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História Os Versos Que Me Ligam a Você - Culpa incessante e a dicotomia de um salto ao precipício


Escrita por: concisa

Notas do Autor


olá

escrevi esse capítulo no meio da minha aula de história contemporânea e levei um esporro da professora, estou no final do período cheia de leituras atrasadas e trabalhos pra daqui uma semana... por isso espero que gostem, to cheia de açucar

Capítulo 13 - Culpa incessante e a dicotomia de um salto ao precipício


“O beijo é amargo

A lágrima é um fardo

A despedida é o limite

Mas seus lábios, permanente convite”

 

— Espera, como assim? — Jaemin perguntou assustado com a minha informação. Não o culpo, se você estiver vendo de fora, é realmente chocante, para mim é só mais uma coisa ruim que tento esconder de mim mesmo, mas não posso guardar mais isso. Meu pai já está pagando pelos seus próprios crimes, tanto fisicamente quanto moralmente. Nunca o perdoei e não pretendo o fazer jamais.

— Pouco antes do aniversário de vinte anos do Jisung, era um sábado comum de um dia comum. Ele iria pra alguma festa de rua como sempre… Era normal, sabe? — Explico, só porque quero explicar, não espero uma resposta ou consolo de Jaemin, não espero absolutamente mais nada do que já recebi: compreensão e um silêncio ouvinte. — Quase uma rotina. Todo final de semana ele saía para essas festas, bebia, usava drogas e corria com o carro dele.

Paro um pouco para dar ar a um devaneio.

— Ele amava aquele carro, amava velocidade, amava dirigir… Ele me dizia que iríamos fazer uma viagem pelo país de carro algum dia. Ele, Chenle, eu e a Yeojin para me fazer companhia… — Uma sombra de sorriso passa pelo meu rosto. — Jisung era maluco, amava fazer essas promessas sem nexo. — Abaixo os olhos encarando o fundo do meu buraco negro de novo.

— Mas enfim, essas festas eram sempre demais, sabe? Muita bebida, muita droga e ele sempre batia um racha nessas festas, apostava dinheiro e quase sempre ganhava… Droga, eu odiava aquilo, odiava quando ele voltava fora de si dois dias depois, odiava que ele tentava me comprar com algum presente barato comprado com a grana da aposta… Era tudo horrível, mas ele tentava, ele sempre tentou ser um bom irmão mais velho, eu acho.  

“Só que naquele dia, eu não sei o que havia acontecido, mas, mesmo de manhã, Jisung já estava agindo diferente, mais distante que o normal, mais frio, o olhar perdido… Se eu me esforçar muito, consigo pensar nele ainda mais estranho já antes desse dia. Eu pensei que ele estava só mais deprimido que o normal por causa de seu aniversário e tentei falar alguma coisa só que acabou que saiu tudo do controle e  nós acabamos brigando.”

Dou uma pausa, porque essa parte me dói. Grande parte de mim acredita que eu sou culpado pela morte de Jisung, apesar de eu saber que a culpa é do meu pai. É doloroso relembrar aquele dia, cada palavra que escapa pelos meus lábios deixa um gosto de sangue para trás. O dia que eu tento esquecer, as lembranças que nunca me deixaram, as imagens que descansam sob minhas pálpebras todas as vezes que eu fecho os olhos.

Toda a tristeza, toda a raiva, todas as explosões de humor que tive durante esses dois anos sem Jisung ao meu lado, tudo teve o mesmo gosto dessas lembranças que hoje finalmente escapam pelos meus lábios pela primeira vez: culpa. Ela estava ao fundo de tudo, como uma trilha sonora metálica e impressiva de uma cena de guerra de um blockbuster. Todas as notas manchadas com culpa. 

Nunca consegui me desculpar por nada, absolutamente nada em relação a Jisung, aquele dia e os que se seguiram. E essa sempre será a pior parte.

— Eu não sei porque briguei com ele, talvez porque tentei impedir ele de sair ou porque falei algo sobre seu alcoolismo… Não sei… Agora é tudo tão confuso, tão difícil lembrar com clareza algo além do sentimento horrível que me soca o estômago… Eu só lembro de gritar com ele, de dizer ‘então morre sozinho’ e dele não responder, só sair socando as portas com raiva. — Sinto meus olhos arderem, mas sei que não vou chorar. Chuto um pouco da areia da praia em vez disso. — Ele não me respondeu, eu nunca tive as últimas palavras dele.

Quero gritar e ao mesmo tempo não quero emitir nenhum barulho sequer, nunca mais. Sinto que o mundo é extremamente grande e mesmo assim, tenho que me diminuir para ficar dentro dele. Meu peito se aperta como se não tivesse mais espaço para comportar tanto vazio, então continuo a contar.

— Então ele saiu de casa e foi praquela porra de festa. Chenle disse que ele estava pior do que nunca, bebendo mais, fumando mais, arrumando brigas… Até que ele foi descontar a raiva em algum racha, igual ele fazia sempre. 

“Ele sempre dirigia nessas festas, apesar de perigoso era normal, ele era um motorista muito, muito bom. Mas dessa vez, algo deu errado, em alguma curva ele simplesmente não virou e bateu de frente para um poste ou coisa parecida. Então tudo aconteceu muito rápido. Ele foi para o hospital, passou alguns dias inconsciente, meus pais brigando por causa da conta do hospital, nós não tínhamos dinheiro para pagar nem metade da conta…”

Jaemin apenas me olha, absorto na história. Sua expressão me é estranha, o olhar de quem finalmente entende algo, uma chave para entender algo do passado. Mais uma vez, sem pena, apenas com empatia limpa.

— Alguns dias depois, Jisung recobrou a consciência, meu pai foi o primeiro a visitá-lo. Ele visitou o Jisung varios dias e, mesmo com ele deitado na cama, parecia que eles brigavam em todas as visitas. Meu pai chegava frustrado e bravo em casa e não me deixava visitá-lo de forma alguma. — Cerro meus punhos com raiva. — Um dia eu me cansei de esperar, era um dia antes do aniversário de Jisung então eu saí escondido de casa e saí com Yuwen e Yeojin para visitar Jisung pelo menos uma vez. 

“Mas aquilo foi apenas outro pesadelo. Não conseguimos chegar ao quarto do Jisung, o corredor estava uma confusão, cheio de polícias, médicos e curiosos pra todo lado. Meu pai desligou os aparelhos que mantinham Jisung vivo.” Me impressiono com a clareza que minha voz soa quando digo essas palavras, como se elas já estivessem esperando para sair, já soubessem todo o caminho.

 — Ele morreu segundos antes de eu conseguir alcançá-lo. Não consegui falar com meu pai depois disso. Eu estava tão chocado, tão incrédulo com tudo que simplesmente parei de prestar atenção em tudo ao meu redor, sabe? Mas ouvi seus gritos pelo hospital, ele queria falar comigo, por algum motivo ele gritou meu nome, outras pessoas também, me lembro que eram várias vozes tentando falar comigo, mas foi um apagão na minha cabeça.

“Yeojin disse que eu simplesmente surtei e quis invadir o quarto do hospital, que briguei com os policiais que estavam ali para prender meu pai e gritei com os médicos… Ela fala que foi uma cena horrorosa, que nunca tinha me visto daquele jeito e nunca mais me viu. Eu não me lembro de nada disso, sequer consigo recordar de ter visto Jisung em seu velório, mas lembro que meus punhos estavam machucados e minha garganta doía. Sinto vergonha por isso, por tudo…”

 Olho para Jaemin mas ele não me olha de volta dessa vez. Parece estar ferido, chorando tanto que seus ombros tremem. Não sei se só pela minha história ou se lhe despertei lembranças.

— Nunca mais falei com meu pai, se ele não me deu as últimas palavras de Jisung, ele não merece ouvir as minhas. — Digo com amargor profundo

Um suspiro de ressentimento e então silêncio.

Minhas palavras acabam e de repente não ouço nada. Não ouço o quebrar das ondas sincronizadas com as lágrimas de Jaemin. Não sinto minha respiração, não sinto o vento bater no meu rosto. Tudo de repente e vazio.

É como se um peso tivesse sido tirado das minhas costas, mas não como um alívio, mas mais como a falta de segurança. Eu tirei, arranquei violentamente, algo de mim e apesar de necessário, foi doloroso, foi inédito e agora não tenho nada. Por alguns segundos esqueço até mesmo que estou de pé, que sou um humano e que estou vivo existindo. Não é tristeza, é alguma coisa além, algo tão grande que não cabe em mim. 

Até que algo me puxa de volta. Sinto meus pulmões encherem de ar, meus pés de volta ao chão e a brisa salgada e gelada bater no meu rosto. Não me estremeço, porque o que me puxou de volta está me prendendo com todas as forças, está me machucando de forma recompensadora. 

Jaemin me abraça com tanta força que o ar que mal me dou conta que estava dentro de mim, me falta novamente. Ainda estou vazio, mas é como se algo estivesse colocando meus caquinhos pouco a pouco no lugar.

— Me desculpa, me desculpa… — Ele sussurra repetidamente, sobre meus ombros. Não presto atenção. Fecho os olhos, respiro fundo me afogando em seu cheiro, derretendo em seu calor. Meus braços circulam sua cintura por dentro do sobretudo, encosto minha testa em seu ombro. Estou tão cansado que quero dormir para sempre ali.

— Renjun… Você não merece… Eu tenho que… Você…  — Ele não consegue completar nenhuma frase, mas não para de falar. Sinto seu peito vibrar enquanto sua voz sai soluçada. Não estou pensando de verdade, estou sentindo o presente, preso nas sensações, no agora, em Jaemin.

Ele se afasta um pouco e segura meu rosto de maneira firme, apesar de suas mãos estarem trêmulas. Ele olha em meus olhos tão profundamente que sinto que ele está roubando algo de mim. O encaro de volta porque ele, em seu todo, seu olhar intenso, sua pele molhada de lágrimas com pequenas marquinhas aqui ou ali, seu nariz redondo, sua boca desenhada tão delicada, o conjunto completo, é tudo o que eu quero sentir.

Se meus pensamentos são minha prisão, Jaemin, preenchendo todos os meus sentidos, é minha liberdade.

Ele respira fundo antes de começar a tentar falar novamente.

— Eu sinto muito, eu sinto tanto… — Começou, e eu sei que ele sente, verdadeiramente. — Você não merece nada disso, esse peso, a culpa… Não é sua, ele sabe que não é sua, ele nunca te culpou, ele é seu irmão… — Ele fala com tanta certeza que por cinco segundos eu acredito. Por cinco segundos eu sinto a culpa ser lavada de mim. 

— Ele te ama, assim como… — Jaemin não completa as palavras e eu não consigo saber o que ele iria dizer… Menos ainda consigo decifrar o sentido de suas supostas próximas palavras.

Estamos no meio da praia deserta agora. Um pouco longe do restaurante, onde ninguém além de uns pássaros que desbravam o céu conseguem nos ver claramente. Me desvencilho de suas mãos, a contragosto, porque quero ver as ondas. Quero enxergá-las de maneira limpa e me lembrar que ainda existo, assim como o mundo todo ainda existe.

Droga, o mundo existe! As ondas continuam indo e vindo quando não estou perto e os pássaros continuam tentando sobreviver ainda que o céu esteja nublado e os peixes se escondam. Eu ainda não consigo conceber essa ideia completamente.

— …é tão lindo… — Ouço ele murmurar enquanto seus olhos ainda passeiam pelo meu rosto. Não sei se ele deixou de me olhar por algum segundo sequer. 

Sinto minhas bochechas corarem quando ele se aproxima de novo, apenas para deixar que seus dedos passeiem pelas minhas bochechas, delineando meus traços, talvez projetando o caminho que as lágrimas fizeram em suas próprias.

Assim que seus olhos voltam para os meus, sinto algo inesperado. Por um momento, estamos conectados, não apenas juntos mas, verdadeiramente unidos, como se nossos corações batessem ao mesmo tempo e ainda em conjunto com o mar. Como se nossos pulmões estivessem compartilhando o mesmo ar, o mesmo calor que subiu pelas minhas bochechas, nas dele.

E então existe um rompante, uma chama no meio do oco dentro de mim. Uma vontade no meio da apatia, movimento interrompendo a inércia. Palavras complicadas para dizer algo simples: em um impulso de coragem, o beijo.

Não o beijo com desejo, mas com necessidade. Apenas quando meus lábios tocam os seus que me dou conta do quanto eu precisei daquilo, quantas vezes pensei naquilo em momentos proibidos… No quanto eu gostei e, infelizmente, a partir daquele momento, não iria mais conseguir abandonar a sensação de seus lábios no meu. 

Um beijo como um salto cego no precipício: conheci a liberdade mas havia o risco de não conseguir voar e simplesmente cair para o amargo desespero.

Como não foi algo planejado eu me sinto desajeitado. Poucos segundos depois me afasto, envergonhado, com as orelhas quentes, um pigarro preso na garganta e os olhos baixos. Não quero encarar a verdade. Não sei se li o momento errado, na verdade eu sequer li o momento. Não sei se Jaemin pensa em mim da mesma forma, não sei ele pode retribuir ou simplesmente me acha um carente iludido, eu poderia ser só um depressivo no qual ele tem dó… Um milhão de pensamentos invadem minha mente em uma enxurrada sem parâmetros. Sinto que vou me afogar em inseguranças e tudo o que eu evitei encarar em anos, mas então…

Então ele levanta minha cabeça pelo queixo com seus dedos ainda gélidos. Em sua face, apenas um sorriso vitorioso e satisfeito que se desmancha por um segundo apenas para contornar as palavras “obrigado” do jeito mais cheio e sincero possível.

Então Jaemin me beija de uma maneira na qual nunca vou me esquecer. Seus lábios macios delicadamente sobre os meus em um encaixe perfeito, uma mão segurando meu rosto de forma plena e a outra despretensiosamente subindo por minha cintura, apenas para me puxar para perto. O agarro como quem pede socorro, aproximando seu corpo ainda mais. Não como um sinal de luxúria, mas como uma urgência, como se eu estivesse simplesmente me saciando de algo que me foi privado a vida toda.

Meu peito explode e, por um momento, o vazio massante que existe em mim é preenchido completamente por tudo no mundo. Como se agora sim, depois de dezenove anos eu estivesse tendo a noção de que estou vivo. Como se  o frio que sempre sinto estivesse deixando de existir e começando a dar lugar para o calor sobre minha pele. O calor dos dígitos de Jaemin sobre mim, do sol que, por milagre ou não, começou a dar as caras timidamente na praia.

Avanço o beijo, invado Jaemin assim como ele me invade. Sinto tudo, tudo, tudo e quando me dou conta, estou sorrindo. Eu nem sei o que mecanicamente estou fazendo, eu só consigo pensar que, droga, às vezes a vida tem sentido. 

Depois de alguns minutos me afasto e sem pensar, sem sequer pestanejar ou ter inseguranças, eu solto a única frase verdadeira no mundo inteiro.

— Droga, eu te amo. — Não penso se é o momento certo, se é precipitado ou não, eu só digo porque é algo que transborda em mim. 

— Que… Que bom! — Jaemin sorri tanto que parece que suas bochehcas vão se rasgar. — Porque eu te amo… Te amo tanto que não saberia se conseguiria guardar mais um segundo esse sentimento dentro de mim. — Sorrio grande, refletindo o sorriso que Jaemin me retribui.

Me sinto tolo,mas tão completo. É bom falar que o amo, porque eu o amo. Muito além de um simples beijo, muito além de amor romântico ou paixão desinibida. O amor que tenho por Jaemin foi construído em todos os nossos olhares, todas as palavras trocadas, todos os dias que nos encontramos e nós que deixamos de nos encontrar. 

Sinto que mesmo que fosse um salto no precipício sem volta, valeria a pena. é algo que derrama de mim, é um amor em sua mais pura forma e em todas as suas formas. Mal consigo acreditar que sou capaz de sentir algo tão bom.

— Para de sorrir, se eu te amar mais um pouco, meu peito explode. — Ele diz, me empurrando de leve e eu gargalho. E ele também. A mutualidade me assusta, mas é a primeira vez na vida que eu não sinto nenhum temor em amar.



 

[...]


 

Nós voltamos para a casa de jaemin logo depois do almoço. Minhas bochechas doem de tanto sorrir e Jaemin quis parar duas ou três vezes na estrada de volta só para me beijar de novo e de novo e de novo. Achei bobo e imprudente, mas gostei de todas as vezes.

É extremamente viciante beijar Jaemin. Nunca o direi, para que ele não se sinta convencido demais, mas ele é exageradamente bom no que faz. Suas mãos sabem os caminhos certos a passar, sua boca sabe os exatos movimentos a fazer para me deixar louco. É ridículo de tão bom.

Estamos em seu quarto, assistindo algum filme de romance com o Hugh Grant, no qual eu descobri ser outro grande crush de infância de Jaemin. Estou deitado com a cabeça em seu peito e nossas pernas entrelaçadas. Me movo com sua respiração, sinto um carinho distraído sobre minha mãos. Ele está concentrado no filme, como o grande fã de romances que é.

— É tão idiota que ele tenha uma livraria de guias de viagem… — Ele comenta, e ouço sua voz vibrar em seu peito. — Extremamente específico também…

— Disse o cara que trabalha em uma pizzaria com o tema de Shakespeare. — Retruco e ele dá um tapinha de leve na mesma mão que estava fazendo carinho.

— Achei que você achasse genial. — Falou, fingindo estar ofendido, mas não preciso olhar em seu rosto para ver que está sorrindo. O olho mesmo assim.

— Eu acho! — Beijo o bico emburrado que ele tentou fingir apenas porque não há nada me impedindo. — Mas é extremamente específico, até hoje não sei se o público alvo são fãs de cinema ou só pessoas com fome… — Digo pensativo.

— É os dois, oras, não precisa escolher! — Jaemin retruca, sorrindo. — É simplesmente meu lugar dos sonhos…

— Sério? — Pergunto legitimamente interessado.

— Seríssimo, eu ainda me estremeço de alegria quando entro naquele lugar, mesmo que eu fique preso até tarde tendo que tirar manchas de molho de tomate das toalhas de mesa. — Explica, pensativo.

Me deito novamente em seu peito, mas olho para o teto dessa vez, ignorando o filme em seu computador. Penso um pouco sobre sua fala, me parece irreal.

— Eu quero um dia ter essa sensação, sabe? — Devaneio. — De trabalhar no lugar dos sonhos, de estar feliz mesmo que o trabalho seja ruim…

— Achei que gostasse de trabalhar na pizzaria. 

— E eu gosto, é só que… — O olho novamente. — Não é o meu sonho, sabe? Eu nem sei se tenho um trabalho dos sonhos ou coisa do tipo.

— Você não sonha com trabalho, meu orgulho anticapitalista! — Ele brinca, bagunçando meus cabelos com carinho. — Um dia você acha algo… Ou não, sei lá, você não precisa gostar de trabalhar, você pode gostar de outras coisas.

— Tipo de você? — Arqueio a sobrancelha meio sapeca e ele engasga antes de continuar falando. É bom poder flertar de verdade com ele, é indescritível a sensação de vez suas bochechas corarem.

— Diz a verdade, você queria beijar minha boquinha desde o primeiro minuto que me viu, hein? — Provoca.

— Não, da primeira vez que eu te vi eu só queria revirar meus olhos até eles não conseguirem mais voltar para o lugar original. — Falo mórbido. — Nunca vi ninguém mais convencido no mundo. 

— Eu tenho motivos pra ser convencido, olha pra mim. — Ele fala, presunçoso.

— Tem sim. — Digo a verdade. — Mas só porque você tem motivos não quer dizer que você deva. Parecia que você tinha o mundo na barriga, muito prepotente, menino. — Brinco, não sinto isso de verdade, depois que você se acostuma com Jaemin, você entende que ele não é vaidoso, ele só não carrega um mundo de inseguranças nas costas.

— Mas eu tenho! — Ele me responde sério e eu o olho confuso. — Você é meu mundo e tá na minha barriga. — Explica travesso.

— Ahhhh!!! — Grito fingindo nojo. — Meu Deus, como alguém pode ser tão cafona? — Me levanto, pretendendo sair de seu colo, mas ele me agarra e me puxa para perto de si de novo.

— Eu sou apenas romântico… Você tem tanta sorte de ter o homem mais romântico do mundo na palma da sua mão… Queria ser você agora! — Gargalhamos.

— Não queria não… — Murmuro mais sério do que o pretendido.

— Então desde quando, hein? — Ele me interrompe. — Desde quando você quer beijar minha boquinha e gritar pros sete ventos que me ama? 

— Não sei… Não percebi quando começou, eu acho, mas meio que me dei conta quando te vi no palco, sendo mais convencido que o normal. — Falo meio sério, meio brincando. — E você?

— Eu? — Por algum motivo ele é pego de surpresa pela pergunta, mas pensa de verdade antes de responder. — Faz bastante tempo, na verdade… Acho que eu te daria uns beijos desde o primeiro momento, você fica uma gracinha quando irritado, sabia?

— Ai, vai tomar no cu. — Respondo sem paciência, tendo certeza que minhas orelhas estão completamente rubras.


 

[...]



 

Acabo ficando para jantar em sua casa. Mal consigo encarar o pai de Jaemin depois dele, sem querer, ter aberto a porta do quarto me pegando sem camisa em cima de seu filho. Só de lembrar da cena eu morro de vergonha, mas também lembro que depois disso Jaemin fez de tudo para eu deixar a vergonha de lado e voltar… Ao que estávamos fazendo.

Só de pensar já sinto minhas orelhas esquentarem, não vou explicar o que aconteceu em detalhes.

O que importa é que agora eu estou sentado na mesa de jantar de frente para o senhor Na, com os cabelos molhados de banho usando as roupas de seu filho enquanto o esperamos voltar do banheiro.

— Então… Renjun, achei que vocês eram amigos… — Senhor Na comentou, colocando um pouco mais de salada em seu prato. Não respondo, mas não consigo deixar de ficar vermelho, nem por um segundo.

— Eu… — Tento explicar ou pedir desculpas, mas sou interrompido.

— Fico feliz que seja mais que isso. — Ele diz, sorrindo grandemente. — Eu e a mãe dele… Nós queríamos que ele fosse feliz, sabe? Jaemin é um jovem dramático e teatral, mas no fundo ele é um garoto que precisa ser retribuído… Fico feliz que estejam… Fazendo o que quer que estejam. — Ele diz sorrindo e eu sorrio junto. Ainda desconfortável, mas um pouco mais seguro.

Recebi sua benção, sem dramas, sem discussões enormes por eu ser um garoto ou coisa do tipo. 

— Quero o melhor para Jaemin. — Ele completa.

— Não sei se sou o melhor pra ele, mas vou me esforçar pra ser. — Brinco e nós dois rimos, vendo Jaemin finalmente voltar, já falando sobre um milhão de coisas diferentes. — Prometo.

Senhor Na me confidencia um sorriso, alterando seu olhar de do filho para mim. Espero que ele entenda o quão sinceras foram as minhas palavras.

 


Notas Finais


renjun e jaemin sabem que sonhar com trabalho e gostar de trabalhar são narrativas criadas pelo capitalismo para tentar fazer a classe trabalhadora se conformar com sua eterna relação de submissão e opressão


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