História Palhaço - Imperfeitamente agradável

A vida é cheia de momentos que parecem até combinados como se fossemos personagens de uma história, tudo uma encenação, onde acaba tudo se encaixando, talvez nem tudo, mas acho que não seria equivoco dizer que todos seres vivos nos interligamos, afinal é assim que funciona o mundo. Quando Cindy se foi, sei que algumas pessoas ao meu redor não davam muito crédito, mas só eu sabia o que sentia, e nem ao menos tinha direito de me justificar, são outras vidas, outros desejos, mas é maravilhoso quando a pessoa quer te acompanhar em algo, tem algo bem valioso em comum, e aos poucos tive de aprender a enxergar isso quando aquela garota do intercâmbio foi embora.

 Durante a época de férias tive a decisão de ficar com meus pais, não tinha melhor pra fazer, Hoseok viajava e Jung Kook, com que eu voltava a falar, também estava indo para Busan, como prometido e pra ter algo como distração, eu iria começar a conhecer a indústria musical e artística, isso até seria uma grande ajuda no meu trabalho.

 Meus pais me abraçaram exageradamente quando cheguei, mas algumas horas depois já me obrigaram a arrumar meu quarto, assim feito fiquei conversando com meu irmão mais novo sobre escola, amigos, ele parecia tão menos idiota do que eu nessa época. Como estava muito cansado apenas deitei e adormeci quando chegou no meio da noite.

 Na outra manhã fui para a casa do mais novo que não era tão distante que a minha, mas não dava pra ir a pé, seus pais pareciam adotar muito o estilo americano, reparei pelas vestimentas, a casa, e até essa coisa dele conhecer vários estilos musicais, fui recepcionado com um lanche que não quis recusar, e depois ele quis me mostrar onde ficava todas as suas coisas de música, livros, e até pintura. Era uma sala de tamanho médio com estantes cheias de coisas e quadro com fotos dele e pôsters, dali ele puxou uma caixa com cds e um microsystem velho com figurinhas do homem de ferro quase descolando, no chão tinha algumas almofadas velhas que ele pegou para que nós sentássemos, e contou o que sabia sobre alguns artistas, ele sabia muita coisa pra alguém da idade dele, acho que sabia até de como foi os mínimos detalhes da invenção do primeiro instrumento musical.

 E assim se passaram muitos dias, nesse meio tempo também tinha ido rever meus antigos colegas e eles me perguntavam de Namjoon, eu já não sabia muito sobre ele, mas devia estar fazendo sucesso.

 Por isso a noite, levantei essa questão quando conversava por mensagens com Jung Kook, isso era algo que já me atormentava a muito tempo, não tampouco naquele momento, mas trazia lembrança. Parecia que só era mais um entre tantos humanos acumulando espaço enquanto os outros faziam algo de importante, naquela época não sabia o quanto seria útil depois, mas isso é pra outra hora. Porém, eu estava um pouco insatisfeito por querer ser algo que alguém já tinha esse papel, sem saber o que quero realmente.

 “ Cara, apenas viva, você vai ver que você vai se identificar com algo e seguir aquilo, já tem tantos problemas e você quer criar mais. “ Cook

 “ Mas estou falando do passado mesmo, talvez agora eu estou me livrando um pouco disso, quem sou eu? ” Chimchim

 “ Você ainda está construindo sua história, mas vejo você como uma pessoa ótima, acho que a população humana ainda vai ter muito do que aproveitar de você e você dela, se não quiser os ETs com certeza aceitam Hahhahahahaha” Cook

 “ Você não vale, eu me esforço pra ser bom amigo. “ Chimchim

 “ Será que Hoseok diria o mesmo? Pior que sim. Viu só, já é um bom começo, e para com essa conversa de ser um palhaço, porque é muito melhor ter sua personalidade do que ser uma pessoa miserável, como daquelas que vemos na tv causando horror. ” Cook 

“ Tem razão, mas e você? Parece tão tranquilo mentalmente. “ Chimchim 

“ Eu tento passar segurança aos outros, sempre me cobrei demais, fui o filho dos sonhos, mesmo que meus pais nem fizesse questão, você vê como eles são super tranquilos, mas parece que eu tenho a obrigação de fazer tudo certo pra não desfazer essa situação, já me privei de tantas coisas, e continuo me privando pelo mesmo motivo.” Cook

 “ Mas eles te amam de qualquer modo. “ Chimchim

 “ Não são eles que eu estou tentando agradar. “ Cook

 “ Seja quem for, se é importante pra você, mostre o seu melhor e o seus defeitos também, ninguém merece viver algo superficial. “ Chimchim 

“ Vou tentar, viu só, você me incentivando, é útil sim. “ Cook

 Eu era a pessoa a quem ele queria agradar e foi difícil, mas entendi tudo isso em apenas cinco minutos, mas não naquele dia. E essa história de se cobrar iria nos afetar no futuro.

 Era domingo, último dia de férias e nós já estávamos a uma semana na república, tínhamos acabado de voltar de uma conversa com Taehyung e eu tive uma leve impressão de que tinha visto Yoongin de peruca, mas achei que podia ter sido alguém parecido. Mas voltando, eu tinha acabado de lavar as mãos como de costume quando chego da rua, e ia pegar o celular para assistir algo, mas Jung Kook pegou da minha mão, quase lhe dei um soco no braço, só que ele me ofereceu umas batatinhas, a fome vence a raiva no meu caso.

 - O que você quer? – lhe perguntei.

- Nada, só quero conversar.

 - Sim, do que quer falar? 

- Lembra de quando conversávamos de agradar os outros e você me disse aquelas coisas?

 - Sim, deu certo?

 - Na verdade eu ainda não sei.

 - Tomara que dê, não sei dar conselho.

 - Então, acho que o clima aqui vai ficar sério – ele puxou o saco de batatinhas da minha mão.

 - Vai mesmo, estou me irritando com você.

 - Calma – ele riu – É sério. Sabe naquela época, que eu sempre ia ao cinema, exatamente coincidente a enquanto Cindy estava aqui, eu sempre ia para lá porque me sentia um pouco solitário ou me estressava com você, porque eu não queria afetar sua vida, mas eu queria dizer que não queria que você ficasse com ela e queria terminar cada discussão, mas um momento eu ia passar dos limites, e ia deixar o que eu sinto ditar as regras.

 - O que você está dizendo? – eu sabia o que ele dizia, mas não me dava conta e foi ali naqueles cinco minutos silenciosos, em que eu lembrei dos momentos que ele falou, e ainda todos aqueles dias das férias, e perceber o que estava acontecendo enquanto ele me beijava. 

- Por favor, diz que sente o mesmo, que gosta de mim. 

- E-e-eu não sei, acho que sim, mas talvez tenha percebido agora. Co- co- como você aguentou tanto tempo assim, por que não me disse desde o inicio? Eu não sou um monstro.

 - Relaxe, e não precisa se sentir pressionado também, reaja da forma que quiser.

 - Para de ser tão compreensivo, eu estou tendo um surto. 

- Muita informação, desculpa. 

- Eu não fazia ideia, como sempre lerdo. Olha, eu não quero mais fazer isso hoje, preciso entender tudo e acordar bem amanhã. 

- Tudo bem, toma seu celular e as batatinhas – ele me devolveu tudo e eu tentei esconder a tremedeira que minha mão estava.

 Me surpreendendo, até que a noite foi tranquila, preferi ler um livro, ou pelo menos fingir e o mais novo também fazia o mesmo, o silêncio era paciente e compreensivo, e logo depois acabamos dormindo, ou pelo menos tentei. 

Mal sabia que naquela noite um voo de um recém formado em administração estava acontecendo e por quais circunstâncias eu iria encontrar com essa pessoa, não no outro dia, porque essa também é outra história.