História Para sempre? (Grandice e Melwood) - Flashback: Decisões

Say something, I'm giving up on you (diga alguma coisa, eu estou desistindo de você) - Say Something - A Great Big World.

P.O.V Melissa

Sentia um forte latejar em minha cabeça e uma dor tomar meus olhos a medida que se abriam e eu tentava entender onde estava. Uma mão segurava forte a minha e eu podia ouvir um barulho baixo de choro que tinha certeza que era de Chris. Aos poucos as memórias voltavam a minha cabeça e eu lembrava de tudo sobre aquela noite. A festa, o anúncio da gravidez, as risadas com Chris no caminho de volta para casa, o banho, a dor, o sangramento, o caminho para o hospital, e depois de tudo isso o que vinha eram flashs de medo e desespero enquanto os médicos faziam o possível para contornarem a situação. 

Finalmente entendi onde estava, e ao encontrar os olhos marejados de Chris me assustando ainda mais, nem mesmo a dor em meu corpo me impediu de encontrar forças para levar as mãos a barriga. O vazio sob minhas mãos era em todos os aspectos possíveis destruidor. A ausência de vida era óbvia, ele não estava mais se mexendo, o tamanho já não era o mesmo, algo tinha dado errado.

- Chris? - Chamei por ele revesando entre olhá-lo e olhar para minha barriga, na intenção de ouvir que tudo era um engano, mas eu sabia que ele não mentiria pra mim. Chris negou com a cabeça se aproximando e me abraçando em seguida. Pela primeira vez na vida seu abraço não me trouxe conforto, ele somente me fazia sentir ainda mais dilacerada.

- Sinto muito - ele chorava desolado.

- Foi minha culpa! - Constatei isso entrando choque. De repente todos os avisos, conselhos e recomendações das pessoas que me amavam vieram juntos martelar em minha cabeça. Se eu tivesse escutado e me cuidado um pouco mais, exagerado um pouco menos, e focado no que importava meu bebê estaria vivo. Meu egoísmo causou aquilo - minha culpa!

- Melissa não! Não repita isso! - Ele tentava me acalmar sem sucesso - os médicos disseram que algumas mulheres simplesmente não conseguem seguir com a gestação - tentava argumentar e eu negava sem querer escutar - mais cedo ou mais tarde isso poderia acontecer, ele estava indo bem mas... - senti por um momento que a palavra "ele" foi usada com um pouco mais de ênfase.

- Ele? - Foi tudo que consegui perguntar.

- Eu vi na sua ficha, eu estava certo o tempo todo, era mesmo um garoto - contou com certo receio - eu sinto muito! - Repetiu.

- Me desculpa! Eu não queria! - Repetia aquilo para ele, para mim, e principalmente para meu filho. O que eu havia feito afinal? - Eu não queria!

- Tia! Tia Melissa! Tia Melissa! - A voz de Maggie me despertava gradativamente me livrando do sonho ruim. Não era novidade minhas memórias daquele dia voltarem para me entristecerem, mas em sonho era a primeira vez, então estava grata por ter sido acordada, principalmente com tanta doçura - bom dia! - Apertou meu rosto entre as mãozinhas e beijou minha testa, aquele era o jeito de sua mãe despertá-la pelo que eu sabia.

- Ei! Bom dia! - Forcei um sorriso me sentando na cama e abrindo os braços para recebê-la em um abraço apertado - você está bem? - Maggie era nova demais para entender onde eu queria chegar com aquela pergunta, mas na atual situação com seus pais e vendo o quanto ela parecia sentir quando tudo ia mal com eles eu não conseguia evitar me preocupar cada vez mais.

- Sim - assentiu incerta - por que está chorando? - Secou meu rosto parecendo preocupada ao ver algumas lágrimas correrem por ele.

- Eu tive um sonho ruim, me deixou triste - expliquei afastando seus cachinhos que caiam nos olhos.

- A mamãe disse que abraçar deixa a gente feliz - contou e logo seus bracinhos me envolveram enquanto sua cabeça descansava em meus ombros - quando ficar feliz me fala - alertou voltando a me encarar por um segundo e me abraçando novamente.

- Você é ótima nisso! - Elogiei e ela riu orgulhosa.

(...)

P.O.V Candice

A manhã começou um pouco mais leve levando em conta toda a confusão na noite anterior. Passei por alguns exames e felizmente tudo corria bem com o bebê e comigo, com sorte estaria em casa até o fim daquele dia, e poderia matar a saudade de Maggie que parecia se intensificar a cada vez que lembrava das ameaças de seu pai. Tudo que precisava agora era manter a calma, me cuidar ao máximo, e seguir cada recomendação dos médicos a risca. Se mantivesse a coragem que Caity e Melissa me incentivaram a ter e enfrentasse Grant talvez ele se afastasse de vez e desistisse de tentar sempre me machucar de alguma maneira. A última coisa que desejava era distância dele, mas diante das minhas condições era o melhor a se fazer, meus filhos já haviam sido afetados demais em toda aquela história, cabia a mim protegê-los agora já que Grant era a ameça.

- Obrigada por ficar aqui comigo - disse em um sussurro tocando minha barriga - a mamãe vai cuidar bem de você, eu prometo!

- Atrapalho? - Caity entrou pelo quarto com o café da manhã em uma bandeja. Odiava comida de hospital, mas estava com uma fome fora do comum. Até gelatina de framboesa me parecia apetitoso agora.

- Claro que não - sorri pegando a comida de suas mãos quando se aproximou - só estávamos tendo uma conversinha - expliquei - obrigada por passar a noite aqui - Caity se sentou na cama, abriu a gelatina me entregando e deixou um beijo em minha testa.

- É o mínimo que posso fazer - graças a todo o carinho e atenção que vinha recebendo de meus amigos me sentia um pouco mais segura em relação a meus próximos passos. Ainda estava assustada, mas somente o fato de saber que não estava sozinha já me fortalecia o bastante - você parece melhor hoje - sorriu orgulhosa.

- Se os médicos exigiram que eu ficasse bem, então ficarei, o bebê é a prioridade - levei uma colher cheia a boca.

- É assim que se fala! - Caity sabia que era um grande esforço da minha parte parecer melhor, mas como eu parecia  achar o bastante por enquanto - Melissa está vindo ficar com você, eu vou levar Maggie para minha casa okay?

- Tudo bem, obrigada, cuida bem da minha garotinha - pedi a abraçando - diga que eu ligo assim que puder.

- Farei isso! - Piscou o olho tomando o caminho até a porta.

(...)

P.O.V Caity

- Bom dia mascote! - Maggie se aproximava na recepção do hospital ao lado de Melissa vindo em minha direção. Chris e ela não contaram sobre Candice, preferiram dizer apenas que ela estava trabalhando e por enquanto teria que ficar com a gente. Obviamente Maggie estranhou, Candice nunca a deixava por tanto tempo com ninguém, mas logo foi distraída por minha ideia de passeio no aquário da cidade de tarde naquele mesmo dia. A recebi com um abraço e ela pareceu estranhar o fato de que Keiynan também estava ali, ele havia acabado de chegar para ver Candice, mas aproveitou a deixa para ver a afilhada antes de seguir para o quarto de nossa amiga.

- Você também vem com a gente tio? A gente vai passear no aquário hoje de tarde - perguntou animada.

- Na verdade não meu bem, mas prometo estar lá da próxima vez - Keiynan garantiu a abraçando apertado - você está bem?

- Por que todo mundo pergunta isso? - Questinou nos fazendo rir.

- Só queremos garantir que esteja o mais confortável possível - Melissa afirmou apertando suas bochechas.

- O que é isso? - Perguntou confusa.

- A fase dos "porquês" aparentemente está começando - constatei rindo - é melhor irmos Maggie.

- Está bem - acenou para os outros dois padrinhos e segurou minha mão - vamos comer algodão doce?

- Isso não é hora pra isso - Melissa alertou enquanto nos dirigíamos a saída.

- Vamos comer o que quiser hoje! - Mostrei a língua para Melissa e acenei me despedindo deles também.

- Qualquer coisa? - Pareceu surpresa.

- Com certeza - assenti.

- Então quero pizza, sorvete, chocolate, pipoca, torta... - sua lista continuava enquanto ia pensando e falando.

- Sua mãe vai me matar! 

(...)

P.O.V Melissa

- O que você pensa que está fazendo aqui? - Foi a primeira coisa que perguntei ao chegar no quarto de Candice e ver Grant do lado de fora aparentemente esperando por algo com Rick.

- Ele só quer conversar com Candice, estamos esperando que a enfermeira que está lá com ela termine para entrarmos - explicou Rick por Grant que parecia envergonhado até mesmo de olhar para nós.

- Você enlouqueceu se acha que vai ver Candice depois do que fez! - Keiynan partiu para cima dele sem aviso prévio o empurrando - suma daqui!

- Pare com isso! - Rick os afastou antes que ele começasse uma briga.

- Eu só quero falar com ela - Grant explicou - eu juro que não vou fazer nada.

- Não tem o direito de aparecer aqui depois de ontem - tentei manter a calma para convencê-lo a ir embora - é melhor que espere até que ela queira te ver. A situação dela é delicada.

- Melissa é só uma conversa, ele está arrependido - Rick argumentou.

- Seu arrependimento não a tira dos riscos que está correndo! - Keiynan disse indignado - eu não entendo porquê decidiu fazer da vida dela um inferno se você começou essa história de divórcio. Se afaste de vez, decida o que quer, eu achava que você era alguém descente. Como de repente decidiu que não a ama mais? - Engolimos a seco aquelas palavras e preferimos não dizer nada, Keiynan não sabia toda a história, por isso seu ódio por Grant agora era tão grande, mas não cabia a nós contarmos.

- Onde vocês acham que estão? Silêncio ou serão convidados a se retirarem - a enfermeira que deixou o quarto de Candice com algumas anotações chamou nossa atenção.

- Nos desculpe, eu já posso entrar? - Grant perguntou ansioso.

- Não deixe que ele entre, só vai fazer mal a ela! - Keiynan alertou a confundindo.

- O que está acontecendo aqui afinal? - Perguntou impaciente.

- Tudo bem! - A voz de Candice soou em meio a confusão - deixem que ele entre - pediu.

- Candice isso pode te fazer mal - eu disse preocupada.

- Você não precisa ouvir esse idiota! - Foi a vez de Keiynan dizer.

- Eu prometo ficar bem, qualquer coisa chamo por vocês - nos tranquilizou - entre logo Grant! - Lhe cedeu passagem e fechou a porta em seguida.

- Ela enlouqueceu! - Keiynan disse incrédulo.

P.O.V Melissa OFF

- Veio gritar mais, me acusar de algo, ou ameaçar novamente? - Candice perguntou se encaminhando a cama e se sentando de qualquer jeito. Ainda se sentia um pouco fraca para ter aquela conversa de pé - ainda pretende tirar tudo de mim ou percebeu finalmente que boa parte você já estragou? - Seu tom ressentido só o fazia se sentir pior - vamos Grant! Diga o que veio dizer! - Insistiu.

- Me desculpe! Por favor! - Seu olhar trazia uma certa sinceridade, mas mesmo assim não era capaz de sentir pena dele naquele momento - quando Rick me contou tudo que eu fiz não acreditei, não foi justo eu não deveria ter entrado na nossa... na sua casa - se corrijiu - e te atacado daquela forma, eu só fiquei louco quando vi aquela noticia - suspirou fazendo menção a se sentar a seu lado, mas ela fez um gesto em negação o impedindo - me arrependi por ontem, de verdade, nada que eu faça pode consertar isso, mas eu sinto muito mesmo Candice - a encarou esperando por algo, mas ela não esboçou nenhuma reação.

- Você já parou para pensar como seria se Maggie estivesse em casa ontem? - Finalmente quebrou o silêncio e ele assentiu envergonhado - e sobre o bebê? Ao menos pensou na dimensão da maldade que seria causar algum mal a ele? - Riu sem graça - espera, melhor eu reformular a pergunta: pensou na dimensão da maldade que seria machucá-lo se fosse mesmo o seu filho? Porquê aposto que pra você tanto faz de não fosse.

- É óbvio que eu não queria te causar nenhum mal, sendo meu filho ou não é só um bebê, eu não sou essa pessoa Candice, você me conhece! - Argumentou ofendido.

- Ele é o seu filho! - vociferou - estava grávida quando tudo aconteceu, isso é de longe a coisa mais envergonhante e dolorosa que já tive que dizer, mas é a verdade - ele suspirou pesadamente e desviou o olhar para os pés procurando manter a calma o que a motivou a respirar também - quando for seguro para o bebê eu farei um exame de DNA e você vai ter a prova que precisa. Não exigirei nada de você, depois disso você pode decidir se será pai pela segunda vez ou não. A minha decisão sobre isso já foi tomada e agora começarei a honrá-la - procurou seu olhar até que ele voltasse a encará-la - quando seu tão desejado divórcio estiver pronto eu assinarei, minha única exigência é a casa onde o moro o resto é seu - de alguma forma suas palavras pareceram surpreendê-lo - se for realmente seguir seu plano de arruinar a minha vida e me tomar Maggie como citou, eu gostaria que soubesse que tenho bons advogados e ótimas testemunhas, e de forma alguma deixarei o caminho fácil para você.

- Candice... - tentou falar mais foi cortado. Seus olhos lacrimejavam enquanto ainda tentava absorvendo tudo. Ela ceder significava que era mesmo o fim da linha pra eles.

- A partir de agora todo e qualquer tipo de contato entre nós acabou. Maggie será levada até você por alguém quando quiser vê-la. Por favor, respeite meu espaço e não apareça mais na minha porta, me ligue, ou mande mensagens, tudo que temos em comum agora além de duas crianças inocentes é dor e eu já não aguento mais ver isso se intensificar a cada vez que nos cruzamos - respirou fundo e por um segundo ele acreditou que ela choraria, mas não aconteceu - eu não voltarei ao trabalho tão cedo por causa da licença médica, e também farei o possível para que a gente não se cruze por ai. Não se preocupe com nossos amigos, a partir de agora eles não falarão mais de mim pra você, não vai precisar se preocupar com mais nada, estou cuidando para que a distância entre nós se estabeleça.

- Então está desistindo oficialmente? - Perguntou com um nó na garganta.

- Eu gastaria todo o tempo do mundo tentando provar que eu me arrependi, e fazendo com que voltasse pra mim, levaria toda a culpa pelo tempo que precisasse, abriria mão do meu bem estar pelo seu até que finalmente decidisse me perdoar, você sabe disso - lhe estendeu a mão e ele segurou a aproximando de seu rosto numa forma boba de buscar o mínimo de conforto possível - mas acontece que não é mais sobre mim, é sobre os meus filhos, e eu não posso, e não vou deixar que machuque nenhum dos dois - finalmente ela se permitiu chorar o que desencadeou seu choro também - se chegar o momento em que queira voltar para nossa vida da maneira correta estarei de portas abertas, mas acho que sabe que não está pronto pra isso - afastou a mão dele e retirou a aliança que ainda insistia em carregar lhe entregando em seguida - sei que já tivemos esse momento antes, mas acho que é necessário reafirmar. Acabamos aqui Grant, boa sorte!

A encarou por longos segundos pensando em como agir, mas nada pareceu ser certo no momento. Seus pés não pareciam querer se mover dali e sua cabeça não formulava nenhuma frase correta. Ela estava mesmo certa em exigir aquilo, e no fim boa parte disso era sua vontade também não era? Deveria mesmo somente aceitar, era o melhor para todos agora.

- Tudo bem... - disse quase sem voz e deu as costas se retirando.

- Grant? Você está bem? - Rick perguntou ao vê-lo deixar o quarto. Melissa e Keiynan entraram no quarto da amiga ao mesmo tempo.

- Eu quero ver Maggie, sabe onde ela está? - Perguntou guardando no bolso a aliança e secando seu rosto.

- Claro, vamos lá - assentiu tentando guiá-lo pela direção certa já que parecia um pouco desnorteado.