que tive que “enfrentar” as lembranças que Chenle me despertou ao tentar procurar pelo coreano.

Ela ri da minha cara e me chama de bobo. Outra coisa que gosto muito de Yeojin é que ela sempre acha uma maneira de rir das minhas histórias, por mais sem graça que são. Ela também abre o coração para mim, de forma mais livre dessa vez e me sinto um pouco mal por ela. Eu frequentemente fico preso na minha própria melancolia e esqueço que ela passa por problemas até maiores que os meus.

Ela me conta sobre como a parte descontada do salário dela faz falta em casa, como o cursinho acaba pressionando ela e como se comparar com outras pessoas está acabando com a autoestima dela. Eu me preocupo demais, Yeojin nunca foi do tipo que se preocupa em agradar ou ser melhor que os outros, então percebo que sua rotina está mesmo a afetando.

Tento a consolar da melhor forma possível, mas como sempre, não tenho ideia se estou fazendo certo. A convido para assistirmos um filme e assim a noite nos acompanha. Tenho certeza que sua mãe odeia quando ela fica até tarde da noite comigo, mas o que posso fazer? Ela odeia tudo o que eu faço.

Quando voltamos, hesito antes de entrar em casa, as luzes estão apagadas mas nunca se sabe. Então me sento no meio fio para fumar um cigarro ou dois. Não consigo conter a ternura em meu peito ao pensar sobre meu final de semana. 


 


Notas Finais


o renjun tem altos e baixos mas tá sempre com frio


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