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História Our Time - No More Dream


Escrita por: paansy

Notas do Autor


cheguei, calma, CHEGUEI. esse foi o mais rápido capítulo longo que eu já escrevi na minha vida. 10k em 7h. O QUE EU NÃO FAÇO POR VOCÊS?

por isso eu digo: comenta muuuuuuuuito, porque só assim eu vejo que esse esforço vale à pena.

fiquem em casa, bebam bastante água e se cuidem. boa leitura!

e o mais importante: BTS DEBUTOU, parabéns para as futuras maiores lendas. fontes: futuro do presente.

Capítulo 34 - No More Dream


"O rapper Kim Yoon-Gi, mais conhecido como Agust D..."

"Na noite desse sábado, o rapper sul-coreano, Kim Yoon-Gi..."

"O rapper que iniciou sua carreira aos quinze anos, teve sua ascensão rapidamente, sendo um dos prodígios da Coreia do Sul..."

"Kim Yoon-Gi, 30 anos, conhecido como Agust D, tem uma história conturbada..."

"Seus fãs, "Sugars", como se nomeiam, fazem apelo na internet para que nenhum vídeo do ocorrido seja divulgado em respeito à família do músico."

HORAS ANTES:

— Eu não te devo nada. — Continuou mastigando calmamente sua carne, tomando um gole de cerveja, ignorando totalmente o primo desesperado em seu ouvido. Olhou-o de canto de olho, entediado, vendo os grandes olhos o encarando com aflição. Sorriu debochado. — Pode ir agora. — Apontou para qualquer lugar que o fizesse ficar longe.

Queria paz. Só isso. Paz! Ouvia a cantoria no quintal, por isso resolveu comer dentro de casa, sozinho, no silêncio que tanto apreciava. Jungkook já havia se juntado à bagunça e agora comia e julgava os melhores duetos.

Claro, puxando saco sempre para os pais. O resto, o que tinha a ver?

Taehyung estava ali consigo até um minuto atrás, mas havia ido ao banheiro, então aquele garoto gótico chato para caralho achou uma brecha para encher seu saco. Sinceramente? Por que seus padrinhos criaram uma criatura tão chata? A voz dele estava zunindo em seu ouvido.

Teve sua tigela de carne de porco retirada e isso foi o fim. Sério. Já não bastava ter que aguentar Taehyung de pirralho mimado, tinha que lidar com o motoqueiro bobão? Bateu os hashis no mármore da bancada e o encarou.

— Eu não tenho como te ajudar. — Reforçou o argumento, porque não tinha mesmo.

— Claro que tem. — Insistiu, a voz estridente saindo irritada. — O hyung está me devendo por duas coisas e eu quero cobrar agora. — Viu Yoongi bufar e passar a mão no rosto. Ele tinha que ajudar! — Se vire.

— Tá achando que tá falando com quem, pivete? — Apoiou o cotovelo na bancada e olhou incrédulo, aparentemente calmo também, para o Choi que tinha as bochechas coradas e sua tigela em mãos.

Para onde havia ido o respeito mesmo? Precisava de um tempo para pensar e repensar em quando deu intimidade para o melhor amigo do namorado para receber aquele tratamento. Será que ele lembrava que era mais velho e, por lei hierárquica, poderia chutar sua bunda?

Ah, que engraçado, colocaria para dentro o pouquinho que ele tinha.

— Com o homem que vive me pedindo ajuda pra mimar o namoradinho. — Sussurrou ameaçador. O menor revirou os olhos e bebeu a cerveja novamente. — Eu te ajudei nisso, o que custa? — Praticamente se jogou por cima da pedra branca, desolado.

Se Yoongi não o ajudasse, poderia facilmente morrer. De verdade. Ia morrer! Ou de desgosto ou pelo seu pai. Precisava dele. Poxa, ajudou quando ele voltou do exército, ajudou no ateliê, no dia da exposição de arte... O que custava ele ajudar um pouquinho? Era só mentir. Uma mentirinha bem pequenininha.

Nem ia sentir. Era uma mentira tão... pfff. Qual foi? Ah, Yoongi era tão chato, sinceramente, como seu melhor amigo aguentava?

— Eu vou estar ocupado amanhã, criança irritante. — Puxou sua tigela das mãos de dedos longos. — Não vai poder dizer que vai dormir lá em casa, sinto muito. — Voltou a pegar seus hashis para comer, mas teve novamente o prato roubado. Okay, Yoongi. Não mate esse garoto. Respirou fundo e o olhou seriamente.

O que foi agora? Inferno.

— O que o hyung vai fazer?

— Sexo. — Respondeu rápido, tentando pegar de volta a comida, mas ele fugiu. — Vai pra porra, Yugyeom, para de ser tão chato. — Desistiu. Até perdeu a fome.

Então estavam naquele nível já? Uh. Que casal mais fogoso. Não reprimiu um sorrisinho sacana nos lábios finos, encarando o menor se levantando irritado, pouco ligando para seu rosto que expunha tudo o que queria dizer.

— Eu também quero. — Reclamou óbvio. — Então me ajuda. — Quase gritou e o músico quis enfiar a cabeça no chão.

Onde estava o garoto mais novo para arrancar aquele encosto de suas costas? Meu deus. Passou a mão no cabelo curto e olhou para a porta de correr da cozinha, onde dava para ver Jungkook sentado no chão, à vontade, com Moon entre suas pernas enquanto riam do dueto de Seokjin e Jimin. Ele parecia tranquilo, como sempre. Conhecia o lutador, ele era muito... confiante.

Já o projeto demoníaco na sua frente... aquilo tinha receita para o fracasso. Chegava a dar coceira em seu corpo de tanto nervoso.

O que podia fazer? Tinha uma apresentação para fazer em uma casa de show nova em Gangnam, não sabia que horas voltaria. Taehyung não ia consigo, porque tinha um jantar com os amigos que não fazia ideia de quem eram. Jaebum facilmente poderia descobrir aquilo, então daria problemas para todos e acabaria levando um sermão do caralho por ser o mais velho e estar apoiando aquilo!

Não. Pedia ajuda do garoto em coisas pequenas, coisas que não acarretariam problemas.

— Quem quer o quê? — O azulado voltou, um pouco confuso pelo grito do amigo, olhando imediatamente para o mais velho. — Que foi?

Yoongi negou.

— Não foi nada. — Respondeu sem o encarar, ainda pensando em como podia ajudar sem se meter no fogo cruzado. Yugyeom o encarou fazendo aquela expressão ridícula de tristeza. — Você é irritante! — Silabou fazendo uma careta, fingindo rir debochado. — Amanhã eu tenho um show pra fazer, não posso levar as crianças ao parquinho.

O que aquele velhote estava querendo dizer? Ofendeu-se. Já era um homem feito, tinha quase vinte anos, por que precisava passar por tal humilhação? Taehyung olhou de um para o outro e entendeu menos ainda. Que crianças? Que parque?

Tinha algum parque na cidade? Gostaria de ir.

Antes que abrisse a boca para falar algo, o motoqueiro retrucou, um pouco desgostoso.

— Podemos ir ao seu show, vovô. — Cruzou os braços, como se fosse um grande nada demais.

Quando na verdade, adorava ver o primo no palco. Ele parecia sempre tão legal, o que não era na verdade.

— Vovô? — Seu tom de voz não era nada contente.

Arqueou a sobrancelha e viu o moreno enorme rir sem graça, tocando-se de que não podia fazer piadinhas no momento. Estava dependendo do músico, então... Coçou a nuca meio sem graça e encarou o melhor amigo que ainda não tinha expressão nenhuma, mostrando estar perdido no assunto. Do que eles estavam falando mesmo? Só fora ao banheiro.

De todo o modo, aproximou-se um pouco mais e tocou o ombro do namorado, ganhando a atenção dele.

— O que aconteceu? — Perguntou baixo, procurando, na feição tranquila do menor, alguma resposta.

Yoongi suspirou, dando-se por vencido.

— Gótico-1 chamou o gótico-2 pra sair amanhã. — Explicou de sua forma original, não dispensando os detalhes.

— Ya!

— E quer que eu ajude! — Ignorando o protesto do garoto precoce, continuou olhando para o azulado que assentiu em compreensão.

Mas logo sua expressão se moldou em confusão, parecendo parar para refletir.

— Gótico-2 não era o Taeyong? — Ele parecia realmente confuso, por isso respirou fundo para não dar um peteleco na testa dele.

Será que estava envolvido só com gente com QI abaixo de zero? Sério? Lambeu os lábios e balançou as mãos como um gesto de "esqueça", porque os apelidos não eram importantes naquele momento. O fato era que: não podia ajudar. Como ia levar aquela dupla esquisita para seu show?

O Choi, com uma expressão curiosa para ver no que aquilo ia dar, um pouco ansioso, aproximou-se do amigo, abraçando-o por trás e sorrindo interesseiro ao vê-lo virando o rosto para o lado, encarando suspeito. Já havia entendido o que aquele moreno queria.

Porém, Yoongi não entendeu. Um pouco irritado, encarou o primo e arqueou o cenho. O que porra aquele irritante estava fazendo? Na sua frente? E ainda queria ajuda. Seu olhar sério recaiu para o azulado que ainda encarava o melhor amigo, esperando ser solto.

Mas não foi. Então, o Kim mais velho, um pouco rude, tirou os braços longos do garoto, afastando-o de Taehyung a força.

— Sai. — Murmurou, empurrando-o para o lado. Não precisavam de tanta proximidade assim. Que... irritante.

Mostrando não estar nem um pouco abalado por aquela ceninha patética de ciúmes do casal apaixonado, Yugyeom cruzou os braços sobre o dorso e encarou diretamente o baixinho que se achava um grande muro, colocando-se entre ele e Taehyung. Fala sério.

Alguém avisa que foi ele quem farejou o romance deles dois antes mesmo dos dois estúpidos notarem? Idiotas...

— Qual vai ser? — Insistiu, vendo o mais velho bufar e revirar os olhos. — Deixa a gente ir ao show, não custa nada. — Aumentou o tom de voz, ansioso, quase pulando nos braços curtos do rapper. — Você tá agindo como se fosse pagar nossas entradas, sendo que é só um estalar de dedos e a gente fica na área VIP. — Resmungou olhando para seus sapatos, parecendo realmente a criança que conheceu anos atrás.

Yugyeom sempre foi uma criança faladeira. Talvez fosse por isso que seu padrinho Youngjae tenha se apaixonado por ele à primeira vista, porque eram idênticos. O garoto sempre foi chantagista, também. No primeiro dia que foi conhecer seus "primos", usou seu rostinho fofo para convencer Seokjin de que não havia sido ele quem tinha entrado com os sapatos sujos em casa.

Aquilo foi sério. Seokjin tinha TOC com limpeza, era a única coisa que o transformava de "pai material" para o próprio satanás. Sabendo disso, as crianças Kim jamais faziam algo parecido, eram doutrinados no TOC de limpeza do pai.

Certo que às vezes Namjoon esquecia e ganhava bronca. Mas ele era diferente. Ele era um mestre, era um sobre-humano, tinha QI alto e sabia persuadir direitinho o marido. Então não contava.

Certo. Para resumir a história, a culpa ficou entre os garotos que sempre souberam da mania de limpeza do pai, não com Yugyeom, o garoto fofo que estava agarrado nas pernas do cozinheiro, sendo tão bonzinho que chegava a ser estranho.

Não demorou para o próprio Jaebum desmascarar o filho, chamando de mini satan, e ele realmente ser digno do apelido. Youngjae bem que tentou mudar isso, falando das energias negativas que esse apelido acarretava em seu filho.

Mas era Im Jaebum, . Quando que Im Jaebum desistiu de uma piada? Youngjae e seu dialeto que o digam...

— Você pode fazer isso, hyung. — A voz rouca de Taehyung veio para ajudar o melhor amigo que pareceu mais enérgico ainda, assentindo eufórico. — Não é como se fosse difícil. — Deu de ombros, vendo o rosto lindo do menor o encarar, claramente lhe dando ouvidos. Yugyeom comemorou internamente. A guerra estava vencida! — Depois pode dizer que ele foi lá pra casa dormir, eu não devo demorar muito pra chegar, de qualquer forma.

O homem de olhos pequenos ponderou. Não era realmente grande coisa. Sempre que seus amigos pessoais ou família queriam ir aos seus shows, não importa onde fossem, a produção arrumava um espaço seguro e confortável para eles, então tudo bem. Naquele de amanhã, ia apenas Bobby, porque ele sempre ia, de todo o modo. Jungkook e Yugyeom poderiam ir, não havia problema.

Mas, será que Jungkook aceitaria ir? Esse era o problema.

— E você vai pra onde com ele? — Perguntou curioso, o músico, encarando o garoto alto que o encarou de volta, sem entender bem de início.

Oh. Aquilo... riu sem graça. Estava brincando quando sugeriu que iam transar ou algo assim, mas se ele quisesse... estavam aí para sugestões. O caso era que: estava emocionado? Talvez um pouco. O acastanhado aceitou sair consigo, okay, mas isso não significava muita coisa. Iam para algum lugar, fazer algo e só, como amigos. Eram primos de consideração, afinal.

O de cabelo azul trincou os dentes e estalou a língua no céu da boca, entendendo o que o namorado queria dizer. Assentiu, encarando-o. É verdade. Tinha esquecido esse detalhe.

— Sim. — Disse para o mais velho que ainda estava agindo como se não se importasse muito com aquela situação de merda em que o primo se encontrava. — o Jungkook hyung jamais vai te levar pra casa dele se o Jimin hyung estiver lá. — Riu nasal, porque aquela opção era nula. Encarou o melhor amigo que fez um biquinho pensativo e assentiu. — Esqueça.

Não estava pensando nisso mesmo. Deu de ombros.

A não ser... Olhou para o rosto do menor que via suas unhas curtas, parecendo não estar interessado. Aquilo não o beneficiava em nada, então fodam-se. Continuou na sua, ouvindo o silêncio na cozinha, entre eles, mas a cantoria e risadas soando muito alta lá fora. Por que os pirralhos estavam tão quietos e por que tinha a sensação de que eles estavam olhando para si? Estranho...

Ergueu o olhar e ambos estavam o encarando, como se esperassem uma solução, ou... o quê? Negou. Sem chance. Sem chance nenhuma. Não! Nunca. Quantos "não" ele deveria dizer? Em quantas línguas? Pois era capaz.

— Nem fodendo. — Sorriu grande, debochado, soletrando. Aquilo era impossível!

— Literalmente! — Taehyung sussurrou, completando o sentido das palavras do menor.

Pensando bem, por que deveria ter tantos primos se nenhum deles o amava de verdade a ponto de salvar sua vida quando ela precisava ser salva? Mas nem falou nada, eles que estavam teorizando toda sua noite, planejando coisas que nem haviam passado por sua mente.

Foi ali com uma finalidade: pedir a Yoongi ajuda para sair com Jungkook sem que seu pai ficasse em cima de algum muro, atrás de uma arma sniper, o seguindo por todo o caminho com aquela luzinha vermelha, mostrando que estava com o dedo no gatilho, pronto para qualquer eventualidade que pudesse acontecer.

Para ser mais direto: se alguém se atrevesse a tocar em um fio de seu cabelo, na boa ou má intenção, ele estaria ali. Vendo tudo.

Assustador, eu sei. Bem-vindos a vida de Choi Yugyeom, filho de um maluco fardado chamado Im Jaebum.

— Eu só quero saber se vai dar ou não vai dar pra eu ir ao seu show! — Retomou o assunto que lhe interessava. — E, espera, — Levantou a mão, impedindo o casal "teoria de onde ia transar", de começar a tagarelar de novo. — vocês transaram? — Abriu os olhos curiosamente, querendo respostas. Obteve silêncio. — Arrá! — Gritou apontando para eles, vendo as orelhas de Yoongi ficarem vermelhas na hora. — Transaram!

— Eu vou transar a minha mão nos seus dentes já já, quer ver? — O emburradinho de seu primo mais velho veio para cima, fechando o punho.

E então, sim, Yoongi era mesmo irmão de Jungkook. Entendeu o que Taehyung havia dito sobre eles se baterem, e como não iriam? Olha aquilo ali. Recuou um passo para trás, ainda se acabando de rir ao vê-lo inteiramente vermelho, parecendo um morango. Não duvidava nada que ele cheirasse a morangos, também. Tão fofinho!

Fugiu de um soco. Opa!

— Parem. — O artista plástico puxou o namorado pelos ombros, contendo-o com facilidade. Olhou para o mais alto. — Pare de ser tão inconveniente, Yugie. — Repreendeu o de pintinha no rosto que levantou as mãos em rendição e calou as risadas aos poucos. — Pede desculpas, isso não foi legal. — Pediu educadamente, como sempre fazia. Era um poço de boas maneiras.

Rolou os olhos. Que chatice! Ainda se perguntava como era melhor amigo do senhor politicamente correto, burguês e chatinho. Aquele casal ali era mais aleatório do que seu pai lhe dando uma moto, sabendo que nunca respeitava as leis de velocidade e adorava uma adrenalina injetada em seu sangue.

Seu pai Youngjae lhe deu uma moto.  para esclarecer. Jaebum era contra até aquele momento.

— Foi mal, hyungnim. — Curvou o corpo em respeito, desculpando-se quase de maneira robótica.

Yoongi se soltou das mãos do garoto e bufou. Não gostava de piadinhas daquele jeito, o Choi sabia, todos sabiam. Seu estômago estava revirado de ansiedade e vergonha. E se alguém tivesse escutado? Merda. Aquilo era para ser íntimo, algo dele e de Taehyung. Isso era um relacionamento. Se as informações eram para serem jogadas assim, qual o sentido de um casal ser confidente um do outro? Inferno.

Esfregou as costas da mão direita na bochecha que ardia e fechou a expressão. Irritado. Não queria desculpas.

— Para. — Taehyung avisou sério ao ver o amigo quase voltando a rir. Não queria que Yoongi ficasse tímido.

Porque aquilo não era apenas um traço "bonitinho" como todos achavam, era realmente difícil para ele. Foi difícil para si conseguir a confiança, que dirá agora, outra pessoa verbalizando abertamente. Ele precisava de um tempo e entendia isso. Se Yugyeom viesse em privado e fizesse piadas, falasse abertamente, tudo bem, não se importaria, mas o rapper era diferente. Ele era diferente de tudo e todos e por isso o amava tanto.

E por isso também que ficou encarando seriamente o moreno que engoliu as risadas e assentiu.

— Já parei. — Disse, forçando seriedade, e o Kim mais novo revirou os olhos. Ele não tinha jeito mesmo.

Ainda esfregando a bochecha, o músico olhou o primo e apertou o olhar, mostrando que havia odiado aquela piadinha sem graça.

— Vai se foder. — Resmungou sério, ganhando mais risadas do motoqueiro que não se aguentou. Ele era muito fofo! — Você e o Mickey são iguaizinhos, dois otários. — Já ia se afastando dos dois a passos largos, querendo se esconder em algum buraco até aquilo passar.

— Você é muito fofo, hyung! — Declarou alto quando o viu indo para o corredor, provavelmente ao banheiro.

— Yug! — Repreendeu, o azulado, preocupado com o namorado.

— Vai pro inferno. — O rapper voltou alguns passos para estirar o dedo médio para o primo que repetiu o gesto, ainda rindo, mandando um beijo voador para o de cabelo curto. — Vai no caralho do show, faz o que você quiser, foda-se. — Despejou sua cartilha de xingamentos antes de voltar a seguir seu rumo.

Ia enfiar a cabeça debaixo da água fria para ver se aquilo passava, porque sentia todo seu rosto queimar em timidez. Por que aquele pivete tinha que ser tão irritante? Minha nossa, por que seus padrinhos fizeram isso com sua vida? Trazer Yugyeom para ela foi o fim. Já tinha o suficiente quando aguentava seus irmãos.

Por que o mundo sempre queria lhe dar uma rasteira?

— Para de rir, inferno. — Taehyung se estressou, falando mais alto com o maior que tampou a boca e tentou engolir a risada.

Apesar de "falar mais alto", não foi um grito, ele tinha a voz rouca demais para isso. Só que sempre que ele falava irritado daquele jeito, assustava, porque era raro, muito raro! Então se segurou, embora estivesse rindo mais por achar seu primo mais velho muito fofo para ser tão marrento daquele jeito. Era como ver uma criança tentando amedrontar alguém.

Ele não tinha tamanho e muito menos cara de gente má, então só ficava sendo fofo. Porém, além das aparências, sentia um leve medo de acabar morto em alguma vala por ter mexido demais com o temperamento super inflamável daquele músico bonitinho.

E agora tinha o guarda-costas dele, né. Então se segurou.

— Okay, já calei! — Respirou fundo, controlando-se.

Se acabar morto dentro de uma vala, pode ter certeza que foi Yoongi quem o matou, mas quem carregou e despachou o corpo foi Taehyung. Definitivamente. O baixinho não tinha forças para carregar seu cadáver, era muito pesado e grande.

E ele fofo e baixinho.

Ai, droga! Ia rir de novo.

...

Ouviu um pequeno barulho, quase nulo, da porta de vidro do closet sendo arrastada e fechada. Aconchegou-se mais na cama, entre os cobertores, ainda sonolento. Chegaram tarde na noite anterior. Só teve forças de tomar um banho e cair na cama, onde Taehyung já estava apagado, por ter tomado banho na casa dos pais.

Então, bem, ali estava. Acordando, ou quase isso.

Esfregou o rosto no travesseiro, sentindo o cheiro de roupa limpa. Mais um barulho, agora de celular vibrando. Perto demais. Mas que... Será que era possível dormir um pouco sem querer matar alguém no processo? Abriu os olhos meio que de forma quase nula e jogou o braço para trás, tateando o móvel de madeira, tentando achar o celular.

Não achou.

— Está mais pra trás. — Grunhiu positivamente quando ouviu a voz grossa do mais novo.

Não falou nada e não falaria, mas seu coração sempre acelerava um pouquinho quando acordava e a primeira coisa que ouvia era a voz dele. Fazia tantos anos que aquilo acontecia, mas agora era diferente, era como se... fosse seu lembrete diário de que poderia ser um bom dia. Sempre era um bom dia depois que Taehyung veio e ficou em sua vida da forma correta.

Sentia-se aquecido. Tão confortável. No lugar certo.

Achou o aparelho e pegou, trazendo para si. Forçou os olhos a abrirem um pouco mais e viu meio embaçado que tinha uma mensagem de seu manager, falando alguma trivialidade sobre passagem de som e qualquer coisa assim.

. Bloqueou a o celular e jogou para o lado. Respirou fundo e tirou seu tempo para acordar. Porque era assim, nunca acordava de uma vez, levava alguns segundos, minutos, até despertar por inteiro. E nesse tempo, gostava de ficar quieto. Em paz.

Felizmente, seu namorado o conhecia o suficiente para não burlar esse seu ritual. Um garoto de ouro, dizia.

Bocejou e piscou os olhos mais algumas vezes. 40% acordado. Virou na cama, tentando achar o moleque que costumava estar sempre agarrado ao seu corpo. Por que ele acordou tão cedo? Estranhou. Franziu o cenho, ainda com o rosto inchado e os olhos quase fechados.

— O que cê tá fazendo? — Sua voz saiu rouca, sendo as primeiras palavras que disse naquela manhã de sábado.

— Dobrando roupa. — Respondeu simplesmente, terminando de dobrar uma camisa, deixando em cima da cômoda, onde guardavam algumas bagunças. — Depois que você pediu a senhora Jiang para evitar arrumar seu quarto, alguém precisa manter as coisas em ordem. — Yoongi assentiu, lembrando-se daquilo.

Coçou o rosto. Aquilo era real. Um pouco receoso da senhora que ia ali esporadicamente limpar o apartamento encontrar algo que preferia manter em sigilo, ou ver algo que seria muito difícil de explicar, pediu respeitosamente que ela deixasse seu quarto de lado, porque ele mesmo daria um jeito e ela podia deixar as roupas lavadas na sala. Ela era ótima e nunca questionava, então apenas acatou as ordens.

Ouviu um barulhinho de sino e soube o que era, antes mesmo de sentir o peso extra em sua barriga. Sorriu preguiçoso, afastando as mãos do rosto para dar de cara com Yeontan, em pé em seu peitoral, alegre. Acariciou o pêlo macio e cheiroso dele, rindo fraco quando o bichinho lambeu suas mãos, o rabo balançando feliz.

Taehyung olhou de canto e acabou sorrindo com aquela cena. Parecia uma projeção mentirosa de sua mente. Acabou se distraindo. Yoongi com aquele rostinho inchado de sono, brincando todo feliz com Yeontan, irritando-o como de praxe, segurando no focinho e apertando devagar só para ouvi-lo rosnar e tentar morder seus dedos.

Tão chato.

— Você não vai poder ir mesmo ao show de hoje? — O moreno perguntou do nada, ainda brincando com o cachorro que rosnava e latia para si.

— Não sei. — Deixou as roupas de lado, indo para a cama e sentando onde dormia, estendendo a mão para acariciar o cachorro agitado. — Vou jantar com os meninos e talvez eu possa ir pra lá depois.

O rapper assentiu, ainda um pouco contrariado. Ele queria que o maior fosse a seu show, mas sabia que ele não curtia tanto assim seu estilo musical, apesar de brincar muito de cantar seus raps e tudo mais. Não fazia o estilo dele o som, muito menos se enfiar em uma casa de show. Taehyung era muito refinado para isso. Porém.

Gostava de tê-lo perto e ele gostava de estar, o resto era mero detalhe.

— Que meninos? — Questionou baixo, rindo com os pequenos dentes quase o segurando. — Você não disse quem eram. — Olhou brevemente para o garoto de cabelo azul que pareceu um pouco hesitante.

Geralmente não conhecia bem os amigos do mais novo. Ele tinha muitos, sabia disso, ele era muito amigável e gentil, via nas redes sociais o tanto de gente que o admirava e gostava dele. Não era para menos! Mas ele era muito restrito quando se tratava de encontros casuais com amigos, preferia estar com Yugyeom e Taeyong, ou com os irmãos.

Entre todos os irmãos, ele era o que tinha mais amigos, provavelmente, deixando os outros ciumentos, principalmente Jimin. Ele não gostava! Tinha reais ciúmes do irmão mais novo.

De todo o modo, queria saber, sei . Conhecê-lo melhor.

— O Bogum hyung, lembra? Já te falei dele. — Assentiu. Meio que se lembrava do nome, mas não associou a nenhum rosto. — O Moonbok hyung, — Esse associou. Ele era diferente dos outros, tinha cabelo longo e um estilo muito característico. — Sungjae-ya, e — Ah. O idol! Taehyung tinha uns amigos aleatórios que iam de "ninguém nunca visto nem por deus" e "conhecidos mundialmente". Ia acompanhando, brincando com Yeontan, rindo quando ele quase pulou em seu rosto. — Seojoon hyung. — Quase murmurou o último nome.

Lembrava-se desse nome, aliás, nomes ruins jamais esquecia. Seu corpo enrijeceu. Virou a cabeça devagar, encarando o rosto perfeito de traços marcantes demais. Por que ele tinha que ser tão bonito? Que merda tinha na genética da família de Seokjin? Isso era irritante. foco, Yoongi. Até parou de brincar com o cachorro.

Seojoon? Park Seojoon? O mesmo Seojoon que conhecia? Que foi na porra de sua casa pegar Taehyung em um carro caro demais para levar para sabe-se lá aonde? O cara velho que se interessou pelo adolescente ainda na puberdade? Ah. Ele... interessante...

O artista plástico até tentou abrir a boca para falar, vendo a expressão sombria no rosto do menor, mas não conseguiu.

— O que porra ele vai fazer lá? — Ele foi mais rápido, falando daquele jeito rude de sempre.

Suspirou. Sabia que ele não ia gostar, então estava evitando falar, mas de algum modo ele acabaria sabendo. Ia ver alguma foto, em algum momento, então... não tinha como esconder. E nem tinha porque fazer isso! Não estava fazendo nada de errado. Molhou os lábios, preparando-se para se explicar.

— Ele é meu amigo, amigo do Bogum hyung, é natural que vá. — Explicou calmo, cruzando as pernas sobre o colchão, olhando o mais velho o medir com aqueles olhos apertados.

— Você já ficou com ele? — Foi direto, porque nunca havia perguntado isso antes, mas agora era importante.

— Isso importa? — Ficou confuso. Qual era a necessidade de saber? O músico continuou o encarando, esperando uma resposta. Estava ficando nervoso. — Ele é hétero, Yoongi, fala sério. — Riu baixo, claramente nervoso.

O que aconteceu foi na adolescência, quando o homem era curioso sobre a vida e o mais novo era acessível e muito interessado sobre a vida. Era isso! Não... tinha nada demais. Até porque, era muito jovem na época, era colegial e o outro, adulto já. Não eram loucos.

— Tá nervoso por quê? — Calmamente, ou aparentemente, segurou o pequeno animalzinho em seus braços enquanto levantava, sentando na cama.

— Porque você me deixa nervoso.

— Eu também era hétero. — Olhou seriamente para o garoto que chegou a balbuciar algumas palavras, mas não tinha o que dizer.

Odiava quando o músico conseguia a última palavra – sempre. Minha nossa. Não sabia mesmo discutir. Deixou os ombros caírem e rolou os olhos. Aquele assunto era desnecessário. Estavam juntos, não estavam? Amava-o, havia provado isso, então assuntos como aquele eram bobos. Não trocaria seu Yoongi por qualquer outro. Não importa quem fosse. Fala sério...

Mas ainda ganhava um olhar meticuloso do homem de cabelo curto, que parecia o estudar pelos mínimos detalhes, parecia Namjoon quando queria pegá-los em alguma mentira.

— Não quer que eu vá? — Perguntou após algum tempo, olhando receoso o moreno que estranhou aquilo.

Como? Ouviu direito? Suas mãos soltaram o cachorrinho de pêlo marrom que latiu para seu dono e balançou o rabo em sua direção, parecendo entender que ele estava um pouco acuado, querendo animá-lo. O mais velho bufou e negou. Que idiota. Claro que não era aquilo. Ficou um pouco chateado consigo mesmo por fazer seu moleque se sentir daquele jeito.

Idiota, Yoongi, idiota. Inseguro idiota!

Saiu das cobertas e se arrastou na cama, indo para perto do mais alto, segurando-o carinhosamente pelas bochechas. Bobo. Encarou-lhe os olhos.

— Não me dê ouvidos, sou um idiota. — Sussurrou culpado. Estava tentando se corrigir, então sempre que notava que estava sendo demais, parava. Refreava. Obteve a atenção do azulado. — Confio em você e, na verdade, prefiro não saber se ficou ou não com aquele estúpido. — Assumiu e o de olhos grandes acabou rindo. Um pouco mais... à vontade. — Quero que saia com seus amigos e se divirta, não precisa ter hora pra voltar, eu sei que vai ficar bem. — Forçou um sorriso, sem mostrar os dentes, ainda se sentindo um pouco mal. — Só não beba. — Deu a condição natural que ele já sabia de trás para frente.

Assentiu, vendo que era sincero e seu namorado parecia um pouco culpado por ter agido daquela maneira. Na verdade, até entendia, já haviam conversado horas e horas sobre aquilo. Sobre a insegurança crônica de Yoongi, sobre a possessividade dele com as pessoas que ele amava. Ele assumia e procurava mudar, aceitando até um psicólogo, então o desculpava. Era um processo.

Tocou a cintura nua dele, acariciando com a ponta dos dedos, trazendo-o um pouco mais para frente, querendo que ele sentasse em seu colo. Já não precisavam ser muito polidos, certo? Gostava de ficar perto. Mesmo tímido, o Kim mais velho aceitou e sentou sobre suas coxas, ajeitando-se ali. Abraçou-o pela cintura e voltou a olhá-lo nos olhos.

Ainda estavam inchados pelo sono. Ele estava todo amarrotado, era bonitinho. Sorriu suave, os olhos demorando em cada mísero detalhe... gostava de mapear cada um. Era bonito, trazia paz.

— Discorde de mim quando precisar. — Pediu o músico, a voz um pouco mais tensa e emotiva. Os olhos implorando para que ele o fizesse. — Me pare. — Implorou baixinho, deixando as mãos caírem para os ombros despidos do garoto. — Não me deixe ser ruim, por favor.

Taehyung negou. Ele não era ruim. Nunca foi. Esfregou a ponta dos dedos nas costas pálidas em um carinho apaziguador, querendo acalmar o coração desesperado daquele homem que estava correndo contra o vento forte, lutando contra si mesmo, querendo mudar tudo de lugar, querendo ser diferente. Por isso o amava tanto, por isso estava ali.

Yoongi era uma pessoa que o fazia querer lutar.

— Você é o melhor do mundo pra mim. — Disse baixo, ainda encarando os olhos inchados de sono. — Ninguém é perfeito, não espere ser também. — Deu de ombros. — Só seja sua melhor versão para todos e já tá bom.

— Eu sou bom? — Perguntou confuso. Às vezes se perdia de si mesmo, ficava confuso em "o que era" de verdade.

Seus pensamentos embaralhavam, dando um nó. As memórias vinham, lembravam-no de coisas que só queria esquecer, então já não sabia mais. E, embora todos os dias tentasse mentalizar que era bom e que estava tentando, estava se esforçando, algumas vezes era difícil. Como naquela manhã. Atitudes como aquela, faziam-no refletir sobre sua real pessoa.

Era bom?

— Você é você. — Respondeu sério, o garoto. Sabiamente. — Ninguém é 100% bom ou 100% ruim, somos várias versões, várias coisas. Cada pessoa nos desperta um lado, então temos muitos lados. Não se cobre tanto. — Sentiu uma cabeçada em suas costelas e olhou para baixo, vendo seu cachorro ali, pedindo carinho. — Hum, o Tannie te acha espetacular. — Indicou o bichinho que olhava de um para o outro, querendo atenção.

O rapper olhou para baixo, ainda um pouco chateado, mas acabou suspirando tranquilo quando viu os olhos redondinhos do cachorro o encarando com alegria. Ele sempre o encarava daquela maneira, festejava quando chegava em casa... Pegou-o com carinho e trouxe para entre o peito de ambos, deixando um beijinho na cabeça peluda, ganhando uma lambida na boca como resposta.

Agora sim começou a rir. Ouviu Taehyung rir junto.

— Sim, até me beijou na boca. — Murmurou tentando fugir das outras lambidas que o bichinho tentou dar.

— Tannie, não faz isso. — O azulado chamou a atenção do animal que o encarou assustado pelo tom rouco repressivo. — Só eu posso beijar a boca dele. — Disse como se fosse óbvio e o cachorrinho tombou a cabeça para o lado, colocando a língua para fora. — Só eu posso fazer isso. — Inclinou o rosto para o do namorado e selou os lábios.

Yoongi o afastou. Não tinha nem escovado os dentes, lavado o rosto. Que nojo. Yeontan latiu, agitando-se nas mãos do rapper, querendo lamber o dono que ainda estava próximo o suficiente para ganhar uma lambida na ponta do nariz. Começaram a rir juntos.

— Aprendeu? — Perguntou rindo para o cachorro que latiu. — Só eu, Kim Taehyung, posso beijar a boca dele. — Apontou para o moreno que o encarou com um sorriso bobo e negou. Tão idiota.

E por manhãs como aquela que acordava ansioso todos os dias. Não era perfeito. Nunca. Às vezes recaía e ficava se questionando, era um idiota e ficava com medo de perder Taehyung por conta de seus mil problemas. Mas, então, ele vinha com aquela calma, com todo o amor do mundo e o cobria de lucidez.

Era como reaprender a viver, havia dito isso e era verdade. Estar com Taehyung era como reaprender a viver.

Agora da forma correta!

...

Passou o sábado todo ansioso. Estava realmente ansioso. Não parava quieto, até parecia que o hiperativo da questão era si, que não tinha nada de hiperatividade, seus problemas eram de seu caráter mesmo.

O que era pior.

Yoongi havia mandado mensagem, avisando que estaria no clube por volta das dez da noite e que eles podiam chegar um pouco antes. Já havia deixado a produção do local ciente de que seu irmão e primo iriam aparecer e que era para eles cuidarem bem de ambos, deixando-os longe da multidão. Jungkook não lidava muito bem com muita gente em cima de si.

É... era mesmo seu irmão mais novo. Tinha orgulho de ver isso. Convivência era muito mais bonito do que genética.

De todo o modo, era de Yugyeom que estávamos falando. Seus pais estavam muito apaixonadinhos, matando as saudades para notar sua carga de energia. E, embora Jaebum tivesse lhe questionado mil vezes sobre o show, aonde ele ia dormir principalmente, respondeu com certeza. Ensaiou bem! Ia para o show, encontraria Taehyung e, no fim, iam embora com Yoongi. O Im confiava no afilhado, então não implicou tanto.

Até porque isso significava noite livre. Ele e Youngjae, livres. Yugyeom até citou isso no discurso de: "por que vocês deveriam me deixar ir". E um dos tópicos era isso. Que não queria ser traumatizado por sons – palavras originais de Choi Yugyeom: – 'característicos demais'. Conseguiu sua dispensa familiar!

Jungkook não o perturbou querendo saber onde iam e nem nada disso. Apenas perguntou que horas iam e se podia se vestir confortavelmente, sem precisar se fazer de formal. Ele realmente pensava que ia levá-lo para jantar ou algo assim? Pfff. Tranquilizou-o, porque também ia à vontade. Os shows de Yoongi eram underground, não precisava de nada mais do que o que vestia normalmente.

Se no chat de Kim Jungkook se fazia de calmo e desinteressado, no de Taehyung enlouquecia, mandando de minuto em minuto uma mensagem de "por favor, não me deixe sozinho se algo der errado, me salva". O mais baixo não entendia bem o conceito de Yugyeom, o de "dar errado", mas tá, concordou. Não podia fazer muito mais do que isso. O Choi mandou mensagem para Taeyong também.

Ah, mas foi só para perguntar como ele estava, para chamá-lo de emo e perguntar se o "ovo" dele já tinha saído da segunda série. Tão engraçado! Apelidou Jaehyun daquela maneira por causa da idade, mas nem eram tão mais velhos assim. Cerca de quase quatro anos, só.

Mas era divertido zombar dele tanto quanto, ou talvez mais, que zombar de Yoongi. Um velho e um bebê. Seus amigos eram de extremos.

Quando deu nove horas, começou sua produção de beleza. Colocou uma camisa listrada preta e branca por baixo de uma camisa de rock. Ah, era de seu pai... seria desrespeitoso sair com Jungkook usando a camisa de seu pai Jaebum? Hum... ia refletir sobre isso enquanto vestia o jeans apertado, as botas.

Ainda estava refletindo enquanto colocava os brincos, perfume, maquiagem... Ainda estava profundamente reflexivo quando pegou as chaves da moto e os capacetes.

Mas não achou nenhuma resposta, então foi assim mesmo. Se Buda não incomodou seu coração, então estava tudo tranquilamente seguro.

Despediu-se dos pais com um abraço, deixando um beijinho na testa de cada um. Estava com saudades deles, de ambos. Riu fraco. Idiota. Abraçou mais forte seu pai soldado e disse que voltaria no amanhecer. Ele também o abraçou tão forte... De repente... não quis ir mais. Apertou-o, ignorando as piadinhas sobre estar usando a camisa dele.

Fechou os olhos e ficou ali. Apertado a Jaebum, sentindo o cheiro dele. Amava tanto aquele homem. Sentiu um carinho em suas costas e soube que era seu outro pai. Sabia o quanto ele ficou afetado pela briga.

— Eu amo vocês. — Foi o militar quem disse, sentindo seu coração calmo por estar em casa, com sua família. — Eu amo muito vocês dois. — Também apertou o corpo do filho, fechando os olhos, entregando-se naquele aperto forte.

O Choi sorriu um pouco choroso e continuou acariciando as costas do filho, feliz por ver aquilo, mas um pouco incomodado pelo jeito que Yugyeom estava muito agarrado a ambos. Geralmente, ele fazia piadinhas antes de sair, acelerava bem a moto para ouvir o pai militar reclamar do barulho e então ia.

Mas agora...

— Vai logo! — O mais velho disse tirando o filho de seus braços, batendo em seu ombro. — Grave Agust D pra mim, é minha favorita. — Brincou com o mais alto que começou a rir e assentiu. Faria isso.

Deixou mais um beijo no rosto de Youngjae e saiu, dessa vez sem irritar os pais acelerando a moto com força, apenas foi. Seguiu seu caminho até onde Jungkook morava, porque combinou de buscá-lo em sua moto. Carregava o capacete dele no braço e vencia o trânsito noturno de Seul com certa ansiedade. Como ele estaria? Como seria andar com ele em sua garupa? Oh, okay. Calma. Calma. Estava quase lá.

Quando chegou à portaria do prédio, mandou uma mensagem e ele disse que logo desceria. Dito e feito. Em menos de um minuto e meio ele já estava lá.

— Olha só, não mentiu, veio mesmo com sua lata velha. — Brincou abaixando a máscara preta que escondia sua boca e nariz.

Revirou os olhos e esticou o braço, oferecendo o capacete preto. O lutador, ainda risonho, pegou. O cabelo castanho estava bagunçado como sempre, ele estava completamente de preto. Como sempre. Uma calça que parecia de treinar, com os cadarços desamarrados, camisa preta por baixo de uma jaqueta também preta e tênis. Simples e fodendo com sua mente. Um lindo desespero.

Colocou o capacete, subiu a máscara e montou na moto, deixando as mãos sobre as próprias coxas. Vendo a demora para a moto arrancar, acabou rindo.

— Quer que eu abrace você, Choi? — Ofereceu abaixando o visor da moto e cutucando a cintura dele com seu indicador.

Ele grunhiu e se encolheu pela cócega, acabou rindo pela provocação, mas, mesmo que fosse mais seguro segurar no corpo grande do garoto, optou pelos apoios de trás, mantendo-se em segurança daquele jeito.

— Se toca, Jungkook. — Murmurou mal-humorado e ligou a moto, saindo a uma velocidade considerável.

Estava um pouco nervoso. Não, estava muito nervoso. Ali tinha muitas coisas em jogo. Primeiro tinha o fato de estar com Kim Jungkook, o primeiro cara que realmente teve um interesse mais longo que o normal. Segundo, estava levando o dito cujo para o show do próprio irmão, o cara que lhe socou a cara e ele socou também, em uma confusão diabólica. Não fazia ideia de como seria a recepção.

Para Yoongi estava tudo bem, mas e para o acastanhado? Estava? Ficou tão desesperado para arrumar algum lugar e ter a ajuda do primo que nem se tocou que as coisas haviam mudado. Não se lembrou desse pequeno – e importante – detalhe. Aquilo podia dar muito certo, como: acabar com a briguinha idiota. Mas também podia dar muito errado: Jungkook brigar consigo e acabarem estranhos de novo.

Estavam indo bem, não é? O mais velho era um pouco complexo, então nunca sabia o que ele estava pensando, mas... bem, vendo por aquele ângulo, que estavam saindo juntos, então podia ser considerado um passo legal? Um passo... para onde? Céus! Ia ficar louco.

E o tão piadista Choi Yugyeom estava totalmente sem graça.

A área da boate era no local onde as outras também eram. Tinha muitas casas de show por ali, mas essa era nova. Leu algo sobre na internet, teve curiosidade de ir para conhecer, mas não sabia que ia tão cedo.

— Vamos mesmo a uma boate? — Questionou, o lutador, assim que pararam em um sinal vermelho e ele entendeu o caminho que estavam fazendo. Acenou em positivo. — Bem a sua cara... — Comentou risonho. Sabia que o garoto gostava de festas.

Acabou rindo, o mais novo. Gostava mesmo de boates, bares e qualquer lugar que pudesse festejar, era sua forma de extravasar sua energia, suas vontades. Desde que se mantivesse na linha da sobriedade para não envergonhar a si mesmo e aos pais, então tudo bem.

— Vamos ao show do seu irmão. — Achou melhor dizer, quando ficaram em silêncio. Olhou pelo retrovisor, mas não conseguiu ver nada, por causa do capacete negro.

Jungkook não disse nada. Yugyeom ficou nervoso. Aquilo era bom? Ruim? Precisava saber, mas ele não falava nada. O sinal abriu e precisou andar, ainda com aquela dúvida em sua mente, a agonia travando sua garganta. Estava fazendo uma merda muito grande? Se seu pai soubesse disso... e ele ainda havia pedido para que parasse de se meter nos problemas dos primos. Mas nem foi de propósito.

Parecia que os problemas o perseguiam, merda.

O Kim via tudo passando pelo visor escuro, a cidade toda fumê por causa do insulfilme do visor, o ar gelado em suas mãos que doíam um pouco de segurar naquele ferro. Show de Yoongi. Sério? Quando estavam bem, sempre gostava de estar neles, ver do palco como seu irmão mais velho mandava bem, energizava uma multidão. Amava as músicas, amava Yoongi, amava Agust D. Era fã do próprio irmão.

Respirou fundo e se sentiu esquisito. Parecia errado ir até lá sem antes conversarem, sem antes se desculpar por ter se intrometido onde não era chamado, tentar se explicar, se é que tinha explicação. No dia anterior, as coisas foram um pouco frias, pelo menos entre ambos. Pouco se olharam, falaram educadamente, mas não... houve... ele e Yoongi. Como sempre.

Estava acostumado a carregá-lo em suas costas, brincar de irritá-lo, apertar seu nariz e bochechas, ficar em cima dele o tempo todo para aprender alguma coisa, nem que fosse como grelhar carne ou cortar cebola. Era bom estar perto dele. Era seu ídolo. Seu irmão mais velho.

Estava envergonhado, estava magoado. E com tantas saudades... tantas...

Quando notou, estava com as mãos emboladas na camisa do mais novo, segurando pelas laterais enquanto tentava aquecer os dedos tatuados ali. Ia ver Yoongi... de novo...

Seu coração não aguentaria por muito tempo.

...

Tomou um gole do copo de whiskey e alongou o pescoço, ouvindo alguma playlist aleatória de rap tocar ao fundo. O lugar estava lotado, embora soubessem que odiava lotação. Era seu camarim, por assim dizer, por que estava toda aquela algazarra?

Um falatório...

Já havia dado entrevista para uma ou duas pessoas, tirado foto com alguns fãs que eram influentes demais para esperar depois do show. O local estava cheio de gente que não conhecia muito bem, mas que o conhecia, porque o bajulavam o tempo inteiro, pedindo brindes e o felicitando pela volta maravilhosa. Afinal, Agust D estava melhor do que nunca. Eles diziam.

Mas por que sentia que não era verdade? De todo o modo, nunca confiou neles mesmo.

Olhou para o espelho, o boné virado para trás, o capuz do moletom laranja por cima da aba. Vestia uma regata preta, algumas correntes, seus jeans pretos detonados e all star preto. Como gostava, embora já não tivesse mais seus vinte anos. Olhou para o braço direito, a manga do casaco puxada.

A raposa estava ali, mas a verdadeira estava em algum lugar de Seul, jantando com os amigos. Riu sozinho. Daria tudo para estarem juntos. Podia até ser naquele jantarzinho...

— E aí. — Acordou com aquele chamado cheio de excitação. Sentiu apertarem seu ombro e olhou pelo reflexo do espelho, vendo Jiwon sorrir feliz. — Animado?

— Sempre tô animado pra rimar, fala sério. — Respondeu com um sorriso pequeno, bebendo mais um gole e vendo o de cabelo roxo rir um pouco mais. Ele parecia feliz. — Soube que teve uma reunião com o pessoal do Show Me The Money. — Viu o rapper assentir e tomar um impulso, sentando à mesa de bebidas antes de pegar uma garrafa de soju e abrir com a própria mão. — E então? — Perguntou na ausência de respostas, vendo-o beber um grande gole.

O homem de camisa xadrez e cabelo cacheado riu amargo pela bebida e se escorou no espelho, olhando para o amigo que parecia ansioso pela resposta.

— Talvez eu participe. — Deu de ombros e viu o moreno o oferecer um brinde. Levantou a garrafa verde e bateu de leve no copo dele, vendo-o bebendo aquilo em um gole. — Mas primeiro querem falar contigo.

— Eu? — Fez uma careta pelo ardor. Pensou que já tinha deixado claro seu posicionamento. 

Não ia. Ponto. Esse era o posicionamento!

— É. — Moveu as pernas, os cadarços do coturno desamarrado voando enquanto parecia preguiçoso para amarrá-los. — Querem fazer uma proposta final, algo assim. — Coçou a nuca, parecendo desconcertado. Olhou para o menor que voltava a encher o próprio copo. Mediu-o por completo... dos pés à cabeça. Bela jaqueta da Nike. — Você não pensa mesmo em participar? — Perguntou baixo, no meio daquele falatório.

Negou óbvio, chegando a fazer uma careta com aquela pergunta. Era óbvio que não ia participar. Não queria ter nenhum contato com aquele programa, já havia dito, foi bem sucinto.

— Se quiser, eu falo com eles. — Encostou o quadril na mesa, ficando de lado para o espelho e de frente para o cacheado. — Sei lá, pode ajudar. — Deu de ombros. Talvez, se fosse grosso, eles deixariam sua vida em paz.

Jiwon concordou, mas não disse nada, apenas bebeu um pouco mais e sorriu pequeno para o mais velho que piscou em sua direção, mostrando cumplicidade e voltando a beber. Saboreou o gosto amargo da bebida alcoólica. Era amarga. Muito amarga, mas engoliu mesmo assim, sentindo queimar em sua garganta, fazer sua cabeça dar uma pontada. Engoliu o amargor e respirou fundo.

Se pensasse que era doce, talvez seu paladar pudesse enganar sua mente...

— Yoongi, vamos. — O manager gritou no meio de todo aquele barulho, chamando a atenção do rapper baixo que assentiu e bebeu um pouco mais antes de abandonar o copo. — Vamos descendo.

Já havia feito aquilo tantas vezes que estava tranquilo. O produtor, que também era um de seus convidados, veio lhe dar um abraço, batendo de leve em suas costas. Gostava para caralho dele, não tinha como ficar bravo por muito tempo. Suran também estava ali.

Convidou-a. Se iam trabalhar juntos, então seria bom ela acompanhar seu ritmo, não ao contrário. Seus pais sabiam como clarear sua mente, bastava se abrir com eles.

Cumprimentou-a de longe e ganhou uma reverência respeitosa. Cumprimentou outros colegas, inclusive seu próprio manager. Ganhou um abraço dele e começou a rir porque ele era um dos poucos que estava consigo desde o começo e sempre o chamava de Suga.

— Bom show, Agust D. — Ouviu uma voz conhecida e, assim que soltou de seu manager, virou para Max. Sempre engravatado. — Me faça trabalhar direito daqui por diante. — Disse irônico levantando o punho e o rapper revirou os olhos.

Irritante.

— Pode deixar. — Bateu punho contra punho e o viu sorrir fraco antes de sair.

Max nunca ia aos shows pequenos, preferia ficar de longe, até porque não gostava de rap e de nem nada disso, era estritamente profissional. Cumprimentou mais algumas pessoas antes de sair pelo corredor escuro, ouvindo sua equipe fazendo barulho, como sempre. Acabou rindo. Aquele dia estava estranhamente... diferente.

Assim que chegou próximo à produção do lugar, chamou uma das mulheres com que havia conversado mais cedo.

— A noona sabe me dizer se meu irmão já chegou? — Perguntou um pouco ansioso e a mulher assentiu apressada, mas mantendo a atenção nele. Sorriu tranquilo. — Garanta a segurança dele, por favor, sem fotógrafos ou repórteres. — Pediu mais baixo e ela, mais uma vez, assentiu.

Os repórteres estavam loucos atrás de Jungkook depois do pronunciamento oficial de que ele estaria afastado das lutas por algum tempo. Havia muitos boatos, mas o assessor dele havia pedido que ele não respondesse, não por agora. E, como irmão mais velho, sabendo que ele ali chamaria alguma atenção, tinha como dever evitar certos desconfortos.

Conhecia o lutador e seu gênio. Sabia que quando ele não estava a fim de falar, podia acabar sendo grosseiro com algum meio de comunicação e isso não era bem visto pelos sul-coreanos. Precisava... frear o mais novo, mesmo que de longe.

De todo o modo, recebeu seu microfone e aqueceu rapidamente a garganta. Estava feliz por aquele pirralho infernal ter feito pelo menos algo bom, que foi levar Jungkook ali. Isso era legal. Ficava mais animado de se apresentar se ele estivesse ali. Sabia que... ele adorava suas músicas, então podia deixa-lo animado. Pelo menos um pouco.

Respirou fundo e sorriu contido. Faria um bom show, seu público era um pouco mais especial hoje. Pegou o celular do bolso e tirou uma selfie, mandando imediatamente para o namorado.

• yoonz (10:15PM): Tirei Seesaw da tracklist porque você não veio. :)

Não esperou respostas, enfiou o telefone no bolso do jeans e colocou o retorno no ouvido. O lugar era médio porte, Max havia dito que vendeu tudo, então seria um show legal, mais intimista. Lembraria seus dias de iniciante, quando tinha, no máximo, quinhentas pessoas para ouvir seu som. No mínimo, só sua família. Mas nunca reclamou. Não tinha do quê reclamar.

Sua entrada era a mesma de sempre. A intro de Give It To Me tocando, falava algo e entrava. Era praxe. Respirou fundo e entrou. Tudo estava apagado e só uma luz vermelha iluminava o local.

— Fiquei sabendo que o nome desse lugar é Inferno. — Disse no microfone, ouvindo o público gritar. Riu. Era mesmo o nome da boate. — Vamos abrir as portas do inferno hoje, então. — Entrou no palco agitando as pessoas, puxando mais o capuz para esconder o rosto. — Me deem tudo o que vocês têm hoje. — Pediu abaixando próximo do fim do palco, que era baixo, sentindo algumas mãos tocando seu rosto. Sorriu, mostrando os dentes pequenos, vendo tudo vermelho. 

E assim seu show começou. Jungkook estava sentado em um dos locais altos do lugar, um dos camarotes, assistindo o irmão pular, cantar, trazer todo mundo para sua energia, aquela luz vermelha piscando o tempo todo. Aquele lugar era bem legal. Bebeu um gole da cerveja e viu Yugyeom gravando alguns vídeos, todo sorridente.

Mesmo naquela luz vermelha, conseguia vê-lo sorrindo alegre.

— Pro Taehyung? — Perguntou alto, no meio daquele som estridente. Ele negou. Ficou curioso. — Quem?

— Meu pai. — Respondeu no mesmo tom gritado, olhando-o brevemente, sem perder o sorriso.

O lutador assentiu, o sorriso sacana preso no canto dos lábios. Im Jaebum, seu padrinho. Deu uma risadinha antes de beber um pouco mais da cerveja. Com certeza ele não fazia a menor ideia que estavam ali juntos. Se não, era certo que teria um pontinho vermelho em sua testa.

— Qual a desculpa? — Quis saber, vendo-o parar de gravar e vir sentar consigo na mesa com algumas bebidas e comidas.

— Disse que o Tae estava aqui. — Pegou uma lata de cerveja e abriu, sentindo o olhar interessado do mais velho. — E que vou dormir no Yoongi hyung depois do show. — Bebeu um gole da cerveja e viu o de jaqueta assentir, parecendo à vontade demais.

E claro que estava, era o próprio irmão que estava cantando ali embaixo, é óbvio que ele estava acostumado. Ser irmão de Kim Yoongi deve ser bom, mas só artisticamente falando.

Se ser primo já era ruim, imagine irmão? Não. Só artisticamente mesmo. Ele era uma máquina de talento.

— E você vai? — Questionou após deixar a garrafa verde na mesa, passando a mão no cabelo enrolado, jogando para trás.

Mediu-o. O que Jungkook queria dizer? Riu nasal e bebeu um pouco mais, desviando o olhar. Não se emocione, Choi, mantenha a calma. Tinha que lembrar que, apesar de estarem dando certos passos, o Kim ainda era um belo de um idiota e brincalhão, então tinha que ir com calma, jogando o jogo dele, ganhando espaço.

Não era um imbecil. Se Kim Jungkook achava que ia ganhar aquela, não ia.

— Não me limito. — Foi o que disse, tranquilo, embora seu coração batesse tão forte como um tambor.

Parecendo gostar da resposta, o acastanhado ponderou, voltando a pegar a garrafa de cerveja e erguendo, pedindo um brinde. O mais novo aceitou e beberam juntos, um olhando para o outro, no meio daquela luz vermelha piscando. Dentro do Inferno.

Droga, Yugyeom adorou aquele nome, era excitante. Que seus avós budistas não escutassem isso.

A tracklist seguiu como planejada. Agust DTony Montana, um mix de Cyphers. Foi quando começou Ddaeng que Jungkook levantou e foi para a ponta do camarote, querendo ver Yoongi performando sua música favorita. Toda vez que ele falava "bae", tinha que gritar junto. Tinha que gritar "ddaeng" junto. Precisava... céus. Precisava pular e cantar e enlouquecer um pouco, como se fosse um fã fanático.

Era um fã, mas não fanático. Era um fã-irmão orgulhoso.

— Billboard foi graças a você, bae, não há ninguém acima de mim, obrigado por me dar toda essa bagunça. — Ele cantava com tanta vontade e força, quase sorrindo debochado enquanto seu rosto ensopado de suor brilhava na luz vermelha, sentindo-se no topo do mundo. — Obrigago, obrigado, obrigado. — Praticamente gritou, a voz saindo um pouco mais rouca por causa do esforço vocal. Estava realmente cantando com muito mais gana naquele palco. — Obrigado por me ignorarem o tempo todo! Obrigado a vocês, estádio, dome, Billboard, — Foi contando nos dedos, vangloriando-se de suas conquistas. — Eu recebi muitas coisas graças a vocês. — Fez uma falsa reverência, logo voltando para continuar. — Aos meus amigos de pequenas companhias, — Falou no microfone, lambendo os lábios e sorrindo enérgico, vendo o povo todo cantando, dedicando-se lá embaixo, como estava se dedicando ali em cima. — eu espero que vocês se tornem grandes logo, nós continuaremos sendo confundidos enquanto o vento sopra. — Fez piada, permitindo-se ser quem verdadeiramente era. Ter o título que tinha. Sabia que era bom. — Então eu espero que você continue se preocupando conosco. — Estava tão animado rimando que não viu a multidão se dividir um pouco.

Não viu quando três pessoas saíram empurrando os fãs, cavando espaço. Não viu porque estava ocupado fazendo seu trabalho, que era deixar as pessoas felizes e cheias de energia. Não viu porque não estava preocupado, porque confiava em quem estava consigoNão viu porque estava sorrindo e seus olhos ficavam pequenos quando sorria. Não viu porque seu público eram as únicas pessoas que estavam ali embaixo...

Foi quando ouviu o som oco de um disparo e sentiu algo acertar sua barriga, foi aí que entendeu que não. Não era só o seu público. Franziu o cenho, parando na hora de cantar. O que...? Piscou os olhos rapidamente, não conseguia ver muito bem naquela luz vermelha, mas podia ter certeza de que seu moletom laranja estava manchado. Oh. Espera. Estavam todos gritando. Houve mais dois disparos... eram tiros. Conhecia o som.

Seu pai o levou em uma aula de tiro um dia. Acertaram garrafas. Foi divertido. Era divertido estar com Namjoon. Lembrou-se dele sorrindo quando acertou em cheio o primeiro alvo. Era bom atirando, ele dizia. Acreditava nele. Acreditava em Kim Namjoon desde sempre. Para sempre.

Sentiu o corpo cair, mas não caiu no chão. Alguém o segurou. A luz acendeu, já não havia mais tantos gritos assim. Estavam longe...

— Yoongi! — Alguém gritou e não soube discernir quem, porque tudo parecia rodar e, em sua cabeça, ouvia uma música tranquila tocando. Era First Love! — Kim Yoongi! — Ainda segurava o microfone, sentia-o em sua mão. Ainda que estivesse no inferno, não largava o microfone. — Yoongi! — Rolou os olhos nebulosos e puxou o ar pela boca, vendo o rosto de seu manager. Ele parecia horrorizado.

Estava tudo bem. Assentiu quando ele o chamou de novo. Estava ouvindo, não precisava gritar tanto. Franziu o cenho. Grunhiu de dor quando algo tocou sua barriga, estava doendo para a porra do caralho do inferno. Ia dar uma cadeirada no filha da puta que fez isso. Inferno! Inferno literalmente.

— O que porra...? — Tentou se levantar, mas o homem o impediu, mantendo seu corpo no chão.

— Chamamos a ambulância, fique parado aí. — Suran apareceu em seu campo de visão com o celular na mão. — Você consegue ouvir? Ver? Está tudo bem?

— Bem não tô, né. — Resmungou dolorido, descansando a cabeça no chão. — Levei um tiro, tô furado. — Fez graça para ver se a tensão diminuía, mas não, mais pessoas vinham para seu redor. — Sai todo mundo, sai. — Resmungou querendo espaço, incomodado de ver tanta gente.

— Saiam do meu caminho, porra. — Ouviu aquela voz irritante, desesperada e que odiava. — Saiam! Deem espaço pra ele respirar, seus filhos da puta curiosos. — Choi Yugyeom tinha algo que gostava muito: seu vocabulário. Igualzinho ao seu. Podia sentir orgulho de serem primos. — Hyung. Hyung! — Virou a cabeça para o lado e viu o rosto horrorizado do garoto alto. — Você-... hyung...

— Está tudo bem, idiota. — Disse um pouco mais fraco, sentindo a barriga começar a doer mais. O que era aquilo? — Onde está o meu irmão? — Quis saber, porque isso importava e muito. Jungkook estar em segurança.

Yugyeom negou, abaixando a cabeça e apoiando as mãos nos joelhos. Espera. Cadê Jungkook? Cadê o seu irmãozinho? Olhou ao redor, esperando que alguém lhe desse respostas, mas ninguém sabia também. O rapper tentou se levantar do chão, mas caiu quase chorando de dor. Aquilo doía muito. Muito.

Mais do que tudo que já sentira antes. Como seu pai aguentou? Merda. Ia morrer? Não... não ia morrer, não é? Jungkook. Onde estava Jungkook?

— Onde está o meu irmão, Choi Yugyeom? — Perguntou entredentes, engolindo em seco, sentindo seu corpo começar a formigar um pouco. — Porra. — Resmungou largando o microfone para tocar a barriga, sentindo o moletom molhado. — Porra! — Fechou os olhos, estava doendo muito.

— Não se mexe. — Alguém pediu em um tom nervoso.

— Não pode se mexer, não se sabe onde a bala atingiu. — Outra pessoa disse.

— Seu irmão foi atrás da pessoa. — Disse assustado e viu Yoongi, já pálido e suado, encarar-lhe um tanto mais fraco. — Desculpa, hyung, eu-... — Abaixou a cabeça de novo, sentindo o pulmão arder pelo choro.

— O quê? — Murmurou sem muita força. Já estava acabando sua reserva, as cores já se misturavam. Tudo rodava. — Jungkookie... — Chamou pelo garoto de cabelo grande.

Entendeu bem? Ele havia ido atrás de uma pessoa armada? Foda-se seu corpo, iria para um hospital, mas... e ele? Seu irmão. Tentou levantar, mas não tinha mais forças. Inútil. Estava inútil. Precisava ajudar seu irmãozinho, juntos poderiam brigar, eram bons de briga. Tentou chamar o primo de novo, ia pedi-lo para não ligar para Taehyung, porque ele estava ocupado. Queria que ele soubesse só depois do jantar. Ele merecia se divertir.

As notas doces do piano voltaram a tocar em sua cabeça. O sorriso do moleque de cabelo azul, as risadas que se misturavam entre beijos... ele era bonito. Seu amor...

— Hyung! — O Choi gritou assim que viu o homem revirar os olhos, tentando achá-lo. — Eu tô aqui, tô aqui. — Pegou a mão dele, mesmo suja de sangue, apertando os dedos juntos. — Vai ficar tudo bem. — Garantiu nervoso e viu o mais velho tentar falar algo, mas não conseguiu. — Está tudo bem, não se preocupe, Jungkook hyung vai voltar, ele vai voltar pra te ver. — Apertou mais os dedos sujos entre os seus, tentando não chorar.

Ouviu o manager gritar para apressarem uma ambulância ou trazerem a merda de um carro, qualquer carro. Ouvia tudo embolado, ainda tinha em sua cabeça a voz de Jungkook gritando o nome de Yoongi, quase se lançando lá de cima. Lembrava-se dos olhos dele, a forma que abriram... o tom de voz... Nunca escutou-o gritar tão desesperado. Estava tremendo tanto, tanto. Aquilo... por quê?

Pegou o celular do bolso. Ele tocava e sinalizava que era Jaebum. "Comandante". Atendeu, ainda em choque, ouvindo-o chamar por si, perguntando como estava o show. Tremia-se todo, estava pálido e ainda apertava a mão de Yoongi na sua. Não ia deixa-lo. Não ia!

— Pai. — Chamou após algum tempo, fungando e ouvindo o militar perguntar repetidas vezes o que tinha acontecido e onde ele estava. — O Yoongi hyung levou um tiro. — Contou de uma vez. Não sabia o que fazer.

O que diabos ia fazer? Ia atrás de Jungkook? Ficar com Yoongi? O que falaria para Taehyung?

Só queria seus pais agora.  isso.


Notas Finais


vou correr daqui antes que vocês me APEDREJEM. esse é o segundo plot principal da fic, então significa que estamos na metade da fic agora.

continuem apoiando euzinha, espero que continuem juntinhos de mim, apoiando o ot7 e usando a tag #wuahtaegi pra disseminar memes e surtos.

beso, eu amo vocês. (LAVEM AS MÃOS!)


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