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História Painkiller - It grieves my heart


Escrita por: Chesthecat e shigachan

Notas do Autor


Nesta sexta nublada deixe me levar pelo clima. Frio e melancolia a combinação perfeita.
Não estou bem, ando muito instável esses dias, quando penso que há uma saída ou algo bom, essas parecem desaparecer diante dos meus olhos. Escapam por entre os meus dedos como punhados de areia e eu sigo afundando em meio a lama.

Capítulo 8 - It grieves my heart


Fanfic / Fanfiction Painkiller - It grieves my heart

" O mundo está sucumbindo tão frio e cinza

Surpeficial e vazia vida persiste 

Isso aflige meu coração, isso me dilacera

Eu ouço essa constante desarmonia!" 

 

As mãos subiam por suas coxas, deslizavam pela parte interna até alcançar seus genitais, apertava os até que a criança soltasse um murmúrio de dor. O sorriso pífio e os olhos famintos, a língua a correr pelos lábios e o hálito de cigarro a invadir suas narinas infantis. Novamente ele era a criança sob o ogro.

 

- Mate o Tenko, mate o imbecil queimado! Use suas mãos, desintegre todo o seu corpo, veja o se transformar em pó. 

 

Os olhos de Tomura estavam arregalados, sua respiração estava ofegante. Ele havia acordado no susto, sua mão direita estava no pescoço do homem queimado faltando apenas um dedo para que Houkai fosse ativada. Seu quebrado coração acelerou com a cena. Dabi apenas ressonou, estava em sono profundo não acordaria tão cedo. 

Tomura sentia se dormente do quadril para baixo, devido ao peso das pernas de Dabi sobre as suas. Estavam cobertos por uma manta vermelha e o calor apesar de aconchegante, tornava se sufocante para Shigaraki. Ele saiu devagar, assim que havia levantado da cama correu para seu quarto, ele teria mais um surto, a voz de seu violador ecoava em sua mente, sussurrando lhe coisas, palavras feias para que gritasse, mas ele não poderia machucar Dabi, não poderia machucar o ser que mais havia lhe dado afeto nas últimas 24hs.

 

Os sussurros eram languidos e arrastados, as vozes continuavam a repetir o quanto aquela criança era maldita, o quanto não merecia estar viva, o quanto deveria ser castigado. Ele tampava desesperadamente seus ouvidos, não queria escutar, não queria recordar nada daquilo. Inútil aquelas vozes não se calariam, continuariam a fazer o maior estardalhaço em sua cabeça...

 

As sombras dançavam nas paredes com suas mãos dadas e silhuetas desnudas, escorriam como água negra até alcançar o chão, as vozes ecoavam o chamavam por seu antigo nome, pedindo, ordenando, ameaçando. Aquele era o seu castigo ser atormentado por fantasmas de um passado odioso, pois agora All for one não estava mais ali para espantar seus medos e estes voltavam com força estupenda.

 

- Meu nome não é esse! O Tenko está morto! Morto! Morto! - Seus gritos ecoavam pelo quarto, a medida que as sombras se aproximavam de si, ele encolhia se cada vez mais, escondia se em um dos cantos de seu quarto, no entanto aquilo não iria parar, ele sabia que se aquelas sombras o tocassem ele seria despedaçado, ele precisava dele, precisava de seu pai, precisava que este viesse salva lo... Procurou desesperadamente por uma das muitas lâminas que escondia entre os furos de seu colchão. Quando encontrou arrastou a por seus braços, rasgando a pele, abrindo enormes vergões, o sangue quente escorria pelas feridas ensopando as mangas da camisa de Dabi. Ele sentia se mais aliviado, mas veio o apagão, as várias mãos, os apertões e as mordidas. 

 

- Mate o Tenko Shimura! Mate o sua criança desgraçada! 

 

Aquilo fora de mais para sua mente quebrada, ele precisava dele, precisava que viesse salva lo mais uma vez... 

 

-Pai! Pai! Pai! - Ele gritou a plenos pulmões, desesperado, amedrontado... All for one era o único que poderia salva lo de todo aquele inferno. 

 

 

Os gritos pareciam distantes, mas o corpo do homem queimado ergueu se subitamente, ergueu se como um titã de pedra, ergueu se para atender os gritos desesperados de Tomura. Cambaleando ele foi até a porta, seus pés apenas seguiam pelo caminho trilhado por seu inconsciente, as turmalinas rajadas de sangue tentavam focar as imagens, mas o torpor do sono atingia lhe com força. Quando entrou no quarto de Tomura, Kurogiri já estava lá, abraçado ao histérico e ensanguentado Shigaraki, ninava o como um bebê. Os prantos misturados a sussurros preenchiam todo o quarto. 

 

- O que diabos aconteceu aqui? Tomura está sangrando! - Sua voz estava mais grave do que de costume devido ao recém despertar, suas mãos coçavam os olhos repletos de sono. 

 

- Você é mesmo um inútil Dabi! Se não estivesse dormindo isso não teria acontecido! - A voz de Kurogiri soara alta. 

 

- O que? Como assim está jogando a culpa em mim seu merda? 

 

- Você falou que iria ficar de olho nele! 

 

- Como? O que? - Sua mente ainda estava confusa a última coisa que se lembrava era do cheiro adocicado de Tomura, ao mesmo tempo esforçava se para lembrar de sua última conversa com Kurogiri. Começava a se irritar. 

 

- Você estava dormindo quando deveria ficar de olho nele! 

 

Enquanto os dois homens discutiam, Tomura perdia se em delírios, sentia as mãos pressionando seus pulsos novamente, como amarras apertadas. Essas mãos que o seguravam fortemente, o olhar sarcástico, os lábios, os malditos sussurros, as ameaças... 

 

- Você é a porra da babá dele não eu! - O homem queimado exautava se diante da enorme fumaça. 

 

- Você o ilude com palavras melosas, e o deixa ficar dessa maneira. 

 

- Você não pode controlar o que ele faz! Todos vocês o usam como uma maldita ferramenta e depois o tratam como criança, para que ele se torne um dependente dessa merda de piedade que vocês chamam de cuidados! 

 

- Cuidado com o que diz Dabi, aqui é só o seu trabalho. Nem mesmo isso faz direito, quando os heróis invadiram você foi o primeiro a ser neutralizado, quando pedi que tomasse conta dele depois que fomos salvos graças a All for one, o que aconteceu? Mais uma vez você falhou miseravelmente e me entregou Tomura com os pulsos cortados! Vai dizer que isso também não é verdade? 

 

As palavras fugiram dos lábios de Dabi, seus punhos tornaram se cerrados, os dentes trincados, uma ira incontrolável parecia fazer seu sangue borbulhar. Alheio ao que os homens falavam Tomura lutava para não dar ouvidos aos pedidos das vozes em sua mente. 

 

- Mate o! Mate o! - A caligem envolvia seu corpo, ordenando docemente que ceiface a vida de seu único amor. 

 

- Eu cansei de você me dando ordens! Eu fiz o meu melhor, acha que é fácil lidar com o que não se conhece? Nem mesmo você consegue impedir que ele se machuque! 

 

- Aquilo era o seu dever! - O silêncio preencheu o lugar e só as chamas azuis nos punhos de Dabi iluminavam o local, o brilho azulado iluminava a face derrotada de Tomura e os enormes olhos dourados de Kurogiri. Todos abalados, desequilibrados,  descontrolados e entristecidos. 

 

- Eu deveria queima lo Kurogiri, mas não sei se minha individualidade consegue destruir alguém como você. Eu deveria tentar? - Sua voz soara baixa, seus olhos brilhavam como afiadas lâminas gêmeas. 

 

- Tente e eu mato você. - A voz de Shigaraki era baixa e séria. - Vocês! Todos vocês falam de mais, sussurram de mais. Nenhum de vocês podem calar essas malditas vozes. São dois inúteis. Vocês deveriam ter sido levados e não o mestre.

 

Rápidas como haviam surgido as chamas azuis se apagaram, Dabi podia escutar o som de algo se partindo dentro de si. Então era isso, ele era substituível. Todos os breves momentos de ternura que tivera com Tomura não passavam disso, apenas momentos? Talvez ele seja o único que realmente sente e naquele momento sentia de mais. 

 

- Vocês que se danem. São todos loucos. - Seu caminhar era arrastado e pesado, virou as costas dolorosamente ele não sabia se queria ficar ou ir embora. Teve seu punho segurado por Tomura, agora os grandes e marejados olhos escarlates pareciam implorar por algo em silêncio. As frias e cortantes esferas azuis encaram indiferentes aquele pedido mudo, Dabi soltou se do toque com certa brutalidade, tornando a caminhar para fora daquele quarto. Mais uma vez fora segurado por Tomura, por que ele tinha que gostar tanto de alguém tão complicado? No fundo seu coração pedia para que o tomasse  em seus braços, apertasse o contra seu peito e o acalmasse, mas ele ainda precisa aprender a lidar com o complicado Tomura, além disso precisava ficar um pouco sozinho. Livrou se do segurar alheio mais uma vez, empurrou Tomura com força fazendo o alto e magro rapaz ir ao chão, seu corpo debilitado colidindo contra o piso frio, tão frio quanto o olhar de Dabi lançado para si. 

 

- Não me siga. Não me toque. Não olhe pra mim com essa sua cara de idiota. Você é patético. 

 

- As vozes me diziam pra te matar, mas eu não fiz! - Sua chorosa resposta saiu com toda força que tinha naquele momento para superar a vergonha e o medo. 

 

- É mesmo? Que pena perdeu uma grande chance. - Tomura observou com olhos cheios de lamento Dabi sumir no extenso corredor. Ao chegar no bar pegou uma garrafa da primeira bebida que viu, saindo logo em seguida, ligaria o foda se para aquilo tudo por um tempo. 

Os olhos dourados de Himiko observavam Dabi sumir na rua iluminada pelo cair da tarde. Sacudia a cabeça em negação. Aquilo seria mais complicado do que aparentava, teria que intervir? 

 

                                  (...) 

 

Tomura passou longas horas jogado naquela cama e fitando o teto do quarto de Dabi, enquanto Kurogiri tratava de seus ferimentos, esses haviam sido fundos, precisando de alguns pontos. Não importava o que dissessem ele não queria sair dali, uma hora Dabi regressaria, ele voltou da última vez não voltou? Um suspiro escapou por entre seus lábios, agora estava mais calmo e mais são. Outros questionamentos começavam a assombrar sua cabeça. 

 

- Acha que alguém como eu pode sentir... Algo por outra pessoa? 

 

- Você sente de mais Tomura. Sempre sentiu. 

 

- Não estou falando só disso... Kurogiri já sentiu algo assim antes? 

 

- Você está confuso, precisa colocar sua cabeça no lugar. Já tem problemas de mais para se preocupar Tomura. 

 

- Você sempre evita responder as minhas perguntas da forma que eu quero que as responda. 

 

- Acho que você é a questão aqui não eu. 

 

- Eu não estou confuso, não mais. Eu só não consigo... Ser mais do que apenas isso. - Havia certo pesar e tristeza em sua voz. 

 

- Shigaraki, se é isso o que você quer então apenas tome para si. É o que seu mestre diria. 

 

- As palavras do mestre não serviriam em Dabi, ele age diferente e não sei por que... Ele... Esqueça o que falei. 

 

- Como desejar. - Kurogiri não era dos melhores em falar sobre sentimentos, embora tivesse os seus guardados e enterrados a sete palmos na cova que chamava de coração. Ele amava Tomura como um pai que ama o seu primogênito. 

 

- Acha... Que talvez ele tenha ficado chateado? 

 

- Não é óbvio pela forma que se comportou? 

 

- Não deveria ter dito aquelas coisas a ele, mas as vozes... Elas nunca se calam. 

 

- Um dia Tomura elas irão se calar e tudo o que te atormenta desaparecerá. - A mão direita de Tomura acariciou o rosto da fumaça Kurogiri, seu olhar era terno, ele também nutria certo afeto e apego pelo homem esfumado. Estava com ele desde pequeno, praticamente fora criado por Kurogiri quando All for one fora reduzido ao refugo do que foi um dia. 

 

A porta se abriu, a silhueta feminina de Himiko com seus olhos predatórios os fitava. A menina adentrou o quarto observando a organização do lugar. 

 

- Não pensava que Dabi era do tipo organizado. Se já tiver terminado Kurogiri San, gostaria de falar com Shigaraki. 

 

- Não vá incomoda lo. - Advertiu o homem esfumado. 

 

- Eu não irei. - Seu inocente sorriso tinha algo a mais. 

 

                                (...) 

 

Seu caminhar era lento, estava degustando o sabor do cigarro misturado ao azedo daquela bebida que ingeria. Pretendia fumar um maço, dois quantos desse na telha, iria encher se com nicotina e álcool, precisava disso para colocar sua cabeça em ordem. Dabi só parou de caminhar quando avistou uma praça, sentou se em um dos balanços. O local encontrava se vazio devido à hora, seria melhor assim ele não queria ficar sendo encarado por crianças idiotas. 

As turmalinas exaustas e cheias com a melancolia contida a anos, fitavam sem vida o lugar a sua volta. Ele não entendia porque aquilo fazia seu peito doer tanto, se pudesse queimaria ou arrancaria aquilo de si. Sua cabeça estava uma bagunça, ora lembrava se dos suplicantes olhos escarlates de Tomura, ora lembrava se do cinza opaco dos catatonicos olhos da mulher que gostaria de chamar de mãe novamente. Ele só queria lembrar se de como ela era, ver se ainda era a mesma mulher, ele só queria vê la. 

Na semana que havia sumido foi a única coisa que fez, espreitar ao longe a caríssima clínica a qual seu maldito pai havia enclausurado aquela doce criatura. Ele não entendia, mas precisava de alguma forma vê-la. Em uma noite esgueirou se até lá, como uma sombra escalou até o quarto dela, só para admirar a face lívida enquanto, a mulher de rosto cheio e mãos ágeis fazia uma peça de tricô, mas as turmalinas acabaram vendo algo a mais, alguém a mais... Novamente deparou se com os olhos distintos de Shoto, mesmo que não tivesse sido visto por nenhum deles, aquelas imagens quebraram uma parte da geleira que havia colocado entorno de seu coração. Saiu de lá exasperado e confuso, vagou alguns dias pelas ruelas sujas e retornando aquela construção  abandonada, fugindo daquela maldita visão. Perdeu se em suas lembranças, então a ácida saudade que sentia do dono dos rubis depressivos o guiou de volta para o lugar que agora chamava de casa. 

A dura que recebeu de Kurogiri assim que havia regressado, o deixou envergonhado de certa forma, e o fez  questionar se realmente o que sentia por Shigaraki era certo. O destino gostava de fode lo, parecia regozijar se com isso, e as palavras ditas por aquele garoto moribundo terminaram de romper as barreiras ao redor de seu coração. Ele era um homem, sem vida e desgostoso do mundo e de si mesmo até aquele momento. Aquelas malditas palavras, aqueles suplicantes olhos, aqueles lábios amedrontados. Por que aquele morto vivo anoréxico lhe enchia de vida? 

Levou aos seus lábios a garrafa bebendo todo o líquido até que esta estivesse vazia. 

 

- Maldito desgraçado! - Sussurrou para si mesmo. Ele não podia ficar entre Kurogiri e ele, não podia ficar entre All for one e ele. Aquele laço era forte de mais para ser rompido. Ele só queria ser aquele que Tomura poderia se apoiar sem ter medo de cair, ele só queria ser para Shigaraki o que não iria abandona lo, ser aquele que o protegeria, mas o deixaria caminhar com as próprias pernas. Por que todos pareciam trata lo como algo a ser usado? Ele não gostava daquilo. 

 

- O que sente por ele se tornará sua ruína e sua queda. Será como tomar pequenas doses do seu veneno favorito

 

As palavras de Himiko ecoavam por sua mente caótica, faziam Dabi sentir se pior ainda. Como um uroboros aquilo não teria fim. Se havia mesmo decidido pagar qualquer preço por aquilo, então estava na hora de erguer se ou cair fora e abandonar tudo como havia feito antes, entretanto lembrou se do estado em que encontrou Tomura quando voltou... 

 

- Pobre Tomura, ele se arrastou até você como um verme. 

 

Mais uma vez a insana adolescente parecia proferir as palavras mais sábias e sãs. Uma última olhada naquele céu noturno, havia perdido a noção de quanto tempo havia divagado em meio a dúvidas, lembranças e devaneios. Ajeitou se no pequeno balanço. Não havia o que fazer a não ser tornar se o guardião celibatário, o homem que sentia por dois, um coração que pulsava por dois. Tomura era demasiado complicado, tinha meios auto destrutivos de aliviar a dor. Dabi mesmo que quisesse não conseguiria cortar a si mesmo, aquilo não era pra ele, se destruía com cigarros e bebidas, aquela era sua forma de se matar lentamente. No fundo eram iguais, vermes que rastejavam em meio a mesma merda, alimentando se da decadência e podridão de seus respectivos passados abusivos. 

 

                                     (....) 

 

Os olhos de Himiko fitavam de forma analítica o corpo magro jogado sobre a cama de Dabi. Estava visivelmente entristecido a espera de alguém que talvez não retornasse aquela noite. 

 

- Kurogiri San não pode te ajudar com o que deseja. - A fala de Toga era mansa, sentou se no chão com suas pernas cruzadas de qualquer maneira. Não precisava de pudor ou modos na frente de Tomura. 

 

- O que diabos te dá o direito de ouvir atrás das portas sua cadela inútil? - Um sorriso se formou nos lábios rosados. 

 

- Dói não é? Quando ele não está aqui, quando sai sem dizer aonde vai, quando some e parece não se importar com você. - Obteve atenção dos orbes carmins que tanto queria. - Ele é o homem de chamas frias e coração quente. 

 

- Não sabe o que diz. - Mordeu seu lábio inferior, tinha medo de se abrir sobre o que sentia. 

 

- Shigaraki San tem medo que ele um dia vá embora, que ele acabe perdido em sua loucura. - Machia em seus cabelos loiros, agora soltos havia desfeito os coques. 

 

- Ele não deveria fazer o que faz. 

 

- Você sente se quente quando está perto dele, sua face fica corada e você exala o mesmo cheiro doce que as flores pela manhã. Negue se quiser, mas eu sei a diferença. 

 

- Não há diferenças Toga. 

 

- Você exalava como o cheiro que sai da boca de um cadáver e agora exala um perfume adocicado. Dabi cheirava a coisas queimadas e sangue seco, agora tem um cheiro agridoce. 

 

- Você é mais louca do que eu, não sei que merda fizeram com você, mas parece estar bem destruída. 

 

- Não há nada de ruim em se apaixonar Shigaraki San. Até mesmo pessoas como nós precisamos disso. - Tomura sentia que seu corpo estava começando a esquentar. 

 

- Acha... Acha que ele realmente... Que ele pode sentir algo por alguém tão repulsivo como eu? - O sorriso de Toga se alargou revelando seus pontiagudos caninos, a menina engatinhou até a beirada da cama, seus lábios ficaram na altura do ouvido de Tomura. 

 

- Acha mesmo que se fosse tão repulsivo assim ele tocaria seus lábios como toca? Mesmo que você fosse, ele os solveria com a mesma gula. Você é quase um cadáver Shigaraki San e acho que Dabi tem um enorme apreço por beijar seus lábios gélidos. - A face de Tomura encontrava se enrubecida e seu corpo quente. - Mesmo que ele não possa toca lo como deseja, ainda assim você o faz queimar dolorosamente. Você é o cão que apanha e ele a mão que te afaga, a noite quando seus olhos se fecharem lembre se das palmas quentes que te tocaram com carinho e não desprezo. Ele não tem um coração tão frio assim, é só uma casca para esconder o quanto ele derrete quando está perto de você. - Os arregalados olhos de Shigaraki fitavam na, incrédulos, envergonhados. Ele não tinha palavras e as que pensou ter esconderam se em um lugar inacessível de sua mente. Toga afastou se, levantando e caminhando, saindo daquele quarto com o indicador sobre os lábios. 

 

- Shh! - Ela saiu sorrindo, havia desatado um nó cego ou pelo menos afrouxado um pouco. 

 

Dolorosas horas se passaram, com Tomura imerso nas palavras de Himiko que se repetiam por sua cabeça, mesmo enquanto jogava sem parar um de seus jogos online favoritos. Escutou os passos pesados, atento. Observou a sombra do homem queimado passar pelo corredor direto para seu quarto. Ele não diria nem mesmo um "oi"? 

Tomura levantou se, tomou coragem e o seguiu, entrou no quarto do moreno, fechando a porta atrás de si, encostou nela deixando seu peso repousar ali. 

 

- Vai embora. - Palavras secas e firmes. 

 

- Não pensei que voltaria tão cedo... - Tomura queria toca lo, mas lembrava se de Dabi dizendo para não faze lo. 

 

- Você tem um quarto não tem chefe? Então vai pra merda do seu quarto e não venha me encher com suas maluquices. - Dabi não queria olhar aquela face livida, ele não queria encarar o escarlate vivo, ele não queria ceder. 

 

- Você... Não pode.... - Sua fala foi cortada pelas mãos queimadas ao redor de seu pescoço, a cabeça de Dabi estava baixa e sua respiração ofegante, ele estava fedendo a cigarro e bebida. Tomura prendeu sua respiração, sentia se enjoado com aquele cheiro. Ele fechou seus olhos esperando pelo aperto, pela sensação agonizante de ser sufocado, pela pressão sobre sua garganta, pela súbita sensação de desfalecer. Tomura não faria nada, não tentaria impedir o homem queimado, deixaria que ele extravasasse sua ira, que ele o machucasse até dar se por satisfeito. Ele não se importa, apenas esperaria até que tudo terminasse, até que seu pescoço fosse partido. Ele esperou, mas tais percepções sensoriais e espasmos corporais nunca vieram. Nem o aperto, nem o sufocar, nem mesmo uma mínima pressão. As mãos costuradas apenas deslizaram até seus ombros, Tomura abriu seus olhos e o escarlate amedrontado encontrou as turmalinas afogadas em melancolia profunda. A metade visível da face de Dabi estava vermelha, seus lábios estavam crispados, ele tremia levemente, sua respiração chocava se contra o rosto de Tomura. Dabi era a geleira que começava a cair em pedaços. O monolito que era lentamente erodido pelo tempo e pelo pesar, por anos de lágrimas aprisionadas, por anos de gritos amordaçados. 

Suas mãos queimadas deslizaram até os quadris de Tomura, para em seguida pender, o corpo de Dabi foi ao chão, o homem de face quase sempre inexpressiva perdia sua permafrost. Ele caiu de joelhos diante do anjo moribundo, diante de seu amor putrefado. 

 

- Como eu queria matar você Shigaraki Tomura, mas eu simplesmente não posso. - Sua mão direita apertava com força a camisa na altura do peito, ele sabia como seu coração doía, como palpitava, como se quebrava. Aquilo não era um simples gostar, uma mera atração, uma vazia carência, tornou se um sentimento imutável, cavado silenciosamente por outras mãos , enterrado em seu âmago. Ali Dabi descobria o quão complicado e agoniante era amar verdadeiramente alguém como Tomura. Aquele tipo de amor era diferente do que tinha por aquela mulher albina, aquilo era um sentimento que o fragmentava, que o retalhava, que o desmembrava, que fazia  com que se curvasse perante ao morto vivo. 

Shigaraki sentia que seu coração também se quebrava em vê lo decaído daquela maneira. 

 

- Eu ainda não posso toca lo? - A simples indagação fez a mente do moreno queimar, lembrou se da forma rude como havia tratado o cadavérico ao seu lado. Perdeu seu controle, abriu todas as celas e comportas de uma só vez. O choro veio baixo, as lágrimas aos borbotões. Dabi mordia a própria mão até sangrar, queria abafar o grito a muito tempo contido. 

Tomura sentou se no chão ao lado do homem queimado, seus braços envolveram o torço alheio, trazendo o corpo queimado para si, seus olhares se cruzaram e ele percebeu o quão sofrego Dabi estava. O abraço foi dado, o enlace perfeito, mas Dabi livrou se do aperto deitando se no chão frio com a cabeça no colo de Tomura. As mãos destrutivas acariciavam cuidadosamente os cabelos negros de Dabi. As lágrimas caiam sem freios, molhando tudo pelo caminho. 

 

- T-Tomura eu... Eu... Eu te... - A fala fora cortada por violentos soluços, ele engoliu as palavras junto ao bolo de emoções preso em sua garganta, aquilo era como engolir milhares de agulhas. Foi melhor assim nenhum deles ainda estavam prontos para tal afirmação. 

Uma inocente canção de ninar era sussurrada para si, a voz de Tomura ainda que baixa era bela, melodiosa e calma, pela primeira vez ele o transmitia paz e não o costumeiro receio e ansiedade. Os longos e finos dedos de Tomura corriam pelos cabelos negros cujas raízes pouco aparente eram ruivas, a doce e inocente carícia fazia o homem queimado acalmar a si mesmo lentamente. Ainda tinha pequenos espasmos e grandes fungadas devida a recente explosão de emoções. Dabi já não era a mesma geleira que costumava ser, apegou se a Tomura de tal forma que talvez houvesse tornado se depende daquele ser em decadência. 

 

- Kurogiri pode ser muito... Ríspido as vezes. - Os dedos queimados selaram os lábios rachados, o coração de Tomura falhou uma batida. Mas o homem queimado apenas encolheu se mais um pouco. - Não quer falar sobre o que aconteceu? - A resposta veio silenciosa, pois Dabi apenas negou com um aceno de cabeça. - Tudo bem. 

Longos minutos de silêncio pairaram entre eles, o único som que preenchia o cômodo eram aqueles típicos do lamento noturno. Tomura tremia um pouco e sentia dores pois estava com frio, mas não queria desalojar o moreno.  Dabi ainda que imerso em seu sofrimento lembrou se que precisava cuidar de Tomura, lembrou se de seu frágil e debilitado corpo. Podia sentir a leve tremedeira de Tomura. 

 

- Vamos pro seu quarto, eu não quero ficar aqui sozinho. - Sentenciou, levantando se em seguida. O quarto de Tomura já não tinha mais todas aquelas roupas espalhadas e sua cama estava arrumada. Trabalho de Kurogiri, colocar um pouco de ordem em meio aquele caos. Dabi jogou se no colchão macio, encolhendo se no lado próximo a parede, Tomura aproximou se com certo receio, deitando se ao seu lado. As turmalinas exaustas e imersas na maré vermelha fitaram os rubis manhosos. Os olhos de Dabi estavam vermelhos, ardiam e haviam bolsas sob eles, o pranto havia sido intenso. Sua mão acariciou a face livida, afastando a franja da testa enrugada, um beijo foi depositado ali pelos lábios queimados. Talvez Tomura esperasse por algo mais intenso, aos poucos acostumava se com os carinhos e beijos de Dabi, mas ele não pediria, não reclamaria, não exigiria. Apenas observou Dabi aninhar se em seu peito e deixar o sono fazer o seu trabalho. Ele viagiaria seu descanso, esperaria até que despertasse. Timidamente seus lábios selaram de forma doce os lábios suturados, naquele doce beijo de boa noite havia um pedido de desculpas. 

 

Continua... 


Notas Finais


Agradeço a quem favoritou, comentou ou somente lê anonimamente. Me estimula a continuar.
Não sei quando sairá o próximo se irei demorar ou não, vai depender das minhas oscilações.


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