História Palhaço - Perfume?

 Depois de uma semana já estava quase me adequando aos horários, alguns colegas me convidaram para uma festa no final da semana, ia gente de outros cursos, até mesmo Jung Kook confirmou presença, não entendia direito esse lance de festa, um amontoado de gente que deveria estar estudando para as provas e seminários, sem dinheiro, bebendo e dançando, mas é legal, então foda-se o resto(sarcasmo). Eu já havia bebido em festas no meu bairro, quando ainda costumavam fazer, eu e meus antigos amigos nos achávamos os maiores por ter bebido dois goles escondidos dos pais, eles diziam que eu iria ficar mais brincalhão que o normal, mas a única coisa que acontecia é a ânsia que vinha por não aguentar o gosto. 

 Nesse meio tempo de inicio das aulas eu já tinha começado alguns trabalhos, é aquela fase esperançosa de que pensamos que vamos conseguir cumprir todas as tarefas, enquanto eu lia um livro da biblioteca dentro do dormitório, Jung Kook estava mexendo freneticamente no seu notebook, estávamos dividindo um pacote daqueles disquetes de chocolate, então quando um pegava um pouco jogava para o outro.

 - Jimin, você não mexe no seu perfil faz um tempo – ele disse se referindo a uma rede social famosa. 

 - Eu parei de usar, achei bem inútil – respondi limpando uma das páginas do livro que sujou de chocolate.

 - As fotos da festa vão pra lá, pelo menos no grupo do dormitório. E você faz comunicação e não usa uma rede social, estranho. 

- Tá, eu vou voltar, deixa eu só lembrar a senha – ele tinha razão, junto com o pessoal especializado em tecnologia nós íamos precisar alguns trabalhos que usem essa epidemia. 

Peguei o meu notebook e liguei depois de tanto tempo, não via necessidade para usá-lo ainda, fui até o site e tentei o login 5 vezes e ele me perguntou se eu era um robô. “Depende do ponto de vista” pensei. Na sexta tentativa acertei e ri da senha babaca que tinha colocado. Adicionei Jung Kook e vi que ele tinha adicionado a garota do intercâmbio, então aproveitei para mandar um convite para ela. Sua foto de perfil já era de uma selfie com um ator qualquer de dorama, fãs... mas enfim, depois de alguns minutos ela aceitou, atualizei alguns programas e simplesmente desliguei o notebook.

 Na sexta todos no fim da tarde correram para se arrumar, Namjoon iria cantar, eu poderia pedir a ele para cantar alguma música, mas pagaria mico na frente de desconhecidos. O perfume de Jung Kook infectou o quarto todo o que me fez abrir a janela e ele riu de mim, depois de colocar os calçados fomos ao espaço da festa, estava tocando música eletrônica e ainda estava meio vazio e quieto, as pessoas estavam começando a chegar, em questão de meia hora a frente ao palco do som estava cheia. Cindy estava lá, aquela pessoa que se destacou a minha visão, que não só parecia diferente dos outros ali na festa, mas parecia também com algum tipo de garota que eu nunca conheci ou algo que emanava dela e vinha até me fazendo me sentir o diferente, e depois de alguns segundos a encarando decidi conversar com ela.

 - E ai, já se encaixou por aqui? – eu disse gritando no seu ouvido, o que fez ela tapa-lo repentinamente. 

 - Sim, aqui é uma boa universidade, além de ser no país que sempre quis conhecer – ela respondeu enquanto dançava. Para quem tem outra língua como oficial ela até era boa no coreano.

 - Eu já quis ir para o Ocidente, mas não deu, você vai gostar daqui, mudar os ares faz bem. 

- Tomara que eu goste mesmo, se não minha mãe arranca minha cara se eu desperdiçar todo o dinheiro que ela investiu nisso.

 - Situações diferentes, mas digo o mesmo. 

 - Você é bonito Jimin, seu nome é assim? 

- S-sim, sim, obrigada, você também não é feia Cindy. 

- Você sabe meu nome – ela me empurrou e riu. 

- Não finja que não vimos o perfil um do outro. 

-Verdade, você nunca mais mexeu – ignorei o fato de ela ir olhar meu perfil e segui conversa. 

- É uma obrigação? 

- Sei lá, todo mundo usa.

 - Vem cá, só pra eu testar – ela chegou perto- cheira aqui pra ver se eu estou perfumado – estendi o braço com a manga da camisa e ela cheirou e negou com a cabeça

 – Ainda bem. 

-Derramou o frasco?- ela disse levantando o olhar até ficar me encarando. 

- Ãnh? Não – disse desconcentrando. 

De repente as pessoas em volta estavam gritando, isolando até um pouco do volume da música pelo fato de o novato desconhecido estar beijando a "turista", eu ainda estava processando se ela tinha achado que era essa minha intenção, porque não era. Depois veio o baque, eu estava gostando, não era apenas um beijo, era o beijo, ela que nos separou e disse que iria pegar algo para beber, depois disso alguns caras aleatórios me cumprimentando de um jeito meio agressivo, fiquei sem reação, então Cindy apareceu e me entregou um dos copos que segurava e eu agradeci, ficamos conversando um pouco, de onde ficamos deu pra ver Jung Kook se enturmando e seus colegas o empurrarem para uma garota, apenas ri discretamente. 

Eu não tinha bebido muito, então estava tudo normal pra voltar ao dormitório, mas meu colega de quarto estava travado, só de pensar que teria de carregar essa bolsa de osso e carne me deu preguiça de sair da festa. Cindy tinha ido antes de mim, deu uma leve piscada quando virou e olhou pra mim antes de se afastar. Mas voltemos ao levantamento de peso, ele riu o caminho todo e parou pra quase vomitar umas três vezes, depois que chegamos no nosso quarto o joguei no chuveiro, pelo menos não hesitou, só pediu para pegar sua toalha e depois simplesmente deitou e dormiu, então fiz o mesmo. 

Pela manhã eu já estava meio preocupado, ele não acordou com seus despertador como sempre fazia nessas duas semanas. Já estava quase dando a hora da primeira aula e ele não tinha se vestido ainda, quando eu já estava chamando ajuda, ele se sentou na cama com cara de poucos amigos.

 - Até que enfim, pensei que teria que depor pra saberem a causa de sua morte – eu disse e ele ficou me olhando inexpressivo, apoiou sua testa na mão, por causa da dor de cabeça.

 -Pode ir, eu vou na terceira aula – ele disse, e eu não pensei duas vezes, sai rápido de lá antes que ele fizesse aquele barulho preocupante de gente vomitando. 

 Quando voltamos para o dormitório no fim da tarde a cara do mais novo não tinha melhorado, eu tinha comprado algo no caminho da faculdade e o entreguei, ele revistou tudo da embalagem, acho que ninguém tinha o ajudado com isso antes, ou preocupava-se com alguma alergia.

 - Eu fiquei sabendo que você beijou a americana, é verdade? – ele disse abrindo o que eu havia lhe comprado e olhou pra mim com olhos mais fechados que o normal, por conta da dor de cabeça. 

- Sim, na verdade, ela que teve iniciativa, mas você sabe como as pessoas são. Foi por sua causa. 

- Por que? 

- Você e seu perfume, fui perguntar a ela se eu também estava com o cheiro e depois apenas aconteceu. 

- Eu acho que aconteceria de qualquer jeito, você é bonito. 

- Ela me disse isso também, obrigada. Mesmo que eu não ache isso um parâmetro.

 - Eu não quero lembrar de nada, se eu fiquei assim foi porque lembranças boas não foram. 

- Descanse agora, amanhã não tem aula mesmo. 

- Ah, obrigada pela ajuda, acho que vou lhe desenhar. 

- Vai desenhar um palhaço? 

- Por que um palhaço?

 - Ele só se ferra, passa até uma imagem de idiota, alguns usam do estado de espirito triste a favor disso. E quando o palhaço faz seu bom trabalho no circo todos amam e querem mais, passei uma hora pensando nissi numa aula de literatura.

 - Pra mim você só é o Park Jimin que queria cantar, mas vai escrever coluna em jornal.

 - Coma logo e cala a boca. Eu só quero me aprimorar musicalmente. 

- Mas sério, se você quiser posso falar com o pessoal do canto pra te ajudar. 

- Não sei se quero topar. Eu não sei se isso é realmente meu sonho. 

- Você que diz.

*-*

 Era domingo e nós tínhamos folga, como eu ainda não tinha me encaixado em nenhum grupo fui mais Jung Kook e os amigos dele fazer idiotices espontâneas pela cidade, observar os quadros das exposições e dá criticas satíricas, imitar a pose das pessoas dos quadros, depois fazer pose estranhas onde havia pintura na parede, causar barulho numa sorveteria e depois paramos num porão, na verdade um pub. Era aquele cenário boêmio mesmo, pelo que eu tinha entendido algum amigo deles ia tocar lá e como eu gostava da música, Jung Kook achou interessante me levar. Eu não estava afim de beber e nem deixaria o mais novo fazer o mesmo pra não ter que ajudá-lo a voltar de tão distante. Nós acabamos nos divertindo muito, era uma galera boa, fácil de se sentir confortável, a apresentação foi boa, os clientes aplaudiram e todos se empolgaram com as músicas, toda vez que terminava a música o mais novo olhava para mim, eu não entendi a intenção, ele queria que fosse experimentar cantar na frente de gente bêbada e dar uma de can’t feel my face? Ficamos conversando com o cantor por um tempo e ele também riu de mim por ser alguém que eu nem sei quem sou. Quando voltamos estava no meio da noite, algumas pessoas estavam no pátio do dormitório conversando em grupo e até gente fumando escondida, fomos para nosso quarto, eu já estava muito exausto para lidar com outras pessoas. Jung Kook tomou banho por último e eu fui escovar os dentes enquanto isso, ele assobiava uma das músicas que tínhamos escutado mais cedo. 

- O tímido Kook está cheio de amigos – eu disse depois de cuspir a espuma na pia. 

- O pessoal me deixou mais a vontade, você também parecia muito menos apático que antes.

 - Isso foi uma tentativa de me motivar? Você quer mesmo que eu cante ou escreva algo. Vou ignorar o apático.

 - Ainda bem que você notou, não vai saber se é bom ou ruim sem treinar e tentar. Nesse momento eu deveria estar estudando medicina em algum país com educação melhor, e olha eu aqui agora. 

- Mas Namjoon tinha razão, eu não tenho o dom, ele tem, eu só tenho o rostinho bonito. 

- Ou seja 50% já está pronto. Animação, não precisa ser profissional, aja como se fosse um hobby. 

- Depois não reclame quando quiser me expulsar do quarto.

 - Eu vou é começar um dueto. 

- Vão nos expulsar daqui- rimos juntos, nós tínhamos adquirido algo a nossa amizade, aquele jeito alegre que ficamos conversando com alguém muito legal, ou pelo menos quando os envolvidos acham entre eles uma diversão. 

 Na segunda tinha um desenho de um palhaço do lado de um desenho de mim, eu não consigo escrever um texto bom de trinta linhas em um dia, aquele menino era um robô, só pode.

 Falei com Cindy quando a encontrei no caminho do dormitório e a faculdade, fomos conversando pelo não longo caminho, ela me contou sobre suas gafes de turista e tentou me ensinar algumas palavras em inglês, mas se nem minha língua oficial eu domino totalmente, imagine essa cheia de letras desconhecidas. 

Assisti todas as aulas normalmente depois voltei sozinho para o dormitório e fiz partes dos trabalhos pendentes, Jung Kook chegou um pouco depois e foi fazer o mesmo, pensei em agradecer pelo desenho, mas ele estava tão concentrado que resolvi não atrapalhar o seu raciocínio.

 Eles riem de algumas burrices minhas, mas dão atenção a tantas frivolidades que me sinto familiarizado entre todos, talvez isso seja humano, e todo esse lance de amizade também, pelo menos no meu ponto de vista, sempre alguém diferente, mesmo que com gostos iguais aparece para te apoiar ou julgar com base no que você realmente é ou não, mesmo que posteriormente tudo se torne confusão e possa acabar, por orgulho.