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História Paranoid - Ainda há algo a ser salvo.


Escrita por: sympathize

Notas do Autor


Boa leitura, moçada! :)

Capítulo 25 - Ainda há algo a ser salvo.


Fanfic / Fanfiction Paranoid - Ainda há algo a ser salvo.

Já havia despertado há algum tempo, porém meus olhos se recusavam a abrir como se houvessem chumbos sobre minhas pálpebras, assim como minha cabeça latejava e pesava como se, na verdade, tivesse um elefante deitado sobre mim. Grunhi descontente e franzi minhas sobrancelhas, forcei-me a abrir os olhos e no momento em que lentamente entreabri um, e a claridade o invadiu quase me cegando, precisei fechá-lo novamente, respirando profundamente enquanto o incômodo em minha cabeça somente aumentava. “Que diabos está acontecendo comigo?”, pensei aflita. Com extrema dificuldade ergui minhas mãos até meus olhos e esfreguei-o, respirando fundo outra vez e o cheiro enjoativo de bebida alcoólica alcançou minhas narinas, fazendo com que meu estômago revirasse violentamente, em seguida arregalei meus olhos subitamente e pulei para fora da cama, sentindo tudo rodar, no segundo em que uma forte náusea me dominou e a claridade quase me fez cair para trás outra vez. Flashes confusos da noite anterior atingiram minha cabeça de uma só vez, cenas completamente embaralhadas e, na medida em que a ânsia tornou-se ainda mais insuportável, coloquei as mãos em minha boca e, através dos borrões de minha visão, tentei encontrar o banheiro e assim que encontrei uma porta aberta à esquerda, adentrei a mesma e foi só encostar-me no vaso sanitário para que tudo o que havia dentro de mim voasse boca à fora. Ajoelhei-me e tentei não me desesperar, afinal de contas, se havia algo com que eu não lidava bem era sequências insanas de vômitos, pois aquilo era uma das principais coisas que absolutamente me deixava em pânico. Quando finalmente pareceu acabar, suspirei aliviada e, cambaleante, me levantei, arrastando-me até a pia ao lado e praticamente enfiando minha cabeça sob a água gelada que descia pela mesma. “Nunca mais tome um porre desses”, meu inconsciente aconselhou. Depois de puxar a descarga e sem, ao menos, me preocupar em secar meu rosto e tampouco me preocupando com meus cabelos molhados, voltei para o quarto e me joguei outra vez na cama, focando completamente meus olhos no teto branco e a pulsação angustiante em minha cabeça se tornava cada vez mais insuportável. Fechei meus olhos na medida em que tudo parecia girar ao redor e meu coração batia em cada centímetro do meu corpo, fazendo-me grunhir em desaprovação a toda aquela sensação atordoante que me dominava. Em meio ao silêncio não tardou para que mais recordações me atingissem e lembrei-me da briga entre Justin e Jonah, depois minha briga com Jonah e o momento em que comecei a beber a porcaria do uísque. Lembrei-me também de algumas partes da conversa que tive com o Justin após já estar sobre o efeito da bebida – afinal, infelizmente nunca conseguia ficar bêbada o suficiente para esquecer tudo o que havia acontecido, mas as lembranças voltavam de maneira aflitivamente desordenada – e ao me recordar que o mesmo havia feito a proposta de me levar para conhecer algum lugar, cujo eu não fazia ideia de por qual razão havia aceitado, reabri meus olhos, encarando todos os cantos do lugar onde estava e facilmente notando que aquele não era o quarto em que eu estava na casa de veraneio dos pais da Melanie. E então mais algumas lembranças misturadas vieram em minha cabeça, frases misturadas e angustiantemente desconexas. Espremi meus olhos, tentando filtrar os pensamentos e fazer meu cérebro parar tanto de forçar aquelas recordações, pois já começavam a me enlouquecer. Contudo, ainda havia diversas lacunas que faziam minha cabeça doer, cada vez mais, na medida em que eram tortuosamente preenchidas por acontecimentos indevidamente incoerentes.

— Ah inferno. — Sussurrei, sentindo enjoo novamente, entretanto me sentia tão seca que era como se não houvesse mais nada dentro de mim que pudesse ser jorrado para fora.

“Não devo mais tomar um porre desses”, refleti de maneira contundente comigo mesma e passei a mentalmente repetir aquele mantra incansavelmente. 

O barulho da porta abrindo fora o que me despertou dos devaneios e eu ergui minha cabeça minimamente, deparando-me com uma claridade ainda maior atrás da silhueta que adentrava o local e meu cérebro pareceu chacoalhar, fazendo-me deitar sobre o travesseiro de novo. Outro grunhido angustiado escapou por meus lábios.

— Bom dia. — Uma voz aguda e aparentemente divertida ecoou no ambiente e eu retorci meu semblante, sentindo uma pontada em minha cabeça. — Trouxe comida.

— Será que você pode falar mais baixo? — Pedi secamente, minha voz saindo estranhamente rouca e praticamente em um murmúrio.

— Trouxe analgésico também. — Ele disse após um riso nasal, sua voz soando um pouco mais leve e eu agradeci mentalmente.

Alguns segundos de silêncio e em seguida senti o lado esquerdo da cama afundando.

— Tome. — Ordenou baixinho e abri lentamente meus olhos, um de cada vez, avistando-o bem ao meu lado.

Sem encará-lo, peguei o comprimido e a garrafinha de sua mão, tratando de engolir o remédio e entornar toda a água em minha boca, seguidamente lhe entreguei a garrafa vazia e deitei-me outra vez.

— Você sabia que porre de uísque é um dos piores? — Perguntou e novamente meus olhos estavam fechados enquanto em minha mente se sucedia diversas orações para que aquelas sensações maçantes passassem logo.

— Meio que tinha esquecido isso. — Respondi em um muxoxo e ele riu baixo.

Umedeci meus lábios, desejando que a distração da chegado do Justin fizesse com que eu momentaneamente esquecesse a insuportável dor em minha cabeça.

— Onde estamos? — Questionei após um agradável tempo em silêncio ao qual ele permaneceu sentado ao meu lado.

— Você deve estar com fome, trouxe comida. — Desconversou e eu entreabri meus olhos, encarando-o e o mesmo já não estava mais sentado ao meu lado.

Com dificuldade sentei-me, escorando minhas costas na cabeceira da cama e passei a analisar minuciosamente o quarto em que estávamos. Avistei o Justin abrindo um frigobar e arqueei minhas sobrancelhas. Aproveitando-me que ele estava de costas, amarrei meus cabelos em um coque alto, numa tentativa de fazer minha aparência ficar, ao menos um pouco, menos horrenda do que provavelmente estava.

— Não estamos mais em Seattle? — Indaguei um tanto quanto desesperada e ele limitou-se a me olhar.

— Não. — Respondeu, virando-se em minha direção com uma latinha de refrigerante e outra garrafinha de água em mãos.

— Também não estamos em Portland, não é?

Após simplesmente negar com a cabeça, ele largou as bebidas sobre o criado-mudo ao meu lado e foi até um pequeno sofá próximo da janela – que ficava próxima da porta de entrada –, pegando umas sacolas da Subway e colocou-as sobre a cama. Seu olhar distante de mim.

— Vamos embora. — Falei baixinho, meus olhos ainda fixos nele e o mesmo se manteve calado e aparentemente havia ignorado minhas palavras. Tirou lentamente o que eu julguei serem dois sanduíches da sacola e colocou-os sobre a cama. — Vamos embora, Justin! — Repeti mais alto e ele finalmente parou o que estava fazendo, respirando profundamente.

— Relaxa, Savannah. — Requisitou calmamente e eu franzi minhas sobrancelhas.

Era evidente o quanto ele estava estranho – mais estranho que o normal – e... Assustador. Extremamente assustador. Pela primeira vez eu realmente estava com medo de ficar sozinha com ele. Engoli em seco e umedeci meus lábios, colocando meus pés para fora da cama e levantando-me, meu corpo ainda afetado pelo efeito da ressaca, contudo meu instinto de alerta mantinha minha autodefesa completamente focada.

— Esse é seu. — Disse, estendendo um pacote em minha direção e me sobressaltei com o tom grave de sua voz.

— Eu não quero. — Murmurei dando um passo para trás. — Quero ir embora.

— Vamos lá, Savannah. Sei que você deve estar morrendo de fome e mesmo se não estiver, precisa se alimentar, porque ficar de estômago vazio só vai piorar o mal-estar que está sentindo. — Explicou serenamente, aproximando o passo que eu havia recuado e aproximando ainda mais o embrulho, que estava cheirando maravilhosamente bem, de mim. — Pegue.

— Onde estamos? — Insisti e ele riu, negando com a cabeça.

— E pensar que ontem eu senti falta desse seu lado... — Murmurou rindo e eu arqueei minhas sobrancelhas, confusa. — Estava muito tarde e eu fiquei cansado, não ia conseguir dirigir até Portland, então decidi fazer uma parada em Beaverton.

— Beaverton? — Repeti descrente e ele concordou despreocupado. — Por que exatamente saímos de Seattle?

Ele suspirou e em seguido coçou a sobrancelha esquerda, ficou quieto por um tempo.

— Porque a viagem não estava sendo boa pra nós Savannah e pensei que seria melhor se voltássemos para casa. — Respondeu visivelmente impaciente.

— Acontece que também não estamos em casa. — Rebati contundente, frisando a última palavra e ele respirou fundo.

Riu sem humor e eu engoli em seco, minhas sobrancelhas levemente arqueadas.

— Eu só mudei a rota por razões necessárias, mas isso aqui — com sua mão livre apontou para o quarto — não é um sequestro, cárcere privado ou o que quer que você esteja imaginando. Logo estaremos em Portland outra vez, não se preocupe. — Continuou seriamente e estupidamente pensei em contradições que pudessem ser ditas, no entanto apenas continuei vacilante. — Olha discutir não vai mudar os fatos, então, por favor, só coma e depois resolvemos isso.

Estendeu o sanduíche em minha direção novamente e eu hesitei.

— O que você está fazendo? — Perguntei arqueando uma sobrancelha, minha voz saindo mais rude do que eu havia esperado e ele franziu a testa, seu semblante completamente confuso. — O que você está tentando fazer?

— No momento — adotou uma expressão pensativa, desviando seu olhar momentaneamente do meu —, só estou tentando fazer você se alimentar.

— Você está estranho. — Murmurei, o pensamento escapando alto por minha boca e ele riu nasalmente.

— Se parar para analisar, vai perceber que na verdade não sou eu quem está estranho aqui. — Rebateu como se também estivesse expressando um pensamento alto, a seguir torceu os lábios.

Aos poucos, diante da sinceridade e confusão em seu semblante, senti meu rosto suavizar. A reação posterior fora me sentir uma completa tola por estar me sentindo intimidada por ele, aliás, havíamos ficado sozinhos outras diversas vezes e eu nunca havia me sentido daquela maneira antes. Até mesmo já havia presenciado suas crises e nem mesmo diante delas senti tanto medo, então qual era o sentido de temê-lo quando o mesmo só estava sendo gentil e tentando me ajudar? “Você absolutamente não faz sentido”, meu inconsciente ressaltou e eu balancei minha cabeça vagamente, por fim pegando o sanduíche da mão do Justin e ele sorriu cordialmente. Tentei sorrir também, mas tive plena certeza que não havia obtido o resultado previsto.

— Caso decida tomar banho depois de comer, sua mochila está ali.

Apontou para o sofá onde antes a sacola com os lanches estavam e após um tempo concordei com a cabeça, olhando para meu próprio corpo e estreitei minhas sobrancelhas ao constatar que estava usando apenas uma camiseta grande e, por baixo, roupas íntimas.

— O que aconteceu com as minhas roupas? — Perguntei, fitando-o sobressaltada e ele me avaliou momentaneamente.

 — Você não parecia muito confortável dormindo de jeans. — Replicou, despreocupadamente, dando de ombros.

— Você, erm... — umedeci meus lábios, sentindo minhas bochechas pegando fogo. — Você me deu banho?

Ele olhou-me de maneira indecifrável durante um tempo, lambeu o lábio superior e depois mordeu o inferior, seus olhos deslizando por meu corpo e eu já podia imaginar meu rosto violentamente vermelho. No momento em que ele riu soube que só estava querendo tirar uma com a minha cara e soltei um muxoxo entediado, ele riu ainda mais sonoramente.

— Não Savannah, eu não dei banho em você.

Anui e mordi meu sanduíche, sentando-me na cama e tentando afastar as imagens dele me dando banho que passaram a dominar meus pensamentos. Arrepiando-me completamente só de imaginar sua mão tocando meu corpo e quase estremeci. “Ei garota, não seja estúpida”, meu inconsciente ressurgiu, despertando-me e me chutei mentalmente ao notar a gravidade e decadência daquelas estúpidas, e vergonhosamente carentes, fantasias. 

— Que bom que não te dei muito trabalho.

Após algumas boas mordidas no delicioso sanduíche – mesmo não estando com fome e ignorando meu estômago abalado tentando rejeitar o fato de estar forçadamente recebendo comida – repleto de molho barbecue, que era o meu favorito, quebrei o silêncio apenas para focar em outra coisa e me livrar das idéias insanas que circundavam minha cabeça.

Ele riu e eu evitei olhá-lo.

— Até que te dar um banho gelado não seria uma má ideia — riu escarnecido e eu rolei os olhos —, mas não sou do tipo que se aproveita de garotinhas indefesas, principalmente quando estão bêbadas.

Devido ao seu tom divertido não pude conter o riso, tentando fazer o rubor passar despercebido e mordi o sanduíche outra vez, fingindo não ter me afetado com suas palavras.

— Prefiro quando estão sóbrias.

Arregalei meus olhos surpresa com a sedutora rouquidão presente em sua voz e, para piorar, no segundo seguinte – quando um estúpido pedaço de pão, engolido inesperadamente, desceu pelo lado errado – estava sendo dominada por tosses descontroladas. 

— Ei calma, tenta respirar. — Justin surgiu ao meu lado, dando leves tapas em minhas costas e, após mais algumas tosses, o maldito pão finalmente desentalou e eu respirei densamente.

— Santo Deus. — Murmurei ofegante, como se tivesse corrido uma maratona e larguei o resto do lanche sobre a cama.

— Está melhor? — Perguntou, pausando a mão em meu ombro e eu concordei. — Aqui, toma um pouco de água.

Pegou a garrafinha no criado-mudo e me entregou, abri a mesma e dei longas goladas, sentindo o incômodo em minha garganta passando gradativamente.

— Esse sanduíche é assassino. — Murmurei forçando um riso. — E parece que fui pisoteada por uma manada de elefantes. — Reclamei numa tentativa de tirar o foco do acontecimento, devolvendo-lhe a garrafa – vazia como a outra – e ele riu, depois, por uma razão desconhecida e para minha surpresa, fez cafuné em meus cabelos.

Olhei-o e me deparei com seu olhar distraído, um sorriso no canto de seus lábios.

— Espero que se sinta melhor antes do anoitecer. — Declarou e eu cerrei o cenho, confusa.

— Por quê?

— Vamos sair hoje à noite.

Sorriu largamente, demonstrando animação e eu juntei ainda mais minhas sobrancelhas.

— Vamos o quê? — Indaguei incrédula. — Não, nem pensar, Justin. Vamos embora depois que eu tomar banho.

— Ah, Savannah... — Resmungou, fazendo carinha de pidão e eu quase ri feito tola de tão encantador que ele ficou.

“Por que você tem sempre que ser assim?”, questionei mentalmente. Suspirei.

 — Hoje é sábado e eu ainda quero curtir o fim de semana, podemos ir embora amanhã à tarde se você quiser, mas, por favor, vamos ficar. Só hoje.

Mordi o interior da minha boca, bastante incerta se deveria aceitar ou não. “Aceita”, meu inconsciente berrou.

— Não.

Instintivamente neguei, pois, por mais que quisesse aceitar de uma vez, parte minha me dizia que aquela não era uma boa ideia, portanto, sendo movida pela impulsividade da mesma, tentativas de negação eram espontâneas. Em seguida amaldiçoei-o por estar me lançando aquele encantador olhar de súplica, que dificultava qualquer rejeição direta, e até mesmo possibilidade de raciocínio lógico, que eu tentasse manter e, não podia negar o quanto, sua proposta por si só já era fortemente tentadora.

— Tudo bem. — Me rendi e ele sorriu de orelha e orelha. — Mas não fica achando que vai conseguir me convencer toda vez que fizer essa carinha do gatinho do Shrek — pausei, adotando uma expressão falsamente autoritária. — e vamos embora amanhã mesmo!

— Sim, senhora. — Concordou, batendo continência e eu rolei os olhos.

— Vou tomar banho. — Avisei levantando-me e minha cabeça já não doía tanto, mas meu corpo ainda estava dolorido.

— Não vai querer mais? — Questionou, apontando para o lanche e eu neguei. — Então eu como. — Pegou-o dando uma enorme mordida e sorriu sem mostrar os dentes, rolei os olhos me limitando a somente rir nasalmente.

Caminhei até o sofá onde estavam as mochilas, porém antes de abri-la, virei na direção do Justin outra vez e ele estava sentado na beira da cama comendo concentradamente o resto de sanduíche enquanto o outro ainda embrulhado repousava em seu colo.

— Justin — chamei-o e seus olhos vieram em minha direção, sua expressão infantilmente confusa e eu ri sozinha antes de continuar, contemplando-o mentalmente. —, obrigado.

Comprimi meus lábios e ele franziu a testa.

— Obrigado por, sabe... — pausei, umedecendo meus lábios e em seguida forçando um sorriso. Extremamente nervosa. — ter cuidado de mim.

O sorriso singelo que se apoderou dos lábios dele me tranquilizou e eu sorri junto, totalmente movida pelo efeito incontido que ele exercia sobre mim.

— Nem precisava agradecer, mas, de qualquer maneira, disponha. — Piscou divertidamente e soltei um riso nasal, abandonando minha cabeça e virando-me em direção ao sofá novamente.

Após pegar o short jeans mais comprido que tinha na mochila e uma regata branca, fui até o banheiro e tranquei a porta, tirando a camiseta do Justin e sorrindo enquanto a analisava, tentando recordar o momento em que ele a vestiu em mim e mordi meus lábios, imaginando seus toques em minha pele e os pensamentos seguiriam além se eu não os afastasse, xingando-me mentalmente por me deixar levar por tanta estupidez e em seguida terminei de me despir, ligando o chuveiro e entrando sob a água morna. Deixando aquele banho levar embora toda a tensão que se alojava em meu corpo e a sensação ruim que residia sobre mim após ter sucumbido ao vicio que eu achava já ter superado.

— Nunca mais vou beber daquele jeito. — Prometi para mim mesma, passando a mão em meus cabelos.

Não me recriminaria e tampouco me permitiria tripudiar sobre mim mesma após o acontecido, afinal eu era humana e, sendo assim, estava sujeita a erros como todos os outros. Já estava mais do que na hora de parar de me vitimar tanto e ao invés de ficar sempre criticando meus erros, bolar futuros acertos. Um sorriso tolo desenhando meus lábios enquanto uma satisfação enorme – por estar longe do caos que estava aquela casa e, principalmente, por estar com o Justin – me debelava, a ansiedade de saber para qual lugar ele me levaria e quais eram seus planos, aliás, ele estava demasiadamente animado e era bom vê-lo daquela maneira após tudo o que havia acontecido, era bom saber que o mesmo aparentemente não havia se abatido com a tão recente rejeição e, no final das contas, vê-lo alegre era extremamente importante. Era o que igualmente me alegrava. Mesmo que parecesse extremamente estranho que ele estive feliz após algo que tanto desejava houvesse dado tão errado, mesmo que boa parte de mim questionasse o porquê daquilo e não entendesse absolutamente nada. “Você é a melhor parte de mim Savannah.” Pude ouvir perfeitamente sua voz me dizendo aquelas palavras e um sorriso imenso se alastrou por meus lábios, porque não importava se meu lado negativista quisesse me fazer crer que aquela era só mais uma alucinação da minha cabeça. Mais um de meus desejos insanos. A lembrança do momento era tão real e tão nítida, que me arrepiava todos os poros do corpo e mesmo que, pouco me importando com os pensamentos inversos, ele só houvesse dito aquilo da boca pra fora em um momento de confusão e impulsão, já era mais do que evidente que ele era a minha melhor parte. E através daquilo, nada mais importava. Um desejo absurdo de lhe contar tudo o que eu andava sentindo, de pôr pra fora tudo o que me sufocava por dentro, pairou em minha cabeça. Suspirei apreensiva, meus olhos fixos em um ponto qualquer enquanto a água ainda despencava em minha cabeça e a maluca ideia se tornava cada vez mais deliberada. Afinal, não havia como fugir daquilo pelo resto da minha vida, contudo eu precisava esperar o momento certo e com os acontecimentos recentes aquele visivelmente não era, porém não me permitiria abonar a certeza de revelar meus sentimentos. Viver escondida atrás dos medos não me traria benefício algum e se houvesse alguma possibilidade de acontecer algo entre nós, eu – que já tinha plena certeza do que sentia – precisaria fazer algo. Ainda que desse errado e o resultado ultrapassasse o pior cujo eu, acostumada a sempre destacar o lado ruim, esperava. Porque mesmo que a probabilidade de não ser correspondia fosse aflitiva, conviver com a incerteza era ainda pior.

— Preciso me preparar para o momento certo. — Sussurrei, forçando um sorriso confiante.

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— Sabia que você é mega sem-noção na maior parte do tempo? — Perguntei, estreitando meus olhos e ele riu.

— Acho hilário quando você fica tentando ser ignorante comigo. — Disse com ar de convencido, dando uma piscadela em minha direção e eu acertei o punho em seu braço. — E meu cabelo ainda está cheirando a ketchup. 

Torceu os lábios e eu sorri maleficamente.

— Minha blusa também. — Rebati, encarando a mancha vermelha que havia na mesma e ele prendeu um riso.

— Mas acontece que eu te sujei sem querer. — Frisou, arqueando uma sobrancelha.

— E debochou do acontecido, porque quis. — Rebati e ele rolou os olhos, resmungando algo que não consegui compreender. — Muito idiota. — Falei, prendendo o riso.

— Muito atrevida. — Rebateu infantilmente e eu não pude conter uma gargalhada, empurrando com o ombro em seguida.

O céu já estava escuro e estávamos saindo de uma lanchonete onde tivemos uma refeição um bocado agradável. Havíamos passado praticamente o dia todo no quarto do motel assistindo TV – sequei dezenas de garrafinhas de água – e perdi as contas de quantas gargalhadas espontâneas o Justin havia me tirado com seus comentários egocêntricos e outros, que me deixaram um bocado enrubescida, com aparentes segundas intenções. Fui eu que reclamei que estava sentindo fome e então ele disse que havia um lugar em que ele costumava comer sempre que vinha para Beaverton e, naquele momento, estávamos satisfatoriamente saindo de lá. Discutindo por causa do que havia acontecido enquanto ainda estávamos dentro da lanchonete, nos ocupando em comer nossos gordurosos cheeseburgers, quando ele foi tentar colocar ketchup em seu lanche e o mesmo acabou acidentalmente voando em minha blusa. No impulso até mesmo falei um palavrão e ele começou a rir, tirando-me do sério e, movida pelo instinto vingativo, peguei meu sachê de ketchup e espremi-o em seu cabelo. Tivemos uma breve discussão – extremamente infantil – e ele acabou se divertindo bastante, enquanto eu – como sempre – tentava me manter contrariada, sustentando falsamente a revolta. Contudo, minhas forçadas tentativas de fingir estar brava com ele não surtiam efeito algum. 

Durante alguns momentos, inconscientemente, até mesmo me peguei imbecilmente pensando no quanto Jonah deveria estar preocupado e irritado, e no quanto todos os outros deveriam estar pressupondo diversas coisas em relação ao nosso sumiço repentino, porém aquele dia estava sendo bom demais para que eu o estragasse esquentando minha cabeça com coisas irrelevantes, afinal Melanie já sabia que eu e o Justin nos conhecíamos, Bridgit deveria estar a par de toda história e até mesmo Aaron, que era o único que aparentemente estava por fora de tudo, provavelmente já sabia de tudo. A única coisa que eu tinha certeza, e me dava confiança, era que Jonah não lhes contaria sobre meus sentimentos em relação ao Justin, pois, mesmo que ele tenha agido tão canalha – e eu até podia entendê-lo –, não fazia parte de sua índole sair contando coisas indevidas, ainda mais para pessoas que ele pouco conhecia, só porque estava com o ego ferido. Aquilo era algo que eu profundamente admirava no mesmo. 

Suspirei distraída, deixando meus olhos somente vagarem pelos borrões da cidade que passavam pela janela durante a partida até o motel, em que eu e Justin nos mantivemos em silêncio. Apreciando o som ambiente das músicas que tocavam na rádio e estávamos em um clima tão ameno que até mesmo a ausência de conversa era suficiente. 

— Ah, droga. — Justin resmungou ao meu lado, já estávamos caminhando em direção ao quarto. — Esqueci de passar no posto de gasolina, preciso encher o tanque.

— Ah meu Deus, Justin. — Falei, dando um tapa forte em minha testa no momento em que me lembrei do meu carro, que havia ficado em Seattle. — A Shelby.

— Quem é Shelby?

Arqueou as sobrancelhas e eu não pude conter um riso, praguejando mentalmente, aliás, não podia acreditar que havia dito aquilo na frente dele e consciente de que não teria como fugir da explicação, me dei por vencida e lhe respondi diretamente:

— Meu carro.

O surto de risadas histéricas que ele desenvolveu no segundo seguinte fora completamente compreensível e eu me mantive imparcial, pois, sinceramente, não havia graça alguma naquilo. Shelby ficaria ofendida se estivesse presente. Ri sozinha com meu estúpido pensamento.

— Enfim — respirou fundo, limpando o canto lacrimejado de seus olhos —, imaginei que eles iam precisar de algum veículo pra voltar para Portland... — deu de ombros e eu estreitei as sobrancelhas. — Suas chaves ficaram em cima do criado-mudo do quarto, seu playboy vai ser bem esperto se sacar isso e não estiver bravo o suficiente pra ter um ataque mariquinha e rasgar todo seu banco de couro com uma faca.

Arregalei meus olhos, sentindo uma pontada em meu peito ao imaginar meu querido carro sendo cruelmente mutilado e em seguida, ignorando o fato incômodo de o Justin ter denominado Jonah como meu playboy, fui vencida pela gargalhada, visto que ele estava praticamente se contorcendo de tanto rir.

— A Shelby vai ficar bem, Savannah. — Disse risonho, dando tapinhas camaradas em meu ombro e eu ri nasalmente. — Caso aconteça alguma coisa, prometo deixar você usar o meu.

Dei uma minuciosa medida em seu Cadillac CTS-V e cocei meu queixo, simulando estar pensativa.

— Bem — estalei a língua no céu da boca, fingido pouco-caso —, parece justo.

Ele riu e eu apenas sorri de lado, esboçando falsa inocência.

— Tudo bem, agora vá encher o tanque — retornei ao assunto anterior ao meu pequeno surto de preocupação, enfiando as mãos nos bolsos frontais do short e dei de ombros. —, estou com preguiça, então vou ficar. — Liberei um riso nasal e ele riu sonoramente.

— Já aproveita pra ver o que você vai vestir hoje à noite, porque eu sei como mulheres demoram pra decidir o que usar e blá, blá, blá. — Falou com a voz afetada e eu rolei os olhos.

— Preciso de alguma pista do lugar você vai me levar pra poder escolher uma roupa.

— Acredite em mim, você não vai querer se adequar ao tipo de roupa que usam lá. — Soltou o riso pelo nariz e eu arqueei as sobrancelhas.

— Mesmo assim, eu só trouxe roupas pra usar em casa...

Fora a vez dele rolar os olhos, em seguida olhou-me minuciosamente – seu maxilar levemente travado e um olhar atencioso – e eu enfiei as mãos ainda mais em meus bolsos, constatando o quanto ele ficava extremamente sexy me olhando daquela maneira. O já tão conhecido nervosismo passou a me dominar outra vez e eu havia perdido as contas de quantas vezes havia o sentido durante todo o decorrer do dia, mas naquele momento, e diante daquele olhar, estava ainda mais intenso.

— Sejamos sinceros Savannah, você nem precisa se preocupar com isso. — Pousou uma mão em cada ombro meu e eu senti meu corpo inteiro arrepiar, da cabeça aos pés. — Você fica bonita de qualquer jeito. — Concluiu após passar algum instante me analisando quieto, um mini-sorriso preso no canto de seus lábios.

Senti minhas bochechas queimando violentamente e as borboletas em meu estômago dando fortes sinais de vida. Ficamos nos olhando durante um tempo e só quando o vi fechando momentaneamente a expressão, e automaticamente desfiz o sorriso, percebi que estava sorrindo tolamente. Sem nem me preocupar com o fato dele estar vendo. Sem demora ele se afastou, mantendo um sorriso forçado em seus lábios e desviou o olhar do meu, visivelmente perturbado por algo. Pensei em perguntar o que havia acontecido, todavia sua repentina reação havia me pego tão desprevenida que nem ao menos conseguia pensar em algo coerente que pudesse ser dito, por mais que eu quisesse saber o que o havia feito mudar tão rapidamente de humor. “Talvez seja o distúrbio-bipolar”, pensei, torcendo meus lábios. Ultimamente os sintomas das doenças dele pareciam mais incontroláveis e eu, como já tinha consciência de como se manifestavam, quase sempre podia vê-los atormentando-o. No entanto, boa parte de mim, a que estava cansada de sempre esconder o evidente, julgava que aquele não havia sido o problema, que sua mudança de humor havia sido por outro motivo. “Deve ter sido por conta da minha estúpida reação.” refleti frustrada. 

Ainda no cômodo silêncio, após passar um tempo alheio, ele me entregou a chave do quarto e, sem dizer nada, caminhou de volta na direção de seu carro. Adentrou o mesmo e trocamos um profundo e breve olhar antes do mesmo dar partida e assim que seu carro sumiu da minha visão, passei a caminhar cabisbaixa. Entrei no quarto e encostei a porta, no segundo seguinte grudando minha testa sobre a madeira.

— Ele vai acabar me deixando maluca. — Murmurei, fechando meus olhos com força.

Após um tempo pensativa e, depois de balançar minha cabeça para dispersar os pensamentos, fui até minha mochila e joguei todas as roupas dobradinhas que estavam lá dentro em cima da cama. Encontrando meu celular, descarregado, e coloquei-o no bolso frontal sem nenhuma intenção de carregá-lo, afinal, assim, estaria momentaneamente longe de ligações questionadoras. Vasculhei as roupas durante um tempo, até finalmente encontrar meu – adorado e favorito – vestido florido, separei-o e peguei um conjunto de peças íntimas de renda preta – que a calcinha era quase um shortinho –, descalcei minhas sapatilhas e amarrei meu cabelo em um coque, em seguida caminhei até o banheiro carregando minha toalha e as roupas em minha mão.

Durante o banho procurei não me imergir em estúpidos devaneios e passei um longo tempo me lavando, somente para que as horas passassem sem que eu ficasse me sentindo ansiosa e como aparentemente o Justin não havia retornado, visto que, a não ser pelo barulho do chuveiro, o resto do quarto estava em silêncio total, me distrair seria a melhor coisa. Após finalmente cansar de ficar sob a água, e começar a sentir meus dedos enrugando, desliguei o chuveiro e me enrolei em minha toalha, caminhando pelo amplo banheiro até parar em frente ao espelho e avaliei as olheiras em baixo dos meus olhos. Implorando fortemente que o básico de maquiagem que havia em minha bolsa ajudasse minha aparência parecer mais agradável. Me vesti, ainda absorta em pensamentos e soltei meus cabelos, os fios marcados por leves ondulações caíram por sobre meus ombros e eu joguei-os para o lado, tentando encontrar uma maneira simples de fazê-lo parecer apresentável. Ao voltar para o quarto fui direto até minha mochila, revirando-a novamente até encontrar alguns produtos de higiene pessoal – perfume, desodorante e hidrante – e as maquiagens. Liguei o rádio que havia no quarto em uma estação qualquer, voltei para o banheiro e, sem muita demora e evitando me perder em abstrações, comecei a dar início a minha missão de conseguir um visual simples, porém notório. Por sorte o corretivo e o pó compacto haviam dado um bom jeito nas conseqüências das noites mal-dormidas e finalizei com meu batom cor de boca – um dos meus favoritos –, sorrindo satisfeita para o meu reflexo no espelho. Esborrifei mais perfume em pontos estratégicos e pela milésima vez chequei meu hálito – antes de me maquiar havia escovado os dentes duas vezes por garantia – e após pegar todas as coisas que estavam no banheiro, caminhei para fora do mesmo e estava guardando-as novamente em minha bolsa quando ouvi o barulho da porta sendo aberta. Nervosa, mantive meu olhar focado no que estava fazendo.

— Você já esta pronta? — Ele questionou, seu tom bastante cauteloso.

— Sim. — Respondi após um tempo, ainda evitando olhá-lo enquanto sentia seu olhar totalmente direcionado a mim.

Joguei meu cabelo para um lado só, tentando me livrar dos fios que caíam, atrapalhando-me, e o lado esquerdo, ao qual o Justin estava, do meu pescoço ficou exposto.

— Vou tomar um banho rápido. — Avisou e eu apenas assenti, senti-o se aproximando e o mesmo pegou sua mochila que estava ao lado da minha. — Gosto do perfume que você usa — murmurou, aproximando seu rosto e aspirante próximo ao meu ouvido. Senti meu corpo congelando. —, que fragrância é essa?

 — Vanilla Lace da Victoria Secrets. — Respondi em um fio de voz e senti o aspirando novamente, daquela vez, próximo ao meu pescoço e automaticamente encolhi meus ombros.

— É um cheiro muito bom. — Falou, em seguida afastou-se. — E você está linda.

Arfei surpresa, afinal receber seqüência de elogios dele em um só dia não era algo que eu estava habituada. Umedeci meus lábios, sentindo minha boca seca, e contive um sorriso acanhado, ocupando-me em fechar o zíper da mochila e procurando não demonstrar o total nervosismo.

— Obrigado. — Murmurei, enfim juntando coragem para olhá-lo e o mesmo escaneou meu rosto, em seguida sorriu enviesado.

— Não há de que. — Disse me reverenciando e não pude conter o riso – bastante nervoso –, sendo acompanhada por ele.

Durante o tempo que ele levou para tomar banho fiquei sentada na cama, ocupada mexendo em minhas próprias unhas e tentando estupidamente imaginar em que lugar ele me levaria. “Será que posso considerar isso um encontro?” questionei mentalmente, um sorriso tolo preso em meus lábios. “Acho que vai ser mais um passeio de amigos” meu inconsciente despontou e eu arqueei uma sobrancelha. “Estraga prazeres!” pensei, torcendo meus lábios. Passei tanto tempo perdida em minhas suposições que nem ao menos notei quando o Justin saiu do banheiro e voltei para a realidade quando o cheiro delirante de seu perfume amadeirado invadiu completamente o ambiente. Ergui meu olhar até encontrá-lo e meu queixo quase foi ao chão. “Puta merda”, pensei boquiaberta. Ele usava uma camisa gola V cinza de mangas compridas, calça jeans escura e um par de Vans impecavelmente branco. Incrivelmente lindo e irresistivelmente atraente, e seus fios de cabelo despenteados e ainda úmidos lhe dando um ar insuportavelmente sedutor. Mordi meu lábio inferior e desviei o olhar, procurando não me perder muito em sua beleza. “Santo Deus.”, respirei fundo.

— Já podemos ir se você quiser. — Sua voz soou no ambiente, pegando-me de surpresa e ergui meu olhar outra vez, encontrando o seu e, me sentindo nervosa demais para dizer qualquer coisa, somente assenti.

Ao sairmos do quarto, caminhei na frente em direção ao seu carro enquanto ele trancava a porta, contudo logo fui capaz de ouvir seus passos seguindo atrás de mim. Justin se apressou quando nos aproximamos do carro e destravou as portas, passou em minha frente no momento em que eu estava quase pegando na maçaneta e sorriu galanteador.

— Madame. — Saudou de modo cortês, dando espaço para que eu adentrasse o veículo e não pude evitar o riso que escapou por meu nariz.

— Você não existe. — Disse risonha, sentando-me comportadamente no assento passageiro da frente e ele riu baixo.

Tratei de colocar o cinto enquanto ele dava a volta e se sentava ao lado, e, após também colocar o cinto, iniciou a partida. Tentei fazê-lo contar para onde estávamos indo, entretanto ele se manteve irredutível, dizendo que estragaria tudo se eu soubesse. Dei-me por vencida ao perceber que continuar insistindo não mudaria nada, afinal sua expressão e argumentos deixavam bem claro que ele não me contaria de jeito algum. Tivemos uma breve conversa agradável por um tempo, porém quando o silêncio se fez presente, e eu passei a admirar a cidade passando pela janela – Beaverton era incrível –, o Justin ligou o rádio e logo uma música envolvente começou a tocar.

— Michael Jackson? — Questionei arqueando uma sobrancelha ao reconhecer a voz e ele sorriu largamente.

— Um ídolo. — Rebateu com o peito estufado e eu ri.

— Você tem bom gosto pra música. — Elogiei lembrando-me de já tê-lo visto escutando e cantarolando músicas de diversos artistas fantásticos.

— Você também, John Legend é um ícone.

— Como sabe que eu gosto de John Legend? — Indaguei surpresa, prendendo um sorriso tolo.

— Você vive cantando as músicas dele no chuveiro.

Riu e eu ri também, ruborizada.

— Não acredito que você escutava. — Disse envergonhada, rindo somente para descontrair, mas na verdade queria poder enfiar minha cabeça em um buraco e não sair mais.

— Meu quarto é perto do seu e provavelmente você não deve ter noção da sua voz, porque às vezes canta bem alto.

Senti meu rosto queimando ainda mais. Olhei para o retrovisor no mesmo momento em que ele olhou e desviei o olhar. Ele riu de novo, provavelmente notando minhas bochechas vermelhas e a timidez. Mordi meu lábio inferior.

— Isso é muito sem noção, me desculpe por torturar seus ouvidos. — Ri nervosa e ele gargalhou.

— Não se desculpe, Savannah. — Olhei-o e ele me olhou de soslaio, voltando a focar na estrada rapidamente. — Eu disse que você canta alto, mas isso não significa que você canta mal.

Piscou em minha direção e eu sorri largamente, negando com a cabeça e ele soltou um riso nasal. Seguimos em silêncio ao som de Smooth Criminal e em alguns momentos eu podia escutar o Justin cantarolando baixinho alguns trechos, assim como também me peguei secando-o pelo retrovisor incontáveis vezes. Quando, enfim, chegamos ao local, ele me pediu para esperar no carro, pois sairia para abrir a porta pra mim e com um sorriso preso em meus lábios concordei, apertando nervosamente meus dedos quando ele saiu e deu a volta, sentindo-me ainda mais nervosa quando ele abriu a porta e estendeu sua mão para que eu a segurasse. Do lado de fora olhei para todos os lados, constatando o quanto aquela rua estava deserta e me perguntei para onde estávamos indo.

— Só vamos precisar andar um pouquinho. — Pareceu ler meus pensamentos e eu olhei-o por sobre os ombros. Ele estava checando se as portas estavam seguramente travadas. — É provável que essa hora já não tenha lugar para estacionar lá perto. 

Concordei com um aceno de cabeça e um tempo depois passamos a caminhar lado a lado. Mais a frente um som abafado alcançou meus ouvidos e abracei meu corpo, o vento gelado ricocheteando meu braço e me xinguei por não ter pego um casaco. Viramos em uma rua, que estava repleta de carros estacionados, e mais a frente entramos em um beco e, ao avistar um grande número de pessoas no final do mesmo, arqueei minhas sobrancelhas. A música se tornou mais audível. Na medida em que os passos nos levavam mais pra perto fui avistando garotas com vestidos curtíssimos e uns homens bem vestidos – alguns até mesmo estranhamente engravatados –, todos enfileirados enquanto um segurança controlava o acesso.

— Justin, eu não estou com roupa própria pra balada. — Resmunguei, cruzando os braços na frente do meu peito.

— Relaxa, Savannah. — Pediu e eu mirei-o, ele sorriu pequeno numa visível tentativa de me confortar que não dera nenhum pouco certo.

Ao chegarmos de vez até o local, ele avisou para que eu esperasse um segundo e aproximou-se de um dos seguranças, que quando o viu sorriu animado e sua reação me fez juntar as sobrancelhas. Durante todo o tempo em que o esperei voltar, me senti incomodada com os olhares constantes das pessoas que estavam do lado de fora vindo em minha direção e quando o Justin apontou para mim, enquanto ainda falava com o cara grandalhão, forcei um sorriso na direção deles, olhando rapidamente para um cara que me regulava sem pudor algum na fila ao lado. Respirei fundo e desviei meu olhar, fitando fixamente o chão, extremamente aborrecida com a situação.

— Savannah. — Ergui o olhar ao ouvir o Justin me chamar e ele fez sinal com a mão para que eu me aproximasse.

Engoli seco antes de começar a andar em passos apressados até ele, parando bem próxima de seu corpo em uma tentativa de me sentir segura.

— Você parece nervosa, está tudo bem? —  Perguntou, abaixando seu rosto minimamente para encarar o meu e acabei automaticamente forçando um sorriso.

— Estou legal, erm... — pausei, umedecendo os lábios antes de prosseguir: — Vamos entrar aí?

— Sim, o Isaac acabou de liberar a nossa entrada. — Disse entusiasmado e dei uma breve olhada no segurança moreno e rechonchudo que se encontrava em nossa frente, um sorriso amigável preso em seus lábios, retribui.

 Depois de trocar mais algumas palavras com o homem, estava tão alheia que nem prestei atenção na conversa, o Justin avisou que iríamos entrar e segurou minha mão, aconselhando-me a não soltá-lo em momento algum. Senti um frio na barriga no momento em que passamos pelo outro segurança – que assim como Isaac cumprimentou simpaticamente o garoto ao meu lado –, assustando-me com a cessão de reclamações que se iniciou por termos passado na frente daquelas pessoas, e ao rompermos a porta de entrada, meus olhos estreitaram-se velozmente e a sensação de incômodo apenas aumentou. Automaticamente encolhi meu corpo devido ao som ensurdecedor das batidas de uma música que eu desconhecia se propagando completamente no ambiente.

— Não acredito que estamos numa boate. — Proferi incrédula, aproximando-me de seu ouvido para que ele pudesse escutar e, mesmo de costas, pude vê-lo rindo.

Após mais alguns passos ele subitamente parou e olhou para todos os lados. O lugar não estava cheio, contudo já havia um bom número de pessoas lá dentro. Grande maioria homens. Garotas seminuas andavam de um lado para o outro e cenas pouco agradáveis alcançavam minha visão, assim como umas meninas dançando sensualmente em cima das mesas enquanto os caras babavam e urravam quando elas se demonstravam mais provocantes. Procurei não me prender muito aos detalhes, afinal provavelmente havia muitas coisas ali que eu não gostaria de ver. 

— Não tire conclusões precipitadas. — Ouvi a voz do Justin penetrando meus ouvidos e virei meu rosto minimamente para o lado, me deparando com o seu perto demais.

— É agora que descubro que você é um cafetão que ganha a vida escravizando garotinhas indefesas? — Perguntei com falso temor e ele riu, pendendo levemente a cabeça para trás.

Estava tentando esconder minha insatisfação por estarmos naquele lugar, afinal, de todos o que eu havia imaginando quando idealizei nosso “encontro” tempos atrás, aquele sequer havia sido cogitado. Eu jamais conseguiria tê-lo cogitado. 

 — Você é mais esperta do que eu pensei. — Disse após cessar o riso. — Agora que já descobriu a verdade, nem tente fugir... — Apontou para algo a nossa frente e olhei naquela direção, me deparando com dois brutamontes olhando para nós. O Justin fez sinal para eles e ambos assentiram, arqueei minhas sobrancelhas e em seguida olhei para o garoto ao meu lado de maneira extremamente aterrorizada. Não tardou para que ele estivesse rindo descontroladamente. — Estou brincando, Savannah.

Fingi respirar aliviada e ele riu ainda mais, rolei meus olhos e ele permaneceu rindo. Dei uma breve analisada no local e me encolhi, estar naquele tipo de ambiente era algo novo para mim e admito que não estava me sentindo nem um pouco confortável. A sensação de desconforto apenas triplicou quando uma garota passou por nós vestindo um short com comprimento de no mínimo dois dedos e os enormes peitos pulando para fora de seu cropped tomara-que-caia brilhante, enruguei meu nariz. 

— Olha só se não é o pequenino Justin. — Uma voz masculina distinta surgiu, em um tom alto que ultrapassou o barulho da música e logo meus olhos estavam fixos em um um homem alto e exageradamente musculoso parado ao nosso lado.

— Rony. — Justin o saudou entusiasmado, no mesmo tom de voz, e em seguida ambos se cumprimentaram com um aperto de mão seguido de um breve abraço.

— Confesso que não acreditei muito quando o Harver disse que te viu pela cidade mais cedo. — O homem contou risonho, apertando amigavelmente o ombro do garoto ao seu lado. — Fazia tanto tempo que não aparecia por aqui. Muito ocupado?

— Na verdade eu só quis dar um tempo nas viagens mesmo. — Justin explicou simploriamente, dando de ombros quando o tal Rony afastou sua mão do local, enterrando-a no bolso da calça jeans surrada.

Me permiti momentaneamente analisar Rony e ele era um homem bonito, tinha cabelos ruivos e sua pele era dourada, grandes olhos verdes e as linhas de expressão abaixo de seus olhos me fizeram cogitar que o mesmo devia ter em torno dos quarenta anos. Me mantive distraída durante todo o tempo, intercalando meus olhares do homem grandalhão e o garoto ao meu lado, que estava tão radiante com a presença do outro que me deixava confusa e ao mesmo tempo deslumbrada com toda aquela sua animação. Já estava mais do que óbvio que aquele local era mais do que conhecido pelo Justin. 

— Oh, olha só... — Rony disse mais alto, tirando-me dos devaneios, se aproximando até parar em minha frente e fitou-me minuciosamente. — Quem é essa gracinha, Justin?

Enrubesci e apertei a mão do Justin, que sorriu do comentário do homem e olhou-me momentaneamente depois.

— Essa é a Savannah. — Apresentou-me e o Rony estendeu sua mão para que eu a pegasse, hesitei no primeiro momento, mas, após analisar o Justin e ele sorrir em incentivo, estendi minha mão livre em sua direção e ele beijou carinhosamente o dorso da mesma. Soltei um riso nasal, sentindo-me fortemente envergonhada.

— É um prazer conhecê-la, sou Ronald Stone.

Sorri abertamente e ele lançou-me uma piscadela, instintivamente apertei a mão do Justin novamente e ele riu, visivelmente se divertindo com a situação.

— Prazer em conhecê-lo também. — Rebati, ainda mantendo o sorriso.

— Acho que minha boate nunca recebeu moça mais bonita. — Articulou galante e eu não pude conter o riso, Justin ao meu lado fez o mesmo.

— Ronald, pare de cantá-la em minha frente. — Disse, com falso tom de repreensão e o homem ergueu as mãos na altura da cabeça, demonstrando-se rendido.

 — É sua namorada? — O homem questionou em seguida, visivelmente interessado e eu senti os olhos do Justin em meu rosto.

— Só amigos. — Respondi após ficarmos um breve momento em silêncio.

Sorri de lado e ele arqueou uma sobrancelha, me senti nervosa diante de seu olhar, principalmente por ainda estar com a sensação de que o Justin me fitava atentamente.

— Só amigos? — Rony torceu os lábios. — Garoto, eu esperava mais de você. — Falou aproximando-se do Justin novamente, dando tapinhas nas costas dele e tudo o que o mesmo fizera fora rir com divertimento.

Apenas deixei o riso escapar por meu nariz. Não tardou para que ambos engatassem em uma conversa animada e novamente me distrai, evitando ficar olhando ao redor e me sentir ainda pior com as coisas que aconteciam. Não posso negar o quanto sempre tive curiosidade de estar em um local como aquele, porém, estar naquele momento pouco propício e ainda mais ao lado do Justin, não era algo que eu havia planejado ou que até mesmo, milagrosamente, imaginado. Pensar nele olhando para o corpo daquelas garotas praticamente peladas andando de um lado para o outro e dançando vulgarmente fazia com que meu estômago revirasse, e eu me sentisse inteiramente desconfortável. Ao despertar dos devaneios, e me aproveitando que o Ronald estava distraído conversando com um homem que parou ao seu lado, puxei a mão do Justin, aproximando minha boca de seu ouvido.

— Vamos demorar muito tempo aqui? — Perguntei e me afastei, dando espaço para ele fazer o mesmo.

— Calma, daqui a pouco vamos pra uma área mais reservada e você vai se sentir mais confortável. — Assegurou e eu automaticamente senti meu rosto emburrar, afinal não queria mais ficar naquele lugar e quando uma garota de minissaia passou praticamente devorando o Justin com o olhar a sensação de incômodo somente aumentou. “Você devia insistir mais para irem embora”, meu inconsciente advertiu e eu bufei frustrada.

Como prometido, quando Rony parou de conversar com o outro cara, ele e Justin trocaram algumas palavras e ele assentiu para algo que ele disse, nos guiando para um – segundo eles – lado mais reservado. Facilmente notei que se tratava de uma área vip – com três sofás de couro preto e uma mesa de centro, no meio da mesma um mastro de pole dance –, um pouco distante da movimentação badalada e vulgar, e me senti mais aliviada por não ter mais visão daquelas mulheres dançando. “Só está incomodada assim porque o Justin provavelmente estava olhando.” meu inconsciente acusou-me e eu balancei a cabeça, ignorando. Deixei o Justin conversando com Ronald, era óbvio que tinhas diversos assuntos pra colocarem em dia, e me sentei em um dos sofás. Pausei minhas mãos em minhas coxas e deixei meus olhos vagarem, tentando não assimilar aquele local agradável com o outro lado em que estávamos um tempo atrás e, dessa forma, passei a realmente me sentir mais confortável.

— Por que está com essa carinha? — Justin perguntou, parado de pé em minha frente, encarando-me.

Rapidamente notei que o Rony não estava mais ali.

— Por que me trouxe nesse lugar? — Questionei erguendo meu rosto para encará-lo, pouco me importando se aquilo o incomodaria.

Ele permaneceu pensativo durante um tempo.

— Esse era um lugar que eu frequentava bastante na adolescência.

Arqueei uma sobrancelha, surpresa. Ele sentou-se ao meu lado.

— Eles permitem a entrada de adolescentes aqui? — Perguntei, virando meu rosto em sua direção e tentando soar divertida.

— Só os privilegiados. — Respondeu, convencido e eu ri nasalmente. — Na verdade, Ronald era amigo do meu pai e também era amigo de Steve, por isso eu tinha algumas regalias, tanto que foi aqui que me consagrei pela primeira vez.

— Se consagrou? — Pronunciei, arqueando minhas sobrancelhas e no momento em que a ficha caiu, meus olhos se arregalaram levemente e eu o fitei incrédula. — Você perdeu a virgindade com uma stripper? 

— Não tive alternativa, afinal sou péssimo com cantadas a vida toda. 

Riu em divertimento e eu me mantive séria. Sem saber o que dizer comprimi meus lábios, sentindo-me constrangida ao imaginá-lo perdendo a virgindade, algo que em minha opinião era sagrado e especial, com uma qualquer, como se estivesse apenas acabando com um simples empecilho sem objetivo algum. Um desconforto me dominou e precisei desviar meu olhar do dele, a sensação de massacre devastando meu estômago.

— Quer saber a história? — Prosseguiu e eu ergui meu olhar, constatando que ele aparentemente não havia notado minha reação. Sorriu enviesado e eu franzi minhas sobrancelhas, quase não conseguindo conter a expressão de descontentamento e neguei com a cabeça.

— Honestamente, sem ofensas, mas prefiro nem saber.

Ele riu, daquela maneira suave em que sua cabeça ia um pouquinho para trás e seus dentes reluziram em minha direção, daquela maneira que o deixava irresistivelmente lindo e que me fazia esquecer tudo ao redor. O sorriso que me tirava completamente dos eixos.

— É uma história interessante, apesar do final quase ter sido trágico.

— Trágico? — Repeti com interesse, sentindo a curiosidade, numa velocidade surpreendente, se tornando maior do que o incômodo que havia me dominado. 

Pude vê-lo prender um sorriso satisfeito. 

— É que a princípio o Rony havia disponibilizado a garota mais nova que ele tinha, na época eu estava prestes há fazer 17 e ela tinha 23. 

— Wow Justin, você perdeu a virgindade quando ainda tinha 16 anos, com uma mulher de 23? — Interrompi-o completamente incrédula, minha voz saindo uma oitava mais alta do que eu havia planejado. 

Ele riu, balançando a cabeça.

— Tem como você me deixar terminar de contar? — Pediu risonho, de uma maneira extremamente suave e eu sorri feito tola, esfregando minha sobrancelha esquerda enquanto o rubor me dominava.

— Claro, me desculpe. — Rebati, encolhendo meus ombros e quando ele abriu a boca para prosseguir, cortei-o: — Mas não dê muitos detalhes, por favor.

Após liberar um riso nasal, ele assentiu veemente.

— Continuando... — gesticulou, divertido. — Estava tudo sendo combinado para que eu ficasse com a Acácia, mas, antes de tudo ser confirmado, conheci a Barbara e meio que rolou um clima legal entre a gente — sorriu pequeno e eu forcei um sorriso —, só que o Rony jamais daria consentimento para que eu ficasse com a filha dele, então uma noite viajei até Beaverton sem que ele e Steve soubessem e me encontrei com ela. Juro que não pensei que o pai dela ia ficar tão enfurecido caso futuramente descobrisse, afinal ela tinha 18 anos e já não tinha uma fama muito favorável entre os clientes do bar — estalou a língua no céu da boca, enrugando o nariz —, mas no outro dia de manhã quando acordei com os berros do Ronald, percebi que estava errado e bem ferrado. — Riu e eu mordi meu lábio inferior, forçando meu cérebro a não projetar imagens do acontecido. — Ele ainda pensava que a filha era virgem e naquela época não nos dávamos bem como agora, então precisei implorar muito pra ele não me dar um tiro enquanto me colocava pra fora segurando uma espingarda. — Riu, balançando vagamente a cabeça e ao imaginar Ronald surtando daquela maneira não pude evitar uma breve gargalhada. Quem os viesse conversando como eu havia visto pouco tempo atrás jamais imaginaria que uma situação daquelas havia ocorrido entre ambos. — Depois, pra ele não ficar pegando no nosso pé, fingimos que estávamos apaixonados e iniciamos um relacionamento. — Fez aspas, rindo nasalmente. — Segundo a Barbara, aquela era uma maneira de nos aproveitarmos um do outro sem realmente nos prender em uma relação séria.

— Aposto que você adorou tudo isso. — Após digerir sua história, comentei forçando um riso.

— Ah — deu de ombros —, foi divertido. Nada muito marcante.

— Então quer dizer que vocês se relacionaram e não significou nada pra você?

Arquei uma sobrancelha e, após um tempo pensativo, ele simplesmente concordou.

— Aposto que também não significou muita coisa pra ela. — Defendeu-se, dando de ombros outra vez. Completamente despreocupado. — Tivemos um relacionamento aberto, mas é óbvio que ela aproveitava muito mais do que eu.

— Uau Justin, não sabia que você era adepto aos relacionamentos abertos. Então quer dizer que existe um canalha aí dentro de você?

Ele gargalhou e os pelos da minha nuca ouriçaram-se. Sorri sem mostrar os dentes.

— Vai me dizer que você nunca teve suas diversões, Savannah? — Contestou risonho. — Nunca namorou com alguém só pra se refugiar?

— Não, porque, diferente dessa sua visão moderna quando ainda só tinha 16 anos — ele gargalhou outra vez —, eu fui muito burra e ao invés de um relacionamento aberto, investi em um traumático relacionamento sério. — Respondi secamente, desviando meu olhar do dele e passando a me entreter com meus dedos.

— O tal de Andrew, né? — Indagou e eu anui, forçando a indiferença. — Por que acabou?

— Porque o babaca me traiu atrás de uma arquibancada, com uma líder de torcida vadia e as fotos saíram na capa do Jornal Estudantil.

Senti a raiva da lembrança rapidamente me dominando e engoli em seco, forçando um sorriso em seguida.

— Mas agora tanto faz. 

Forcei um riso enquanto dava de ombros, tempo depois senti a mão do Justin segurar a minha, fazendo-me parar meus equívocos movimentos e sua outra mão pausou em meu queixo, virando meu rosto em direção ao seu.

— Não fica assim, Sav. — Murmurou, mantendo um sorriso torto de incentivo. — Aposto que ele deve se arrepender até hoje por ter perdido uma garota tão linda e incrível como você. — Acariciou meu queixo e, como sempre, todos os poros do meu corpo deram sinal de vida. — E aposto que têm vários outros caras por aí loucos pra ter uma chance... — focou profundamente em meus olhos. — Não feche seu coração por causa disso, não se feche porquê um babaca não soube te dar o valor que você merece.

Um sorriso largou esboçou-se em meus lábios e ao vê-lo sendo espelhado nos do Justin, uma vontade enorme de avançar o pouco espaço que separavam nossos rostos e beijá-lo sem nem me importar com o que aconteceria depois me dominou, no entanto vozes soando cada vez mais próximas foram o motivo por nos afastarmos e logo Ronald estava em nossa frente, porém daquela vez estava acompanhado.

— Barbara. — Justin murmurou surpreso e eu arqueei uma sobrancelha.

— Vejam só se não é o quase desaparecido Justin Bieber. — A garota ruiva disse e logo senti o corpo do Justin se afastando do meu no momento em que ele rapidamente se levantava para, em seguida, abracá-la fortemente.

Senti meu corpo retesar e abaixei meu olhar, apertando uma de minhas mãos em punhos, afinal – para tirar cruelmente a minha paz e a esperança que me dominavam – a filha de Ronald era, completamente, a personificação da perfeição. Tinha um corpo bonito, curvas de dar inveja, um enorme e bem tratado cabelo ruivo e seu rosto parecia de uma Barbie. Senti minha feição endurecendo de insatisfação e tentei filtrá-lo, respirando profundamente.

— Por que andou tão sumido? — Ela voltou a falar e ainda mantive meu olhar distante.

— Depois que Steve morreu, meio que precisei de um tempo longe daqui. — Justin contou, explicando-se melhor para ela do que para Ronald, que por sinal aparentemente não estava mais por perto, e eu quase bufei entediada.

— Meu pai disse que está com um namorada. — Barbara comentou, rindo e eu arregalei meus olhos, erguendo repentinamente minha cabeça e logo meus olhos encontraram seus enormes orbes verdes. — É você? — Continuou, se aproximando de mim e encolhi meu corpo, me sentindo intimidada enquanto ela sorria simpática. — Boa escolha, Justin. Ela é linda. Como se chama?

— Savannah. — Falei e minha voz saiu vergonhosamente baixa, me soquei mentalmente e disfarçadamente pigarreei, levantando-me e dando alguns passos para o lado. — E eu e o Justin somos só amigos.

— Sério? — Interrogou, arqueando uma sobrancelha, lançando-me um olhar duvidoso.

— Sim. — Respondi com mais convicção, olhando para Justin que estava um pouco atrás dela, com um sorriso torto nos lábios, como se estivesse se divertindo com tudo aquilo.

 — Pode ficar tranquila, só quero saber suas intenções com meu irmãozinho. — Prosseguiu e eu arqueei uma sobrancelha.

“Bem bizarro você ter tirado a virgindade do seu irmãozinho, não acha?” Ri nasalmente do meu questionamento interno, erguendo uma sobrancelha.

— Intenções de ser amiga dele? — Rebati, ainda com a sobrancelha arqueada e ela riu, sua risada tinha um som agradável. 

“Óbvio que você adoraria ser muito mais”, meu inconsciente lembrou e encolhi levemente meus ombros.

— Sou Barbara Stone. — Apresentou-se após um tempo me encarando, estendendo sua mão e eu apertei-a brevemente. — Ela é uma gracinha, Justin.

Virou-se na direção dele e o mesmo riu, balançando a cabeça. 

— Vou pegar alguma coisa pra bebermos, tenham juízo. — Piscou em minha direção e eu senti minhas bochechas esquentarem.

Em seguida avistei-a afastando-se, rebolando com sua minissaia e blusinha mostrando a barriga chapada, e um salto extremamente alto no qual ela andava tranquilamente, como se estivesse andando descalça.

— Divertida, não é? — Justin perguntou, quebrando o silêncio e eu rolei os olhos, sentando-me outra vez. 

— Por que ela te chama de irmãozinho? — Perguntei, não podendo conter a curiosidade e ele soltou um riso nasal.

— Porque sou mais novo. 

— Muito interessante... — Arqueei uma sobrancelha de maneira sarcástica e ele espremeu levemente os olhos. — Ela é bem bonita, por que vocês terminaram?

Ele enfiou as mãos nos bolsos frontais da calça, sua expressão calma.

— Barbara é uma garota muito indecisa. — Contou, encolhendo levemente os ombros. — Eu curtia muito o que tínhamos, mas como Rony pensava que nosso relacionamento era sério e ela não se comportava, chegou um dia que acabei me cansando. 

— Ronald descobriu que vocês ficavam com outras pessoas? 

— Descobriu que ela ficava com outras pessoas, porque posso contar nos dedos de uma mão quantas vezes pulei a cerca, mas perdi as contas de quantas vezes ela pulou. — Riu fraco. — Eu não me importava, porque não sentia nada de mais por ela a não ser desejo, mas ficar com fama de chifrudo era a última coisa que eu estava a fim.

Ergui minhas sobrancelhas, demonstrando entendimento e me perguntei como uma garota tão bonita como Barbara podia se sujeitar aquele tipo de situação, afinal, era evidente que, ela poderia ter qualquer cara que quisesse em seus pés. E, acima de tudo, teve a maravilhosa chance de estar com o Justin e não soube valorizá-lo ao ponto de fazê-lo gostar dela de uma maneira diferente. Contudo, não possuía valorização própria.

— Ela é muito bonita, mas se nem mesmo ela consegue se levar a sério, quem vai levar? 

Sem saber como respondê-lo, afinal de contas – independente de qualquer coisa – não tinha direito algum de julgá-la e querer opinar sobre sua vida. Então permaneci quieta, apenas balançando minha cabeça em entendimento e ele suspirou.

— Há quanto tempo vocês ficaram juntos? — Questionei, enrolando a barra do meu vestido e devido ao fato dele não parecer incomodado em falar sobre aquilo, não hesitava em continuar.

— Fingindo namoro, foram poucos meses. — Replicou, com uma expressão meditativa. — Mas ainda saíamos juntos até a última vez que eu vim aqui, que foi um pouco antes de Steve ficar doente.

— Steve era irmão do seu pai, certo? — Prossegui e vi-o enfiando nervosamente as mãos ainda mais fundo em seu bolso.

 — Na verdade ele e papai eram amigos de infância, mas se consideravam irmãos. — Respondeu, mantendo seu olhar em qualquer outro lugar que não fosse meus olhos.

— O que ele teve? — Desafiadoramente continuei, tentando me aproveitar para descobrir mais coisas enquanto ele estava aparentemente empenhado a responder, mesmo que se demonstrasse mais inquieto. 

— Câncer e quando descobriu a doença já estava em um estágio avançado. — Vi seus olhos brilharem ao longe e uma pontada atingiu meu peito. — Só fiquei sabendo quando sua saúde piorou e depois disso, não demorou muito para que ele falecesse.

Avistei uma lágrima escorrendo dos olhos do Justin e, sem nem pensar, me levantei. Caminhando em sua direção e o tomando em um abraço apertado, afagando seus cabelos em uma tentativa de fazê-lo se sentir melhor.

— Me desculpe. — Pedi, sentindo-me culpada e um nó se alojava em minha garganta.

— Não se desculpe, está tudo bem. — Assegurou, apertando-me mais forte. — Demorei um tempo pra me sentir bem depois que Steve morreu e eu me sentia tão sozinho — suas palavras e a tristeza presente na forma como elas foram ditas, me atingiram dolorosamente —, mas as coisas melhoram quando — desfez o abraço e afastou-se até seus olhos, ainda lacrimejados, encontrarem os meus. Um sorriso desenhando seus lábios — conheci você.

Um sorriso inconsequente brotou em meus lábios e meus olhos encheram-se de lágrimas.

— No começo eu fui bem pé no saco. — Falei, rindo e ele riu também.

— Eu também fui, mas diferente de muitas outras pessoas, você não desistiu de mim.

Ruborizei, sorrindo tímida e ele aproximou-se alguns passos.

— Já parou para pensar que se colocar um “e” no final do seu apelido, ele vai combinar perfeitamente com você? — Perguntou sem mais nem menos, depois de passarmos um tempo nos encarando e eu ri, as lágrimas ainda presentes em meus olhos.

— O quê? — Ri novamente, perdendo-me na profundidade de suas íris cor de mel. — Por que?

— Save... — Murmurou mexendo na ponta dos meus cabelos, um sorriso preso no canto de seus lábios. — Você realmente costuma salvar as pessoas.

Um largo sorriso esboçou-se em meus lábios e ele permaneceu sorrindo enviesado, analisando-me atentamente e meu coração batia feito louco em meu peito. Uma felicidade incabível transbordando em meu peito e no segundo seguinte eu estava abraçando-o novamente, mais forte do que anteriormente. Um desejo gigantesco de abrir o jogo de uma vez, de contar, naquele instante, o que eu sentia por ele, porém eu estava tão extasiada que nem ao menos conseguia formular qualquer frase coerente. 

— Opa, desculpa atrapalhar o casal. — Barbara disse e sorrateiramente me afastei do Justin, disfarçadamente secando meus olhos antes de virar na direção da mesma. — Trouxe umas bebidinhas.

Ergueu três garrafas de cervejas e eu umedeci meus lábios.

— Na verdade, preferia uma água. — Torci meus lábios, lembrando do porre terrível que havia tido e a garota me encarou. — Eu não bebo. — mais, concluí mentalmente.

— Sério? — Questionou, incrédula. — Onde você a encontrou, Justin? — Prosseguiu, aproximando-se para entregar uma garrafa pra ele, que sorriu em agradecimento após pegá-la. — Em um convento?

Arqueei uma sobrancelha e ao meu lado o Justin riu, Barbara riu também e, mesmo que parte de mim tivesse se sentido ofendida pela brincadeira da mesma, igualmente acabei rindo. Afinal, ela parecia um bocado legal apesar da aparência e das coisas que o Justin havia me dito. No fundo, provavelmente era só uma garota como qualquer outra, extremamente porra-louca, mas parecia feliz daquela maneira e, no final, acho que só aquilo contava. 

— Bebe só uma cervejinha, não vai perder seu lugar no céu por isso. — Piscou, estendo a garrafa em minha direção e eu soltei um riso nasal.

— Pode pegar, Sav. — Justin falou e eu olhei-o indecisa. — Estou aqui pra cuidar de você e como vou dirigir, prometo também não exagerar.

— Muito bonitinho e tudo mais, mas agora pega essa cerveja logo, garota. — Barbara ordenou.

Ri enquanto pegava a garrafa e ela sorriu satisfeita, sem demora dando uma longa golada em sua bebida. Ficamos bebendo e jogando conversa fora durante um tempo. Barbara era repleta de histórias loucas pra contar e eu ri horrores de suas maluquices, algumas particularidades contadas sem pudor algum. Depois de um tempo Ronald se juntou a nós, acompanhado de seu irmão, Harver, que também fez comentários sobre eu e Justin sermos namorados, porém daquela vez eu pouco me importei e entrei na brincadeira. Justin e eu estávamos sentados em um sofá enquanto no sofá à nossa frente, depois da mesa de centro, estavam Barbara, Ronald e Harver. Eu havia bebido duas cervejas e o Justin três e quando estava indo para a quarta, lembrei-o que havia prometido não exagerar e, contragosto, ele concordou. Por alguns instantes até mesmo esqueci que estávamos em uma boate e do incômodo que eu havia sentido ao chegar ali, esquecendo-me de completamente tudo, pois estava rodeada de pessoas extrovertidas e, principalmente, ao lado do Justin.  Tendo o privilegio de vê-lo contente daquela maneira. Completamente diferente do Justin de Portland que era constantemente atormentado por seus demônios e, mesmo tendo me apaixonado por seu outro lado – todo bagunçado –, estava sendo gratificante conhecer aquele seu outro lado. Era maravilhoso saber que por trás de toda sua paranóia existia um cara como qualquer outro, e/ou até mesmo melhor. No fundo eu sempre soube que através de suas nebulosidades residia algo fantástico, um Justin que ainda podia ser salvo.

Ronald contou diversas histórias engraçadas sobre o Justin, entretanto a mais engraçada foi sobre a primeira vez que ele foi na boate com Steve e ficou espiando as strippers trocando de roupa no banheiro, e então foi pego por um dos seguranças e começou a chorar com medo de apanhar. 

— Claro, eu era um magricela e o cara parecia cosplay do Hulk. — Justin esclareceu após parar de rir escandalosamente.

— Você era muito covarde. — Barbara disse, debochando.

— Me dá um desconto, eu só tinha 12 anos. — Ele continuou, tentando não rir de si mesmo.

— Lembro que o Steve mandou você ficar esperando lá fora e até hoje não sei como conseguiu burlar os seguranças da entrada. — Harver relatou, rindo nasalmente. 

— E convenhamos, você só pagou por sua desobediência e eu até sugeri ao Steve que deixasse Jason te dar uma boa lição. — Ronald contou, esboçando um sorriso perverso.

— A compaixão que você sentia por mim era surpreendente. — Justin articulou zombeteiro e todos riram, inclusive eu.

Perdemos completamente a noção da hora e quando Justin olhou no relógio, e me disse que estava perto das cinco horas da manhã, decidimos ir embora, visto que voltaríamos para Portland no dia seguinte. Barbara insistiu para que adiássemos a viagem para segunda-feira, contudo lhe expliquei que não havia como, pois trabalhava e tinha mesmo que voltar. No final, após muita persistência, ela acabou dando-se por vencida. Tivemos mais uma longa conversa do lado de fora do local, que ainda estava cheio de gente – um número ainda maior do que quando havíamos chegado –, e precisei esperar o Justin se despedir de todos, inclusive os seguranças, antes de irmos embora – depois de praticamente sermos obrigados a prometer que voltaríamos em breve.

Caminhamos silenciosamente até onde o carro dele estava estacionado. 

— O que achou? — Justin perguntou quando já estávamos na estrada, seu CD do Michael Jackson tocando outra vez.

— Ah, foi melhor do que eu esperava. — Respondi sincera e ele riu contidamente.

O resto da partida até o motel foi silenciosa e, assim que chegamos, fui a primeira a descer. Sem esperá-lo abrir a porta para mim novamente. Esperei-o antes de começar a caminhar em direção ao quarto e após entramos, e o Justin ligar a luz, avistei-o se jogando na cama e ri nasalmente. Fui até onde estava minha mochila, tirei as sapatilhas e peguei meu pijama do Bob Esponja, indo me trocar no banheiro – aproveitando para escovar os dentes e me livrar do hálito de cerveja – e quando saí ele ainda estava jogado na cama, com os olhos fechados. Evitando olhá-lo, penteei meus cabelos com os dedos enquanto caminhava até o sofá, guardei o vestido e fechei a mochila.

— Gostei do pijama. — Me sobressaltei com a voz dele ecoando no ambiente silêncio.

— Bob Esponja é o melhor. — Falei, virando-me em sua direção e ele estava escorado nos cotovelos, a cabeça erguida e os olhos encarando-me.

— Savannah, eu estava pensando — disse e levantou-se após um tempo hesitante. —, noite passada eu tive que dormir nesse sofá desconfortável. — Apontou o móvel atrás de mim. — Não tinha quarto duplo disponível... E eu estava pensando que... — calou-se, arqueando as sobrancelhas. — Não, isso é loucura. Esqueça.

Estalou a língua no céu da boca e deu alguns para trás, passando a mão nervosamente por seus cabelos e suspirando.

— Não, Justin. Pode falar, me conte o que estava pensando. — Pedi, praticamente supliquei e as suposições que meu cérebro criou fizeram com que as, peculiares, reações em meu corpo dessem fortes sinais de vida.

— Eu estava pensando se... — parou, em seguida respirou fundo. — Você se importaria de dormirmos na mesma cama?

O tom inocente e vacilante de sua pergunta beirou a insanidade quando cada palavra adentrou meus ouvidos e meu coração, imbecilmente, disparou feito louco. A necessidade ensandecida de não negar sua proposta, contudo o característico nervosismo bloqueava os comandos para meu corpo e qualquer tipo de raciocínio lógico. “Diga alguma coisa”, minha voz interior sugeriu, chacoalhando-me de maneira que me fizesse despertar para a realidade. “Diga alguma coisa”, repeti para mim mesma.

— Você alugou o quarto, Justin. — Comecei, balançando vagamente minha cabeça. — Tem todo direito de dormir na cama e já que ontem você teve que dormir no sofá — torci meus lábios, sentindo-me culpada, pois ele provavelmente havia dormido lá para me beneficiar e – mesmo tendo percebido que estávamos em um quarto para casal no momento em que acordei – eu nem ao menos havia me importado. —, eu posso dormir nele essa noite — sugeri, sendo movida pela impulsão, mas seria tolice negar o quanto na verdade eu adoraria dormir com ele. —, não há problema algum.

— Não, Savannah. — Ele interveio rapidamente, gesticulou momentaneamente com as mãos, procurando visivelmente  a melhor maneira de se expressar e esperei pacientemente. — Eu, erm — pausou, umedecendo os lábios e desviou o olhar. —, eu não... — coçou a nuca e seu nervosismo me deixava ainda mais nervosa. — Eu não me importo de dormirmos na mesma cama.

— Também não me importo. — Soprei após superar a perplexidade e, estupidamente, minha voz soara vulneravelmente baixa. 

Justin ergueu o olhar até encontrar o meu e a tensão que emanou daquele contato me perturbou. Engoli em seco, sentindo-me invadida pela maneira como ele me analisava e não me recordava de já tê-lo visto me olhando daquela modo antes, de maneira tão impetuosamente direta. Sensações devastadoras atacaram-me internamente.

— Tudo bem então. — Concordou, após o indeterminado tempo em que passamos nos encarando. — Se importa se eu dormir sem blusa?

Automaticamente neguei com a cabeça, ainda petrificada, e me perdi mais ainda em admirações quando o assisti livrando-se de sua camisa, jogando-a sobre o ombro esquerdo e em seguida passou a mão pelos cabelos, desgrenhando completamente os fios e um suspiro audível quase escapou por entre meus lábios. Por sorte consegui violentamente contê-lo. Desviei meu olhar, jogando meus cabelos para trás e afastando-me alguns passos ao notá-lo se aproximando, para guardar a peça de roupa em sua mochila e pegar algo que julguei ser uma bermuda. Para escapar dos anseios de contemplar seu tronco desnudo, forcei um bocejo e esfreguei meus olhos, indo em direção à cama e me enfiando em baixa das cobertas, no mesmo lado que havia dormido noite passada, virando-me de frente para o criado-mudo. Ouvi o barulho vindo do banheiro e virei minha cabeça disfarçadamente, notando que a porta estava aberta e comprimi meus lábios, quase rindo nervosamente ao constatar que ele sequer havia se dado ao trabalho de fechar a porta enquanto se trocava e logo fui dominada por um calor descomunal. Arrumei-me na cama novamente, fincando minha cabeça com força no travesseiro e fechei meus olhos, esforçando-me arduamente para abandonar todos os pensamentos que me atormentavam e conseguir realmente dormir. Contudo, não sentia resquício de sono algum. Tentei fingir já estar dormindo quando o Justin apagou a luz e deitou-se, cautelosamente, ao meu lado na cama e em meio ao ambiente silencioso a respiração forte dele tornou-se bastante notável. De tal maneira que quando a senti batendo em minha nuca, todos os poros do meu corpo agressivamente se eriçaram, como se aquele ato houvesse até mesmo arrepiado minha alma, e, movida pelo incitamento, quase contrai meu corpo ao senti-lo adentrando os cobertos, entretanto suspirei fundo – como se verdadeiramente estivesse dominada pelo sono – e me mantive intacta.

— Boa noite, Sav. — Sussurrou e um sorriso automático, e extremamente abobalhado, desenhou meus lábios.

Ainda empenhada em fingir estar adormecida – por saber que agiria tolamente caso demonstrasse que ainda estava acordada –, esforcei-me para ignorar a perturbadora aproximação de seu corpo e suas lufadas de ar que ainda golpeavam uma das partes mais sensíveis que meu corpo possuía. No entanto, na medida em que a respiração dele fora se tornando calma e em um provável ato de inconsciente ele aproximou ainda mais seu corpo do meu, aquecendo-me com o arrebatador calor que sua pele emanava, fui sentindo minha mente lentamente distanciando-se e meus sentidos sendo entorpecidos. De modo que o último pensamento a me dominar fora um suplicante desejo de que quando voltássemos para Portland, e, portanto, tivéssemos que lidar com as consequências de nossa fuga, às coisas não mudassem outra vez. E que eu pudesse tê-lo perto de mim, e cada vez mais perto, daquela maneira e de diversas outras, constantemente.


Notas Finais


Hey meninas, tudo bem com vcs? Então, nem vou me prolongar muito por aqui... O tempo tá realmente escasso e ainda tem o fato de eu estar com tudo o que quero no cap preso na cabeça, mas estar tendo grande dificuldade na hora de descrever :x mas enfim, o importante é que cá estou eu outra vez e esse cap deixou um gostinho mais forte de Javannah né? A partir do próximo, muitas surpresas estarão por aí! Vou tentar postar o mais breve possível ok? Só peço que sejam pacientes, porque estou precisando muito me adaptar. De qualquer maneira, os caps já são grandes p compensar a demora entre uma att e outra, porque eu nunca sei quando vou conseguir postar de novo e assim vcs tem bastante p ler e acho n dá tempo de sentir saudade até a nova att adkhsakh. Um super beijo pra cada uma de vcs paranoicas. Obrigado pelos favs, pelos comentários ( leio, amo e sempre destaco) e não esqueçam de comentar, a opinião de vocês é sempre, e muito, importante! Xx ♥


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