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História Outro: Him - Fique longe de mim


Escrita por: jimineutron

Notas do Autor


Eu demorei mais do que o esperado, sinto muito por isso, prometi que voltaria com um pouco mais de frequência, mas nos últimos meses não pude :(

Capítulo 5 - Fique longe de mim


Fanfic / Fanfiction Outro: Him - Fique longe de mim

Acordei com a melhor disposição desde que tinha vindo a este mundo. É muito difícil que eu acorde com vontade de sair da cama, geralmente levanto, olho as horas e volto a esconder o rosto debaixo da almofada, arrependendo-me de ter saído da cama quando assim o faço, mas dessa vez não foi o caso.

Abri os olhos e fiquei um tempo olhando para o teto antes de me levantar, de certa forma era estranho, os músculos do meu rosto estavam aos poucos se acostumando com aquele novo formato — o do sorriso —, e eu ainda achava que a felicidade era uma porção deslocada em minha vida. O ponto é não se deixar levar, quer dizer, não se vangloriar antes do tempo, não devia pensar muito no sorriso senão ele iria embora.

Como Namjoon tinha comentado sobre o medo da felicidade desaparecer, no dia anterior, sem contar que não tinha nada entre mim e Hoseok, ele só ia me levar para um passeio tão estranho quanto ele, e eu ia fingir que estava interessante e que estava me importando super com tudo aquilo. Peguei meu celular e chequei o histórico de ligações.

Hoseokie.

10 de Outubro. 1:32 da manhã

 

Eu tinha de verificar pois, na pior das hipóteses eu podia simplesmente ter imaginado tudo aquilo, e ele podia nunca ter me ligado. Quer dizer, ninguém nunca me ligou, nem mesmo quando eu namorava o infeliz me ligava, mesmo dizendo me amar, então por que agora, um garoto que não significava nada, iria simplesmente ligar para mim e mostrar que se importa e que quer sair comigo?

Fiquei pensando, quando finalmente vi que estava na hora de levantar — o celular apitava alto ao meu lado, hoje era dia de expediente —, por que Hoseok iria achar que eu não ia aparecer hoje no horário, se é justo o dia em que trabalho no restaurante? Então, lembrei-me de que pela manhã ele está na faculdade, não nos vemos nesse horário com frequência.

Faculdade, algo que eu deveria fazer. Ri de mim mesmo com o pensamento, eu não tinha nem onde cair morto, quanto mais dinheiro para pagar uma faculdade do que quer que fosse.

Pensando nisso eu me lembrei, Jung Hoseok, sua família tem um restaurante, ele faz faculdade, um garoto que parece educado e que tem um futuro, o que ele iria querer com um perdido como eu? Eu não tenho perspectivas e nem um futuro pelo qual ansiar, eu acordo para viver, ver no que vai dar, dizendo em palavras mais claras, eu nunca sei o que vou fazer no dia seguinte, não consigo nem imaginar por quanto tempo mais eu iria suportar existir dessa maneira. 

Esse é o tipo de pensamento que faz com que, quando uma pessoa é derrotada, se pergunte por que pessoas boas estão ao seu lado, afinal, pessoas boas gostam de ter pessoas que te ajudam a crescer ao seu lado, o que eu posso oferecer a Hoseok sendo o falhado que sou? Algumas poucas letras que não são  tão bonitas, uma pizza no fim de semana e meu mau humor cotidiano?

É tudo o que tenho e que tenho certeza de que me pertencem, e nenhuma dessas coisas se encaixam — nem de longe — no perfil de garoto que Hoseok é, e muito menos o que ele merece ter ao seu lado.

 

07:10

 

Se eu passasse mais 15 minutos na cama, chegaria atrasado no trabalho. Eu nunca tinha me atrasado, no entanto naquele momento desejei deitar-me e nunca mais sair, atrasar hoje, sexta e todos os outros dias pelo resto da vida. Engraçado como, quando a realidade nos atinge no peito, tudo parece ficar mais claro, e com claro eu digo cinza.

Deitei na cama e me cobri novamente com aquele farrapo velho que eu sequer podia chamar de lençol. Pelo menos era felpudo e quente.

Meu celular vibrou.

 

Se ele não estivesse ao lado de meu rosto eu nunca teria deslocado meu braço para olhar. E talvez, quando me desse conta, poderia ter me arrependido terminantemente.

[07:12] Hoseokie: Bom dia, hyung!

[07:12] Hoseokie: Espero que esteja acordado e se preparando para ver o sol brilhar.

[07:12] Hoseokie: O sol, nesse caso, sou eu!

[07:12] Hoseokie: Foto.

Eu nunca tinha recebido tantas notificações em minha vida, antes mesmo de abrir já estava estressado com o vibrar, e estava preparando-me para mandar, quem quer que fosse, para o inferno. Quando digitei a senha do celular e li as mensagens no Kakao, era como se o dia tivesse nascido nublado e o sol estivesse começando a se espreitar entre as nuvens, jogando uma fagulha de brilho em minha janela, certeiro, como se tivesse sido direcionado.

Observei a mensagem de Hoseok e abri sua foto. As covinhas.

Eu não podia dizer que aquilo era imperceptível porque na realidade era a primeira coisa que eu reparava quando ele sorria, quando  olhava para ele. Elas me distraíam, me tiravam de sintonia.

Por um momento, soltei o ar que eu sequer percebi que estava prendendo.

 

[07:15] Suga: Vai estudar, Hoseok!

[07:15] Suga: Pare de pensar em mim!

[07:15] Suga: Ao contrário de você, estou me arrumando para ir trabalhar.

Joguei o celular na cama e me levantei, alcançado minha toalha e fui cantarolando para o banheiro.

Min Yoongi está cantarolando. Eu só podia estar louco.

Tomei o mais demorado, relaxado e gostoso banho de minha vida, nunca reparei que a água gelada da minha casa era tão gostosa daquele jeito, e nunca pensei que lavar meus cabelos fosse tão relaxante. Enquanto sentia as gotículas molharem meu corpo e nem me importando com os arrepios em minha pele, por ter acabado de acordar e a casa não ser nem um pouco climatizada e nada preparada para o inverno que estava vindo, me permiti encostar a cabeça no azulejo gelado do banheiro, fechando meus olhos.

Não sabia em que estava pensando, mas sabia que era em algo que, se me desse conta, provavelmente me condenaria imensamente. Tenho uma horrível mania de me condenar por coisas boas em minha vida, devo estar tão acostumado com o sofrimento que faço questão de repelir qualquer sensação boa que possa tomar meu corpo ou, nesse caso, qualquer pessoa boa que pudesse trazer algum tipo de sentimento bom para mim.

Fui até a cômoda com as roupas e puxei uma calça jeans, que tinham alguns rasgos discretos no joelho, coloquei uma camisa qualquer por dentro do casaco preto e branco da Adidas, não era tão caro quanto parecia, incrivelmente as coisas em Daegu são bem baratas, se você souber onde comprar. Calcei o meu all star e peguei o celular, sucumbindo ao impulso de dar uma olhada na tela. 

Tinha de admitir que tinha ficado um pouco triste por não ter nenhuma resposta de Hoseok, isso me faria extremamente egoísta porque o garoto estaria deixando de prestar atenção na aula para falar comigo, no entanto, por um lado era bom que ele tivesse seguido minhas recomendações de parar de pensar em mim. Aquilo era bom. Não era?

Peguei minha carteira e meu celular e coloquei no fundo da calça depois de bater a porta.

Às vezes, quando experimentamos um pouco de felicidade, ou qualquer nome que se possa chamar o sentimento que te faz ver pássaros a cantar no meio de um vento de prováveis 10 km/h, o mundo parece diferente, na verdade eu sempre soube que o mundo fica diferente quando alguém entra em sua vida.

Fosse para o que fosse, uma faxineira quando é trocada numa grande casa, um jardineiro novo regando antigas flores, cada mudança de ares influencia diretamente no ambiente, e mesmo que eu dissesse que nada acontecia entre mim e Hoseok, o que de qualquer forma era a verdade, não podia afirmar também que não sentia como se ele mudasse minha concepção de mundo, eu estava começando a ver cores onde antes não enxergava, e isso tem sua beleza.

O gato preto da senhorinha do 104 seguiu-me até que eu cruzasse a primeira esquina em direção ao restaurante, eu não tenho nada contra gatos, na realidade eu adoro todos os tipos de animais, porém tenho algo especial por cachorros, eles conseguem compreender e absorver nossas emoções, por melhores ou piores que sejam, nos animar ou ficar tristes conosco. Eu sei disso porque quando morava com meus pais eu tinha um pequeno Poodle, ao qual sempre que eu estava com aqueles pensamentos aleatórios e dolorosos, o animal deitava-se aos meus pés, e incrivelmente tínhamos a mesma expressão.

Alegre ou triste, ele parecia me passar força ou se satisfazer por estar perto de mim, e aquilo era imensamente satisfatório, a forma como ele parecia me compreender silenciosamente, se importar quando mais ninguém fazia o mesmo.

Sorri para meus pés quando pensei sobre isso. É bom pensar em algo bom, para variar as coisas assustadoras que se passam em minha mente, apesar de que estar sorridente dessa forma ainda era bastante assustador para alguém como eu.

Passei pela porta do restaurante e o sininho fez seu barulho característico, junto a passos rápidos de alguém correndo em minha direção, abri meus braços, já me preparando para uma provável garotinha pular em meu colo, como sempre fazia.

— Oppa! — gritou quando me viu e se atirou em meus braços, peguei-a no ar e girei rapidamente.

Sentia como se Dawon fosse a minha própria irmã ou qualquer coisa parecida com isso, na maior parte do tempo, não só pelo tempo que passava com ela por trabalhar lá, mas também pelo tanto que eu a estimava.

— Já estava com tantas saudades de mim assim, baixinha? — perguntei, apoiando-a em um lado só de meu corpo, a garota concordou com a cabeça, fazendo os cabelos balançarem em seu rosto.

Eu ri e ela me abraçou, escondendo seu rosto entre meu ombro e pescoço, um pouco antes de se mexer para descer.

Saiu correndo quando coloquei-a no chão, e eu me sentei numa das cadeiras do balcão para observar um pouco antes de tocar.

— Eu tenho algo para você. — Um rostinho escondido pelo tamanho, com apenas a cabeça com a cabeleira escura à mostra, falou para mim e me indicou um pedaço de papel branco em sua mão pequena, pendurando-se no balcão em seguida, provavelmente, para checar minha reação.

— O que é isso? — questionei, olhando o outro lado do papel para ver se recebia alguma explicação do porquê de ela estar me dando um papel com vários números que para mim pareciam aleatórios.

Ouvi suas risadinhas e sorri, pelo menos ela estava se divertindo.

— É o número do meu irmãozinho. Irmãozinho não, ele é grande assim — Dawon disse e começou a pular alto para que eu a visse pulando, afastou-se um pouco da bancada e tentou me mostrar o tamanho do Hoseok.

Coloquei os cotovelos na bancada e apoiei meu queixo em minhas mãos. Aquilo era imensamente adorável, aquecia meu coração.

— É mesmo, é? Ele é grande desse tamanho? E por que você está me dando o número dele? — perguntei e suas bochechas ficaram vermelhas, queria ouvir o que ela tinha a dizer e ela deu a volta, tentou subir numa cadeira ao meu lado e eu a ajudei para que não caísse e se machucasse.

Quando ela se sentou, me chamou e pediu para que eu aproximasse a orelha, como se quisesse me contar algum segredo e eu concordei.

— O meu irmãozinho tinha pedido para que eu dissesse o seu nome e eu disse que era segredo, porque eu não sabia se você queria que eu dissesse seu nome para ninguém. Daí ele insistiu e eu falei, ele começou a perguntar se eu sabia várias coisas, disse que queria ser seu amigo e que você parecia legal. Eu acho o Yoongi Oppa muito legal, por isso falei para ele tudo o que eu sabia, porque queria que meu irmãozinho te achasse tão legal quanto eu acho  —  disse e se afastou, mexendo as pernas para frente e para trás, com seus pés muito longe do chão.

Baguncei seus cabelos.

— E o que isso tem a ver com o número que você me deu? — Segurou suas próprias mãozinhas e eu sorri.

— Eu achei que... Já que eu tinha dito algo sobre você para o meu irmãozinho, eu podia dizer alguma coisa dele para você também. — Deu um pulo rápido da cadeira e foi correndo porta adentro novamente.

Sua mãe saiu logo em seguida e eu me espreguicei, me preparando para o trabalho do dia.

— Bom dia, Yoongi-ssi! — A senhora Jung me saudou quando entrou e eu sorri para ela.

— Bom dia, Ahjumma! — respondi e ela virou-se de costas para mim, mexendo na pia e preparando-se para receber os pedidos, jogando as primeiras laranjas no espremedor enquanto eu me sentava no banquinho de frente para o piano.

Admirei o número por algum tempo, escrito com aqueles garranchinhos da garota: 160425091230. Sorri para os números — já conhecidos por mim —, e fiquei pensando por algum tempo como aqueles números pareciam que em breve estariam na ponta de minha língua.

 

FA# SOL# DO#

FA# SOL# DO#

FA# SOL# DO#

 

Comecei com a mesma de sempre, aproveitando a minha onda de felicidade para passar meus sentimentos para as teclas, deixando que elas me devolvessem na mesma moeda a felicidade, ou o que quer que fosse que eu estivesse sentindo no momento, de volta.

Quando meu expediente terminou eu continuei no restaurante, e quando me dei conta já estava próximo da hora do almoço, e pelo que a Dawon havia dito, era mais ou menos a hora em que Hoseok deveria chegar. Claro, acharia estranho o fato de eu estar no restaurante, uma vez que deve ter se esquecido a minha alternância de dias, mas ainda assim deveria ter chegado.

Talvez ele tivesse ido direto para a barraca de Odeong ou qualquer coisa.

— Deve estar andando com o Park, como sempre. — A dona do restaurante disse, pela terceira ou quarta vez aquela semana, fazendo-me ficar com a pulga atrás da orelha acerca de quem era aquele que ele tanto passava um tempo com.

Fiz uma negativa com a cabeça e fui caminhando até a porta, buscando o ar frio do Outono como se ele pudesse me fazer recuperar o ar que eu não sabia estar segurando em meus pulmões.

Enquanto andava, chutando uma e outra folha amassada e caída no chão, puxei um dos meus cigarros que já estava no bolso da calça há tempos, coloquei entre os lábios, do lado direito, deixei ele preso entre meus dentes e me pus a pensar a mesma coisa de antes de sair de casa: O Hoseok é um garoto incrível, além de ter mais oportunidades, ser bonito e sociável, ele é simplesmente o garoto perfeito, se fosse olhar assim não tão a fundo, mas tentando se admirar com a verdade.

Enquanto que eu, mesmo que você estivesse com um pote de corretivo tentando mascarar a verdade, tinha como saber pelas expressões em meu rosto, que sou um caso perdido, apenas alguém que a maré leva ocasionalmente, e que mesmo tentando muito escalar o poço em que se encontra confinado, parece sempre voltar para o mesmo lugar.

Tento não ter pensamentos como esse frequentemente, até porque normalmente não tenho muito com quem me comparar, mas é muito difícil mudar a visão que temos de nós mesmos, ainda mais se ela permanecesse por um longo espaço de tempo.

Continuei meu caminho, dando tranco inúmeras vezes, sob o pensamento de voltar por onde eu tinha vindo e abandonar aquela ideia tola de ir atrás dele. Quer dizer, ele é incrível demais para ser de verdade. Incrível demais para ser meu.

Mas, infelizmente — ou felizmente —, minhas pernas não acompanhavam meu raciocínio, e antes que eu desse por mim lá estava eu, na entrada do parque onde eu costumava observar as pessoas se divertindo, vi Hoseok acenando. Tenho de admitir, a sensação de ter alguém esperando por você, quer dizer, alguém que realmente parece querer estar com você é... Reconfortante.

Caminhei em direção a ele, mas não precisou muito, Hoseok veio saltitando e meio trôpego, achei que ele ia pular em mim, me derrubar ou algo. Tentei não esboçar um sorriso muito grande quando ele sorriu para mim, mas era impossível.

A presença dele me dominava.

— Você podia fingir, pelo menos um pouquinho, que não estava muito ansioso para eu chegar — disse para irritá-lo, quando chegamos perto um do outro e ele apenas ficou parado, me encarando e sorrindo.

— Para quê? Você sabe que eu estava pensando em você de todo modo.

— Eu falei para você parar de pensar em mim e prestar atenção na aula. —  Inclinou sua cabeça para o lado e colocou os cabelos para trás, balançando-a depois, de um jeito que eu achei imensamente charmoso.

— Eu deveria ter te ouvido? Sinto que não seria capaz de parar de pensar em você, mesmo que eu quisesse. — falou e saiu andando, não sem antes sorrir como se dissesse “lide com isso”.

Aquela era a graça da coisa. Eu não estava acostumado com esse tipo de declaração escancarada, eu nunca saberia o que dizer enquanto ele estivesse falando essas coisas tão abertamente para mim. Apenas corei e me permiti sorrir, a coisa que Hoseok mais me fazia fazer.

— Você não vem? — perguntou, já um pouco longe, tirando-me de meus devaneios e me fazendo apertar o passo para acompanhá-lo.

— Então... Para onde estamos indo? — Enquanto comíamos um Odeong e andávamos em direção a algum lugar, tentei obter a mesma resposta que ele não tinha me dado ao telefone.

— Você parece se dar bem com crianças, como eu falei antes, então, eu achei que você pudesse conhecer o meu trabalho.

— Você trabalha?

— Mas, é claro. Eu não tenho um salário ou algo assim, como você, mas meu trabalho não é pago com isso, é pago de outras formas — respondeu e eu imaginei como nos desenhos animados.

— Como você é pago, com sorrisos? — indaguei e ri, ele riu junto e concordou, balançando a cabeça afirmativamente.

— Exatamente.

Depis de falar, Hoseok parou bem em frente a um lugar que eu já tinha visto inúmeras vezes, já tinha passado na frente, mas sequer entrei, só imaginava de fora o quão doloroso deveria ser a atmosfera do interior de um lugar como aquele, exatamente por causa disso eu nunca tinha entrado. Mas, cá estávamos nós.

Hospital Infantil do Câncer de Seul

 

Lia-se em letras garrafais na frente do imponente prédio que se erguia de frente para a rua, eu não podia sequer imaginar o que Hoseok fazia, porém, fiquei deslumbrado com a grandeza e magnitude da construção, um pouco antes de Hoseok agarrar minha mão e começarmos a andar juntos.

Engoli em seco.

— Hoseok, o que você faz aqui? — perguntei e ouvi algumas pessoas passarem por nós e dizerem “palhaço” “Oi, hope!” “Esperança”, e não entendia exatamente a que eles se referiam.

Paramos bem em frente a uma porta e ele puxou do bolso uma chave, destrancou a porta, e antes mesmo que eu visse o interior da sala, me perguntei se por um acaso ele estava cursando medicina e era interno. A sala tinha um sem número de acessórios, Hoseok pegou uma máscara de cavalo — um cavalo muito fofo por sinal, azul com um nariz e coração — que cobria sua cabeça mas deixava seu rosto à mostra, colocou-a e sorriu, olhando para mim.

— Eu sou o Palhaço Esperança. E este é o meu amigo Mang — Seok disse e apontou para a máscara de cavalo, virando de costas e balançando a cauda que o cavalo tinha pendurada lá e eu ri, segurando-a e balançando.

— É sério? — Não que eu não estivesse acreditando, era apenas... Adorável. Ele balançou a cabeça, dizendo que sim e me empurrou um Kigurumi de Urso, ou era um Poodle? Eu não sabia muito bem o que era aquilo, mas neguei com a cabeça.

— Ah, não, eu não vou usar isso!

Quando dei por mim, eu já estava vestido naquela coisa, e Hoseok também estava vestido na roupa que complementava a máscara, o problema era que eu não fazia ideia do que fazer com aquilo, no caso, eu não fazia ideia do que fazer vestindo aquilo. Eu não costumo fazer coisas como essas e isso estava óbvio. Minhas pernas começaram a tremer.

— Hoseok, eu não acho uma boa ideia. Eu nunca fiz nada parecido, e eu nem sei o que fazer! — falei, quase tão desesperado quanto minha voz aparentava.

Ele segurou minha mão e, por um momento, pisquei enquanto contemplava nossas mãos juntas.

— Apenas seja você! As crianças estão te esperando.

Então eu entendi o que tínhamos de fazer quando ele abriu a porta. A sala estava repleta de crianças de 5 a 10 anos, todas debaixo de lençóis assistiam a uma aula sobre alguma coisa, provavelmente os médicos não queriam deixá-las sem estudar, com o pretexto de que elas precisavam estudar para o futuro. Achei aquela ideia sensível e muito boa, nada como trazer coisas que elas costumavam fazer no dia-a-dia, para dentro do hospital e livrar aquele fantasma da morte que parecia rodear tudo e todos.

Quando entramos, as crianças começaram a gritar o nome de palhaço de Jung e eu tinha de admitir, era adorável. Fiquei encostado um pouco a porta, observando o que ele iria fazer.

— Oi, crianças!

— Oi, Palhaço Esperança! Como vai o seu amigo Mang hoje? — Elas perguntaram em uníssono, como se fizessem aquela pergunta sempre. Arrancaram de mim um sorriso.

Depois das apresentações, Hoseok começou a fazer coisas aleatórias para elas, na verdade ele colocou primeiro uma música e dançou para elas, que pareciam animadas e extasiadas. Na verdade até eu mesmo fiquei, ele era incrível na dança, não só seus movimentos eram incríveis, mas ele parecia brilhar enquanto se movimentava, como se seu corpo inteiro interpretasse cada nota, respondesse a elas.

Acabei percebendo que aquela era a marca de Jung Hoseok em minha vida, fazer coisas que eu nunca vi ninguém fazendo, e me pegar fazendo coisas que eu nunca imaginei que me envolveria com.

— Aquele é o Palhaço Açúcar que você tinha dito que viria hoje nos fazer uma visita? — Uma garotinha, segurando um ursinho que parecia muito com o meu Poodle que eu havia deixado em Daegu, perguntou. 

Ela tinha curtos cabelos castanhos, uma franja que chegava a altura de suas sobrancelhas, usava um óculos retangular roxo que deixava seu rosto extremamente inocente e adorável. Aproximei-me sorrindo para ela quando Hoseok sorriu para mim. Me sentei num banquinho ao lado de sua cama.

— Eu sou o palhaço açúcar, em que posso ser útil? — perguntei e sorri, a garota simplesmente começou a gargalhar e apontou para mim.

— O sorriso dele é engraçado! — Aquilo foi tudo o que eu precisei para sentir meu coração aquecido até a próxima vida.

— Senhor Jung, o senhor pediu para que trouxessem um violão? — Uma enfermeira entrou na sala e Hoseok levantou rapidamente, caminhando até a porta, pegando o instrumento e levando até mim.

— O que eu deveria fazer com isso? — Era uma pergunta um pouco idiota e meio óbvia, mas eu estava nervoso.

— Eu ouvi como você toca piano, pensei que tocasse outros instrumentos tão bem quanto — Hoseok disse e sorriu para mim, esticando seu braço para que eu pegasse o instrumento.

— Canta, canta para nós, sorriso de gelatina! — A garotinha gritou para mim e me olhou sorrindo, segurando aquele urso. Fiquei observando ela por um tempo e pensando, o que eu deveria fazer? Ela está sorrindo!

Quando dei por mim, estava sentado num banquinho, tocando uma música qualquer que aprendi na minha infância para crianças. Enquanto fazia aquilo, eu estava pensando em duas coisas: a primeira delas era que eu nunca imaginei que algum dia entraria num hospital para tocar para crianças, nunca pensei que pudesse ser útil para alguém, além de mim mesmo, sem contar que eu nunca esperaria fazer aquilo daquela forma. A segunda coisa era em Hoseok.

Enquanto eu cantava para as crianças mais próximas, do outro lado da sala ele dançava, cantava ou se sentava e contava histórias para garotinhos com olhos curiosos e mentes abertas e atentas, captando cada detalhe. Enquanto ele se movia, eu podia inúmeras vezes desviar minha atenção para os movimentos de seu corpo e permitir-me admirar sua existência. Fiquei pensando, como poderia caber tanta beleza e bondade, em alguém tão simples, como alguém conseguia fazer tanta coisa boa, apenas existindo e provavelmente, sem se dar conta da grandeza dessa existência?!

Eu estava admirado com Hoseok, e com o que ele foi capaz de fazer comigo em apenas três dias. Quer dizer, eu costumo viver com uma máscara social, passando para as pessoas que sou uma pessoa boa, confortável, tranquila de se conviver e o mais importante, sociável, que parece se importar com todos ao seu redor e que fica feliz com a simples presença das pessoas em sua vida.

Quando na verdade, a cada passo que eu dava em direção às ruas, queria voltar correndo e me esconder, de tudo, do mundo, não queria que ninguém me descobrisse. Talvez eu tivesse medo de que soubessem que na verdade sou desprezível, ao pé de querer que eles soubessem logo de uma vez. Vai entender a mente humana.

Mas, pensando sobre aquilo naquele momento, cantando a música da borboleta e vendo Hoseok rir como uma criança, olhar para mim vez ou outra e sorrir ternamente, como se eu fosse o homem mais lindo do mundo, a melhor companhia do planeta e não... pensando agora, o contrário. Eu me sentia como um livro e, pouco a pouco, via o ruivo virar minhas páginas.

— Hoseok, você veio hoje! E trouxe um amigo! — Ouvi uma voz conhecida e por um momento, mesmo que não tivesse deixado claro, não tivesse deixado transparecer ao continuar tocando a música, cruzei até os meus dedos do pé para que não fosse quem eu pensava. — Min Yoongi? — A pessoa chamou e Jung parou de dançar, as maçãs do rosto vermelhas, as mãos nos joelhos tentando recuperar o ritmo normal de respiração.

— Oi, Jimin! Vocês se conhecem? — O garoto baixinho, com uma roupa verde de enfermeiro riu com escárnio, olhando para mim com olhar de desprezo e para Hoseok, com um misto de pena e superioridade.

— Se eu conheço esse traste? Com certeza. E inclusive, você deveria ficar longe dele. Esse garoto não presta! — Ele disse e eu parei aos poucos de tocar as notas. Jung se endireitou e viu que minha expressão estava mudando aos poucos, cruzou os braços para Park.

— Desculpe?!

— Esse garoto é uma pessoa horrível, Hoseok. Desalmada, desatenciosa, egoísta, não merece que ninguém fique ao seu lado, merece que morra ao relento, sem que ninguém se preocupe com sua mera existência. O pobre, ainda odeia que tenham pena dele, pois digo que é o máximo que dá para se ter. — Aquelas palavras foram dolorosas, até mesmo para mim. Já reparou como tudo o que é verdadeiro dói pra burro?

Me levantei de súbito, deixando o violão aos pés da cama da garotinha que eu estava ao lado, e ouvi-a chamando-me uma última vez, tentando me pedir para ficar, mas não deu certo.

Park Jimin fora o meu último namorado. Se foi o primeiro ou não, não sei dizer, não me lembro, o que eu lembro é que tive um relacionamento conturbado com ele, eu não conseguia demonstrar meus sentimentos com clareza, não sabia diferenciar demonstração de afeto e melação exagerada, por isso quase nunca falava coisas para Jimin. Tinha ideias para ser romântico, mas nunca o era.

Para falar a verdade, eu não tinha forças sequer para isso, Jimin chegou no ápice dos meus conturbados problemas emocionais, eu tinha acabado de chegar de Daegu e estava apenas os farrapos da existência, tentando me reconstruir. Admito que tinha sido um mau namorado, mas ele também não tinha sido o melhor dos anfitriões, não me ligava, não procurava saber como eu estava, e quando eu dizia que estava psicologicamente mal, ele ria com escárnio e dizia que era frescura, ou mesmo uma desculpa mal contada minha para não querer vê-lo.

Depois que eu tinha tentado com o Park, não tentei com mais ninguém, pois aquelas mesmas palavras de a pouco, ele me falava algumas espaçadas com frequência, me fazia achar que eu não era suficiente, e foi assim que eu me senti por muito tempo.

Agora, depois de tudo tendo passado, vê-lo novamente foi uma dor enorme para mim, era como ter todas as antigas feridas se abrindo novamente, sem contar na dor que suas palavras traziam a tona, mesmo que eu quisesse, não conseguiria esquecer o momento em que ele disse tudo aquilo, fosse anos atrás, ou mesmo agora.

Saí do hospital correndo em direção a rua. Por incrível que parecesse, o sol já tinha há muito se posto quando cheguei ao lado de fora, tentava entender como era possível que tivesse passado tanto tempo, mas como entender o tempo que passa voando quando fazemos algo que gostamos?

Tentei sorrir mas não vinha nada, eu só conseguia ficar triste pela minha existência miserável. Quando estava me encaminhando para atravessar a rua, senti uma mão tentar puxar o meu braço quando as portas do hospital se bateram de súbito.

— Yoongi, espere! — Ouvi a voz de Hoseok, tentando agarrar meu braço e conseguiu.

— Hoseok, vá embora! Me deixe sozinho! — falei alto, com o tom de voz um pouco afetado.

— Por quê? Por que você se importa com o que o Park tem a dizer? Ele é um idiota! Pare com isso e venha aqui — disse e eu comecei a rir.

Estava tão magoado que nem percebi o sarcasmo no riso e na voz.

— Você não ouviu ele, Hoseok? Eu sou um ser humano desprezível, eu tentei te dizer isso aquele dia na pista de skate, eu tentei te dizer isso na barraquinha de Odeong, eu venho tentando te mostrar isso desde o dia em que você resolveu que sentir pena de mim seria legal!

— Pena de você?!

— Sim, por que mais você estaria aqui? Aquele discurso sobre eu não precisar fumar, sobre eu precisar de ajuda. Eu não quero sua ajuda! — gritei e puxei meu braço com força, atravessando a rua com tudo, sem me incomodar se estava vindo algum carro ou não.

Todo o resto foi tão rápido quanto um frame de filme, Hoseok veio atrás de mim e me puxou com tudo pela cintura, fazendo nossos corpos se chocarem com um baque surdo e um pouco doloroso, colou nossos lábios, deixando meus braços suspensos no ar, sem reação ao que estava acontecendo, ele os abaixou e eu me entreguei.

Era exatamente como eu me lembrava, calmo e doce, aconchegante como um lar, sua língua quente esquentava todo o meu corpo quando tocava a minha sutilmente, e mais ainda, deixavam-me numa zona de conforto da qual eu me sentia protegido. Quando nos braços de Jung, sentia que nada poderia me tocar, nem a dor nem a morte, nem tudo de mau que parecia me sugar por todos os lados.

Quando o beijo se findou, Hoseok me abraçou, com a mão direita afagando meus cabelos desbotados, minha testa estava encostada em seu ombro e de começo não quis me entregar ao momento, então ele afagou com mais precisão e eu relaxei. Relaxei porque precisava de alguma coisa sã em minha vida, para variar das loucuras que me cercavam. Eu relaxei porque precisava dele.

— Por que você faz isso consigo mesmo? Por que você afasta as pessoas e age como se fosse uma bomba relógio capaz de explodir ao mínimo toque de qualquer um? Eu quero que você entenda que, não é só porque você tem problemas que eu vou gostar menos ou mais de você por isso, todos temos estigmas, eu vou continuar gostando de você no mesmo tanto se você se abrir e me mostrar os seus. E quando eu digo que quero te ajudar, não é por pena, Min Yoongi, eu quero te ajudar porque eu quero fazer parte da sua vida. Eu quero que você confie em mim, entendeu? — disse e eu senti que as lágrimas iam me invadir como uma enxurrada, como só acontecia quando eu já estava desesperado e miserável.

Abracei forte o pescoço de Jung e ele me apertou em seus braços.

— Hoseok eu sou... Uma pessoa horrível. Eu tenho manias horríveis, pensamentos horríveis, falo coisas horríveis. Eu sou apenas uma máscara, uma farsa, algo que ninguém teria o prazer de conhecer e nem se dariam ao trabalho de apreciar. Eu não sou nada, nada que mereça um pouco do seu tempo e... — Calou-me com seu indicador quando se afastou de mim e me olhou nos olhos.

— Ei, apenas eu escolho com o que eu gasto meu tempo. — E me beijou, calmo e terno novamente, como se eu fosse um animal abandonado e ele quisesse me dar um lugar para morar. E tinha me dado.

Hoseok acariciou meu rosto depois de um tempo e eu apreciei seus olhos brilharem, as maçãs do rosto que ficavam altas quando ele sorria, as covinhas que mais pareciam prontas a me engolir, ou talvez valorizar e validar minha existência com a profundidade delas. Beijou minha testa.

— Que tal se você me pagar uma pizza? — perguntou e eu comecei a rir. Rir mesmo, frouxo e aberto, como eu não fazia há tempos, nem com a Dawon.

Me sentia vivo, sentia que, por um momento, poderia tocar o céu. Sorri para ele.

— Só se formos para minha casa e pedirmos lá. Eu estou cansado, quero me deitar. — Ele entrelaçou nossos dedos.

— Como queira.

E começamos a andar em direção a minha casa, caminhando lado a lado, como se o lugar dele sempre tivesse sido ao lado meu.


Notas Finais


Feliz dia dos namorados, espero que vocês tenham um dia bom! <33


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