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História Paradise or Warzone (ZIAM MAYNE) - Capitolo trentotto; Buongiorno part. II


Escrita por: gsoline

Notas do Autor


Oi gente, como vão vocês?

Primeiramente eu gostaria de me desculpar pela demora, e também pelo capítulo. Eu não sei se ele passou o que eu tentei descrever, mas eu fiz com carinho e tomei cuidado com algumas coisas. Acho que eu repeti muitas palavras também uahsduash, mas achei deixa passar essa parte.

E me desculpe por alguns erros de digitação também, não tive tempo de revisar.

Já está chegando a hora da despedida, o próximo que eu irei postar será o último, e eu estou tomando todo cuidado do mundo para não deixar faltar nada.

Enfim, tenham uma boa leitura.

Capítulo 39 - Capitolo trentotto; Buongiorno part. II


O que eu fiz de errado? Eu perdi um amigo, 
em algum lugar no meio dessa amargura.  
Eu teria ficado com você a noite toda,  
se eu soubesse como salvar uma vida. — The Fray 
 

Era meio assustador, não poderia negar as evidências. Depois de muito tempo enfiado naquela merda até o topo, era sufocante saber até onde se permitiu afundar. 

Seus olhos observavam em silêncio, sobrecarregado pelas vozes ao seu redor, tornando todo o cenário patético até mesmo para si. Era diferente; contraditório. Na primavera estava no lugar do seu pai, ditando ordens, tirando vidas de homens casados, com família; dormindo com mulheres e na manhã seguinte as abandonando sem dar algum sinal que ligaria para elas de volta - aquele era o antigo Zayn, o novo estava no lugar dos homens que matava; o homem casado, com família. O inimigo. 

— Eu já fiz de tudo para que vocês matassem um ao outro e nada do que eu planejava, e nada do que eu jogasse um contra o outro, nada que eu fizesse, era o suficiente para vocês puxassem a porra do gatilho... 

Os ecos em sua cabeça voltaram a terem forma a voz grossa que havia se adaptado a um humor negro, enquanto seus olhos observavam a mão dele gesticular e a outra balançar o revólver, dando a impressão que atiraria a qualquer momento.     

— Então... – ele voltou a falar, dividindo sua atenção entre os reféns. – como sou um gênio, apesar de muitas vezes a minha genialidade ser comprometida por dois moleques, eu cheguei a conclusão de que, já que vocês não se matam sozinhos, seria interessante ver alguém próximo a vocês tentando isso. 

Risadas arrastaram em um som sufocado, atraindo a ira de Malik que afundou as unhas nas palmas das mãos. O moreno percebeu que seu marido e irmã se encararam, antes de desviarem para Zayn que ficou pálido de repente, contraindo a vontade esmagadora de estrangular o próprio pai. 

Fabrizio piscou para o filho, e antes que qualquer um pudesse dizer alguma coisa, um dos homens de Del Frazi puxou a cadeira de Zayn para mais próxima a de Liam, colocando-os lado a lado, onde eram capazes de sentir o calor de seus corpos se misturarem em uma asfixia, que antes, era nominada como prazerosa. 

— Você não ouse... – Liam se calou com um soco acertando seu lábio, vibrando-o antes que a dor pudesse o atingir e, quando isso aconteceu, outro homem tampou seus lábios quando entre eles um urro de dor escapou. 

Seus dentes rangeram atrás da fita grudenta, e seus punhos continuavam a lutar contra as cordas, conseguindo afrouxa-las um pouco mais sem que ninguém pudesse notar. 

— Ousarei dar a vocês o espetáculo final, maldita aberração. – Fabrizio sorriu para Liam, alisando o cano do revólver na própria nuca. 

O casal de mafiosos suspiraram juntos, sentindo seus braços coçarem um contra o outro, e os pelos em suas peles arrepiarem por baixo das jaquetas que os cobriam. Queriam poder se observar, mas nenhum dos dois teve a coragem de virar o rosto e enxergar tão de perto o que aquela ocasião estavam fazendo com eles. 

Zayn escondeu a vontade de se curvar e esconder o rosto na curvatura do pescoço de Liam, como Liam escondeu a vontade de erguer seus olhos para Zayn e beija-lhe a testa, assegurando em silêncio que eles ficariam bem - mesmo que soubessem que não tinham para onde fugir. Suas presenças eram importante, porque ao lado um do outro poderiam lutar juntos e sobreviver juntos, mas não se importaram um com o outro, não quando Del Frazi foi até Camilla junto à mais dois homens e desfizeram todos os nós que a deixava amarrada aquela cadeira. 

A caçula se contorceu antes de relutar contra a força do próprio pai, tentando escapar do toque áspero das mãos do mesmo. Seus punhos fechados e livres socaram todo caminho que pudesse encontrar, seu corpo se movia violentamente, da mesma forma que Fabrizio a segurava sobre os cotovelos e gritava com ela algo que Liam ou Zayn não conseguiu identificar - tudo começou a ficar confuso novamente, e aqueles demônios em suas cabeças berravam a ponto de deixá-los surdos. 

— Mio dolce, collabora con papà. – Seu tom irônico retornou a vida com a tonalidade fria e inexpressiva, atraindo um tapa estralado em seu rosto que ardeu antes que ele pudesse revidar com um puxão forte, imobilizando a mais nova e pondo-a no meio daquela roda de psicopatas. – Vocês são um bando de imprestáveis, não sei porque ainda me surpreendo. 

O homem girou os olhos e empurrou Cams mais para o centro, fazendo-a tropeçar nos próprios pés. A garota rosnou e puxou a fita contra seus lábios, travou o maxilar e como um leão faminto voltou a avançar para cima de seu pai, porém, o som de meia dúzia de armas destravando e mirando em sua direção a fez bloquear todos os seus movimentos. 

Camilla olhou arredor, observando cada arma pronta para disparar e cada olhar alheio que a desafiava a dar mais um passo e ela faria, mas o olhar de Zayn não permitiu que ela fizesse. E por ele, apenas respirou fundo, dedilhou os dedos finos e frios contra a coxa e retornou seus olhos âmbares até Del Frazi. 

— Eu odeio você. – Foi o que ela havia conseguido dizer. – Eu odeio tudo em você. Odeio ainda mais saber que o sangue que corre nas minhas veias pertence a você – respirou fundo e com a palma da mão limpou a lágrima que escorreu em seu rosto – odeio ter tido o mesmo nome que você... 

— E a quem você ama? – o homem a desafiou. 

— Eu amo o Zayn e a mamãe que você teve a covardia de tirar de nós. – Ela disse, agarrando as mangas da jaqueta de couro de Leone. O cheiro do perfume dele impregnou em suas narinas, e ela apertou os dedos com mais força contra o couro, sentindo o coração apertar com a lembrança da última vez que o viu naquelas últimas horas; por que sentia que o último beijo que o deu havia sido uma despedida?! – eu amo o meu namorado, apesar de parecer cedo demais para dizer isso. Mas eu o amo. Amo o Niall, o Harry e o Enzo... Eu amo o Liam. 

Fabrizio riu e negou o que ouvia com um aceno ao olhá-la com uma condenação mortal. 

— Liam é uma aberração... – Del Frazi proferiu – e transformou seu irmão em uma também. 

— É, papai. Liam é uma aberração. – Camilla vociferou entredentes, tentando controlar os tremores em seu corpo causados pela raiva. – Ele é um maldito, um monstro. Mas ele foi o único que teve a coragem de nos proteger de você. – Disparou, perdendo o fôlego e sua capacidade de se manter calma. Seu corpo tremia e ela sentia que talvez aquela fosse a única chance que teria para dizer tudo o que sentia. – Ele foi o único que conseguiu tirar o Zayn do buraco que você o colocou. 

Fabrizio ergueu o queixo e tentou camuflar o sentimento que ofuscou seus olhos. Ele sabia, que ouvir aquilo de sua filha havia machucado mais do que descobrir que seu filho tentou fugir de si pela primeira vez. Fabrizio nunca soube como ser um pai, não havia tido um bom exemplo, e talvez agora fosse tarde demais para tentar se recompor, não que ele quisesse - na verdade, ele nunca quis. 

Engoliu a seco e moveu lentamente seus cílios quando abriu um sorriso - não permitiria que eles soubessem que ouvir aquilo havia o afetado. Nunca. E com o corpo inclinado levemente para o lado direito, arrastou as solas das botas no chão, ecoando um som irritantemente incomodo, até que estivesse perto o suficiente de sua garotinha. 

Por um breve segundo de hesitação, relembrou do momento que a pegou no colo pela primeira vez, o sorriso estampado em seu rosto enquanto um garotinho de olhos âmbares e madeixas tão negras quanto a noite pulava em seu encalço querendo conhecer a pequena irmã. 

Del Frazi se abaixou e apresentou a pequena Camilla a Zayn, que levou a mão para tocar a da irmã e, imediatamente a recém nascida segurou seu polegar com força, fazendo-o rir enquanto pequenas lágrimas transbordavam de seus olhos até então puros e inocentes. Fabrizio, por um breve segundo, relembrou-se do sentimento que aqueceu seu peito, relembrou da felicidade que teve ao perceber que desde aquele pequeno gesto, seus filhos seriam inseparáveis e, de verdade, até mesmo ali, eles eram. 

Ele poderia sentir, mesmo na situação que se encontravam, mesmo não podendo se comunicar um com o outro verbalmente; eles ainda eram unidos, se intercalavam, se comunicavam, sentiam o que o outro sentia. Por um momento, pode sentir orgulho e por outro, quase considerou que aquele sentimento poderia o persuadir. 

Ele teria misericórdia, ele teve. Mas isso aconteceu somente por um breve segundo. 

— Se é assim, darei para você motivos para me odiar muito mais. – murmurou, como se estivesse contando um segredo, mas todos ali o ouviu.  

Alisando o revólver com o indicador, o ergueu em frente aos olhos úmidos da menor e, com uma única mão, a virou em frente ao casal, pressionando a arma carregada e destravada sobre a cabeça da jovem, sentindo-a prender a respiração nos pulmões. Com atenção, observou o casal mais novo se agitar. 

— Vamos lá, senhores. Acho que já passou da hora de acabarmos com isso. – proferiu com desdém e mudou sua direção, mirando agora na cabeça de Liam. – eu estou louco para dar um tiro em vocês, mas estou ainda mais ansioso para saber quem Camilla mataria, para proteger o outro. 

As risadas voltaram e agora eram acompanhadas de assobios e gritos eufóricos. Liam abaixou a cabeça e desejou que um avião caísse naquela fábrica, naquele exato momento. 

— Eu não farei nada. – Ralhou a menina, tentando se soltar do braço em volta de seu pescoço. 

— Ou você faz, ou morrerá junto com eles. 

Sem gastar saliva para ditar novas ordens, Fabrizio colocou o revólver em frente ao corpo da filha, oferecendo para que ela o pegasse. Hesitou, e seus olhos lacrimejados e assombrados correram até os do irmão, pedindo para ele uma solução, um plano, um lugar para onde fugir e se esconder. Mas o moreno lamentou, e com um acenar de cabeça, permitiu que ela fizesse o que estavam a obrigando fazer. Mesmo sem entender, ela fez, sentindo os pulmões se agitarem seu interior quando seus dedos úmidos pelo suor tocou o objeto frio e pesado. 

— Questa, questa è la mia ragazza/Isso, essa é minha garota. – Fabrizio deu um beijo estalado na bochecha da caçula, fazendo-a contorcer e limpar a bochecha no ombro. 

Del Frazi se afastou e sentou-se em uma caixa de metal que sustentava a luz daquele lugar, observando com atenção a cena a frente. 

— Vamos lá, Camilla. Você sabe o que fazer, orgulhe o papai. – O homem provocou, chamando atenção da caçula que apenas engoliu a força o nó formado na garganta. – Faça sua escolha. Qual das duas aberrações você salvaria? E não se esqueça de atirar naquele que você não o faria. – Fabrizio piscou para a menor que formou uma carranca no rosto, ela voltou com seus olhos para o casal que esperavam, surpreendentemente, pacientes para sua decisão ser tomada. 

— Erga a arma. – Ordenou o rival. Ela novamente não o fez. 

Camilla ficou imóvel, até que aquele mesmo som de armas sendo viradas para a sua direção a alertou; ou mata ou morre. 

Trêmula e chorosa ergueu a arma, segurando-a sem colocar ninguém em sua direção. Ela não queria ter que atirar em alguém, não queria ter que colocar a vida das pessoas que ama em risco. 

— Atire Camilla. — Ordenou entre dentes – atire e vamos acabar logo com isso. 

— Eu não vou... 

— ATIRE! – O homem gritou, assustando-a e a fazendo encolher com os nós dos dedos ficando brancos pela força que ela depositou ao segurar o revólver. Ela tremia e de repente o cenário havia ficado mais assustador de quando ela finalmente pode abrir os olhos ali - os homens começavam a berrar entre pulmões para que ela atirasse. Era uma turbulência de impaciência e humor, era uma euforia assustadora para uma adolescente de apenas dezessete anos escolher a vida do irmão ou a do marido dele. Todos eles não se importavam, apenas batiam o pé no chão e riam por diversão. 

Atrás deles Fabrizio não estava diferente. Era bem mais prazeroso causar tortura psicológica do que acabar de uma vez com eles e seguir seu caminho, até que pudesse matar Lorenzo, assim, tomaria o lugar dele e seria o mafioso mais temido da máfia italiana.  

A dor psicológica era sempre mais exaustiva do que a física, porque o corpo suporta, mas a mente sempre seria um mistério. Ninguém sabe exatamente o que se passa na cabeça de alguém, ou quanto tempo ela leva até simplesmente desligar. E aquele era o efeito qual Fabrizio tanto ansiou. 

— Atire. – Camilla ouviu o pai berrar detrás da multidão e seu estômago esfriou junto às batidas incansáveis de seu coração. Ela respirou fundo e continuou com a arma erguida sem ter uma mira, apenas tentando ganhar tempo para conseguir uma nova fuga. 

Mas ela não existia, não teria como encontrá-la tão em cima da hora. Não quando eles eram a minoria e ninguém sabia aonde os encontrar. Todos os três morreriam, era o fim do jogo, o fim da corrida e Camilla precisa se decidir quem ela priorizaria, apesar de ter certeza que depois que atirasse em qualquer um dos dois, o outro morreria em seguida pelas mãos de Fabrizio. 

Ela precisava se decidir... mas não queira. 

Outra vez procurou pelo irmão, rezando para que ele pudesse ajudá-la a se decidir - um plano impossível que ela esperava que ele pudesse a fazer concluir, mas tudo o que Zayn fez foi mover a cabeça e pedir detrás da fita; atire em mim, acabe logo com isso. 

Era o fim, eles não se cansariam de repetir. Principalmente Liam, que sempre soube que Camilla nunca machucaria o próprio irmão - nunca o mataria, não quando ele continuou lutando, mesmo sem forças, para protegê-la. 

Payne já havia se conformado com sua morte antes mesmo dela chegar, e por esse motivo, quando os olhos de Camilla se viraram em sua direção pedindo para ele em silêncio uma saída, Liam sugeriu que ela atirasse nele, em um aceno simples de cabeça. 

Camilla engoliu a seco e mirou a arma em direção ao castanho que ergueu o queixo. Zayn gritou abafado, chamaria sua irmã de idiota caso tivesse a oportunidade, não aceitaria que ela tirasse a vida de seu marido, porém, uma voz em sua sempre soube que ela nunca escolheria Liam - Ele não era a prioridade. 

Zayn maneou a cabeça, sua pele começou a formigar e seu peito foi bombardeado dolorosamente por seu coração que disparava contra ele. Seus olhos se fecharam, as lágrimas caíram com força sobre as bochechas rubras e quentes e o moreno abaixou a cabeça quando todos aqueles gritos intensificaram. 

A adolescente havia escolhido um para proteger e outro para matar. E quem morreria sorria, como se enfim, pudesse finalmente sentir o fim da queda do abismo. 

Poderia ver sua alma abandonar a carcaça e o sangue esfriar, sua respiração ficou mais leve e, de repente, quando achou que uma bala perfuraria seu peito, Liam se agitou; porque ele nunca teria aceitado, mesmo no pior estado de embriaguez, a escolha que Camilla havia acabado de tomar: 

— Você foi o mais próximo de um anjo que pedi ao meu irmão. – Disse a caçula, rezando para que Liam ouvisse além de todos os gritos. – Então, por favor Leeyum, cuide dele por mim. 

Liam queria gritar, mas sua boca estava selada. Ele queria impedi-la, mas já era tarde demais, foi obrigado a presenciar uma das piores cenas da sua vida quando tudo soou parecido a um click.  

Camilla deu ao irmão o seu último sorriso, o mais bonito que ele já tenha visto, e, através dele, demonstrou o quanto estava orgulhosa do homem que ele se tornou. Ela girou os calcanhares, pousou seus olhos através da multidão e ergueu sua mão e toda a baderna girou em outra direção - Ela apertaria o gatilho, mataria Del Frazi, era apenas um tiro.  

Ela atirou, mas a falta de prática a fez acertar a parede atrás do mafioso. 

Urrou e quando estava pronta para dar o segundo tiro, a bala de uma espingarda soou estrondosa e horripilante, quebrando a gravidade e acertando em cheio o peito da adolescente. 

Liam deu um pulo quando o sangue de Camilla espirrou em seu rosto, fazendo-o esbugalhar os olhos com os lábios semiabertos. Assistiu o momento que a caçula deu seu último suspiro antes de cair ao chão, totalmente sem vida, levando junto consigo o restante da sanidade de Payne que mal conseguia piscar. 

Liam não sabia o que sentir. Não sabia como deveria ou se deveria sentir algo. Aonde ele havia falhado? 

O cheiro forte de ferrugem invadiu suas narinas, da mesma forma que poderia sentir alguns respingos escorrer por suas bochechas e colorir a sua pele com o vermelho opaco e vivido. Liam estava perdido, com os olhos presos a Camilla com o peito aberto e estraçalhado por causa dos estilhaços. Seu rosto e pescoço estavam queimados, feridos pelos restos da bala, e seu sangue se espalhava pelo chão como se acabassem de abrir uma torneira. 

Sua respiração começou a acelerar quando ouviu o grito abafado de Zayn, era quase incapaz conseguir respirar somente pelo nariz tão rápido sem deixá-lo tonto. Se uma vez na vida já estava perturbado o suficiente para se considerar insano, Liam nunca havia chego a aquele ponto, onde não sentia nada, onde tudo o que acontecia no próprio corpo era uma agitação ensurdecedora, como se estivesse sido tomado por algo.  

Era massacrante, era aterrorizante, porém, tudo o que Liam conseguia sentir era o enorme vazio que aquela situação o trouxe, onde nem mesmo as lágrimas que escorriam de seus olhos poderia o fazer ser algo, lhe trazer algo. 

— Merda. – Ouviu com clareza a voz do inimigo e os passos apressados dele. Os pés de Del Frazi apareceu no campo de visão de Payne, ao lado do corpo da garota. – Puta merda. – Proferiu, sem realmente acreditar que aquilo havia acontecido, assistiu de camarote um dos seus homens atirar na própria filha e vendo o estrago de perto o deu um embrulho no estômago – Merda, Jacob, seu imbecil. Não era para atirar na garota... 

— Mas ela iria... 

— Não era para atirar na garota. 

Ele gritou e Liam piscou debilmente, sem conseguir se mover ou perceber que as cordas em seus punhos estavam frouxas o suficiente para conseguir solta-las. Ele queria, mas seu corpo não permitia, sua mente estava fraca demais para ter que lidar com todo o resto. 

Não conseguia olhar para Zayn, não diretamente. Percebeu por canto de olho que metade do rosto do moreno estava sujo pelo sangue da própria irmã e que ele não parava um segundo se quer de chorar, movendo-se nervosamente na cadeira e gritando atrás da fita. Liam queria acolhê-lo, mas não sabia o quanto Zayn o odiava naquele momento, não sabia como Zayn estava o culpando, não sabia o peso que Zayn sentia por ter sido persuadido pelas ideias de Liam. 

Ele havia sido tão burro a ponto de achar que estava protegendo todos, quando na verdade colocou todos em risco.  

Liam mal conseguia respirar, estava com dificuldade, seu corpo inteiro estava eletrizado e seus olhos apenas olhavam os de Camilla abertos. Aquele tom âmbar não eram mais vividos, não eram mais questionadores ou curiosos. Eles não eram mais adoráveis ou persuasivos. Aqueles olhos estavam mortos, como todo o resto que Liam não poderia sentir. 

— Por que você foi tão burra? – Fabrizio gritou com o corpo da filha, como se ela pudesse o retrucar. Se agachou ao lado dela e olhou para a garota, sem saber onde toca-la ou se deveria realmente o fazer. – Você era para ser a minha princesinha, era para ser. – Ele sussurrou para si mesmo, mas todos o ouviu – Camilla, era para você ser o meu orgulho, mas você resolveu se virar contra mim como o seu irmão fez. – Ele disse e uma lágrima solitária rolou por sua bochecha esquerda quando seus dedos fecharam os olhos da filha. 

Morrer com os olhos abertos é não aceitar partir com uma grande raiva e magoa no coração. Pessoas que morrem com os olhos abertos não esperavam partir tão cedo, ou não esperavam partir sem antes se libertarem de um sentimento tão obscuro e cruel; não esperavam morrer com ódio. Fabrizio se lembrava do que sua bisavó o dizia, e ver sua filha naquela posição, o fez saber que ela o odiaria para sempre. 

O homem inspirou e expirou, secou a lágrima no rosto e ergueu a cabeça até Liam, mas sua raiva naquele momento não se dirigia a ele, e sim ao moreno que soluçou alto demais. Fabrizio foi até Zayn, se ajoelhou em frente à ele e segurou o rosto do filho com as duas mãos, tentando o fazer olhar em seus olhos. 

— É por ele que você está fazendo tudo isso? Um homem que provocou a morte da sua mãe e agora a da sua irmã. É por ele que você está se sacrificando tanto, Zayn? Quando é mais do que óbvio que ele tirará de você tudo o que ama. 

Liam continuou a olhar para o corpo da garota, não suportaria olhar nos olhos de Zayn agora e enxergar que Fabrizio tinha razão e que ele concordava com o pai. Ainda não tinha pelo o que sentir, apesar de tentar, não conseguiria, tudo estava fraco demais para continuar insistindo. 

O castanho finalmente voltou a piscar normalmente, os cílios molhados pelas lágrimas e todo o rosto grudando por causa do sangue em sua pele. Payne ouviu os resmungos de Zayn e em seguida o som da fita sendo arrancada de sua boca; soube, naquele momento que independente do que aquela voz rouca e doce pudesse dizer, o machucaria, porque seria a condenação que Liam merecia. 

Não suportaria perdê-lo e somente a hipótese o feria. O amava tanto, mas não sabia se Zayn o amava de volta, não depois de tudo o que aconteceu. 

— Será que não percebe que ele só lhe trouxe mais problemas? 

Fabrizio rosnou, envenenando mais a cabeça do mais novo, tentando mesmo depois de muito tempo, o trazer de volta para o seu lado. Torcia que Zayn seria fraco o suficiente para acreditar, logo agora que estava tão vulnerável. 

— Responda, Zayn... 

— Sì. – Zayn gritou de volta, sentindo cada músculo em seu corpo vacilar. – É por essa aberração. É por esse imprestável. É por esse maldito monstro, é por ele e sempre será assim. – o moreno tremeu, seus olhos vermelhos e marejados, sua respiração pesada e acelerada. Malik comprimiu os lábios antes de voltar a ralhar – é por ele, Fabrizio e eu não me arrependo de tê-lo escolhido.           

— Como ousa...  

— Como você ousa me envenenar contra o meu próprio marido? – Liam o ouviu e não sabia que prendia a respiração nos pulmões até a soltar, sentindo o peito queimar. – Você é o culpado disso tudo, Fabrizio e não o idiota do meu marido. – Engoliu a seco, tocando propositalmente no joelho de Liam com o seu, querendo o dizer; eu estou aqui, idiota. Eu ainda amo você, talvez até mais do que amei ontem e menos do que amarei amanhã. Ainda estou aqui. – Então se tiver que matá-lo, terá que matar a mim também.  

Zayn deu um sorriso duro, cobrindo os olhos do mais velho com sua revolta, apertando os punhos e torcendo os dedos. Ele matou sua mãe. Matou sua irmã e agora queria matar o que Zayn sentia por Liam. Malik estava exausto de sentir dor, cansado de sentir pena de si mesmo, mas nunca se cansaria de ver o ódio em chamas nos olhos que herdou de seu pai.  

Fabrizio urrou, soprou uma rajada forte de ar pelas narinas na mesma medida que seu rosto ficou mais rubro por causa da ira que grudou em sua pele. O mafioso apenas se afastou, e com um último olhar que pudesse trazer o último perdão - que teria diversas consequências - ao filho, o homem destravou sua arma e apontou para Zayn. 

— Se é isso o que você quer, morrer por causa dele. Então assim será. – Com o polegar e um olhar frio, Del Frazi destravou a arma. – Ninguém se move, ninguém respira. Se o marido do estupido do meu filho esboçar qualquer reação, atirem nele. 

Liam observou Zayn, sentindo os pulmões se agitarem pela falta de ar. Payne olhou para Fabrizio, sua expressão indecifrável trazendo a certeza que Liam temia. O castanho se agitou e subitamente sentiu os punhos serem livres quando as cordas se afrouxaram e caíram ao chão.  

Esbugalhou levemente os olhos, estava livre e o som que elas fizeram quando caíram foi inaudível e imperceptível pra quem estivesse os observando. Era quase nulo, quase um segredo - seria mantido daquela forma se Malik não tivesse notado, mesmo estando em frente à própria morte. 

O moreno congelou, não por si, não... ele simplesmente congelou, porque ele sabia o que estava por vir.  

— Suas últimas palavras, Zayn... 

O moreno não deu muita importância para o que o seu pai dizia, não quando naquele momento o diabinho em sua cabeça gritava para Liam: Seu maldito idiota!  

Malik não teve tempo de processar, muito menos gritar, sua voz foi arrancada de si de uma forma intensa e áspera. O som de motor roncando ficava cada vez mais intenso conforme se aproximava, e de repente, a parede era rompida pelo impacto que o veículo causou ao atravessa-la após destruí-la. Malik apenas piscou e o braço de Liam o empurrou para trás, fazendo com que ambos caíssem ao mesmo tempo no chão com as cadeiras e batendo suas cabeças. Urraram, quase no mesmo segundo, quando o som de surpresa foi substituído por tiros.  

Malik com muito esforço levantou a cabeça e observou a camionete que rompeu a parede invadir a fábrica, enquanto os homens lá dentro atiravam nos rivais que correram para um lugar para se proteger e revidar a atiraria sem correr o risco de serem atingidos. Zayn quase chorou quando reconheceu os homens de Lorenzo. 

— Buongiorno, figlios di puttana. – A voz de Lorenzo soou animada por cima dos tiros, ele estava pendurado em uma janela de um segundo carro que invadiu o lugar, atirando para cima com a metralhadora que controlava, mirando em alguns e matando-os segundos depois.    

Fabrizio havia corrido à muito tempo para se proteger, e quando pensou que poderia derrotá-lo, mais dois carros invadiram o local, e mais homens a pé vieram logo atrás, todos armados até os dentes. Eles protegiam a D'Angelo, mas não era por ele que estavam ali.  

Liam tentou se proteger dos tiros quando desamarrou seus pés. Os sons ficando cada vez mais altos e perturbando seu cérebro que ordenava que cada parte do seu corpo se movesse. O castanho com os músculos ociosos virou-se para Zayn, e jogou-se em cima dele quando um tiro de raspão arranhou seu antebraço. 

— Você é um idiota. Você é um maldito babaca idiota. – Zayn gritava, sabendo que mesmo que estive inaudível atrás de toda aquela bagunça, Liam ainda poderia ler os seus olhos e saber do que ele se referia. 

O castanho começou a desamarrar os tornozelos do moreno quando observou que mais dois carros entraram; o primeiro entrou na frente e dentro deles as balas voavam como fogos de artifício e explodiam em faíscas brilhantes e reluzentes. Cada uma com o seu grau de mortalidade e uma dor sofrida quando respingos voavam no ar e caiam ao chão, sendo totalmente inúteis comparados ao peso morto de inúmeros corpos. 

Liam piscou, o segundo carro veio em sua direção e a de Zayn, eles pararam em frente aos dois, os protegendo de qualquer um que resolvesse atirar, segundos depois um par de olhos azuis e cabelos dourados pularam para fora e um sorriso, mesmo que nervoso, trazia esperança a Payne que suspirou aliviado quando reconheceu Luke. 

— Liam, Zayn. – Ele disse, os cumprimentando como se não pudessem morrer a qualquer segundo. Percebeu que Malik estava irritado, somente o olhar escuro dele era sugestivo o suficiente para deixar qualquer um encolhido com medo de virar um peso para Zayn.  

Luke sabia, havia trabalhado com ele durante todos aqueles anos, e apesar de ter mudado muito depois de ter conhecido Liam, alguns costumes ainda não mudaram. Zayn ainda possuía uma mala cheia de demônios e Luke nunca saberia com qual deles estava lidando, até se ver cara a cara com ele. 

— Papà. – Liam sorriu para Lorenzo quando ele correu em sua direção, seu rosto demonstrava diversão, apesar de possuir traços de preocupação e culpa por ter demorado tanto.  

Lorenzo sabia que Fabrizio os vigiava, sabia do sequestro. Havia os seguido na surdina e mantido contato com seus homens, mas não poderiam agir, não antes de ter certeza que poderia o fazer. Mas tinha consciência que havia demorado demais, e soube no mesmo momento que viu os olhos lacrimosos e rosto respingado de sangue do seu filho, que era ainda mais tarde do que realmente considerou que fosse. 

— O que....? – D'Angelo se interrompeu quando reconheceu o corpo falecido da garota próximo a eles. Seu estômago revirou, e Lorenzo achou que poderia infartar.  

Camilla estava morta, vê-la da forma que morreu o deixou tão arrependido que quase chorou em desespero. Não, ele não poderia deixar a culpa o consumir, não daquela vez, não enquanto estivesse enfrentando tudo aquilo. Não agora. Mas se permitiu, mesmo que por alguns segundos, mesmo preso naquele inferno, em fazer uma prece para aquela garota encontrar a luz. 

— Será que uma das moças pode me tirar daqui ou eu irei morrer preso na porra dessa cadeira? – Zayn urrou, chamando atenção de Lorenzo. Malik não sabia lidar com o luto. Liam, por outro lado pareceu distraído. 

— Liam...  

Lorenzo gritou, só que não havia restado tempo, não quando Liam havia se erguido tão rápido como um puma e saia correndo no meio daquelas balas mortais, mesmo assim, pegou uma arma próxima a um dos corpos e correu em direção a um corredor vazio. 

— Liam, seu maldito – o moreno rosnou, sendo ajudado por Luke a se desamarrar da cadeira. –  Eu tenho que ir atrás dele. 

— Garoto, me escute. - Lorenzo agarrou no braço de seu genro, o puxando de volta para baixo e o mantendo seguro por mais alguns segundos. – Quero que me prometa algo. 

— Eu não tenho tempo... 

— Eu sei que você quer proteger aquele imbecil de se machucar, ele é um idiota. Mas não o culpe, afinal teve a quem puxar. – O homem se referiu a si, lembrando-se de como era quando tinha a mesma idade e como havia sido tão problemático e rebelde. – Mas eu não tenho certeza se sairei vivo daqui hoje. 

— Lorenzo... – Zayn murmurou, como um lamento. De repente seu peito doía, e ele se odiava por ter conhecido o verdadeiro Lorenzo Barboni D'Angelo tarde demais - e ele tinha razão; o idiota do filho dele tinha a quem puxar. 

O mafioso mais velho sorriu e sua mão livre pousou no rosto do mais novo, olhando-o profundamente nos olhos. 

— Diga a ele que estou orgulhoso... – Seus olhos lacrimejaram, mas ele sabia que tinha que dizer, sabia que o seu tempo estava contado – de tudo que ele fez e de quem ele se tornou. Diga que eu o amo e que ele é mais do que pedi quem um dia ele fosse. E também estou orgulho de você, filho – Zayn engoliu o nó a seco, obrigando que aquela ardência em seus olhos desaparecessem – e independente das escolhas e caminhos que vocês tomam, vocês sempre serão um D'Angelo. 

Vocês sempre serão um D'Angelo.  

Aquela última frase ecoou em sua cabeça, como uma benção, como um pedido de boa sorte, como a última promessa que Zayn se agarrou a ela. 

— Então me prometa, filho. Que você irá dizer a ele. 

— Eu prometo.   

Seus olhares ainda se cruzaram quando Zayn sorriu e levemente acenou. O mais velho lhe estendeu a mão e o moreno pegou a arma que Lorenzo o ofereceu. Saiu dali, correndo e se protegendo de todos os tiros, atrás do seu marido. 

Vocês sempre serão um D'Angelo. 

Zayn, um D'Angelo. Estava cheio de orgulho secretamente. 

— Você... – D'Angelo se virou para Luke que assistiu o amigo entrar no pequeno corredor que antes seu marido havia entrado – saia daqui e leve os dois cabeções até o ponto de encontro. Todos estão lá, os esperando. Ivan irá dizer o que você tem que fazer quando chegar. 

— O senhor não vem? – Luke gritou, não sabia se poderia ser ouvido se usasse o tom habitual. O mafioso apenas sorriu e negou com um aceno, esfregando com as costas dos dedos a barba rala em seu rosto. 

— Eu vou terminar com o que comecei. – Lorenzo sentiu o coração acertar seu peito com euforia. Morreria naquela fábrica, com a sua última luta, mas morreria com gosto, bravura, lutando pelo seu filho, contra o seu inimigo – agora vá. Encontre Zayn e Liam, os tire daqui e se preparem, a guerra de verdade está para vir, antes do pôr do sol. 

Luke hesitou, seus olhos estudavam com atenção o rosto do mais velho e quis saber o que ele planejava ou o que ele sentia. Mas não conseguiu encontrar nada em sua expressão, e nem chegou perto de desvendar o que aquela neblina em seus olhos gostariam de o dizer. 

— Você é um bom líder – Hemmings sussurrou, quase inaudível, quase que indecifrável, mas Lorenzo soube ler os seus lábios e com um leve tapa em seu ombro, o mais velho o ordenou que ele saísse dali. 

Luke correu, se escondendo atrás dos carros e de outros homens que ficariam à disposição de Lorenzo; Lutariam por ele, e morreriam se isso fosse necessário. 

D'Angelo deu um grito para todos os seus homens, ordenando que eles cessassem a atiraria. Todos eles obedeceram assim que a ordem caiu em seus ouvidos, se esconderam em seus postos e alguns minutos depois o eco quase surdo se arrastou.  

O pó fazia alguns tossirem, as respirações pesadas não passavam despercebidas como o som de outros restabelecendo sua munição. 

— Fabrizio, – o italiano testou o nome de seu inimigo em sua voz após muito tempo; descreveria como café amargo que lhe deixava a boca seca. – apareça da onde estiver e vamos acabar logo com isso, da mesma forma que começamos. 

Suas lembranças correram para o passado quando declararam a primeira guerra, onde depois de um baile se encontraram por acaso. A troca de tiros não havia cessado antes das três da manhã, e de alguma forma parecia que mais homens chegavam de todos os lados para ambos os lados. 

Lorenzo naquela noite havia pedido Margareth em casamento e ele a protegia de qualquer coisa que pudesse a machucar, mesmo ela estando assustada, seus olhos brilhavam com admiração e paixão para o homem que prometeu que a protegeria e não permitiria que nenhum mal a acontecesse. Mais tarde, quando venceu a luta por falta da munição alheia, e mesmo assim levou um tiro no ombro, Lorenzo ainda sim tinha sua amada, sua dignidade e orgulho e um inimigo declarado para o resto dos seus dias. 

— Fabrizio. – Lorenzo gritou novamente, agora, ele teve a coragem de se levantar, de peito aberto, para que todos pudessem o ver. Poderia levar um tiro, mas nenhum homem se moveu. Duvidou se eles mesmo se quer respiravam. – Vamos lá, seu desgraçado. Seja homem e me enfrente sem que tenha que usar um dos nossos filhos para isso. 

— Vejo que os anos apenas interferiram na sua aparência, mas não na sua personalidade. – Fabrizio apareceu do outro lado da fábrica, uma arma pendendo ao lado do seu corpo e um sorriso lascivo desenhado em seus lábios rosados – olá, velho amigo. 

— Olá. – Lorenzo sorriu, quase que eufórico e nostálgico, sentindo cada parte do seu corpo se arrepiar com a intensidade de sensações que aquele reencontro o fazia recordar. Fazia muito tempo que não via Del Frazi, tempo o suficiente para dizer que definitivamente nada mudou, mas ao mesmo tempo, tudo estava diferente – é bom reencontra-lo depois de todos esses anos. 

— Digo o mesmo.  

Ambos homens sorriram e aquele havia sido o estopim para que todos os outros voltassem a atirar. 

❱❱❱❱ 

— O ponha no chão...  

Liam poderia se assustar com o som duro e rouco da própria voz, se não estivesse ocupado o suficiente de tirar Enzo das garras de Ian. Esse, quando notou na presença repentina do ex, deu passos hesitantes para trás antes de apertar o menino contra o peito e congelar com os olhos esbugalhados.  

O homem havia se escondido mais o caçula quando os tiros haviam começado, e somente se retirou quando os sons diminuirão, sendo pego no flagra pelo pai dele que lhe olhava como uma fera vingativa e sanguinária. Temia ainda mais pela arma que estava virada em sua direção, destrava e pronta para explodir seus miolos com um único tiro. 

— Liam... 

— Não me ouviu? Eu mandei você soltá-lo. – Rosnou, arranhando a própria garganta quando o fez. 

Somerhalder apenas continuou a observá-lo, sentindo a criança em seus braços encolher com o tom rude que havia acabado de ouvir. Enzo estremeceu quando viu Liam, e mesmo assim, não o reconheceu. Nunca havia o visto tão assustador. O menino sentia os olhos se encherem de lágrimas, queria fugir, queria conforto e segurança, mas o único para quem queria fugir era para Liam, ou Zayn, mas nenhum dos dois estavam presentes. 

— Você está o assustando. – Disse o homem de olhos claros, acariciando as costas da criança chorosa que escondeu o rosto na curvatura de seu pescoço. Ian sentiu as lágrimas dele molhar o colarinho de sua camisa de linho, enquanto os dedos pequenos e rechonchudos dele agarravam o tecido em seu peito.    

Enzo amedrontado se apegaria a qualquer um que o passasse segurança, Payne se odiou ferozmente quando percebeu que o amedrontava.  

— Filho, é o papai. – A voz de Liam havia suavizado, lentamente, mas mesmo assim possuía o tom rouco. Queria poder limpar todo aquele sangue de sua pele, queria poder fugir com seu bebê para o lugar mais distante. – Hey, campeão. Olhe para mim, é o papai.  

Sua garganta fechou quando pela segunda vez foi rejeitado pelo próprio filho. Suas pernas amoleceram, Liam quase caiu ao chão sufocando na própria dor, aquilo o matava lentamente por dentro, o deixando tonto e inerve de qualquer outro sentimento ou ocasião.  

— O coloque no chão. – Liam pediu, a arma ainda estava apontada, mas Ian percebeu que ele tremia de nervoso agora. O homem apenas engoliu o nó na garganta e obedeceu. Ian sabia que estava impune, não tinha para onde fugir e nunca havia tocado em uma arma em toda a sua vida.  

Somerhalder não queria estar envolvido naquela situação, não naquela enorme bola de neve que foi se formando conforme os vestígios se juntavam e ficavam grandes demais a ponto de impedir que ela rolasse por aquele morro denso. Lentamente piscou seus olhos, escondendo por meio segundo suas irias claras que vacilaram sobre o olhar do homem que amava. Quando Enzo foi posto no chão com pés firmes, o sentiu abraçar suas pernas e esconder seu rosto, e, naquele momento, ele soube que o coração daquele jovem pai foi estraçalhado quando a confiança da única pessoa que ele não imaginava, se perdeu no meio daquela imensidão.  

Liam sorriu de forma dura, ignorando a dor que se arrastou lentamente por várias direções em seu copo, e então, se agachou. Desta vez escondeu a arma em sua cintura, estando longe da visão de Enzo, mas ao alcance caso ele precisa-se saca-lá com emergência, e ele precisaria, cedo ou mais tarde ou ele morreria. Os demônios em sua cabeça não o deixava esquecer. 

— Meu amor. – Não queria ter soado tão falho e gago como soou, mas não poderia controlar nem se quisesse os tremores em seus músculos causados pelo medo. Não poderia perder Enzo também, não suportaria vê-lo o odiando ou não enxergando o pai que Liam era para ele por causa de sua aparência - não que o culpasse, Enzo apenas tinha quatro anos, ele poderia ser esperto, mas nunca havia presenciado seu pai com mais que um hematoma colorindo um dos olhos ou um corte no lábio inferior.  

Enzo não o reconhecia e por isso Liam temia. Sabendo que talvez estivesse desesperado demais, reconheceu a memória mais distante fixada em sua cabeça, uma memória que mostrou a Liam o primeiro sinal de amor, o primeiro sentimento mútuo e aconchegante. A primeira vez que seu peito se aqueceu intenso e dolorosamente contagiante, onde seus olhos se encheram de lágrimas e seu corpo se arrepiou por completo. 

A primeira vez que soube o que era amor; a primeira vez que o sentiu de verdade, apesar de parecer tão inocente e frágil, dependente dela e somente a ela. Sentia o cheiro de lavanda que exalava dos cabelos castanhos e ondulados de Margareth, como também pode recordar da primeira vez que sentiu medo e foi aconchegado com um abraço caloroso e palavras de aconchego.  

Havia se passado vinte anos, mas Liam ainda se lembrava da voz dela - de como era doce e como lhe acalmava. Lembrava da música que ela sempre lhe cantava e como ela alegava ser sua favorita. Para Liam também seria, se ela trouxesse o mesmo resultado agora, que lhe trouxe vinte anos atrás. 

Ao suspirar fundo, Liam procurou no fundo de sua garganta voz para o seu apelo;

— When the night has come. – Sussurrou as primeiras palavras, como se testa-se a letra e a melodia em sua voz, arriscando lembrá-la de última hora para um pedido quase desesperado de socorro. – And the land is dark, and the moon is the only light we'll see. 

Nos primeiros segundos nada havia mudado, Enzo continuava a chorar, a se encolher e chamar baixinho pelo o super-herói que ele achava que era o seu pai - o homem que ele não conseguia encontrar escondido debaixo de todo aquele vermelho pegajoso. Mas Liam ainda não havia desistido, mesmo com uma troca de tiros sendo soada do outro lado da fábrica, não muito longe deles. 

Enzo era o seu filho, precisava da confiança dele, precisava do amor dele - porque por ele matava e morreria, de novo e de novo se capaz, sem se arrepender nenhuma das vezes. 

— No, i won't be afraid. No, i won't be afraid just as long as you stand, stand by me. – Seus olhos lacrimejaram, e uma gota salgada e solitária deslizou pelo seu rosto, se colorindo de vermelho – if the sky that we look upon, should tumble and fall. Or the mountains should crumble to the sea...  

Um sorriso começou a se formar em seus lábios quando os olhos do pequeno garoto vacilaram para observá-lo - relutantes e medrosos, mas ele estava ali, reencontrando novamente o seu super-herói. 

— I won't cry. No, i won't shed a tear just as long as you stand, stand by me. – Liam sabia que cada palavra que saia de sua boa eram reais, cada lágrima que transbordavam de seus olhos eram a mais pura angustia e ele precisava ser abraçado novamente, precisava sentir o amor preencher e aquecer o seu peito.  

De repente Enzo piscou seus cílios rapidamente, finalmente o reconheceu, e Payne sentiu a pequena chama em seu interior tomar forma voraz quando o sorriso ingênuo e iluminado de seu filho entrou em seu campo de visão. 

— So darling, darling stand by me... – sua voz foi diminuindo conforme o choro se embrulhava em sua garganta e, mesmo com a visão embaçada, viu seu pequeno menino correr com os braços abertos em sua direção. Enzo pulou no colo do pai e o abraçou apertado pelo pescoço, ouvindo-o soluçar stand by me em seu ouvido antes de o envolver seu corpo em um abraço apertado e acolhedor.  

Enzo estava em casa e sabia que havia deixado Liam feliz quando sentiu o coração dele bater descompassado contra seu peito. O menino sorriu, não se importava com o cheiro estranho, ou com as roupas e a pele pegajosa, ou como o rosto dele parecia colorido de tinta vermelha, mas estava feliz por tê-lo reencontrado. 

— Liam, eu...  

Payne se levantou com o menino ainda em seus braços, apertando-o contra seu peito como se daquela forma o protegesse de qualquer maldade que aquele maldito cretino pensou em fazer com seu filho. O castanho cravou seus olhos aos claros de Ian, sentindo o ódio agitar o sangue em suas veias e aquecer sua pele, da mesma forma que imaginou que suas bochechas se coloriram por baixo do vermelho em sua pele.  

Lembrou-se vagamente de Camilla e da forma que tremeu quando o sangue dela espirrou contra seu corpo violentamente. Agora, ele sentia cada parte doer, arder e submetê-lo a culpa. Só que nada tiraria dele a satisfação em ver o terror nos olhos de Ian ao presencia-lo de uma forma tão insana. 

— Campeão, você confia no papà? – Ian se surpreendera como a voz de Liam parecia tão doce e seus olhos tão tenebrosos. As orbes antes castanhos, agora negros como de um demônio, desceram até o olhar do menino que o mirou com um sorriso e acenou, se esquecendo totalmente que minutos atrás estava com um completo estranho que lhe dizia que ele nunca mais veria Liam. – Então vamos jogar um jogo super divertido?  

— Qual jogo iremos jogar, papà? – o menino perguntou, se agarrando com mais força no ombro do mais velho. Payne disfarçadamente alisou a arma em sua cintura e olhou para Ian, mostrando que não hesitaria em atirar caso ele movesse um único músculo. Somerhalder engoliu a seco e, controlado pelo orgulho, ergueu o queixo. 

— Eu irei te colocar dentro daquela salinha ali – Liam apontou com o queixo o cômodo que referiu, observando o garoto olhar na direção indicada e juntar as sobrancelhas – mas escute, vamos fingir que há monstros aqui, e que eu tenho que derrotá-los. Mas você precisa me ajudar. 

— E como eu faço isso, papai? – Enzo pareceu se empolgar com a ideia, fazendo o mais velho rir nasalmente.       

— Você irá se sentar no canto, tampar os ouvidos com suas mãozinhas e cantar o mais alto que puder. –  O castanho sorriu, beijando a testa do menino que estranhou o que ouviu inicialmente, mas depois sorriu abertamente e acenou eufórico, balançando as madeixas castanhas e longas que já lhe cobriam a testa. 

Liam quis rir, se lembrava de como era uma briga corta o cabelo dele e como passou a ser divertido quando Zayn passou o fazer. Enzo ficava sempre inquieto ao lado de uma tesoura e Malik se controlava para ter o máximo possível de paciência, porque amava Enzo, e não queria magoá-lo com uma palavra rude. 

— Meu garoto. – Liam deu um selinho no filho quando o mesmo armou um biquinho fofo, quase fazendo o mais velho apertá-lo em um abraço mais apertado. Colocou Enzo no chão quando já estava em frente a porta cor mostarda, e o ajudou a se endireitar no canto do cômodo, agradecendo o sol que nascerá algumas horas atrás iluminar o cômodo pela janela – não saia daqui até que eu volte. Ou caso contrário, só quando Zayn voltar para buscá-lo. Enquanto isso, feche os olhos e os seus ouvidos. 

Lentamente alisou as madeixas do menino atrás de suas orelhas, observando de relance Ian continuar paralisado no mesmo lugar. 

— Posso cantar qualquer musiquinha? – seus olhos piscaram inocentemente. 

— Cante o mais alto que conseguir. 

Liam assistiu o último sorriso que o filho lhe deu antes de o obedecer e se encolher no canto com as mãos nos ouvidos e os olhos fechados, enquanto começava a cantar as primeiras letras da musica que lhe veio a mente. 

O italiano fechou a porta atrás de si, e se agarrou a aquela confiança que seu filho havia lhe dado, quando ele começou a cantar a mesma música que acabará de ouvir de Liam, em uma versão mais embolada. A voz infantil foi abafada, os tiros ainda ecoavam em algum lugar na fabrica, e o ódio que sentia por Ian voltou como um raio, fazendo-o arfar de onde se encontrava. 

— Liam, eu posso explicar...  

— Me explicar o que? Que você foi capaz de colocar a vida do meu filho em risco de novo? Ou que você é tão culpado quanto Fabrizio na morte de Camilla?    

— Eu sinto muito.  

Liam soltou todo o ar dos pulmões com uma risada debochada.  

— Sentir muito não vai concertar o que já está quebrado, Ian. Deveria sentir muito por ainda estar vivo, porque eu... 

— Por favor, não...  

— Acho que você não tem o direito de pedir alguma coisa aqui.  

— E você não tem o direito de me julgar, D'Angelo. – Ian gritou, cuspindo para fora todo aquele veneno que o enfraquecia. – Será que você não vê que ele o mudou? – viu Liam juntar as sobrancelhas, piscando debilmente.  – Será que não vê que ele te moldou da forma que ele queria que você fosse? 

Liam riu, coçou a nuca com a ponta da arma e estreitou as sobrancelhas, como se aquela situação estivesse o divertindo. 

— Você enlouqueceu de vez. – Comentou, ainda achando graça – sério mesmo que você está tentando, de novo, me colocar contra o meu marido?  

— Marido? – a respiração do homem pesou contra seu peito, o deixando atônico pelo ar que subiu por sua garganta e queimou por onde passava. O que Fabrizio havia o contado era real, eles haviam se casado e Ian teve a doce desilusão quando percebeu a presença do círculo dourado no anelar esquerdo de Liam, quando ele com muito gosto e orgulho, ergueu o dedo com a aliança em um gesto obsceno. 

— Zayn não me moldou, Ian. Caso contrário, eu teria uma vagina. – O próprio comentário o divertiu, distraindo-o momentaneamente, enquanto zanzava de um lado a outro, controlando a ansiedade de apertar o gatilho. 

— Aonde está o Liam que conheci? – sussurrou, como se sentisse dor, como se estivesse disposto a se arrastar até o outro homem e ser recebido com um abraço aconchegante e que o livraria daquele sufocamento – aonde está o homem por quem me apaixonei? 

— Esse homem morreu no mesmo dia que você traiu a confiança dele. – Liam rebateu, sem perceber que Zayn havia chegado pelo outro corredor, ofegante e com o coração na mão – morreu quando você jurou que o amaria e o entregou de bandeja nas mãos do seu pai.  

— Eu fiz aquilo para te proteger. 

— A quem você está querendo convencer, Ian. A mim ou a você? 

Zayn se escondeu atrás da parede quando reparou que nenhum dos dois havia notado seu paradeiro. O moreno tentou recuperar o fôlego, havia corrido até ali, procurando pelos vários cômodos abandonados, até enfim ouvir os gritos deles. Se perguntou onde estaria Enzo, e se ele parasse um segundo, poderia ouvir a voz infantil cantando ao longe - Liam havia o escondido para não presenciar o que viria a seguir, e o moreno sentiu-se aliviado pelo menino estar seguro.  

O italiano voltou a prestar atenção nas vozes, e como o timbre de Liam parecia trêmulo. Trancou o maxilar, odiando ardilosamente a Ian que tentava com todas as forças restantes em seu corpo envenenar Liam mais uma vez contra Zayn. Malik engoliu a seco e se acomodou na parede que o escondia, sabia que poderia chegar e acabar com aquela história, mas o seu coração partido pediu para ele esperar e, hesitante, o obedeceu. 

— ...Como pode ficar tão cego assim, James? 

Se você o amasse de verdade, saberia que ele odeia ser chamado dessa forma - Zayn pensou, alisando o gatilho do revólver em sua mão.  

— Não percebeu que ele te envenenou? Que ele o colocou contra a sua família e o fez arriscar a própria vida para protegê-lo? Será que você não vê que ele foi egoísta esse tempo inteiro e o colocou contra todos, contra mim? 

— Basta. – Zayn ouviu a voz de Liam e o som de um disparo. Imaginou a expressão de ódio no rosto de quem amava, atrás de todo aquele sangue, e ouviu-o falhar quando o tiro não havia acertado em Ian e sim atravessado uma janela e voado para bem distante - Zayn sentia que Liam estava chegando ao seu limite e Malik precisava interferir.  

Moveu-se, mas as vozes o fez paralisar, seus músculos não obedeceram e seu cérebro focou apenas naquela conversa, não permitindo que ele se distraí-se.  

— Poderíamos superar isso juntos, você precisa me ouvir. 

Silêncio, Liam não respondeu, nem ao menos fez algum som. Zayn imaginou que ele pudesse estar considerando a proposta, se arriscaria a observar, sabia que poderia ler Liam se o visse, o conhecia bem o suficiente, mas mal conseguia se mover, mal poderia dizer o que estava sentindo, como poderia ler Liam se não conseguia ler o próprio desespero nas entrelinhas?!  

— Podemos ser uma família. Eu, você e o Enzo. Podemos fugir juntos Liam e recomeçar, eu amo você e eu nunca estivesse disposto a perder você. 

— Mas você perdeu. 

Perdeu, Zayn repetiu em sua mente. 

— Não, eu não perdi. Ele o roubou de mim. 

Outro tiro, e aquele havia acertado o chão, Zayn soube porque a bala parou ao lado da parede onde se escondia, cravada no buraco que ela mesmo fez com suas faíscas.  

— Não se cansa de procurar um responsável pelos seus erros, não é? Não se cansa de tentar colocá-lo contra mim, desde o início, desde quando voltou. – Malik prendeu a respiração. – Acabou, Ian. É o fim da linha. – Zayn não deteve o sorriso ao ouvi-lo, lentamente seu corpo parou de tremer e a respiração saiu de sua garganta. 

— Não. – Somerhalder gritou. – Eu não vou permitir perder você de novo para ele. – Houve passos, Malik soube que aquele cretino se aproximava de quem era seu, e seus olhos voltaram a entrar em chamas – eu amo você, Liam e eu sei que você também me ama. Nós podemos ser felizes juntos, podemos recomeçar. Mudaremos nossas histórias, nossos nomes. Iremos para bem longe daqui, longe de qualquer um. Amor, por favor. Podemos proteger um ao outro. 

Amor... Zayn rosnou, aquilo havia sido a última gota. Ninguém. Ninguém, chamava o seu marido de amor sem que fosse ele, não se ele soubesse, e quando descobrisse era bom correr para um lugar longe - afinal, todos haviam deixado bem claro que Zayn era possessivo demais com Liam.  

Bem, se for assim, é bom fazer jus ao título.  

Na saúde e na doença; e Zayn era um doente possessivo, não negava, não mais, e deixaria bem claro para quem quisesse saber. Na alegria e na tristeza; duvidava que Liam ficaria triste depois de assistir Ian levar um tiro. Mas seus olhos haviam ficado bem felizes ao reconhecer o corpo do mais novo sair de dentro do corredor, com a expressão dura, os olhos escuros e com todos os seus demônios gritando de uma só fez em seus ouvidos; atire!, Liam quase poderia os ouvir, tamanha era a intensidade de escuridão que nublava o tom âmbar nos olhos de Malik. 

— Eu sempre protejo as pessoas que amo, Ian. – Liam assistiu o momento que Zayn ergueu a arma, e seus dedos alisaram com suavidade o rosto de Ian, vendo-o sorrir verdadeiramente, mas sua temporária felicidade fugiu de si quando percebeu que algo estava de errado e Somerhalder soube quando o sorriso duro de Liam lhe entregou a realidade; era mesmo, o fim da linha. – Mas o segredo, Ian é que eu nunca amei você. 

Somerhalder assistiu em silêncio Liam se afastar e dar um passo para o seu lado esquerdo, questionaria, mas não pode se queixar das atitudes do italiano quando mal se poderia respirar. Um impacto dolorosamente mortal perfurou suas costas e atravessou seu estômago, em seguida um segundo tiro atravessou seu peito e seu sangue voou em grossas gotas até que caíssem no chão como pingos de chuva.  

Seus olhos azuis perderam a vida aos poucos, enquanto de seus lábios semiabertos desmanchavam um rio vermelho e respigava em sua roupa, até que ele caísse de joelhos, dedicando seus últimos suspiros e olhares em vida para Liam, que distorcia em sua imagem, parecendo cada vez mais com o monstro que ele realmente era.  

Liam assistiu o momento que Ian caiu com o corpo no chão engasgou-se no próprio sangue, morrendo com os olhos abertos e lacrimejados. 

— Eu disse que o mataria. – Liam ouviu o som da voz embargada de Zayn, que o olhava e esperava por qualquer reação. Zayn esperava que Liam demonstra-se um pingo de remorso pela morte de uma pessoa que um dia considerou amar. Mas Liam não mostrou, Liam não amou a Ian e nunca havia o perdoado por ter o traído na primeira oportunidade que teve. Somerhalder havia ido tarde e os dois sabiam disso. 

O moreno acalmou os tremores que contorciam seu corpo, correndo até o mais velho e abraçando-o apertado quando seus corpos se chocaram. Malik chorou, porque não havia tido a oportunidade e muito menos o conforto de o fazer anteriormente.  

A morte de sua irmã ainda passava como um flashback em sua memória, a dor de perder sua mãe mal havia passado e havia chegado outra por cima. Deixava-o tão zonzo e enjoado. Não acreditava que havia perdido as mulheres que mais amou na vida, que mais o apoiou, não poderia acreditar que aquilo estava acontecendo. Mas os tiros trocados do outro lado da fábrica o deixava a par de tudo; ainda era real.  

O moreno soluçou contra o peito de Liam que o abraçou apertado e beijou suas madeixas macias e desgrenhadas. As mãos dele acariciavam com suavidade suas costas, o provocaria suspiros em uma outra ocasião - essa que pudessem os envolver em um quarto escuro, de baixo dos lençóis -, mas essas lembranças pareceram tão distantes agora como a última vez que se sentiram inteiros.  

— Nós precisamos sair daqui, amor. – A voz dele sussurrou próxima aos ouvidos do menor, o causando arrepios que subiu do final da espinha até a nuca. Zayn engoliu o choro e ergueu seus olhos molhados até os do mais velho – eu sinto tanto por... 

Os lábios carnudos e rosados do menor tocaram os do marido, interrompendo-o antes que ele se lamentasse mais uma vez por algo que ele não poderia ter evitado. Tudo aquilo começou anos atrás, antes que eles tivessem sido descobertos como embriões, não tinham pelo o que se culpar, apenas a continuar sobrevivendo com todas as heranças que foram destinadas a eles - sendo boas ou ruins.  

— Aonde está o...? 

Liam se afastou em um sobressalto e correu em direção a porta mostarda do outro lado do cômodo, com muito cuidado o castanho abriu a porta e um sorriso genuíno desenhou seus lábios quando encontrou Enzo ainda na mesma posição, cantando qualquer coisinha que poderia se lembrar. 

— Hey, campeão. – Liam acariciou as madeixas do menino, atraindo os olhinhos brilhosos dele que iluminaram quando sorriu. – Nos conseguimos derrotar os monstros, você foi um ótimo ajudante. 

— Sério? Nós ganhamos papai? – Enzo ficou de pé, ficando do tamanho do mais velho que se agachou em sua frente. – Nós conseguimos matar todos os monstros? 

— Sim, você foi incrível. – Liam ajudou-o a se ajeitar, as roupas em seu corpo estavam amarrotadas e o menino estava com um casaco fino, cobrindo seus bracinhos. – Olha só quem nos ajudou a destruir os monstros.  

Enzo sorriu mais aberto ao ver Zayn, ele também estava todo sujo de vermelho, igual a Liam. Mas não se preocupou muito com isso, estava feliz de estarem todos juntos novamente.  

O menino correu até o moreno, Zayn o pegou no colo e o abraçou apertado, afastando os pensamentos de que quase havia perdido o seu filho também. Suspirou, enchendo o rosto do menino de beijos e o fazendo rir. 

— Precisamos ir. – Liam se apressou quando uma explosão vinda do outro lado da fábrica o alertou que o tempo estava passando depressa demais. Retirou sua jaqueta e passou-a sobre o corpo mal agasalhado de Enzo – esconda o pescoço dele, não o deixe ver. 

— Ver o que? 

— O bicho papão. – Zayn tentou distraí-lo, permitindo que Liam andasse a sua frente, assegurando que o caminho estava seguro para eles partirem – ele ainda está por perto, não conseguimos derrotá-lo totalmente e ele fica forte capturando crianças. Então, para que ele não pegue você, você tem que fechar os olhos bem forte e esconder seu rosto no meu pescoço, pode fazer isso campeão? 

Zayn olhou para Liam rapidamente, que permitiu-se sorrir mais uma vez, mesmo desmoronando por dentro. Tiveram o mesmo pensamento; de que eles dependiam somente daquilo para se manterem firmes e inteiros, precisavam de sua pequena família para restaurar suas forças e restabelecer suas energias. Era aquela história, era aquela luta, era aquele sonho e aquela esperança que os mantinham vivos. 

Haviam feito o inimaginável até ali, e não desistiriam, não tão cedo, não até encontrarem o paraíso que prometeram um ao outro.  

Os olhos de Enzo brilhavam inocentemente quando Malik voltou a fitá-lo, agora, seu sorriso mostrava o quão impressionado ele estava. Era fascinante como ele possuía uma inteligência inocente e que conseguia atrair qualquer um. Zayn o amava ainda mais, desejando carregar aquele menino em seus braços sempre, até mesmo depois de velhinho.  

— Ta bom. –  Enzo sacudiu a cabeça e suas madeixas longas cobriram sua testa ao mesmo tempo que o menino fechou os olhos, e abraçou o mais velho bem forte, escondendo o rosto no pescoço do mesmo.   

Liam cobriu a cabeça do menor com a jaqueta que passou o aquecer, e depositou um beijo doce a testa do marido, antes de ambos passarem depressa pelo corpo de Ian que continuava a sangrar.  

Correram o mais rápido possível e como poderiam para fora da fábrica. Precisavam sair dali, precisavam se salvar para salvar os outros.  

Os tiros iam se aproximado, cada vez mais perto e cada vez mais assustador. Enzo se encolhia nos braços de Zayn e Zayn apertava os dedos de Liam desde o momento que havia se agarrado a ele, todo segundo parecia uma eternidade, uma eternidade esmagadora e indesejável. 

— Ali. – Liam apontou para a plaquinha brilhante em vermelho escrito saída e puxou o moreno para aquela direção, olhando cuidadosamente para todas as passagens que os corredores entravam, tentando desviar da atenção de qualquer um que pudesse encontrar de surpresa e, por sorte, ou talvez não, o caminho estava livre para eles fugirem. 

Payne abriu a porta e saiu na frente dos outros dois, os protegendo de qualquer ataque surpresa. Mas a surpresa daquela vez havia sido boa, quando depois de tanto tempo dentro da escuridão, sentiu a luz do sol beijar sua pele e seus ouvidos capitarão com atenção a voz de Luke gritar; são eles, os tirem daqui. 

De repente o homem sentiu um cheiro familiar, o perfume de flores penetrou suas narinas e Liam quase se ajoelhou aos pés de Lauren e chorou como uma criança. A insegurança estava evidente em todos os seus movimentos, a tensão corria pelo seu corpo como correntes elétricas, dando-o dificuldade para respirar.  

Liam se controlou, porque ele sabia que precisava ser forte, naquele momento e em todos os outros que ainda estavam por vir - mesmo que Lauren o desse a total aprovação que não havia nada de errado em desmoronar às vezes, sentiu com orgulho e prazer aquela vibração que aquele jovem casal a transmitiu. 

Seus olhos claros observaram cada expressão escondida atrás de todo aquele sangue derramado em vão, mas ela sabia que eles honrariam cada um que havia morrido injustamente e Lauren também soube, da mesma forma que o sol nasceria no próximo dia, que eles estavam ficando mais fortes a cada segundo que se arrastava.  

E no silêncio amargurado de seu olhar, Liam declarou de forma convicta; 

— Eu matarei Fabrizio Del Frazi.


Notas Finais


ox, Blue


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