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História Our Diary - Entre venenos e vitaminas


Escrita por: paansy

Capítulo 15 - Entre venenos e vitaminas


Quando o sábado chegou, o tempo resolveu que ia amanhecer zangado e Youngjae decidiu que nem aquele vento, batendo suas janelas, ia estragar o dia que viria a se suceder. Aguentou bravamente toda aquela semana de trabalhos e provas, piadinhas idiotas dos colegas de classe... aguentou pacientemente para chegar ao sábado e ver Jaebum.

Ser chamado de menininha, fracassado, nerd, caipira, forasteiro e gordo não o machucava tanto contanto que visse Im Jaebum naquele dia. Pensar no policial fazia sua ansiedade ser maior do que qualquer coisa, inclusive aqueles imbecis.

— Cabeça de vento, — Minho entrou em seu quarto do nada, sem bater, sem nada. Ainda estava acordando, piscando os olhos devagar e com o cabelo todo para o alto. — lembra que hoje eu teria que ir comprar o veneno pra mato para o papai?

— Não. — Grunhiu manhosamente pelo sono, coçando o rosto e bocejando.

O arquiteto rolou os olhos e quis jogar um balde de água fria no irmão para ver se ele acordava de uma vez e perdia aquela cara inchada de sono. Respirou fundo e esperou que ele, pelo menos, abrisse um pouco os olhos e o enxergasse.

— Vou precisar sair e não tenho hora pra voltar. — Avisou e o universitário não entendeu para que tanta informação. Desde quando Minho deu alguma satisfação? — Você pode fazer isso por mim?

Negou.

— Você vai fazer mesmo assim. — Sorriu largo e Youngjae franziu o cenho, confuso com aquilo. — Não esqueça de passar na distribuidora, se puder.

Choramingou. Quanto mais queria fugir do lance das vacas prenhas da família, mas era puxado de volta. Qual era a dificuldade dos Choi de entenderem que não queria estar envolvido com aquilo? Pelo Buda sagrado. Não queria. Por que sua mãe não pegava aquilo para fazer? Ficar vendo vídeo de Zumba Fitness o dia todo não ia fazê-la emagrecer.

Será que ela sabia disso?

Fighting, maninho. — Sinalizou, todo zombeteiro, e o mais novo repetiu o gesto, ainda sonolento. — Boa sorte com seu guardinha.

Coçou os olhos e apertou em direção ao mais velho que prestou uma continência antes de sair. Tão imbecil. Ajeitou o cabelo e olhou para o lado, vendo que seu relógio marcava onze horas do dia. Dormiu muito. Precisava levantar e ajeitar sua vida, principalmente porque, agora, tinha afazeres que nem esperava ter.

Veneno para mato e a distribuidora de leite dos Choi... fala sério, não tinha nenhum cavalo para montar e sair por aí com um mato na boca dizendo “irra”? Faça-me o favor.

Empurrou o cobertor e se espreguiçou. Hora de dar bom dia para o dia cinzento e tentar, pelo menos, colori-lo com sua felicidade de poder apresentar Jaebum para os pais. Porque, assim, ainda não sabia o que seu pai falaria, nem como agiria com o moreno, mas só o fato do Im estar disposto a estar ali, enfrentando o inimaginável só por gostar de si, já dizia muitas coisas.

Oh, céus. Ainda parecia um sonho tão bom... voltou a cair na cama e se embolar na coberta, parecendo um sushi com apenas os fios castanhos de fora. Riu consigo mesmo, apertando-se naquela imensidão fofa e branca do cobertor. Era um sonho, tinha certeza, um sonho tão bom. Não queria acordar.

...

Jaebum se sentiu um idiota quando viu que não tinha se preparado direito para aquele sábado. Que dizer, antes de ter algum contato com Youngjae, costumava lavar as roupas mais uma vez porque, assim, tirava os pêlos e ele não era incomodado, mas realmente não tinha pensado nisso. Passou a semana toda sendo entupido de trabalho e os espaços livres que tinha, usava pra dormir.

A delegacia não tinha pena, mesmo, dos recrutas. Não tem o estagiário do cafézinho? Então, esse era ele, mas com muito mais do que café em suas costas. No fim do dia, tudo doía, inclusive sua dignidade.

— Jaebum-ah. — O senhor Im entrou no quarto do filho que só vestia um jeans preto e olhava para o guarda-roupa. — Preciso das chaves do carro.

— Que carro? — Resmungou desinteressado.

— O que você tá andando pra cima e pra baixo?! — Franziu o cenho, irônico. Aí que o mais novo caiu em si e olhou para o pai, parecendo confuso. — Arrumei um comprador pra ele.

— Pai? — Negou rapidamente, parecendo inconformado. — Você não pode vender esse carro. — E ele não podia mesmo. Era o favorito de Youngjae e, também, estava gostando de ter um veículo próprio. — Eu gosto dele.

— Uh. — Grunhiu achando engraçada a reação do filho. — Ele não é uma garota para você estar apegado.

Jaebum franziu o cenho, achando aquela frase totalmente sem nexo em sua realidade. Negou novamente.

— Pai, você não pode vendê-lo. — Disse mais firme. — Por favor.

— Jaebumie, por favor, eu quem peço. — Riu zombeteiro, estendendo a mão para o mais alto. — As chaves e os documentos.

Bufou e coçou a cabeça. Como faria agora? Comprar um Kia Sportage zero estava fora de cogitação, muito caro. Não tinha dinheiro nem para pagar as próprias refeições direito, que dirá comprar um carro. Lembra que ele ainda era um filho pródigo morando com os pais? Então.

Mas, em todo o caso, não queria devolver o carro. Não podia! Queria comprá-lo, mesmo sem dinheiro, queria. Oh, como ser pobre era estressante, pelo amor de deus.

— Pai. — Respirou fundo. — Eu compro ele. — Aquilo fez o mais velho rir. Riu mesmo. Conhecia seu filho e sabia exatamente o quanto ele ganhava; não tinha condição de manter um carro nem que quisesse. — É sério! — Fez-se de ofendido, abrindo bem os olhos. — Eu quero comprá-lo. Se é isso que o senhor quer...

— Você não teria dinheiro pra comprá-lo, Jaebumie. — Ainda rindo, bateu no ombro nu do filho que pensou um pouco e resolveu concordar, porque era mesmo verdade.

— Eu posso ir pagando aos poucos, como faria se tivesse comprado na concessionária. — Deu a ideia. — Prometo fazer isso com seriedade. — Juntou as mãos e as esfregou, implorando. — Me venda e eu juro, juro — Disse tão honesto que o mecânico acabou rindo, curioso com aquela mudança no comportamento em seu filho sempre tão sem emoção para as coisas. Jaebum parecia bem mais expressivo ultimamente. — juro que-...

— Vai em um dos encontros arranjados que sua avó tanto quer. — Deu a ideia e o policial rapidamente negou.

Que diabo de ideia era aquela? Era só o que faltava. Onde as pessoas ao seu redor andavam com a cabeça? Primeiro Youngjae e sua série de paranoias malucas, agora sua avó que nem ao menos olhava em sua cara depois de ter ouvido que ele mesmo, Im Jaebum, não gostava só de mulheres. Desde então, estava deserdado de vó. Porque uma era falecida e a outra o detestava.

Escolhas e momentos. Isso não o afetava mais. Que ela se importasse só com a pedra fria do Hyunwoo, então.

— Não quero. — Fez uma expressão enojada e o pai começou a rir. — E não preciso.

— Ela diz que você vai acabar um homem solitário, com muitos gatos, herdando nossa casa após minha morte e vivendo com nossos restos. — Relatou pesaroso e o oficial franziu as sobrancelhas, não entendendo aquilo. O homem suspirou e apertou o ombro do filho que ainda parecia meio chocado. — Não acredito nela. — Garantiu, mas talvez, nem ele acreditasse nas próprias palavras. Jaebum ainda estava sem expressão. — Mas me preocupo com você.

Assentiu e nada disse. Sabia que os pais não acreditavam naquelas besteiras – ou, queria pensar assim –, mas ainda era chocante, e sempre seria, ouvir que sua própria avó o fazia tal tipo de juízo de valor. Céus, ele se esforçava tanto naquela delegacia por pelo menos um elogio do delegado. Fazia de tudo e com toda sua energia. Podia até não ser um policial ainda, mas seria. Ele seria sim.

Sonhava em ser um soldado da força especial nacional, esse era seu desejo desde criança, mas estar daquele modo, preso em uma delegacia onde era colocado para limpar as armas, servir café e arquivar e desarquivar B.O., era meio frustrante. Só que em nenhum momento disse que ia desistir ou pensou nisso!

Podia até não ser um homem muito sociável. Na verdade, era solitário mesmo, não buscava por relações e era fechado demais para alguém saber o que se passava consigo, mas isso não significava que era fadado ao fracasso. Que espécie de comentário era aquele?

Aliás, que espécie de comentário era aquele vindo de uma pessoa que disse em sua cara que “estava morto” para ela? Não fazia o menor sentido.

Voltou para o guarda-roupa, puxando uma camisa de gola alta, preta, assim como uma jaqueta de couro também preta. Queria sair dali o mais rápido possível. O senhor Im mediu o filho, observando-o terminar de se arrumar, perfumando-se, tudo silenciosamente. Sentiu muito por ele. Sempre sentia.

Jaebum era um homem bom e sabia disso, lamentava muito ele ter que ouvir certas coisas. Principalmente de sua mãe, avó dele.

— Cumpra esse compromisso como homem, Im Jaebum. — Disse após um tempo, vendo-o vestir um relógio. Recebeu o olhar dele e sorriu fraco. — Quero o pagamento todo dia quinze e, se atrasar, terá juros. — Avisou para o futuro policial que sorriu pequeno e curvou a cabeça em agradecimento. — Vamos no cartório depois, passar os documentos pro seu nome.

Curvou a cabeça novamente antes de pegar o celular e ver a mensagem de Youngjae, dizendo que o estava esperando. Precisava sair, estava meio atrasado. Olhou para o espelho, checando se seu cabelo estava bom. Assim... havia arrumado como costumava arrumar antes, quase com um topete, jogado para trás. Achou que estava ok, no máximo.

— Não vai almoçar conosco? — O pai perguntou curioso e Jaebum negou. — Mas vai almoçar, não é? Não está entrando nessas dietas loucas, certo?

Negou novamente, pegando a carteira e a chave do carro, preparando-se para ir. Faltaria só calçar as botas e pronto, poderia sair dali.

— Eu vou almoçar, não se preocupe. — O tom sério do mais novo fez o patriarca notar que aquele comentário acendeu um lado mais sério do filho.

— E onde o senhor vai, posso saber?

Assentiu e olhou o celular de novo, vendo que Youngjae havia mandado outra mensagem, dizendo que precisava que ele o levasse a um lugar antes de irem almoçar com a família dele. Precisava sair o mais rápido possível.

— Não que eu precise provar algo, mas — Respirou fundo e olhou para o pai. — vou mostrar para sua mãe o porquê de eu não precisar de encontro nenhum vindo dela.

Curvou a cabeça respeitosamente para o pai antes de sair de sua companhia, deixando-o ali, dentro de seu quarto. O Im mais velho levou um tempo para entender o que o filho havia dito e só foi raciocinar, mesmo, quando ouviu a porta bater, denunciando que Jaebum havia saído.

Seu filho tinha um encontro ou algo assim? Oh... e por que o nome “Youngjae” lhe vinha na mente ao associar as palavras: Jaebum e encontro? Ele havia gritado esse nome dentro do carro ainda na semana passada...

Será que...?              

...

Fracasso era ter que pedir para Jaebum o levar para fazer seus afazeres de gente caipira em pleno sábado. Estava frio demais para ir de ônibus, Minho havia saído para sei lá onde e seu pai havia colocado na cabeça que ia aprender a fazer kimchi com sua mãe. Era uma espécie de programa romântico dos dois.

Caipiras, já dizia. Deviam é voltar para Mokpo e viver como verdadeiros excluídos da civilização. Ele não, no entanto. Já estava adaptado.

Estava na porta de casa esperando o mais velho porque nem em um milhão de anos ia deixá-lo ver seus pais sentados no chão da sala, com bacias grandes, luvas rosa, ouvindo Trot* e fazendo kimchi. Pelo Buda sagrado, isso era a própria decadência de sua vida.

A fazenda de Mokpo vinha em essência para sua casa quando aqueles dois decidiam ouvir Trot.

Estava tão louco para sair daquela casa louca que vestiu o primeiro jeans que viu, um claro, uma blusa de lã branca e seus tênis. Pronto. Deu tempo para o perfume e seus acessórios, mas logo estava pegando a bolsa e correndo para fora. Muito brega até para seu senso de gostar de breguice em dias frios e chuvosos.

Abriu um sorriso quando viu o carro branco estacionar na frente de seu portão e foi apressadamente até ele. Não ia dar chance para o Im querer entrar ou algo do tipo.

— Oi. — Disse todo animado após entrar e bater a porta. — Pelo amor, me tira daqui o mais rápido possível antes que meu pai apareça na porta com as luvas rosas. — Escondeu o rosto entre as mãos, sem nem olhar para Jaebum que o encarava curiosamente.

Ele parecia envergonhado e estranhamente engraçado naquele dia. Nem deu tempo para desligar o carro. Negou e se inclinou um pouco para cima do menor, tocando o cinto e ficando com o rosto pertinho do dele, mesmo ainda estando escondido. Moveu o rosto ali, cutucando as mãos cheias de anéis com a pontinha de seu nariz.

— Youngjae-ah. — Chamou baixinho e ele negou. — Youngjae-ah! — Insistiu, repetindo o mesmo gesto, com um sorrisinho idiota nos lábios. — Deixa eu colocar o cinto em você ou seu pai vai aparecer e então-...

— Buda me livre e te livre disso. — Rapidamente abaixou as mãos e viu o rosto de Jaebum tão perto que acabou ficando estático, ele estava... nossa.

Olhar para Jaebum daquele jeito o lembrava facilmente que ele era um sonho. Porque, sério, onde que um homem de verdade ia ser tão lindo daquela maneira? Era naturalmente impossível! Não dava. Impossível. Ele ainda o encarava e sorria e por isso sorriu também, relaxando, vendo os olhos pequenininhos piscando devagar, as pintinhas abaixo da sobrancelha dele...

Amava tanto aqueles detalhes que um dia ainda ia escrevê-los em um post-it e colar no altar de Buda lá na escrivaninha, como um agradecimento a ele por ter abençoado Jaebum com todo aquele conjunto incrível de detalhes que tanto gostava.

Recebeu um beijo na bochecha e imediatamente riu baixinho, um tanto tímido. Moveu os dedos da mão em seu colo, sem jeito. Até encolheu os dedos dos pés por dentro dos sapatos. Estava nervoso, ué. Ter Im Jaebum perto era muita pressão.

— Muito melhor assim. — Murmurou, deixando mais um beijo no garoto, agora nos lábios desenhados. Foi retribuído e assaltado com mais dois. Sorriu ali e selaram os lábios mais demoradamente no fim. — Sem esconder o rosto, senhor Choi. — Pediu e ganhou uma risadinha, acabou rindo junto.

Afastou-se e passou o cinto pelo corpo do garoto, atando e checando se estava realmente preso. Presava pela segurança de Youngjae acima de tudo. Virou-se para frente e se ocupou em manobrar o carro para a rua, já indo embora, seja lá qual fosse o destino deles.

— Confie em mim, não iria gostar de ver a cena que está na minha casa. — Disse assustado com todo aquele afeto entre os pais. — Eles estão fazendo kimchi enquanto escutam Trot.

— Qual o problema? — Murmurou risonho, pegando a avenida principal.

— O problema é que eu me sinto no meio da fazenda de novo. — Gesticulou, espalhafatoso como sempre. — Sabia que lá em Mokpo eles acordavam a gente todo domingo de manhã para fazer kimchi? — Fez uma expressão ofendida para o policial que riu ao olhá-lo pelo canto dos olhos. — Acho que isso me traumatizou. Sou um homem com problemas mentais.

— De fato. — Resmungou e levou um tapa no braço. — E o respeito com seu hyung, hm? — Questionou fingindo-se de ofendido enquanto o outro empinava o nariz e apontava para a rua que ele deveria entrar. — Fala sério, olha só esse cowboy... — Brincou com as origens do universitário que rapidamente teve uma expressão de irritação lhe tomando a face.

Apertou os olhos para o maior que tinha um sorriso divertido nos lábios cheios. Aprendeu que adorava irritar Youngjae, ainda mais usando o dialeto dele porque sabia que ele fazia de tudo para se desprender de sua origem do interior. Era engraçado, mas era um engraçado adorável porque isso o tornava completamente apaixonante aos seus olhos.

Choi Youngjae era a pessoa mais bonita que já vira.

— Hyungnim! — A voz alta e bem afinada soou alta demais no carro todo fechado e Jaebum entendeu o porquê de ele cantar só notas altas.

Seu cérebro chegou a sentir uma pontada, mas não parou. Gostava de ver o mais novo à vontade, principalmente daquele jeito, agindo sem ser polido, apenas sendo... ele. Gostava muito disso.

— Tô brincando, rei do gado.

— Ya! — E mais um grito.

...

Dizer o que havia ido fazer no centro de Bucheon só fez Jaebum fazer mais piadas e brincadeirinhas. Quis bater nele e bateu, mas teve que mudar de tática porque notou que a cada vez que ficava irritado e batia nele, ele se divertia, ria e o olhava daquele jeitinho... aquele maldito jeito, todo sorridente, que o fazia querer pegá-lo pelas bochechas e dizer o quanto queria ficar com ele até que os dois perdessem o rumo de suas vidas.

Meio exagerado? Talvez. Mas que culpa tinha de ser intenso sempre? Em tudo?

Ele estacionou o carro em um parking e logo estavam ambos andando lado a lado até a loja especializada em coisas para jardinagem.

— Pra que o seu pai quer isso? — Questionou curioso e Youngjae pensou um pouco. Nem ele sabia.

Tentou arrumar a franja que o vento forte bagunçava, mas acabou desistindo quando viu que não daria jeito e quase bateu em uma moça. Sua sorte foi Jaebum que o guiou pelo quadril, tirando-o daquela confusão. Ficou um pouquinho vermelho, mas disfarçou, é óbvio.

— Acho que pra arrumar o jardim traseiro lá de casa, ele anda meio maluco, pra variar. — Bufou e notou uma mulher olhar muito para Jaebum enquanto andavam. Ela estava um pouco mais à frente, mas frequentemente olhava para trás. Ficou irritado. — Hyung. — Chamou baixinho e ouviu ele grunhir, mostrando que estava ouvindo. — Me desculpe por te arrastar pra isso hoje.

Jaebum sorriu e olhou rapidamente para o lado, lamentando por não poder ver direito o rosto do menino. Ele devia estar fazendo aquele biquinho pensativo que vivia fazendo quando resmungava ou pensava. Envolveu-lhe os ombros e o trouxe para junto de si, preferindo andar assim, abraçados, mesmo que isso fosse um tanto desajeitado.

— Não estou reclamando. — Riu fraquinho. Na verdade, estava bem agradecido por Youngjae tê-lo tirado de casa. Era agradecido por ele ter entrado em sua vida. — Acho que quero aprender algumas coisas sobre jardinagem e fazendas em geral.

O Choi franziu o cenho, confuso. Olhou para cima e viu o rosto bonito do oficial lhe olhando brevemente, sorrindo fraco antes de olhar para frente.

— Por quê? — Questionou confuso e viu o moreno sorrir um pouquinho mais.

— Porque quero impressionar sua família e me encaixar bem. — Voltou a olhar para o acastanhado que agora o observava sem piscar, parecia fascinado. — Quero que eles gostem de mim. — Sussurrou inseguro, como raras vezes se mostrava.

O que faria se os Choi não gostassem de si? Estava pensando nisso desde que Youngjae havia dito que seu pai queria conhecê-lo. Iria se esforçar para ser uma boa pessoa aos olhos deles. Sabia que poderia ser problemático o fato de sua família ser de baixa renda. Não conhecia a família do mais novo, mas não era como a sua, isso ficava muito claro.

Eles tinham uma fazenda em Mokpo, uma marca de leite ou algo assim, Youngjae estudava em uma boa universidade... com certeza o status deles era muito melhor que o dos Im. O que tinham mesmo? Ah, uma oficina mecânica e ele próprio era a droga de um guardinha meia tigela que não servia para nada além de ser feito de escravo pelo delegado.

Esperava poder provar seu valor para os Choi e que eles lhe dessem um voto de confiança. Podia ser bom para Youngjae, só precisava mostrar isso.

Ver aquele garoto sorrindo, da forma como estava naquele momento, fez tudo ganhar sentido e todo esforço que faria por ele seria pouco perto do que ele realmente merecia.

— Eles vão amar você. — Garantiu feliz e o policial continuou o admirando, vendo como aquele moleque de olhos de gato era iluminado. Ele brilhava. — E mesmo se não gostassem... — Deu de ombros. — eu gosto, isso é mais do que o suficiente.

E foi a vez de Jaebum sorrir todo bobo. Apertou mais os ombros do Choi naquele abraço lateral, beijando a testa dele antes de voltarem a atenção totalmente para o caminho. O mais velho radiante por ouvir aquelas palavrinhas pela primeira vez de forma clara. Primeira vez depois daquele dia no carro. E o mais novo radiante por estarem andando daquele jeito tão bonitinho bem no centro da cidade.

Pareciam um casal e, apesar de muitos olhares ruins que recebiam e sabiam que estavam recebendo, não se soltaram. Em momento algum o Im fraquejou e muito menos Youngjae. Ele se sentia estranhamente forte perto do oficial, capaz de qualquer coisa. Qualquer coisa mesmo.

Oh, talvez seja isso que falam sobre “amar”. Amar e se doar, estar disposto a pular de penhascos se estiver de mãos dadas com quem você ama. Nada mais importa.

...

A loja era entulhada demais e fedia a mato e ração de cachorro. Ao entrar ali, Jaebum se questionou se a ração que havia para seus gatos era o suficiente. Odd e Kunta estavam em um processo no veterinário para cuidar de pulgas por causa do vizinho. E, Nora, sua bebê... Doyeon achava que era só ele dar um mole e podia levar a gatinha para sua casa.

Não entendia aquela pirralha. Ia bater na porta dela ou pegar uma liminar na delegacia, só para invadir e tomar sua filha. Que péssima educação!

— O ahjussi conhece meu pai, certo? — Ouviu a voz de Youngjae falando com o senhor do balcão. — Ele ou meu irmão, Choi Minho. — Falou um pouco alto ao ver que o senhor de olhos quase fechados o encarava parecendo forçar o olhar. Ele também usava aparelho auditivo. — Eu sou filho de Choi Sangwoo, o representante dos Choi. — Quase gritou enquanto se apoiava no balcão de vidro.

O homem velhinho sorriu cheio de graça e assentiu. Youngjae não entendeu. Havia falado alguma coisa engraçada ou algo assim?

— Sangwoo. Sim. — Continuou rindo e o mais novo riu junto para não parecer rude com o mais velho. — O que deseja, meu filho?

— Veneno pra mato.

— Não sei se ainda temos veneno para rato. — Franziu as sobrancelhas grisalhas e olhou ao redor. — Mas acho que meu neto deve ter colocado alguns por aqui.

— Não. — Gesticulou em negação, vendo o senhor procurando. — Pra rato não, pra mato.

Ele coçou a cabeça e continuou procurando, como se nem ao menos tivesse ouvido o garoto que agora choramingava desgostoso. Tinha certeza de que seu irmão tinha o colocado naquela só para provocar e rir por suas costas. O ahjussi era um amor, mas... céus.

Não tinha paciência.

— Ahjussi. — Gritou e rapidamente o homem lhe olhou, notando ser chamado finalmente. — Não é para rato, é para mato. Veneno pra ma-to. — Silabou, ainda gritando.

Jaebum ficou confuso com aquela gritaria. Estava vendo a ala de pesca quando ouviu a voz afinada de Youngjae ecoar pela pequena loja entulhada. Andou até lá e acabou rindo vendo o menino quase debruçado pelo balcão enquanto tinha um senhorzinho o encarando em completa confusão.

— Seu pai não tinha uma produtora de leite? — Questionou confuso e o mais alto assentiu, vencido. — Por que ele gostaria de vitamina para gado? Os negócios aumentaram?

— Buda. — Apoiou os cotovelos no vidro e escondeu o rosto choroso nas mãos. Queria chorar de verdade. — O que eu faço? — Resmungou.

O Im se aproximou daquela situação completamente engraçada e tocou nas costas do menino frustrado, acariciando-o enquanto tentava resolver aquilo ou pelo menos fazer o senhor baixinho entender o que eles foram ali comprar.

— Ahjussi. — Falou um pouco mais firme, atraindo a atenção do velhinho que o encarou todo sorridente. — Veneno para mato.

— Há muitas vitaminas para gado. — Riu todo bonitinho e o policial riu junto porque ele era adorável. — Mas acho que o Sangwoo não me disse nada sobre gado. — Pareceu pensativo.

Youngjae levantou e olhou para o senhor de idade, parecendo realmente bravo ou algo assim. Queria terminar aquilo o mais rápido possível e aquele senhorzinho tampinha não estava facilitando.

Será que por ali vendia uma megafone?

— Ele não disse, ahjussi, porque, simplesmente, o gado não existe. — Gritou frustrado e sentiu a mão do mais velho tocar seu ombro, tentando acalmá-lo. Estava vermelho até as orelhas. — É veneno, sabe? Queremos matar. Matar! — Gritou mais uma vez.

— O gado?

— O mato, ahjussi! — Gritou quase socando o balcão, mas foi segurado por Jaebum que engolia o riso e tentava, pelo menos, evitar que seu garoto pulasse para dentro da área administrativa e pegasse por si só o que precisava.

O senhor abriu os olhos, assustado com a reação do jovem Choi que parecia realmente irritado. Levantou as mãos em rendição e assentiu, ouviu bem claramente a voz de Youngjae se propagando.

— Por que tão estressado? — Perguntou ofendido e o Choi relaxou, sentindo-se culpado. — Você é muito jovem para estar tão nervoso, faz mal pra saúde, sabia?

Jaebum assentiu e sentiu que Youngjae havia lhe dado um olhar sério, desaprovando seu gesto, mas, mesmo assim, continuou com os olhos concentrados no homem de idade que andou todo cansado até uma prateleira, procurando o tal veneno para mato ou a vitamina para gado. Desistiu de discutir e tentar explicar.

Continuou mirando o rosto sorridente do policial que passou a encará-lo, parecendo estranhamente bem humorado. Revirou os olhos e riu junto. Aquela situação era totalmente... embaraçosa e meio engraçada.

— Isso é o que um Choi passa. — Mostrou toda a vergonha e o moreno riu um pouquinho mais. — Tem certeza que ainda quer entrar no meio dessa família totalmente sem noção?

— Uh. — Concordou sem hesitar e o acastanhado suspirou feliz, todo bobo. Jaebum continuou o abraçando pela cintura. — Com veneno pra mato ou vitamina pra gado, ainda quero estar no meio dos Choi.

— Fala sério... — Resmungou um tanto sem jeito, o coração acelerado. Aquele homem sabia como quebrar as estruturas das pessoas. — esse hyung tem alma de caipira.

E foi aí que o Im riu de verdade, gargalhou mais. Youngjae era realmente como um sol, sabe? Ele trazia graça aos dias cinzentos e sem humor. Olha o que ele podia fazer em um dia nublado?! Céus! Estava se divertindo indo comprar produto para jardinagem, pouco podia acreditar.

Gargalhou ainda mais quando o senhor trouxe a tal vitamina para gado. Foi impossível ignorar o choramingo do menor que parecia ter realmente desistido daquilo. Talvez aquele fosse um sinal para os Choi virarem produtores de carne também.

Im Jaebum achava que podia dar certo, quem sabe? Não entendia nada de fazendas. Se lembraria de ler algo sobre campo e essas coisas na internet. Precisava impressionar o pai de Youngjae. Precisava muito.


Notas Finais


*Trot é uma espécie de pop coreano, mas como se fosse a primeira geração dele. Lembra bastante um folk.

E aí, ficou bom? Essa situação do veneno é verídica, aconteceu com minha cunhada e eu achei bem engraçadinha e quis compartilhar com vocês. Obrigada pelos favoritos, pelos comentários, isso tem me motivado bastante, ainda mais agora que tô meio doente. Mas tudo sob controle, 2jae é real e namora. Até a próxima, beijão pra vocês.

Meu twitter pra quem quiser: @sarcasmoflet


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