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História Pacto de Sangue - Prólogo


Escrita por: bbestrong

Notas do Autor


capítulo revisado e betado por @Korigami e @LostLullabye ♡ capa e banner foram feitos pela gloryneko

Capítulo 1 - Prólogo


Fanfic / Fanfiction Pacto de Sangue - Prólogo

Vale do Suplício

Trezentos anos antes

 

— Mãe — a garota murmurou com o tom trêmulo, sua voz soando alta sobre o breve silêncio que pairava entre um crepitar e outro da lareira. Sua progenitora estava em frente ao balcão de madeira da cozinha, cortando alguns legumes para o ensopado que preparava. Ela não parou os movimentos com o chamado da filha, mas a menina sabia que ela estava atenta a cada palavra. Precisou de três respirações inteiras antes de criar coragem e perguntar: — O que é um pacto de sangue?

Um corte violento da faca desceu sobre a tábua que a mais velha usava como apoio, a lâmina fincando-se no objeto. O movimento cessou-se ali e tudo ficou quieto demais, nem uma única brisa ousando atravessar as frestas nas paredes. A pequena garota agradeceu por ter resguardado oxigênio o suficiente em seus pulmões antes de fazer aquela indagação, porque naquele momento nem um mísero filete de ar atravessava sua garganta fechada. 

Quando pensou que não obteria resposta alguma, a voz de sua mãe soou de repente, apartando a quietude:

— Onde você ouviu falar sobre isso?

— Eu li… num de seus livros. — A bruxa se encolheu quando sua mãe virou-se para si, os olhos escuros a encarando como algozes e todos os seus traços endurecidos como mármore.

— Aqueles em específico que eu disse para você não mexer?

— Sim… Mas, mãe, me entenda! Eu só estava curiosa, não pude evitar. Foi tão tentador quanto ter em minha frente um ensopado de sapo no meio do inverno.

A mãe nada respondeu, apenas atravessou o cômodo e alcançou uma estante de livros que ficava na parede dos fundos, o silêncio a perseguindo como um véu. De lá ela tirou um livro de capa escura, abriu-o em uma página em específico e então se voltou para a filha.

— Feitiço de leitura de pensamentos — murmurou, com lascas de treva parecendo sombrear os cantos de sua boca. — Fácil e rápido de fazer para alguém com a minha experiência. Devo testar em você?

A pequena bruxa levou ambas as mãos para a cabeça, como se tivesse levado um golpe pesado.

— Não!

— Por que não? É tão tentador... se é indecoroso ou não ler todos os pensamentos de minha própria filha, quem se importa? Eu apenas quero.

— Tudo bem! — ela quase gritou, tamanha a urgência que se amontoava em sua voz. — Eu já entendi. Entendi tudo, tudinho. Me desculpe, mãe. Por favor.

A mulher sorriu satisfeita, fechando o livro logo em seguida.

— Te desculpo sim. Mas terá que limpar minha mesa de feitiços por três semanas seguidas

— O quê?! Mas é impossível limpar aquilo, eu demoraria uma vida inteira.

— E se quiser saber a resposta da sua pergunta terá que limpar por mais três.

Aquilo silenciou a birra da garota e a fez endireitar os ombros de forma instantânea. Ela calculou o que havia sido dito pela mãe com cuidado, e, de repente, limpar respingos de gosma permanente de uma superfície de madeira não parecia mais tão ruim assim. 

— Não é uma troca justa — pontuou com um resmungo —, mas eu aceito.

O sorriso de sua mãe fez aparecer os seus dentes amarelos. 

— Sente-se à mesa — a mais velha pediu, indicando o objeto circular que ficava no centro da cozinha, em seguida se aproximou e puxou uma cadeira para si. A filha se aprumou com rapidez. — Primeiramente, pacto de sangue é coisa dos vampiros. Eles são raros de acontecer, por isso você não vai ouvir falar sobre ele com muita frequência. Na verdade, talvez essa seja a única. — Ela encarou os olhos da filha durante um longo tempo e então continuou: — O pacto é uma ligação entre dois vampiros. Um laço de almas.

— Pensei que não nos metessemos nos assuntos dos vampiros.

— Nós precisamos de ouro e eles têm o ouro. Às vezes nossos caminhos se cruzam. — A mulher deu de ombros, a expressão inalterada. — Talvez você não saiba, mas os vampiros podem se alimentar de outros vampiros ocasionalmente, mas isso não é recomendável. O sangue deles não possui fontes nutritivas o suficiente para mantê-los uns aos outros vivos, além do fato de que ele seca com uma rapidez impressionante. Por isso os vampiros precisam se alimentar dos humanos, é só a partir da substância vital desses seres que eles conseguem manter seu próprio sangue renovado e circulando. Mas há uma forma de um vampiro sobreviver se alimentando de um igual. Isso acontece se ele, por sorte ou azar, morder uma criatura compatível consigo. Não compatível em um nível biológico, mas sim espiritual. Porque, caso isso aconteça, no momento em que a seiva divina de um entrar em contato com o outro, o laço se formará. De repente e sem presságios. Não há como premeditar um pacto, ele simplesmente acontece. E é eterno.

— Certo. — A garota tentou organizar todas aquelas informações em sua cabeça, mas as coisas estavam funcionando de forma lenta dentro de sua mente. — Mas o que isso causa?

— Bom, a partir daí a alma de ambas as criaturas ficará interligada e eles compartilharão de uma das conexões mais íntimas existentes. O vampiro só sentirá sede do sangue do seu parceiro e mais nenhum outro o apetecerá; irão dividir ideias, sentimentos e até pensamentos, em graus de evolução gradativa; viver longe do seu parceiro por muito tempo será um martírio e ao longo do tempo eles começarão a ficar muito territorialistas. Mas sendo algo tão raro, o pacto sempre pode nos surpreender. Não funciona da mesma maneira para todos — explicou. — Também não é regra que ambos os vampiros aceitem o laço, virem melhores amigos ou amantes e então sigam suas vidas juntos. Para uns é um tormento. — Ela juntou ambas as mãos sobre a mesa, lançando um olhar incisivo para a filha. — E é aí que nós entramos. 

O brilho do sorriso viperino que perpassou pelo rosto de sua mãe fez a garota engolir em seco.

— E… qual é exatamente o nosso papel nisso?

A garota ainda não era uma bruxa completa, mas podia sentir, apenas pelo tom de voz de sua mãe, da forma como ela murmurava as palavras, que estava recebendo uma informação que nem as feiticeiras mais experientes tinham conhecimento. Isso podia ser tanto uma dádiva quanto uma perdição.

— Somos nós as responsáveis por destruir o pacto.

A menina arregalou os olhos.

— Aquela página que eu encontrei no seu livro se refere a isso? Ao feitiço de destruição? — Algo parecia errado. Algo parecia não se encaixar. — Então por que a página estava queimada? — Esse era o apogeu de sua curiosidade, a pergunta que vinha espreitando sua mente desde o início. 

A mãe se levantou por fim, passando as mãos finas pelo vestido amarrotado e virando-se na direção do balcão, onde uma cenoura cortada pela metade parecia estar à sua espera.

— Filha, tem algo que você precisa entender antes de se tornar uma bruxa de verdade. — Alcançou a faca e fez uma sequência breve de cortes antes de continuar: — Algumas informações são muito perigosas para permanecerem nesse mundo.


Notas Finais


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