História Paper rings - Ato 1, cena 2: Bananas de pijamas e o felino traficante

"Eu deveria ter tido uma overdose quando tive a chance."

Quando a lata de sardinha pousou Caitlin ainda se sentia nas nuvens. Seus pés tiveram que tocar a terra firme para que ela sentisse finalmente em paz. Durante todo o caminho da esteira até a saída, Caitlin ansiava pelo verde, a natureza lhe era um estranho calmante. Quando estava no hospital depois de uma longa cirurgia procurava ir para a pequena praça que ficava na entrada, se sentava no banco debaixo de uma bela árvore e ficava olhando o vento balançar as folhas até derrubá-las no chão. Para Caitlin, aquilo era paz.

Eles pegaram um táxi para antiga casa de Barry, a cidade já estava se tornando escura e as luzes pintavam os prédios. Caitlin se inclinou para a janela observando o céu em seu tom amarelado e azulado, ela sorriu minimamente procurando a primeira estrela da noite. 

-Mamãe disse que convidou alguns amigos próximos para jantar. Ela está animada por finalmente conhecer vocês. - Barry disse, mas era uma novidade. Nora já havia expressado o quanto estava ansiosa por conhecê-la, Caitlin havia recebido inúmeros presentes da matriarca durante os últimos anos. No natal passado havia recebido um antigo livro de Jane Austen com o rodapé rabiscado com pequenas observações, algo que a encantou. 

-Quem mais vai estar lá? - Cisco indagou sem desviar o olhar do celular, mesmo longe e de férias, ele era o cérebro por trás de toda empresa onde trabalhava. 

-Apenas alguns conhecidos. - Barry deu de ombros e Caitlin assentiu acreditando realmente em sua palavra. 

Entretanto, ao chegar na casa dos Allen, uma bela residência de dois andares pintada de um marrom avermelhado com uma grande e frondosa árvore na frente, ela percebeu que não era bem real o que ele havia dito. Haviam bem mais carros do que Caitlin gostaria e também mais vozes do que desejava. E Caitlin não estava vestida para aquele tanto de pessoas. Quando os três viajavam junto, o que raramente acontecia, eles tinham a mania de usar seus piores pijamas, uma brincadeira sem sentido e que agora lhe faria passar vergonha na frente de desconhecidos. 

Caitlin abaixou os olhos encarando seus tênis brancos, a calça cinza e a blusa com a estampa da Elsa por baixo do casaco vinho já desbotado. Não era seu melhor momento. 

-Eu não vou entrar aí usando esse pijama. - ela afirmou parando no meio da calçada. O táxi já seguia pela rua deixando-os para trás e impedindo Caitlin de ter uma rota de fuga decente. 

-É só um pijama, Caitlin. - Barry alegou e então apontou para si mesmo. - Eu também estou de pijama e vou entrar. 

-Barry, você parece a porra de um modelo da Calvin Klein. Eu estou com a blusa da Elsa e Cisco com pantufas do Doobie. Estamos ridículos. 

-Embora não possa concordar totalmente sobre estar ridículo. - Cisco a encarou de soslaio, mas continuo. - Devo dizer que Caitlin tem razão, você parece pronto para semana de moda em Paris, enquanto nós parecemos mendigos, bonitos, mas mendigos. 

Caitlin assentiu ferozmente já se sentindo envergonhada devido aos olhares de uma senhora do outro lado da rua. 

-Vocês realmente não vão me deixar em paz até trocarem de roupa, não é?

-Achei que você nos conhecesse melhor do que isso, Allen. - Caitlin abriu um sorriso sarcástico e cruzou os braços. 

-Vem, vamos entrar pelos fundos. Tenho certeza que é só uma reuniãozinha do grupo da minha mãe. - Barry disse puxando a mala dela para a lateral da casa onde havia um pequeno portão entre a casa e o muro, ele o abriu e eles entraram em um corredor que seguia direto ao quintal, mas antes que pudessem chegar ao fim do caminho as vozes os fizeram parar. 

-Reuniãozinha, Barry? Uma reuniãozinha! - Caitlin o estapeou no braço com toda a força que tinha e somente parou quando Cisco se colocou entre eles. Ela bufou e abriu a bolsa pegando o celular. - Vou chamar um Uber para sair daqui. 

-Ou! Ou! Não fazemos nenhuma loucura. - Barry seguro as mãos dela e lhe deu aquele olhar maroto, então ergueu o rosto para algo acima dela. Caitlin virou o rosto e encarou a janela aberta. - Eu tenho um plano.

Caitlin franziu a testa ao encarar Barry tentando entender o raciocínio dele.

-Barry, me diga em que mundo chamar um Uber é mais louco do que invadir uma casa?! - Cisco o encarou com um olhar incrédulo,  que Caitlin compartilhava.

-Cara, só presta atenção. Obviamente alguém já notou o táxi e irá notar se um Uber aparecer na porta, então Caitlin se trocará lá dentro e depois entraremos. Ok? - Barry soltou as mãos dela e abriu aquele sorriso sabichão que sempre a fazia querer jogá-lo pela janela. Havia muitas coisas em Barry que lhe causavam o instinto primitivo de agressão física.

-Eu te odeio tanto agora. - Caitlin murmurou cruzando os braços. 

-Algumas vezes eu me pergunto se não teria sido mais fácil fazer amizade com Hartley, eu sei que ele é um idiota arrogante, mas pelo menos ele é sã. 

-Cisco, Hartley não tentou te matar com uma chave de fenda? 

-Todos temos dias difíceis, Barry! 

Caitlin revirou os olhos, uma péssima mania que havia adquirido por conta daqueles dois, e pensou em suas opções, entrar de pijama ou invadir uma casa para trocar de roupa. Pensou em sua mãe e como ela reagiria se visse Caitlin entrar em uma festa de pijama, Carla enlouqueceria e muito provavelmente a deserdaria, como se houvesse algo para ela herda. Mas a verdade era que Caitlin não queria entrar de pijama, ela era orgulhosa demais para ser vista usando aquelas roupas, mesmo que estivesse com Barry e Cisco, ela sabia que seria julgada por todas as mulheres que estivessem na casa. 

E embora atualmente houvesse um enorme discurso sobre sororidade entre mulheres, mas Caitlin duvidava muito que a empatia fosse o suficiente para impedir que elas de a encararem torto e fofocarem sobre suas roupas, aquilo era algo cravado nas raízes da humanidade e definitivamente não seria fácil de mudar. E além do mais, Caitlin nunca ousaria entrar em uma festa de pijama, ela mal saia de chinelos na rua, ela tinha princípios!

-Ok, me ajuda. - Caitlin disse indicando com a cabeça a janela aberta. Já estava ficando escuro e ela definitivamente querer entrar para comer algo. Barry sorriu e entrelaçou as mãos fazendo um apoio para ela subir, Caitlin tirou os sapatos e apoiou o pé sobre as mãos de Barry, então segurou o parapeito da janela e ergueu o corpo. Era algo bem fácil de se fazer para uma pessoa que nunca invadiu uma casa. 

Caitlin já estava praticamente com metade do corpo para dentro quando notou que não estava sozinha. Ela petrificou onde estava, um pouco mais à frente havia dois corpos se pegando contra a porta do banheiro, se pegando de uma maneira que havia algumas partes do corpo se tocando de um jeito que Caitlin preferia não saber. Ela chutou as pernas tentando voltar para fora, mas acabou sendo tarde demais. A mulher a encarou, cabelo louro, olhos assustados e grito alto. Caitlin jogou o corpo para trás e aterrissou de bunda no chão.

-Mas que porra! - Caitlin fechou os olhos ao ouvir a voz do homem e desejou ardentemente estar em outro lugar. - Barry! 

-Oliver! 

Caitlin abriu os olhos encarando homem musculoso que olhava Barry como se estivesse preste a parti-lo em dois. Cisco a ajudou a se levantar e os dois se colocaram a uma certa distância de Barry, seria mais seguro para o caso de suas roupas mancharam de sangue. Ela sabia, apenas de olhar para o rosto irritado de Oliver, que se estivesse em condições, ele pularia pela janela e acabaria com Barry. 

-Por que você sempre tem que ferrar com a minha vida? - Oliver indagou e embora seu rosto estivesse congelado em uma visível raiva, sua voz tinha um leve tom de divertimento. 

-É o que amigos fazem. - Barry deu de ombros e então gritou. - Oi Felicity, espero não ter atrapalhado nada. - um sabonete voou pela janela quase acertando em Barry e a mão que havia arremessado o pequeno item agora mostrava o dedo do meio. Barry apenas riu antes de caminhar até eles, o olhar de Oliver o seguiu chegando até ela. - Ollie, acho que você já teve o prazer de conhecer Caitlin Snow e esse aqui é Cisco Ramon. Pessoal, esse é Oliver Queen e aquela lá dentro tentando cavar um buraco para se esconder é Felicity Queen, a esposa dele.

Caitlin acenou levemente com a mão sentindo rosto esquentar de vergonha. 

-Sinto muito por… isso. - ela murmurou. Então Oliver deu uma risada e disse.

-Está tudo bem, não é a primeira vez que acontece.

-Eu te odeio! - Felicity exclamou irritada, mas Caitlin não soube se era para Oliver ou para Barry ou para ambos.

-Além do mais não é sua culpa, é culpa do Barry. - Oliver afirmou voltando o olhar para Barry que rapidamente se defendeu.

-Não, Oliver. Desta vez a culpa é toda da mamãe. 

-Do você está falando, Bartholomew? 

Caitlin se virou em direção a voz, tantas vezes ouvidas por telefone ou vídeo-chamadas, ela nunca havia notado o quão doce era aquelas voz. Nora Allen estava parada ao lado de Henry Allen, os dois tinham aquele olhar parental de repreensão. Caitlin de repente se sentiu uma criança que havia acabado de aprontar algo e tinha sido pega, e pela maneira como os outros reagiram, ela percebeu que o sentimento era mútuo. 

-Você está tão linda, mamãe. Cortou o cabelo? - Barry caminhou até Nora e a abraçou.

-Não me faça de boba, Barry. - Nora resmungou beijando a bochecha do filho. Caitlin mordiscou o lábio se sentindo uma intrusa naquele lugar. - Oh Caitlin! Cisco! Como é finalmente bom conhecer vocês pessoalmente. 

Caitlin foi arrematada por um gentil abraço. Nora cheirava a lírios. 

-Digo o mesmo, sra. Allen. - ela afirmou com um sorriso no rosto.

-Me chame apenas de Nora. Vocês já são da família. - Nora disse e direcionou a Caitlin um olhar sugestivo antes de se afastar. Um olhar que ela já havia recebido inúmeras vezes quando estava com Barry. 

-Eu deveria ter tido uma overdose quando tive a chance. - ela murmurou fazendo Cisco rir.

-Mãe, por que exatamente você está fazendo uma festa? - Barry indagou. A postura relaxada de Nora deu lugar a ombros tensos e um caminhar mais duro. 

-Eu pensei que vocês só chegariam daqui a duas horas. - ela disse movendo a aliança de um dedo para outro. 

-Nosso vôo não fez escala.

-Oh! Então acho que teremos um pequeno problema. - Nora murmurou olhando para Henry que apenas balançou a cabeça como se não pudesse ajudar a esposa. Caitlin olhou para eles buscando entender o que Nora queria dizer com isso, mas antes que pudesse se aprofundar naquele pequeno mistério, sua atenção foi roubado pelo animal peludo que vasculhava a mochila de Barry como se fosse uma lata de lixo, o gato branco se sentou ao lado da mochila segurando algo entre os dentes, uma pequena bolsinha rosa que Caitlin conhecia muito bem.

-Hey! Aquele gato está com a minha bolsa! - ela exclamou apontando para o felino. O gato a encarou por alguns segundos antes de sair correndo. - Volte aqui, seu felino drogado! 

Caitlin avançou pelo estreito corredor até o quintal, podia ouvir os gritos de Barry e Cisco, mas os ignorou enquanto perseguia o hábil gato em meio aos convidados. Já estava bem próximo do felino, que devido ao peso da bolsa estava mais lento, quando de repente ouviu o grito alto de Barry. 

-Caitlin, cuidado!

Seu cérebro mandou seus pés pararem, mas a ordem não chegou rápido o suficiente, pois em um segundo depois ela se viu colidir com alguém que rapidamente se desequilibrou fazendo ambos caírem sobre algo muito fofo e muito doce. Caitlin abriu os olhos, que havia fechado durante a queda, e encarou a pessoa que estava ao seu lado, uma mulher loira de olhos claros que tinha uma expressão de choque em seu rosto enquanto olhava para cima, Caitlin seguiu seu olhar e se surpreendeu ao ver Barry parado à sua frente como uma estátua.

-Barry. - a mulher sussurrou parecendo descrente e então Barry disse no mesmo tom.

-Patty. 

E Caitlin quis morrer.