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História Our Time - Boomerang Effect


Escrita por: paansy

Notas do Autor


CHEGUEI. *dá beijinho na testa de cada um*. Como vocês estão? A gente não se vê faz uns dias, né? Eu tava com saudades. *abraça, aperta, aperta*.

Trouxe 8k pra vocês, espero que gostem.

Muito obrigada, de coração pelos comentários, os faves. Sério. Cês são inacreditáveis! Boa leitura, vidinhas.

Capítulo 44 - Boomerang Effect


Sentado naquela cama de hospital, impossibilitado de fazer absolutamente nada, conseguiu rever sua vida, suas ações e decisões. Poderia dizer que foi um tempo de reflexão.

Geralmente era uma pessoa que não falava muito e pensava mais, desde sempre. Mas ultimamente estava com o sangue quente, fazendo tudo por impulso e, infelizmente, quando gostava muito de algo ou alguém, se doava completamente, ia fundo naquilo.

Amizades, amor... família...

Murmurou uma melodia suave contra o microfone do fone, os olhos fixos nas palavras que havia escrito na ferramenta de texto, ainda sem muito nexo, ligação ou ritmo. Na verdade, não era uma música. Era uma carta. Uma carta aberta.

Como The Last, Seesaw... Dear my friend era uma de suas cartas. Esperava que fosse a última que precisaria escrever.

Sempre que escrevia uma carta, era para expor seus demônios. Primeiro a depressão e fobia social, depois seu amor impossível e agora a porrada que levou de Kim Jiwon, quem considerava um de seus amigos mais próximos. Que comia na sua casa, dormia ao seu lado muitas vezes, dividia memórias e trabalho, viagens, risadas e piadas. Quem queria ver crescer e deixar para trás todo o passado fodido, assim como estava se esforçando para fazer.

Era engraçado, não? Olhando por um ângulo, a amizade deles era bem falada por muitas pessoas. Diziam que eram almas gêmeas, amigos desde muito novos, as fotos de recordação recriadas agora no presente. Isso era engraçado. Também pensou como todo mundo, que eram bons um com o outro.

, então, levou um tiro. Era engraçado pensar que enquanto abraçava o rapper, ele o segurava com uma mão e com a outra, segurava uma arma em suas costas. Era tão triste que chegava a ter graça.

Estava escrevendo aquela carta, colocando em palavras tudo o que gostaria dizer para aquele homem que cogitou muitas vezes chamar de "meu irmão". Sempre foi melhor escrevendo do que falando.

O centro de detenção, as drogas, a perda de contato, a raiva, os sonhos e expectativas...

Seu ódio, sua raiva, sua falta...

Fungou forte e esfregou a bochecha quando notou que estava chorando. Engoliu aquilo. Não queria chorar, mas se tornava um pouco difícil, ainda mais quando escrevia sobre memórias e as tinha tão vivas em sua mente. As vezes que sentavam no muro da casa do Kim mais novo e bebiam soju até a garrafa secar, escondido dos adultos, improvisavam rimas e morriam de rir de quão ruim eram.

Achavam realmente que essas rimas iam ganhar o mundo. De repente não havia mais as ideias erradas de Jiwon sobre drogas, as inseguranças sobre o futuro, vindo de Yoongi. Eram dois adolescentes idiotas morrendo de rir, bebendo escondido e se achando no topo do mundo sob um céu estrelado.

Costumava achar que Kim Jiwon era quem mais lhe entendia, costumava a achar que podia salvá-lo, que podia fazer por ele o que não fizeram consigo antes de se perder em si mesmo. Masnão. Costumava a achar que que o arroxeado estava sendo salvo, estava segurando sua mão. Masnão.

Ele já havia afundado e, seria muito errado pensar que ele queria lhe afundar junto?

"Caro meu amigo, como você está? Estou indo bem, como você sabe, eu acho... o médico disse que por causa da operação, eu tive um início de sepse e eu nem sabia que porra era isso, tu sabe, sou meio burro. Lembra minhas péssimas notas e seu pai gritando comigo sobre não saber assimilar nada? Ríamos tanto, os dois com 4,5 no boletim. Nossa cola era fodida, como nossos cérebros burros. O ensino médio foi divertido. O tiro doeu. Você nunca levou um, certo? Espero que nunca leve. Dói. Dói o inferno... eu espero que nunca te façam um mal nesse nível. Mas eu... Jiwon, eu vou ser honesto, eu ainda te odeio pra caralho. Eu... eu te odeio. Você tocou no meu pai, no meu namorado, em mim. Em mim. No seu irmão, como você dizia.

Você quis me matar. Não ia sentir minha falta? Não ia pensar em mim? Não ia gostar de me ver de novo? Você gostaria realmente que eu desaparecesse? Que morresse?"

Franziu as sobrancelhas e negou, a visão nublando pelas lágrimas. Não. Merda, não. Levou as mãos até o rosto, secando com pressa, esfregando os dedos nos olhos, se impedindo de chorar. Respirou fundo. Suas bochechas vermelhas e o peito apertado. Não podia colocar aquilo.

Voltou sua atenção para a tela do notebook que havia pedido para seu avô lhe conseguir para trabalhar e passar o tempo. Seu padrasto dormia no sofá ali, de frente para si, Taehyung disse que precisava sair para fazer algo e Jimin tinha saído dali há pouco tempo. Tinha tantas boas companhias...

Por que estava sentindo-se tão sozinho?

Apagou quase tudo do que havia escrito. Uma mão no botão de apagar e a outra secando o rosto.

"Caro meu amigo, como você está? Estou indo bem, como você sabe, eu acho. Caro meu amigo, eu vou ser honesto, eu ainda te odeio pra caralho! Eu ainda lembro do dia que estávamos juntos"

Releu e assentiu consigo mesmo. Certo. Bem melhor. Estava se empenhando para fazer seu álbum de comeback. Inicialmente devia apenas um single para a empresa, por conta de sua volta e tudo mais, mas, não. Faria um álbum. Um álbum inteiro!

Dear my friend era uma das faixas...

Daechwita também, era o tema de seu comeback. Já havia mandado por e-mail o esboço para Hyowon. Aliás, sobre Hyowon...

Seu telefone tocou. Ignorou um pouco o notebook e pegou o aparelho com sua mão cheia daqueles esparadrapos para segurar a agulha do soro. Seu pai. Atendeu.

— E aí. — Abriu um sorriso leve. Era o primeiro telefonema que recebia sem nenhum intermediário.

— Como você está? — A voz grave soou após uns segundos. Riu fraco. Podia visualizar direitinho a cara de seu pai.

Era tão previsível.

— Bem, o médico disse que se eu continuar desse jeito, vai me liberar em três dias. — Ouviu um suspiro de alívio do outro lado. — Seu marido não larga do meu pé, parece que esqueceu que tem mil coisas pra fazer em Seul.

— Você sabe como o Jin é. — Assentiu risonho, olhando para frente, onde o cozinheiro dormia todo desajeitado no sofá, coberto com o próprio casaco. — Não consegue fazer nada se estiver preocupado. — Murmurou um "sim". — Não se preocupe que está tudo sob controle. O que ele não pode fazer por telefone, eu faço por ele.

— Tão melosos. — Resmungou. — Mas e a garota? — Se referiu a Moon. Esteve pensando nela um pouco. Como ela estava no meio de tudo aquilo? Não perguntou ao namorado e nem ao padrasto, mas... pensava sobre. — Ela não tá remelenta querendo ele? Me disseram que são bem apegados e crianças podem ser um porre quando querem.

O policial riu. Era engraçada a forma de Yoongi se preocupar. Sabia que era preocupação. Mesmo que não fossem unidos, aqueles dois, tinha certeza que, como primogênito, o mais velho dos filhos, sempre estava olhando por todos seus irmãos. O que lhe confortava o coração.

Sabia que tinha criado pessoas boas.

— O Jungkook e o Yugyeom estão comprando ela com brinquedos — Opa. Os dois juntos? Então a situação estava séria. — e de alguma forma, Youngjae adora usar minha filha como cobaia de psicologia comportamental infantil.

, sobre o Choi, já imaginava. Ele era meio pirado, mas Jungkook e Yugyeom? Então Jaebum estava muito ocupado com o trabalho para não ficar no pé daqueles dois. Isso o alertou. De todo o modo, o que tinha que ser feito, já havia sido feito.

Jiwon já sabia onde estava.

— O que você tá fazendo? — Perguntou o policial, ouvindo o silêncio do filho.

— Compondo. — Respondeu simples, olhando de relance para a carta aberta em seu computador. — E você?

— Nada, só arrumando umas coisas.

— Como está no trabalho?

— Bem. — Mentiu. — Estamos trabalhando no seu caso, não se preocupe. — O músico grunhiu um "hum", concordando, sabia disso. Sabia bem. — Mas por enquanto, você pode ficar aí, certo? Com seu avô, o Tae, Jimin e o Jin.

— Eu-... — Respirou fundo, pensando rápido. Diria ou não diria sobre Daegu? Por telefone? Melhor não. Não mesmo! Esquece. — eu sei. — Completou baixo. — Tô ligado.

Namjoon riu fraco. Sempre ria quando ouvia o rapper falando como um moleque de treze anos. Um moleque de treze anos...

Tão nostálgico falar isso...

— Quer me mandar as músicas pra eu dar uma olhada?

— Sim, vou te encaminhar por e-mail. — Com a mão livre, clicou no navegador do notebook e abriu o e-mail. — Se tiver algo a acrescentar, cria um documento novo e me manda.

— Foda. — Foi a resposta do oficial, como sempre que conversavam sobre música. — Eu vou precisar desligar, tenho que fazer umas coisas, mas manda que mais tarde eu vejo.

Ah. Antes que seu pai desligasse, lembrou de algo.

— Antes, me responde uma coisa. — Namjoon ficou em silêncio, esperando a pergunta. — O meu padrinho tentou te ligar um monte de vezes, anteontem, mas não conseguiu e depois o Jae avisou no grupo que você tava sem celular.

— Ah...

— O que porra rolou? — Quis saber, um pouco intrigado e sabia que Namjoon não podia enrolar.

Diferente dos outros, o conhecia bem demais e não aceitaria uma desculpa esfarrapada. Queria a verdade. Veio o silêncio... sabia que tinha algo de errado.

— Eu esqueci na minha sala e fui tomar um depoimento. — Ocultou essa parte. Não queria contar a Yoongi sobre Jiwon ainda. Sabia o baque que seria. — Mas a Momo já me devolveu!

O moreno respirou fundo e grunhiu em concordância, mostrando que havia entendido. Já ia falar outra coisa, o questionar justamente sobre Jiwon, quando o dito cujo apareceu no vidro ao lado da porta. Seu coração acelerou...

Taehyung tinha razão. Ele morderia a isca.

Mordeu.

— Nos falamos depois, pai. — Disse rapidamente. — Cuide dos meus irmãos e de si mesmo. — A porta estava sendo aberta, engoliu em seco. — Confie em mim. Não importa o que aconteça, confie em mim. — Pediu baixo, olhando atentamente o rosto do rapper. Sua respiração prendeu na garganta.

Desligou o telefone e desviou o olhar para o notebook. Sua carta ainda estava aberta ali. Fechou o aparelho. Deixou o celular ao lado da cama e virou para o músico. Olhar para ele era... era... estava enjoado. Muito enjoado. Seu estômago estava revirado.

Olhou de relance para o padrasto ainda adormecido e voltou para o arroxeado que tinha o cabelo escondido por um boné e usava casacos grandes.

— E aí, buddy. — Disse o de voz rouca, abrindo um sorriso, indo até a cama. — Você parece muito bem. — O abraçou pelo pescoço e abaixou a cabeça, deixando um beijo na testa do amigo. — Tava preocupado pra caralho, irmão. — Se afastou, encontrando os olhos pequenos do mais velho. — O que deu, velho? O que o médico disse? Tá tudo bem?

— Eu tô bem. — Respondeu puxando o corpo para trás, ganhando espaço do outro que tinha a atenção em si. — Como descobriu que eu estava aqui? — Jogou verde, fingindo não se importar, enquanto ia se ajeitando na cama.

Rapidamente, o mais alto pegou o computador cinza e colocou em cima da cômoda, deixando o outro livre para deitar, ficando mais à vontade.

— Os médicos do seu caso vieram a público em uma live oficial na sua conta do instagram pra falar sobre seu caso e tranquilizar os fãs. — Yoongi sorriu discretamente e assentiu. Seu namorado era mesmo... wuah. Max devia estar louco! — Você foi transferido do nada. — Murmurou, o arroxeado, sentando na ponta da cama. — Tá louco? O presidente deve estar puto contigo.

Yoongi assentiu. Provavelmente ele estava mesmo, já que quebrou várias cláusulas de seu contrato de exclusividade. Mas estava ciente disso, muito cienteSeu advogado, também, de todo o modo.

Enfim.

De repente, o rapper mais jovem abriu um sorriso e o encarou.

— Meu comeback já tem data, hyung. — Avisou empolgado. — E o Show Me The Money já começa daqui umas semanas. Eu tô feliz pra caralho. — Yoongi sorriu de lado, quase imperceptível.

Seu coração batia tão forte, seu estômago estava revirado de uma forma... apertou os dedos no colchão e engoliu em seco. Calma, Yoongi, respire fundo.

Respire fundo.

— Eu até estava querendo falar isso com você. — Iniciou, tombando a cabeça para o lado e vendo o olhar curioso do de boné. — Na verdade, eu achei que a produção do Show Me The Money havia te informado...

— O quê? — Apertou um pouco os olhos. O que ele havia feito?

Riu soprado, devagarzinho. Lambeu os lábios, nem notando que seus olhos se tornaram mais felinos quando voltou a encarar o músico de cabelo tingido. Seu sangue ebulindo, suas bochechas queimando de raiva.

Como pôde achar que eram amigos? Que estavam em concordância em algo?

— Eu resolvi aceitar participar do programa. — Notificou simplesmente, ainda com um sorriso leve. — Pedi ainda ontem para o meu manager entrar em contato com a produção e eles disseram que iam te avisar. — Os lábios um tanto cheios se formaram em um bico pensativo. Arranhou a garganta, fingindo pensar enquanto o maior não tinha reação nenhuma. — Acho que pode ser uma nova chance pra eu e os produtores do programa conseguirmos nos entender.

— Você odeia eles, Yoongi.

— Ah. — Deu de ombros, querendo rir, gargalhar. Agora ele iria entender, não é? Esperava que sim. — Trabalho é trabalho. — Aumentou um pouco o sorriso, vendo o modo que era encarado.

Acreditava que Jiwon não faria nada consigo com seu padrasto ali, tão perto. Inicialmente, havia pensado em pegá-lo sozinho, assim poderia instigar até que ele viesse confessar tudo, mas também sabia que aquilo era difícil. O de cachos não ia entregar o jogo tão fácil, de maneira tão simples.

E, também, ainda estava em fase de recuperação. Não tinha medo do ex amigo, mas ter o cozinheiro ali, próximo, era reconfortante.

Ele riu. Sem humor. Quase sem som, saindo mais como um sopro. Não podia acreditar. O que aquele idiota estava falando? Ele odiava todo o programa e seu elenco, nunca foi bem aceito pela cena underground sul-coreana que o tratava como um idol, não um rapper. O que ele ia fazer naquele programa? Por que...? Ele tinha dito que poderia ir, que poderia...

Yoongi... Kim Yoongi...

— Mas eu já tô nele. — Respondeu e o moreno maneou a cabeça, parecendo um pouco irônico. Fechou as mãos em punho. — Hyung, — Riu mais uma vez, sem humor, os olhos cintilando. — o hyung disse que eu poderia. Eu lutei muito pra conseguir entrar nessa.

"Lutou"? Ergueu o dedo indicador, pedindo um tempo. Espera. Não era bem assim. O que aquele Kim considerava "lutar"? Passar por cima das pessoas, atirar nelas e ser falso? Que bela luta. Levantou o corpo e voltou a sentar confortavelmente, querendo encarar aquele rosto cínico. Queria estar de pé e em melhores condições, mas tudo bem.

Não podia esperar mais.

— Mudei de ideia. — Respondeu simplesmente, vendo a indignação tomar a feição do outro. — Agora eu quero aceitar o convite que eles tanto insistiram.

— Hyung!

— Quer ver a cicatriz do tiro? — Foi direto, a voz ficando mais grave. Afastou a coberta com raiva e levantou a camisa hospitalar, mostrando o curativo. — Quer se certificar do bom trabalho que um dos seus amigos fez em mim, no teu irmão? — Quase rosnou as últimas palavras e Jiwon ficou branco. Abaixou a camisa e respirou fundo, os olhos pequenos muito expressivos. — Da próxima vez, — Apontou para a própria testa. — atire no lugar certo.

— Do que porra você está falando, cara? — Aumentou o tom, se fazendo de ofendido. Negou veemente. — Yoongi? O que porra...?

— Se não for me matar de primeira, então não ouse levantar a mão pra mim. — Continuou, a voz cheia de ressentimento. — Se for atirar em mim, acho melhor descarregar a arma, porque se tiver a mínima chance de eu voltar, — Riu de lado, mantendo o tom baixo, não querendo alarmar Seokjin. — eu volto pra pegar você e quem mais estiver nessa merda.

Jiwon riu. Riu mesmo. Tampou a boca e riu, negando. O que aquele cara estava falando? Riu mais ainda. O Show Me The Money... seu riso foi morrendo, os dentes cerrando. Então Yoongi achava que era assim? Era assim que ele queria jogar? Então, tudo bem.

Não era ele mesmo que estava em desvantagem, certo?

— Acha mesmo que fui eu quem tentei te matar? — Apontou para si mesmo, ofendido. Não obteve nenhuma resposta ou reação. — Sério, cara? Somos irmãos, seu idiota. — Bateu no peito. — Eu daria a minha vida por você! — Quase gritou. — Quem salvou sua bunda nas diversas brigas de rua que tu se enfiava em época de roda de rap? Quem apanhava por você? — Bateu de novo no peito, o barulho das correntes por debaixo dos casacos. — Fui eu. Eu quem entrava na sua frente. Sempre eu. Como pode dizer que eu faria uma merda dessas com você?

— Eu queria não acreditar. — Foi honesto, agora era sua vez de rir de pura incredulidade. Ele ia mesmo ficar se fingindo em sua frente? — Mas você sabe como eu sou, Kim Jiwon. — Voltou a ficar sério, encarando o ex amigo. Doía tanto pensar daquele jeito. — Por isso, pode parando de mentir na minha cara, só me deixa com mais raiva e te faz parecer um grande palhaço negando o óbvio!

Levou as mãos até a nuca e apertou os dedos ali, tenso. Será que Namjoon havia ligado para Yoongi e dito tudo? Provavelmente. Não tinha como ele saber de outro modo. Deu as costas, olhando para aquele quarto que mais parecia o de um hotel. Viu Seokjin deitado ali, adormecido. Tinha que ter muito cuidado com o que ia falar ou fazer. Precisava fazer Yoongi ficar quieto, já que não ia acreditar em sua história.

Levou uma mão ao rosto, esfregando sua bochecha direita e rindo fraco. Nem na cama do hospital, aquele músico desgraçado não parava de lhe importunar, tirar o foco de si. Nem assim.

— Que provas você tem pra me acusar assim? Hum? — Exigiu, colocando as mãos na cintura, encarando o baixinho. — Acho bom ter provas muito boas pra ofender logo o cara que ficou do teu lado todo esse maldito tempo. — Apontou para o menor. — Quando todos da escola faziam piadas contigo, eu te defendi, quando você ficou fodido por causa do término, eu estive ao seu lado, te ajudei em uma caralhada de música, sempre estive contigo. — Jogou tudo na cara do músico que ainda continuava com o rosto limpo, sem nenhuma expressão. — Está mesmo falando sério? — Voltou a rir, sem acreditar. — Sinceramente, esse hyung... — Murmurou consigo mesmo, ainda rindo. — eu estive ao seu lado quando ninguém mais esteve.

E então era assim que era amizade para Bobby? Era interessante ver por esse ângulo. Ele realmente achava que dizendo aquelas palavras, ia mudar algo? Que ridículo. Só conseguia sentir mais nojo. Era assim a amizade dele? Fazer e depois jogar na cara?

Fazer só para ter o prazer de cuspir na cara dos outros, como houvesse feito muito? Nossa. Que amizade excelente.

— Basta você assumir.

— Eu não vou assumir porra nenhuma, Kim Yoongi! — Se irritou, o rosto ganhando uma coloração vermelha de pura raiva. — Não viajei até aqui pra ouvir meu melhor amigo me acusando de algo que eu não fiz! — Ia manter a pose até o final. Não tinha chegado até ali para perder. — Vou fingir que tudo isso é por causa do trauma e do momento ruim que está passando. — Enfiou as mãos dentro do bolso do casaco, respirando fundo. — Não fique procurando culpados pras coisas ruins que acontecem com você, hyung. — Aconselhou mais baixo, vendo o rosto delicado do mais velho começar a se remexer em uma expressão irritada. — Aproveite pra refletir, não apontar o dedo.

— Foi você, filho da puta. — Acusou no mesmo tom, baixo, como se quisesse manter entre os dois. — Foi você.

— Cuidado com o que você fala. — Curvou um pouco o corpo, encarando de pertinho o rosto que tanto odiava. — Pode magoar alguém.

Tão fodidamente dissimulado e mentiroso. Tinha certeza que era ele, mas viu que não o faria falar em voz alta, assim como havia pensado. Por isso não ia se desgastar, não valia à pena. Por isso respirou fundo e assentiu. Certo. Não ia se emocionar, não ia com muita sede ao pote. Precisava ter paciência.

Desviou o olhar para o padrasto e viu ele de olhos abertos, o encarando, quieto. Agradeceu mentalmente. Voltou o olhar para o ex amigo. Podia facilmente vomitar de tanto nojo que estava sentindo. Em pensar que chegou a acreditar que eram grandes amigos, que podiam contar um com o outro para tudo.

Mais uma vez, ele o segurou pelo pescoço e o trouxe para si, abaixando a cabeça e deixando um beijo na testa, em uma forma singela de respeito...

Ou;

— Nem tente voltar atrás na sua palavra com o reality. — Sussurrou ainda ali, com os lábios na tez pálida. — Lembre-se que eu sei que você namora. — Sorriu fraco, o corpo pequeno do rapper se arrepiando por inteiro. — Com um homem. — A voz ficou ainda mais baixa. Era sua carta na manga.

Max não sabia disso, então ficava achando que estava despreparado, certo? Mas conhecia bem seu oponente, tinha certeza que ele ia contra-atacar em sua fraqueza e por isso precisava de uma ofensiva mais forte para pará-lo antes que perdesse suas vantages.

E, obviamente, não estava naquele jogo para perder.

Afastou o corpo e viu o olhar fixo, sério, do músico. Sorriu doce. Se fosse em outras circunstâncias, talvez pudessem ser amigos de verdade... talvez...

— Cuide-se, hyung. — Pediu carinhoso. — Vou avisar ao médico que talvez a medicação esteja errada, já que está delirando... isso me deixa realmente preocupado. — Franziu os lábios e deixou os ombros caírem, satisfeito com a expressão odiosa que recebia. Agora podia ser quem tanto quis. — Nos vemos depois. Fique bem.

Curvou o corpo de leve antes de sair do quarto sem nem olhar para trás, deixando o músico mais velho com um embrulho no estômago. Queria tanto levantar daquela cama e o puxar de volta só para encher aquela cara de porrada. Ia bater nele até precisarem de ajuda médica. Os dois.

Taehyung tinha razão, afinal. Acreditou nele desde o início. Jiwon foi tão baixo ao ponto de colocar um bandido dentro de sua casa e usá-lo no futuro contra sua vida? Isso era... céus...

O de cabelo grande sentou no sofá e olhou seriamente para o enteado. Não tinha escutado muito, mas não precisava ser um gênio para saber que tinha algo muito errado.

— Yoonz? — Chamou um tanto receoso, mas preocupado. O mais novo estava vermelho, respirando forte, os punhos cerrados. — O que o Jiwon veio fazer aqui? — Levantou, jogando o casaco para o lado, querendo ir até o menor que virou o rosto para encarar o seu.

Estava tão possesso de ódio que nem ao menos conseguia lembrar que algum dia foram amigos. Bobby provou ali que realmente fez aquilo tudo e não se arrependia, aliás, não só isso! Ele fez toda a merda e ainda mentia na sua cara, tentava a todo custo manter as aparências.

Fala sério, nem ele mesmo acreditava em todo aquele teatro.

— Ver se eu ainda estou vivo. — Respondeu simplesmente, vendo os olhos confusos. Riu novamente, devagar, quase sem som. — Eu prometi que faria ele se arrepender de ter errado o tiro. — Contou ao padrasto que entendeu menos ainda, mas não gostou daquilo. Se aproximou mais da cama. — Sabe qual foi a última vez que eu prometi uma coisa, Jin?

O chef negou, ainda temendo aquele assunto. Não estava entendendo nada. O que Jiwon tinha a ver com tudo aquilo? Ele e Yoongi não eram amigos? O quê? Como assim?

— Foi quando meu tio bateu em mim. Sem motivo ou razão. — Empinou o nariz, mantendo sua cabeça erguida. Era assim que tinha que ser. — Eu prometi que ninguém, nunca mais, bateria em mim sem que eu revidasse na mesma força!

— Yoongi...

— Essa promessa ainda vale, não vale? — Virou o rosto para o mais velho que franziu as sobrancelhas, claramente confuso. — Promessas são eternas dívidas.

E era uma dívida que estava disposto a pagar pelo resto de sua vida. Era o efeito boomerang.

Ia e voltava.

Voltava mais forte, aliás.

...

"Jang Heungmin nunca foi um bom partido, mas sua mãe nunca me escutou. Ela não escutava ninguém! Estudavam na mesma escola, ele era o típico garoto bonito que todas ficam de olho... eu disse que ele só machucaria ela. Não era de boa família, era bolsista no colégio, não tinha aspirações pro futuro. Só queria saber de diversão e estava muito deslumbrado por estar entre pessoas diferentes. Um mundo novo.

O que eu não contava era que Mina-ya fosse levar isso a um patamar mais elevado. E então, além de não me ouvir, ela decidiu nos desafiar. Ela engravidou e disse que iríamos ter que aprovar aquele relacionamento porque agora tinha um bebê a caminho e eles iriam se casar... só ela pensava assim."

Ali, olhando de longe, aquela cena se tornava um pouco... estranha. Nunca se imaginou naquele ponto de sua vida, onde estaria poucos metros de parte de sua genética.

Um pouco mais à frente, em um ponto de táxi, estava o carro preto com os adesivos típicos. A placa como havia sido informado. Afundou os dedos dentro dos bolsos do sobretudo e tombou a cabeça para o lado. Jang Heungmin. Esse era o nome. Jang.

Era para ser Jang Taehyung? Não soava tão bem assim.

Expirou devagar, a fumaça quente saindo dentre seus lábios, o cabelo desbotado escondido por uma boina preta. Parecia uma boa roupa para ter seu tão sonhado encontro com o pai biológico. Ironicamente dizendo, é claro.

O fato era que, realmente não queria saber daquele homem. Perguntou a Jina porque tinha aquela curiosidade idiota de saber onde estava o cara que abandonou sua mãe a própria sorte. Ali estava. Um pouco mais à frente, entre um grupinho de taxistas, provavelmente, bem ali, poucos metros de si.

"Quando Mina descobriu que estava grávida e disse toda essa história de casamento, nós enlouquecemos e a pusemos pra fora de casa. Eu admito, foi... no calor do momento, mas só de imaginar o futuro da minha filha sendo arruinado por causa daquele infeliz... aquele imbecil que nem ao menos quis ela. Quando soube da gravidez, foi o segundo a negá-la. Negou ela, o bebê e ajuda. Disse que não tinha nada a ver com isso.

Não haveria família, casamento e nem muito menos um final feliz..."

— Quer mesmo fazer isso, Tae? — Ouviu a voz doce de Jimin.

Ele estava ao seu lado, contou tudo para ele, pediu ajuda, suporte. Não aguentaria sozinho. Seu irmão era como sua outra metade, podia contar com ele para tudo. Ainda não havia contado de Jina para Yoongi, apenas Jimin e Seokjin sabiam de tudo. Não havia nem relevância.

Não queria contato, não queria proximidade. Olhar para eles, era ter toda a história de sua mãe em sua mente, o grande descaso. Eles não a quiseram e por tabela, o negaram também! Nunca foi querido ou amado por seus avós biológicos, seu pai biológico.

As únicas pessoas que o amaram a primeira vista, sem nada em troca, sem motivos, sem muita coisa a oferecer, foram sua mãe e seu pai. Seokjin. Eles e apenas eles!

— Uh. — Sorriu forçado, um curvar ligeiro de lábios. Virou o rosto e viu o baixinho de olhos inchados e cabelo preto revolto pelo vento frio. — Só, segura a minha mão? — Pediu frágil, nervoso. Sentia seu corpo a ponto de colapsar a qualquer momento. Jimin se aproximou e o abraçou. — Sinto como se estivessem apertando meu coração, hyung. — Confidenciou baixinho, sentindo o corpo apertado pelo irmão mais velho. — Eles nem me conheciam, mas não me quiseram.

O moreno esfregou as mãos nas costas vestidas com veludo negro, querendo confortar aquele grande garoto. Respirou fundo. Precisava ser forte por ambos e ainda segurar a vontade de falar poucas e boas para aquele idiota que desprezou a prima de seu pai e mãe de seu irmãozinho e, de quebra, rejeitou ele!

Ninguém maltratava seu bebê e ficava impune.

— Escuta, — Se afastou e segurou-o pelas bochechas, querendo que se encarassem nos olhos. — o que vale mais? Quem não te conhece e te rejeita ou quem nem te conhecia e te quis? Hum? Que te amou a primeira vista? — Encorajou, vendo o mais alto querendo chorar. — Você não é sozinho, Kim Taehyung, — Falou sério, o rosto sempre sorridente, agora mais firme. — você tem uma família, um lar, eu sei que no começo foi foda. Pra mim, pra você, pro papai. Eu sei. — Engoliu em seco, lembrando vagamente das vezes que sentiu fome e seu pai não podia comprar nada mais do que lamém. Quando pedia alguma besteira para comer e ele dizia com todo carinho do mundo que "compraria depois". — Só que eu sou muito mais feliz por ter dormido na rua com você, com o papai, do que dormido com quem não me queria. — Foi honesto, lembrando de quando foi pego à força dos braços do pai. — A gente tinha pouco, éramos uma família pequena, mas a gente sempre se amou. Sempre. — Disse forte, porque se tinha alguma certeza na sua vida, era que se amavam. Acima de tudo. O azulado tremeu os lábios e abaixou o olhar, sensível. — Quando se sentir mal por pessoas como Kim Jina-ssi, Jang Heungmin-ssi, lembre de tudo isso que te contei. — Desceu as mãos para a nuca do azulado. — Lembre que sua família de verdade, pode dormir no chão frio da rua, não ter nada pra comer, mas sempre vai estar ao seu lado. — Puxou-o para baixo, encostando as testas. — Mina-ssi foi a primeira a fazer isso por você, então não pense que foi rejeitado, porque ela te amou e logo depois passou esse amor, para o papai. Você sempre foi amado, desde o primeiro segundo.

Assentiu, fungando, não sabendo o que dizer. Às vezes realmente pensava naquilo, sobre rejeição. O motivo pelo qual seu pai não o quis, seus avós... ninguém nunca foi o procurar, nunca apareceram para checar se estava vivo ou morto. Por mais que não precisasse deles para nada, era uma questão que ficava em sua mente, sabe?

Como será que eles pensavam em si? Eles pensavam? Será que ao menos lembravam seu nome? O que eles pensariam se o visse hoje?

Depois de tudo o que ocorreu com Yoongi, ficou ainda mais pensativo. Sobre tudo. Todos seus irmãos sabiam de onde tinham vindo e sabiam principalmente a posição de seus pais biológicos consigo. Mas e ele? Além de não ter memórias, não sabia nada. Absolutamente nada.

Não tinha foto de sua mãe, não tinha nada, uma lembrança. Nada! Seu pai dizia que ficou tudo em Seongdong, a mãe de Mina pegou tudo, não quis saber de Taehyung, mas recolheu o corpo da filha para prestar luto.

Ela não o quis. Jina não o quis, mesmo quando viu. Então, agora ela também não podia querer.

— Você não precisa fazer isso, Tae. — Lembrou o personal trainer, amaciando um pouco a voz, vendo que seu irmão estava sensível. — Sua saúde não pode ser afetada por essas pessoas. — Desceu as mãos para os ombros largos, o segurando forte, vendo-o só assentir, não falando nada. — Tá tomando seus remédios? Hum? — Sussurrou preocupado, ele fungou e assentiu mais uma vez. — Não vamos fazer isso, certo? — Levou uma mão para o rosto perfeito do garoto, secando as lágrimas com carinho, não querendo submeter seu irmãozinho àquilo. — Não se machuque desse jeito, por favor, irmãozinho. — Quase implorou, não queria ver aquilo.

Mas o artista plástico levantou o rosto e respirou fundo, mesmo chorando, querendo tomar o controle da própria vida. Com as costas da mão direita, secou algumas lágrimas e engoliu o choro. Não ia andar para trás, seus pais não ensinaram isso.

Mas seus pais também não sabiam que estava ali...

"Por muito tempo os ex amigos da Mina-ya diziam que Heungmin espalhava que ela tinha pegado trinta mil wons e nunca o devolveu. Que se dizia rica mas não tinha nem dinheiro para pagar trinta mil won..."

— Segura a minha mão. — Pediu de novo, retirando a mão esquerda do bolso, um pouco trêmulo, oferecendo para o irmão mais velho que o encarou e negou, mas pegou sua mão, apertando os dedos.

Não disse mais nada antes de sair arrastando o menor consigo até aquele grupo de homens. Ali era um lugar movimentado, próximo de shoppings e bares, era um bom ponto. Jina lhe deu a localização de Heungmin, falou que sempre o teve em suas vistas com esperança de que ele tivesse algum contato consigo...

Não sabia se era verdade, mas de todo o modo, não fazia diferença. Ela, o Jang.

Ao chegarem perto dos homens, foram olhados de maneira torta. Eram dois homens de mãos dadas afinal.

— O senhor Jang Heungmin...? — Chamou, a voz rouca soando arrastada. Sentiu o moreno apertando sua mão, passando forças.

Um homem quase de sua altura, um pouco mais alto, um cabelo um pouco ondulado como o seu, os fios grisalhos. Era bonito. Tinham o mesmo maxilar... olha isso... o mesmo porte corporal. O mesmo olhar... Jimin ficou assustado ao olhar para o homem.

Genética era mesmo algo assustador!

— Sim? — Respondeu um pouco desconfiado. — Quem deseja?

— Uma tia me indicou seu serviço. — Respondeu prontamente. — O senhor poderia nos levar até o metrô?

Não ia colocar o hospital como parada final, não queria que ele soubesse de mais nada sobre si. O metrô era próximo de onde queriam ir, então tudo bem, fariam daquele jeito. A princípio, queria ter ido sozinho, mas sabia que não tinha estrutura emocional. Precisava de alguém, de algo em que se agarrar, o puxar para a realidade, o lembrar de quem era.

Sabia que era como mergulhar de cabeça em águas escuras sem ter ideia se ia voltar ou não. Se gritasse lá embaixo, por ajuda, ninguém o ouviria. Estava com a cabeça debaixo da água, sozinho.

Então, Jimin estava ali. Segurando sua mão, não o deixando afundar. Era seu porto seguro.

— Certo. — Disse de qualquer maneira e olhou para os colegas de trabalho. — Me digam depois o placar do jogo. — Se despediram com toques de mãos e sorrisinhos.

Deu a volta no carro e entrou no motorista, se ajeitando nos casacos, era uma noite muito fria. Fechou a porta e viu pelo retrovisor os passageiros entrando. Os analisou. Não pareciam dali... era uma região um pouco suburbana e eles pareciam ter dinheiro.

Um era muito bem vestido com roupas de marca e o outro usava muitos anéis, brincos e correntinhas de prata. Não eram dali mesmo. Cheiravam bem, se vestiam bem...

— Metrô, certo? — Ligou o carro e o taxímetro, olhando pelo retrovisor, o modo que o mais alto lhe encarava e assentia. — Certo. — Voltou a atenção para a rua agitada.

Taehyung sentia seu interior queimar. Não sabia o porquê, mas sentia. Lambeu os lábios e sentiu a mão do irmão agarrada a sua, sem soltar nem por um segundo. Respirou fundo aquele ar frio, o carro em silêncio, apenas o som do trânsito lá fora... céus. Em que mundo ia imaginar que estaria no carro de seu pai biológico?

Isso era... estranho.

Desceu seu olhar analítico para o painel do carro, vendo que tinha uma foto ali, colada. Era o homem, uma mulher e dois filhos. Um adolescente e um bebê. Acabou sorrindo irônico. Então ele tinha uma família? Ele continuou sua vida, ele tinha ar nos pulmões. Teve filhos, era casado. Fechou sua mão direita em punho, seus lábios tremiam.

Por que sua mãe não teve essa chance? Ela era a pessoa boa daquela história. Ela era a mocinha. Os mocinhos não tem fins bons?

— É sua família? — Perguntou sem nem notar, a voz saindo amargurada. Jimin o olhou rapidamente e logo depois para a foto.

O taxista sorriu e observou rapidamente a foto colada ali.

— Oh, sim. — Respondeu alegre. — Meus dois filhos são legais, não é? — Comentou realmente feliz e o azulado apertou a mão do irmão. — São os maiores orgulhos da minha vida.

Jimin olhou para o mais novo e temeu por sua saúde. Acariciou sua mão com o polegar, sentindo muito por ele ter que ouvir aquilo, mas respeitou sua decisão de estar ali. Ele quis.

Também eram os orgulhos, a vida de seus pais. Eles faziam tudo por si. Absolutamente tudo.

Após estudar bem a foto, os olhos felinos do artista plástico subiram até onde haviam alguns decalques de marcas de cartão que ele aceitava, alguns selos. Havia algo em comum ali. Não podia ser... sua respiração saiu cansada dentre os lábios e riu consigo mesmo. Então era dali que vinha tudo... aquilo?

— O senhor é apoiador da causa? — Perguntou indicando a fita roxa colada em um selo ali. Conhecia bem aquela fita.

Tinha uma como um broche, usava muitas vezes. No dia mundial de conscientização – o "purple day", dia 26 de março –, nas causas sociais, palestras que participava, movimentos, eventos. Seus pais tinham uma, seus irmãos, seu namorado. Eles sempre comemoravam aquela data consigo, postavam coisas sobre, sempre estiveram ao seu lado, vivendo aquilo consigo.

Era o epilético da casa, mas toda sua família passava por aquilo consigo. Nunca esteve sozinho. Da sua primeira crise até a última. Nunca esteve só!

— Ah. — Foi tudo o que ele disse antes de rir fraco. — O senhor conhece essa fita? — Curioso, olhou pelo retrovisor e encontrou os olhos de desenho o encarando. Aqueles olhos... já viu em algum lugar. — Não é muito comum as pessoas conhecerem.

O de boina assentiu. Isso era verdade. Por isso tentava conscientizar o máximo de pessoas possíveis, para saberem que não estão sozinhos e que, assim como todo mundo, quem tem uma condição especial, também é normal. Precisa de um pouco mais atenção e cuidados, mas é normal.

Amava, chorava, comia, dormia, ria, sofria, caía, como todo mundo. Estudava, trabalhava, tinha contas a pagar... era comum. Como todo mundo. Seus pais sempre fizeram questão de falar isso até que finalmente entendesse.

Jimin sempre foi muito baixinho e era caçoado na escola por isso. Ele era normal ainda assim!

Jungkook era hiperativo, nunca parava quieto, falava rápido, tinha tolerância baixa, era agressivo e sempre levava bilhetinhos de reclamação para casa, seus pais sempre estavam na escola para ouvir as broncas. Ele era normal ainda assim!

Hoseok sempre gostou de inventar, inovar. Cinto era para pôr na cabeça, cadarço na cintura e munhequeira nos calcanhares. Ele era normal ainda assim!

Yoongi sempre foi muito quieto. Pouco sorria, era muito rude e nunca estava nem aí para nada. Demonstrava seus sentimentos pelos olhos ou gestos mudos. Ele era normal ainda assim!

Devia mesmo continuar? Podia falar sobre todos de sua família. Yugyeom, seus pais, seus padrinhos, seus primos, Taeyong e até a criança, Jaehyun.

— Eu sou epilético. — Disse sem nenhum problema. — Conheço bem essa fita.

O taxista sorriu.

— Então o senhor sabe que nossa vida é realmente difícil. — Começou a rir, um pouco triste e o pintor franziu o cenho, a expressão se tornando um pouco sombria. — Infelizmente, o meu filho mais novo herdou isso.

"E o seu mais velho também..." quis dizer, mas se segurou. Não era filho dele, afinal. Nunca foi.

Aprendeu que filho, pais ou qualquer coisa, não era por causa do sangue. Era por amor. Contava o sentimento e isso, se plantava e cuidava. Todos os dias. Como uma verdadeira plantinha, você precisa alimentar, regar, cuidar, estar ali para ela e não deixar murchar.

O amor é uma plantinha ao sol. Não era garantido, como muita gente achava.

Não disse mais nada, não queria mais dizer. Abaixou a cabeça, sua mão presa na do menor, os dedos pequenos segurando os seus com força. Sorriu consigo mesmo. Sua família não era perfeita, aliás, tinha muita gente maluca e imperfeita, mas era... boa.

Todo mundo diz que não existe nada perfeito e isso era verdade, mas ali, aquele lugar, com aquelas pessoas... era perfeito para ele, Kim Taehyung. Não trocaria por nada e nem por ninguém.

Chegaram ao metrô em pouco tempo, foi uma viagem bem curta. O taxímetro marcava a conta de três mil won. Era agora. Jimin largou gentilmente a mão do irmão e olhou pelo retrovisor, para o homem que tinha o sangue de seu irmãozinho, mas era tão diferente.

— Deu três mil wons, senhor.

Assentiu, colocando a mão no interior do sobretudo e pegando sua carteira grande, a marca internacional estampando o couro escuro. Foi presente de Yoongi, aliás.

Seu Yoongi... como ele estaria? Precisava correr para ele o mais rápido possível.

Pegou algumas notas da carteira. TrintaSessenta. Por ele e por Mina.

Esticou o braço por entre os bancos, oferecendo aquelas notas em quantidade para o taxista que não entendeu. Virou-se no banco e olhou bem para o rosto perfeito daquele garoto que ainda era um pouco familiar.

— Senhor...? — Praticamente gaguejou. Era muito dinheiro. Não podia aceitar.

— Kim Mina te pediu trinta mil wons emprestado há muito tempo atrás e não pôde te devolver. — Iniciou seu discurso, sentindo a mão de Jimin em suas costas. Viu os olhos pequenos do mais alto se estreitarem enquanto era observado. — Era dinheiro pra, provavelmente, ela pagar um lugar pra dormir. — Explicou sério, rouco. — Comigo, na barriga dela. — Sua garganta travou, seu peito queimava... — Ela não pôde te devolver, certo? Morreu antes. — Jogou as notas no colo do motorista, ignorando seus olhos brilhando, sua voz saindo entrecortada. — Mas aqui está, com juros. Como filho mais velho e único filho, a única família que ela teve, eu tô quitando essa dívida. — Lambeu os lábios, empinando o nariz. Agora o nome de sua mãe estava limpo! — Não diga mais que ela te deve alguma coisa. Estou pagando por ela e por mim.

Estava confuso. O que aquele garoto estava falando? Não sabia o que dizer. Mina? A mesma Mina que conheceu em sua adolescência? Trinta mil wons... oh. Era... era ele? Seu filho? Abriu bem os olhos, o enxergando. Aquele garoto bonito, bem arrumado, cheiroso, era seu filho? Era... ele disse que tinha epilepsia...

Antes que pudesse dizer algo, ele voltou para o banco e a porta foi aberta, ambos os homens saíram do carro. Não. Ele não podia ir assim. Tinha que se explicar. Saiu do carro.

— Ya. — Gritou assim que viu ambos saindo juntos, o menor segurando seu filho pelas costas em um abraço. — Qual o seu nome?

Pelo menos o nome. Gostaria de saber o nome. Ficou na expectativa, eles pararam de caminhar. Engoliu em seco, a ponta dos dedos formigando enquanto estava agarrado ao dinheiro dado em muito mais quantidade do que devia.

Taehyung, sentindo o braço de Jimin apertado em seu corpo, o olhar preocupado, franziu o cenho, apertou os lábios e fechou os olhos, as lágrimas rolando rápido pelas bochechas frias. "Qual o seu nome?" Por que achava mesmo que ele saberia ao menos seu nome? Ele nunca ligou para si, nem lembrava da sua existência, da existência de sua mãe.

Negou consigo mesmo, voltando a abrir os olhos, vendo tudo embaçado por causa do choro. Poderia cair se estivesse sozinho, certo? Mas não estava. Seu irmão estava ali, o sustentando. Jimin o prendeu com mais força e lhe deixou um beijo no ombro.

— Tae? — Chamou, preocupado. Seu coração estava tão apertado dentro do peito.

Mesmo choroso, com o corpo queimando em brasas vivas, o coração doendo e sendo moído, empinou o nariz e engoliu o choro. Não tinha porque chorar. Aquilo era totalmente indiferente. A dívida estava paga! Assim como seu namorado dizia, promessas eram dívidas que deveriam ser pagas.

A dívida foi paga. Podia seguir em frente e sua mãe, também. O nome dela estava limpo.

Abraçou o menor de volta e continuaram a andar. Ele não precisava saber seu nome, quem era hoje, onde morava e com quem estava ou deixava de estar. Ele era apenas um cobrador, o que os ligava era aquela dívida de trinta mil wons.

Pagou a dívida. Agora cada um voltava para sua vida normal. Para seus caminhos.

Caminhos distintos.

...

Consertou seu terno e olhou para frente, vendo o barman trazendo seu copo de whiskey. Agradeceu com um gesto e respirou devagar, olhando por cima do ombro, verificando se a policial estava confortável. Estava.

Momo usava um vestido vermelho de seda, o cabelo longo e preto estava solto e, agora, ela não parecia uma policial e sim uma linda mulher comum, acompanhada do marido em um jantar. O homem de cabelo longo e também preto, muito bem vestido, tomava uma taça de vinho calmamente.

Aquela ideia era boa e ficava imensamente feliz por aquele empresário ter aceitado ajudar a causa. Kim Heechul era um homem ocupado com seu império pessoal, mas não disse "não" quando a esposa, a tão adorada e querida esposa, pediu ajuda. Tinham que se aproximar daquele Nam Taehyun de alguma forma.

Nada como uma reunião de negócios.

Voltou sua atenção para frente, encarando o líquido marrom em seu copo, logo depois seu relógio. Um dos últimos presentes de Yoongi. Sua aliança de casamento... estava com tantas saudades de Seokjin. Queria tanto vê-lo, ver seus filhos, não estava acostumado a ficar tão longe assim. Precisava de sua família.

Respirou fundo, tinha que ser paciente. Naquela tarde, quando a policial chegou em sua casa contando tudo o que tinha visto, o que sabia, lhe entregando o celular, mais as informações que Jaebum havia descoberto, sobre possivelmente ser alguém de dentro. Chegaram em uma pessoa, apenas uma: Kim Mingyu.

Não ficou surpreso, mas como provariam aquilo? Bem, e então aí entrava Kim Heechul e sua presença de chaebol importante. Ficaram sabendo que, após ser liberada da investigação, a boate que protagonizou aquele atentado, foi para o mercado de vendas. Era a oportunidade que precisavam. Nenhum deles ali poderia dar uma oferta, mas o marido da Hirai, poderia.

Era conhecido como grande investidor, empreendedor. O levariam a sério. O cara era realmente bom no que fazia, porque com alguns telefonemas, conseguiu chegar até o tal Nam Taehyun. A pessoa sem rosto, sem informações públicas, sem nada que pudesse apontar um suposto crime em suas costas.

Bebeu um gole e batucou impaciente as mãos naquele bar de mogno. Jaebum estava sentado uma mesa atrás do casal, estava estrategicamente sentado de frente para onde o convidado ficaria. Ele ficaria com a tarefa de pegá-lo como garantia que nenhum dos capangas machucariam o chaebol.

Todos ali estavam preparados para o mais inusitado dos acasos. Não sabiam com quem estavam lidando. Desceu uma mão até o cós frontal da calça, prendendo os dedos na .38, ficando em posição de ataque. Ouviu saudações.

A pessoa havia chegado? Cadeiras arrastando, Momo cumprimentando a pessoa, sendo apresentada como esposa e futura dona do imóvel que, falsamente estava sendo divulgado como uma futura clínica de estética. Momo nem ao menos entendia disso, mas assentiu e tentou se comportar como uma esteticista. Era sua função. Mentir e fingir ser quem não era.

Já foi estudante universitária, garota de programa, faxineira e até mesmo professora da quinta série. Tudo para pegar quem queria, ter provas para fazer justiça.

Agora, esteticista.

— É uma honra conhecê-lo pessoalmente, senhor Kim. — Disse o Nam, sentando-se à mesa. Sorrindo educado ao ver a esposa dele. — Senhora Kim. — Curvou respeitosamente a cabeça para a japonesa que apenas sorriu contida, não o corrigindo.

Olhou para o lado e assentiu de leve para o marido que parecia um tanto tenso. Haviam conversado, disse que ficaria tudo bem, estava ali com ele, nada ia acontecer. O protegeria, a vida dele era a sua, também. Não ia deixar ninguém machucar quem amava.

— Nam Taehyun, estou certo? — Disse o homem de cabelo enrolado e terno florido em cores neutras. Ele assentiu. — Sinto muito por ter feito um péssimo negócio com aquele imóvel, aliás. — Olhou ao redor, chamando o garçom. — Aceita uma bebida? Não podemos conversar sobre negócios sem molhar a garganta. — Abriu um sorriso amistoso, como sempre.

Momo encarou aquilo e ficou feliz por Heechul ser bom naquilo, era tão bom em convencer quem quer que fosse a seguir seus conselhos e suas ideias. Estavam indo bem. Sabia que Jaebum e Namjoon estavam de olho em si, medindo todos os passos daquele homem que não deveria ter mais do que quarenta anos.

Era novo, bonito e muito bem apessoado. Não estava acompanhado pessoalmente, mas temeu que estivessem sendo vigiados tanto quanto estavam vigiando.

— Na verdade, senhor Kim, — Se dirigiu homem de lábios grossos. — senhora Kim, — Logo depois para com a mulher bonita de maquiagem leve e cabelo longo. — eu vim um pouco apressado, ainda preciso viajar, então vamos deixar a bebida para outra ocasião, talvez? — Ofereceu um sorriso principalmente para a policial que pouco curvou os lábios em um sorriso.

O empresário viu aquele gesto um pouco desrespeitoso da parte do homem e tomou um gole do vinho branco. O que lhe confortava era que, provavelmente, ele sairia dali algemado.

— Não seja tão apressado, senhor Nam Taehyun-ssi. — Delicadamente, colocou as mãos em cima da mesa e piscou os olhos charmosamente, querendo chamar a atenção dele. — Temos muito a conversar. — Praticamente fez um bico ao falar e seu marido ergueu uma sobrancelha, rindo irônico ainda com os lábios colados na taça.

Ajeitou seu terno e sorriu de volta com a doçura daquela morena bonita, os olhos redondos encaravam os seus com interesse. Bela mulher, Kim Heechul. Estava tão interessado ali, que não viu Namjoon levantando do bar, fechando o blazer com apenas uma botão, o olhando por cima do ombro.

Seus dentes trincados de raiva. Aquilo já era ridículo. Andou alguns passos, trocando olhares breves com o empresário que continuou bebendo e fingindo que nada estava acontecendo. Tinha essa sensação que já se conheciam... entretanto... bem...

Era a deixa.

— Não quer conversar comigo? — Perguntou arrastada, apoiando o rosto sobre as mãos, os cotovelos na mesa. Por que ele não dizia nada?

Não que mulheres bonitas não fizessem sua cabeça parar por um momento, mas não eram seu forte, por assim dizer. Por isso recuou, além do mais, tinha coisas a fazer. Uma viagem longa de carro, aquele infeliz do Jiwon ainda não havia ligado, Mingyu disse que ainda naquela noite estaria traçando um plano para eliminar de vez Hongjoong, que estava internado em estado grave e San. Aquele inútil do Jiwon...

Só podiam ser amigos dele, de fato. Precisavam saber o que fazer com Baekho antes que ele caísse em qualquer papo de fiança ou acordos.

Levantou da cadeira, ajeitando o paletó de corte fino e reverenciando o casal com respeito.

— Temo que essa noite não seja apropriada para discutirmos negócios. — Olhou diretamente para o homem de terno florido que balançava a taça grande, vendo o resto de líquido ali. — Pedirei ao meu corretor para entrar em contato com os senhores.

Sentiu uma risadinha quente em sua nuca. Hum? Logo uma mão pesada bateu em seu ombro, o apertando. Olhou para o lado, o Rolex de fundo azul... conhecia aquele relógio. O lembrava alguém.

Yoongi...

— Eu temo que essa noite você não vá à lugar algum. — Disse baixo, empurrando-o para baixo, fazendo o homem voltar a sentar na cadeira com brusquidão. Apoiou a outra mão no ombro dele, abaixando até conseguir chegar bem perto da orelha. — Max. — Murmurou entredentes, sentindo o corpo do homem tremer.

Ainda um pouco surpreso, engoliu em seco e olhou para o lado, vendo o rosto bem próximo do delegado Kim. Pai de Yoongi.

Porra. E agora?

Porra!


Notas Finais


difícil, ein, max. explica esse nome aí pra gente.

ERA O HEECHUL!!!!!!!!!!!!! Acho que só duas ou três pessoas acertaram. Hihihihi.

E é ixto, vidinhas. DEIXEM SEU AUTÓGRAFO AQUI NA LISTA DE PRESENÇA, eu amei vocês fazendo isso no outro, nossa, fiquei feliz de ver tantos rostinhos novos............. ♥

A tag oficial da fic no twitter pra memes, risadas, choros e teorias iluminatis: #wuahtaegi


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