História Para Sempre Seu - Rasgue-me Por Dentro

Quanto mais eu tento apaziguar meu coração, mas acelerado ele parece ficar. Acho que existe uma grande possibilidade dele acabar parando antes mesmo de eu começar a falar. Essa parece ser uma saída bem conveniente para mim, levando em conta a situação na qual eu me encontrava. Mas infelizmente, estou destinado a sofrer um pouquinho mais antes de ter direto a minha aposentadoria espiritual, se é que ela realmente existe. Fecho os olhos numa última tentativa de me conter e preparando-me para o que está por vir.
- A gente...meio que se beijou – Digo com a voz trêmula, apesar de não desejar.
Estava pronto para receber uma explosão de ira e berros vindo de Grimmjow, só que isso não acontece. Ele permanece calado, o que é muito mais perigoso quando se trata dele. Seu silêncio parece me dizer muito mais do que se ele gritasse comigo por uma hora inteira. Isso é o que me deixa angustiado. Seu rosto está vidrado em mim. Ele fecha os olhos por um instante e contraindo o maxilar, como se estivesse se segurando para não socar qualquer coisa a seu alcance, inclusive eu. Por isso decido recuar alguns passos, criando uma distância relativamente segura entre nós. Sinto os pelos dos meu braços se arrepiarem enquanto Grimmjow volta a abrir seus olhos. Ele vidra os olhos em mim de uma forma tão intensa, que sou obrigado a desviar os olhos e encarrar. Seus olhos parecem dizer várias coisas que não sou capaz de identificar, mas ele não abre a boca em momento algum. Sei que ele não vai dizer nada, pois está apenas esperando que eu continue a falar. E para falar a verdade, Grimmjow não está errado. Eu é que estou. Sou eu quem deve se justificar para ele, apesar de não saber como. O que eu havia feito não tinha justificativa e talvez, nem mesmo perdão. Mas agora eu precisava correr o risco e enfrentar as consequências de meus atos.
- Tecnicamente....foi o Renji quem me beijou primeiro – Gaguejei, parecendo uma criança que tentava arranjar uma desculpa depois de brigar na escola. – Mas eu o beijei....quer dizer, eu deixei ele me beijar...
Arrisco uma olhada para Grimmjow e acabo encontrando uma expressão fria e sombria. Desvio o olhar outra vez, focando num ponto aleatório no chão. Grimmjow ainda não diz nada, o que significa que quer que eu me explique. E eu até poderia fazer isso, se pudesse. Como eu poderia dar explicar algo que nem mesmo eu entendia, mas sentia ?
Estou de cabeça baixa, procurando alguma saída. Mas não consigo encontrar nenhuma. Sou obrigado a continuar avançando por aquele caminho sinuoso. Manter uma relação com ele significava andar sempre no fio da navalha. Ou seja, precisava- se tomar cuidado o tempo todo para não acabar cortando um dos lados. Uma onda de preocupação e arrependimento parece me inundar, fazendo-me sentir ainda pior do que antes. A última coisa no mundo que eu queria era magoar o homem que eu amava. Eu tinha tentado de tudo para evitar machucar Grimmjow outra vez. Mas lá estava eu, destruindo o coração de Grimmjow e o meu próprio. Mesmo que a verdade o tivesse machucado, a ferida causada por uma mentira seria dez vezes pior. Grimmjow havia me dito uma vez que a coisa que ele mais odiava, era que mentissem para ele. E eu agi com base no que ele havia falado. Se ele odiava mentiras, que escolha eu tinha a não ser contar a verdade. Eu precisava ter contado a verdade para ele, se quisesse que ele continuasse a namorar comigo, o que eu menos cogitasse a hipótese. Eu precisava ser honesto com Grimmjow. Afinal eu devia isso a ele. Depois de ter mentido para ele naquele dia no banheiro do colégio, eu havia mudado completamente minha maneira de pensar.  Tinha decidido ser honesto com Grimmjow, independente do que fosse. O único problema é que eu não havia pensado nas consequências ao falar a verdade para ele. E mesmo que eu não contasse, nada iria mudar. Mentindo ou dizendo a verdade, eu o magoaria do mesmo jeito. E saber que a culpa dessa confusão toda – o beijo, a morte de Renji e o fato de eu ter magoado Grimmjow – havia sido minha, só me torturava.

Olho mais uma vez para Grimmjow, subitamente arrependido por causar mais dor do que ele já havia sentido.
- Amor...eu..
- Não me chame de amor...me chame de Grimmjow – Sua voz é fria e arrebatadora. Seu rosto é como uma máscara impenetrável e seus olhos parecem mais azuis do que o normal – Meu nome é Grimmjow. Eu acho bom você não me chamar de amor..
Não é o tom de sua voz que me surpreende, mas sim a escolha das suas palavras. O que aquelas palavras significavam ?
O desespero dentro de mim parece aumentar ainda mais, com a possibilidade de nunca mais poder chamar Grimmjow de amor. Me lembro de quando eu dei ideias ridículas de apelidos carinhosos para ele e ele havia rido de todas elas. Foi nessa manhã em que ele me disse que eu poderia chama-lo do que eu quisesse e eu havia decidido que eu o chamaria apenas de ‘’amor’. Me lembro da felicidade que senti quando ele deixou que eu o chamasse daquele jeito. E essa mesma lembrança invade minha cabeça agora, fazendo-me sofrer ainda mais. Aquele era o nosso apelido. Era o que nós significávamos um para o outro. E agora aquilo parecia ter mais importância alguma. O apelido que tinha o significado mais forte, agora não passava de algo vazio. Uma palavra qualquer entre milhares de outras. Saber disso me corrói por dentro. As lágrimas tendem a cair do meu rosto, e eu as deixo rolar sobre minha bochecha. Essas lágrimas são a prova do quanto eu me arrependo de toda a dor que eu havia causado para as pessoas que eu amava. Nunca achei que conseguiria chorar mais, não depois de ter chorado tanto quando Renji morreu. Mas isso não importa, já que as lágrimas são verdadeiras.
Por um momento, espero que Grimmjow veja que eu realmente me arrependo e que ele me perdoe. Que ele me abrace e diga que vai ficar tudo bem. Mas no fundo sei que não vai ser assim.
- Desculpa – Volto a encarar o piso de mármore, agora embaçado devido as lágrimas.
- DESCULPA !? – Grimmjow berra, fazendo eu me encolher de medo – É SÓ ISSO QUE VOCÊ TEM PARA ME DIZER, ‘’DESCULPA’’ !?
Grimmjow tem razão. A única coisa que eu digo é ‘’desculpa’’, sempre que eu erro essa é a única coisa que sai da minha boca. Mas eu não sei o que mais tenho que dizer para provar que eu me arrependo do que fiz. O que eu posso fazer ? Pedir perdão e ficar de joelhos ? Mentir e dizer que o beijo entre mim e Renji não significou nada ? O quê eu tenho que fazer ?
- Eu não sei o que você quer que eu diga.. – Sussuro ainda sem olhar em seus olhos – O quê você quer que eu diga, Grimmjow ??
- Eu não sei.. – Ele diz agora sem gritar, mas ainda com a voz elevada – Que você se arrepende, talvez ?
- Mas eu me arrependo...me arrependo de ter magoado você – Enxugo as lágrimas do rosto e arranjo força para olhar em seu rosto, esperando encontrar qualquer sinal de piedade. Mas seu olhar continua duro e frio. – Eu não queria magoar você, eu nunca quis.
- Mas você me magoou... e agora ?
Ele continua a me encarrar duramente, a boca contorcida em uma expressão amarga.
- Eu não sei..
- NÃO É ISSO O QUE EU QUERO OUVIR !!
- Por favor...Grimmjow... por favor...
- SEJA HONESTO COMIGO PELO MENOS UMA VEZ NA VIDA, PORRA !!
Fecho os olhos, cessando as lágrimas que insistem em cair. Tenho medo de acabar dando a resposta errada e que ele acabe desistindo de mim. Não tenho medo dele e sim de perde-lo para sempre. Eu o amo mais do que tudo e ele está se afastando aos poucos, e não sei como trazê-lo de volta para mim. Não posso mentir para ele e dizer que me arrependo. Não estaria sendo honesto e acho que ele também sabe disso. Ele é capaz de enxergar através de mim e saberia que eu não estaria dizendo a verdade então me abandonaria. Não posso correr esse risco. Tenho que dizer a verdade, por mais que me doa na alma. Vou feri-lo de qualquer modo, mas escolho a maneira mais suave por que eu o amo de verdade. E infelizmente, essa é a única escolha que eu tenho.
- Eu não me arrependo... – minha voz é quase inaudível. Mal me reconheço dizendo aquelas palavras. Por um lado não quero dizer aquilo, mas sei que preciso. Percebo uma mudança no olhar impassível de Grimmjow. Ele arregala os olhos por uma fração de segundos, mas logo seu olhar se transforma em algo perigoso e inflamável. Consigo enxergar claramente o ódio em seu olhar e sei que em grande parte, esse ódio é dirigido a mim. Mas eu aceito aquele olhar, por que é o que eu mereço. Aquele olhar é o mínimo que eu poderia receber depois de tudo que eu tinha feito.
- Você não se arrepende ? Foi isso o que você disse, Ichigo ?
O meu nome ressoa na sua boca com um ar pesado e sombrio. Há algo a mais naquela voz, algo que não consigo identificar, mas sei que é aterrorizante. Nunca achei que Grimmjow pudesse ter dois lados, mas acabo de perceber que eu nunca havia realmente encontrado o ‘’outro lado dele’’. Mas eu teria o azar de presenciá-lo naquele momento. E eu não estava pronto para conhecer Grimmjow inteiramente e verdadeiramente.
- Sim...foi – Tento controlar minha voz, mas ela não me obedece. Meu corpo começa a tremer por algum motivo que desconheço. Me pego paralisado pelo olhar de Grimmjow, que dá um passo na minha direção. Um passo devagar, devagar até demais.

- Mas você disse que se arrependia..não disse ?
- Disse..eu disse que me arrependia de ter magoado você, Grimmjow – Recuo um passo, conforme ele dá outro na minha direção. Nossos olhos ainda estão ligados um no outro e nenhum de nós ousa desviar o rosto. Estamos num tipo de sincronia sombrio e assustadora, que faz com que meus pelos se enrijeçam ainda mais.
- Mas você não se arrepende de ter beijado seu amiguinho, se arrepende ? – Sua voz é lenta e cheia de ira. O que antes a tornava sexy, agora a torna perigosa. E há algo nisso tudo que parece errado. Grimmjow está calmo demais. Ele está pensando em algo, mas no quê ?
- Não..eu não me arrependo – Engulo em seco, forçando minha voz a sair – Você disse que odiava mentiras, por isso estou te contando a verdade, Grimmjow. Eu prefiro te contar a verdade do que mentir de novo.
- Então você mentiu para mim há alguns segundos atrás ? – Sua voz é embargada, irreconhecível. – Mentiu para mim de novo ? Não mentiu ?
- Sim..eu menti para você, Grimmjow...
- POR QUÊ VOCÊ MENTIU PARA MIM !? POR QUÊ ? – Sua voz reverbera pelo meu corpo, enfraquecendo-me por dentro. Estou tão atordoado que não percebo quando chego a área da cozinha. Minha cabeça dói e por um momento fico tonto. Fecho os olhos e me agarro a beirada da mesa de jantar. Quando abro os olhos, vejo Grimmjow próximo a mim para me ajudar. Mas não é isso o que ele faz. Ele me agarra pelos pulsos firmemente, forçando-me a olhar em seus olhos.
- Você vai me dizer..e vai me dizer AGORA ! – Ele grita tão alto que fecho os olhos outra vez, temendo que ele me machuque. Mas no fundo sei que ele não ultrapassaria esse limite. Não comigo. – Me fale, por quê você deixou ele te beijar..
As lágrimas surgem no meu rosto outra vez, mas elas parecem não abalar a estrutura de Grimmjow. Ele está puto da vida comigo. Agora de perto, vejo bem a expressão em seus olhos. Raiva..pura raiva. Talvez até um pouco de ciúmes, mas principalmente raiva. De mim e talvez de Renji, mas principalmente de mim pois eu havia mentido na cara dele e também havia beijado outro rapaz. E essa raiva toda é demonstrada em seus olhos azuis, que agora parecem ser pretos. O mesmo olhar que representa o lado obscuro que Grimmjow guarda dentro de si.
- Por quê...eu gostava do Renji também – Sussuro com a voz sufocada pelas lágrimas, me lembrando da noite em que ele se foi – Só que eu não tinha percebido isso, até o momento que ele se foi...
- Você gostou ? – A súbita pergunta de Grimmjow me pega desprevenido, o que faz com que eu não consiga responder de imediato. Seus olhos são tão flamejantes que não consigo continuar olhando neles. – ME RESPONDA !!
Grimmjow quer ouvir a verdade, da minha boca. Ele fez aquela pergunta, como se essa fosse o ápice do problema todo. E eu percebo que para ele, ela é mesmo. Esse é o motivo dele estar tão transtornado. Ele não havia se conformado com a possibilidade de me ver com outra pessoa. Eu era como um objeto pessoal que ele era incapaz de perder, e não perceber isso antes parece me iluminar. É só então que eu consigo sentir raiva, que consigo me sentir usado por ele. Diferente de Grimmjow, Renji parecia não me tratar como um brinquedinho. Eu estava me sentindo como uma boneca, que só servia de diversão para Grimmjow quando ele bem entendesse. E por um momento, realmente achei que ele fosse um santo, mas eu estava enganado. Ele havia me usado desde o começo. Agora tudo faz sentido. O modo como nos conhecemos e do quão rápido ele me abordou, convencendo-me de que gostava de mim. Eu havia caído direitinho no jogo dele, mas eu não iria deixar aquilo barato. Eu não vou mais cair naquela conversa, nunca mais.
- Eu gostei de sentir a boca quente e gostosa dele na minha...na verdade..eu adorei – Digo com o máximo de desprezo que consigo, fitando Grimmjow com um olhar raivoso. Estou tão pê da vida que eu minto, apenas para provocá-lo  – Ele beija mil vezes melhor do que você...se quer saber minha opinião.
Imediatamente, eu me arrependo pois vejo a imagem da dor refletida em seus olhos. Uma dor que eu havia causado propositalmente, num impulso infantil. Não tenho tempo de reagir com aquilo, pois a dor logo é substituída por ódio. O rosto de Grimmjow se transforma numa máscara distorcida e amarga. Ele dá um grunhido e me empurra contra a mesa, virando-me de costas para si. Ele faz com que eu me debruce sobre a mesa, segurando minhas costas com uma das mãos de modo um modo surpreendentemente forte que não consigo me mover. Sua mão percorre minha coluna e ele coloca um dos braços sobre minha nuca. Minha cabeça fica pressionada contra a superfície dura da mesa, de modo que não consigo enxergar Grimmjow. Mas eu o sinto atrás de mim.
- Então é assim, não é ? – Ele diz com a voz cheia de raiva e também com outra coisa que eu sou perfeitamente capaz de perceber, excitação. – Eu estou com a mão coçando para te pegar de jeito e você vai se arrepender de verdade, Ichigo.
Por mais que pensar em mim daquele jeito fosse algo agradável e excitante, agora parecia algo um tanto preocupante. Imagino as coisas que passam pela cabeça de Grimmjow e em como ele deve estar se sentindo. E todas  as possibilidades que encontro parecem me perturbar. Antes que eu me dê conta, Grimmjow está tirando minha calça. Ele percorre as mãos sobre o tecido de minha calça e levanta meus pés, arrancando o peça juntamente de meus tênis. E então ele, literalmente, rasga minha cueca no meio. A dor é repentina e me pega desprevenido. Meu coração bate rapidamente no peito e surpreendo a mim mesmo quando percebo que estou com medo de Grimmjow. Há algo em seu toque que me dá a certeza de que aquilo será diferente. Ele não será carinhoso. Pelo contrário, ele vai me mostrar o verdadeiro lado dele. O lado pelo qual eu pedi, quando decidi dizer aquelas coisas. Fui movido pela raiva, achando que de alguma maneira, pudesse vencer Grimmjow. Mas como sempre eu estava enganado, pois Grimmjow se encontra num nível muito acima do meu.

- Vamos ver se você gosta disso.. – Ouço o som de zíper sendo puxado e antes que eu possa sequer raciocinar o que vai acontecer, a dor me atinge em cheio. Dou um grito repentino e acho que Grimmjow vai parar assim que ouvir, mas ele não para. Grimmjow enfia seu pau com força na minha bunda, abrindo caminho dentro de mim. Fecho os olhos, sentindo todo o volume de seu pênis que se move rapidamente. Ouço Grimmjow arfar e sinto quando ele debruça todo o peso do seu corpo sobre o meu, imobilizando-me completamente. Grimmjow continua a meter rapidamente dentro de mim e a dor é insuportável. As lágrimas brotam em meus olhos outra vez.
- Pare, você está me machucando !! – Suplico em meio a dor insuportável. – Pare !!
- Está gostando, Ichigo ? – A voz de Grimmjow é sombria. Não é a voz do homem que eu amava e que achei que conhecesse. – Foi desse jeito que você gostou quando beijou aquele seu amiguinho ? Foi ?
As lágrimas continuam a escorrer sobre minha bochecha e eu continuo a chorar. Estou sendo atacado pela pessoa que eu mais confiava no mundo. É irônico como eu achei que Grimmjow nunca pudesse me machucar de alguma maneira. Mas lá estava ele, me usando como um brinquedo velho e sem importância. Ele estava com raiva e queria se vingar de mim, por causa das minhas palavras.
- Está doendo, não está ? – Ele sussurra no meu ouvido, tapando minha boca com uma das mãos – É assim que eu me senti, Ichigo....você me entende agora ?
Grimmjow continua a me foder sem parar, rasgando-me por dentro. Ele é como um animal disputando seu próprio território. Feroz e sanguinário. E a culpa daquilo, apesar de não querer ver, era minha. Apesar de gritar com tudo que tenho, Grimmjow não para. Meu corpo treme conforme Grimmjow continua a meter em mim. Ele arfa, geme e me segura, deixando-me sobre seu domínio.
- Você......é.....só.....meu...entendeu ? – Ele diz, em meio as estocadas que são como navalhas. Estou me sentindo destruído por dentro, tanto fisicamente quanto emocionalmente. Aquilo era como um estupro....Grimmjow estava me estuprando. Como ele pode estar fazendo isso comigo ? Será que eu sou realmente apenas um objeto para ele.
-Entendi...Entendi– Minha voz é quase inaudível em meio ao choro. Minha garganta dói, assim como todo meu corpo. A dor na minha bunda parece vibrar por toda minha perna, percorrendo minha pele de forma rápida e dolorosa. – Para, Por favor....Me perdoa, amor...por favor....perdão.
- Você é só meu e de mais ninguém.. – Sua voz é fria e distante – Você é meu, Ichigo
- Sim.. – Minha voz é fraca, sem vida. Meu corpo parece não responder aos meus comandos e é como se eu estivesse perdendo a consciência.
- Eu quero que você repita o que eu falei...
- Eu sou seu e de mais ninguém, Grimmjow
Quase não percebo quando Grimmjow tira seu pênis de dentro de mim e enfim me liberta. Meu corpo está dormente e cada movimento que dou, é como se eu tivesse vários espinhos dentro do corpo. Não consigo me mover de imediato, apenas quando Grimmjow me pega nos braços e me cobre num abraço.
- Eu preciso de você...você não faz ideia do quanto..

Apesar de ainda estar atordoado com o que acabara de acontecer, ainda tenho forças para sentir raiva. Grimmjow havia me machucado, me usado e me iludido. E eu havia caído naquele plano dele. Mas aquele era um erro que eu nunca iria cometer de novo.
- Ichigo..
- NÃO ! NÃO ENCOSTE EM MIM ! – Junto tudo que carrego dentro de mim e eu o empurro para longe de mim. Grimmjow cambaleia alguns centímetros para trás e olha para mim, com a testa franzida. Ele parece não ter visto o seu erro, já que para ele aquilo era algo ‘’normal’’. Grimmjow era atormentado pelo seu passado triste e sombrio, e por isso a dor era a sua resposta para os problemas. Eu entendia o lado dele, só não conseguia aceitar que ele pudesse me usar como objeto, para se livrar do que estava guardado no coração. A ideia dele abusar de mim é chocante. Achei que eu fosse diferente, achei que ele tivesse ao menos alguma consideração por mim, para me respeitar a ponto de nunca me desvalorizar como ele havia feito. Mas eu esteva enganado. Havia muito mais em Grimmjow do que pensei. Muito mais a descobrir e eu não sabia se queria continuar com aquele relacionamente, percebendo o quão desconhecido ele ainda me parecia.
- É disso que você gosta ? – Meus olhos ainda estão encharcados de água, mas mesmo assim eu o encaro de modo incrédulo, a voz carregada de desprezo.– Você gosta de me ver assim ?
- Eu...
- Como você pôde ? – As lágrimas parecem aumentar, assim como o buraco no meu coração. Me lembro das palavras de Ulquiorra sobre Grimmjow. Ele parecia estar certo de tudo o que falava, mas eu não dei ouvidos a ele. Decidi ignorar e crer que conhecia Grimmjow de verdade e que podia confiar nele. Mas na verdade, eu fui cego demais para perceber que eu não tinha conhecido o verdadeiro Grimmjow. O garoto perturbado pelo estupro do pai e do suicídio da mãe. Eu deveria ter escutado, mas fui teimoso. E agora eu havia provado daquilo tudo como uma punição. E só então eu tinha aprendido a lição– Ulquiorra tinha razão sobre você...sobre tudo..
Vejo um lampejo de tristeza cruzar o olhar de Grimmjow. Ele olha para o chão, como se enfim tivesse percebido o enorme erro que havia cometido comigo. Mas agora nada iria mudar o que ele havia feito, mesmo que fosse algo do qual ele precisasse para se acalmar. Ele era como um sádico, que precisava causar dor aos outros para se sentir bem. A ideia me parece tão bizarra que eu a descarto na hora. Não..Grimmjow não é sádico. Ele só é perturbado. E ele precisa de ajuda...da minha ajuda. Por um lado, no fundo eu quero ajuda-lo a se curar. Quero ser a salvação dele, assim como ele havia sido a minha. Eu só não sabia como proceder naquilo e o fato dele ter me machucado, só tornava isso ainda mais difícil. Por mais que eu queria estar junto dele, essa ideia agora me causa angustia e tristeza. Preciso ficar sozinha, sem Grimmjow por perto. Meus olhos ainda estão nos dele quando ele dá um passo na minha direção, de forma cautelosa e com o olhar aflito. Mas não posso permitir que ele se aproxime de mim..não nesse momento.
- Ichigo...
- Não.. – digo com a voz cheia de dor e tristeza, balançando a cabeça. – Não ouse chegar perto de mim..
Essa é a última coisa que digo antes de dar as costas e subir as escadas com dificuldade, em direção ao segundo andar. Ao mesmo tempo que quero sair daquele lugar, também não quero ficar longe de Grimmjow. Por isso escolho um dos inúmeros quartos que existem no corredor e entro, encostando a porta atrás de mim. A cada passo que dou, a dor punge dentro de mim. Me movo lentamente em direção a cama de casal posta em frente a parede e me deito cuidadosamente. O tecido macio e gelado me dá uma sensação boa e aconchegante. E por um momento, me permito esvaziar a mente. Mas logo o pesadelo volta com força total. Começo a chorar outra vez, me lembrando da época em que Grimmjow e eu éramos felizes. Da primeira vez em que nos beijámos e da segurança e conforto que ele me proporcionava quando eu estava em seu colo. Me lembro do jantar, onde eu o defendi com unhas e dentes, pois apesar de todos os seus problemas, eu o amava demais. E eu ainda amo, apesar do que ele fez comigo. Só que não conseguir compreender aquilo tudo e não ser capaz de salvá-lo parece me matar. Queria ter um relacionamento simples e normal com ele, sem me preocupar com nenhum problema ou algo do tipo. Mas esse futuro parece longe demais para existir. Me pergunto se algum dia, nós iremos dar certo. Quem me dera saber a resposta para aquela pergunta.
Sinto quando Grimmjow entra lentamente no quarto e se aproxima da cama de casal. Sinto seu peso quando ele se senta na beirada do colchão, em algum lugar atrás de minhas costas. Estou virada para a parede, fitando sua sombra escura sobre a superfície a minha frente.
- Por favor..não me odeie...- Sua voz agora é lenta e suave, como a de um garotinho. Ouvir aquelas palavras apertam meu coração. Eu deveria odiá-lo pelo que ele havia feito comigo, mas por incrível que pareça, eu ainda era completamente apaixonado por ele. Nada nesse universo iria mudar aquilo. E ouvir aquilo dele fazia com que eu me sentisse ainda pior. Eu havia dito que Ulquiorra tinha razão, quando aquilo não era verdade. E de algum modo, Grimmjow aceitou isso. Aceitou a imagem que o irmão invejoso havia posto nele. Mas eu conhecia o mínimo de Grimmjow para saber que ele não era uma pessoa ruim. Quando era criança, Grimmjow não teve pais que o ensinassem o que era certo e errado. E por isso, sua mente é tão deturpada assim. Ele precisa que alguém o guie na direção certa e eu quero ser esse alguém. Quero trazê-lo de volta pra mim, só não sei como fazer isso. Ainda com suas palavras guardadas no peito, penso várias vezes no que havia acontecido. Por um lado é compreensivo, mas ainda assim ele havia me ferido. E eu não conseguia aceitar aquilo, simplesmente não conseguia. Eu sabia que Grimmjow não havia feito por mal e que ele só agia daquela forma para se livrar dos sentimentos negativos. Mas isso não apagava o que ele tinha feito naquela cozinha.
- Você nunca mais vai fazer isso comigo..- Digo com a voz cheia de tristeza – Nunca mais...
- Não vou amor...prometo
Ouvir o nosso apelido outra vez é o suficiente para me desestruturar completamente. Mordo os lábios, segurando a vontade de explodir em lágrimas. Aquela simples palavra havia trazido tudo de bom entre nós, na minha memória. E é isso o que faz com que a dor se torne imensurável. Há uma grande chance de termos perdido todas as oportunidades de uma vida inteira juntos. É como se estivéssemos seguindo direções opostas, se afastando um do outro para sempre. Pensar na possibilidade de não ter Grimmjow do meu lado é tão desgastante, que não consigo suportar a ideia de que a presença dele aqui, possa vir a ser a última. Acho que é por isso que não quero que ele permaneça no quarto comigo, para que eu não tenha que me lembrar da vida que eu podia ter tido, e para que eu não continue a me arrepender de algo que já estava feito.
- Eu quero que você sai daqui...- Murmuro de forma lenta, perguntando se Grimmjow realmente havia escutado – Por favor...
Depois de hesitar por alguns instantes, sinto o colchão da cama subir quando Grimmjow se levanta e sai do quarto. Espero o som da porta sendo fechada para enfim, cair em prantos. Cubro o rosto com as mãos e choro o máximo que posso, liberando tudo dentro de mim. Mas nem mesmo as lágrimas parecem aliviar a dor que sinto no meu coração.