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História Parece Mais Fácil Nos Filmes - I Hear Angels Sing


Escrita por: SheUsedToBeEmo

Notas do Autor


Hoje eu não vou comentar nada sobre os favoritamentos. Mentira. GENTE! COMO ASSIM CHEGOU EM 300? NÃO CREIO!!!! >>>300<<< ISSO É IMPOSSIBLE! VENHAM CÁ PARA UM ABRAÇO COLETIVO! Não. Sem abraços kk. Mas sério, obrigada. Isso é demais para mim.

Capítulo 25 - I Hear Angels Sing


Terça-feira. 

   Terça-feira. Centésimo nonagésimo dia desde que Camila falou comigo pela primeira vez. Naquele tempo eu reclamava da vida sem saber que a maldita (vida) poderia e conseguiria piorar. E então ela piorou, gradativamente, de dois jeitos. Primeiro piorou para melhor não tão melhor. Foi quando Camila Cabello e eu nos aproximamos e as coisas aconteceram... intensamente, definiremos assim. E em segundo, piorou para pior do que quando estava pior para melhor. É isso mesmo. Se você repetir a frase consegue encontrar o sentido. Enfim, a segunda parte é esse momento que estou vivendo agora.  

   — Não entendi. Eu devo chamá-lo ou eu devo comentar sobre o baile e esperar ele se convidar? 

   — Comentar. — Falei. 

   — Chamar. — Dinah e Normani me contradisseram.  

   — Vocês estão me deixando confusa. Preciso decidir logo se eu... 

   — Adivinhem só o que eu ganhei ontem! — Camila surgiu animada, atrapalhando nossa conversa.  

   Estávamos eu, Dinah, Allyson e Normani, sentadas à mesa do refeitório, tentando ajudar Allyson a resolver o atual dilema da vida dela: chamar ou não chamar o garoto que ela gostava para ir ao baile. Mas Camila, que até então não tinha dado as caras, atrapalhou nosso raciocínio. 

   A propósito, por que ela demorou tanto para aparecer? 

   — O quê? — Normani questionou. 

   Apoiei o queixo em minhas mãos e encarei a cozinha do refeitório. 

   — Adivinhem.  

   — Calma! Deixe-nos pensar! — Allyson pediu. 

   As três realmente caíram na tal adivinhação, mas eu não me sujeitaria a uma brincadeirinha idiota como essa. Continuei ignorando a presença dela. Olhar para a mulher que mexia a comida, com uma enorme colher, na panela gigante parecia-me mais interessante. Interessante de verdade e sabe por que? Porque nunca como essa comida do colégio. Você já notou o tanto que os cozinheiros suam? Céus! E se, por um acaso o gosto salgado não for exatamente do sal e sim do suor? Ugh! Prefiro me prevenir. 

   — Lauren, você está tentando adivinhar? — Perguntou calmamente, sentando-se ao meu lado, mas eu juro que senti ironia na voz dela. 

   Ela acha mesmo que pode ficar soltando provocações para mim depois do que ela fez ontem? Não! Camila não pode falar nada comigo depois que aceitou ir ao baile com o babaca! 

   Sem pudor algum mostrei o meu dedo do meio para ela, mas rapidamente a garota deu um belo tapa em meu pobre dedo. 

   — Ouch! — Balancei minha mão no ar. — Isso doeu, Camila! 

   — Já falei pra você não fazer esse gesto feio para os outros, imagine para mim! — Quê? Por um acaso você é especial? Não, não quero uma resposta. 

   — E eu já falei que odeio adivinhar! — E que odeio o Mahone. 

   — Isso não justifica um gesto feio. 

   — O gesto feio justifica muita coisa. 

   — O quê? Que você está se tornando uma pessoa revoltada sem causa? 

   — Sem causa? Cala a boca! Eu tenho causas para tudo. 

   — Tem? Então me explica qual foi a do gesto feio. 

   — Não. — Cruzei os braços e balancei a cabeça, horizontalmente, de um lado para o outro. 

   — Por quê? 

   — Porque não é da sua conta. — Falei com uma tranquilidade não condizente à frase. 

    Camila abriu a boca surpresa, como se não acreditasse no que escutou. Nem eu acreditava no que falei. Senti-me orgulhosa de mim mesma por conseguir fazer isso. E não, não diga que eu sou a errada e a culpada, ela mereceu isso. ELA VAI COM ELE PARA O BAILE! 

   — Vocês querem parar de brigar por causa de um dedo?  

   — Mani, você viu como ela falou comigo? Eu não fiz nada pra ela me tratar arrogantemente. — Reclamou como uma criança. Não fez? Imagina se fizesse, sua idiota!  

   — Você que começou. — Dei de ombros. 

   — Parem ou eu vou mandar vocês saírem daqui. — Dinah mandou e então nos calamos.  

   — Mila, não conseguimos adivinhar. — Allyson mudou de assunto, com certeza tentando cessar a discussão. 

   — Certo... Mas vocês não têm nenhum palpite? — Insistiu. Cabello, ninguém consegue adivinhar nada nessa brincadeira idiota! Elas só estão sendo legais com você. Sorte a sua e a do mundo que eu, sincera como sou, existo. 

   — Não, Mila. Diga-nos logo! — Brooke respondeu enquanto Normani e Dinah estavam mais preocupadas com alguma coisa no celular. 

   — Eu ganhei... — Sorriu animada e bateu três vezes com as duas mãos na mesa. Nesse momento nos atentamos a ela. — Caramba, vocês nunca adivinhariam! 

   A inspiração de ar profunda foi feita por nós quatro quando Camila enrolou. 

   — Chancho, fala de uma vez o que você ganhou porque, ao contrário da Zangada, eu sou uma pessoa ocupada socialmente. — Levantou o celular e eu revirei os olhos para o comentário sem graça. 

   — Vocês nem me dão atenção. — Minha atenção é toda sua, caso não tenha reparado ainda, Camila. Você não merece, mas ainda tem! — Mas sabem o que eu ganhei? 

   — Por Deus, Mila! Fala isso agora! — Todas paramos o que estávamos fazendo, no meu caso nada, e olhamos surpresas para a Brooke. — Quê? Me desculpem, — Ergueu os braços. — mas ela está enrolando muito. 

   — Ih, tudo bem! Eu ganhei um... — Fez suspense outra vez, no mesmo instante em que olhou para mim e eu, por costume, já a olhava. — Um... — Crispei os olhos, ameaçadoramente, para ela. Fale agora mesmo! — Ok, um violão! 

   Eu até diria o quão legal isso é se você ficasse em casa na noite do baile romântico!  

   — Ah, que... Ótimo... — Normani disse incerta quando ninguém se pronunciou. 

   — Hum... Temos uma cantora entre nós! — Brooke tentou animar, mas falhou. Estava óbvio que ninguém, além de mim, se importava com aquilo. 

   Camila olhava, com o sorriso congelado no rosto, para todas, esperando alguma coisa. 

   — Dinah, — Allyson cutucou com o cotovelo a mais alta, que não tirava os olhos do celular. — a Mila ganhou um violão. 

   — Que legal! Toca pra gente algum dia! — Dinah, custa fingir estar animada? Coitada da Camila. Ou não, continue sendo sincera porque Camila não merece coisas boas no momento. 

   — Eu ainda estou aprendendo... — Camila explicou e então olhou para mim já com o sorriso desfeito. — Você achou legal? 

   Ela queria minha opinião? Eu quero opinar?

   Ergui as sobrancelhas e assenti para ela. 

   — Você está sendo sincera ou apenas fingindo como elas? — Indicou as garotas com a cabeça. Você não devia estar sendo legal comigo, sabia? Muito menos querendo minha opinião. — Responde, Lauren. — Pediu neutra. 

   — Ah, assim. — Gesticulei um pouco com as mãos. — Sim. Claro. Aham. 

   Terminei de falar e quis correr por ter agido como uma tonta!  

   Busquei Normani com os olhos e por sorte ela nos olhava. Arregalei os olhos para ela, pedindo ajuda silenciosamente. 

   — Lauren se interessa mais por essas coisas, Mila. Não nos leve a mal. — Está tentando me ajudar, Kordei? Era para encerrar o assunto e não me colocar nele! 

   — É... Eu já sabia disso, mas ela não se animou muito, não. — Qual é? Não estamos numa situação em que podemos ficar animadas uma com a outra, Camila! Você deveria me odiar porque, olha, eu te odeio no momento. 

   — Ficou animada sim. Não ficou, Lauren? — Crispei os olhos para Normani e desejei que ela sentisse medo e sumisse dali. 

   — Sim. — Falei, voltando a olhar para Camila. — Acho bem legal.  

   — Quando eu aprender, eu posso tocar alguma coisa pra você! — Falou sorrindo, mas logo desfez a alegria enquanto eu tossia por ter engasgado com a saliva. — Vocês. Tocar uma música para vocês. 

   Aquele você me fez chegar à morte por um segundo, mas estou bem. Tudo bem por aqui!  

   — Seria legal. — Falei, tentando parar de tossir. Melhor não! Escutar você cantando seria um forte impacto no meu frágil emocional. Tenha dó, eu imploro. 

   Ela concordou com a cabeça e desviou o olhar para longe de mim.  

   — Lauren. — Chamo-me 5 segundos depois.

   — Hum? — Eu mal tinha me recomposto e ela chama de novo? Calma, Lauren. É só fingir que não está com raiva dela. Seja indiferente. 

   — Estou aprendendo sozinha, sabia? Assistindo algumas vídeo aulas na internet. 

   — Legal. — Muito legal, mas vai falar da sua vida para o seu par do baile. 

   — É. Vou treinar bastante hoje à tarde. 

   — Bacana. — Só que estou nem aí pra você. Seu par deve estar mais interessado. 

   Ela sorriu para mim, mas não desviou o olhar. Virei a cabeça para o lado, mas ainda sentia Camila me observando. Olhei as pessoas à minha esquerda e Camila me olhava. Funguei e Camila me olhava. Pigarrei e voltei a olhá-la. 

   — Algum problema? — Perguntei impaciente enquanto ela tinha um sorriso no rosto.  

   — Seria muito estranho se eu te chamasse pra treinar violão comigo? — QUÊ? VOCÊ TEM ALGUMA DEFICIÊNCIA NO RACIOCÍNIO? 

   — Claro que seria, Camila!   

   — Por quê?  

   Arqueei as sobrancelhas e meneei a cabeça, tentando fazê-la enxergar o óbvio. 

   — Você está tentando me pirraçar, eu sei disso. — Respondi, respirando fundo. 

   — Eu? Só por ter te chamado para me ajudar a aprender? Tudo bem. — Ergueu os braços, fazendo-se de inocente. Crispei meus olhos e encarei-a séria. — Finja que eu não disse aquilo. Eu achei que estivesse tudo bem com o fato de sermos amigas. — Deu de ombros. 

   Fiquei estática observando cinismo daquela garota. Da garota que é o meu ser humano favorito na face da Terra. Da garota que não soltava indiretas e que não sabia ser irônica. Quando foi que Camila ficou assim? Eu perdi alguma parte nessa história? 

   Fui tirada de meus pensamentos por uma gargalhada alta da Normani que logo foi acompanhada pela Allyson. 

   — O que foi? — Perguntei. 

   — Nada, amiga. Besteira da Dinah. 

   — Quero saber também! — A sonsa idiota pelo visto não escutou também. 

   — Ih! Vocês estavam aí de conversinha e a gente não se intrometeu. Então não se intrometam em nosso assunto. — Dinah respondeu com sua sensibilidade comum. 

   — Mas, Cheechee...  

   — Shhh! Não vou falar. — Fechou os olhos e virou o rosto para o lado.  

   Não procurei mais saber. Só podia ser besteira. Elas três vivem cochichando pelos cantos e nunca incluem Camila e muito menos eu nos assuntos. No início eu até ficava curiosa e tentava descobrir, mas hoje em dia eu não ligo mais, afinal elas nunca nos contam e também nunca param. Quem se importa? Além da Camila porque apenas ela insiste em saber.  

   As aulas conseguiram ser mais monótonas do que as outras aulas do ano quase inteiro. Talvez por ser uma terça -feira e eu ter que passar pela mesma situação chata que ando passando nessa vida chata com toda essa coisa chata que parece achatar meu cérebro que já não pensa mais nada corretamente. Ainda tenho que olhar o Mahone indo até a cadeira da Cabello a cada intervalo entre as aulas, preciso despistar os olhares da Alexa e necessito vigiar Camila todo o tempo. 

   Meu alívio veio quando o sinal final tocou e eu pude correr para o pátio. 

   — E aí? A psicopata te encheu hoje? — Normani perguntou.

   — Não. 

   — Melhor assim... 

   Pensei um pouco. Considerei algumas questões, situações e resolvi perguntar. Eu precisava arriscar.

   — Jane. — Chamei. — Por que você não faz nada em relação ao Mahone? 

   — Eu deveria? Ele não parecer ser ruim. — Como não? Ele deseja a Camila, infernos! Não tem como ser pior que isso! E se tem prefiro não saber. 

   — Claro que deveria! Eles vão juntos ao baile, sabia? 

   — Ele é um bom garoto, Laur. — Allyson tentou me convencer. Tentou.

   — Não me digam que vocês apoiam eles irem juntos!  

   — Veja, não é que apoiamos isso, só não vejo o porquê de fazer alguma coisa contra. — Dinah fez pouco caso.

   — Ah! Mas entre a Alexa e eu vocês fazem tudo contra, não é? Estão em um complô contra mim? Ótimo! Continuem! Fiquem do lado dela. Não faço questão de nada! Quer saber vão lá atrás da Cabello e apoiem logo um namoro entre os dois e um casam... 

   Parei de falar quando escutei um estalo e senti uma ardência em minha bochecha esquerda. Pisquei os olhos duas vezes e olhei para a garota que estava em minha frente. 

   — Foi mal, Zangada. Você estava tendo um ataque. 

   — Você me bateu no rosto, Jane? — Questionei completamente incrédula. Ela não fez aquilo! 

   — Foi mal, já falei! Nem foi forte. 

   — A marca de sua mão está bem ali na pele dela. — Normani comentou e levou uma cotovelada da Allyson. — Digo, vai sumir logo. 

   — Zangada, vem cá. — Dinah puxou-me e me abraçou, fazendo com que meu rosto ficasse enterrado no peito dela, mas não movi meus braços, os deixei caídos ao lado do meu corpo. — Cara, foi para o seu bem, acredite.   

   — Me larga. — Tentei falar. 

   — Não. Vamos ficar assim até você parar de se sentir rejeitada. 

   — Jane! Não estou me sentindo rejeitada! 

   — Está sim. Gente, falem a ela que não podemos fazer nada. 

   — Já falei e não estou a fim de repetir. — Escutei Normani com a voz monótona. 

   — Laur, nós não podemos fazer nada porque o Austin é um bom menino, já a Alexa não é uma boa menina.  — Você já foi mais legal, Brooke. 

   — Resumindo, só você tem motivos para impedir que a Camila vá com ele. — Dinah argumentou.

   Finalmente consegui me soltar dos braços da Dinah e respirar normalmente. 

   — Não vou impedir nada. — Arrumei meu cabelo. 

   — Não vai impedir o quê? — Gelei ao escutar a voz de Camila. 

   Camila aproximou-se de nós, sorrindo como sempre.  

   — Ela não vai impedir o... — Normani começou a dizer. 

   — Nada. — Interrompi-a. 

   — Me contem. — Não, Camila! Para de ser curiosa!  

   — Ah, não vai impedir voc... — Dinah começou. 

   — Não vai... é... aquilo que você disse, Laur... — Allyson me fez o favor de interromper a outra. 

   Fechei os olhos, coloquei a mão na testa e respirei fundo. Elas três só conseguiam piorar as coisas! Custava ficarem com as bocas fechadas e deixar o assunto morrer? Não custava nada, mas elas são elas e parecem ter a necessidade de fazer essas coisas. 

   — Não vou impedir que... minha... é... — Pensa rápido, Lauren. Anda! Corrige esse erro das outras três!  

   — Que a mãe dela proíba-a de sair nos finais de semana caso ela continue com as notas ruins. — Respirei aliviada ao escutar Allyson. 

   — Ah. Era isso? — Riu. — Você vai recuperar, Lolo. — Lolo? LOLO? Garota, não me chama assim porque... SÓ NÃO ME CHAMA ASSIM. 

   — Aham. — Controlei meu nervosismo ao escutar o apelido. — Vamos, Normani?  

   — Tchau! — A morena falou e começou a andar, fazendo-me segui-la.  

   Olhei sobre os ombros, para trás, e encontrei Camila acenando para mim. Voltei a olhar para a frente, sentindo-me perturbada. Qual era o plano dela agindo assim? Porque eu ainda não encontrei um plano para impedi-la de ir ao baile com o babaca, então ela não pode ter planos.  

 

Sexta-feira. 

   Sexta-feira. 193 dias que tenho Camila em minha vida mesmo que ela não esteja fisicamente presente. 

   Qual o grau de risco que eu corro quando o "encontrinho do fim de semana" começará um dia antes? É isso mesmo, dessa vez nós iremos para a casa de Camila porque ela insistiu que deveríamos escutar uma música que ela aprendeu a tocar. E quanto a isso eu tenho uma pergunta: quem aprende a tocar violão em uma semana? Certo, eu sei que existem alguns autodidatas espalhados pelo mundo, mas cá entre nós, Camila não parece ser uma autodidata... Ah, mas de qualquer forma eu terei que ir porque, em um momento leigo de minhas ideias, eu falei que ela e eu poderíamos continuar amigas quando na verdade eu não consigo viver em paz sendo apenas amiga dela! Tudo bem, eu sei que minha vida não era nada pacífica enquanto tínhamos aquela coisa, mas era melhor do que agora.  

   A paz nunca se infiltrará em minha vida e eu já estou no processo de conformação. 

   — Então, vocês vão depois? — Camila indagou.

   — É. A Lauren não quis ir logo depois daqui. Você sabe... — Normani reclamou.

   — Ah... Ela não mudou de ideia, não é? — Estou aqui, Camila!

   — Mas vocês já sabem como ela é... Vamos chegar cedo. Prometo. 

   — Tudo bem, Mani. Eu não tocarei um acorde sequer até que todas estejam presentes. 

   — Nos vemos logo. 

   — Tchau... Lauren? — Camila chamou e eu revirei os olhos.

   — Sim? 

   — Não atrase a Mani. — Riu.

   — Certo. Até porque se ela se atrasar a culpa é minha, não é, Camila? 

   — Aham. A culpa é sempre sua. — Riu outra vez e acenou. — Tchau. 

   Saímos do colégio e eu grunhi de raiva. 

  — Você viu? Ela está sempre soltando comentários ambíguos.  

   — Tinha ambiguidade ali? Nem vi. — Normani fingiu-se desentendida.

   — Ok. Eu havia esquecido que você está do lado dela. Esquece. 

   — Não vou explicar mais nada. Apenas ande porque eu estar indo encontrá-las depois é culpa sua. 

   — Eu não te pedi para me esperar!   

   Normani encarou-me, fingindo cansaço. Juro a você que não tive culpa.

   — Pode ir quando sairmos do colégio, eu encontro vocês lá. — Repeti pela terceira vez. 

   — Ela vai fugir, Normani! — Dinah gritou. 

   — Também acho que ela pretende escapar. — Allyson completou. 

   — Gente, eu não vou fazer nada! — Tentei ser convincente. Mas era mentira, eu iria escapar.

   — Quem se disponibiliza a escoltá-la? — Dinah perguntou. 

   — Eu! — Camila falou e nós quatro a encaramos curiosas. Apesar da situação aparentemente estável entre nós duas. Todas sabiam que havia uma tensão oculta e acho que Camila também sabia, porém insistia em fingir que não.

   — Você se lembra que a casa é sua e que você tem que estar lá, não é? — Indaguei apenas para confirmar. 

   — Ah... — Suspirou desanimada. — É verdade. 

   — Eu vou. Podem deixar. — Normani prontificou-se e o assunto morreu. 

   Está vendo? Eu não tenho culpa se as pessoas não me deixam ser livre. Sempre suspeitam de mim e me culpam, mesmo quando são erradas. A propósito, elas sempre estão erradas. 

   — Sabe o que eu acho? Acho que esse encontrinho não devia ter sido adiantado. — Comentei enquanto subíamos a escadinha. da frente de minha casa. 

   — Porque você vai ter uma tarde a mais com a Camila e duas noites dormidas na casa dela? 

   — Aham. Mas vou dar um jeito de ir embora amanhã. — Coloquei a chave na fechadura e girei-a duas vezes para a esquerda. 

   — Foge de novo, amiga, porque, assim, suas desculpas são as piores. — Satirizou. 

   Revirei os olhos e abri a porta de casa. Esperei que ela entrasse primeiro e logo depois tranquei. Normani deixou a mochila, e mais uma sacola pequena, em cima do sofá para então seguir rumo à cozinha sem me dizer nada. Recolhi a mochila dela e subi até o meu quarto para deixá-la lá, fiz o mesmo com a minha, tirei os tênis e fui até o banheiro lavar as mãos e só assim desci para almoçar.  

   — Oi, mãe. Oi, pai. — Cumprimentei-os, deixando meus irmãos de lado. Nem todos merecem meus cumprimentos. 

   — Oi! — Os dois responderam animados. 

    Todos já estavam sentados à mesa, inclusive Normani que já se servia. Acomodei-me ao lado dela, de frente para a Taylor e me servi. 

   — Mãe, se a Lauren vai estar fora por quase três dias — Chris falou sem tirar os olhos do prato. Tecnicamente dois dias. — quem vai arrumar a casa?  

   — Você e a Taylor. 

   — Eu? Mas, mãe! Eu já vou ao supermercado! — Taylor reclamou. 

   — Não quero saber. — Minha mãe disse e eles não mais choramingaram. — Ponha um pouco mais de salada, Mani. 

   Disse, já colocando mais salada no prato da minha amiga, que já estava habituada com isso e não ligava. Almoçamos e em seguida, quando meu pai e meus irmãos foram para a sala, Normani e eu ficamos cuidando da louça. Dona Clara lavava, eu secava e Kordei guardava. Ela já conhecia o lugar de cada coisa. 

    — Normani, a Lauren não tem nenhum namoradinho, não? — Dona Clara perguntou como quem quer desvendar um segredo e eu, assustada, deixei cair a faca que eu secava. 

   Minha mãe me olhou. 

   — Namoradinho? — Normani perguntou, puxando a atenção da mais velha e me encarou rindo. — Não, tia. Ela não tem namoradinho — Frisou o "O". — algum.  

   Abaixei-me, peguei a faca e coloquei-a de volta na pia. Tentando controlar meu coração temeroso com aquele assunto. 

   — Ah... — Minha progenitora parecia meio decepcionada. — E você, querida?  

   — Tenho alguém em vista! — Normani respondeu rápido e eu continuei concentrada em secar as coisas que estavam no escorredor. 

   — Um primo da Dinah. — Falei, querendo fazer minha mãe se concentrar na Normani.  

   — Ah... E ela não tem um primo para a Lauren, não? — Mãe! Para com isso! Eu não preciso de um namorado! Já basta a minha situação sentimental atual! 

   — Olha, tia. Ela tem muitos primos, mas assim, não fazem o tipo da Laur. Sabe? São sociáveis demais. — Obrigada, Normani

   — Entendo... — Dona Clara ia falar alguma coisa, mas fiz questão de não deixar. 

   — Vamos, Normani. Não queremos nos atrasar. 

   Joguei o pano de prato na mesa e chamei Normani com o olhar. Subimos as escadas e eu deixei ela tomar banho antes de mim. Aproveitei para deitar e descansar um pouco. Hoje as aulas foram a mesma coisa da semana inteira, incluindo o fato de Camila ter rejeitado ler um texto na aula da Hastings e também a curiosidade de a professora ter sorrido para mim ao entrar na sala. Acho que ela acha que tenho algum problema, sou uma aluna especial e agora está querendo me incluir. Odeio isso!  Não levou mais do que 40 minutos para que Normani saísse do banho, eu me arrumasse e ficássemos prontas para ir até a casa de Camila. 

   Paramos em frente àquela porta que tanto me causa nervoso e a encaramos por um tempo.

   — Toca a campainha. — Ordenou.

   — Toca você! — Retruquei.

   Normani trincou os dentes e apertou o botão. Respirei fundo e comecei a cronometrar mentalmente o tempo que levaria para abrirem a porta. 

   1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9... 18 segundos. Era Camila. 

    Escutamos o trinco destravar e eu estava certa. Era ela. 

   — Ainda bem que chegaram! — Sorriu, se afastando para que entrássemos. 

   — Oi, Mila. — Normani passou em minha frente. 

   — Com sua licença. — Falei e passei por ela com a cabeça baixa. 

   — Oi, Lolo. — Disse. 

   Apenas acenei com a cabeça. 

   — Kaki! A Lolo chegou? 

   Uma voz fina de criança gritou e em seguida passos rápidos fizeram-se presentes na escada até eu sentir dois bracinhos envolverem minhas pernas. 

   — Lolo! — Sofia gritou e eu ri. 

   — Oi! Como você está? — Perguntei colocando as mãos em sua cabeça e puxando-a para trás, para que eu pudesse ver seu rosto. 

   — Bem, e você? Por que sumiu? Você tinha prometido voltar e brincar comigo e... 

   — Sofi, deixa a Lauren em paz. — Uma Camila ríspida cortou a fala da irmã. 

   — Deixa, Camila. Está tudo bem. — Falei e em troca recebi um revirar de olhos de Camila. 

   — Quando terminar sua conversinha com sua amiguinha, nos encontre lá em cima. — Anunciou fazendo sinal para que Normani subisse. — E, Sofi? — A menor virou a cabeça para encará-la. — Nem pense em ir junto. 

   Terminou seu momento ditador e subiu.  

   — O que sua irmã tem, hein?  

   —  Ela tá assim esses dias toda vez que pergunto por você. De novo. — Fez uma cara de quem não estava entendo nada. 

   Por precaução olhei o lugar ao meu redor garantindo que ninguém havia escutado aquilo. Com certeza se alguém com mais de 15 anos escutasse aquilo, já teria entendido. 

   — Ela deve estar preocupada com os estudos. Não liga. — Afaguei o cabelo dela e sorri. 

   — Mas ela deixa eu falar das outras. Por que ela não gosta que eu fale de você? — Continuou me olhando, ainda agarrada em minhas pernas, com dúvida. — Vocês brigam muito? 

   — Ah... É... — Cocei a nuca e pensei em alguma mentira. — É que, assim. Sua irmã é um pouco louca, você sabe, né? — Ela assentiu e eu não sei se ela realmente achava aquilo ou se só estava concordado. — Então, essas loucuras dela merecem ser ignoradas. Vamos ignorar, certo? 

   — Certo! — Soltou-me e pulou animada.  

   — Sofi, você não disse que iria me ajudar? — Sinu apareceu na sala. — Lauren! — Sorriu para mim. 

   — Oi. — Sorri de volta.  

   — Já vou, mamãe! Lolo, eu te vejo logo porque agora eu vou ajudar a mamãe a fazer picolés! — Riu contente e saiu em direção à cozinha. 

   — Fique à vontade, Lauren. Qualquer coisa estou lá. — Apontou o cômodo e seguiu a filha mais nova.  

   Rapidamente subi as escadas e fui até o quarto de Camila. A porta estava entreaberta e por isso não me preocupei em bater, mas ao quase entrar escutei uma conversa bem interessante. 

   — Eu não posso fazer nada. Vou ao baile com ele e acabou. — Escutei a anfitriã falar.

   — É. Ele parece ser legal. — Normani disse sem entusiasmo.

   — Não estou dizendo que vou namorar com ele, apenas irei ao baile. Nada demais.  

   — Mas você não sente nada por ele? — Allyson falou e escutei alguns estalos. — Ai, Dinah! Eu tinha que perguntar!

   — Não pergunta besteira. — A voz grossa da mais alta fez-se presente. 

   Abri a porta e como eu previa, o assunto morreu no mesmo instante. 

   — Demorou por quê? — Dinah perguntou e eu fingi não escutar.  

   — Ela tem todo o tempo do mundo pra Sofi. — Camila comentou.  

   — Que bonitinha essa minha Zangada é!  

   — Com quem ela quer... — A outra murmurou. 

   Meneei a cabeça, fui até um canto do quarto e deixei minha mochila lá.  

   — Camila, você quer que eu vá embora? Eu vou, sem problemas. — Sim. Eu já perdi a paciência! Falei apontando a porta. 

   — Não. Para de drama. — Respondeu debochada. 

  — Eu — Apontei para mim mesma — estou fazendo drama? E você — Apontei para ela. — está fazendo o quê? 

   — Sendo sincera. — Deu de ombros.  

   — Vocês estão me cansando com isso. — Normani comentou enquanto Allyson lhe mostrava alguma coisa em uma revista. 

   — Eu só não quero ficar em um lugar onde não sou bem-vinda. — Falei, tentando não soar sentimental. 

   — Minha irmã gosta da sua presença. — Camila provocou e eu, instintivamente, foquei meus olhos sérios nela. 

   — Então eu deveria ir ficar com ela. — Rebati com os dentes trincados. 

   — Você sempre prefere os outros. — O que isso aqui virou? Um jogo de tênis e indiretas substituem a bolinha? Ótimo, mas a última raquetada é minha, Cabello! 

   — Olha, Camila. Tchau. — Anunciei chateada. 

   — Ninguém vai embora! — Dinah levantou e veio até onde eu estava. — Zangada, senta nessa droga de cama agora mesmo ou eu colo você ali! — Uma Dinah embravecida disse apontando para a cama onde Normani e Allyson pareciam não se importar com nada. 

   — Ela é a dona da casa e não me quer aqui. — Falei.

   — Camila, você quer que ela vá? — Jane perguntou e Camila negou cabisbaixa. — Responde! 

   — Não! — Olhou para a amiga. — Você pode ficar, Lauren. Não quero que vá. — Disse e caminhou até a escrivaninha. 

   — Hum. — Fiz-me de difícil, passei por ela, caminhei até a cama e sentei-me ao lado de Normani, na ponta, com as pernas cruzadas em posição indiana.  

   Eu avisei, a última raquetada é minha. Sempre minha. 

   Logo Dinah voltou e ajeitou-se onde estava antes. 

   — Viemos aqui para escutar você tocando, Mila! — Revirei os olhos ao escutar a Brooke tentando fingir que estava tudo bem, outra vez.

   — Querem agora? — Não. Vamos aguardar a cantora aquecer a voz e preparar o psicológico.  

   — Queremos. — Brooke disse.

   — Ok. Esperem.  

   Cabello, que já havia voltado ao seu normal, pegou a cadeira da escrivaninha, arrastou-a — sim, ela não se deu ao trabalho de carregar — e deixou em frente a cama. Em seguida voltou até a escrivaninha e pegou o violão que estava ao lado.  

   Andou calmamente e sentou-se na cadeira, de frente para nós, tirou o violão da capa e o ajeitou sobre o colo. 

   — Ela nem começou a cantar e você já está achando cada passo dela um espetáculo. — Assustei-me quando Normani sussurrou em meu ouvido e, sem olhá-la, coloquei a mão em seu braço e empurrei-a. — Controla isso, amiga. Qualquer um percebe. 

    Brooke inclinou-se sobre a Kordei para poder falar. 

   — Só ela que não percebe nada. — Meneei a cabeça e não encarei nenhuma delas. Elas não tinham vida própria, não? 

   — Ninguém percebe nada! — Dinah berrou, chamando a atenção. 

   — Ninguém percebe o quê, Cheechee? — Camila encarou-a com dúvida. 

   — As coisas, sabe? Tem gente que faz questão de não ver nada!  — Falou indignada.

   — Concordo. É como aquela frase "O pior cego é o que não quer ver.". — Allyson disse. 

   — Que frase linda, amiga. Quem criou? — Normani perguntou e eu bufei com a idiotice. 

   — Não sei, mas você nunca ouviu?  

   — Nunca... 

   — Sobre o que elas estão falando? — A com o violão perguntou para mim e eu apenas neguei com a cabeça. 

   As três permaneceram mais um tempo falando sobre cegos funcionais, denominemos assim, e decidindo como as pessoas deveriam agir para perceberem as coisas. Se aquilo era indireta? Claro que era!

   — Posso começar? — Camila perguntou diretamente para mim. 

   — Quando quiser. — Falei com o tom calmo.  

   Camila conseguia isso, me deixar irritada e boba ao mesmo tempo. Ela consegue fazer essas misturas dentro de mim. Até me sinto uma tigela onde Camila joga todo tipo de ingrediente e mexe sem parar até o bolo ficar pronto, porém o tal bolo nunca fica pronto. 

   — Tá bom! Viemos aqui para ver uma apresentação. Anda, Camila!  

   — Certo, Mani. Vou começar. — Anunciou e em seguida pigarreou. 

   Camila ajeitou, com bastante cuidado, os dedos sobre três cordas do instrumento e fez como quem vai tocar, mais não tocou.  

   — Essa aqui é a Dó. — Falou, olhou para mim e sorriu.  

   Juro que tentei ficar séria, mas meus lábios não, me obedeceram e ofereceram um sorriso a ela.  

   — Dó de quê? 

   — Não, Mani! A nota que estou fazendo — Levantou a mão direita e apontou os dedos da esquerda. — Dó, está vendo? 

    — Ah... Que impressionante. Agora toca logo. — Dinah disse impaciente. 

   — Certo. Vamos lá! — Camila sorriu e focou os olhos sobre as cordas pressionadas pela mão esquerda. Em seguida passou os dedos direitos em todas as cordas, na parte da boca do instrumento e um som fez-se presente. 

   Sorri hipnotizada com aquilo e esperei que ela continuasse. Ela combinava com um violão em mãos. Eu não me importaria em poder ver essa cena para sempre. 

   Camila tocou mais algumas vezes até que pausou o toque e trocou as posições dos dedos esquerdos.  

   — Essa agora é a Fá! — Disse empolgada, mas ao mesmo tempo escutei uns muxoxos de desgosto ao meu lado. — Vocês não reparem muito, mas eu ainda não sou muito boa em pestanas, então o som vai sair estranho. — Riu e eu logo acompanhei a sua risada. Eu não fazia ideia do que era pestana, mas ela era tão encantadora explicando as coisas sem realmente explicar nada, que poderia estar me xingando em finlandês e eu ainda acharia lindo. 

   Ela olhou seus dedos esquerdos e depois mirou os direitos para então tocá-los nas cordas. Camila fez uma careta e eu sorri. Ela havia dito que o som sairia estranho, lembra? Acontece que não saiu som algum!  

   — Mila, estou esperando a música. Não vim aqui aprender a tocar, não. — Normani disse. 

  — Calma, essa é a introdução. — Respondeu despreocupada e eu continuei com toda a minha atenção voltada para ela.  

   A encantadora garota ladra de minha atenção permaneceu tocando aqueles dois acordes por alguns, longos e pausados, segundos até começar a cantar. 

            "You've been searching 
              Have you found many things? 
              Time for learning 
              Why have I not learnt a thing? 

  Eu não conhecia aquela canção. Durante essa parte da música os dois acordes permaneceram iguais até o momento em que ela parou de cantar e posicionou os dedos sobre as cordas formando um acorde diferente. Era engraçada a forma que ela mordia o lábio inferior tentando colocar os dedos sobre as cordas certas, conseguir pressioná-las e às vezes se confundir com a posição exata dos dedos.

   — Agora essa aqui é o... hum... — Estalou os dedos três vezes enquanto pensava. Ela é tão linda esquecendo das coisas... — É... Ré menor! — Sorriu confiante e eu acabei sorrindo também. Ela consegue ser linda até mesmo lembrando das coisas! 

   Ela voltou a concentrar-se no instrumento, dedilhou as cordas e continuou a cantar. A garota trocou de acorde, mas não se preocupou em nos avisar dessa vez. 
               Words with no meaning 
               Have kept me dreaming 
               But they don't tell me anything 

 Um largo sorriso estava desenhando em meu rosto quase que permanentemente. A cada palavra que ela cantava, o meu coração enguiçava e no mesmo instante voltava à ativa com o dobro de potência. Eu poderia escutá-la cantar todos os dias e ainda assim não reclamaria. 

   Camila parou de tocar e voltou a montar aquele acorde que não fazia som de nada. A propósito, será que o som dele é assim ou é ela que não sabe fazer? Não me importa muito. A voz dela compensava qualquer nota malfeita no violão. A voz dela era, apenas, só... era a voz dela. Acho que a minha voz preferida em todo o mundo.  

              All you never say is that you love me so 
             All I'll never know is if you want me, oh 

   A voz dela saiu mais firme nessa parte, fazendo-me deduzir ser esse o refrão.  

             If only I could look into your mind 
             Maybe then I'd find a sign 
             Of all I wan't to hear you say to me, to me 

   Desfiz o meu sorriso quando entendi o que aquelas palavras estavam dizendo. Não... Não me diga que Camila está soltando uma indireta para mim através dessa música! Quanta audácia! Eu não aceito ser sujeitada a esse tipo de coisa!  

              Are you uncertain? 

   Não. Sou realista! 

             Or just scared to drop you guard? 

   Não sinto medo de nada, garota! 

              Have you been broken? 

   Não.  

   Revirei os olhos já me sentindo cansada daquela música. Estava tudo tão bom no início, mas ela tinha que estragar!

               Are you afraid to show your heart? 

   Quê? Quer cortar minha pele e ver meu coração? Não mesmo. Não o mostro. Cada um tem o seu coração. Contente-se! 

Life can be unkind

But only sometimes 

You're giving up before you start 

   Bufei e cruzei os braços ao escutar aquela música ridícula. Só Camila consegue escutar algo assim. "Desistindo antes de começar.". Quem foi que escreveu essa música? Preciso conversar com esse compositor sentimental e ensinar a ele coisas reais, sobre vidas reais. 

             All you never say is that you love me so 
             All I'll never know is if you want me, oh 
             If only I could look into your mind 
             Maybe then I'd find a sign 
             Of all I wan't to hear you say to me, to me"

   Ela cantou o refrão mais duas vezes e então deixou o último acorde ressoar. Um sorriso não desabitava os lábios da idiota, mas o meu já havia sido enterrado em minha pele.  

   Eu não sabia se tinha acabado de escutar um anjo cantar ou um demoniozinho caçoar de mim. Ao fim, Camila levou praticamente o dobro do tempo original da música para completar a canção e isso foi por causa das longas pausas que ela fazia para trocar os acordes, ajeitar os dedos e conseguir fazer a batida certa. 

   — Mila! Isso foi lindo! — Allyson foi a primeira a dizer alguma coisa. 

   — Cara, você só precisa aprender a tocar isso aí. — Dinah criticou.

   — Mas eu já sei tocar! — Camila respondeu indignada.

   — Amiga, você não sabe, não. Continua treinando. — Normani riu.

   — Obrigada pela sinceridade. 

   — Estou sempre aqui. — Piscou um olho para ela.

   — A Zangada gostou muito. Até li nos pensamentos dela que em breve ela vai criar um fã-clube pra você. — Dinah riu, colocando a mão sobre a boca, juntamente com as outras três, mas eu não havia achado graça alguma. 

   — Gostou, Lauren? — Cabello perguntou enquanto parava de rir.

   — Aham. — Foi uma das coisas mais lindas que já vi, mas não quero dizer porque você vai ao baile com outra pessoa e ainda solta indiretas para mim. 

   — Adorei a letra, sabe? Ela diz tanto... — Normani comentou e rapidamente olhei-a com vontade de estapeá-la através dos olhos. 

   — O que achou da letra, Laur? — Brooke perguntou sorrindo e eu fiz uma cara de incredulidade para ela.  

   — Achei normal. — Dei de ombros. — Devem existir mais uns milhares de letras tipo essa espalhadas pelo mundo.  

   — É... muitas histórias se repetem pelo mundo. — Camila comentou. 

   — Aham.  

   — Querem escutar outra? — Quero.

   — Não! Estou emocionada demais com uma música, se você tocar outra eu choro. — Dinah ironizou.

   — Então vamos fazer o quê agora? — A dona da casa questionou. 

   — Adoraria poder ter meu sono vespertino. — Jane bocejou. 

   — Não, Dinah! Você não vai dormir aqui! — Camila retrucou. 

   — Vamos assistir algum filme? — Dinah sugeriu. 

   — Isso é desculpa para poder dormir. — Concluí e recebi um olhar feio da mais alta. Com certeza eu tinha razão. 

   — Vamos tomar sorvete! — Camila não sugeriu, apenas impôs de um jeito educado. 

   — Nunca mais quero ir tomar sorvete com você. — Apontei o indicador para ela. 

   — Para de ser insuportável. Foi bem legal... — Foi. Passado. 

   — Cala a boca. — Mandei. 

   — Vai dizer que não gostou? — Disse devagar. 

   — Odiei. — Quase menti. Quase porque eu gostei de estar com ela, mas odiei a situação de estar no calor. 

   — Se aquietem e vamos logo. Só fazem discutir a todo instante! — Brooke pôs-se em pé. 

   Dinah levantou e Normani estendeu a mão para que a puxassem, Dinah riu e puxou-a. Levantei-me e caminhei até o meio do quarto. Camila fez o mesmo e começou a guardar o violão. 

   — A culpa é dela. — Falei e rapidamente senti meu braço esquentar. — Que droga, sua idiota! Para de me bater! 

   — Pare de me culpar! 

   — Onde é que a gente faz a devolução dessas duas?  — Jane perguntou.

   — Cheechee, a Lauren é que... 

   — Nem mais uma palavra. Ajeitem-se e vamos tomar esse sorvete. 

   Camila desistiu de responder, levou o violão já dentro da capa, para onde estava antes, arrastou a cadeira de volta para o lugar e parou em frente à porta. Aproveitei e fui até a minha mochila pegar o meu chapéu. Era importante usá-lo no verão e, quem sabe, nas outras estações.

    — Primeiro as damas. — Abriu a porta e apontou para o lado de fora.  

    As outras três em nada se importaram e passaram por Camila.  

   — Por que você insiste nisso se você é uma dama também? — Juro que tentei ao máximo ignorar, mas isso tem sido algo difícil quando Camila insiste em fazer coisas bobas. 

   — Sei lá, Lauren. Apenas passe primeiro, dama. — Fez uma reverência e eu passei muxoxando, descendo as escadas. — Hoje eu estou sem dinheiro. —  A voz dela ficou próxima. Ela estava logo atrás de mim. 

   — Hum. Então você vai apenas olhar elas tomarem o sorvete? — Ajeitei meu chapéu na cabeça. 

   — Quer pagar para mim? — Gargalhou. 

   — Eu vou apenas olhar. — Informei quando chegamos ao último degrau, encontrando a porta da frente aberta, as garotas já estavam lá fora 

   — Mãe! Vamos ao parque! — Camila gritou, mas não houve resposta. — MÃE! 

   — Se você pensasse um pouco, já teria ido lá ao invés de gritar inutilmente.  

   — Não. Ela vai escutar. MÃE!! — Revirei os olhos e Camila não obteve resposta. — Certo. Eu vou lá. Me espera. 

   — Não mesmo. Vamos sem você. 

   — Idiota. 

   Fui para o lado de fora da casa. Não demorou muito e Camila apareceu, fechando a porta e saltitando até o meio-fio. As três fofoqueiras seguiram mais à frente conversando sobre algo que Camila e eu não sabíamos. Até que aquela não aguentou mais e implorou para elas mudarem para um assunto no qual ela fosse incluída. Já eu preferi ficar um pouco mais atrás. 

   O dia estava bonito. Bonito de se ver em uma fotografia, em um quadro ou qualquer tipo de registro. Todo tipo de registro menos minha memória. Eu mal conseguia enxergar alguma coisa com aquele sol penetrando minha retina e impedindo-me de visualizar qualquer coisa. As ruas, componentes do percurso até o parque, estavam movimentadas até demais para o meu gosto, mas as garotas não se importavam com as várias pessoas que passavam por nós. 

   Chegamos ao parque e Camila convenceu-me a pagar o sorvete para ela, depois de muita briga. Meu dinheiro estava contado! Mas eu paguei. Enquanto elas se lambuzavam com aquela coisa derretida, caminhei até um banco e sentei-me ali.

   — Por que você vai apenas olhar? — Camila perguntou e eu fitei-a.

   — Quê? — Olhei para a frente.

   — Você disse, lá em casa, que iria apenas olhar. 

   — Eu não quero ficar grudenta. 

   — Bobagem sua. — Disse e sentou-se ao meu lado. 

  Continuei olhando para a frente, coloquei minhas mãos em meu colo e engoli a saliva com dificuldade. Meu corpo já estava começando todo aquele processo reacional de "Camila está muito próxima". Parecendo estar lendo minha mente, a garota chegou mais para o lado, encostando sua perna na minha. 

   Tentei respirar, mas acabei esquecendo como se fazia isso. Puxar o ar? Soltar o ar? O que era isso? 

   Não desviei meu olhar, mas a inquieta mão de Camila desviou para a minha coxa. Arregalei os olhos e fingi não sentir aquilo enquanto os dedos dela percorriam lentamente a minha pele — que se arrepiava e eu tenho certeza de que ela notou —  até tocar em minha mão. As pontas dos dedos dela buscaram os meus, mas por instinto puxei minha mão para longe. 

   Quem Camila pensava que era? Será que ela não entendeu o que falei no dia em que terminei tudo?! 

   Ela tentou mais uma vez e conseguiu segurar minha mão. 

   — Não faz isso. — Sussurrei. 

   — Só estou segurando sua mão. — Enquanto vai ao baile com o Austin!  

   — Para com isso, Camila. A gente já conversou e você tinha entendido não segurar mais a minha mão. 

   — Só queria ver suas unhas. — Puxou minha mão e fingiu estar interessada nas unhas. — Você vai à manicure? — Passou seus dedos entre os meus. 

   Bufei e soltei nossas mãos. 

   — Cansei de você! Custa me entender?! 

   — Entender o quê?  

   — Vou aqui. — Levantei, procurei e logo avistei as outras três sentadas na grama. Caminhei até lá, mas preferi ficar de pé. — Se a Camila continuar fazendo essas coisas eu vou embora hoje mesmo. 

   — Sabe o que eu acho? Que vocês deveriam namorar. — Normani falou e deitou-se na grama com a cabeça sobre o colo da Allyson. 

   — Pede ela em namoro e acaba com isso, Lauren. Já está chato. — Allyson começou a mexer no cabelo da morena.

   — Nunca. — Decidi e encerramos a conversa quando Camila chegou. 

   Ficamos no parque até a tarde se findar e trazer um pouco de vento fresco para nos refrescar. Voltamos para a casa da outra lá e subimos. Ficamos por um bom tempo conversando amenidades. O detalhe é que Camila passou a me ignorar e eu já estava ignorando-a desde mais cedo. 

   Você lembra quando eu falei que Camila é patológica? Então, pegue toda aquela minha teoria sobre o vírus Camila e a doença amor e aplique no meu momento atual. Agora pense um pouco... Concluiu o mesmo que eu? É. É exatamente isso. Eu cheguei ao quase extremo para mantê-la longe, mas ela só chegou mais perto. Eu quase esclareci nossa situação e ainda assim não parece ter mudado tanto. Ela vai ao baile com um garoto mais idiota do que ela e ainda quer segurar a minha mão! NÃO! EU NÃO QUERO METADES! Ou a mão dela é inteiramente minha, ou não é nem um milímetro da unha. 

   Jantamos juntamente com a família dela, depois subimos de volta para o quarto, mas isso só foi possível depois de Camila discutir igual a uma criança com a Sofia sobre a mais nova querer roubar as amigas dela, apenas depois que Alejandro interveio as duas pararam e se desculparam, porém Sofi já estava chateada e foi atrás da mãe. 

   Por volta da meia-noite começamos a nos preparar para dormir. Fui a primeira a deitar em meu canto dos colchões e precisei esperar mais uma hora até que todas estivem acomodadas e a luz fosse apagada. Senti o colchão afundar e alguém deitar-se ao meu lado. Inflei as narinas e inspirei o ar para sentir algum cheiro. Franzi o cenho quando percebi ser a idiota. Notei o travesseiro em que eu estava recostada afundar.  

   — O que est... 

   — Só quero dormir. A Ally pegou o meu. Tudo bem dividir o seu comigo? — A voz dela soou sonolenta. 

   — Certo. É seu, de qualquer forma.

   Fechei os olhos e já estava preparando meu cérebro para dormir, mas minhas pálpebras separaram-se com pressa quando meu braço foi puxado para cima, um outro braço envolveu-me pela cintura e uma cabeça acomodou-se em meu peito. 

   — Por que você fez isso? — Perguntei completamente nervosa e estática. 

   — Estou escutando seu coração. — Disse naturalmente, ignorando minha pergunta.  

   — Camila... — Alertei. 

   — Ele tá acelerado. — Riu. 

   — Eu imploro. Para com isso. — Precisei apelar. 

   — Shhh. Gostou de me escutar cantar hoje? — Ela não se preocupava em nada com o fato de estar falando alto. 

   — Você leva jeito. — Sussurrei para não fazer barulho. Leva jeito, leva minha atenção e meu coração

   — Quando eu aprender de verdade eu toco mais alguma coisa pra você.

   — Eu gostei do que fez hoje. — Ignorei o "pra você". Ela deve estar com sono.

   — Jura? 

   — Aham. 

   — Obrigada. — Bocejou. — Mas prefiro a sinfonia angelical de seu coração. 

   — Idiota. 

   Ela riu e o meu maldito bombeador de sangue desembestou. 

   — Eu realmente devo ser... — Comentou ao mesmo tempo em que seus dedos acariciavam minha cintura.

   — É? — Fiz de tudo para manter calma a voz.

   — Aham. Eu aturo suas idiotices. — Tapei sua boca com a mão e ela riu. — Lauren! — Afastou minha mão e eu sorri. 

   Sua mão apertou ainda mais a minha cintura, sua cabeça foi erguida e seu nariz cheirou rapidamente o meu pescoço. Meu corpo gelou e esquentou em questão de segundos! 

   Eu sei que ela vai ao baile com ele, mas agora, exatamente agora, nesse momento ela está em MEUS braços, escutando o MEU coração, abraçando a MINHA barriga.  

   Engoli um pouco de ar e tomei coragem. Toquei em seu ombro, deixando meus dedos deslizarem por seu braço, antebraço e pararem em sua mão. Escutei-a inspirar e expirar vagarosamente para então entrelaçar nossos dedos. 

   — Boa noite, Lolo. — Voltou a acomodar a cabeça em meu peito.

   — Boa noite. — Falei com a voz falha.

   — Lolo? — Chamou-me já com a voz lenta por causa do sono.

   — Hum. 

   — Ainda não podemos andar de mãos dadas, não é? — Que pergunta é essa?

   — Aham. 

   — Que bom que dormir de mãos dadas não está incluso nisso. 

   Procurei alguma resposta, mas não encontrei. Ela estava certa ou eu queria que ela estivesse certa. Nós poderíamos dormir assim.

   — Vou acordar a Dinah se vocês não forem dormir agora mesmo. — Brooke disse embravecida.  

   — Pois é. Hoje ela só não montou guarda porque vocês não estão mais... naquela coisa. — Normani comentou do outro canto.  

   — A gente acha que não estão. — Brooke reclamou.

   — Certo. Façam silêncio! Vai dormir, Camila. Boa noite. 

   A idiota gargalhou mais um pouco, fazendo meu corpo todo enrijecer ao sentir o contato com o dela. 

   — Boa noite, Lolo. — Disse definitivamente, virando o rosto e deixando um beijo em minha clavícula coberta pela camiseta. Podia estar coberta, mas meu corpo travou ao sentir aquilo.

   Eu estava completamente perdida. Eu precisava que ela voltasse para mim, mas voltasse por inteiro, porém eu não conseguia fazê-la voltar e mesmo tentando afastá-la ela estava lá, como o céu, tão perto, mas intocável.


Notas Finais


Sério mesmo, estou desacreditada aqui. Quase tive um heart attack quando vi. Só fiz piscar e o troço tava em 300 kkk que loucurinha. Mas deixem-me falar como me sinto em relação a essa fic. Tipo, sabe quando você não se preocupa nem um pouco em se arrumar p ir p uma festa pq acha que ninguém vai arrumado, mas quando chega lá tá todo mundo super bem produzido? Então, eu me sinto assim. Se eu sonhasse que chegaria em 300 favoritamentos e tantos comentários, eu teria feito essa coisa mais bem feita, masok. Ai, nem sei o que dizer, mas obrigada por acompanharem ou por lerem, terem paciência e relevarem os erros e os parágrafos teimosos. É isso, sei lá, qualquer coisa falem comigo qualquer coisa. Eu fico ansiosa esperando a opinião de vocês, apesar de a fic parecer andar em círculos, mas é assim mesmo. Ok. Até a próxima e saudações :D/


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