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História Paperman - Prólogo - O Garoto de Luoyang


Escrita por: athellasseijuro

Capítulo 1 - Prólogo - O Garoto de Luoyang


Fanfic / Fanfiction Paperman - Prólogo - O Garoto de Luoyang

Você já sentiu como se tivesse passado a vida toda ao lado de um desconhecido?

No momento em que o vi jogar o caderno no lixo em frente à minha casa, eu tive a certeza mais dolorosa até então.

Eu nunca o conheci.

 

Lembro-me de todos os detalhes daquele dia. Era Ano Novo, o meu feriado favorito. Ele é comemorado durante três dias na Coréia, começando sempre no primeiro dia lunar. Naquele ano, ele havia começado no dia 11 de fevereiro. 

Eu caminhava por um parque movimentado com alguns amigos que conhecia há algum tempo. Como mais da metade do nosso grupo era composto por garotos da China, eu e Seungyeon vestíamos trajes típicos. Yibo, Wenhan e Yixuan, chineses. Conheci três dos meus melhores amigos durante o colegial: Seungyeon, por ser coreano, sempre morou no mesmo bairro e estudou no mesmo colégio que eu, embora, até então, nunca tivéssemos nos falado. Wenhan e Yixuan se mudaram da China por conta de uma Guerra Civil recente.

Vivi a maior parte da minha vida ao lado do quarto garoto do grupo, Yibo. Na verdade, ele é, provavelmente, o primeiro de quem eu falaria para qualquer pessoa para quem contasse minha história. Mas, recentemente, aprendi que a sobremesa sempre vem depois do jantar quando você se senta à mesa.

Não me levem a mal — não acho que conseguiria viver sem um dos meus melhores amigos hoje em dia. Yibo, contudo, é muito, muito mais que simplesmente o meu "melhor amigo". E é exatamente por isso que reservei um tempo muito especial para falar sobre nós.

Ele é meu super, ultra, hiper, mega, power melhor amigo.

Conheço-o desde que eu tinha dez anos de idade. Morava em um bairro pequeno e fechado, ainda que extremamente elegante e charmoso. Embora eu tenha irmãos, sempre fui uma criança um tanto quando solitária; meus interesses não tinham relação com o que minha família conversava durante o café da manhã, eu não gostava dos programas que passavam na nossa televisão e eu nunca achei as piadas do meu pai engraçadas. Um dos meus principais hobbies era jogar vôlei contra a parede, o que, hoje em dia, é algo que eu considero ao mesmo tempo hilário e triste. Em um certo dia, minha mãe me contou que uma vizinha havia se mudado de Luoyang para cá. Eles eram a família Wang.

Eu fiquei instantaneamente feliz. Não haviam muitas crianças da minha idade que morassem perto o suficiente de mim, e a sua chegada fez com que eu me tornasse cada vez menos solitário. Conforme o tempo passava, eu deixava de jogar vôlei com a parede e começava a ensiná-lo um pouco mais do esporte. Como Yibo é três anos mais novo que eu, nunca estivemos na mesma sala no colégio e nem sempre brincávamos do que eu queria. Quando se é criança, três anos fazem uma grande diferença, o que me faz sentir como se, durante muito tempo, eu tivesse ajudado em sua criação. Nossa amizade foi um tanto quanto difícil por conta da enorme diferença entre as nossas personalidades. Talvez seja um exagero dizer que nós somos opostos, mas é assim que me sinto quando penso no assunto. Eu sou uma pessoa expontânea e tenho um enorme senso de responsabilidade. Muitas pessoas costumam dizer que eu sou um ótimo líder. E, diga-se de passagem: o meu sorriso é lindo. Yibo, por outro lado, é dotado de uma estranha rigidez e malícia, o que costuma mascarar a sua boa índole e o seu grande coração. Tivemos algumas brigas, e durante todo esse período descobri que ele é extremamente reservado. Talvez a pessoa mais reservada que eu não conheça. 

Isso é algo que sempre me incomodou: a falta de conhecimento que tenho sobre ele. Atualmente, eu tenho 22 anos, e ele, 19. Eu nunca o vi chorar. Tampouco sei o porquê dele ter se mudado para a Coréia, ou até mesmo qual é o seu programa de TV preferido. Tudo o que sei sobre ele é que ele é, provavelmente, a minha pessoa predileta.

Enquanto eu divagava, senti um forte cutucão no meu braço.

 

— Olhe, Sungjoo! Uma fonte dos desejos! — Seungyeon apontava para a fonte como uma criança aponta para uma vitrine cheia de doces. 

— Se eu quiser realizar alguma coisa na vida vocês vão ter que me emprestar dinheiro. É para isso que os amigos servem, não é mesmo? — Wenhan virou o seu bolso para fora, mostrando-o completamente vazio.

— Para te ajudar a realizar sonhos? — perguntei.

— Não. Para emprestar dinheiro. — ele respondeu com naturalidade e continuamos andando até a tal fonte.

Mesmo que nenhum de nós fossem realmente supersticiosos, não havia motivo para não dar uma chance para que a fonte realizasse nossos desejos. Cada um de nós pegou uma moeda dos nossos bolsos e carteiras e trocamos alguns sorrisos. Yibo parecia especialmente entediado, embora tenha sido ele que emprestou dinheiro a Wenhan. Naquele momento, eu me perguntava o que ele iria desejar assim que os seus 10 Won caíssem na água.

Ao jogar a minha moeda para cima, a vi girar várias vezes no ar. Aqueles poucos segundos foram o suficiente para que eu percebesse qual era o meu desejo naquele instante. Olhei para Yibo de relance assim que nossas moedas afundaram, desejando com todo o meu coração:

O meu sonho é te conhecer.

 

-

 

Diferente da maioria das histórias clichês, no dia seguinte ao Ano Novo, eu não acordei atrasado. Aliás, eu nunca acordei atrasado devido ao meu sono leve. Mas, apesar de eu ter acordado na hora, amanheci com uma crise de gastrite.

É comum que adolescentes e jovens adultos tenham gastrite. Especialmente aqueles que, assim como eu, moram sozinhos, não possuem talento para a cozinha e se alimentam puramente de Junk Food barata e comida de rua. Tudo o que eu queria no momento era me livrar daquela ardência insuportável no estômago. Revirei algumas gavetas do meu apartamento atrás de um antiácido, e levei pouco menos de um minuto para procurar pela casa toda, uma vez que ela era extremamente pequena. Nesse momento, eu retomei uma conclusão que havia feito desde que saí da casa dos meus pais: morar sozinho é uma bosta. Dada a gravidade da situação, juntei algumas moedas que achei jogadas pela minha casa e resolvi ir até alguma farmácia comprar um sal de frutas. 

Eu moro em um prédio pequeno que não possui elevadores, apenas escadas. Apesar de não serem vários lances, descer até o primeiro piso foi um sacrifício tão grande que eu senti vontade de me jogar pela janela para encurtar o caminho. Era cedo, e eu mal havia tomado o meu primeiro banho. Ao chegar ao primeiro andar, conferi rapidamente a correspondência antes de continuar o meu trajeto — afinal, alguém podia ter me mandado um antiácido justamente quando eu precisava, não?

Bom, já era de se esperar que ninguém tivesse me enviado um sal de frutas no momento em que mais precisava de um. Dentro da caixa de correio, contudo, encontrei algo que, por um momento, fez com que eu esquecesse completamente da minha gastrite, das contas que eu tinha a pagar e das minhas férias que acabavam em um dia. 

Eu havia recebido um caderno, cuja capa era estampada com um famoso desenho de robôs coreanos que eu costumava assistir quando pequeno. Mesmo que fosse um objeto extremamente antigo, não tardou para que eu percebesse sobre o que se tratasse.

Era o diário em conjunto que eu costumava manter com Yibo. 

 

 

Foi como algo místico. No momento em que toquei na capa gelada daquele pequeno caderno, era como uma onda avassaladora de memórias me carregasse para muito, muito longe de onde eu estava. 

Não acho que tinha mais de doze anos quando começamos com essa ideia. Pais asiáticos costumam ser muito rígidos em relação ao colégio e às notas, então, logo que Yibo começou a ir às aulas, ele passava boa parte do seu tempo estudando. Não é como se comigo fosse muito diferente, mas admito que eu era menos esforçado que ele. Para sanar essa falta de contato decorrente das nossas responsabilidades escolares, nós criamos um pequeno diário. Em uma semana, eu ficaria com ele e escreveria tudo o que eu gostaria de compartilhar com ele. Ao fim dessa mesma semana, ele pegaria o caderno, responderia sobre os meus acontecimentos e escreveria os seus. E assim passamos boa parte da nossa infância e pré-adolescência. 
Yibo não tem uma personalidade fácil, e isso não foi segredo por muito tempo. Conforme ele crescia, mais rebelde e frio ele se tornava. Conforme ele crescia, ele escrevia cada vez menos e menos no caderno, até em que chegou o dia em que esse diário já não fazia mais parte da nossa amizade.

 

— Aqui está o caderno. — Yibo devolveu-o como o usual ao fim da semana. Embora eu nunca tivesse parado para reparar, naquele dia, notei o quanto ele havia realmente crescido.

Ele vestia o seu uniforme usual com alguns acessórios, como um fone de ouvido, anéis e uma munhequeira. O seu visual e as suas habilidades para esportes faziam com que ele fosse um quase típico galã de filmes de romance. 

— Ah, obrigado! Só espero que você tenha escrito mais que dez palavras dessa vez. — brinquei enquanto folheava o diário até encontrar os nossos últimos registros. — Aliás, a mãe separou um pedaço de bolo para você lá na cozinha. Você pode pegar quando estiver de saída. 

— ... Tudo bem. Obrigado. — ele esticou as pernas no chão e agarrou uma almofada que estava em cima da minha cama. — Foi mal por não ter vindo na sua festa de aniversário ontem. Eu tive alguns testes finais hoje e precisava dar uma revisada no conteúdo. 

Naquela semana, eu havia completado 17 anos. Era o meu último ano no colégio, então fiquei um pouco chateado pela sua ausência. 

— Sem problemas. Essa época do ano é decisiva para o seu progresso no colégio, então seria burrice pisar na bola para vir comer bolo aqui em casa. — forcei um sorriso e coloquei o caderno no chão, onde me sentei, de frente para ele. — Você comemora os meus aniversários desde que eu tinha uns dez anos e vai comemorar muitos mais. 

— Espero que sim. — ele sorriu de canto.

Até este instante, eu achei que as coisas fossem ficar boas entre nós, apesar das turbulências recentes. Eu creio que alguns segundos após Yibo ter sorrido, eu soltei a frase que desencadeou uma grande avalanche de merda.

 

— Então... Eu te devolvo o caderno semana que vem, certo? 

 

Yibo olhou para o chão e soltou um suspiro de ansiedade. Fiquei "sorrindo de nervoso" por um bom tempo até ele completar as suas frases.

— ... Eu estou com muitas pendências no colégio e o time de vôlei está me consumindo bastante. — ele bateu os dedos na madeira do piso. — Não quero mais fazer essa coisa de diário pra cá e diário pra lá. 

— Mas... Nós nos vemos uma vez por semana, isso se formos sortudos. Eu já passei pela série em que você está, então, se você quiser, eu posso te emprestar alguns livros ou te ajudar com as suas dificuldades. — torci para que ele levasse minimamente o que eu disse em consideração.

— Nós começamos com isso quando nós tínhamos... Ah, na verdade, eu nem lembro quantos anos nós tínhamos. Escrever tudo o que eu faço, tudo o que eu como, tudo o que eu sinto é exaustivo. 

— Você nunca escreveu como se sente. — retruquei. A aquela altura, ambos sabíamos que aquela discussão não iria a lugar nenhum. Mesmo assim, nenhum de nós simplesmente esperou com que o sangue abaixasse e pediu desculpas. Nós continuamos. — Você nunca fala sobre você, sobre os seus sentimentos ou sobre qualquer coisa que um ser humano deveria sentir. Emoções, nada disso. Isso faz com que eu me pergunte se você realmente aprecia a minha amizade ou só se acostumou com o fato de ter alguém sempre no seu pé.

— Falando coisas detestáveis, sendo detestável... Talvez eu não aprecie a sua amizade no final de tudo! — ele aumentou o seu tom de voz. Apesar de eu saber que ele não queria dizer nada daquilo, senti como se algo em mim tivesse morrido naquele instante. — Você me cobra, exige saber o que eu faço, onde eu estou, com quem eu estou... Isso é chato pra caralho! Quer saber de uma coisa? Eu não sou órfão. Eu tenho uma mãe, ela não é você, e eu não preciso de outra. 

— Você está falando palavrões. — tentei mudar o assunto, mesmo sabendo que aquela era uma tentativa desesperada e inútil. 

— Foda-se. Eu não preciso que você me diga se a minha boca é suja ou não. Não existe nada que eu faça que eu precise de você do meu lado, segurando a minha mão para eu atravessar a rua. 

— Fui eu quem te ensinei a atravessar a rua quando a sua mãe trabalhava demais. — comecei a ficar realmente furioso naquele momento. — Eu te ensinei a jogar vôlei, e adivinha? Hoje você é titular no time do colégio. Eu te ensinei a escrever com letra de mão, eu te ensinei a multiplicar e dividir. Você fala que nunca precisou de mim, que nunca precisou de "outra mãe", mas eu sempre fui quem esteve sempre ao seu lado quando os seus pais não tinham tempo o suficiente para te dar atenção e carinh...

Antes que eu pudesse terminar a frase, ouvi um estrondo. Quando olhei em volta, a minha janela estava quebrada e o caderno já não estava ao meu lado no chão. Em um ato de fúria, ele o havia jogado.

Eu nunca soube se o que escorria pelo seu rosto eram lágrimas ou suor.

Sem pisar forte ou bater portas, Yibo se retirou respeitosamente da minha casa e desceu até onde o diário havia caído. 

No momento em que o vi jogar o caderno no lixo em frente à minha casa, eu tive a certeza mais dolorosa até então.

Eu nunca o conheci.

 

 

Segurando o objeto com as minhas mãos levemente trêmulas, subi correndo até o meu apartamento. Instantaneamente após fechar a porta da sala com as suas correias, abri o caderno na sua primeira página. 

Ele estava completamente em branco, exceto por uma curta, porém intrigante, frase.

"O meu nome é Wang Yibo e eu nasci em Luoyang, na China. Por favor, leia este diário todos os dias."









 








 

















 

 

 


 

 


Notas Finais


Yeey! Finalmente terminei o prólogo dessa fic Bojoo! Espero que gostem ♥

Caso o plot esteja meio abstrato por enquanto, relaxem! Esse é o prólogo, e tudinho vai ser explicado na sequência. Só posso dizer que essa fanfic é mara, viu?

Caso tenham gostado do capítulo, por favor, deixem o seu comentário e o seu favorito. Isso incentiva muito o autor a continuar com a história :D

Prometo não decepcionar haha

Beijo!


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