História Parchments and Death Eaters- Dramione - Sobre o frio, o medo e a paixão

 Quando abri os olhos não sabia quanto tempo tinha dormido. Lembrava da paz e da plenitude, o cheiro impregnado em cada parte da cama, as pernas pesadas apoiadas em mim e as mãos que me acariciavam, pequenos beijos esporádicos no meu ombro e a respiração tranquila entre meus cabelos. É logo nada... apenas o sono tranquilo e a certeza que nada poderia ser melhor que isso...

Mas agora a luz invadia o quarto entre as cortinas que esqueci de fechar, não devia ter amanhecido mais já estava ficando claro, tentei me virar mais estava presa, ele tinha o braço me segurando possessivamente e sua perna estava em cima de mim; senti o cabelo suave tocar meus ombros quando ele rocou o nariz e se acomodou ainda mais em mim. Estava dormindo... Merlin, como poderia ser tao perfeito?

 Eu precisava sair da cama, me sentia agora estranhamente sufocada. Com muito cuidado e esforço, levantei o braço dele e deslizei apoiando novamente sobre a cama. Ele se acomodou um pouco e aproveitei o momento para afastar a perna e sair da cama, tinha uma necessidade urgente de sair do quarto, mais não podia, simplesmente não queria...Eu já não conseguia ver o antigo Malfoy que sempre me humilhou, aquele arrogante e preconceituoso, que tantas vezes me fez chorar com insultos. Já não, ele agora era apenas Draco, o homem de rosto forte e elegante na minha cama não expressava arrogância e superioridade, ao contrario... ele agora parecia estranhamente vulnerável e exposto. Em pouco mais de vinte e quatro horas tinha mudado a imagem que passou anos construindo. Ele tinha um coração, tinha sentimentos e isso tudo parecia absurdamente errado. Ele continuava sendo Draco Malfoy e eu Hermione Granger; um puro sangue e uma nascida trouxa. Se eu aceitasse a oferta que o Ministro tinha me feito eu poderia ser uma inominável, também ajudaria os aurores em algumas missões, mas ele continuava sendo um Ex. Comensal da Morte, essa maldita guerra ainda estava nos dividindo, ainda que apenas dentro de mim. Como se o ar estivesse escasso; me dirigi a porta, mas antes de sair percebi que não vestia nada, peguei uma calcinha e a camisa dele; era o que eu tinha mais perto no momento e andei silenciosamente, mais não para a porta como minha cabeça ordenava; andei ate a cama puxei os lenções o cobrindo com cuidado, com um aceno de varinha acendi a lareira e fechei as cortinas, agora apenas podia definir o volume na cama e o cabelo loiro espalhado pelo travesseiro.

  Quando cheguei a cozinha coloquei a agua para ferver e fiquei muito quieta, me perdi em pensamentos enquanto olhava pela grande janela de vidro, a montanha estava branca e a neve caia sem trégua mas a casa estava magicamente aquecida e confortável. Era exatamente como eu me sentia, tinha medo pela segurança do Malfoy; tremia só em lembrar como o encontrei e o que poderiam fazer com ele, o que poderiam fazer comigo... mas de uma forma estranha me sentia protegida com sua presença. Não tinha contado o que aconteceu com a mãe dele, que a casa dele tinha sido atacada. Por medo... medo por ele, dele sair da casa e se colocar em perigo. Não entendi isso ontem, não entendi porque não consegui contar em nenhuma das conversas que tivemos, mas agora tudo parecia muito claro, como também estava claro que eu não poderia adiar muito a conversa, ele tinha direito de saber. Quando escutei apito da chaleira me sobressaltei, ainda um pouco desorientada preparei o chá e fui para sala, vestindo um short que estava numa pilha de roupas dobradas que eu tinha esquecido de guardar. Sentei no sofá com a xicara entre as mãos e peguei alguns pergaminhos das minhas investigações sobre a magia branca que estive revisando no dia anterior, mas antes mesmo de terminar de ler o primeiro ouvi algumas batidas apressadas na porta e me sobressaltei novamente, desta fez derramando o chá quente. Levante um pouco alarmada e peguei a varinha antes de me dirigir a porta com cuidado. Quando cheguei perto o suficiente, pude distinguir pelo vidro da porta a figura vestida de preto e com os cabelos tipicamente despenteados. Respirando com alivio abri a porta, mas como meu corpo ainda estava em alerta mantive a varinha firme.

_ Cuidado com isso Mione!_ Harry estava com uma aparência horrível e parecia ter dormido muito pouco.

_Desculpe Harry, entra . _Me afastei para deixa-lo passar e analisei desconfiada o exterior da casa antes de fechar a porta magicamente

_Porque você esta nervosa Hermione? Parece esta esperando ser atacada a qualquer momento...

_ Aconteceu alguma coisa Harry?  _ Eu realmente estava ficando paranoica, ou tinha acontecido algo grave, Harry não costumava aparecer na minha casa antes de amanhecer, o notei empalidecer levemente.

_Preciso da sua ajuda, hoje de madrugada houve outro ataque ... _ Fiz um gesto exasperado para que ele continuasse, mas ele estava cada vez mais pálido. _ Atacaram o Zabini na casa dele, Luna estava dormindo...  Eu... Hermione...  _Senti o meu corpo enrijecer, sabia o que poderia vir em seguida...

_ Harry, a Luna se machucou?

_A Luna desapareceu, eles a levaram.

_ O Zabini? _ Pensei em Draco dormindo tranquilamente, e sentir uma vontade enorme de vomitar quando pensei que Luna poderia ter sido levada pelas mesmas pessoas que o atacaram.

_Ele não esta sendo de muita ajuda, esta fora de si. Apenas disse que eles perguntaram pelo Malfoy, queriam saber o paradeiro dele . _ Senti o coração gelar e comecei a tremer descontroladamente.

_ Harry, vamos a cozinha, precisamos conversar... Sobre o Malfoy...

 A boca dele se abriu levemente,  ele me olhou incrédulo quando terminei de contar como tinha encontrado o Malfoy, que o tinha cuidado e que ele estava dormindo tranquilamente no andar de cima. Esta claro que eu ocultei algumas informações.

_ Você estava com ele esse tempo todo, enquanto todos os aurores estavam mobilizados o procurando?_Ele estava ficando com um tom de vermelho que eu já conhecia bem

_Eu não estava com ele; estamos falando de uma pessoa e não de um objeto Harry, eu apenas estou cuidando.

_Mas poderia ter me contado... porque você não me contou isso ontem quando foi ao ministério; por acaso não confia em mim? _ Senti o sangue subir ao rosto, não podia dizer ao Harry que tinha medo que ele fosse preso, também não podia dizer que temia pela segurança dele.

_Não e isso Harry...

_ Hermione, você esta em perigo agora, você sabe disso não é? 

_Eu sei, mas estou sendo cuidadosa; a casa esta magicamente protegida.

_ E quando você sair daqui?_ Ele estava muito serio, recuei um pouco me dirigindo ao fogão e comecei a preparar chocolate quente enquanto ele falava todos os perigos que eu estava exposta e o quanto fui irresponsável.

_Toma, você precisa comer algo. _ Entreguei a xicara a ele e sentei me apoiando no balcão e olhando para fora, enquanto ele provava em silencio.

_Você vai aceitar a proposta do ministro? _ Sentia os olhos dele em mim com expectativa, Mas estava ausente; eu estava exatamente um andar a cima, temendo pela vida de todos que eram importantes para mim, isso agora incluía mais uma pessoa.

_ Esta começando tudo outra vez não é Harry? _Não queria ver a confirmação nos olhos verdes que sempre foram tao sinseros e transparente para mim.

_Agora não sabemos a que, ou quem enfrentamos Mione; não sabemos quem é o alvo principal; a única conclusão que cheguei até agora é que eles querem algo do Malfoy, também esta claro que Malfoy não quis colaborar...

_E como esta Narcisa? 

_A ultima vez que passei no hospital ela estava dormindo. Esteve consciente mais só perguntava pelo filho...  Ele deve estar querendo vela, em todo caso esta claro que não foi ele que a atacou. Acho que posso acompanha-lo ate o hospital para ver a mãe depois do depoimento dele.

_Harry... ele não sabe que a mãe foi ferida, ele não pode ir...

  Não terminei o que ia dizer, Harry enrijeceu e ficou olhando muito serio para a porta, quando busquei o que tinha desviado a atenção dele fiquei gelada. Ele estava parado, estático na entrada da cozinha. Parecia uma estatua de Mármore pálida, o único vestígio de humanidade era o cabelo despenteado e o peito desnudo que subia e baixava violentamente. Era o Malfoy, o mesmo de anos atras com olhos frios e indiferentes, me olhava, não desviou o olhar um segundo nem mesmo quando Harry se levantou para falar com ele. O olhar era frio, indecifrável, tinha ódio, decepção e algo mais que não eu saberia definir. Notei como a mão que segurava o bastam tremer levemente , os nós dos dedos estavam brancos, ele deu um Passo e eu levantei derrubando o banco. Harry segurou o braço dele com firmeza e percebi ele apertar o maxilar enquanto girava o rosto levemente para Harry.

_Como ela esta? _A voz mais parecia um rugido baixo, o tom de voz lembrava muito o tom que usava da época de escola, mas eu sabia que o ódio não era dirigido ao Harry; é sim a mim, eu quase ouvi algo se quebrar dentro de mim nesse momento.

_Esta bem, ela foi bem cuidada Malfoy, esta em segurança e temos aurores protegendo-a...

_Quando aconteceu? _ O cabelo despenteado chegava a altura do maxilar e notei a rigidez  quando ele afastou o cabelo do rosto.

_ Na mesma noite que você foi atacado, acredito que depois que Hermione te encontrou. _ Ele desviou o olhar para mim por segundos, encolhi por dentro desejando que ele não tivesse feito isso.

_ Malfoy... _ Tentei falar, mais ele apenas respirou de forma brusca e girou para sair da cozinha, antes de sair parou, girou o rosto e sorriu de uma forma que me pareceu macabra.

_ Potter... _ Com um olhar de compreensão de Harry para mim entendi que eles precisavam conversar, e que Malfoy não me queria presente.

Ele se afastava com dificuldade, notei que mancava mais que no dia anterior, e lembrei de todo o esforço que ele tinha feito a noite... que nos dois tínhamos feito, ele não parecia sentir dor naquele momento, apenas paixão e ansiedade; agora não havia nada... apenas a indiferença. Fiquei parada pelo que me pareceu horas, algum tempo depois Harry apareceu na cozinha e parou ao meu lado, me rodeando com o braço e beijando minha cabeça com carinho, engoli secamente quando um nó se formou na minha garganta com uma triste compreensão.

_Preciso ir... Mione, ele quer vir comigo._ Confirmei com a cabeça, não sabia exatamente o porque  _Ele quer colaborar com os aurores no que for preciso... _ Respirei, profundamente... _ Com a condição de você ficar fora do caso.

_Harry...

_Desculpe Hermione, eu também não quero você em perigo. _ E com algo que pareceu uma tentativa de me confortar ele saiu.

Tudo estava borroso, pisquei para tentar me recompor e as lagrimas caíram grosseiramente pelo meu rosto, senti quando elas seguiram o caminho que a horas atras foram trilhadas por beijos. Então ouvi a porta sendo fechada e corri, sentia medo por ele, medo que alguém o machucasse. Apenas parei de correr ao ver a varinha abandonada... a varinha que eu lhe dei, para que ele pudesse se proteger. Senti meu corpo deslizar pelo sofá, enquanto segurava com as mãos tremulas a minha própria varinha... então chorei por ele, pelo medo que estava sentindo, chorei por Luna e por todos que estavam em perigo agora... pelo vazio que sentia, pelo cheiro dele que estava em cada parte do meu corpo, e muito tempo depois quando me entregava ao sono tive a dolorosa compreensão ; eu estava apaixonada por um Malfoy.