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  3. Quatorze

História Páginas Criminais Galácticas - 3 (Reylo-Policial) - Quatorze


Escrita por: VanVet

Capítulo 14 - Quatorze


A diretora de Megalox Beta, com Ben a conhecia a um tempo, era uma twi'lek de semblante irônico e personalidade cáustica. Porém, quando os portões da prisão abriram para recebê-lo, a mulher tinha uma expressão de tensão que beirava a súplica. 

É, a coisa está feia, o investigador pensou. 

Luhta apertou a mão dele com força e pediu para que seguissem até o prédio da direção, ao lado da guarita. No caminho foi desembuchando:

― O que há com Grakkus, o Hutt, afinal?

― Acho que isso é uma coisa particular, entre nós dois e a república. 

― Não sacaneie para cima de mim, Solo! Aquela lesma gigante tem algo de importante para que todos queiram algo dele em Megalox Beta, seja vivo ou morto.

Entraram pela porta automática na construção e seguiram por um corredor estreito. Luzes vermelhas piscavam ao redor enquanto uma sirene disparava seu apito agudo por todo o complexo. 

― O que quer dizer com ‘morto’, Luhta? E essa rebelião começou por qual falha de segurança? A Nova República paga muito bem a este planeta, para que contenham a corja miserável trazida para cá. 

A twi'lek mirou-o um momento, seus olhos duas labaredas em fúria. Esta sim era a diretora da prisão. Sem responder aos questionamentos do investigador, que também não havia respondido as perguntas enxeridas dela, Luhta digitou códigos no painel em frente a uma porta no fim do corredor e eles entraram no recinto que se abriu. 

Era a sala de controle da prisão. Monitores de câmeras para todo o lado, painéis pululando em dados randômicos controlados por droides de análise e funcionários correndo para lá e pra cá, tentando debelar a confusão que acontecia nas telas, através de controle de portas e orientação a carcereiros. Ben assistia ao desenrolar da rebelião que ocorria na cúpula esquerda, com olhos atentos de desconfiança. Em um dos monitores, claro como um dia de sóis em Tatooine, ele viu dizeres pichados em um dos corredores entre as celas “QUEREMOS GRAKKUS, O HUTT” 

― Tá ok, estou entendendo, diretora. Grakkus fez inimigos por aqui. 

― Eles o estão caçando! Eu não vou conseguir manter o prisioneiro a salvo por muito mais tempo, investigador. ― Ela olhava para os monitores, indignada ― Minha prisão está um caos e a culpa é desse gangster que você trouxe para cá. 

― Calma lá, eu não trouxe ele. Eu encaminhei um bandido perigoso para um complexo de segurança máxima a mando do governo. ― Ben rebateu elevando a voz. Estava ficando sem paciência para os chiliques da diretora. 

Ela cruzou os braços e respirou fundo. Quando disse, a voz era mais controlada (ao menos tentava ser) ao pedir:

― Eu preciso de você agora, Solo… A coisa saiu do controle como pode ver. Meus guardas estão com medo de entrarem nas alas, pois são todos conhecidos dos criminosos e alguns conseguiram invadir a sala de armas e roubá-las logo no início deste tumulto. Eles pedem por Grakkus, mas sei como ele é importante para suas investigações, afinal está aqui para esta finalidade. Você precisa encontrá-lo antes deles enquanto os reforços de equipe chegam de outra parte do planeta. 

― E onde ele está nessa história toda?

― Acredite se quiser, deslizou por um pequeno buraco nos banheiros comunitários e desapareceu. 

― Tá… aonde esse buraco leva? ― ele indagou, no fundo já não querendo saber a resposta. 

― O buraco é um ralo que estava em manutenção… então, nos esgotos.

Ben fechou os olhos e respirou fundo. Por um instante, se recordou dos esgotos de Jakku naquela missão em que teve de invadir o galpão da polícia corrupta do planeta para resgatar uma prova importante no caso choripe. Grenz Foster havia lhe passado a perna na ocasião e ele teve de escapar pelo lodo dos habitantes do deserto para sair com vida daquela enrascada. Ele se recorda de que, mesmo tomando banhos e mais banhos nos dias seguintes, a impressão era que o cheiro ruim tinha grudado na sua pele por semanas. Quando abriu os olhos de novo, conformado com sua sina, quis saber:

― Como faço para me infiltrar nesse antro, Luhta?

― Sabia que podia contar com você. 

 

***

― Sabia que podia contar com você ― Ben resmungou para si, com desdém, imitando as palavras da diretora da prisão. 

No momento, um funcionário de Megalox Beta acabava de fechar a portinhola acima de sua cabeça, o encerrando num estreito corredor da sala de máquinas. Em algum ponto entre os equipamentos, ele deveria encontrar o túnel para os esgotos. Acima de sua cabeça, ouvia os encarcerados correndo pelas alas prisionais, rindo, gritando e disparando as armas lasers roubadas, a esmo. Um caos que seria difícil de conter. 

O comlink no ouvido direito o colocava em contato com o centro de controle para qualquer dúvida ou orientação, entretanto, agora ele o manteve desligado a fim de não escutar conversas paralelas, pois em silêncio e trabalhando sozinho funcionava melhor. Sua exceção era se estivesse em parceria com Rey em alguma missão, juntos eles melhores.

Que bom que desta vez ela não corria riscos, a ideia o tranquilizou em meio ao próprio caos. Mesmo sentindo saudades de tudo acerca da policial, era reconfortante não se preocupar com a vida dela. Em Hosnian Prime, neste momento, ela deveria estar multando airspeeds estacionados no lugar errado e dando uma prensa em adolescentes depredando prédios públicos. 

Ben observou uma abertura redonda e gradeada, e percebeu que havia chegado ao início do túnel. Ligando o comlink brevemente, pediu para a central de controle abrir a portinhola e viu as barras deslizando para dentro do aço que a emoldurava. Lá dentro, a luz era nula e o odor pungente. Uma trilha nada convidativa, a não ser para pequenas pragas da sujeira e um chefão do crime de corpo gosmento precisando se esconder de seus assassinos, esperava sua investigação. Inevitavelmente deslizou para dentro do túnel no uniforme de presidiário, emprestado a fim de se camuflar aos hóspedes dali. 

O caminho era estreito e ele teve de andar curvado. A lanterna na mão ia quebrando a escuridão ao mesmo tempo que guiava seus próximos passos. A gritaria dos prisioneiros foi ficando para trás conforme avançava, sendo substituída pelo gotejar de canos desembocando na rede central de desova. O chão limoso era escorregadio e foi se tornando cada vez mais úmido, primeiro uma poça de água suja, depois um pequeno córrego e então o nível seguia subindo até acima dos tornozelos dele. O cheiro nauseabundo, sufocante, o fazendo respirar pela boca. 

Ele parou um momento numa bifurcação e jogou o foco de luz em cada percurso. O da direita terminava há poucos metros em uma escada vertical na direção ao andar superior. O da esquerda apresentava uma inclinação para baixo no chão e alargava o caminho para a nova galeria labiríntica. Praguejando por estar ali, Ben escolheu o lado esquerdo, a sequência do esgoto… quanto maior o lugar, mais possibilidade de Grakkus ter se embrenhado nele. 

Afinal, o que aconteceu para o Hutt ter sua cabeça a prêmio deste modo? Se sua memória não falhava, das vezes que retornou para Megalox a fim de interrogá-lo, Grakkus era uma espécie de atração entre os seus. Como todo criminoso de sua espécie, ele reunia prestígio e medo em igual medida no submundo do crime. Havia uma cela especial para ele, com capangas e tudo o mais no primeiro interrogatório feito por Ben, logo após acontecimentos de Jakku. 

O que mudou agora? Foi uma provocação mal sucedida? Uma guerra de gangues? Ou uma queima de arquivo?

― É isso, merda… ― falou consigo mesmo, enquanto seguia em frente ― Estão tentando silenciar a lesma! Ele sabe sobre o choripe, sabe mais do que deu a entender que sabia quando nos falamos antes. Vão matá-lo por este segredo se não encontrar o maldito primeiro. 

Ben não podia decepcionar a mãe e todos na Nova República esperando por esta informação. Já podendo ficar reto no túnel alargado, andou mais rápido, pouco se importando com a água de dejetos sujando as roupas. Mais galerias escorrendo líquido fétido surgiam desembocando nas paredes. Havia ratos womp do tamanho de bebês humanos nadando com o fluxo da água e o investigador chutou alguns para longe quando chegavam muito perto com seus dentinhos afiados. Os bichos sumiam guinchando e outros apareciam minutos depois. Suor escorria do seu rosto, estava cada vez mais abafado naquelas catacumbas de excrementos. 

― GRAKKUS, APAREÇA! SOU EU, SOLO, VIM GARANTIR QUE NÃO VÃO COLOCAR SUA CABEÇA EM UM ESPETO ASSIM QUE TE ENCONTREM! 

Sua voz reverberou pelos recônditos das galerias e retornou como um eco vazio. Ele tentou mais uma vez:

― SOU SUA MELHOR CHANCE, HUTT! 

Ele parou e levou as mãos aos joelhos. O suor descia pela testa e pingava na ponta do nariz. Estava ficando muito quente e exaustivo estar ali. Levou uma mão ao comlink e o ligou. Pediu para falar com Luhta:

― O quão grande é esse maldito esgoto, diretora?

― Grande. Onde está?

― Pelas minhas contas devo ter chafurdado em quase um quilômetro de excrementos dos seus protegidos daí de cima. Desci uma das bifurcações alguns metros depois da entrada e entrei no túnel sem fim com água até meus joelhos. 

― O esgoto segue a planta das três cúpulas. São quase oito quilômetros de circunferência, Solo. 

― Que ótimo… 

― Você deve se manter neste túnel principal, mas tomar cuidado quando o fluxo da água ficar mais forte, pois significa que a câmara central está chegando e você pode se machucar se cair lá, é fundo. 

― Como faço para desviar da câmara?

― Tem escadas verticais no fim de cada uma. Deve subir nela e contornar ao redor. 

― Ok. Retorno se precisar de mais uma super dica. 

Ele desligou antes de ouvir a resposta dela. Por um momento pensou se não seria melhor retornar e esperar a equipe de reforço conter a rebelião e então recrutar alguns deles para voltar para lá consigo. Mas desconsiderou a ideia… Grakkus poderia estar morto e mudo quando o encontrasse mais tarde. 

Voltou a andar. Todos os cenários eram iguais: paredes limosas, galerias trazendo sujeira dos ralos e ratos womp mergulhando de braçadas em seu habitat natural. A única diferença ficava por conta  da água subindo centímetro por centímetro, se tornando mais forte. Imaginou que o ápice daquela imundície seria a câmara.

Ele segurou a lanterna bem ao alto, esperando enxergar o fim daquele tormento e ficou nessa expectativa por quase trinta minutos de caminhada. Então, exausto, e com a água quase na altura do tórax, viu o fim adiante, barulho de enxurrada preenchendo o vazio dos corredores. Temendo se desequilibrar pela força da correnteza, encostou na parede procurando encontrar a escada vertical que Luhta comentou que haveria. Uma luz fraca, para além de sua lanterna penetrava o desembocadouro principal e o som de pás mecânicas girando competia com o da água caindo em cascatas lá embaixo. 

Ben precisava de só mais um pouco de calma, de resiliência, e a escada apareceria, ele se seguraria e… um rato womp, um maior do que os outros que vira antes, nadava em sua direção. Os olhos vidrados e a boca aberta indicava que não estava para bons amigos. Ao lado dele, três criaturas menores também se aproximavam. A mãe e seus filhotes. 

Ele estava invadindo o espaço de uma mãe raivosa e não conseguia pegar sua arma, segurar a lanterna e procurar a escada, tudo ao mesmo tempo. A água o arrastou para o abismo. Ele praguejou de frustração procurando a maldita escada às cegas ou seria tragado pelo esgoto e mordido pelo roedor ao mesmo tempo. 

De repente, na angústia, a lanterna caiu de suas mãos, se perdendo no fluxo. Os pés não encontraram o tato com o chão e seu corpo se arrastava contra sua vontade. No breu, o investigador tateava, desesperado, um apoio para si. Foi no último momento que antecederia o fim do túnel,  que ele pegou em uma barra de aço. Erguendo o outro braço, pegou a seguinte, e a próxima também, submergindo daquele inferno e deixando a rata mãe com seus guinchos frustrados para trás. A partir daí, Ben escalou rapidamente os degraus verticais tendo apenas segundos de alívio naquele frenesi… em seguida o objeto bambeou e se desprendeu da parede, os parafusos enferrujados no clima úmido e sem manutenção. 

Ben sentiu um nó no estômago e fechou os olhos, abraçado ao objeto quebrado e em queda. Enquanto ele ia diretamente para o fundo da câmera, muitos metros abaixo de si, a estranha sensação, estranha e familiar de meses atrás, se apossou de seu âmago. Uma espécie de corrente elétrica se debatendo dentro dele no ato final. Seria uma queda terrível e lhe renderia algum osso fraturado, no mínimo. 

Foi quando a escada parou com um solavanco tão abrupto que quase desequilibrou seu corpo e o impulsionou para longe. Fortemente agarrado aos degraus, ele abriu os olhos. Na penumbra da câmara, três túneis desaguavam para a piscina de dejetos. No teto, a hélice do exaustor se movia morosamente e, por entre suas frestas, a luz do dia em Megalox Beta o permitia ver formas em meio a escuridão. 

Com espanto, Ben engoliu em seco e teve mais um momento de pavor até identificar o que eram aqueles olhos amarelos, enormes e brilhantes o fitando do outro túnel. Quando viu a cauda pegajosa mantendo a sua escada quebrada suspensa no ar, disse:

  ― Finalmente te achei, Hutt. 



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