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História Parece Mais Fácil Nos Filmes - Gunslinger


Escrita por: SheUsedToBeEmo

Notas do Autor


OLÁ, GENTE.

Capítulo 46 - Gunslinger


Sábado.  

   Sabe quando tudo pode dar certo, mas por ironia e vontade do universo dá errado? Sabe quando tudo está tão bem que você acaba esquecendo-se que existe  a parte ruim da vida? Então, eu estava assim.   

   Estava.  

   Sábado. 418 dias desde que Camila falou comigo pela primeira vez. Faz exatamente 4 dias que Camila não fala comigo e eu não dirijo a palavra a ela. Sim. Nós brigamos, brigamos muito feio na quarta-feira — e alguns dias antes — e agora contarei a você como tudo ocorreu. Contarei nos mínimos detalhes para que ao final desse relato você entenda e constate que eu não fui a culpada... Não totalmente.  

   Tudo começou na noite de terça para quarta. Camila e eu estávamos deitadas em minha cama, conversando sobre o dia que tivemos.  

   — E aí eu consegui entender tudo o que ela disse sobre esse caso. — Ela estava explicando sobre uma matéria que havia aprendido.  

   — Aham... — Falei olhando para o teto.  

   — O segredo é colocar-se no lugar de quem age assim.   

   Ela estava me explanando o segredo de entender a mente humana, aquilo não me importava muito,  mas se era ela quem  estava falando, tudo bem.   

   — Sabe,  é muito fácil julgar,  mas ninguém se coloca no lugar do réu.  Existe um motivo para tudo!   

   Dei uma leve risada e franzi o cenho. 

   — Namorada,  não diga-me que você agora defende os assassinos psicopatas. — Pedi jogando uma perna por cima das dela e virando-me para encará-la. 

   Estávamos deitadas na cama dela. Camila com a barriga virada para cima e eu de lado.  

   — Nãããão... — Ela abanou uma mão no ar. — Estou agindo de forma impessoal. Sem julgamentos.   

   Camila continuou tentando me explicar aquilo até o celular dela alertar uma nova mensagem. Ela pegou o aparelho, desbloqueou e virou para que eu não visse. Não dei importância para isso e continuei escutando-a falar, agora sobre ter conhecido a namorada e a tal amiga do Blake.  

   — As duas são bem legais... — Franziu o cenho enquanto lia algo no celular. — E aí eu falei pra gente sair qualquer dia...  

   — Aham. — Concordei achando estranho Camila digitar alguma coisa como se tivesse dúvida. — Quem te mandou mensagem? — Perguntei sem conseguir esconder a curiosidade.  

   — Ah... — Bloqueou o aparelho e jogou sobre o colchão. — Foi uma colega.  

   — Hum... — Desconheço as colegas de Camila. — Qual colega?  

   — Uma aí... — Falou naturalmente. — Pedi  um livro emprestado e ela disse que levará amanhã...  

   — Ah ok. É que você não me falou disso... Mas tudo bem.  

   — Devo ter esquecido. Mas você estava falando sobre um trabalho, não é?   

   Foi impressão minha ou Camila desconversou o assunto? No momento pareceu apenas impressão, sim. Por isso deixei quieto o assunto.  

   — Não. Estávamos falando sobre sua colega.  

   — Mas ela nem é importante. Quero saber sobre o seu trabalho.  

   — Ah. Então, eu vou ter que fazer uma pesquisa, provavelmente na biblioteca. Veronica deve ir comigo...  

   E nesse dia não aconteceu nada de estranho além de Camila ter pegado o celular exatas 4 vezes e olhar com desconfiança para ler alguma coisa.  

 

Quarta-feira.   

   Na quarta-feira a bomba explodiu. Mas não foi de imediato. A coisa aconteceu lentamente... Como um chiado de bomba e depois a explosão. Como a faísca percorrendo o barbante até chegar no explosivo e detonar.  

   — Zangada, você tem uma certa coisa de uso mensal para me emprestar? — Dinah perguntou.   

   Estava me arrumando para a universidade quando ela entrou no quarto sem bater na porta.  

   Não. A bomba não aconteceu nesse momento.  

   — Onde estão os seus? — Perguntei lembrando que sempre comprávamos coisas essenciais quando íamos fazer as nossas compras no supermercado.  

   — Eu não fui comprar com vocês da última vez. Fiquei em casa porque estava ocupada, lembra?  

   — Dormir não é uma ocupação. — Falei pegando minha mochila e encarado a garota.  

   — É sim. Agora me empresta alguns, vai. — Revirou os olhos.  

   — Por que você não pede à outra garota?  

   — Porque apenas você usa o mesmo que o meu. — Ela disse e só então lembrei desse detalhe.  

   — Ok, Jane. Ok.  

   Fui até o guarda-roupa e peguei uma caixa, entreguei a Dinah.  

   — Peguei seis. Nunca se sabe, não é? — Ela riu e saiu do quarto antes que eu falasse alguma coisa.  

   E durante esse momento de sairmos, irmos até a estação e nos despedirmos, tudo ocorreu bem.  

   — Tchau, namorada! — Falei assim que o trem dela chegou.  

   — Tchau. — Falou sem sequer me olhar. Apenas acenou e caminhou até o vagão.  

   Fiquei sem entender muito bem aquilo. A gente estava bem até onde eu sabia, mas vai ver ela apenas estava apenas tendo um dia ruim, não é? Ou quem sabe acordou com mau humor. Acontece isso o tempo todo com todas as pessoas do mundo, certo? Em um dia você acorda querendo abraçar o mundo, no outro você deseja espancá-lo.   

   Tive minhas aulas, tranquilamente. Camila me ligou, normalmente. Digo, o ato de ela ligar foi normal, mas o jeito que ela me tratou foi muito diferente. Era como se estivesse falando comigo apenas por obrigação, mas eu ainda tinha em mente que ela estava tendo apenas um dia ruim.  

   No fim da tarde eu  voltei para casa e tudo ocorreu incomumente. Camila chegou e malmente olhou em meu rosto.   

   — Oi.  

   Foi o que ela disse quando me viu na sala, passou diretamente para o quarto, depois voltou e foi para a cozinha. Jantamos e Camila não falou comigo, até sentou ao lado de Normani e deixou que Dinah viesse para o meu lado. Não falei nada e comi em silêncio. Era a minha vez de lavar a louça, mas diferente dos outros dias, ela não me ajudou enxugando enquanto eu lavava. Eu sentia que havia algo estranho. Algo em mim gritava que uma coisa ruim estava para acontecer e meu interior começava a se preparar pra seja lá o que fosse explodir.  

   Quando terminei meus afazeres na cozinha fui diretamente em busca de Camila. Achei-a no quarto, entrei sem bater e fui direto ao assunto.  

   — Te fiz alguma coisa pra você me tratar assim? — Perguntei já irritada.  

   — Você esteve com a Ferrer, Lauren? — Ela perguntou cruzando os braços e me encarando com um semblante calmo, sem rodeio algum.  

   Pensei rapidamente e falei a primeira coisa que meu instinto de defesa quis falar.  

   — Não. Por quê?  

   Camila crispou os olhos e me encarou um pouco estranha. Como se duvidasse de mim e então entendi que ela estava remoendo aquela pergunta durante todo o dia.  

   — Eu não digo hoje. — Permaneceu calma. — Digo em um outro dia qualquer.  

   Nesse momento comecei a suar frio. Meu coração já batia nervoso, enquanto o semblante de Camila parecia pacífico.  

   — Ah... — Pensei um pouco, sentindo-me intimidada demais com o olhar da minha namorada. — Não (?)  

   Ela assentiu lentamente e se aproximou de mim a passos lentos.  

   — Tem certeza? — Agora não tenho certeza nem do meu próprio nome! — Não houve dia algum em que você e a Vero estavam perto do prédio de Medicina, não?  

   Droga! Como ela descobriu?! Foi a Veronica? QUEM FOI QUE ACABOU DE ACABAR COM A MINHA VIDA? 

   Respirei fundo duas vezes e tentei não demonstrar meu nervosismo, mas claramente Camila já havia sacado.  

   — Aaaah ta. — Cocei a nuca e ri nervosa, tentando disfarçar. — Sim... Pode ter acontecido uma vez assim.  

   — Pode ou teve?   

   A seriedade de Camila estava começando a me fazer querer sair correndo dali.  

   Digo a verdade ou omito?! Verdade!  

   — Teve. — Respondi rapidamente.  

   — Hum... — Assentiu calmamente, parecendo analisar aquilo. — Não me contou por que?  

   — Porque foi desprezível. Sei lá. Não lembrei. — Dei de ombros.  

   — Diga a verdade agora mesmo. — Ela exigiu. 

   Camila, não me olha assim como se fosse transformar seu olhar em algo concreto e me perfurar até a alma abstrata! 

   — Camila! Eu não contei por isso! Você ia querer brigar!   

   — Hum. Tá. Não vou brigar, apenas não fale mais comigo.  

   Não aguentei e bati um pé no chão. 

   — Para! A gente namora! Você não pode mais agir como se não tivéssemos nada e me ignorar!  

   —  A gente tinha combinado falar sempre a verdade. Você mentiu! — Apontou um dedo para mim. 

   — Camila, nem foi mentira! Eu só esqueci!  

   — Chega! Isso é outra mentira! Eu sei muito bem que esse seu cérebro pensa mais do que o normal, — Ela desdenhou. — VOCÊ NÃO ESQUECERIA A DROGA DE UM BEIJO NA BOCHECHA QUE A ALEXA TE DEU! — Aumentou o tom e eu paralisei.  

   Caramba! Como ela conseguiu descobrir tudo? Quem foi o demônio que ateou esse fogo?! 

   Eu já sabia que a verdade demora, mas chega sempre sem avisar. Apenas não queria que acontecesse comigo!  

   — Eu posso explicar! — Falei o que eu não deveria ter falado.  

   Qual frase é pior do que "Eu posso explicar" em uma situação assim? O "eu posso explicar" é o clássico das pessoas que são culpadas, mas não aceitam a culpa. Eu sei que errei muito omitindo o acontecimento de Camila. Mas foi para o bem de nós duas, caramba!  

   — Explique, mas eu não quero mais falar com você por hoje.  

   Ergui os braços já me sentindo desesperada. Eu precisava ser bem eloquente em minha explicação. Eu precisava ter uma explicação sincera.  

   — Veja bem. — Falei me esforçando para manter a calma. — Eu estava ajudando a Veronica a fugir da Lucy! Lembra que ela estava fugindo? — Perguntei e esperei ela assentir para continuar. — Então, ela pediu pra ir até o outro lado porque queria fugir... E a gente foi... E a Alexa acabou encontrando a gente e aí, né? — Eu comecei a perder minha eloquência após o olhar furioso que Camila lançou para mim. — Ela falou comigo e aí...   

   — Te beijou. — Completou cruzando os braços. 

   — É. Mas eu limpei! Juro que limpei no mesmo instante!  

   Limpar não vai fazer Camila te odiar menos, Lauren idiota!  

   — Eu beijei o mesmo lugar que ela beijou?! Eu te odeio! — Bradou batendo na cama, fazendo-me recuar um pouco.  

   — Camila, eu não sei mais o que dizer! — Confessei. 

   — Não fala comigo até o fim do dia. — Virou o rosto e ergueu uma mão.  

   — Camila, eu sabia que você iria brigar! Tá vendo? Eu não contei por causa disso!  

   — Economize suas palavras. Nada que você diga vai melhorar a nossa situação no momento. Agora, tchau. — Fechou a porta e sumiu.  

   Joguei-me sobre o colchão e respirei fundo.  

   E ela cumpriu o que disse, não falou comigo pelo resto do dia e eu também não consegui descobrir quem havia contado tudo a ela. Até liguei para Veronica querendo saber como ela teve a coragem de contar para Camila. 

   — Lauren, juro que isso não veio de mim! E eu também não contei a ninguém! 

   Foi o que ela disse depois de eu ter insistido um pouco. 

   — Então quem foi? 

   — Eu não sei! 

   — Certo. Eu acredito em você. 

   E naquela noite eu fui dormir irritada e sem saber que mandou a mensagem para Camila.

    

Quinta-feira.  

     Na quinta-feira Camila e eu nos acertamos assim que acordamos. Coisa que achei rara, mas não pensei muito porque quando se pensa em algo bom por muito tempo, sempre surge um destruidor. 

     Levantei, peguei minhas roupas e fui direto para o banheiro. Não estava com pressa alguma, até porque desde que descobri que tomar banho antes das outras evita que eu participe daquela agonia, minhas manhãs tornaram-se muito melhores. Em seguida fui para a sala e vi que o lugar ao lado de Camila estava vago. 

     — Podemos nos falar agora? — Perguntei assim que me sentei. 

     — Podemos. — Respondeu sem tirar os olhos do prato. — Só não quero mais nada desse tipo. 

     Assenti e coloquei café puro em minha xícara. 

     — Mas, me diga uma coisa. — Coloquei o açúcar, mas dispensei o leite. — Quem contou a você? Foi a Veronica? 

     Eu já sabia que não havia sido a Iglesias, mas não me custava nada confirmar. 

     — Não. Não foi ela. E nem posso te dizer como eu soube.  

     — Alguém tem que ter dito! — Exasperei-me um pouco dando uma golada no café. 

     — Vocês poderiam discutir isso em um outro lugar que não seja a mesa onde fazemos nossas refeições? — Brooke perguntou e eu bufei. 

     — Desculpe-me, Ally. — Camila pediu enquanto eu revirava os olhos. 

     — Vou tomar meu banho porque, sinceramente vocês duas me cansam. — Dinah disse levantando-se. 

     Depois disso desisti de saber quem havia contado aquilo e voltei ao quarto para esperar a minha vez de escovar os dentes. 

    Já durante a noite, depois de voltarmos para casa e jantarmos. Camila e eu fomos para o quarto dela. Deitamo-nos mais uma vez na cama, nos ajeitando da melhor maneira que encontramos, ela virada para cima enquanto eu observava o perfil dela. 

   Estávamos em silêncio, sem dizer nada. Eu observava Camila até notar o celular dela em cima da barriga da mesma. Peguei-o sem intenção alguma e pude vê-la seguir meu gesto com os olhos. 

   — Camila, qual é a sua senha? — Perguntei curiosa apertando um botão. 

   — Spar. — Ela disse sorrindo. 

   — Isso significa o quê?  

   — O nome do Sparky incompleto. Era 1234, mas as meninas já sabiam. E antes disso era "eueu" porque era meu... E antes disso... — Ela explicou e eu ri.  

   — Tá. Já entendi. Mas quer dizer que todas as garotas sabem, menos eu?  — Perguntei e ela assentiu. 

   — Você nunca pediu a senha! — Falou tomando o aparelho de mim. 

   — Agora me passa seu celular. — Tentei pegar de volta, mas ela fez graça. — Anda, namoradas fazem isso! 

   Ela me entregou o aparelho rindo e eu rapidamente coloquei a senha. Fiquei olhando o plano de fundo dela e era uma foto dela com o Sparky. Sorri pra aquilo e fui direto para a caixa de mensagens dela, tinha 1 não lida. Abri a caixa de entrada e franzi o cenho ao ver de quem era aquela mensagem não lida.  

   Eu sei, Mila. Mas quem sabe um dia eu não vá te visitar ;) - Austin.  

   E PARA MEU DESASTRE COMPLETO NÃO HAVIA APENAS UMA MENSAGEM DELE, TINHA UMA CONVERSA INTEIRA COM ELE!  

   — Mas que inferno é esse aqui no seu celular, Camila?! — Perguntei com os dentes trincados, virando a tela para ela.  

   — Ops! Esqueci de apagar. — Sorriu amarelo.  

   — VOCÊ TEM TROCADO MENSAGENS COM O INFAME? — Gritei sem conseguir segurar a raiva.  

   — Nããão... — Balançou a mão no ar com uma tranquilidade cínica. — Eu falei uma vez com ele...  

   — AQUI TEM MAIS DE TREZE MENSAGENS, CABELLO! — Levantei da cama e joguei o celular para ela.  

   Eu iria morrer. O meu coração não aguentaria muito tempo ao lado de Camila.  

   — Lauren, eu posso explicar!  

   — Eu não quero a porcaria de uma explicação! — Mentira, quero sim!  

   — Eu escutei sua explicação naquele dia, você vai me ouvir sim!  

   — Seja rápida. — Fiz-me de difícil. 

   — Ele me mandou uma mensagem um dia desses e eu respondi. — Explicou sentando-se. — Foi isso!  

   — E agora ele vem ver você?— Perguntei cega pelo desespero e raiva. — ELE SABE QUE VOCÊ NAMORA, CAMILA?   

   — Não... — Ela sorriu sem graça. — Não deu tempo de falar, tá?! E isso de me ver foi porque ele descobriu agora que eu estou aqui. Ele continuou em Miami. — Pelo menos alguém ficou onde devia ficar! 

   Respirei fundo e tentei manter a calma.  

   — Pode mandar agora mesmo a mensagem falando "Oi, Austin. Eu namoro. Namoro a LAUREN",  destaca o Lauren. Coloca soletrado, deixa bem na cara dele! — Falei sem nem pensar no que eu estava falando. 

   Que baboseira ridícula eu exigi. Já pensou se ele conta a mais alguém? Mas naquele momento eu não pensei sobre isso. 

   — Se eu mandar, você vai se acalmar?! — Ela questionou já pegando o celular e desbloqueando. 

   — Vou! — Dei três passos, aproximando-me dela. 

   — Não vai me matar depois por ter enviado, não, né? — Ela parecia receosa e é claro que ela deveria estar, eu, em sã consciência jamais pediria aquilo. 

   — Envia logo! Não quero nem sonhar que tem rastro desse garoto perto de você! — Falei sentando-me ao lado dela na beirada lateral da cama. 

   — Ok. — Ela pegou o celular e começou a digitar, segundos depois parou e me mostrou a tela.  

   Ela havia escrito exatamente o que eu disse.  

   Sorri satisfeita e fiz questão de apertar o "enviar". Ela olhou-me parecendo estar confusa, mas não disse nada, apenas levantou-se, jogou o celular em qualquer lugar sobre o colchão e sentou-se em minha perna. 

   — Agora me beija. — Entrelaçou os braços em meu pescoço. — Te achei super sexy com esse ciúme bruto... — Falou mordendo o próprio lábio inferior e me empurrando de uma vez só sobre a cama.   

   — Para. Fiquei traumatizada desde aquele dia! — Falei lembrando do dia em que Camila me intimou para algo... Você sabe o quê.  

   — Dane-se seu trauma. — Sentou-se sobre minha cintura e inclinou-se deixando o rosto a centímetros do meu. — Vou fazer de tudo pra piorá-lo. 

   Antes que ela fizesse alguma coisa, eu mesma levei as mãos até o rosto dela e ataquei o seu lábio inferior, prendendo-o entre meus dentes por pouco tempo, para então beijá-la. Enquanto isso, Camila percorria as laterais do meu corpo com as mãos urgentes. Eu estava apenas preocupada com a minha língua indo de encontro a dela, dando início a um beijo bastante intenso.  

   Camila queria mais, logo senti uma perna dela ser colocada entre as minhas e aquelas malditas mãos começarem a subir por meu tronco.  

   Segurei firme no cabelo dela e movi meus lábios com mais força. Era como se meu corpo exigisse aquilo. Mas Camila não me deixou ficar naquilo por muito tempo, separou nossas bocas e, um pouco ofegante arrastou os lábios por minha bochecha, levando-os até meu pescoço.  

   Respirei fundo e desci minhas mãos pelas costas dela.   

   — Não me mata, mas... — Camila disse com a voz rouca em meu ouvido e então começou a beijar meu pescoço languidamente.  

   Se eu entendi no mesmo momento o que ela falou? Claro que não! Mas a seguir vou dizer o porque de ela ter dito aquilo!  

   Camila continuou dando fortes beijos em meu pescoço ao mesmo tempo em que minhas mãos apertavam a cintura dela e as dela já estavam em minha barriga, por debaixo da blusa.  

   Os beijos molhados dela e toda aquela pressão sobre meu corpo já estavam me deixando um pouco além do normal.   

   Não satisfeita com a intensidade da situação, Camila foi subindo lentamente as mãos, causando arrepios e ofegações em mim. Eu já estava com os olhos fechados e com a respiração descompassada quando senti as duas mãos de Camila pressionarem meus seios.  

   Sim! A descarada fez isso!     

   Sim! Ela teve a audácia de fazer aquilo que eu sempre quis impedir! 

   Sim! Camila Cabello tirou a inocência de minhas vergonhas superiores! 

   E eu? Eu quis empurrá-la para longe, mas meu corpo me contrariou e se contorceu vergonhosamente debaixo dela. Camila pareceu ter notado isso porque escutei um gemido em meu ouvido.  

   — Droga. — Ela murmurou completamente rouca enquanto, por cima do sutiã, continuou apertando duas de minhas vergonhas! — Sonhei tanto com esse dia que acho que vou desfalecer.  

   A voz dela soou tão rouca que eu precisei apertar meus olhos para segurar aquelas sensações ousadas. 

   Eu queria parar com aquilo, mas, pela primeira vez, eu não consegui! Apenas deixei que Camila continuasse com os movimentos e aproveitei para soltar a cintura dela e deslizar minhas mãos para a parte inferior traseira dela.  

   — Aperta. — Sussurrou, fazendo um gemido escapar de minha garganta.  

   E fiz exatamente o que ela mandou. Posicionei meus dedos e apertei com muita vontade, puxando-a um pouco para cima.  

   — Aperta bem forte porque eu gosto... — Falou sensual e eu a xinguei mentalmente porque ela falando assim só piorava o meu autocontrole!  

   Camila estava completamente ofegante, ainda sugava meu pescoço e não descansava as mãos nos... Você sabe onde. Com movimentos simples, como se prepara uma massa para pão, mas no caso os... meus... eram a massa!  

   Tudo bem que no fundo nós humanos não passamos de carne e osso em constante decomposição, também sei que comparar a uma massa é completamente errado, mas use sua transcendência e entenda a situação!  

   E apesar de tudo eu queria beijá-la.  

   — Camila, me beija... — Pedi abrindo os olhos e esperando até ela desgrudar a boca do meu pescoço e me encarar.  

   — Beijo. — Lambeu os lábios e crispou os olhos. — Beijo o que você quiser... — Disse apertando os meus seios ainda mais e então eu entendi o que ela queria.  

   — Ei! — Exclamei. — Vai beijar a minha boca! Nada além disso!  

  — Por favor, namorada... — Sorriu safada, continuando os movimentos que estavam fazendo a minha cabeça. — Só uns beijinhos...  

   — Camila! — Falei empurrando-a para o lado.  

   Ela suspirou alto e forte, grunhido um pouco.  

   — Iriam ser uns beijos bem legais...   

   Eu já estava sem argumentos para contestar, mas eu precisava ser forte. Ainda não era o momento pra um grande passo até a lua.

   — Isso é ridículo, Camila! Você já ultrapassou um limite hoje!  

   — E daí? Eu quero ultrapassar todos os limites.    

   — Eu preciso ir ver o Sparky. — Falei levantando-me, abrindo a porta e indo diretamente para a cozinha, deixando Camila resmungando sozinha no quarto.

   Abri a geladeira com pressa e busquei por meu suco, bebendo-o rapidamente e diretamente da caixa. 

   — Amiga, aconteceu algo? — Normani perguntou encostando-se na pia ao meu lado. 

   — Normani, a Camila está jogando sujo comigo pra conseguir você sabe o que. — Sussurrei. 

   — Ela tentou algo... quente? — Perguntou rindo. 

   — Ela tocou... — Apontei para os recentes não mais inocentes. 

   Normani gargalhou e eu estalei a língua no céu da boca e bebi um pouco mais do suco. 

   — Laur, amiga. Aproveita! Isso faz parte da saúde humana. Você vai ter que fazer um dia. 

   Olhei para ela e comecei a coçar meu pescoço me sentindo nervosa. 

   — Vou ver se o Sparky já comeu. — Apontei com o polegar para a sala e saí de lá. 

   Você deve estar pensando "Certo, Lauren. Mas cadê a parte em que eu decido quem errou? Vocês se reconciliaram!"  

   Não. Não nos reconciliamos por completo porque houve o dia posterior.  

 

 

Sexta-feira.  

   Acho que alguns fatos da vida funcionam como uma guerra e sei que você já cansou de ter que me aturar falar sobre guerras, batalhas e compará-las à vida. Mas acontece que não consigo encontrar outra comparação melhor. Veja bem, esses dias em que briguei com Camila parecem como quando os soldados aproveitam a noite para avistarem o campo inimigo e, achando que um ataque não vai acontecer, são surpreendidos por uma granada. Com isso a guerra tem início e a trégua não existe mais porque, mesmo que ela seja anunciada, os homens ficarão tensos à espera de um ataque surpresa.  

   E é assim que me sinto no momento, como se a qualquer instante uma outra bomba explodirá vindo de minha parte ou da parte de Camila. 

   — Lauren Michelle, não estou bem. — Veronica disse como se estivesse com o nariz entupido.  

   Estava, juntamente com Allyson, chegando ao campus quando o meu celular tocou. 

   — O que você tem? — Perguntei diminuindo a velocidade dos passos como de costume, esperando Veronica aparecer saltitante de algum lugar. 

   — Acho que gripei.     

   — Então você nem vai aparecer hoje, certo? — Entendi o porque de ela ter ligado. 

   — Exatamente. Depois pego a matéria com você.  

   — Ok. Melhoras. Tchau.  

   Desliguei e guardei o aparelho no bolso. 

   — O que aconteceu? — Allyson perguntou voltando a andar comigo. 

   — Veronica disse que gripou, não virá hoje. 

   — Vamos vê-la, Laur! A Alexa não vai cuidar dela! 

   — Brooke, é uma gripe. Todo mundo gripa. 

   — Laur, ela precisa da gente. 

   — Podemos ir depois das aulas, pelo menos? 

   — Ok. Vamos passar em uma farmácia também. 

   Seguimos para as aulas e eu nem preciso dizer que para mim foi tudo muito tedioso sem Veronica, certo? Eu sei que reclamo por ela falar demais e que não faz sentido eu reclamar por não escutá-la, mas é só quando tudo se acalma que você percebe que a calmaria não é algo tão bom assim. 

   Durante o intervalo Lucy lamentou por Veronica não ter aparecido durante o dia e falou que após o almoço iria vê-la. Allyson e eu dissemos que iriamos depois das aulas porque nenhuma de nós duas achava certo perder assim.  

   E assim que nossas aulas acabaram, fomos até a farmácia mais próxima que encontramos e deixei que a Brooke comprasse o que ela achava necessário. 

   — Um xarope, algumas pastilhas, tem essas balinhas, e esses comprimidos para dores... — Ela disse colocando tudo em uma cestinha e indo até o caixa. 

   — Brooke, ela gripou. Qualquer chá resolveria. — Falei a verdade.

   — Posso querer cuidar da nossa amiga? 

   — Por mim... — Dei de ombros. 

   Ela pagou tudo e então voltamos para o campus, indo diretamente para os dormitórios. 

   — Espera, a Alexa vai estar lá?  

   Ela perguntou e só então dei-me conta de que o dormitório de Veronica era um lugar proibido para mim. 

   — Sei lá... — Respondi. 

   — Laur, eu acho melhor eu ir sozinha, nesse caso... 

   — Não. Faz o seguinte, você vai levar um século se for, deixa que eu vou, entrego isso aqui a ela e volto. — Falei já imaginando que Allyson demoraria séculos lá dentro.

   — Nada de demorar. Por favor. E o quarto dela é o último à direita do corredor do primeiro andar. 

  Assenti e subi os degraus torcendo para que Alexa não estivesse lá. Cheguei ao primeiro andar e fui diretamente para onde Allyson havia indicado. Bati duas vezes na porta e esperei aum pouco até ela ser aberta. 

   — Oi, Laur!  

   Fechei os olhos ao escutar aquela voz e rapidamente os abri de volta. 

   — Veronica está aí? — Perguntei sem querer alongar conversa alguma com Alexa.  

   — Desde cedo estou tentando convencê-la a tomar um banho, mas ela prefere ficar se fazendo de doente. — Alexa disse chegando para o lado e me dando passagem.  

   — Lauren Michelle! Que bom te ver antes da minha morte chegar! — Veronica disse e eu revirei os olhos para ela.  

   — Aqui. — Joguei a sacola da farmácia em cima dela. — Trouxe os remédios que Allyson disse que são bons.  

   — E por que ela não veio me ver? — Ela sorriu abrindo a sacola, mas franzindo o cenho ao ver o tanto de coisa que tinha ali.  

   — Ela ia se sentir uma enfermeira por isso impedi-a de vir. — Falei. — Me agradeça.  

   Veronica ajeitou-se sobre a cama e bateu no colchão para que eu me sentasse ali. Um pouco receosa, fiz o que ela indicou e logo comecei a explicar pra que servia cada coisa. 

   — E como é que vai o seu namoro, Lauren? — Ferrer perguntou me interrompendo e sentando-se sobre a cama.  

   — Muito bem, Alexa. Obrigada. — Respondi.

   — Hum. Poderia ter um melhor. Você sabe, né? — Perguntou fingindo olhar as unhas. 

   — Alexa, você poderia calar essa boca? — Veronica perguntou. — Eu estou doente.  

   — Posso expressar a minha opinião? — A garota fez cara de inocente. — Eu não acho que a Cabello saiba o que é um namoro. Também não acho que aquelas quatro sejam boas companhias pra vocês duas.   

   — Ah tá. Até porque você é a melhor pessoa pra se encaixar nisso, né? — Veronica perguntou mais preocupada com as balinhas que Allyson mandou.

   — Sem dúvida alguma eu sou. — Ferrer sorriu presunçosa.

   Comecei a me sentir sufocada, como se os tempos de escola estivessem voltando.

   — Bem, eu só vim aqui pra ver como você estava e pra te entregar essas coisas. Agora, já vou embora. — Falei já me levantando.

   — Fica mais um pouco, Laur. Vamos conversar sobre você ser meio estúpida estando com aquela garota. — EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ FALOU ISSO, FERRER!

   — Alexa, você não tem o que conversar com a Lauren! 

   — Tenho sim, principalmente sobre ela largar aquela namoradinha dela.  

   — Veronica, a gente se fala mais tarde ou amanhã... Fica bem. — Apoiei a mão rapidamente sobre o joelho dela e me levantei, ignorando completamente o que Alexa disse. 

   Não esperei mais nada e fui em direção à porta. 

   — Será que você não consegue controlar essa boca? Deixa a garota em paz! — Escutei Veronica dizer assim que fechei a porta e ainda pude ouvir uns brados em resposta, mas preferi não ficar para saber o que Alexa respondeu.  

   Voltei para o pátio e não demorei muito para encontrar Allyson. 

  — Como ela está? 

  — Vai melhorar. — Falei indo em direção a saída. 

  — Alexa estava lá? — Perguntou adiantando os passos ao meu lado.

  — Estava. 

  — Você não fez nada, né? 

  — Lógico que não. 

   Logo encerrei aquele assunto e me concentrei em voltar para casa e apenas isso. Nada de pensar sobre Alexa e seus comentários ruins. Tudo o que eu precisava era olhar para o asfalto, paras as rodas, para os pés alheios, escutar os sons de uma grande cidade, sentir o ar me tocando e querer chegar logo em casa para ver a minha namorada. 

   Assim que chegamos ao apartamento, fui para o meu quarto, deixei minha mochila e fui até o banheiro para lavar as mãos, por isso nem fechei a porta. 

   — Quer dizer que a Vero está doente? — Olhei para o lado e vi Camila encostada na moldura da porta com os braços cruzados. 

   — Uma gripe boba. — Respondi sem olhá-la.

   — E ela não foi hoje às aulas, certo? 

   — Aham. 

   Respondi, mas pude sentir o tom irônico e sério de Camila. 

   — Você foi até o dormitório dela, Lauren? — Camila perguntou e eu já estava lembrando que a maré de azar desta semana talvez não tivesse ido embora ainda. 

   — Fui levar o remédio pra ela! — Expliquei erguendo as mangas de minha blusa. 

   — E a Alexa estava lá? 

   — Estava. Ela mora lá. — Revirei os olhos abrindo a torneira e lavando as mãos. 

   — Vocês conversaram? — Ela perguntou e eu engoli em seco.  

   — Um pouco...  

   — Sobre o quê?  

   — Sobre... Nada. — Peguei o sabonete e ensaboei todos os meus dedos e entre eles também. 

   — Fala, Lauren! Sem mentiras!  

   — Certo. — Continuei ensaboando minhas mãos para eliminar o máximo possível dos germes. — Ela perguntou se realmente eu estava namorando, eu disse que sim e ela riu dizendo que eu era uma estúpida.  

   — Ela falou isso de você?! — Riu sem vontade. 

   — Falou. — Respondi abrindo a torneira novamente e enxaguando minhas mãos. 

   — Eu te odeio! — Falou batendo na parede. — Quem ela pensa que é pra falar mal de você?!  

   — Olha, tudo bem...  

   Eu ia dizer que estava tudo bem eu ser chamada de estúpida, que eu nem ligava para o que Alxa dizia, mas Camila não me deixou falar. 

   — Que estúpida você é por falar com essa garota psicopata!  

   Fechei a torneira e olhei incrédula para ela. 

   — Você tá falando mal de mim? — Apontei para mim mesma. 

   — EU POSSO! EU SOU SUA NAMORADA! EU FALO O QUE EU QUISER! — Surtou e eu arregalei os olhos enxugando minhas mãos na toalha. 

   — Ah... Ok. — Assenti freneticamente evitando que ela se irritasse ainda mais.  

   Camila sempre me causa medo quando resolve brigar comigo. 

   — Eu não quero falar com você tão cedo. — Sorriu sarcástica. 

   — Camila... Eu te contei dessa vez!  

   — Contou porque eu falei! E custava ter deixado a Ally ir em seu lugar? Claro que custava. Você achou que não ia encontrar a Alexa no dormitório dela! 

   — Eu ia contar sozinha. É sério. — Passei as mãos pelo rosto. — Não para de falar comigo de novo. É sério! 

   — Você tem agido muito mal, namorada. Eu estou chateada e irritada com você. — Falou olhando para o chão.  

   E então, sem dizer mais nada, Camila caminhou até a porta do próprio quarto. Abriu e sumiu.  

   Agora cá estamos nós, brigadas. Eu não tenho porque ir atrás  dela.  Cansei de Camila sempre querer que eu seja quem resolve tudo. Agora, se ela quiser a namorada dela de volta, ela que venha!   

   No final daquela tarde liguei para saber como Veronica estava, ela disse que já havia melhorado com um comprimido que tomou e no meio da conversa acabei contando para ela sobre minha semana terrível com Camila. 

   — Quer dar uma volta? — Ela perguntou animada.

   — Não... 

   — Vamos! É sexta. Eu preciso sair desse quarto, você também precisa fazer essa mente respirar. 

   — Ah, sei lá... 

   — Vai sim. Vou ligar para as outras garotas. Pode deixar. 

   E naquele dia Veronica me arrastou para um lugar que ela disse ser muito legal. Normani apareceu logo depois falando que foi a única a aceitar sair e que era pra eu me arrumar.  

   É claro que eu não estava com vontade nenhuma de sair, estava indo mais para ver se Camila voltava ao normal nesse meio tempo. Por isso nem fiz questão de me arrumar, apenas coloquei uma calça jeans escura e uma blusa preta de mangas. Saí do quarto e dei de cara com Normani saindo do banheiro já pronta. 

   — Vamos? — Ela perguntou e eu assenti. 

  Fomos até a sala enquanto eu olhava para o chão. 

   — Vai sair? — Escutei a voz de Camila e rapidamente encontrei-a sentada em minha poltrona. 

   — Vero quer sair um pouco, Mila. — Normani respondeu abrindo a porta. 

   — Ah sim. Ela me chamou... — Falou para minha amiga e logo depois fixou os olhos em mim. — Você vai, Lauren? 

   — Vou. — Respondi em um fio de voz. 

   — E nem pensou em me avisar? — Perguntou sem se mover. 

   — Pra quê? Você não quer falar comigo. — Dei de ombros. 

   — Só espero que você não apronte mais nada. 

   — Isso quer dizer que você já está falando comigo? — Sorri esperançosa e se ela me dissesse um sim, eu diria a Veronica que não iria mais. 

   — Não. — Foi o que ela respondeu. 

   — Ok. — Meu sorriso morreu. 

   Dei de ombros e abri a porta. Normani veio logo atrás de mim. Descemos as escadas enquanto minha amiga falava com Veronica ao telefone. Saímos do prédio e Normani guardou o aparelho na bolsa. 

   — Amiga, Vero já me passou o endereço. Vamos pegar um metrô rápido! 

   — E o que exatamente é esse lugar? 

   — Ela não disse. 

   Assenti e segui com ela para a estação. Mas você já deve imaginar que vindo de Veronica nós podemos esperar qualquer lugar que nem esperávamos. Quando chegamos onde Veronica disse que estaria nos esperando, logo analisei o lugar e balancei a cabeça incrédula. 

   — Eu quero voltar para o apartamento. — Falei vendo dois refletores azuis iluminando a fachada do lugar. 

   — Não mesmo! Isso aqui parecer ser muito bom! — Normani disse animada.

   — E é! Vim aqui um dia desses e garanto ser ótimo! Vamos entrar! — Veronica completou e nem parecia mais estar gripada, apenas estava com uma leve coriza, que deve ter sido ignorada ao surgir a palavra "festa" para ela.

   Andei relutante e antes que eu pudesse falar que estava sem dinheiro para pagar uma entrada, Normani disse que ela e Veronica fariam isso por mim. 

   Entramos e eu odiei escutar aquele som ensurdecedor pela segunda vez em menos de um mês. Eu passava me esquivando de todas aquelas pessoas, desejando apenas estar em casa e não ali. 

   — Tá vendo? — Veronica gritou em meio ao barulho. — É muito legal, Lauren Michelle.   

   — Veronica, quero ir embora. — Olhei para os dois garotos que pareciam flertar. — Isso aqui está estranho.  

   — Não tem nada de estranho. 

   — Isso aqui é uma boate gay?! — Normani perguntou parecendo estar adorando aquilo e Veronica confirmou. 

   — Eu falei pra você que iriamos vir qualquer dia. — Veronica disse em meu ouvido e eu respirei fundo. 

   Não falei mais nada e segui as duas que estavam caminhando mais pra dentro da multidão. 

   Eu não posso mentir e dizer que estava me sentindo confortável naquele ambiente. No fundo sei que atualmente pertenço a esse mundo e que não deveria me assustar com o fato de pessoas do mesmo sexo estarem se relacionando, conversando ou até mesmo se beijando! Mas o que você espera que eu pense quando nunca antes havia tido contato com coisas assim?  

  Sou parte disso porque namoro uma garota, mas não faço parte disso porque escolhi, então preciso que você tenha calma até que eu entenda como as coisas funcionam. 

  Pode parecer um certo preconceito de minha parte e isso já deve ter ficado óbvio para você em várias situações, mas quero deixar claro que não é um preconceito generalizado e sim um preconceito pessoal. Um preconceito de mim para mim.  

  Eu tenho medo de deixar que tudo se aflore em mim. Como quando estou beijando Camila e ela tenta algo além. Ali eu não consigo continuar porque algo me diz "continuar é assumir que gosta e assumir que gosta é ser". 

  Você deve estar achando isso ridículo, mas vai além. Não posso controlar esse medo. Não posso superar de uma vez só a dificuldade que tenho em aceitar a minha condição.  

   — Vamos embora. — Falei me sentindo sufocada pelos pensamentos. 

   — Vamos ficar. Eu preciso esquecer a Lucy e você precisa tirar uma folga da Camila. — Veronica relutou.

   — Se você está sugerindo que eu traía a Camila, você pode esquecer! — Ergui o indicador.

   — Ela não disse isso, amiga. — Normani falou para me acalmar.

   — Claro que não! Longe de mim querer que você traia a Mila. Mas se diverte um pouco. Sei lá. Se embebeda.   

   — Não. Obrigada.  — Revirei os olhos.

   — Eu me embebedo. Tudo bem! — Normani disse e Veronica riu puxando-a pelo braço. 

   Olhei as duas irem em direção ao bar e as segui e adorei ver que haviam banquinhos altos ali porque logo me sentei em um. 

   — A gente vai dançar. Quer ir? — Normani perguntou já bebendo alguma coisa alcoólica. 

   — Não. 

   As duas logo me deixaram sozinha e eu suspirei me sentindo péssima por estar ali somente porque minha namorada não faz questão da minha presença. Olhei para os lados e me senti ainda pior por estar naquele lugar sem ter me preparado antes. Eu não queria ficar sozinha, eu precisava falar com alguém, mas não encontrei Normani, por isso fui diretamente até Veronica. 

  — Estou mal. — Balbuciei no ouvido dela. 

  — Por quê? — Veronica perguntou parecendo preocupada.  

  — Ela nem me ligou, Veronica. Eu poderia morrer e ela nem saberia do meu cadáver porque ela não se importa! — E a vontade de chorar estava surgindo.  

  — Se importa... — A garota apoiou uma mão em meu ombro. — Ela só está chateada. Acontece.   

  — Espero que isso passe logo. Tá doendo...  

   Se eu não fosse eu, me daria um tapa na cara por estar sendo tão dramática e ridícula assim!

  — Vem. — Veronica me puxou pela mão, mas eu resisti. — Vamos esquecer essas mulheres um pouco.  

  — Eu vou ficar aqui. Só cuida da Normani. —  Apontei minha amiga que agora dançava com dois rapazes. 

  — Bebe isso aqui, vai. — Falou me mostrando um copo que estava segurando. — Você vai parar de pensar nesse drama amoroso rapidinho. 

  Ponderei um pouco, mas minha semana já estava sendo horrível, não iria piorar se eu experimentasse um pouco de álcool destilado pela primeira vez. 

  Peguei o copo da mão dela e o observei por um momento.

 De qual forma aquilo agiria em meu organismo?

 Como o álcool torna os sentidos mais lentos?

 E logo minha mente desatou a pensar lembrando das aulas de biologia. Consegui imaginar perfeitamente o  álcool entrando por minha boca, tendo alguma pouca porcentagem sendo levada com a mucosa, depois o resto indo esôfago abaixo e então seguindo pelo estômago, intestino grosso até chegar ao delgado, onde vai ter o restante de sua porcentagem distribuído para a corrente sanguínea através das pequenas membranas permeáveis. Logo depois meu querido cérebro será atingido por essa droga, assim como os rins, coração e o pobre fígado que terá que se dividir em mil e um para produzir enzimas suficientes que quebrem o efeito das moléculas de etanol que estará dominando o meu corpo. Com isso meus neurônios parariam de funcionar corretamente e inibiriam meus sentidos. 

   Resumindo, eu ficaria como um típico alcoolizado. 

   Olhei mais uma vez para o copo, respirei fundo, engoli em seco antes de bebericar aquilo.    

   Abri e fechei minha boca duas vezes tentando achar o bom gosto naquilo. 

   — Argh! — Gritei. — Isso é horrível, Veronica! 

   — E daí? Daqui a uns minutos você vai tá achando delicioso. — Ela riu dançando.

   — Não mesmo. 

   — Agora vou voltar lá. Pode ficar com esse copo. 

   Logo ela e Normani estavam voltando para a pista de dança enquanto eu fui para o bar. Desviei o olhar delas e mirei no copo. No mesmo instante quis me afogar naquele álcool e ainda jogar uma fogueira lá dentro. Eu estava me mostrando uma verdadeira falsa moralista! Como é que em um dia eu julgo quem bebe para esquecer uma briga e em outro estou fazendo exatamente isso? 

   — Eu me odeio. Te odeio meu eu. — Murmurei esmurrando levemente o balcão e bebendo mais um pouco daquela coisa que odiei.  

   Por quê as pessoas bebem? É somente pelo efeito, não é? Porque quem me disserem que é pelo gosto eu faço um suicídio coletivo: todos dentro de um copo com álcool e uma fogueira de fósforos dentro! 

   Já estava me sentindo um pouco anormal quando vi uma garota aproximar-se de mim. 

   — Oi... — Ela disse e eu apenas assenti com a cabeça. — Posso me sentar aqui?   

   — Não tem o meu nome gravado aqui, então você tem sua liberdade para se sentar. — Respondi sem sequer olhá-la.  

   — Uau... — Ela riu. — Está irritada?   

   — Acho que não é da sua competência saber disso. — Falei com a intenção de expulsá-la mesmo. 

   — Ok. Alguém não está em um bom dia...  Vou te deixar em paz.   

   — Obrigada.    

   E ela realmente me deixou em paz com a solidão daquele copo vazio, que eu não pretendia encher mais.  

   Virei-me um pouco no banco e encarei aquele tanto de gente. Pude ver Normani ainda dançando com os dois rapazes e Veronica agora conversava ao pé do ouvido com uma garota. Continuei observando as duas rirem e no segundo seguinte estavam se beijando. Arregalei os olhos e desviei minha atenção para o lado, mas não adiantou de nada porque logo ali tinha dois rapazes também beijando-se. 

   — Céus... — Falei virando-me para o bar e apoiando a cabeça sobre as mãos. 

   Eu só queria que Camila estivesse comigo nesse momento desesperador. Estava sendo muito difícil para mim aceitar, talvez tendo-a comigo as coisas fossem mais fáceis.  

   — Qual é o seu problema?! Aquela garota era linda!  

   Estava tão perdida em meu desespero que não vi Veronica e Normani aparecerem em minha frente algum tempo depois.

   — Eu namoro, Veronica. Não pretendo trair a minha namorada. Mesmo que ela esteja pouco se importando comigo. — Suspirei largando o copo sobre o balcão. 

   — Você não pode ficar mal assim...  

   — Não mesmo. Eu vou ligar pra Camila! — Saquei meu celular e digitei o número de Camila e esperei, mas tudo o que recebi foi: seu saldo é insuficiente. — Iglesias, vamos procurar um mercado agora mesmo.  

   — Por quê? — Ela quis saber. 

   — Preciso recarregar essa porcaria pra falar com Camila. — Levantei meu celular. 

   — Quer o meu emprestado?  

   Pensei um pouco e decidi que talvez se a chamada recebida por Camila viesse de mim, seria melhor. 

   — Não! Eu vou provar a Camila que eu estou querendo que tudo fique bem.  

   — Ok. Vamos.   

   — Mas, amiga. Nós vamos andando porque não temos dinheiro para o táxi. — A morena disse e eu apenas assenti. 

   Pouco me importa se eu ia andando ou engatinhando. Eu só precisava recarregar aquele maldito celular pra conseguir falar com a minha namorada. 

   Nem eu, nem elas duas sabíamos onde havia um mercado, mas andamos por ruas retas, ruas movimentadas, dobramos esquinas e olhamos cada letreiro luminoso até encontrarmos um mercado. 

   Entramos e ele estava vazio, tinha apenas um rapaz entediado no caixa assistindo à TV e nem nos olhou quando fomos até ele. 

   — Ei! — Chamei-o. — Quero recarregar. — Mostrei meu celular. 

   Ele não falou nada, somente pegou a máquina e me entregou. Digitei o meu número e pedi para que Normani conferisse porque minha cabeça ainda girava um pouco. Ela crispou os olhos e então assentiu. Apertei o ok e devolvi a máquina para ele. Paguei e saí com pressa. Parei do lado de fora e não demorei nem 10 segundos pra digitar o número de Camila. 

   Chamou. 

   Chamou. 

   E chamou mais uma vez. 

   — Lauren? — A voz dela soou sonolenta e eu lembrei que não lembrei de verificar o horário.  

   — Camila,  me desculpa! — Falei antes que ela desligasse.  

   — Onde você está, hein? — Agora a voz dela estava irritada. — São duas da manhã! E a Normani não atende o telefone por que?!  

   — Você vai me desculpar? — Perguntei ignorando tudo o que ela falou. — Me desculpa! Eu nunca mais faço nada de errado. Eu prometo!   

   Tenho certeza de que minha voz não saiu da forma que eu gostaria que saísse. 

   Camila ficou em silêncio algum tempo e eu me desesperei. 

   — Camila! Você desligou?! Alô! 

   — Você se alcoolizou, Lauren? E em que inferno você está?  

   — Sim! — Admiti olhando para o chão. — Eu não minto pra você! Eu me alcoolizei e estava numa boate para garotos que beijam garotos e garotas que beijam garotas. E uma garota veio falar comigo, mas juro que mandei ela ir embora!   

   — Então quer dizer que enquanto eu estou aqui louca atrás de alguma notícia sua, você está bebendo como homens em um bar?   

   Eu não conseguia falar mais nada. Apenas estendi o celular pra Veronica.   

   — Veronica,  ela me odeia! — Espalmei as duas mãos no rosto enquanto Veronica falava com Camila e Normani apenas acariciava meu ombro. 

   — Ela não traiu você, Camila. Cara, eu não tô mentindo! Ela só fez lamuriar a noite toda. Quê? Ok. Vocês se resolvam sozinhas. Certo. Ela já vai. — Veronica me entregou o celular e suspirou. — Sua namorada quer você em casa agora mesmo. E está irritada com você também. — Falou para Normani.  

   — Ela me desculpou? — Eu quis saber, guardando o celular. 

   — Não. Mas vai desculpar. Calma.   

   Assenti e logo em seguida fomos em busca de um táxi, não demorou muito e encontramos um. Durante o caminho, apoiei minha cabeça no vidro da janela e não pensei em mais nada. Na verdade minha mente não queria pensar nada, parecia que havia entrado em um estado de inércia total. Ergui a mão apenas para despedir-me de Veronica e depois movimentei-me apenas para descer do táxi e pagá-lo. Após isso arrastei-me com Normani pelas escadas, até chegarmos ao apartamento. Minha amiga logo foi para o quarto e eu para a cozinha, bebi um como com água. 

   Assim que terminei virei-me para ir dormir, caminhei até o corredor, mas acabei me assustando antes de entrar no quarto com um corpo parado em frente a minha porta. 

   — Resolveu apareceu, né? — Abri os olhos mais um pouco e sorri vendo Camila com os braços cruzados e um semblante completamente irritado. 

   — Ei. Você já me desculpou? — Funguei passando as costas da mão no nariz.   

   — Você foi fazer o quê lá com Veronica? — Perguntou me ignorando. 

   — Sei lá! Ela me arrastou pra lá, Camila!!! — Logo me defendi. 

   — Certo. — Ela suspirou. — Vamos dormir.    

   — Vamos. — Concordei sorrindo e esperando ela entrar em meu quarto. 

   — Vou pro meu quarto. Você vai pro seu.  

   — Achei que... — Mexi as mãos no ar. 

   — Amanhã a gente conversa. — Falou e rapidamente passou por mim, indo para o quarto e fechando a porta.  

    Não aguentei aquilo e andei até a porta fechada. Cerrei meu punho direito e comecei a bater na madeira. 

    — Camila! Eu quero falar com você! É sério! Abre essa porta e me escuta! — Gritei e provavelmente eu só estava sendo vergonhosa assim por conta do álcool em meu corpo.

    — Zangada, eu vou fazer você dormir na base do tapa! — Escutei Dinah responder. 

    — Manda Camila fala comigo! — Gritei de volta.

    Ninguém falou mais nada, mas eu continuei batendo na porta até alguns segundos depois ela ser aberta. 

    — Lauren, vai dormir! — Camila sussurrou. 

    — Você vem comigo? — Pedi pressionando meus lábios um contra o outro. 

    — Não! 

    — Eu estou muito mal... Para de me tratar assim. — Choraminguei virando-me para a parede e batendo minha testa ali. 

    — Eu só quero dormir. Amanhã agente conversa! 

   Grunhi e virei-me para ela mais uma vez, sentindo-me a pessoa mais carente do mundo. 

    — Você ao menos pode me dar um abraço? — Perguntei abrindo os braços. 

    Camila suspirou forte e negou com a cabeça antes de dar um passo e enlaçar os braços em minha cintura. Senti todo o meu corpo relaxar com aquele contato, por isso fechei os olhos e afundei meu rosto no pescoço dela, abraçando-a forte. 

    — Eu prometo e juro que nunca mais eu farei algo assim. Só não termina comigo. — Murmurei tendo consciência de que se eu estivesse consciente não diria aquilo. 

    — Ei. — Ela disse me obrigando a levantar o rosto. — Eu não vou terminar com você. — Falou segurando meu rosto entre as mãos. — Estamos tendo uma semana ruim, mas isso não significa que não te quero mais. 

    — Eu quero que você saiba que eu não tô bem com nada disso. Mas vou mudar. De verdade. 

    — Vamos amadurecer juntas. Não se preocupa com isso. Somos infantis ainda, por isso levamos tantos socos de uma vez só. — Assenti e fiz um bico. — Você quer me beijar? 

    Assenti de novo e aproximei meu rosto do dela. 

    — Namorada, você está cheirando a álcool. — Falou dando dois tapinhas de leve em minha bochecha,

    — Quer que eu escove os dentes? — Perguntei e ela riu. 

    — Não precisa. Não farei com você o que você fez comigo. 

    Puxou meu corpo pela cintura e colou nossos lábios. Logo coloquei minhas mãos no rosto dela e fui pedindo espaço com a língua passando entre os lábios dela. Senti o aperto dos dedos em minha cintura e um impulso me fazendo andar para trás até encostar na parede. 

    Camila pressionou o corpo contra o meu ao mesmo tempo em que nossas línguas se encontraram. Um perna dela encaixou-se entre as minhas enquanto as mãos movimentavam-se por dentro da minha blusa. 

    Segurei firme entre os fios de cabelo dela e lentamente senti os dedos dela percorrerem minha barriga, a lateral do meu tronco e voltarem para a frente, mas agora indo diretamente para meus seios. Mordi o lábio inferior dela calmamente e logo depois suguei-o sentindo as mãos dela massagearem minhas vergonhas superiores, fazendo-me arrepiar por inteiro. 

    — Arram!  

    Escutei um pigarro e empurrei Camila no mesmo instante. 

    — Brooke! — Exclamei abaixando minha blusa ao ver a garota com a porta entreaberta. 

    — Vocês poderiam fazer isso longe da porta do meu quarto? 

    — Foi mal, Ally! — Camila pediu. — Vai pro seu quarto. — Sussurrou para mim. 

    Apenas concordei e corri dali. 

   Suspirei alto e rastejei-me até o meu quarto. Nem troquei a roupa, apenas me atirei sobre a cama.  

   É agora que você me diz quem errou porque eu sei que tive minha parte na culpa, mas a outra parte cabe a Camila! Eu fui atiradora nessa batalha, mas Camila teve a parte de tiros dela também!


Notas Finais


Saudações o/


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