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História Paper - Perfume


Escrita por: Beeyu

Notas do Autor


Sofri para escrever isso.
Revisado pela waifu.

Capítulo 5 - Perfume


Fanfic / Fanfiction Paper - Perfume

 

Por alguns minutos, achei que tinha perdido para o dia.

...

Acordo cedo, ainda no hospital. Uma enfermeira me ajuda a arrumar minhas coisas. Estou apenas com o vestido da noite anterior. Um gemido agonizante sai pelos meus lábios.

 

—Senhor Plisetsky... — A enfermeira não sabe como começar. Ela se aproxima, estendendo um casaco e uma sacola. —O senhor Alt.… digo, deixaram isso para o senhor. — Pego o casaco de sua mão, aproximando instintivamente do meu rosto. Sorrio ao sentir o cheiro de perfume amadeirado com graxa impregnado no couro frio. A sacolinha tinha uma pomada e alguns remédios. Faria por qualquer um.

 

Saio do local bem embrulhado no casaco, resolvo olhar meu celular. Cinco da manhã, porém o sol já começa a nascer. Uma mensagem no facebook.

 

“Você está melhor? “, piscando abaixo do nome do moreno. Abro o WhatsApp, procuro o contato recém salvo e respondo por lá. Faria por qualquer um.

 

“Yuri aqui. Não. ”.

 

“Precisa de algo? ”. Por que ele se importa? Está se sentindo culpado? Não foi ele quem me atacou... né? Ah sim, ele se preocuparia com qualquer um.

 

“Dormir ”. Respondo seco, e ele parece aceitar, não me mandando mais mensagens.

 

O hospital não é muito longe da minha casa, consigo ir a pé. Tomo um banho e troco de roupa. Não consigo me recordar de muita coisa da noite anterior. Meu corpo está dolorido, cheio de marcas roxas, esverdeadas e amarelas por todos os lados. As feridas, ainda abertas em sua maioria, ameaçam sangrar com qualquer toque. Minhas costas doem, muito.

 

Pego a pequena receita com os cuidados que o médico me passara. Faço o passo a passo com cuidado. Lavar, pomada, curativo. Lavar, pomada, curativo. Confere. Procuro roupas que cubram todas as feridas. Me apresso para fazer um café e comer algo, meu estômago precisa de comida. Meu celular pisca, uma mensagem automática da faculdade.

 

“Você está no limite de faltas para reprovação! ”. Rosno em resposta, terminando meu café e jogando a mochila nos ombros. Perdi a primeira aula, mas acho que consigo conversar com a professora. Meu ônibus chega, e o trajeto até a faculdade é tranquilo. As pessoas olham feio para mim, outras olham com pena. Me encolho mais nas roupas, com frio.

 

Chego na faculdade, e vejo todos os pátios vazios. Meu corpo se relaxa, e a alegria me invade. Pena que alegria de pobre dura tão pouco. A voz irritante de Viktor pode ser ouvida de dentro do prédio. De repente, ele sai com alguns colegas rindo sobre uma prova que acabaram de terminar e que parecia estar mais difícil que passar um Yuuri pela seringa.

 

—Aquele infeliz não tem aula não? —Reclamo.

 

—Ah, Yurio! Você está atrasado hoje! —Ele nota a minha presença.

 

—Sim, deixe-me ir para meu prédio. Volte para sua aula. —Apresso meu passo.

 

Ele corre atrás de mim, e puxa meu braço. Grito de dor, ele se assusta.

 

—O.... O que aconteceu com você? —Hesita.

 

—Me... —Não posso contar a verdade para ele. — Me bateram ontem. Não foi nada demais, relaxa. —Minto.

 

—Nada demais? Isso é uma ferida bem feia? Yuri! Deixe-me ver isso! —Ele tenta me puxar para seu lado, enquanto eu tento fugir.

 

—Não é da sua conta! Eu já fui no hospital de qualquer maneira! —Tento me desvencilhar de seus braços, fracassando.

 

—Te medicaram? —Assenti. Ela olha nos meus olhos com carinho por alguns segundos, a expressão triste. —.... Me preocupa saber como você vai ter que fazer para pagar isso. — Ele suspira.

 

—Já pagaram. —Murmuro.

 

—Quê? Quem? —Ele está tão confuso quanto eu. Dou de ombros.

 

—Não é como se eu soubesse. —Ele pousa o indicador sobre os lábios, uma pose irritantemente confiante em excesso.

 

—Mas e os remédios? Você precisa de anti-inflamá... —Antes que ele pudesse continuar, levantei a sacolinha com os remédios que eu teria que tomar no período das aulas. Ele pega e, observa as caixinhas. Sua expressão é levemente surpresa.

 

—Bom, seja lá quem tenha pago tudo isso para você... —Ele me devolve a sacola. —A pessoa te ama bastante. Esses aís são dos caros. —Ele ri.

 

Eu coro lembrando de Otabek. Só podia ter sido ele. Mordo o interior da minha bochecha, com vergonha. Ele faria isso por qualquer um. Ele mesmo disse que só fez isso comigo por eu ter sido o único que não conseguiu fugir. Uma lágrima ameaça escorrer, e seguro ela com força. Faria por qualquer um.

 

Me despeço de Viktor com custo e vou para minha aula. Graças ao meu estado, os professores compreendem minha falta nos primeiros horários e não contabilizam a mesma. Tive que mentir que sofri um acidente de carro, atropelado por um bêbado enquanto voltava do mercado, mas que não tive sequelas mais graves. As próximas aulas passam rápido, estou sentado nas últimas fileiras, escrevendo a matéria de forma desleixada. Minha mão já está dolorida, não consigo escrever nem prestar atenção.

 

Não tenho muitos amigos na sala. Para ser sincero, a maioria nem ao menos sabe meu nome direito. Mal converso para um trabalho em grupo e olhe lá. Não é como se eu me importasse, de qualquer forma. São todos muito diferentes de mim. Eles têm vidas medianas, exaltam seus problemas para tentar faze-los parecer maiores e parecerem mais “descolados”. Um tipo de competição de quem sofre mais. Patético.

 

Nem percebo que já acabou a última aula de Teoria da Percepção, cuja matéria eu não entendo bulhufas, quando o professor se aproxima. Eu estava praticamente dormindo.

 

—Yuri, eu tenho que fechar a sala. —Sua voz é rouca, deveria ser agradável. Porém só consigo me enjoar de ouvir qualquer voz hoje.

 

Assenti com a cabeça, recolhendo meus materiais e saindo do prédio. São quase meio-dia, mas não quero ir para casa. Me aproximo do pequeno pátio comum a todos os centros. Alguns banquinhos espalhados, alunos chorando suas notas, calouros gritando e brincando como se não tivessem saído do ensino médio. O misto de perfumes importados e cigarros mentolados faz uma confusão nojenta de se presenciar.

 

Me sento em um dos bancos, suspirando de dor. O banco onde estou é escondido pelas plantas, mas consigo observar todo o campus.

 

Às vezes eu realmente penso que minha vida é um tipo de castigo. Sabe, não é como se eu tivesse cometido algum crime nem nada do gênero. Mas eu acho bem injusto.

 

O que eu sou? Apenas uma travesti que se vende para pagar um dos cursos mais baratos do campus. Não consigo me esforçar nem para conseguir uma bolsa. O curso e a jornada-dupla me corroem.

 

Nesse momento estou olhando para cinco alunos de Direito. Um dos cursos mais caros, se querem saber. Só as roupas que eles estão usando hoje, paga três meses do aluguel da Mila.

 

Um deles começa a falar que ganhou um carro novo de aniversário, mas que o pai dele não quer deixar ele usar para ir à faculdade, ele tem que continuar vindo com o antigo. Por antigo, leia: “carro duas vezes mais caro que minha casa, porém fabricado um ano antes do novo, logo é antigo”. De acordo com ele, o pai é um pé no saco. Reviro meus olhos e me afundo no banco de concreto desconfortável. Se quiser me dar seu pai de presente, eu aceito. O meu nem deve saber que eu existo. Se bobear, está morto ou preso.

 

A outra aluna, com sua voz irritante, diz que a mãe dela obrigou ela a vir de minivan com outros colegas. E que na verdade a mãe dela queria que ela viesse de ônibus, mas ela acha ônibus “nojento demais” então praticamente implorou para vir em algum transporte particular. Todos riem e concordam. O aluno do carro grita que ela iria pegar AIDS dentro do ônibus. Suspiro.

 

Meu olhar busca outro canto. Encontro Viktor. Ele parece não ter me visto, graças aos deuses. Está sentado sob uma árvore, uns 4 livros gigantescos ao seu redor. Ele parece extremamente concentrado. De repente, um colega se aproxima e ele começa a rir, dizendo que não consegue de jeito nenhum memorizar aquilo sem lembrar de uma outra matéria. Ou algo assim, não consigo prestar atenção na voz dele. Às vezes eu sinto inveja. Ele é perfeito em excesso.

 

Yuuri se aproxima de Viktor, se aproxima dos dois, parece pedir ajuda com algo. Sem o jaleco, percebo o corpo de Yuuri ser levemente gordinho. Ele tem cara de quem come demais. Parece ser um cara tímido, que faz enfermagem por ter sido obrigado pela família. Ele parece ter uma boa família, fora isso. Está sempre sorrindo com Viktor, mas vez ou outra solta um suspiro de quem já não aguenta mais essa vida. Não sei se seremos amigos, mas sinto que temos isso em comum. Ele me olha como se me entendesse, sem pena. Será que é mal do nome? Eu também invejo ele, principalmente por ter encontrado alguém que o ama. Viktor está o abraçando, enquanto explica algo da matéria para ele. Eu sinto muita inveja do amor dos dois. Muita mesmo.

 

Isso me faz uma pessoa ruim? Invejar o amor dos outros? Isso me torna um monstro, não é? É um sentimento tão belo, e eu aqui nutrindo um tão oposto. Eles olham um para o outro de uma forma tão plena, que chega a doer. Dói, e dói muito. A inveja me mata aos poucos de tanta dor.

 

O olhar dele se encontra com o meu, e ele sorri como quem dissesse “não vou contar ao Viktor que você está aí, relaxe. ”. Lanço um sorriso amarelo em resposta, e meu olhar volta a passear pelos outros estudantes. O cenário de roupas caras e celulares de linha não muda muito. Não é como se eu invejasse o dinheiro deles. Isso também, claro, não nego. Eu sou humano, eu invejo o dinheiro. Mas minha maior raiva é não poder sorrir dessa forma pura como eles. Eles agem como se não tivessem ideia do que acontece no mundo lá fora. O mundo é cruel, ele te arrasta esfrega seu corpo nu no asfalto quente. Continuo a passear os olhos pelos alunos, observando suas feições.

 

Até que chego nos alunos de exatas. Alguns pareciam usar pijamas. O cheiro de café se arrasta por onde eles passam. Eles riem de piadas difíceis, esfregam na cara de tudo e todos que passaram em sabe-se lá qual matéria com mais contas do que todas que eu já fiz na minha vida com meus clientes. Suspiro pesado.

 

Otabek está lá, sentado em uma dessas mesas com tabuleiro de xadrez grudado. Ele parece concentrado com um caderno em mãos. Rabisca rápido. Não sei se ele está fazendo contas ou apenas rabiscando mesmo. De repente, seu olhar cruza com o meu. Ele ficou vermelho? Bom, não tenho certeza. Ele está longe, pode ter olhado para qualquer outra pessoa no caminho. Ele fecha o caderno com brusquidão, enfia na mochila e se levanta.

 

Ele está vindo em minha direção? Oh, não. Oh, céus, sim. Ele está vindo. Provavelmente ele vai me dizer em quantas vezes eu vou ter que pagar tudo que ele fez por mim. Ou cobrar sexo em troca. Talvez vá me humilhar e se vangloriar de como ele ajuda e salva as pessoas ao redor dele, e de como eu sou um fracassado que não consegue ao menos fugir de uns moleques.

 

Olho para os lados pensando em uma forma de fugir, mas ele é mais rápido e em alguns instantes já está sentado do meu lado. Seu cheiro hoje é melhor que o de ontem, o perfume amadeirado não me enjoa, e faz um contraste bom em meio a todos os outros.

 

—Você está melhor? —Ele me pergunta como quem já soubesse a resposta negativa.

 

—Eu tenho cara de quem ‘tá melhor? —Não usei um tom grosseiro, na verdade minha voz falhou por quase toda a frase.

 

—Quer... —Ele hesita. —Conversar sobre isso? — Arregalo meus olhos.

 

—Não. —Ele assente e se afunda no banco como eu.

 

—Se você precis... —Ele começa, mas eu corto ele rapidamente.

 

—Eu não preciso da sua pena.! Nem sei porque você está fazendo tudo isso por mim. —Agora eu fui grosso. Não é como se eu me arrependesse.

 

—Não é pena. —Ele me olha com firmeza.

 

—O que é então? —Ele parece ficar sem resposta. —Vai dizer que me preocupa comigo? Você nem ao menos me conhece. — Ele abaixa a cabeça.

 

—Eu não sei o que é. Eu só sinto vontade de te ajudar. —Ele dá de ombros. Ele faria isso com qualquer um.

 

—Já ajudou. Agora o herói tem outras princesas indefesas para salvar, vá lá, vá. —Cruzo meus braços. —Aliás, qual o seu preço? —Ele me olha como se não entendesse.

 

—Que preço? — Sua voz é confusa. Bufo impaciente.

 

—Vá me dizer que você costuma pagar hospitais particulares para as pessoas sem cobrar nada em troca. —Reviro os olhos.

 

—Não é como se eu precisasse de algo de você. —Dá de ombros.

 

—Pois eu não preciso de nada de você também, idiota. — Pela primeira vez olho para ele decentemente.

 

Ele não está sorrindo, na verdade em seu rosto há uma expressão sofrida. Ele segura a alça da mochila. Seu maxilar é marcado, bonito. Me dá vontade de ficar vendo. Seus olhos puxados com nariz achatado dão uma feição asiática forte, combinando com a pele morena. Os cabelos estão penteados para o lado, deixando seu undercut à mostra somente de um lado. Suspiro com a visão.

 

—Hã? —Ele diz, após meu suspiro. Ele é tão quente. Queria dar para ele durante a noite toda. Ser fodido com força por aquele homem. Uma pena que isso nunca vai acontecer.

 

—Nada. —Respondo e ele parece não aceitar, franzindo as sobrancelhas. —Você mesmo disse que faria isso com qualquer um. —Ele olha para o lado.

 

—Não foi isso que eu quis dizer àquela hora. Eu disse que iria ajudar qualquer um sim, mas não a parte de levar no hospital e... —Ele hesita.

 

—E ficar lá cuidando como se eu fosse um inútil? Muito obrigado, mas eu poderia me virar muito bem sozinho. —Reclamo.

 

—Não pareceu isso quando aquele imbecil estava prestes a te matar. —Ele cospe as palavras.

 

De repente, minha mente volta para a cena. Ainda não tinha parado para refletir sobre o que aconteceu. Eu estava mesmo vivo? Será que meu castigo de merecer sofrer é tão grande que nem morrer para poder acabar com todo esse sofrimento eu posso?

 

O que deus planeja para mim? Ele quer que eu definhe aos poucos? Que eu sofra cada dia, ao invés de simplesmente acabar com tudo de uma vez?

 

O que eu fiz para não merecer nem morrer e descansar em paz?

 

Eu mereço viver? Viver é meu castigo?

 

Saio de meus pensamentos quando sinto sua mão quente no meu rosto. Ele está com uma feição preocupada.

 

—Você.... Estava chorando... — Ele cora, tirando a mão. Limpo meus olhos. —Tem certeza que não quer conversar? Eu tenho tempo. —Ele sorri triste.

 

E então ele quebra essa barreira. Começo a falar. Eu conto sobre meu avô me bater, conto sobre me prostituir para pagar a faculdade e as contas. Conto sobre ter que esconder o que eu como, e ter apenas duas refeições quase decentes por dia. Conto sobre Mila, sobre eu dançar em boates e começar a me prostituir antes mesmo de ser maior de idade. Conto sobre meu avô fazer dívidas com agiotas e eu ter que pagá-las com meu corpo. Conto sobre odiar meu curso, odiar minha vida.

 

Conto sobre não aguentar mais, sobre estar pensando em desistir.

 

Ele me olha indecifrável. Fica me encarando todos os segundos que eu falo, sem desviar sua atenção. Limpa uma ou outra lágrima teimosa que insiste em correr pelo meu rosto. Quando eu acabo, ele continua me olhando. O pátio está silencioso, a maioria dos alunos voltaram para as aulas ou foram para casa.

 

—Você tem uma vida complicada. —Ele ri fraco. De repente, eu caio na real. Ele faria isso com qualquer um. Eu sou qualquer um.

 

—Isso não é nem da sua conta! —Me levanto, bravo. Ele se assusta. —Eu não sei por que eu te contei nada disso! Que raiva! —Reclamo alto, ele parece não entender.

 

—Yuri, calma. —Ele começa, mas eu me viro em direção à saída correndo.

 

Quando chego, viro-me e vejo que ele não me seguiu. Por alguns segundos, meu corpo desejou que ele tivesse me seguido, me puxado para um beijo, me levado para sua casa e me fodido até o dia seguinte. Balanço a cabeça para afastar os pensamentos, e fico na espera do ônibus.

 

De volta à rotina. Ônibus, marmita, casa. Chegando, meu avô está puto. Vejo o relógio, já são três horas da tarde.

 

—Onde você estava, vadia imprestável? —Ele grita, muito alterado.

 

—Na aula. —Respondo, seco, deixando a comida na pequena mesa.

 

—Não minta para mim! Minha comida! Eu sou um idoso e você me maltrata! —Ele grita.

 

—Não fale alto assim, os vizinhos vão pensar que é verdade. —Sussurro.

 

—Mas é verdade! Você é um promíscuo pervertido que maltrata idosos! —Ele aponta o dedo na minha cara, e começa a quebrar as coisas.

 

—Eu tive aula extra, se quer saber! Sua comida está aí! Você poderia ter comprado por conta própria, pernas para beber você tem, não é? —Grito tão alto quanto ele, indo para meu quarto e me trancando.

 

Ele começa a esmurrar a porta do meu quarto, e eu me encolho de medo.

 

—Você vai sair dessa casa! —Ele grita. —Uma hora tem que sair desse quarto! —E então ele para de bater na porta, saindo provavelmente para beber mais.

 

Então eu me deixo levar e choro.

 

As paredes do meu quarto parecem se encolher em minha direção. O ar fica rarefeito. Abro a única pequena janela, mas o ar ainda falta. A poeira e mofo do quarto irritam meus pulmões. A luz está piscando, e eu começo a tossir enquanto choro.

 

Sufoco.

 

Ar. Eu preciso de ar.

 

Minha garganta arranha, meus olhos ardem. Meu corpo treme, não consigo pensar.

 

Meu telefone toca. Não consigo ler o nome. Atendo. É Mila.

 

—Yuri, você está bem? Fiquei sabendo do ataque ontem... —Ele começa.

 

—Mila... Socorro... —Suplico em russo.

 

—Você está em casa? —Ela parece entender minha situação, eu confirmo e ela desliga.

 

O tempo parece não passar. Cada segundo dura uma eternidade. Me reviro na cama, meu corpo ardendo.

 

Batidas fracas na porta.

 

—Yuri! Abre aqui! É a Mila! — Suspiro.

 

Me levanto com dificuldade, abrindo a porta. Ela me olha com pena. Me puxa pelo braço e quando eu vejo estou indo em direção à casa dela. Moramos perto, na mesma rua, mas o caminho parece ser de quilômetros. Tropeço na calçada.

 

O cheiro de sexo, perfume barato adocicado, tinta de cabelo e alisante com formol invade minhas narinas e sei que cheguei na casa de Mila. Maconha e álcool são odores que ficam no fundo, dando as notas de periferia que tanto amo naquele buraco nojento.

 

Entro no quarto dela. Estou cada vez pior. Não consigo enxergar nada. Sua voz é de desespero. Ela fala algo sobre ligar para Viktor, por ele ser médico ou o caralho de quatro. Não compreendo. Vejo ela no telefone, minhas lágrimas saem desesperadas.

 

—Não! —Eu tento falar, tento gritar, minha voz não sai. Meu peito dói, meu pulmão está frenético junto ao meu coração.

 

Sinto pontadas de dor como se agulhas me pinicassem, e o ar não vem. Tento respirar mais alto, sinto como se fosse morrer.

 

Quero fugir, fugir do meu corpo. Estou louco? Eu não sou louco! Estou com medo até de ter medo, meu coração parece que vai sofrer um colapso.

 

 

E então, tudo escurece.


Notas Finais


Espero que gostem <3 Comentários são bons e eu gosto hah


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