História Paciente 09. - Capitulo 10.

- Tem certeza disso? – Jimin perguntou, claramente nervoso.

- Certeza. – Jungkook o respondeu. – Agora, vamos ver se você gravou o plano.

Jimin revirou os olhos.

- Vamos abrir a porta e você vai correr pelo canto do hospital até chegar aos policiais. – Jimin começou a falar, tentando não esquecer nada. – Eu vou ficar na porta, vigiando os arredores e caso algo aconteça, eu vou gritar você.

- E se eu não conseguir chegar a tempo?

Jimin respirou fundo.

- Eu vou entrar e me esconder. – Falou desanimado, não gostava da ideia de perder Jungkook.

- Exatamente. – Jungkook assentiu. – Agora... vamos.

Jeon retirou a barra de ferro da porta e a abriu. Assim que viram o gramado gigantesco ao lado de fora, olharam ao redor, procurando as pessoas. Tudo estava limpo, pelo menos por enquanto, então Jungkook se preparou para colocar seu plano em prática.

- Boa sorte. – Jimin sussurrou, com medo de que ouvissem.

Jungkook sorriu e bagunçou os cabelos do mesmo. Logo se abaixou e encostou na parede do hospital, tentando dar passos rápidos e passar despercebido pela seita. Estava indo bem, mesmo estando agachado e tendo que fazer silêncio, não demorou muito para chegar perto dos policiais.

- Isso! – Exclamou para si mesmo em pensamento.

Pegou a pistola caída do tenente e colocou na cintura. Vasculhou seus bolsos e achou cartuchos, em seguida, as enfiou em seus próprios bolsos. Olhou rapidamente para o lado e viu o corpo do policial atacado ferozmente pela seita e desviou o olhar, estava com nojo. Seu rosto estava desfigurado, cheio de arranhões e pedaços arrancados. Não queria ter que se aproximar ainda mais, mas sabia que quanto mais armas pegasse, melhor seria para ele e Jimin.

Respirou fundo e se aproximou, indo até o homem ao chão. Passou por umas duas pessoas mortas da seita e se agachou, pegando a outra pistola largada ao chão, ao lado do corpo. Procurou por mais munição e quando as achou, se preparou para guarda-las em um lugar seguro.

Jungkook não contava que uma das pessoas “mortas” em sua volta ainda estivesse viva.

Enquanto estava guardando tudo o que conseguiu pegar, foi atacado por trás. Não teve tempo de pensar, apenas sentiu seu corpo ser puxado para trás e dois braços envolverem seu pescoço.

- Ah! – Gritou, tentando se soltar.

Tentava jogar seu corpo para frente, mas a pessoa continuava o puxando para trás, tentando o sufocar. Jungkook não cedia a pressão, tentou ao máximo se manter firme. Assim que percebeu que estava com uma arma em mãos, tentou usa-la, mas foi uma tentativa falha, uma vez que estava descarregada.

- Puta merda! – Exclamou.

Enfiou uma mão no bolso tentando buscar munição. Estava em vantagem, pois a pessoa que o atacava estava gravemente ferida com os tiros do policial. Jungkook estava finalmente, com dificuldade, recarregando a arma, quando sentiu uma dor intensa em seu ombro. Apertou os olhos ao sentir a dor se intensificando com o tempo. Olhou para o ombro direito e percebeu que a pessoa, que Jungkook descobriu ser uma mulher, estava cravando seus dentes em seu ombro.

- Desgraçada! – Puxou a arma, colocou a munição na câmara, virou o braço e atirou na cabeça da mulher, que na mesma hora se soltou de seu ombro.

Jungkook se levantou um pouco zonzo pelo barulho da arma que foi acionada bem do lado do seu ouvido. As chances de ele atirar em si mesmo por não ver para onde apontou a pistola eram altas, mas era um risco que ele deveria correr para se livrar da situação.

Olhou seu ombro ainda dolorido e percebeu que a mordida havia sido tão forte que estava sangrando. As marcas dos dentes estavam saindo de avermelhadas para roxas. Jungkook sabia que aquilo iria ficar marcado ali por um bom tempo.

- Jungkook! – Escutou a voz de Jimin ao longe. – O que aconteceu?!

Antes de responder, Jungkook percebeu que as pessoas já estavam se aproximando, provavelmente atraídas pelo barulho alto de gritos e tiro. Correu de volta para a entrada, tentando fugir.

- Jeon! – Jimin pareceu feliz ao vê-lo bem. – O que acontec... você está sangrando!

- Sim, sim, eu sei, mas não é nada demais! – Jungkook tentou o tranquilizar.

- Venha, vamos entrar logo!

Jungkook assentiu, mas assim que olhou para o gramado em frente da onde estavam, percebeu que a mochila de Jin e de Namjoon ainda estavam ali. Pensou imediatamente no tanto de coisa útil que deveria ter lá e enquanto olhava para as mochilas e para as pessoas se aproximando, teve outra ideia absurda de repente.

- Jimin. – Puxou o garoto pelo pulso. – Tome, use isso aqui, está carregada.

Jimin ficou confuso com Jeon o entregando uma arma.

- O que está fazendo?! – Jimin franziu a testa. – Não vai entrar?!

- Preciso pegar as mochilas. – Pegou a outra arma e se preparou para ir até o meio do gramado.

- Jungkook! Porra...

O mais novo não deu ouvidos a Jimin, apenas correu na direção das mochilas. Ele sabia que era arriscado, mas precisava pensar no bem que aquilo iria trazer para os dois. Comida, água, alguma arma branca, qualquer coisa seria bem-vinda naquele inferno em que estavam vivendo.

Se aproximou da mochila de Jin e a colocou nas costas. A mochila como se esperado, era extremamente pesada, mas ele teria que fazer um esforço para carregar ela nas costas e a de Namjoon nas mãos. Foi até a mochila de Namjoon, já esperando que tivesse que usar a arma. Um homem se aproximou, tentando impedir que Jungkook pegasse a mochila ao chão.

- Não vou ser legal com vocês. – Falou, mirando a pistola na cabeça do homem.

Um tiro foi o suficiente para o fazer cair duro no chão. Jungkook pegou a mochila e praticamente a arrastou pelo caminho, tentando chegar até o hospital. As pessoas estavam começando a vir atrás dele pelo canto do hospital, afinal, ele atraiu algumas pessoas para lá quando atirou na mulher que o mordeu.

Deu mais alguns tiros, alguns certeiros e outro perdidos, o que era de se esperar, já que Jungkook nunca havia manuseado uma arma antes em sua vida. Estava quase na porta, seu machucado sangrava ainda mais pelo esforço que ele fazia. Estava cansado e ferido, precisava entrar dentro do hospital logo.

- Jungkook, abaixe! – Jimin gritou, segurando a arma com as duas mãos.

Jeon não pensou muito, apenas arregalou os olhos e abaixou como Jimin pediu. Apenas escutou o tiro e quando se virou, viu outro homem caído atrás de si. Voltou a correr, arrastando a pesada mochila pelo gramado.

- Venha! – Jimin o ajudou a segurar a mochila.

- Feche a porta, feche a porta! – Jungkook ordenou, entrando no hospital.

Jimin fechou a porta e atravessou novamente a barra de ferro pela mesma, se afastando e esperando que ninguém tentasse forçar a entrada. Jungkook recuperava seu ar, respirando pelo nariz e soltando pela boca diversas vezes. Sua cabeça latejava e seu ombro doía.

- Temos que cuidar disso. – Jimin o ajudou a se sentar em uma cadeira velha no lugar. – Vamos ver se tem algum kit de primeiros socorros aqui...

- Tem que ter. – Jungkook falou com os olhos fechados, sentindo o suor escorrendo pelo seu rosto. – Não passei por toda essa merda atoa.

Jimin negou com a cabeça e verificou as duas mochilas. Encontrou o kit e também bastante água.

- Aqui, tome um pouco. – Jimin levou a garrafa até a boca do mais novo, o ajudando.

Jungkook tomou a garrafa inteira, estava sedento.

- Por que você me ajuda tanto? – Perguntou, assim que Jimin abriu a pequena maleta para pegar o álcool.

Sorriu.

- Por que eu sou seu amigo. – Respondeu, voltando a ficar de frente para o garoto.

- Não... – Jungkook negou. – Você me ajuda mais do que um amigo normal ajudaria... eu não te mereço.

- Você está delirando, garoto. – Riu. – Agora segure as pontas, isso vai doer um pouquinho.

Enrijeceu o corpo apertou os olhos se preparando para sentir a ardência em cima do machucado. Não demorou muito para Jimin derramar o álcool sobre sua pele machucada. Jungkook apertou a própria perna tentando aliviar a dor, enquanto Jimin pedia desculpas repetidas vezes por estar tendo que o fazer passar por aquilo.

- Como conseguiu essa mordida? – Jimin deixou o álcool de lado, molhou um pequeno pedaço de algodão com água e começou a limpar o sangue.

- Uma... mulher... – Jungkook se contorcia pela dor que sentia a cada toque de Jimin. – Ela não estava realmente morta, então me atacou por trás e fez isso.

- Já é a segunda mulher que tenta te atacar. – Jimin colocou um curativo na mordida.

- É.… eu sou irresistível, eu sei.

Jimin tentou segurar a risada, mas não aguentou. Jungkook riu junto ao garoto e ficou feliz por alguns minutos. Gostava de ver que mesmo depois de tudo o que passaram, eles ainda tinham espaço para o humor.

- Como conseguiu atirar tão bem nas pessoas lá fora? – Jimin questionou. – Parecia um profissional usando a arma.

Jungkook deu de ombros.

- Acho que anos jogando videogame ajudaram em alguma coisa. – Sorriu fraco.

Jimin concordou, retribuindo com o melhor sorriso que podia dar.

- Prontinho. – Jimin bateu uma mão na outra. – Está devidamente limpo.

- Obrigado, de verdade. – Jeon sorriu.

Jimin pareceu envergonhado, mas deu de ombros, falando um simples “não foi nada.”. O garoto se levantou da cadeira, alongando as costas, pegou uma garrafa d’agua que estava cheia e jogou metade dela no rosto, se limpando e tentando se manter acordado. Precisava disso para poder enfrentar Taehyung sem cair desmaiado de cansaço. Jimin acabou fazendo o mesmo.

- Quase um banho. – O moreno passou as mãos pelos cabelos molhados.

- Quase. – Jimin respondeu, bebendo o restante da água.

Jungkook se agachou perto da mochila de Namjoon e vasculhou todos os bolsos possíveis, atrás de algo. Jungkook sabia que Namjoon havia o dado sua faca antes de morrer, mas sabia ainda mais que com certeza existia outra ali. Namjoon era um cara precavido, se ele pudesse levar o triplo de cada coisa para suas viagens, ele levaria.

- Achei. – Falou, puxando a faca do fundo da mochila.

- Como sabia que isso estava aí? – Perguntou Jimin.

- Só foi uma intuição. Namjoon era um gênio.

- É.… ele era.

Jungkook deu uma parte das munições para Jimin e em seguida colocou a faca e a sua pistola na cintura, presas no cinto. Percebeu que Jimin estava receoso, então, ergueu o braço, indicando para o mais velho segurar em sua mão. E assim Jimin fez, apertando a mão de Jungkook e caminhando ao seu lado.

Estavam partindo para o encontro com Taehyung... se é que aquele ainda era o garoto que eles conheciam. Estavam nervosos, mas não iriam desistir. Iriam tentar de tudo, mesmo sabendo que a morte dos dois era o final mais provável.

- Vamos Taehyung! – Jungkook gritou, andando sem rumo pelo primeiro andar. – Nos mostre aonde você está, seu covarde!

Em poucos segundos, uma porta perto das escadas sombrias foi destrancada. Jimin se assustou, apertando ainda mais a mão do mais novo. Jungkook observou a porta velha abrir aos poucos, os convidando a entrar com aquele rangido assustador. A porta levava a um subsolo escuro que não era conhecido pelos garotos.

Era como se Taehyung apenas estivesse esperando eles o chamarem.

Ele sabia que os garotos iriam ao seu encontro.

Caminharam juntos até à frente da porta.

Jungkook olhou para Jimin.

- Pronto? – Perguntou, respirando fundo.

Jimin o olhou de volta, engolindo seco.

- Sim.

Adentaram o lugar, que era exatamente como Jungkook imaginava que seria. Enquanto desciam as escadas perceberam o quão escuro, mofado e úmido aquele lugar era. Evitavam tocar nos corrimões sujos e andavam sempre no meio da escada, sem soltarem as mãos.

Estavam indo para o fundo do poço. Nada se ouvia lá embaixo, apenas o barulho das gotas das infiltrações caindo no chão. Conseguiam ouvir suas próprias respirações pesadas e Jungkook jurava sentir seu próprio batimento cardíaco acelerando a cada degrau que ele descia.

A luz da lanterna estava ainda mais fraca, quase desligando.

- Não nos deixe na mão agora... – Jungkook dava algumas batidas na lanterna, tentando faze-la funcionar.

Era tarde demais, não tinha mais o que fazer. A luz se apagou. “Era só o que faltava. ”, pensou Jungkook. Quando esperaram seus olhos se acostumarem com o escuro, perceberam uma luz, bem fraca, ao longe. Uma luz alaranjada, que chamou a atenção dos dois.

- Vamos segui-la? – Jimin sussurrou.

- É a única coisa que podemos fazer agora. – Jungkook assentiu.

Foram caminhando calmamente até a fonte de luz. Havia uma esquina, e era de lá que vinha a luz na qual estavam observando desde que estavam descendo a escada. Hesitaram, afinal, não sabiam se iriam ser atacados de repente ou não.

- Vou na frente. – Jungkook colocou uma mão na cintura, pronto para pegar a arma se fosse preciso.

- Cuidado... – Jimin sussurrou.

Jungkook olhou por cima e finalmente virou a pequena esquina, dando de cara com o porão, cheio de geradores velhos e caixotes destruídos. Haviam várias velas vermelhas espalhadas pelo local, gerando a fonte de luz alaranjada na qual seguiram. Engoliu seco e caminhou até o centro do porão.

Assim que bateu os olhos no que estava a sua frente, Jungkook os arregalou, assustado.

- Jimin... – Sussurrou, chamando o mais velho.

- Encontrou alguma coisa? – O garoto veio segurando a pistola, mas assim que olhou para aonde Jungkook estava olhando, parou imediatamente, abaixando a mão. – Oh, Deus...

Estavam diante de uma espécie de altar. Além das velhas vermelhas, havia também corpos pendurados por ganchos nas paredes. Corpos de todos os garotos, até mesmo o de Hoseok não foi poupado. Em frente aos corpos havia uma caixa velha com um livro grande e pesado em cima. Jimin não aguentou a cena e acabou se virando para trás e vomitando. Jungkook estava enojado, mas o choque não o permitia passar mal naquele momento.

- O que isso significa? – Jungkook questionou.

- Não é óbvio? – Uma voz veio de uma porta que levava a outra parte do porão, perto do altar.

Jungkook já sabia muito bem de quem se tratava.

Taehyung passou pela porta. Estava usando uma blusa branca esfarrapada extremamente larga e desabotoada, deixando seu peito e sua barriga a mostra por completo. Se aproximou do altar com os braços abertos e um sorriso no rosto. Parecia renovado, porém, continuava com aquela atitude superior e o deboche estampado no rosto.

Parou em frente a caixa, os observando.

- Vamos começar? – Sorriu, malicioso.