- Mãe, hoje eu vou sair, tem algum problema? – Perguntei, me escorando na parede da cozinha enquanto ela colocava alguma coisa no forno.
- Quero ver a sua nota de física primeiro, depois você pode até viajar para o Tibet, querida. – Ela disse, ainda concentrada na comida. Tirei a folha da prova que estava enrolada e enfiada no meu bolso e entreguei pra minha mãe, que pegou e olhou a nota escrito em caneta azul e sorriu largamente.
- Viu, filha! Eu disse que se você pedisse ajuda, conseguiria! Parabéns, querida! – Ela disse e me devolveu. – Pra onde você vai?
- Justin vai me levar pra jantar. – Isso soou mais estranho do que eu planejei que soasse.
- O que te ensinou a matéria? Você nem gosta dele, Zoe. – Ela disse franzindo a testa e estranhando.
- Eu sei, eu sei, mas eu prometi que eu iria se ele me ajudasse com a matéria. Eu cumpro as minhas promessas, mamãe. – Joguei o peso do corpo para a perna direita, voltando a me encostar à parede.
- Isso não é suborno?
- Tá mais pra uma troca de favores.
- Vê bem, hein garotinha. O Justin é um bom garoto pelo que eu vi, mas tome cuidado.
- Tá, mãe, já tenho 17 anos e o Justin não estaria na minha lista nem de talvez nem em um milhão de séculos.
- Existe uma linha bem tênue entre o amor e o ódio, filha. – Ela sorriu, marota. Bufei e fui subir pra tomar banho.
- Não odeio o Justin, odeio a personalidade dele! – Disse lá de cima e escutei a minha mãe rindo.
Entrei no banheiro e tomei um banho rápido, sem lavar os cabelos porque já foram lavados ontem. Minhas unhas estavam ok e minhas pernas estavam raspadas, nada que estivesse fora do normal.
Vesti o roupão azul claro atoalhado e o amarrei indo para o quarto. Olhei para o meu armário. Não vou mentir, eu tenho muitas roupas, algumas que eu nunca usei, mas eu sempre fico na dúvida na hora de escolher.
Prendi o meu cabelo em coque enquanto eu escolhia a roupa para ele ficar cacheado nas pontas quando eu soltasse. Coloquei a mão na cintura e soltei um ar que eu nem sabia que estava prendendo.
Por fim, escolhi um vestido verde oliva um palmo acima do joelho, fiz um rabo de cavalo soltinho e desarrumado na medida certa e saltos pretos e altos completavam a minha roupa para sair com o Justin.
Merda, isso realmente soava muito estranho. Não era exatamente isso que eu esperava ou planejava para o meu sábado à noite.
- Mãe, viu a minha bolsa preta pequena?! – Gritei do andar de cima para a minha mãe que estava no notebook na sala.
- Qual?!
- A que você foi para o casamento da Janice!
- Acho que está na parte de cima do seu armário! – Ela respondeu.
- Tá, valeu! – Gritei e tirei os saltos para subir em uma cadeira e pegar a bolsa na parte de cima do armário do meu quarto.
- Vai sair? – Joshua apareceu no quarto, sentando-se na cama.
- Sim... – Desci da cadeira e coloquei-a no lugar.
- Com quem? – Peguei identidade, cartão de crédito, um pouco de dinheiro e brilho labial e coloquei dentro da bolsa.
- Justin.
- Ah, é hoje?
- Sim, é... – Calcei os saltos pretos. – Sabe onde está o meu celular?
- Em cima da mesa da sala. – Escutei a campainha tocar, parecia o som do martelo do juiz num tribunal, dando a minha sentença: sair com o Justin. Eu preferia ter que pegar perpétua.
- Eu atendo! – Gritei e comecei a descer as escadas devagar. Abri a porta e encontrei um Justin com um jeans escuro, blusa social branca com as mangas arregaçadas e Vans pretos.
- Oi, Justin... – Disse um pouco desanimada.
- Oi Zoe que prometeu ser agradável. – Ele sorriu amistosamente. Porra, dá pra parar de sorrir? Eu não me sinto confortável com você sorrindo desse jeito na minha frente.
- Oi, Justin! – Disse com uma voz enjoada de qualquer vadia de torcida que ele já tenha comido. – Aonde vamos hoje?
- Le Petit Coq. E digamos que essa voz de vadia no cio não é exatamente agradável, Zoe. – Ele riu. Merda, nada do que eu faça vai o fazer desistir. Pensei em revirar os olhos, mas lembrei do que ele falou sobre isso então eu me esforcei para conter a vontade enquanto saia e fechava a porta atrás de mim.
Caminhei até o Duster prata dele, que estava esperando ao lado da porta do banco do acompanhante. Torci o nariz em estranhamento quando ele abriu a porta do carro pra mim.
- Não sei porquê você vai me levar à um lugar caro e está, visivelmente, se esforçando para ser cavalheiro – Ele deu a partida. – Não tem futuro, Bieber. Não é como se eu fosse a garota que você está superafim e torra todo o dinheiro para impressioná-la.
- Zoe, linda, linda Zoe, - ele deu uma breve olhada pra mim, falando serenamente. – dessa parte sou eu quem cuido, se apaixonar perdidamente por mim é por sua conta, docinho.
- Não me chame de docinho, odeio que me chame assim.
- Você pode escolher o que odiar, mas vou continuar te chamando assim, docinho. – Bufei
* * *
- Que cardápio enorme, cansativo...
- Já escolheu? – Justin perguntou.
- Sim, vou querer um frango à parmeggiana. – Justin fez um sinal para o garçom.
- Boa noite, meu nome é Stevan e eu vou lhes atender esta noite. O que o casal deseja?
- Não somos um casal. – Falei rapidamente
- Parecemos um casal? – Justin perguntou sorrindo.
- Não se não quiserem, senhor.
- Nós não queremos. – Eu disse. Justin se divertindo com a situação que se formou.
- O que os jovens vão querer?
- Dois frangos à parmeggiana.
- E pra beber?
- Pellegrino.
- Justin, isso é caro... – Alertei.
- Você gosta? – Ele me olhou.
- Claro, mas...
- Eu vou querer esse.
- Identidade, por favor. – Justin pegou a carteira e entregou o papel para Stevan, que conferiu a idade e devolveu.
- Vou entregar os pedidos. – Stevan disse e saiu, me deixando com Justin novamente.
- Então, Zoe, quero saber mais sobre você. – Ele disse.
- O que quer saber sobre mim? – Perguntei.
- Quer ir fazer faculdade aonde o que?
- Jornalismo em Yale. E você?
- Olhe só, uma pergunta não retórica ou recheada de ironia sua... – Sorri.
- Me disse para ser agradável.
- Vai fazer tudo o que eu disser? – Perguntou arqueando as sobrancelhas.
- Não é iss...
- Então me beija. – Ele fechou os olhos fazendo um biquinho logo desfeito pelo riso. – Falando sério agora, quero fazer Economia em Harvard.
- Ah, a ambição sempre esteve correndo nas suas veias.
- Quero uma vida boa e fácil.
- Bancar as suas vadias não é a coisa mais fácil do mundo.
- Sou um cara de uma só... – Arqueei as sobrancelhas e ele sorriu presunçoso. – quando estou com uma só.
- Nunca ficou com ninguém sério? – Perguntei sem pudor nenhum.
- Uma vez só.
- O que aconteceu?
- Ahn... – Ele ficou meio sem jeito.
- Não precisa responder se não quiser.
- Tá tudo bem, foi há dois anos... Digamos que ela achou alguém melhor. Eu não gostava tanto dela, mas foi o primeiro e único toco que eu já levei.
- Tem certeza?
- E você também já me dispensou... Mas, acredite, isso muda. Você vai ver que eu sou irresistível, docinho.
- Não vai ser tão fácil, Bizzle. – Ele estranhou o apelido, mas sorriu.
- Bizzle?
- Por que Bizzle? – Finalmente eu perguntei, a curiosidade sempre foi maior que eu.
- Uma noite eu estava tão bêbado, tonto (dizzle)... Meus amigos adaptaram e colocaram um B no lugar de D. Bizzle. – Ele riu. – É idiota, mas eu gosto.
-Não acho idiota. É criativo.
- Eles são criativos.
- Aposto que sim.
- Diga-me uma coisa... – Assenti – Por que me odeia?
- Já disse pra você. Não te odeio, odeio a sua personalidade.
- Não entendo, funciona com todas, mas em você parece que o efeito é incompleto. – Era verdade, mas eu não vou mentir, tinha algum efeito sim e não era tão fraco quanto era pra ser. Era uma eletricidade fodida quando estávamos perto e é como a estática, não pode ser controlada.
- Talvez você tenha que mudar suas táticas pra conseguir alguma coisa comigo ou com qualquer outra que não seja uma vadia.
- Está dizendo que quer que eu mude para ter alguma coisa com você? Está interessada em mim, Zoe?
- Nunca, Bizzle.
- Não escutou? É infalível, é só uma questão de tempo, docinho. – Revirei os olhos e fechei-os rapidamente depois, me lembrando de que ele havia dito. Escutei a sua risada alta. Não sei o que, mas alguma coisa me disse que eu escutaria aquela risada mais vazes e por um bom tempo.
* * *
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