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História Our Time - To God, To Van Gogh


Escrita por: paansy

Notas do Autor


e aí bando de raposa do focinho empinado, tudo bem com vocês? comigo ta tudo certo.

semana retrasada ces gostaram do casal noivando, né??????? vai ser festa da uva, cada um leva um prato. tragam salgadinhos. coxinha.

nas notas finais tem surpresa.

capítulo comemorativo pra gente, os our fan pela nova etapa da nossa vida. boa leitura, meus chameguinhos com cheirinho de lírio roxo.

Capítulo 61 - To God, To Van Gogh


Qual era o nome do Papai Noel?

Só ali, naquele momento, parou para pensar nisso. E, é sério! Realmente queria saber o nome daquele cara esquisito que entrava na casa dos outros como um maldito ladrão, comia seus biscoitos, tomava seu leite e deixava uma porra da um presente idiota que provavelmente não ia durar nem até o ano novo.

Como as crianças podiam gostar de uma pessoa assim? Eles gostavam de bandidos, então? Gente que roubava seus lanches no colégio? Isso tudo é papo da mídia.

— Globalização filha da puta. — Resmungou enfiando as mãos nos bolsos da jaqueta verde e suspirou o ar frio da noite holandesa. Olhou para cima, toda aquela arquitetura... — é... — Refletiu ainda intrigado. Estalou a língua no céu da boca, negando. — o nome de uma pessoa não pode ser Papai Noel. — Negou consigo mesmo, observando aquele lugar que mais parecia ter saído do filme do Harry Potter. — Ele nem tem filhos, aquele velho folgado. — Deu alguns passos, subindo os degraus sem pressa.

Em sua infância, jamais ouviu sobre algum "bom velhinho que trazia presentes". Papo furado. Quando foi para companhia de Namjoon, ele felizmente não inventou moda de ficar bancando o papai babão. Pelo menos, não consigo.

Infelizmente teve que presenciar cenas onde Jungkook arrastava um banquinho para perto da janela, subia e ficava olhando nevar. Ou, procurando o tal bandido de roupa vermelha. Ele religiosamente desenhava algo que queria, quando não sabia escrever, e deixava na árvore, crente que ia ser atendido.

Bom, ele era. Mas não por um velho idiota com barba longa e um cinto estourando, prendendo a roupa de veludo. Geralmente eram pedidos simples. Em geral, doces ou material pra desenhar. Namjoon comprava, deixava debaixo da árvore e pronto.

Viva a magia do natal. Por vezes via o pai virando a madrugada estragando embrulhos, tentando não parecer um amador. Era engraçado. Muito! Porque ele fazia de tudo para Jungkook não descobrir antes da "hora certa" que não havia ninguém de especial dando presentes.

Era só... ele. Kim Namjoon. O mesmo de todos os dias.

Yoongi viu seu pai fazer muito isso para seu irmão. Para si era diferente, para Hoseok também. Ele mesmo os levava às compras e pedia para que escolhessem algo que gostassem, então seria o presente. Não havia magia natalina, mas havia seu pai sendo seu melhor amigo, dando mais do que sempre pediu.

Bom, de todo o modo, chegou ao topo, vendo que era maior do que parecia. Incrivelmente bonito, também. À noite parecia um ponto turístico, embora fosse apenas uma igreja.

— Porra de Papai Noel. — Resmungou novamente, lembrando do pequeno folheto que recebeu.

Lá dizia sobre São Nicolau. Santa Claus, para ficar mais claro. Usaram isso como merchandising para atrair mais atenção para a basílica. De início, não sentiu muita vontade de ir, para ser bem honesto. Tinha seus planos e nenhum deles envolvia igreja ou qualquer coisa religiosa.

Não queria ser desrespeitoso, nunca quis ser. Respeitava seu padrasto com suas diretrizes de sei lá o que ele acreditava. Taehyung com os planetas, estrelas e incenso que fedia a mato. Seu padrinho budista. Respeitava e sempre respeitou.

Mas, pessoalmente, não acreditava em nada.

Vinha de uma família católica. Disso se lembrava bem. Sua irmã até hoje era fervorosa, vivia de acordo com sua religião. Levando seus filhos para esse caminho. Respeitava. Também foi respeitado por ela quando mencionou que nunca foi de nenhuma religião e também, não simpatizava com o assunto.

Tocou o próprio pescoço, não sentindo a correntinha de ouro que sempre estava pendurada. Sorriu sozinho, olhando para baixo. Estava com Taehyung. Por causa dele, estava ali, disposto a entrar em uma igreja.

E... caralho. Isso não fazia o menor sentido. Que estúpido. Atravessou a rua rindo de sua própria cara. Deixou de beber cerveja grátis, para ir em uma igreja. Fala sério! Isso era mesmo motivo para rir. Se contasse isso para seu pai, ele ia chorar de rir. Fala sério.

Melhor nem contar. É. Segredo entre Kim Yoongi e o tal santo, o papai Noel.

Entrou na igreja e olhou ao redor. Parecia mesmo que estava em um filme do Harry Potter.

— Ei, Potter. — Imitou o sotaque de Draco Malfoy, em sussurro para si mesmo. Rodou os calcanhares, vendo o teto bem decorado. Assobiou. — Meu pai ia pirar se visse isso... — E era verdade, Namjoon era apaixonado por lugares velhos.

Quanto mais decadente, melhor. Ele adorava. Seu pai... como explicar seu pai? Continuou andando, observando em detalhes aquele lugar que estava vazio. Era início de noite ainda, mas não sabia bem se teria missa, culto, celebração, roda de ciranda, agradecimento ou algo assim, não sabia o que faziam na igreja.

Brincava muito, mas era um lugar legal. Muito bonito e silencioso. Trazia paz. Talvez fosse por isso que as pessoas iam na igreja, certo? Para sentirem paz...

Chegou ao lugar onde tinham muitos bancos, um altar, imagens de santos... e... Jesus? Apertou o olhar para enxergar melhor. Não era o Papai Noel, se bem que não sabia como era o Papai Noel (o santo Papai Noel). Que seja. Mas, é. Pelo menos Jesus conhecia, não era tão burro assim em questão religiosa.

Era Jesus. Decidiu.

Em respeito, curvou longamente o corpo antes de entrar no lugar, mantendo sempre a cabeça e olhos baixos, mostrando reverência, embora não fosse um adepto. Sentou em um dos últimos bancos e suspirou.

É... ali estava. Em uma igreja. Kim Yoongi, pela primeira vez, em uma igreja. Por que suas mãos estavam suando frio? Estava mesmo nervoso por estar dentro daquele lugar? Esperava mesmo que fosse nervoso, porque se fosse algo sobrenatural... sinceramente... Yugyeom sempre o amaldiçoava...

Fechou bem os olhos e respirou fundo. Okay. Respire, Yoongi, apenas respire. Você está sob pressão desde cedo, então respire ou você vai dar um treco. Não é mais tão novo assim, quer mesmo testar sua imunidade?

Sua consciência era seu pior inimigo.

— Ham... — Iniciou, meio sem graça, olhando para a imagem distante. Estava realmente sem graça de encarar. — essa noite estou sozinho e eu acho que preciso de alguém pra conversar, então... — Inflou as bochechas, dando de ombros como se aquilo não fosse grande coisa. Embolou os dedos sobre o colo, nervoso. — pedi ele em casamento, sabe? — Relaxou os ombros, sorrindo pequeno. — E ele quase não quis sair do hotel por isso. — Relembrou ainda sorridente, como Taehyung ficou radiante. Principalmente após colocar os brincos. — Será que fiz a coisa certa? — Apoiou os braços nas coxas e fixou o olhar na imagem. — Quer dizer, não era esse o intuito do presente, mas depois do dia que tivemos, de ouvir ele falando sobre casa, responsabilidades e falando tudo no plural, como se tivéssemos algo mais do que um namoro, eu-... — Perdeu as palavras por um instante. Mordeu internamente a bochecha e riu consigo mesmo. Seu coração estava tão acelerado. — eu realmente me vi ficando com ele pro resto da minha vida.

Suas últimas palavras saíram quase em um sussurro. A voz sumiu por um tempo. Estava mesmo falando com... uma figura inanimada? Os religiosos acreditavam no poder dela, mas não era um religioso. Passou ambas as mãos no cabelo, o agarrando entre os dedos e abaixando a cabeça. Estava confuso.

Ultimamente andava meio confuso com tudo. Tudo! Inseguro, um tanto perdido. Achava que depois dos trinta, as coisas ficavam mais fáceis e claras, mas não. Parece que o tempo só agravava a situação.

Por vezes era uma criança perdida. E aquela ali, era uma delas.

— Eu vi alianças na loja e eu — Levantou a cabeça, o cabelo escuro despontando em diferentes direções. — pensei em comprar, mas ainda não consigo. — Apertou os dentes fechados ao assumir aquilo, seu coração apertado. Tão apertado. — Tudo comigo parece mais difícil, eu sou uma pessoa difícil e tenho todos os contras do mundo ao meu favor, nada disso está fadado a dar certo e porra, — Suspirou, cansado. Realmente... cansado. — é mais fácil as pessoas irem do que ficarem, é tudo por minha culpa e eu sei! — Endireitou a coluna, apertando os joelhos com as mãos. — E se ele também for? E se ele finalmente se der conta que ao meu lado, tudo é mais difícil e doloroso? — Acabou rindo amargurado, olhando fixamente para a imagem. — Hum? — Ergueu uma sobrancelha, risonho. Nem notando que seus olhos inundavam rapidamente. — Me diz o que eu vou fazer, porque eu tô fodidamente cheio de perder pessoas.

Esperava realmente uma resposta, mas ela não veio. Yoongi... que idiota. Estava mesmo desabafando dentro de uma igreja? O que deu em você? Porra! Estava ficando louco. Riu um pouco mais, fungando e rapidamente enxugou os olhos. Apagando qualquer rastro daquela pequena queda.

Óbvio que estava feliz por estar noivo. Só de ver aquele pirralho completamente fora de si, quase gritando para os quatro ventos o quanto estava feliz... já valia a pena. Estava muito, muito feliz mesmo. Amava Kim Taehyung, queria ele mais do que queria qualquer coisa no mundo. Estava certo disso, já haviam chegado longe demais para negar.

Mas depois que o convenceu que precisava ir no evento, que comemorariam aquilo depois, acabou caindo em si. Ali na Holanda tudo parecia perfeito. Podiam andar de mãos dadas, trocar carinhos e beijos... ser alguém comum entre tantos outros. Só que, eles iam voltar. Tinham que voltar.

E é com o "voltar" que estava preocupado. Seu namorado era otimista e um pouco fantasioso. Mas Yoongi, não. Ele via as coisas em suas reais cores e elas não eram bonitas. Não eram... nada bonitas. Eles iam se machucar. Taehyung ia se machucar. Muito. Era isso mesmo que ele queria? Se machucar?

E, o próprio Yoongi, era isso mesmo que estava disposto a fazer? De verdade? 

— Eu quero isso, vou fazer a minha parte para dar certo. — Respondeu suas próprias questões. Certo disso. Firme. — Vou fazer isso, disse que viveria a minha vida sem arrependimentos. E eu sinceramente acho que se deixasse ele ir embora, ia viver como um filho da puta amargurado, — Voltou a rir cheio de ironia, só de pensar nisso. — talvez me trancar de novo. Do que adiantaria o dinheiro, a fama? Isso não ia mudar nada e eu não vou escolher isso agora que tenho opções. — Respirou fundo, olhando discretamente para o lado, vendo algumas pessoas acendendo velas e levando até o altar, onde faziam preces. Ficou um tanto resignado, mas voltou a olhar para frente, terminando seu monólogo. — Eu quero viver, quero ser feliz. Eu realmente quero muito viver. — Engoliu em seco. — Sei que algum dia já disse que não, mas agora eu quero. Quero tanto que tô arriscando tudo só pra poder ter uma chance! — Sinalizou o número um com o dedo indicador. — Só preciso disso. De uma chance e eu juro que vou viver da maneira correta, sem me arrepender de nada.

Ficou em silêncio ao perceber que realmente estava fazendo uma prece, embora em sua cabeça fosse uma conversa. Mas com quem? Expirou por entre os lábios e relaxou as costas no banco de madeira. Idiota... estava tão desesperado que apelou para religião?

Pfff. Virou os olhos para as pessoas acendendo velas, realmente fazendo as preces com muita fé. Era bonito. Mesmo que não acreditasse, ainda admirava o modo que o ser humano pode colocar tanta energia em algo que acredita de verdade.

Desde que havia ganhado o crucifixo de sua mãe, andava meio assim, meio pensativo. Ela fez questão de lhe "abençoar", pedindo para que os anjos lhe protegessem. Depois daquele dia, ficou pensando nisso...

— Cuide da minha mãe. — Pediu após um tempo, voltando para a imagem iluminada. — Ela é sua fã. — Levantou do banco, arrumando a roupa, um pouco constrangido por aquele momento. — Obrigado pela conversa, acho que não nos veremos mais daqui por diante, mas — Sentiu o rosto esquentar. Estava falando sozinho... isso era estranho demais. Apertou as mãos dentro dos bolsos do casaco. — diga a minha mãe que vou ficar bem. — Abriu um sorriso curto, dando alguns passos para trás. — Eu sempre fico. — Sussurrou antes de curvar longamente o corpo, ficando alguns segundos assim antes de levantar.

Não sabia mesmo o que ia acontecer dali por diante, mas estava disposto a arriscar. Ia arriscar. A vida era assim, certo? Acertos e erros. Algumas vezes ganhamos a sorte grande, outras, não. Mas dessa vez estava sentindo que estava com um grande jogo em mãos.

Ia apostar tudo e ganhar sua chance de viver. Intensamente. Sem arrependimento algum.

Chegou sua hora, sua vez. Não ia deixar aquela chance passar.

— Preciso muito de uma cerveja. — Disse assim que saiu da igreja, piscando os olhos rapidamente, ainda se sentindo estranho. — Tô muito sóbrio e quase acreditando no papai noel. — Balançou a cabeça negativamente, descendo as escadas com pressa. — Pra onde fica mesmo a fábrica da Heineken? — Ficou confuso.

Ainda tinha cerveja de grátis para beber, certo? Precisava ligar para Jimin – acordar Jimin, na verdade – para fazer inveja. Ele quem não quis viajar junto consigo, então que pague o preço.

Não admitiria nem sob tortura que estava sentindo-se mais leve e muito mais confortável. Muito menos contaria para alguém aquele pequeno segredinho. Guardou junto com seu sonho estranho com seu mini eu.

É, a idade mexe mesmo com nossa cabeça.

...

Não era alguém despreparado artisticamente e sabia disso. Investiu praticamente toda sua juventude, naquilo. Largou tudo para trás, foi para a França terminar o colegial e se aprofundar mais em um mundo que, quando entrou, pensava que todos eram como Picasso.

Aliás, isso era engraçado. Antes de pesquisar e estudar sobre arte, só conhecia o pintor espanhol. Não sabia nenhuma obra, mas o conhecia. Se apegou nisso em diversas conversas nas aulas de artes da escola.

"Porque o Picasso..." por que o Picasso, o quê? Hoje ria muito ao lembrar disso, porque não sabia nada. Absolutamente nada.

Claro, ria agora, sendo um cara com uma exposição própria já realizada em um dos museus mais respeitados de Seul, duas coleções de quadros finalizados, tendo estudado com alunos da escola de Paul Cézanne, do Monet. Teve o prazer de pintar ao lado de professores da escola do Gauguin e foi muito elogiado por um deles!

Agora sim podia dizer que entendia de artes, porque era um artista. Fazia parte daquele mundo tão cheio de formas, cores, onde nada era o que parecia. Ou era. Mas você nunca vai saber...

Tinha pouca idade. Faria vinte anos ao fim daquele ano e a maior parte das pessoas presentes naquele lugar, eram muito mais velhas. Eles o viam como um pequeno curioso, intruso. Sabia disso! A comunidade artística era um tanto... fechada. Na França viu como era, mas trabalhou duro. Foi atrás e provou seu próprio valor. Se conseguisse ir bem em Paris, toda sua vida estaria salva.

E estava. Porque durante toda noite, conseguiu conversar muito bem, claro, direto e de igual para igual para muitos presentes no evento. Homens realmente idosos, homens de meia idade. Mulheres que seguiam a mesma faixa. Haviam pouquíssimas pessoas novas, arriscava dizer que deveria ser o único com menos de trinta anos. Provavelmente era mesmo.

Mas seu currículo impressionava. Apresentou verbalmente e por fotos, seus quadros para várias pessoas em rodas de conversa casual. Por vezes falando em francês, em um inglês comedido e limitado. Só não amoleceu para nenhuma daquelas pessoas.

"Você é tão novo...", "quem foi seu professor?", "em que parte de Paris ficou?", "quais escolas estudou?", "qual sua maior inspiração?", "qual sua forma de esboçar as obras?", "você é realmente tão novo..."

Sim. Era bem novo, mas sabia exatamente quem era e o que queria. Seu ídolo? Precisava mesmo falar? Mesmo após passar por escolas de arte na França, estudar muito, ainda era Vincent Van Gogh, sua maior inspiração. Seu único mestre. Alvo.

Por ele atravessava o mundo em um avião só para ter o prazer de estar em um lugar em homenagem ao seu legado. Mas não era um admirador só pelas obras feitas, não. Era por tudo! Pela pessoa que ele foi, por suas diretrizes, seu grande coração e sua forma apaixonada de ver o mundo com outros olhos. Literalmente.

Todos podemos ser artistas. Não é tão difícil se você entende a técnica certa, mas, nem todos podem fazer arte. Você sente quando alguém está fazendo por fazer e quem faz porque sente o que está fazendo. É diferente. Faz o coração bater mais forte...

E sentia isso toda vez que via os quadros de seu mestre. Aprendeu com ele como esboçar emoções por cores. Olhos verdes, olhos azuis, olhos castanhos... depende de como se sentia no momento. E, sim, ele tinha razão. Testou isso e foi como se o seu mundo finalmente entendesse o que o pintor holandês dizia sobre ver o mundo com outros olhos.

As pessoas comuns não podiam entender porque Van Gogh via daquela forma. Era sua maneira de enxergar o mundo, o amor, a natureza...

Entendeu isso quando deitava ao lado do namorado e ficava admirando seus olhos, quando ele o encarava, deitados juntos no sofá ou na cama. Conseguia ver de tão perto. Ele tinha lindos olhos castanhos, mas não era tão escuro como parecia sempre. Não. Conseguia ver a pupila escura dilatando entre piscadas lentas... quando sorria, ali, junto dele, e ele devolvia. Um pouco menor. Parecia que aquele castanho se tornava um tom mais claro.

Tudo bem as pessoas acharem que aquilo era uma mentira, invenção. Mas acreditava no que estava enxergando. Via o mundo de uma maneira diferente e estava aliviado por isso, porque se não, perderia tanta beleza. E, bem, em tudo havia beleza. As pessoas que não paravam para enxergar.

Também aprendeu sobre amor com Van Gogh. Engraçado, certo? Como um artista plástico, falecido há muitos e muitos anos, podia lhe ensinar coisas, mesmo sem estar ali. Em pensar que era assim sempre com o holandês. Nunca reconhecido e ouvido em vida. No entanto, sua morte trouxe muita clareza para multidões. Em muitos aspectos.

Ele foi um pintor problemático, cheio de problemas mentais, temperamental e não interessante em vida. Um gênio incompreendido, após falecer. É um pouco chocante saber que ele precisou morrer para que alguém parasse um pouco para lhe enxergar.

E, o mais engraçado, é que ele sempre falava tanto de amor. Paixões. Entrega. Quando esteve na França, leu muito sobre Van Gogh e não parou de analisar sua própria vida: "É melhor ser atrevido, mesmo cometendo muito mais erros, que ter a mente fechada e ser muito prudente!" Foi a última coisa que leu, antes de ir atrás de Yoongi. Foi o que usou de mantra quando sua mente vinha lhe perturbar com pensamentos ruins, estranhos, que envolviam sugestões esquisitas de como aquilo ia terminar.

Preferia se arriscar e errar, do que ficar em um impasse eterno e no fim, morrer frustrado. Preferia sentir dor pelos seus erros, do que não sentir nada. Não queria ficar dormente ao mundo, ao amor. Queria ser atrevido.

E foi. Olha o que estaria perdendo se não fosse? Acabou rindo rouco, sozinho naquele corredor enquanto analisava o último quadro. Estava noivo! Merda. Estava... noivo. Cara. E acontecer aquilo antes de pisar naquele lugar tão importante em sua vida, foi... nossa...

Vincent Van Gogh foi a pessoa que o salvou de um iminente abismo, que o garantiu que o amor era bom. Que podia amar. Que a vida não era nada sem amor, sem paixão, sem entrega. Que valia à pena o erro, se você queria mesmo uma coisa. Que a luz acesa, era mais bonita que a apagada.

Estava na casa dele. Em seu museu. Após noivar com o homem que nunca achou que teria em sua vida. Que quase desistiu, que se deu por vencido. Sim, Vincent, Taehyung amava muito Yoongi. Muito. E foi ali que ele encontrou a verdadeira força.

Você estava certo. De novo. Desde o começo.

Inicialmente, sonhou com aquele dia como sua grande chance profissional, mas não... isso era pouco. Estar ali, naquele museu, era muito mais do que isso. Era uma espécie de agradecimento, de reconhecimento, que todos aqueles anos, onde ele usou o pintor como refúgio mental, foi o suficiente para chegar onde queria.

Por isso, diante do último quadro que o holandês pintou em sua vida, não terminado, curvou o corpo longamente em forma de respeito. Tecnicamente, a linha artística acabava ali. Não tinha mais nada para mostrar, para fazer. Mas ainda havia trabalho à fazer! A obra não estava terminada e nunca estaria.

Mas, isso ficava a critério do expectador. Continuar, não continuar. Taehyung escolheu continuar.

Por isso agradeceu por todo o conhecimento até ali. De vida, de artes, de emoções e por simplesmente... ter a sorte de visitar seu grande mestre ali. Em sua "casa". Ter visto seu jardim de margaridas, em um dia tão importante em sua vida. Sabia que tecnicamente, ali não era a casa habitada pelo pintor e nem tampouco ele havia pisado ali, morreu bem antes. Só que as pessoas não entendiam... não sabiam enxergar com os olhos corretos!

A casa de um artista não é feita de madeira ou tijolos. É onde suas obras estão. Ali que mora a alma de um verdadeiro artista.

Por isso Taehyung não se via pertencendo a nenhum lugar fixo ainda, mas pertencia a uma pessoa. E é para ela que voltava todos os dias, porque era atrevido.

Muito atrevido.

— Eu também acho que a noite é muito mais viva que o dia, mestre. — Murmurou levantando o corpo devagar, as mãos juntas a frente do corpo, mostrando respeito.

Porque Kim Yoongi era sua noite. Seu céu noturno coberto por pequenos pontinhos brancos, uma lua enorme no céu. Tão branca quanto sua pele... uma brisa fria que deixa qualquer um arrepiado, uma beleza que só os mais gênios conseguem ver e entender o grande significado.

E estava noivo daquela noite, agora. Se atreveu, lutou, conquistou e o mais importante de tudo, amou. Amou com tudo o que tinha, com o que não tinha.

E ganhou o céu noturno todinho para si. Só ganha a noite quem se atreve a entrar na escuridão sem medo de cair.

...

Só existia dois porquês para o uso de roupa formal em sua vida:

Um: enterros. Se não fosse desrespeitoso ir de calça jeans e camisa de basquete, iria!

Dois: porque Taehyung gostava.

Infelizmente, muito infelizmente, ele achava bonito. Sempre o elogiava muito quando se vestia formal. Antigamente, nas premiações, não se importava muito com isso. Certo que tinha que ir bem vestido, mas ainda era um rapper e ainda tinha licença poética para se vestir como queria.

Antes de namorar Kim Taehyung. Ou melhor, antes de se importar demais em impressionar aquele garoto que tinha roupas cafonas demais. Parecia ter dado sold out em um bazar da igreja mais próxima. Ou algum pirralho criado com vó.

Mas, se tinha licença poética para vestir seus moletons, camisa de basquete, corrente, jeans rasgados e camisa de banda de rock, o mais novo tinha de se vestir do modo mais esquisito – e feio – possível e continuar lindo.

Porque ele é Kim Taehyung e Kim Taehyung fica bonito até quando tenta ser feio. Dizia isso para ele, sério. Ele era bonito até sendo feio. Não fazia sentido, mas era verdade. Ele usava coisas que só ficavam boas nele. Apenas nele!

Foda-se. Essa ladainha toda de moda só para dizer que tinha voltado para o hotel e se arrumado direito. "Direito". Vestiu um blazer preto, camisa branca, calça de alfaiataria e nem usou tênis. De jeito nenhum. Não usou suas correntes e até passou gel no cabelo.

Impecável, diria. Fez tudo isso ao invés de estar na fábrica da Heineken enchendo o saco do barman, esfregando sua pulseira de bebida grátis na cara dele. Secando canecas e pedindo mais uma rodada. Trocou sua cerveja por uma longa arrumação em si mesmo, trocou o táxi pelo aluguel de um carro bonito.

Queria que aquela noite fosse especial...

Inicialmente, ele e o namorado combinaram que não iam alugar carro porque estavam no centro de Amsterdã e podiam usar táxi ou uber. No entanto, não gostava muito de transporte público. Principalmente fora de seu país, onde não sabia falar o idioma local e essas merdas.

E também, queria buscar o mais alto na exposição. Levá-lo até onde fez uma reserva enquanto ele estava trabalhando. Normalmente não era um cara com "feeling", entende? Quer dizer, ele não tinha muito jeito para o romantismo. Não sabia ser carinhoso em um geral e nem era delicado.

Seu jeito era rude, muitas vezes podia soar desagradável ou grosseiro, mesmo tentando ser cordial. Era um tanto retraído com gestos de carinho ou apelidos carinhosos. Haviam diversas barreiras que impediam ele e Taehyung de terem um relacionamento "padrão".

O mais novo jamais reclamou disso, nunca mudou consigo também. Eram o oposto um do outro desde o início. Ultimamente ele vinha usando muito "amor" para falar consigo, o que antes não usava. Não se incomodava com isso, mas também não usava na mesma frequência. Não era um costume. De um lado, havia o pirralho com excesso de carinho, do outro, ele mesmo, com saldo negativo em afeto.

No entanto, podia ser rude, mas não era idiota. Mesmo que o acastanhado não falasse, sabia onde podia melhorar e estava tentando. Em Seul não saíam muito, então ali, quis dar uma experiência boa em casal para ele. Um pacote completo.

Com direito a jantar, encontros, buscar no trabalho e, claro, presentes.

Certo! Não ia pensar nisso, seu estômago já revirava em ansiedade só de pensar nos brincos que marcaram o pedido de noivado. Ainda não estava crendo que tinha praticamente...

Inflou as bochechas e prendeu um pouco o ar nos pulmões, balançando as pernas nervosamente. Será que se excedeu? Quer dizer. Olhou para trás e coçou a nuca, soltando o ar devagarzinho por entre os lábios. O carro lustroso, preto... será que foi demais?

Eita... eis a questão. Ficou em dúvida. Puta merda.

Fechou os olhos e respirou fundo. Se controla, caralho, não pira! Olhou para si mesmo, completamente arrumado e sentiu suas bochechas arderem. Por que estava se submetendo a isso? Fala sério. Era Kim Yoongi. Agust D. Não precisava disso, não... não precisava mesmo disso. É.

— Não acredito que estou te vendo de roupas sociais fora de um enterro. — Ouviu a voz do melhor amigo e rapidamente olhou em sua direção. Ele vinha cruzando a praça, com um sorriso enorme e mãos na cintura. — Tá de brincadeira?

Mordeu o interior da bochecha, sem saber muito bem o que dizer, então estendeu o dedo médio da mão esquerda. Respondendo o mais velho que deu uma gargalhada. Viu que atrás dele, vinha Taehyung de braços dados com a loira que conheceu anteriormente. Pareciam um casal modelo.

Pirralho metido a cavalheiro. Fala sério. Acabou até sorrindo pelo jeito protetor que ele trazia a mulher, se preocupando em dar passos lentos para que ela não sentisse desconforto por estar de salto alto.

Que educação fodida seus pais deram para ele. Ficava orgulhoso. Adorava observar o namorado e pegar essas pequenas coisas. Seus pais fizeram um puta trabalho foda com a educação de cada um de seus irmãos. Ajudou como pôde, no tempo que dava, então seu orgulho era... wuah.

— É seu? — Perguntou o mais alto, após cumprimentar o amigo com um abraço rápido.

— É da agência, eu só aluguei por um dia e meio. — Explicou óbvio e o outro estalou a língua no céu da boca, analisando bem o carro. — É um Palisade, liguei pra Coreia e meus agentes conseguiram me arrumar um em cima de hora. — Suspirou um pouco encabulado, ainda ficava meio sem graça com suas regalias. — Pode dirigir se quiser.

Negou. Adorava carros, mas não dirigia muito, sua esposa fazia melhor. Preferia ir no carona e tomar conta da rádio e da navegação. Era o rei do GPS. Taehyung chegou até eles após um tempo e finalmente conseguiu ver o namorado de perto.

Ele estava mesmo usando um blazer? Céus. Yoongi estava lindo. Mais que o normal. Não conseguia tirar os olhos do rosto mais exposto, a pele pálida brilhando naquela noite iluminada... amava todas as noites. Cada uma das estrelas... A lua...

Elas eram o pano de fundo perfeito para seu namorado. Quero dizer, noivo. Seu noivo!

— Eu fiz uma reserva em restaurante. — Um pouco sem graça pela presença de uma pessoa estranha e os olhares do namorado, avisou. — É minha forma de prestigiar vocês pela noite importante.

— Obrigada, é muito gentil de sua parte, Kim Yoongi-ssi. — Agradeceu realmente encantada pela educação. O rapper curvou a cabeça em respeito.

— Esse é meu namorado, noona. — Finalmente pôde apresentar os dois de maneira formal. Foi para perto do menor, o segurando pela cintura. Que homem lindo, céus. — É o meu namorado. — Encheu a boca para falar de novo, contendo o sorriso quando viu o menor tentar se desvencilhar, tímido.

Jinyoung começou a rir. Era incrível ver aquele ser humano marrento e arrogante, perdendo o nariz empinado. Conhecia Yoongi por toda sua vida e sempre via ele do mesmo jeito: inacessível. Para qualquer um. Mas ali, quando tinha seu aprendiz envolvido, tinha o prazer de ver como ele era só mais um cara comum.

Um cara comum quando está completamente apaixonado por alguém.

— Sou Son Chaeyoung e é um prazer te conhecer pessoalmente. — Curvou o corpo, recebendo o mesmo gesto. — Parabéns pela carreira incrível.

Curvou-se de novo, o músico, recebendo o elogio com muita gratidão. Só ouvia falar daquela artista plástica, mas nunca se conheceram de fato. Era a primeira vez trocando palavras. A primeira vez que se viram foi... na exposição de Taehyung, certo? Ela tinha cabelo rosa.

É. Lembrou. Ficou com ciúmes dela.

— Igualmente. — Foi o que respondeu com educação. Não ia elogiar o trabalho dela se não conhecia, porra.

E não gostava de artes plásticas. Via as de Jinyoung porque era seu melhor amigo e era seu papel ir apoiá-lo. Via as de Taehyung, porque era seu namorado. E até gostava da pintura dele, via todo o processo de criação, desde o esboço. Era até legal. Continuava não entendendo, mas achava legal.

Mas não sabia o que era mais legal. O garoto todo concentrado enquanto pintava, usando aquelas roupas largas, óculos de grau e geralmente uma bandana na testa para afastar a franja. Ou o quadro em si.

Também foi educado por Seokjin e Namjoon, era um homem educado. Talvez corrompido pela vida, mas ainda assim, educado. Abriu a porta traseira e indicou para a menor entrar. Ela agradeceu e seguiu. O de blazer azul de veludo, seguiu o mesmo caminho enquanto o Park ia para o banco do carona.

Só que antes de entrar no carro, Taehyung teve que sentir aquela pele sob seus dedos. Encaixou a mão na bochecha do mais velho e sorriu, vendo-o tão... ah, Jesus, por que seu coração sempre batia tão rápido? Moveu o polegar na tez macia e sorriu.

— Você está lindo, meu amor. — Precisou dizer, ganhando aqueles olhos pequenos fixos em si. O analisou por inteiro, até a pouca maquiagem que havia nos olhos. — Obrigado por me buscar. — Abaixou um pouco o rosto e selou os lábios bem demoradamente. — Passei a noite toda pensando em você. — Sussurrou afastando um pouco as bocas, movendo delicadamente a pontinha do nariz no dele.

Yoongi assentiu, ainda de olhos fechados, sentindo o perfume forte desprendendo da roupa de marca, o macio dos lábios dele se encontrando aos seus de novo. O segurou pelo pescoço dessa vez, sentindo sua correntinha ali, na ponta dos dedos. Ele ainda estava usando.

Os anjos de Yoona estavam protegendo seu bem mais precioso vivo. O amor de sua vida. Kim Taehyung.

— Eu também. — Assumiu, porque era verdade. Era a mais pura verdade.

Foi na tal basílica e depois ficou sem rumo. Até chegou ir na fábrica de cerveja, mas não quis ficar. Desistiu de ligar para Jimin, estava muito tarde lá. Andou um pouco só, tirou fotos e logo depois foi quando o roteiro começou. A reserva do restaurante, o carro, sua arrumação...

O de cabelo castanho sorriu, gostou da resposta. Mordeu o próprio lábio inferior, grunhindo contrariado por ter que se afastar.

— Entra logo, porra. — Rindo, deu um leve empurrãozinho no namorado, ouvindo a risada rouca. — Só enrola. Chato pra caralho. — Resmungou fechando a porta assim que ele sentou e passou o cinto. Fez questão de ver isso!

— Tô morrendo de fome. — O pintor virou para o lado assim que o melhor amigo entrou no carro. — Estamos comendo por sua conta?

— Vendeu algum quadro? — Enfiou a chave na ignição e olhou para o lado, vendo o mais novo fingir que não ouviu. — Vendeu?

— O quê?

— Algum quadro!

— O que tem?

— Você vendeu?

— Não entendi... — Viu as bochechas do músico começarem a ficar mais vermelhas.

Os dois outros estavam rindo no banco de trás, adorando aquela brincadeirinha entre os dois mais velhos presente. No fim, Yoongi quem assumiu a conta, porque quis prestigiar dois dos homens mais importantes em sua vida. E Chaeyoung, porque ela parecia legal e estava junto... então...

The Duchess era um restaurante dentro de um hotel. O lugar era bonito e foi uma ótima escolha, principalmente porque tinha piano e puderam ter uma refeição ao som de clássicos. Brindaram pela noite, pelos novos caminhos de Yoongi, pelo futuro de Taehyung e a despedida de Chaeyoung. Ela iria embora naquela madrugada.

— Preciso ir pro Japão. — Respondeu quando perguntada o motivo. Deu um gole no vinho. — Mas logo nos vemos, voltarei para a Coreia em breve. — Taehyung assentiu, voltando a atenção para a comida, mas logo teve que erguer o olhar, porque a mais velha grunhiu, retomando o assunto. — Vocês formam um belo casal. — Apontou para os dois rapazes que comiam lado à lado. — Parabéns pelo namoro.

Desde que chegaram, observou bem a interação deles. O baixinho era tímido, mas se esforçava. Achou bonitinho! Sempre dava toda a atenção do mundo para seu aprendiz, até quando ele estava apenas vendo o menu. Gostava de observar esses gestos espontâneos, afinal, era uma artista.

O rapper era solicito e muito mais suave quando olhava para o mais jovem. Respondia tudo o que perguntava e sempre estava ali, o questionando se estava gostando, se queria algo ou se precisava de alguma coisa. Mesmo que em sussurros discretos. Ele não falava muito, notou. Mas era igual a si: observador.

Sabia que estava sendo observada e analisada por ele. Yoongi estava estudando o terreno, vendo se era uma boa pessoa, se ele podia relaxar ou não. Isso era realmente interessante.

Em um mundo onde as pessoas fingem tanto, aquele cara era muito sincero, não ligando nem para cordialidade. Não trocou uma palavra consigo durante toda a noite e nem puxou assunto. Não forçou também, poderia parecer irritante, então o deixou à vontade.

— Obrigado, noona. — O de cabelo longo agradeceu, realmente feliz pelo elogio. — Amanhã tem um evento público no Vondelpark, um dos parques naturais mais famosos daqui. — Contou para os mentores, recebendo a atenção deles. — Vocês querem ir conosco? Vai ser divertido!

Estava muito animado, porque soube daquilo assim que chegou na Holanda. Sendo um país muito receptivo com pessoas da comunidade LGBTQIA+, tinham várias atrações turísticas com esse tema, para unir pessoas, festejar... isso era muito legal, porque só viu coisas assim na França.

Sua primeira parada do orgulho, foi em Paris. Na Coreia do Sul seus pais foram algumas vezes, mas nunca levou nenhum dos filhos. Diziam que era melhor assim, por conta de segurança. Não era um evento muito bem vindo e visto pelas autoridades do país, então eles preferiam assim.

— Eu adoraria, mas preciso realmente estar em Tóquio em breve. Não posso desmarcar! — Aquele encontro já havia sido desmarcado muitas vezes. Dessa vez, não.

Iria até o Japão, mas o encontro ia acontecer.

— E eu vou embora de manhã cedo. — Suspirou o de terno, olhando os dois amigos. — Mas se divirtam, tenham um encontro, sabe, — Deu de ombros. — coisas de casais. Aproveitem o pouco tempo que terão antes de voltar pra maluquice de Seul. — Cortou um pequeno pedaço de carne e levou até a boca.

Os ombros do menor ali, caíram em exaustão e frustração só de pensar que segunda-feira teriam de voltar. Por que estava passando tudo tão rápido? Não queria voltar. Não... olhou para o lado, recebendo o mesmo olhar do namorado. Ficou apreensivo.

Tinham que voltar, certo? Tinham... que voltar. Sentiu a mão dele tocar sua coxa por debaixo da mesa e apertar ali. Assentiu. É. Tudo bem. Engoliu em seco. Uma hora a gente precisa encarar a realidade, voltar para a vida real.

— Vai ficar tudo bem. — Sussurrou rouco, o mais alto, atraindo novamente o olhar do outro. — Entendeu? — Perguntou, grave, sério. Como poucas vezes estava. O músico assentiu, mesmo sem acreditar muito naquilo... — Segura a minha mão. — Sentiu os dedos frios indo até sua mão, tirando da própria coxa e entrelaçando aos seus. — Eu te amo. — Abaixou um pouco mais o rosto, para que aquilo ficasse apenas entre os dois. O músico assentiu, frágil. — Quer me abraçar? — Ofereceu passando devagarzinho o polegar pelas costas da mão dele.

— Quero. — Murmurou, sem ligar muito que estavam em um restaurante. Não estavam sozinhos.

Imediatamente, o mais novo passou um braço ao redor de seus ombros e o puxou para o próprio peito em um abraço lateral. Beijou-lhe a têmpora, sussurrando um: "eu estou aqui", antes de beijar mais uma vez.

Yoongi assentiu. Estavam juntos. Não ia andar para trás, lembrou de mais cedo, quando foi na basílica, da conversa que teve com seja-lá-quem. Pediu uma chance e não ia perder, deixar passar. Era sua chance. Sabia que ia dar tudo errado, mas valia à pena. Ia valer. Sabia que ia.

Quando olhava para cima e encontrava aqueles olhos grandes, ouvia a voz rouca sussurrando firme que estava ali, que estavam juntos. Tinha a certeza que ficaria bem. Estava com medo do que viria, mas não ia desistir. Não ia abaixar a cabeça.

Fechou os olhos e relaxou naquele abraço, por um momento, esquecendo de tudo. Apenas focou ali. Encontrou sua calma, sua serenidade naquele toque simples, que tanto repudiava das pessoas. Era ali que encontrava sua completude. Sua mente barulhenta e maldosa, ficava em silêncio.

Tudo, absolutamente tudo, ficava em silêncio para que a voz dele, pudesse soar clara. Queria ouvi-la. Só ela.

— Eles são fofos assim sempre? — A mulher perguntou para o amigo que estava mais preocupado em comer e resmungar o ritmo do piano.

Estava acostumado com eles dois. Já não era mais tão grande coisa. Mas, admitia, era fofo, certo?

— Não. — Respondeu de boca cheia, franzindo o nariz de puro desgosto. — Nunca queira ver eles brigando, pode ser bem dramático.

— Nível Nicholas Sparks? — Ficou interessada. Gostava de romances com drama.

Pfff. Que fraco! Negou de novo.

— John Green, minha cara. — Viu os olhos redondos, enfeitados com glitter, se abrirem em espanto. — Tô te falando. — E mais uma garfada na carne.

Infelizmente foi advogado daquele casal por tempo o suficiente para saber que o enredo daria um belo livro nas mãos de alguém bem dramático. Ou um enredo de novela, cheios de plot twist e efeitos especiais. Fogo caindo do céu, explosões, gente voando, tiro... digno de Hollywood.

— Tu leu a porra da culpa é das estrelas, cara? — Ainda mastigando e pensativo no que aquela história poderia se tornar, levantou os olhos, vendo o melhor amigo ainda deitado no ombro do garoto, mas lhe julgando com o olhar.

— Quê?

— Você leu?

— O quê?

— Vai tomar no teu cu, Park Jinyoung. — Se estressou, saindo do abraço quente do namorado, querendo tacar alguma coisa naquele insuportável.

Ele sempre fazia isso quando não queria responder, se fazia de desentendido. Aprendeu com Hoseok, é claro. Quem mais podia fazer uma idiotice dessas? Dois imbecis. Fala sério... mas por causa daquela pequena brincadeira, sua tensão se dissipou e sabia que Jinyoung tinha feito isso para desviar um pouco o clima.

Aquele cara... sinceramente... era seu melhor amigo!


Notas Finais


agradecimento especial ilustre no capítulo de hoje: vincent van gogh. por inspirar meu personagem, me inspirar e me fazer pensar de mil modos diferentes.

cês gostaram? eu particularmente amo as narrações solos deles, mas o próximo, sendo o último desse arco na holanda, vai ser o que vocês tanto querem ver.

AGORA NOTA DE AVISO: por quatro anos vocês vem chorando falando: "mas letícia, por que não um livro? CADÊ O LIVRO LETÍCIA" e eu sempre falava, calma família, caaaalma. calma que um dia vem. e esse dia chegou.

our castle vai ser transformado em livro físico e o form de intenção de compra está fixado no meu perfil do twitter: sarcasmoflet. é bem rapidinho, respondam lá, o preço vai ser super em conta (to realmente vendo isso, pra ser acessível pra todos), a capa vai ser do jeitinho mais especial e discreto possível. então podem comprar sem medo, porque na pré venda tem uns brindes muito especiais que eu já planejei com a editora.

MAS SEM MAIS LADAINHA, quem quiser, tá lá no twitter o form e em breve teremos nossa rosinha física cheirando a amaciante, nas nossas mãozinhas. yay.

obrigada pela atenção, seguimos pro próximo agora. ATÉ DEPOIS!!!!! <3


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