História Painful Secrets - Decisione

— Eu já disse que está bom, Bella – perdi as contas de quantas vezes minha melhor amiga me disse isso.

Minha roupa era bem simples. Vestido branco soltinho que ia até a altura dos joelhos, sem mangas e com renda na parte de cima, nos pés eu usava uma sapatilha bege.
O clima em Palermo estava um tanto quente, então o vestido se encaixava perfeitamente com o clima e a ocasião. Meu cabelo estava preso em um rabo de cavalo alto, minha maquiagem se resumia em base, pó, um gloss rosa e um delineador preto que destacava meus olhos verdes .

Hoje eu iria tomar uma decisão que para muitos era uma coisa normal, até mesmo chata. Precisava encontrar um emprego, isso com certeza significa muito pra mim, a minha liberdade.

Para conseguir tal feito preciso enfrentar Germano, meu nonno .
Germano é uma pessoa maravilhosa, serei grata á ele por toda a minha vida , afinal ele me deu uma família, amor. Graças a ele não sou uma órfã, mas o seu cuidado excessivo comigo, é sufocante.

– Estou com medo, você sabe como ele é - dei um sorriso forçado para minha amiga e voltei fitar o meu reflexo no espelho.

Eu queria exercer minha profissão, tive essa conversa com meu nonno muitas vezes , mas hoje sinto que vai ser diferente. Já tenho 25 anos não posso esperar mais, é o meu futuro que está em jogo.
Um grande laboratório farmacêutico em Palermo está procurando farmacêuticos formados para trabalhar na área de produção de remédios, essa é a minha chance.

– Você vai conseguir – ela se aproximou e ficou atras de mim – Bella Palacci, o mundo está em suas mãos é só saber o que fazer com ele. – minha amiga me deu um sorriso sincero e saiu do quarto deixando um rastro de confiança por onde passava.

Angeline é uma mulher muito bonita, inteligente e extremamente confiante. Mesmo sendo bem diferentes, nos dávamos estranhamente bem. Nos conhecemos no mesmo dia em que fui adotada por Germano, ela me acalmou e foi muito legal comigo, uma verdadeira amiga. E desde então não nos desgrudamos mais, tanto que ela mora na mesma casa que eu.

– O mundo está em minhas mãos -sorri para mim mesma.

Me despedi de Angeline e fui a caminho do elevador.
Entrei no mesmo, que se encontrava vazio, e chegando na portaria avistei Harry sentado em um sofá branco, lendo uma revista de moda. Logo seus olhos verdes encontraram os meus .

Analisei melhor suas vestimentas, ele estava todo de social, seus músculos estavam destacados pelo terno preto de segurança que ele tinha que usar.

– Bella - venho em minha direção com os braços abertos, respondi aquele ato rapidamente e o abracei , nunca havia conhecido um homem tão cheiroso como Harry.

Ele e Angeline eram os únicos com quem eu me sentia realmente confortável, meus únicos amigos de verdade.

– Vamos segurança - fiz um bico e segui em direção a um Aston Martin Vanquish preto com meu segurança logo atrás de mim

– Muito engraçadinha, Bella - disse, logo abrindo a porta do carro para mim.

Harry estava em estágio, ele iria trabalhar com meu nonno. Para isso tinha que passar por um teste de confiança, e qual prova de confiança seria maior do que cuidar da querida neta de Germano Rocci? O dono da maior máfia da Itália.

O caminho foi calmo, estávamos escutando a radio local . As notícias eram sobre o sismógrafo, coisas de rotina até que a moça anunciou o dia que poderia ter uma pequena erupção vulcânica na ilha.
Quando chegamos na empresa de Germano dei um beijo na bochecha do meu amigo e pedi que ele me esperasse no carro.

Segui passando pelas pessoas que trabalhavam diretamente para meu nonno, passei por três corredores e todos estavam com grande movimentação. Alguma coisa estava acontecendo, alguém importante estava chegando.
Esse lugar não estava em sua rotina normal, não sabia de quase nada sobre o trabalho de meu nonno – não sabia de nada, na verdade– mas não era preciso saber muito para deduzir que algo diferente estava acontecendo.

Sai de meus pesamentos quando me deparei com a escada que dava no escritório de Germano.
Parece que toda a confiança que Angeline me passou a momentos atrás nunca existiu, minhas mãos soavam e meu maior medo é de que meu nonno tenha um surto como das ultimas vezes em que eu pedi para trabalhar fora.
Balancei minha cabeça espantando esses pensamentos e repeti inúmeras vezes para mim mesma que tudo ia dar certo.

A porta estava entreaberta, então tomei a liberdade de adentrar o escritório sem pedir permissão.
Ele estava sentado em sua poltrona, vestia seu costumeiro terno escuro e estava lendo alguns papéis em sua mesa. Parecia concentrado pois até o momento não reparou a minha presença no seu escritório.
Pigarreei atraindo a atenção do senhor que agora me encarava com um sorriso no rosto.

– Bella, querida. Sente-se, o que te traz ao meu escritório ? – perguntou, apontando para a cadeira á sua frente .

– Nonno, vou ser bem direta. A Smart Aid abriu vagas para farmacêuticos e eu quero me candidatar a essa vaga.

– Mais uma vez esse assunto, Bella. Acho melhor não. Voc... – meu Germano estava prestes a terminar a frase quando fomos interrompidos pelo barulho da porta se abrindo.

– Germano? – um homem que aparentava estar por volta de seus 40 anos apareceu na porta com uma expressão assustada.

– O que foi? – meu nonno se dirigiu ao homem que se encontrava na porta

– Eles virão, amanhã. – disse com o medo evidente em seu rosto. Como resposta ganhou a mais perfeita gargalhada do senhor com quem eu conversava.

– Não me diga que está com medo daquelas crianças, Alberto?– perguntou Germano, assim que se recuperou da crise.

– Não, senhor. – Respondeu – Se me permite, tenho alguns assuntos a resolver...

– Claro, pode se retirar – Logo após o homem se retirou, fechando a porta.

Crianças? A quem eles estão se referindo? Conheço Germano, sei muito bem que sua ironia é uma forma de defesa.
Ele está na defensiva, mas por quê ? Eu estaria mentindo se dissesse que não estou curiosa para saber de quem Alberto está falando, porém no momento minha única preocupação é conseguir o meu emprego, descobrirei sobre as tais crianças mais tarde.

 – Voltando para você minha pequena Bella... – Germano direcionou o olhar para mim.

 – Não sou mais pequena – disse emburrada cruzando os braços e olhando o homem de cabelos já brancos a minha frente.

– Tudo bem – ele abriu seu sorriso mais amigável .

– Nonno eu preciso desse emprego – quando eu disse isso o sorriso que ele mantinha a segundos atrás desapareceu de seu rosto, dando lugar a uma carranca.

– Bella, você tem tudo o que precisa, TUDO. – me respondeu um tanto raivoso.

Claro, ele não podia aceitar o fato de que eu havia crescido e estava me tornando independente.

– Eu preciso disso para a minha carreira de farmacêutica , o senhor sabe disso mais do que ninguém, por favor – forcei meu melhor sorriso, mesmo já estando de saco cheio por toda essa proteção exagerada.

– Tudo bem – ele disse e eu pude ver o pesar com que suas palavras saíram, mas mesmo assim me levantei da cadeira e abracei o senhor de olhos azuis que eu tanto amava.

Um simples "obrigada" foi tudo que consegui dizer, não achei que seria tão fácil e muito menos achei que ele iria concordar, mas já que ele concordou achei melhor parar de importunar Germano e deixar ele trabalhar em paz.

Sai do escritório e fui ao encontro de Harry que me esperava escorado no capô do carro com um cigarro em mãos.
Contei para o meu segurança – e melhor amigo – que havia conseguido e o mesmo não disfarçou sua surpresa, afinal estávamos falando de Germano Rocci, o homem que nunca mudava de ideia para nada.

Harry me deixou em casa e saiu para resolver, segundo ele, alguns problemas pessoais. Resolvi não questionar, estava muito feliz pra isso.

Adentrei o prédio e cumprimentei Sandro – o porteiro– .O apartamento estava em um silêncio agradável, Angeline não estava em casa, esse era o motivo do silencio. Ela deixou um bilhete dizendo que foi visitar seus pais.

Eu estava exausta, precisava tomar um banho e descansar mesmo que isso não fosse possível, certas lembranças não me deixavam dormir muito bem.

Subi para o segundo andar, entrei no meu quarto e mesmo que eu quisesse me jogar na cama e só acordar amanhã, eu fui direto para o banheiro.
Me despi e adentrei o box, me direcionei para o chuveiro deixando a água quente cair no meu corpo, fui bem rápida no banho, eu só queria me deitar e tentar dormir um pouco.

Sai do banheiro já vestida e logo me joguei na cama, já se passava das 18:00 horas da noite e por isso o quarto estava escuro.
Pensei um pouco sobre a conversa que tive com o meu nonno e sentia que esse emprego iria mudar totalmente a minha vida. Não sabia se seria para pior ou para melhor, eu apenas sentia que ela mudaria, de um jeito ou de outro.

Depois de pensar sobre isso um bom tempo – estava torcendo que eu não tivesse aquele pesadelo que já havia virado rotina nas minhas noites– , o sono chegou, e mais uma vez as minhas esperanças de que aquela noite fosse diferente, foram por água abaixo. Em questão de minutos meus olhos foram pesando e as recordações que eu tanto odiava voltaram como filmes na minha cabeça...