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História Ouroboros - O começo do início - A peste


Escrita por: magnalock

Notas do Autor


Boa leitura, recomende e comente !

Capítulo 5 - A peste


A casa mergulhava na penumbra. Kath corria os olhos pelo local, havia estantes com cestas  palha e madeira que ela tratou de explorar, bacias com água na cozinha e alguns grãos em potes. Nas paredes alguns machados e escudos estavam pendurados. Katherine segurou um escudo frente ao rosto. Observou as runas gravadas na madeira, começou a pensar em sua vida, o rumo que estava tomando, ela não agüentou. Os joelhos dobraram fazendo um som surdo ao se chocarem com o chão. A jovem chorou soluçando contra as mãos que cobriam o rosto.  Chorou por tanto tempo que os olhos ardiam como fogo. Kath se levantou enxugando o rosto com o dorso da mão, não entendia o porquê de estar naquele lugar, mas estava e pelo visto não seria reversível.

    Mais tarde naquele mesmo dia, antes do anoitecer, Athelstan trouxe comida,  algumas roupas, peles e cobertores que  pegara com uma das servas de Largehta, para Katherine.

    Katherine estava sentada na cama fina de palha com as costas encostadas na parede madeira e as pernas penduradas na lateral observando o nada. Athelstan despertou Kath de seu estado ocioso.

 - Trouxe para você. - Avisou entregando uma grande trouxa de pano e um prato com pães.

- Obrigada. - agradeceu mordendo um naco do pão.

 Kath começou a desatar o nó que prendia a trouxa. Dentro havia uma capa que um dia fora preta com um broche, dois cobertores, umas peles e três vestidos de lã simples com mangas longas. Um verde escuro um azul e outro branco todos no mesmo modelo.

- Vista- se. Vamos à casa de Ragnar. Ele fará um comunicado. - falou tirando o prato de pães de cima da cama e colocando o na mesa.

- Eu pensei que iria somente amanhã.

- Creio que não vai querer ficar aqui com fome. Se vista.

 

   Kath levantou da  cama com o vestido azul nas mãos esperando o ex monge sair. Segundos de silêncio se estenderam até ele entender o que Kath queria e sair do local. A morena esticou o pescoço para ver se ele estava fora de suas  vistas. Se vestiu tão rápido quanto se despiu. O vestido estava bom, porém era mais longo que precisava. Teria que levantar para andar. Calçou as botas, pois era o único calçado e tinha.

- Vamos, agora? - falou da soleira da cozinha a Athelstan.

- Sim. Coloque a capa,está frio.- avisou entregando a capa a que a colocou sob os ombros.

   Ao saírem do casebre o céu anunciava o entardecer rosado. Um corvo piou pousando no telhado do lar, Kath só conseguia se questionar se os corvos ainda gostavam dela, pois ela estava cismada com eles. Kath subiu as saias do vestido para conseguir acompanhar o mestre.  A casa do earl estava mais agitada, filhotes de cabra andavam entre  pessoas e por cima de algumas mesas na lateral do grande salão, o fogo era atiçado por um garoto loiro com quem Athelstan sentou  lado com Kath.

- Olá Bjorn!

- Athelstan.

- Onde estão seus pais?

- Lá dentro. Queriam falar com você. - o menino olhava curioso para a moça silenciosa a seu lado. - Quem é? - cochichou.

- Ah! Bjorn essa é Katherine, minha escrava, vai me ajudar aqui a partir  hoje .- falou calmamente.

- Olá- disse Kath, isso era o que sabia dizer, recebendo um olhar surpreso do garoto loiro.

Athelstan conduziu a moça até uma sala onde se encontrava o Earl e sua senhora.

- Olá, sou Lagertha.

- Olá. Katherine. - tocou no peito se indicando e sorriu o máximo que podia o que na verdade saiu no mínimo um sorriso de medo.

- Ragnar me falou sobre você. Eu insisti em dizer a Athelstan que eu não precisaria de mais servas, mas ele também não precisa de toda essa ajuda. Então é bem vinda. - falou sorrindo.

   Kath olhou para  o ex monge em busca de tradução. Ele assim o fez.

- Como agradeço a generosidade?- perguntou Kath e Athelstan respondeu paciente a moça.

    Kath agradeceu e fez uma reverência pequena a Lagertha que riu.

   Já no salão Athelstan sentou em uma mesa com Kath, Gyda, a filha mais nova de Ragnar, e Bjorn. As crianças faziam perguntas a Kath : De onde era? Como era onde morava? Acreditava-se nos deuses ou não. Athelstan que traduzia a olhou desconfortável, mas ela contornou a situação dizendo que sabia muitas histórias que o pai havia contado-a. A Jovem e curiosa Gyda pergunto.  ia tecer. Kath respondeu que não no tear. Somente com dois palitos compridos e lã e perguntou a menina queria aprender? A menina disse que sim e saiu da mesa. Minutos depois voltou com dois palitos flexível que ela suspeitou que seria um ramo e uma linha grossa de lã.  O tempo de Kath foi distraído com pequena Gyda, enquanto Athelstan conversava com outro homem mais a frente. Hora ou outra olha Kath e Gyda que mesmo sem  entender o que uma dizia a outra, sorriam.

    Kath depois de um tempo foi deixada sozinha, a menina teve de sair. Ragnar fazia um comunicado do qual ela não entendeu, mas pelo visto era sobre invasões no oeste. O islandês moderno permitia Kath entender algumas poucas coisas. Athelstan voltou a mesa onde estava Kath, o banquete havia começado, criadas serviam as pessoas, carne de aves, grão, pão, peixes salgados que  assavam em uma das lareiras ao canto do salão e uma bebida que ela supôs ser um hidromel. Os três homens da praia estavam no salão. O calvo e alto estava rindo com Ragnar o outro homem de cabelos loiros, porém soltos. O loiro estava deitado no colo de uma mulher e o ruivo encarava Katherine como um puma encara a presa.

- Isso é realmente desconfortável. - falou ela ao mestre.

- O que?

- Aquele homem de mais cedo, o ruivo, não para de olhar- disse kath escondendo- se como podia. Faltava poucos centímetros para ela encostar o nariz ao prato.

- Helik. Parece interessado em você. - comentou bebericando o Hidromel. O grande ruivo com trancinhas na barba ainda a olhava.

    Kath olhou com repulsa para o que Athelstan disse. E começou a comer o peixe salgado e seco com pão. Já no final da refeição Ragnar estava na mesa com a esposa, o calvo ,que chamara Athelstan de Padre , uma mulher com olhos grandes , Helga , parecia ser esposa desse viking . Kath observa- os em silêncio conversar. Distraída se assustou quando Helik sentou a seu lado no fim da mesa. O olhou seria e tornou a olhar para o mestre que conversava com uma jovem loira de rosto oval, o nome não lembrava direito, Thiri ou algo assim. O homem ruivo tocou o rosto de Kath que se esquivou. A mão do homem pousou na coxa e apertou, ela tirou com um tapa. O rosto do homem se alegrou numa risada e acariciou a cascata de cabelos marrons. Ela não sabia como reagir, se chamava Athelstan ou mestre no meio dos vikings. Mas tinha certeza que queria sair da situação.

- Padre , acho melhor cuidar de sua escrava. Se não ela terá outro mestre.- disse Floki debochado.

    Athelstan olhou para Kath que estava com uma súplica estampada no rosto.

- Katherine! -  chamou. Kath saiu o mais rápido que pôde daquela mesa. Helik  parecia ser um homem sedutor e perigoso.

    Kath e Athelstan saíram porta a fora para casa.

- Ele tem uma bela escrava.- comentou Helik com Floki.

- Ela tem olhos pálidos e antigos. Eles escondem algo.

***

 

     A primeira semana passou. Os dias foram duros e tortuosos na casa de Ragnar,  ela estava aprendendo a viver naquele mundo velho. Estava sendo ensinada por Lagertha e Siggy , uma das servas e amiga da condessa. Aprendia a cozinhar, cuidar de alguns animais, vigiar as crianças, tecer e outros serviços domésticos de sua nova realidade. Os corvos não haviam a abandonado. Pairavam sobre ela, algumas vezes, ela os alimentava e brincava, não eram de todo o mal e ela suspeitava que fossem sempre os mesmos dois corvos.Tinha dias que ia ao campo de treino ver o mestre treinar com machados , espadas e escudos. O conde ensinava bem, mas Athelstan ainda era lerdo nos golpes. Certa vez Lothbrok aplicou uma rasteira que fez Athelstan cair de cara na areia e Kath gargalhar.

- Parece que você está perdendo o respeito. - comentou Ragnar risonho.

    Athelstan ficou de pé tirando à areia grudada ao rosto. Kath agora tapava a boca com a mão, mas athelstan podia ver que seus olhos riam.

- Venha, por hoje está bom. - disse Ragnar jogando um machado para o rapaz.

   Os dois seguiram na direção de Kath encostada numa cerca acariciando um corvo pousado em seu antebraço.

- Está evoluindo.- comentou a mulher ao mestre. - Precisa ser mais rápido.

- Desde quando sabe sobre combates?- perguntou Athelstan.

- Não sei. Mas observo você. Tome, limpe o rosto.- disse ela dando-o um pano. E passando o animal para o ombro direito.

- Ela está certa.- disse o conde acompanhando os morenos a frente.

    Athelstan olhou rápido por cima do ombro para Ragnar que tinha um sorriso animado e convencido nos lábios

- Já pensou em ser uma escudeira?- questionou o ex-monge a escrava.

- Não. Mas gostaria de aprender arco e fecha. Seria necessário para caçar e me defender.

    Os dias corriam sem muita diferença, Kath estava aprendendo muito, mesmo sentindo que algumas servas a olhavam torto sem motivo aparente ou seria o corvo que às vezes a seguia. O que ela podia fazer se eles a seguiam e eram amistosos na maioria do tempo? Já sabia a maioria dos nomes das pessoas e os visitantes mais freqüentes. E em um mês já se comunicava bem com os demais.

    Ragnar, o filho e alguns outros vikings haviam partido numa missão diplomática a Suécia. Durante uma de suas lições de tear com Gyda e Lagerth, Kath recebeu de seu mestre um arco e uma aljava com flechas. Ele estava sendo uma boa pessoa, não um dono de escravo comum que existia em Kattegat: Cruéis e abusivos. Ele não a tratava como uma escrava, porém esse titula ainda a perturbava. Os jantares ocorriam normalmente, pessoas conversando e às vezes cantando. Kath sempre ia onde Athelstan fosse. Não por ser o que deveria fazer, mas sim porque fugia de Helik.

     Certo dia, enquanto o conde e seus homens ainda viajavam, ocorreu uma epidemia na vila. Pessoas estavam adoecendo, febre alta e fraqueza. O chão da casa do Earl estava cheio de doentes em colchões improvisados com peles. Kath e Athelstan ajudavam Lagertha incansavelmente com os doentes, principalmente por Gyda e Siggy e sua filha Thiri estarem doentes.

    - Vá comer um pouco senhora. Eu cuido do restante. - disse Kath. Lagertha estava cansada e vigiava incessantemente o sono da filha.

    A menina estava com o mesmo estado, ainda tinha força para falar e comer, mas a febre persistia em ficar levemente alta e constante. Kath colocava um pano frio e úmido na testa da garota. Depois de um tempo e já alimentada a mãe voltara para ver a filha e os demais doentes.

    Athelstan tremia de febre. Kath estava ajoelhada ao seu lado com um prato de ensopado de carne. Ele não comia a um dia inteiro, os olhos azuis estavam entreabertos vagando pelo teto e rosto da escrava. Estava pálido, sem forças para sentar, os panos frios pelo corpo do rapaz não estavam surtindo muito efeito. Katherine passou a mão no rosto barbudo do homem, sua pele emanava calor. Um calor doentio.

- Athelstan , você precisa comer.- sussurrou ao mestre enquanto tentava empurrar o caldo grosso entre os lábios ressecados dele. - Por favor, faça essa força.

     Kath percebeu que essa epidemia estava matando muitas pessoas em Kattegat. Quase todos os dias naquela semana havia dois ou três corpos. Piras funerárias sempre eram acesas na praia. Kath não gostava de ver, era triste demais. A doença não parecia ser uma perigosa como o ebola ou peste negra, se tivessem um hospital ou medicamentos como aspirina e antitérmicos. Foi aí, no exato momento em que limpava a boca de Athelstan que ela se lembrou do kit que Magnus a dera. Lembrar do irmão era dolorido e a saudade inevitável. Sonhara com ele e sua família quase todas as noites naqueles meses.

- Agüente firme.- falou baixinho. Mais para si do que para Athelstan.

     Kath deixou o prato pela metade e saiu porta a fora a passos rápidos. Quase trotando abriu a porta de seu casebre. Kath havia escondido a bolsa embaixo de sua cama que ficava na diagonal da de Athelstan. A bolsa tinha uma fina camada de poeira por cima do couro, Kath abriu o kit. Entre gases, esparadrapos e um termômetro de vidro,  encontrou uma cartela pela metade de comprimidos para febre que agarrou entre os pequenos dedos. Agradeceu silenciosamente por eles ainda estarem lá, mesmo sendo somente três comprimidos.

    Kath retornou meio ofegante a casa de Ragnar por conta da caminhada rápida. Athelstan estava na mesma posição em que o deixara, o prato já não estava mais lá ao lado de sua cabeça. Kath pegou uma faca, amassou o comprimido até virar pó e diluiu o pó em um pequeno copo com água; pensou que assim o corpo de Athelstan absorveria mais rápido. Se abaixou ao lado do mestre e segurou sua nuca para elevar a cabeça. O homem a olhou confuso.

- Beba tudo. Vai melhorar - falou pousando a borba no copo em seus lábios.

- O que é isso?- perguntou com a voz áspera por pouco falar.

- Remédio. Beba - disse mais severa. E ele assim fez.

   Depois de algumas horas Athelstan suava muito a ponto de seus cabeços grudarem na testa, estava mais desperto. Para Kath aquilo foi um bom sinal. Lagertha se ausentou para fazer um sacrifício a Odin e deixou a casa aos cuidados de Siggy que já estava melhor, porem estava  abalada pela morte da filha.

Mais tarde naquela semana, com o fim da epidemia, as mortes abalaram a condessa principalmente por sua única filha ter morrido. Num dia cinzento na praia, piras fúnebres foram acessas e o corpo da jovem Gyda pereceu entre as chamas. A chegada do conde e do primogênito foi sem alegria dos abraços da volta, pois a peste levara único brilho, sua filha.


Notas Finais


até amanhã!


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