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História Paranoid - Desastre Social (Part. 1)


Escrita por: sympathize

Capítulo 32 - Desastre Social (Part. 1)


Fanfic / Fanfiction Paranoid - Desastre Social (Part. 1)

O resto do caminho se seguiu em silêncio e o Justin abriu a porta para mim assim que chegamos, e eu lhe sorri em agradecimento e ele me reverenciou, deixando-me envergonhada. Caminhamos lado a lado, depois que ele se certificou de travar as portas e ativar o alarme do carro, e assim que nos aproximamos da lanchonete, Justin deslizou seus dedos por entre os meus e a mão dele estava suada, denunciando que o mesmo estava nervoso. Também estou, pensei, mas esforcei-me ao máximo para não demonstrar, pois só acabaria fazendo-o se sentir pior.  

— Relaxa — murmurei, olhando-o e ele fitou meus olhos, apreensivo —, eu estou bem aqui — apertei a mão dele. — Vai dar tudo certo — beijei a bochecha dele e ele assentiu euforicamente em minha direção.  

A decoração dentro da lanchonete era em tons pastéis e diversas mesas espalhadas estrategicamente, numa considerável distância uma da outra – o que traria privacidade e conforto –, tudo devidamente organizado. Havia um bar improvisado no canto esquerdo, uma mulher e um homem do outro lado do balcão utilizando uniformes em preto e branco – haviam outras pessoas vestidas da mesma maneira, adentrando a cozinha e saindo, organizando algumas pequenas coisas que ainda estavam fora do lugar.   

James e Lauren haviam caprichado meticulosamente em tudo, pelo menos ambos se somaram de maneira menos catastrófica em algo. A atmosfera estava bastante agradável; músicas adversas tocando em som ambiente e as poucas pessoas já presentes conversavam entre si, completamente presas em seus assuntos para perderem tempo com qualquer outra coisa ao redor.   

Olhei para o Justin e o olhar dele igualmente veio em minha direção, sorrimos em alívio. Ele parecia confortável por não termos recebido completa e irrelevante atenção ao adentrarmos e confesso que eu também estava. Procurei por Lauren e a encontrei, virada de costas para nós, perto dos banheiros – a área menos movimentada –, acompanhada por Nolan e James.   

Estreitei levemente as sobrancelhas, pois eles pareciam envolvidos por um clima surpreendentemente agradável e era uma novidade vê-los tão próximos sem se encararem como se estivessem prestes a matar um ao outro.  

Ri de meu pensamento melodramático.   

— Oi, Lauren — a saudei, beijando-a na bochecha e ela curvou-se em minha direção, os olhos levemente arregalados.  

Em seguida, me analisou, e sorriu em cumplicidade. Cumprimentei Nolan e James com um aceno de mão, não deixando de notar o quanto ambos estavam bem arrumados e bonitos.

— Uau, Sav — Lauren pronunciou-se, de maneira cômica. — Você está de matar hoje, hein — cutucou minha cintura.  

Sorri largo e olhei na direção do Justin, ele umedeceu os lábios e inclinou-os em um sorriso, sustentando meu olhar. Estávamos rodeados de pessoas, mas era como se ainda estivéssemos sozinhos, pois era inevitável não me perder em sua imagem, não me perder em suposições de como nossa noite terminaria e mesmo que parte de mim ainda possuía aquele maldito pressentimento ruim, eu estava torcendo fortemente para que fosse só um equívoco e que tudo terminasse bem, precisava terminar bem.   

— Bem — comecei, dispersando os pensamentos e deixando de olhá-lo —, você já os conhece — apontei na direção da Lauren e do Nolan, com certa indiferença e eles riram. — Mas esse aqui — apontei o Jimmy, sorrindo o mais amável possível e ele abafou a risada —, é o James. Ele é o dono do lugar e obviamente o dono da festa.  

— James McGregor — Jimmy se apresentou, estendo a mão na direção do Justin.  

— Justin Bieber — rebateu de imediato, apertando firme a mão do James e ambos assentiram um para o outro, antes de desfazerem o contato.  

No instante seguinte senti a mão da Lauren segurando meu braço e me sobressaltei um pouco, a fitei como se um terceiro olho houvesse surgido entre suas sobrancelhas.  

— Fiquem aí, conversando e — Lauren parou pensativa. Os olhos intercalando entre cada um dos rapazes em nossa volta — se conhecendo — deu de ombros. — Vou precisar roubar a Savannah só um pouquinho.  

Quase que imediatamente Nolan abriu a boca para dizer alguma coisa e eu abafei a risada quando ele fechou a expressão e rolou os olhos, em seguida ele e James se olharam por um tempo e eu vi a típica faísca nos olhos de ambos e ligeiramente percebi que estava errada em relação à evolução entre eles. Aquilo parecia muito mais pessoal do qualquer um fosse capaz de presumir.  

— Você se importa? — perguntei baixinho para o Justin e ele negou, me aproximei para beijá-lo rapidamente antes de me afastar. Nossos lábios mal se tocaram e a Lauren me puxou, arrastando-me para longe.  

— Laurence — retruquei enquanto adentrávamos o banheiro e ela bufou.  

— Vocês terão a noite inteira para se enroscarem na língua um do outro.  

Tentei não rir, mas foi impossível segurar a risada que escapou em um grunhido e ela me olhou por sobre os ombros, vitoriosa. Paramos em frente ao espelho e eu aproveitei para checar a maquiagem e meus cabelos, estava tudo em perfeita ordem.  

— Você já o fisgou — me sobressaltei com a voz de Lauren.  

— Fisguei quem?  

— O Justin — respondeu, rolando os olhos, com ar de obviedade. — Quem mais você queria fisgar?  

— Ah, ninguém, eu só...  

Lauren riu, balançou a mão, dispensando minhas explicações.  

— E aí, como está indo o plano? — indagou, sem rodeios.  

— Bem, e-eu acho que 'tá funcionando — respondi, um pouco sem jeito. — Ah, eu, bem — parei, estreitando meus olhos. Por que era tão difícil falar sobre aquilo com Lauren? Por que eu me sentia tão mais confortável me jogando para cima do Justin do que dizendo para minha melhor amiga que eu estava mesmo me jogando para cima dele? Aquilo parecia bem ilógico. — Honestamente, não sei se levo muito jeito para essa coisa de sedução.   

Inclinei os lábios, incerta, e ela abafou a risada.  

— Toda mulher leva jeito, Savannah.  

Eu olhei-a de soslaio. Ela estava com o lado direito do quadril encostado no mármore da pia e me encarava seriamente.   

— Isso é um magnetismo natural, mesmo quando não queremos seduzir, já estamos seduzindo. E, sejamos sinceras, não penso que você precise se esforçar muito para o Justin ficar enlouquecido, até porque assim que vi a aproximação de vocês dois, era como se você estivesse o segurando em uma coleira.  

Ela fez um gesto para trás, forçando a expressão esnobe, e eu não pude conter um breve riso. Lauren me acompanhou. Em seguida, inconscientemente suspirei.  

— Eu sei o que está acontecendo com você — ela recomeçou, conquistando minha atenção e eu me virei na direção dela, inquiridora. — 'Tá nervosa porque faz bastante tempo desde a última vez que você se envolveu daquele jeito com um cara.  

Ri nervosa e balancei a cabeça em negativa.   

— Não minta pra mim, Savannah, eu conheço você. Por isso posso apostar que sua última relação amorosa — fez aspas — foi com o Andrew, não foi? Tipo, um século atrás...  

— Lauren! — praticamente gritei e senti meu rosto queimando, mas não de raiva e sim de estúpida vergonha.   

— Vamos lá, não se envergonhe de falar sobre isso comigo. Sou sua melhor amiga!  

Esfreguei a região entre minhas sobrancelhas por um tempo, ainda mais inquieta, porque obviamente Lauren estava certa, e eu estava tão nervosa e ansiosa que seria capaz de explodir a qualquer momento.   

Evidentemente ela acertou em cheio sobre minha última vez, e havia sido mesmo com o miserável do Owen, visto que com Jonah eu não havia conseguido chegar tão longe, por ter me trancado totalmente, para qualquer relação que precisasse de muito envolvimento, após a traição. Mas, o que Lauren não sabia e possivelmente jamais saberia, pois eu não seria capaz de admitir em voz alta tão naturalmente, Justin Bieber era o primeiro cara para quem eu queria verdadeiramente me entregar – sem quaisquer inibições.  

Entre eu e Andrew foi algo que simplesmente aconteceu. Claro que constantemente era da vontade dele, mas raramente era da minha também. E eu apenas aceitava porque não queria contrariá-lo, eu nunca queria. Era somente algo de momento e não me recordo de já ter sentido real interesse no sexo com ele, e me entregar naturalmente,  fazia só para satisfazê-lo e não por desejá-lo.   

Por muito tempo acreditei que aquilo fosse devido ao tipo de visão que eu tinha do nosso relacionamento, sempre pensando que éramos mais ligados por sentimentos e não por simples e incessante atração física. 

Depois de tudo, após finalmente ter meus olhos brutalmente abertos, fui capaz de enxergar o quanto estive errada em relação a nós durante todo aquele tempo. Fui capaz de enxergar o quanto eu era estúpida. 

Meu coração nunca havia experimentado o sentimento que o invadia desde que Justin apareceu. Nunca se sentiu tão preenchido e aquecido nem mesmo quando eu insistia em imaginar e acreditar que ele estivesse.  

E aquilo era graças ao Justin. 

Minha descoberta de uma maneira infinita e satisfatória de se estar perdidamente apaixonada era graças à chegada dele. Portanto, eu queria destruir qualquer barreira que pudesse existir entre nós, pois podia sentir em cada um de meus ossos, em cada fibra e célula corporal presente em mim, e principalmente em meu coração, o quanto éramos ligados pelo sentimento. No entanto, também éramos interligados por uma atração física que se balanceava, um equilíbrio perfeito e que me fascinava.   

 Por isso, eu havia me restaurado e conectado certos cabos soltos que ainda existiam dentro de mim – dando fim há coisas que me prendiam em relação ao que eu sentia e desejava –, para me entregar inteiramente para ele. Porque sabia que a mesma história trágica não se repetiria com o Justin e confiava profundamente que ele jamais me machucaria como Andrew Owen fez. Então, eu não podia, e nem me permitiria, viver presa naquele abominável trauma do passado.  

— Você está certa, estou nervosa — admiti subitamente e Lauren olhou-me com sua típica expressão de “Eu sabia! Sou a senhora-sabe-tudo.” — Eu não sei... Isso é novo até mesmo para mim. Parece até a minha... — murmurei e parei, entortando os lábios, incerta e enrubescida — parece até minha primeira vez.  

Lauren riu baixinho, mas a expressão em seu rosto era complacente. Inclinei meu rosto para o lado, tentando esconder minha imbecilidade.  

— Normal Savannah. Quando você gosta muito de uma pessoa e deseja ela na mesma intensidade, é normal se sentir assim — ela balançou os ombros, tranquilamente.   

— Na verdade — continuei, deixando os pensamentos fluírem —, estou ainda mais nervosa do que em minha primeira vez.  

Olhei para a Lauren, em um misto de vergonha e desespero e ela pousou uma mão amigavelmente em meu ombro.  

— Eu vejo o jeito que você olha para ele, seus olhinhos ficam brilhando e você sempre viaja na maionese — prendeu a risada e eu a imitei. — É diferente do que você sentia pelo Andrew, porque com o Justin você não fica dizendo que tem que fazer as coisas e nem as faz só porque ele quer, você simplesmente faz por vontade própria.  

Não havia dúvidas de que Lauren era a melhor amiga que existia no planeta inteiro e ela me conhecia perfeitamente bem, era como se fosse capaz de ler meus pensamentos e muitas coisas eu nem mesmo contava para ela, ela simplesmente as descobria como em um passe de mágica.  

— Tenho medo, acho que tenho medo de estragar tudo — entortei os lábios, Lauren me sorriu em encorajamento.  

— Você não vai estragar nada, Sav. Sexo é igual andar de bicicleta, você nunca perde a prática — piscou em minha direção e eu gargalhei. — Tudo só vai depender de quanto vocês estarão a fim e pelo visto vai ser algo bem selvagem — fez o gesto de garras se fechando, forçando um rugido e me segurei para prender o riso —, espero que a casa ainda esteja de pé quando eu for fazer outra visita.  

Liberei outra gargalhada após acertar o ombro dela com o punho fechado e ela riu também.  

— Você não vale nada!  

— E você me ama mesmo assim — cantarolou, fechando os olhos e erguendo as sobrancelhas, em uma expressão egocêntrica. Em seguida os olhos dela se arregalaram. — Ai, calma, preciso fazer xixi.  

Abafei o riso e rolei os olhos, ela correu até uma das cabines e eu voltei a fitar meu reflexo. Sorri comigo mesma e meus pensamentos, meus olhos estavam tão brilhantes e meu rosto tão relaxado, que quem me olhasse podia enxergar nitidamente o quanto eu estava feliz. O quanto o Justin me fazia feliz.   

Não tardou muito e o barulho da descarga ecoou, trazendo-me de volta para a realidade, e a Lauren saiu do cubículo, ajeitando suas roupas.  

Ela vestia calça jeans clara de cintura alta, cropped branco com detalhes dourados e sandálias pretas, bico fino e com detalhes dourados também. Os cabelos negros estavam soltos, partidos ao lado, e com invejáveis ondulações naturais nas pontas. Uma maquiagem mais pesada nos olhos e os lábios pintados por um batom rosado.   

Lauren era linda diariamente, particularmente eu até a achava mil vezes mais bonita do que eu, mas quando se arrumava era capaz de ultrapassar qualquer limite de beleza.  

Fiquei a analisando enquanto ela retocava o batom e ajeitava alguns fios teimosos de seu cabelo que se ergueram.  

— Quer saber o que estou pensando agora? — curvou-se em minha direção, espalmando a mão sobre a pia. Ergui uma sobrancelha, questionadora e ela sorriu meigamente. — Pelo menos uma de nós vai se dá bem hoje à noite. 

E então, começou a caminhar, como se estivesse desfilando, na direção da porta e eu ainda perdi um tempo, parada, encarando-a antes de segui-la – em meio a um riso escandaloso.  

Lauren era uma completa biruta.  

Como se houvéssemos passado uma eternidade dentro do banheiro, assim que retornamos para o solão, já havia certo acúmulo de pessoas. Olhei-os com certo receio e segurei minha carteira com força.  

— Quantas pessoas, mais ou menos, vocês convidaram? — questionei, diminuindo a velocidade dos passos e Lauren me acompanhou.  

Ela olhou adiante por um tempo e depois inclinou o rosto em minha direção.  

— Bem, de acordo com o que vejo, acredito que todos já estejam aqui — balançou os ombros e eu senti meu estômago gelar com a possibilidade de ver o Andrew.  

Não queria vê-lo enquanto não estivesse munida da presença do Justin e não porque queria esfregá-lo na cara dele, mas porque não queria mesmo que ele se sentisse no direito de se aproximar de mim e o Justin disse que estaria ali justamente para aquilo, não era mesmo?  

— Você não vai cumprimentar seus ex-sogros? — Lauren indagou, provocante e eu revirei os olhos. Estava uma pilha de nervos. — A mesa deles está bem ali — prosseguiu e apontou com as sobrancelhas a direção, mas eu não olhei. — Olha para lá, Savannah, aposto que tem uma coisa que vai melhorar seu ânimo.  

Rolei os olhos outra vez e a Lauren sorriu, mexeu as sobrancelhas outra vez e eu me rendi, porque sabia que ela me infernizaria até que eu olhasse. E assim que meus olhos se arrastaram na direção que ela indicava, senti como se um elefante houvesse acabado de descer dos meus ombros. Spencer e Allison Owen estavam lá, acompanhados por Elizabeth, mas o Andrew não estava.  

— Ele sabe que nós o odiamos, não achei que ele fosse mesmo ter a cara de pau de vir — Lauren falou, com deboche e eu ri em alívio, abrindo um sorriso gigantesco. — Eu disse que ia dar tudo certo. 

Ela piscou em minha direção quando voltei a olhá-la e eu assenti, aproximando-me para beijar a bochecha dela e ela riu.  

Apressamos o passo, senti olhares em nossa direção quando passamos perto da mesa dos Owen e simplesmente os ignorei – fazia muito tempo desde a última vez que eu os havia visto e nosso último encontro não havia sido algo muito agradável.  

Nolan, James e Justin estavam sentados em uma das mesas próximas ao bar – Lauren me disse que era reservada para nós e ficava distante da mesa dos Owen – e cada um segurava uma garrafa de Stella na mão, conversando animadamente. Novamente parecia que os problemas de Nolan e James haviam sido deixados para trás e o Justin estava tão espontâneo e sorridente que acabei sorrindo também, enchendo-me de confiança. 

Por mais que a ansiedade houvesse aumentado, naquele instante eu me sentia completamente bem em relação a tudo.   

— Ah, finalmente — Nolan ergueu os braços, colocando as mãos atrás da cabeça logo depois. — Por que mulheres sempre demoram quando vão ao banheiro juntas?  

— Porque elas ficam fofocando — James completou e os dois riram juntos, Lauren e eu nos encaramos e sacudimos os ombros ao mesmo tempo.  

Bem, talvez o álcool correndo nas veias deles estivesse colaborando, e muito, para aquilo.   

— Tudo bem? — Justin perguntou quando me sentei ao seu lado e eu apenas anuí, ele me olhou atentamente. — Andrew Owen não veio.  

Os olhos dele continuavam fixos em mim e eu sabia que ele estava tentando ver qual seria minha reação, porque ele podia não admitir, mas visivelmente tinha a ideia absurda de que eu ainda possuía algum tipo de sentimento pelo Andrew.  

— É, parece que não — olhei-o profundamente nos olhos e balancei os ombros. — Bem melhor assim, ele é o maior destruidor de festas.  

Aproximei-me para beijá-lo e ele suspirou quando me afastei, esfregou as sobrancelhas. Soltou a garrafa de cerveja e começou a tamborilar com os dedos contra mesa.  

Nolan e James pareciam envolvidos por um assunto muito interessante e a Lauren tentava os acompanhar, mas me olhou quando meus olhos voaram em sua direção e forçou um sorriso, provavelmente também havia sentido a tensão, no entanto, tentava disfarçar ao máximo.  

— Justin — murmurei, colocando minha mão sobre a dele, fazendo com que ele parasse com os movimentos incessantes. — Para com isso, não fique assim. Você estava tão animado antes da minha volta.  

Senti minha expressão se retorcendo em consternação e ele suspirou outra vez.  

— Eu queria que ele viesse.  

— O quê? Do que você está falando? — juntei meus olhos, em descrença e ele abaixou o rosto. — Justin — chamei-o, mas ele continuou fitando o chão. — Justin, olha para mim.  

Depois de alguns segundos, ele finalmente correspondeu ao meu pedido e eu tentei reprimir a vontade que senti de rir, porque a expressão no rosto dele era comicamente encantadora. Como se eu houvesse feito uma viagem no tempo, para um momento que nem mesmo presenciei, e estivesse vendo o Justin na versão de um garotinho de cinco anos, contrariado por não ter conseguido convencer os pais a lhe dar sorvete após uma consulta no dentista.  

Depositei minha carteira em meu colo e peguei a mão dele, colocando-a sobre a minha e a cobrindo com a outra logo em seguida.   

— Não importa se o Owen está aqui ou não, a única coisa importante para mim é que você está.  

— Queria que ele viesse — ele sussurrou, olhando-me nos olhos, uma carga tão pesada em seu olhar, mas eu não desviei. — Queria que ele nos visse juntos e que soubesse que não pode mais chegar perto de você, porque agora você é minha.  

As palavras dele não soaram nem um pouco obsessivas ou ameaçadoras, mas sim temerosas e angustiadas. Puxei minha cadeira para mais perto da dele e nos inclinamos na direção um do outro, nossos rostos estavam frente a frente, à respiração pesada dele chicoteando em meu rosto.  

— Ele não precisa saber de nada, ninguém precisa. Só nós precisamos saber, Justin. Só você e eu — murmurei, meus olhos intercalando entre os dele e os seus lábios. — Não precisamos provar nada para ninguém.    

Ele expirou profundamente e encostou a testa na minha, os olhos fechados e a expressão ainda um pouco retorcida. Queria ver a animação que vi, quando me aproximei, retornando para o rosto dele, queria que aquela noite fosse incrível e inesquecível para nós dois.  

— Eu disse para você ser um bom garoto e você não está sendo — as palavras escaparam por minha boca e os olhos dele se abriram subitamente. — Não me obrigue a ser má com você, Justin Bieber.  

— Você não pode fazer isso — ele grunhiu, após uma guinchada e eu estreitei as sobrancelhas. — Não pode brincar com os desejos de um homem dessa maneira.  

Ele afastou o rosto do meu, mas ainda continuou perto. Um sorriso automaticamente se largou em meus lábios e ele me encarou, sua expressão sendo novamente dominada pelo desespero e me senti aliviada por não precisar mais vê-lo preocupado com coisas banais.  

— Quem disse que estou brincando? — ronronei, altamente provocante e ele engoliu em seco. O riso me escapou espontaneamente.  

— Isso não tem graça, Savannah. Não me prometa coisas que não vai cumprir, não me encha de expectativas. Foi você mesma que pediu para irmos devagar...  

O calei colocando meu indicador em seus lábios e ele me olhou ultrajado, abafei a risada.  

— Depois você reclama que eu falo de mais — balancei a cabeça em sinal negativo, em seguida afastei o contato de meu dedo contra seus lábios quentes e macios. — Eu sei que pedi para irmos devagar — falei em tom baixo —, mas nós podemos ir devagar — deixei de olhá-lo por um tempo, meu lado inibido tentando com todas as forças se soltar, mas eu novamente o contive. — Podemos ir devagar de outro jeito.  

Por sorte, Justin era um bom entendedor de péssimas frases de duplo sentido.   

— Como você faz isso?  

 — Isso o quê? — indaguei, fingindo desentendimento enquanto acariciava os dedos dele entre os meus.   

Ele puxou a mão com rapidez e eu teria me sentido ofendida se a expressão dele não fosse tão engraçada e deleitosa.  

— Como diz essas coisas tão — parou visivelmente perdido e incrédulo. — Como me diz essas coisas e me olha dessa maneira, mas continua parecendo tão vulnerável e inocente? Está fazendo com que eu me sinta um pedófilo, sabia?  

Não pude evitar uma gargalhada e isso acabou chamando a atenção dos outros ao nosso redor, Nolan rapidamente questionou sobre o que estávamos falando e eu disse que não era nada de mais. Justin me olhou sério e por um segundo até mesmo pensei que ele fosse sair me arrastando porta a fora, para cumprir tudo o que eu estava lhe prometendo e eu sinceramente não teria reclamado, no entanto, ele somente ajeitou-se na cadeira e voltou a pegar sua cerveja. Inquieto, entornou todo o resto do conteúdo na boca e eu apoiei um braço na mesa e o outro em minha bochecha. Lauren e eu trocamos um olhar e um sorriso cúmplice, o plano estava dando mais do certo!  

Com todos os convidados presentes, logo os garçons começaram a servir as mesas com petiscos, estavam todos deliciosos, e bebidas. Sequer pensei em ingerir qualquer bebida alcoólica, porque havia prometido para mim mesma que, depois de Seattle, iria respeitar meu limite rígido – também fiquei controlando o excesso do Justin, afinal de contas ele iria dirigindo para casa. Eu ainda não entendia como ele podia ingerir álcool sem que cortasse o efeito dos medicamentos.  

Um tempo depois, engatamos em diversos assuntos eventuais e o Justin estava tagarela novamente, e a todo o momento a Lauren me lançava olhares com mensagens subliminares que me faziam corar.  

— Preciso ir ao banheiro rapidinho — ele avisou em meu ouvido e eu virei o rosto em sua direção. — Eu sei onde fica.  

Assenti e ele depositou um beijo rápido em minha bochecha antes de empurrar a cadeira para trás e se retirar. O olhei enquanto se afastava e alguns olhares curiosos se voltaram na direção dele, mordi o lábio inferior.  

— Sério que esse cara é o Creed? — despertei com o questionamento do James e o fitei de imediato, a expressão de espanto. — Inacreditável.  

Eu o encarei, mais espantada ainda. Fitei o Nolan, que me olhou tão confuso quanto eu, e depois para a Lauren, que tinha uma expressão de culpada e então coloquei meus cotovelos contra a mesa e apoiei o queixo em minhas mãos. Meu semblante inquisidor.  

— Ah, eu falei pra ele — admitiu, sem muita demora e antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, continuou: —, você sabe que pode confiar nele e pensei que seria uma boa ideia termos uma pessoa a mais para ajudar caso algo fuja do controle.  

— Ei, relaxa, Sav.  Eu não vou dizer nada pra ele e também jamais julgaria você — James sorriu amigável, parecia bastante sincero. — Ele parece um cara bacana. Faz tempo que eu não via você assim — se esticou sobre a mesa para tocar minha bochecha e eu suavizei minha expressão, sorrindo. Abandonando a carranca e o medo de que as outras pessoas ao redor igualmente acabassem descobrindo, chegando à conclusão de que talvez fosse realmente bom ter o James como protetor também, afinal de contas, ele era o organizador de tudo. — O segredo 'tá bem guardado comigo, você sabe que não faço o estilo dedo duro, aliás, já passei da idade.  

Lauren e eu gargalhamos com o comentário dele, Nolan riu baixinho e pareceu menos tenso também. A atmosfera voltando a ficar agradável entre nós e o Justin voltou no instante seguinte, sorrimos um para o outro enquanto ele se sentava ao meu lado.   

***  

Depois de muita conversa e diversão, músicas mais agitadas começaram a tocar e todos estavam mais animados. Hannah chegou atrasada, com um esvoaçante vestido salmão que contrastava perfeitamente com suas madeixas acobreadas, em completo desespero, e pegou uma cadeira para se juntar a nós.   

— Pensei que não viria — Lauren comentou, assim que ela sentou ao seu lado.  

— Se eu disser que esqueci, vocês acreditam?   

A declaração dela nos tirou risadas e seus olhos logo encontraram a novidade sentada ao meu lado, e ela me encarou inquiridora.   

— Quem é nosso novo amigo? — questionou e o Justin riu suavemente, Hannah praticamente se derreteu, encarando-o com olhinhos brilhantes do outro lado.  

Justin Bieber e seu charme inegável, pensei, com divertimento.   

Ele levantou para cumprimentá-la e, ainda sentada, ela ficou ainda mais sem jeito quando ele estendeu a mão na direção dela.  

— Justin Bieber — apresentou-se quando ela segurou a mão dele e, como costumeiro, puxou a mão dela até beijá-la sorrateiramente o torso. 

— Hannah Larsson — respondeu após pigarrear e então ele se sentou outra vez.  

James e Nolan se seguravam para não rir da cara pasma de Hannah, e eu e a Lauren não estávamos por fora.  

— Pelo visto nossa velha amiga não está muito habituada com gestos de cavalheirismo — James provocou e ela deu língua para ele, nos rendemos ao riso.   

— Trabalhando para alguém como você, eu não a culpo — Lauren alfinetou e eu a encarei, os olhos levemente arregalados, mas percebi que não passava de uma brincadeira quando me deparei com seu semblante sereno e divertido.  

Aquilo somente nos rendeu mais risadas e a chegada de Hannah nos trouxe mais divertimento.  

Em certo momento, olhei na direção da mesa dos Owen e a Allison sorriu em minha direção, forcei um sorriso para ela e depois voltei a me focar na conversa que circundava nossa mesa. Nolan e James estavam extremamente amigáveis um com o outro e o Justin conversava com eles como se fossem amigos há décadas.   

Eu estava contente por vê-lo tão feliz daquela maneira.  

Não levou mais tempo do que imaginei que fosse levar para Hannah arrastar Lauren e eu até o banheiro, somente para me bombardear de questionamentos e eu nem me esforcei em discutir com elas enquanto ambas opinavam sobre minha vida, uma completando a frase da outra, me deixando completamente de fora. Obviamente, assim como o James, ela não sabia quem o Justin era e não parava de endeusá-lo por ser tão bonito e educado. 

Por alguns instantes, não sei por que, quis lhe contar a verdade também. Talvez por estar curiosa para saber se ela continuaria pensando tudo aquilo em relação a ele caso soubesse, mas não porque sentia ciúmes e sim porque estava somente em busca de uma provação. Com a identidade oculta Justin surpreendia a todos de maneiras extraordinárias, mas quando era descoberto, passava a ser repelido.  

Não sei dizer se o motivo era por pensarem que ele se esforçasse para parecer bom-moço, enganar e ser aceito – aquilo me parecia fazer muito sentido –, contudo, eu sabia, talvez melhor do que qualquer outra pessoa seria capaz de saber algum dia, que ele era capaz de ser ainda mais sublime e altruísta com quem conhecia o seu outro lado.  

Quando retornamos, Hannah nos avisou que iria até a mesa dos Owen para conversar com Elizabeth – não vou negar o quanto esperava que lhe perguntassem a respeito do Justin e ela lhes dissesse de boca cheia, como havia feito no banheiro, que ele era “Meu novo namorado”. E, lá no fundo, eu até mesmo gostaria de poder ver a expressão no rosto deles.   

Reprimi o sorriso maldoso e a Lauren entrelaçou o braço ao meu. Quando alcançamos nossa mesa, Justin estava sentado sozinho e mexia concentradamente em seu celular.  

— Onde Nolan e James se meteram? — Lauren questionou, permanecendo de pé, olhando aos arredores.  

Sentei em meu lugar, Justin nos olhou por uns instantes, depois voltou a fitar a tela de seu celular.  

— James foi conversar com uns convidados recém chegados — respondeu, distraído. — Nolan — coçou a sobrancelha e ergueu o rosto, sorrindo de uma maneira tão fofa que eu senti uma necessidade absurda de apertá-lo as bochechas —, bem, ele eu não sei.  

— Eu vou dar um giro por aí — ela fez um gesto com o indicador e eu sacudi a cabeça em afirmação. — Se comportem.  

Justin e eu rimos ao mesmo tempo e depois ela se afastou.  

— E então, o que está achando? — indaguei, puxando a atenção dele e ele me encarou, a expressão contagiosamente pacífica.  

— Não está nada mal.  

Abafei o riso. Ele guardou o celular no bolso. 

— Aquele cara, o James — comentou, movendo a cabeça levemente. — Ele é bem legal, né?  

Assenti veemente e ele tocou minha bochecha.  

— Também gostei da garota, Hannah, não é? — anuí outra vez e ele sorriu. — Você não tem muitos amigos, mas os que têm, são incríveis.  

— E agora eles são seus amigos também.  

Ele sorriu mais largo e acariciou minha bochecha, depois meu queixo e então fez o contorno do meu lábio inferior. Seus olhos seguiam os movimentos.  

— Eles não sabem quem eu sou...  

— Você é o que eles estão vendo, Justin — murmurei, minhas sobrancelhas estavam levemente franzidas, mas eu estava tranquila. — Histórias são apenas histórias.  

Ele não disse mais nada e eu me aproximei para beijá-lo, aprofundamos o beijo só por alguns instantes, até ouvirmos alguém pigarreando ao nosso lado.   

— Vamos nos reunir para o discurso do James — Lauren avisou, bem calma e inocente, apesar de ter acabado de estragar nosso momento intimo, e então se afastou outra vez.  

Me distanciei completamente do Justin e ele se levantou primeiro, puxou minha cadeira, oferecendo sua mão como apoio para que eu me levantasse e eu não pude conter uma breve risada. Caminhamos de mãos dadas até onde as pessoas presentes já começavam a se reunir, ao redor de uma mesa central, e o senhor e a senhora Owen estavam, um de calado lado, perto do James. Elizabeth também estava encostada neles e eu parei do lado oposto ao qual eles estavam, os olhos curiosos dos Owen voltados para Justin e eu, e nossas mãos dadas.  

Logo os garçons, que a pedido de James também brindariam conosco, se aproximaram para nos entregar as taças de champanhe e seguraram as próprias. 

Justin transpassou o braço livre por meus ombros, mantendo-me perto e ao olhá-lo, pude enxergar a tensão em seu rosto enquanto seus olhos estavam fixos nos Owen bem diante de nós, e que igualmente nos encaravam. Segurei a mão dele que pendia em meu ombro e entrelacei nossos dedos e ele fitou-me profundamente, sorri em uma tentativa de tranquilizá-lo e ele suspirou, curvando-se para beijar minha testa.  

— Está tudo bem, não se importe com eles — sussurrei e, após um tempo hesitante, ele assentiu.  

— Primeiro — a voz de James nos tirou de nosso transe e o Justin virou para olhá-lo antes do que eu, logo igualmente o fiz —, quero agradecer a presença de cada um de vocês.  

A expressão no rosto dele era tão séria e formal que eu precisei me segurar para não rir, e Lauren e Hannah, que haviam se reunido perto de James com outros funcionários, mantinham os lábios comprimidos. Nos encaramos em cumplicidade.  

— Quem me conhece sabe o quanto tempo venho batalhando e dado a minha vida por esse estabelecimento — ele prosseguiu e todos os olhares se voltavam em sua direção. Ele parecia bem tranquilo. — Sempre foi o sonho do meu pai que eu me tornasse um homem de negócios, mas ele tinha uma visão um pouco diferente de como eu entraria no ramo. Para ele eu deveria investir em qualquer outra coisa mais remunerada, mas o que há de mais remunerado nesse mundo do que a comida, não é mesmo? — risos ecoaram pelo ambiente e eu finalmente pude deixar o riso contido escapar. — Todos estão sempre procurando por lugares onde possam simplesmente parar e se alimentar com facilidade, mulheres que enjoam de seus próprios temperos ou maridos que fogem para se alimentarem fora de casa, pois suas mulheres não foram favorecidas por dotes culinários — mais risos. — Comida, diferente de roupas femininas, é algo que nunca saí de moda — revirei os olhos com o comentário dele e pude ouvir uns resmungos partindo das mulheres presentes, e risinhos dos homens — e sempre está sendo apreciada, e quanto melhor — olhou na direção de Jason e Meredith — certamente mais apreciada será. Por esse motivo, decidi frustrar os sonhos de meu pai e abrir essa lanchonete — ele riu baixinho e algumas pessoas o acompanharam — e quem me conhece sabe o quanto tenho batalhado, dia e noite, para que isso continue dando certo. Depositei minha confiança nas pessoas que coloquei para trabalhar comigo — apontou na direção de seus funcionários reunidos — e elas me retribuíram colaborando para que eu chegasse onde estou agora. Portanto, essa conquista não é somente minha. Essa conquista é de todos nós — balançou o contrato que estava em sua mão. — Obrigado por todo apoio e obrigado, Spencer Owen, por ter me disponibilizado este lugar por tanto tempo e por estar o passando integralmente para mim agora. Você também faz parte deste conjunto — James bateu amigavelmente no ombro de Spencer e ambos sorriram um para o outro — e por mais que “Obrigado” pareça tão pouco, é só isso que sou capaz de dizer no momento.   

Outro coro de risos se seguiu, até que o James ergueu sua taça e todos imitamos o gesto deles.  

— Ao recomeço de uma continuação. Se é que isso faz algum sentido.  

Rimos e em seguida bebericamos o champanhe.  

— Eu não sabia que ele podia ser tão divertido — Nolan comentou e só então notei sua presença ao nosso lado.  

 Abafei a risada, as pessoas ao redor iniciando uma conversação misturada e muitas delas cercavam o James, o parabenizando pela conquista. Justin e eu, novamente de mãos dadas, nos aproximamos assim que o Owen se afastou. Eu o abracei e o Justin só lhe ofereceu um apertou de mão, em seguida James estava sendo engolido por uma onda de funcionários  que lhe deram um abraço coletivo. 

Entretanto, nem mesmo todo o barulho que eles passaram a fazer fora capaz de abafar o estrondo que reverberou, assustando a todos, não muito depois. Cada rosto presente se inclinando na direção da porta, onde um Andrew, completamente cambaleante, segurando uma garrafa de vodca, adentrava. Meu estômago automaticamente gelou e o alerta vermelho começou a piscar diante dos meus olhos, porém, antes que eu pudesse pensar em qualquer outra coisa, Justin me puxou e tomou a minha frente, protegendo-me com seu corpo. Mas o olhar que o Andrew lançou em minha direção, no instante em que me encontrou, foi capaz de transmitir perfeitamente bem a mensagem de que eu deveria permanecer temendo, e muito, sua repentina chegada.  

— Ah, não, não, não — ele disse, as palavras lentas e emaranhadas. — Eu não acredito que perdi o discurso e o brinde.  

— Andrew, o que significa isso? — Allison perguntou, ríspida e ele a ignorou completamente.  

— O veio fazer aqui embriagado dessa maneira? — Spencer logo se pronunciou, munido de seu típico tom gélido e autoritário. — Por acaso perdeu o juízo?  

— Ora essa! Eu não estou aqui para fazer nada de mais, pai — ele rebateu, inocentemente. — Só vim parabenizar o McGregor.  

Sorriu, com falsa empatia.  

— Obrigado pela gentileza, Andrew — James se expressou, olhando-o de maneira pouco amigável —, mas no estado em que você está não me parece favorável que permaneça aqui.  

— Está me expulsando? — indagou, arqueando as sobrancelhas e quando James abriu a boca para respondê-lo, Andrew voltou a dizer: — Esqueça, eu não me importo. Não pense que só porque agora que essa porcaria de lugar está no seu nome, você pode mandar em mim.  

— Andrew, vem. Eu levo você para casa — Elizabeth se aproximou dele e ele a empurrou para longe.  

— Fica bem aí, pequena Lizzie — ordenou, quase caindo para o lado, mas equilibrou-se rapidamente. — Opa — riu e entornou mais uma boa quantidade de vodca em sua boca. — Ninguém vai me servir uma taça de champanhe nessa droga de lugar?  

James fez sinal negativo para os garçons e eles ficaram parados, todos os olhares voltados para o Andrew e os olhos dele voltaram a se fixar em minha direção, apoiei meu rosto nas costas do Justin, escondendo-me completamente.  

— Tudo bem, posso continuar com minha tão adorada garrafa de vodca mesmo.  

— Owen, o que você quer aqui? — Lauren questionou, friamente e o silêncio fora sustentando por um tempo, até que ele instalou a língua no céu da boca e suspirou.  

— Quanta audácia, Laurence Edwards — pronunciou e eu apertei meu punho, afastando-me de Justin e dando um passo para o lado, os olhos frios de Andrew estavam fixos em minha amiga, que estava entre James e Nolan, há alguns passos de distância de mim. — Logo você, que é apaixonadinha pelo babaca do James, desde quando mesmo? — minhas sobrancelhas se estreitaram e ele coçou o queixo, fingindo-se pensativo. — Ah — fingiu-se surpreso ao se lembrar —, desde quando começou a trabalhar aqui. E fica o assistindo sair com uma e outra na sua cara, mas não desiste, porque é acostumada a se fingir de cega por cada cara que você fica a fim, não é mesmo?  

Um burburinho de grunhidos surpresos se fez presente e eu fechei os olhos por alguns instantes, olhando para a Lauren logo em seguida, que ainda olhava para Andrew, espantada, enquanto Nolan e James ao seu lado a encaravam. Ela e James se encaram por um tempo indeterminado, rodeados por uma imensa tensão, e então ela simplesmente correu porta a fora e, sem hesitação, pensei em segui-la, mas fui barrada pelo corpo do Andrew entrando em minha frente.  

— Você não vai a lugar algum, bonitinha — sussurrou, seu hálito de vodca alcançando minhas narinas e eu senti meu estômago se revirando.  

Não tardou muito para o Justin estar ao nosso lado, empurrando Andrew pelo peito para longe de mim e ele nos encarou, um sorriso diabólico preso no canto dos lábios dele.  

— Se encostar-se a ela de novo — Justin sussurrou tão baixo que só fui capaz de ouvi-lo por estar grudada ao seu corpo —, eu acabo com você, seu desgraçado!  

O sorriso de Andrew Owen aumentou e ele pareceu pouco se importar com a ameaça de Justin, seus olhos cravados em mim e o sorriso intacto em seus lábios. Desgraçado, gritei mentalmente, nos deixe em paz!   

No entanto, a porcaria da minha voz simplesmente não saía. Minha garganta estava bloqueada, meu corpo estava bloqueado e eu não conseguia exercer nenhuma outra ação a não ser me afastar e me esconder. Andrew estava me deixando com um medo que eu nunca havia sentido em minha vida e eu estava errada em pensar que tudo terminaria bem, porque minha intuição, prevendo que algo ruim aconteceria, desde o princípio esteve certa.  

— Você nunca esteve tão bonita, Savannah — Andrew salientou e eu senti a bile subindo por minha garganta. — Uma pena que não se arrumasse tanto assim pra mim.  

Afastei-me alguns passos e puxei o Justin comigo. Andrew o fitou com desprezo e eu não tinha dúvidas de que ele estivesse o encarando da mesma maneira. Aproximei minha mão até alcançar a do Justin e a segurei com força, os olhos de Andrew seguiram meus movimentos e só então ele demonstrou-se minimamente abalado, mas logo a expressão sádica retornou ao seu rosto.  

— Bem — ele emitiu em voz alta, pronunciando-se a todos e eu olhei na direção dos pais dele. Spencer e Allison estavam parados, e Elizabeth havia se juntado a eles novamente, apenas olhavam a cena e não diziam nada. E aquele era um enorme problema existente neles, assistiam a degradação do filho diante dos próprios olhos e simplesmente não fazia nada. Depois só davam um jeito de encobrirem as sujeiras e seguiam em frente como se nada houvesse acontecido. Eles conseguiam serem pais piores do que eu julgava os meus. — Quero propor um brinde a Savannah — apontou em minha direção, abrindo um sorriso largo — e o novo brinquedinho dela — indicou o Justin com menos entusiasmo.  

Senti o corpo de Justin movendo-se ao meu lado e apertei a mão dele, em um pedido mudo para que ele mantivesse o autocontrole.  

— Eu não sei se você sabe — Andrew disse, aproximando-se um passo de nós. Os olhos maldosos presos no Justin —, mas você está namorando uma encrenqueira, uma destruidora de corações. Eu poderia lhe desejar boa sorte, mas na verdade estou pouco me fodendo.   

Owen liberou uma risada recheada de deboche. Justin tentou avançar na direção dele e eu apertei a mão dele novamente, erguendo minha mão livre para segurá-lo pelo braço.  

— Justin, não — pedi baixinho, o puxando para trás até retornarmos para o lugar onde estávamos. Só então notei a ausência de Nolan, mas James ainda estava lá.    

— Você não vai fazer nada, Spencer? — ouvi Allison murmurar atrás de nós e não recebeu nenhuma resposta, tempo depois ela começou a se retirar também.  

— Mamãe, a senhora vai mesmo perder o show? — Andrew questionou, abrindo os braços enquanto ela passava ao lado dele, ela apenas o olhou com desaprovação e seguiu em frente.  

Spencer continuou lá e eu podia ver a diversão escondida por trás de seus olhos, porque aquilo era exatamente o que aquele cretino queria ver. Ele queria assistir o filho pisando em mim, afinal de contas, além de ser um tremendo pai de bosta, ele era um grande machista. Vivia dizendo o quanto as mulheres deveriam se submeter aos homens e o quanto o homens deveriam estar acima de qualquer coisa, o quanto deveriam constantemente saber manipular e escravizar uma mulher como se ela fosse uma boa cadela adestrada.   

Por consequência disso, não me surpreendia que a cada dia o Andrew se tornasse um homem e um ser humano mais sórdido e desumano, aliás, o maldito do Spencer Owen era o grande exemplo que ele precisava seguir.  

— Esse infeliz não pode me dizer esse tipo de coisa e pensar que vai ficar por isso mesmo — Justin rosnou, enfurecido e o aperto de sua mão na minha tornou-se mais intenso, mas não me importei. Preferia mil vezes que ele fizesse aquilo, ainda que doesse e pudesse me machucar, do que tê-lo que ver agredindo o Andrew e dando a ele o que aquele desgraçado tanto queria.  

— Se você partir para cima vai dar a razão a ele, então, Justin, por favor, não dê ouvidos.  

Ele suspirou, lhe sorri em agradecimento e ele se inclinou para selar meus lábios.  

— Oh, claro — a voz nojenta e revoltante de Andrew voltou a ecoar pelo local e eu encostei minha testa no ombro do Justin, evitando olhar na cara daquele desgraçado. — Eu fui o primeiro beijo dela e o primeiro a levar ela pra cama também — Justin apertou minha mão e eu apertei a dele também —, então se vocês têm sem divertido, e ela tem te satisfeito, você deveria agradecer a mim.  

— Já chega — bradei, olhando enfurecidamente na direção do Andrew. — Vamos embora daqui.  

Antes que pudéssemos dar sequer um passo, a garrafa que antes estava na mão do Andrew fora lançada há alguns passos de distância de onde eu e Justin estávamos. O líquido respingando em nossos pés.  

— NINGUÉM MAIS VAI SAIR DESSA PORRA DE LUGAR!  

Justin facilmente se desvencilhou de mim e eu já me preparei para vê-lo perdendo o controle, contudo, antes que ele pudesse chegar perto do Andrew alguém, tão rápido feito um vulto, o puxou para trás e o arrastou para longe.  

— Por acaso você enlouqueceu? — gritei, instintivamente aproximando-me de Andrew.  

— Sai de perto desse cara, Savannah — Justin ordenou, ainda sendo segurado e eu o ignorei. Estava determinada a fazê-lo parar com toda aquela palhaçada.  

 — Eu sei que você se lembra dos nossos momentos — ele declarou, olhando em meus olhos. — Você dizia gostar bastante. Eu sinto falta também. Me arrependo de ter te traído com aquela sem sal da Gwendoline, nem tirar o próprio sutiã aquela piranha sabia. Mas você... — fechou os olhos, sorrindo malicioso. — Podemos refrescar as nossas memórias.  

— Vai pro inferno — as palavras escaparam por meus lábios automaticamente, preenchidas por repulsa e rancor.  

— Se você for também, por mim, sem problemas. Não me importo com as coisas erradas que você fez, com sua esperteza — ele tapou um lado do nariz e aspirou com força, um sorriso perverso em seus lábios. — Também não importo de você ter se tornado alguém como a Gwen, porque sei que no fundo você ainda continua sendo melhor do que ela.  

— Argh — Justin rugiu, tentando se soltar e o James o empurrou ainda mais contra a parede. Eu podia ouvi-lo falando algo, mas não podia entender. — Vou quebrar todos os dentes daquele infeliz.  

— Ora, ora. Temos um valentão aqui — Andrew dramatizou após uma gargalhada estridente. — Tudo bem — ergueu a mão, em rendimento — talvez eu deva mesmo parar de falar das qualidades da Savannah e começar a falar das suas não concorda, Volturi?   

Meu corpo petrificou de imediato e eu engoli em seco, como se uma bola de chumbo estivesse entalada em minha garganta, e o sorriso nos lábios do ser desprezível diante de mim era de pura e doentia satisfação. 

Andrew sabia de tudo, diferente do que imaginei – em uma tentativa de manter a calma e ser menos pessimista – o desgraçado havia mesmo escutado minha conversa com a Lauren no banheiro e por aquele motivo me lançou aquele olhar enquanto saía. Ele sabia de tudo e havia esquematizado seu maldito plano de vingança, não comparecendo à social para me fazer pensar que ele não queria estar no mesmo lugar que eu, quando na verdade ele só queira me deixar confortável o suficiente para se divertir muito mais ao propagar o caos logo depois. Para me mostrar que, distinto do que eu imaginava, mais uma vez ele estava por cima e estava prestes a estragar tudo, assim como havia feito em meu primeiro dia trabalhando como garçonete.  

Andrew havia estragado meu primeiro emprego ali e eu podia enxergar em seus olhos que era ali que também queria estragar o resto de minha vida. E o pior, daquela vez, ele jogaria o Justin no penhasco junto comigo.  

Mentalmente, eu havia pulado no pescoço dele e estava o estrangulando, sentindo um desejo insano de me manter daquela maneira até que não existisse nem um fio de vida dentro daquele corpo que guardava uma alma demoníaca. No entanto, fisicamente eu ainda permanecia parada, impossibilidade de raciocinar coerentemente e, principalmente, de tomar qualquer atitude.  

A voz dele estava subitamente séria quando o mesmo voltou a se pronunciar:  

— Volturi é um apelido carinhoso que eu utilizo para chamar o que, na verdade, vocês conhecem como Creed — sons surpresos se espalharam e eu dei cegos passos para trás. — É isso mesmo — Andrew gritou, franzindo as sobrancelhas em ódio —, aquela criatura que assombra as ruas dessa cidade, coberta por roupas bizarras e que causa receio em muitos moradores que gostariam de acampar tranquilos nas florestas que somos abençoados por ter, está bem aqui.

— Já chega, Andrew — murmurei e ele abriu um sorriso ainda maior.

— O problemático, esquizofrênico, maluco psicótico, que atormenta as noitadas dos jovens da cidade e os sonhos de muitas criancinhas, acusado de matar os próprios pais e isso é se não matou o tio também.

— Pare agora mesmo! — ordenei, por entre dentes e ele riu, sem nem um pingo de humor.

— Todas essas personalidades bem aqui, na verdade, bem ali — apontou na direção do Justin —, no novo namoradinho da nossa querida e adorada Savannah Curtis.   

Ruídos espantados tornaram-se constantes e os cochichos audíveis. Virei-me na direção do Justin e ele estava paralisado, os olhos movendo-se euforicamente de um rosto para o outro enquanto as pessoas lhe encaravam em um misto de choque e reprovação. James estava ao lado dele, visivelmente sem saber o que fazer também.  

Droga, droga, droga! Mil vezes droga!, pensei, irritada comigo mesma por não conseguir dizer nada, por não conseguir fazer nada. Os olhares logo se voltaram em minha direção também e me senti diminuída como nunca havia me sentido, porque a culpa era toda minha e eu havia atraído aquele desastre até nós.   

Andrew parou diante de mim e encarou-me dos pés a cabeça.  

— Você não se cansa de envergonhar seus pais, não é mesmo?   

 Por minha visão periférica vi o Justin começando a correr e não pensei duas vezes em ir atrás dele, conseguindo me esquivar do Andrew. Assim que atravessei a porta de saída, avistei o Justin entrando no carro, gritei o nome dele, mas ele não parou. Eu estava decidida a continuar correndo e entraria na frente do carro se fosse preciso para fazê-lo parar, no entanto, senti meu corpo sendo brutalmente puxado para trás e ser virado. Andrew me segurou pelos braços. O barulho de pneu derrapando na estrada somente aumentou minha fúria e eu comecei a me debater. 

— Por que você tem sempre que estragar tudo? — gritei, batendo contra o peito dele. Só então percebendo que eu estava chorando, as lágrimas escorrendo incessantes por meu rosto. — Por que sempre tem que estar no meu caminho, seu cretino?  

Andrew não me respondeu e também não me largou, continuou me segurando enquanto eu me retorcia em vãs tentativas de conseguir me livrar, até me sentir exausta e parar, ofegante. Os olhos dele estavam fixos em meu rosto e quando Andrew se aproximou ainda mais, senti minha barriga embrulhando e o empurrei com uma força que nem mesmo sabia possuir. Ele cambaleou um pouco para trás, completamente surpreso e eu o fitei com profundo desprezo.  

— Você foi à pior coisa que aconteceu na minha vida, Andrew Owen. Eu tenho nojo de você — rosnei, sentindo meu rosto queimando em fúria. — EU ODEIO VOCÊ!  

No instante seguinte, antes que eu pudesse me afastar como planejava, senti meu rosto arder ainda mais e curvei-me para o lado. Ergui a mão até minha bochecha e soltei o ar pesadamente por meu lábio entreaberto. Ouvi um grito enfurecido, consegui reconhecer o timbre da voz de Lauren, e aquilo me puxou de volta para a realidade.  

Andrew havia acabado de bater em meu rosto, com uma força tão grande que senti vontade de chorar ainda mais, feito uma criancinha, mas me segurei fortemente. Olhei-o com descrença e logo o ódio fora crescendo velozmente dentro de mim, contudo, antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, o corpo dele fora subitamente afastado do meu e logo avistei o punho de Nolan Green lhe acertando em cheio no nariz.  

— Nunca bata numa garota, seu miserável — ele berrava e chutava o corpo de Andrew, naquele momento jogado ao chão, até que Spencer finalmente tomou uma providência e o afastou, empurrando Nolan em minha direção.  

Eu ainda estava atônita demais, revoltada demais com a audácia de Andrew, e minha mente estava uma bagunça completa, mas nada conseguia superar a maior preocupação que existia dentro de mim, nada conseguia me atormentar mais do que a necessidade que eu sentia de ir atrás do Justin. 

A sensação de sufoco em imaginá-lo dirigindo daquela maneira, completamente descontrolado, e o desespero aumentando ao cogitar a possibilidade de algo ainda pior acabar acontecendo.  

— Savannah, está tudo bem? Aquele desgraçado...  

— Eu preciso de carona, Nolan — vociferei em desespero, agarrando-o pela camisa e ele arregalou levemente os olhos. — Preciso de carona até a casa do Justin, por favor — choraminguei —, me leve até lá.  

Ele apenas assentiu e rapidamente começamos a nos afastar. 

Lauren e Hannah discutiam com Allison e Elizabeth, James conversava com Spencer, ambos pareciam alterados, e o  Andrew estava ao lado deles, com a cabeça baixa, porém eu podia ver o sangue escorrendo de seu nariz. Os outros, que saíram para ver a desgraça ainda mais de perto, só ficavam de longe, coletando o máximo de informações para propagarem as fofocas no dia seguinte.  

Eu mal podia acreditar que havia estragado a comemoração de James. Olhei-o, todo preocupado mais adiante, e me desculpei mentalmente.  

Nolan me guiou o tempo todo e ninguém pareceu notar nosso afastamento. Já dentro do carro, que estava estacionado em frente à mercearia do velho Gavin, eu era dominada por suspiros inquietos de segundo em segundo. As lágrimas não paravam de descer.  

Por favor, Justin, esteja bem. 


Notas Finais


Hey, dessa vez não demorei tanto, né? Enfim, fui escrevendo tudo tão animada que acabou ficando muito grande, então acabei dividindo em dois capítulos. Como já tenho o outro pronto, quarta-feita estarei postando de novo. Vou tentar voltar ao ritmo de postar de 3 em 3 dias, mas caso não dê certo, teremos uma att por semana. Espero que gostem do capítulo, eu avisei que terias muitas emoções e, por favor, mantenham a calma, não me matem ainda HAHA. O próximo promete muuuuuuito mais! heheh. Obrigado pelos comentários no capítulo anterior e por todo carinho, vocês são maravilhosas. Até o próximo. xX


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