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História Parece Mais Fácil Nos Filmes - Saturday


Escrita por: SheUsedToBeEmo

Capítulo 64 - Saturday


Sábado.

   Eu nunca quis ter um casamento como espetáculo. Nunca desejei casar para mostrar “oi, estou casando”. Por isso, quando Lauren decidiu casar, eu já tinha em mente tudo o que eu pretendia. Ela apenas não sabia que eu planejava nosso casamento há tempos em segredo. Era bem simples. Um casamento em Miami com as pessoas importantes em nossas vidas, isso significava nossas famílias, amigos e os pais desses nossos amigos. E, claro, o nosso filho Sparky.

   Quando recebi o sinal verde para concretizar o casamento, não ousei perguntar mais do que uma vez se ela tinha certeza, apenas decidi ligar para minha mãe e obrigar Lauren a ligar para Clara, já que por vontade própria eu sei que ela deixaria para lá e a mãe dela nos odiaria se soubesse muito tarde.

   Então, após anunciarmos que iriamos mesmo casar, precisamos começar a pensar em como tudo seria feito, mas nossos pensamentos não conseguiam desenvolver nada. Eu tinha em mente que queria casar na cidade em que conheci Lauren. Lauren tinha em mente que precisava pensar mais e sempre pensava mais do que achava precisar.

   Era lindo ver minha noiva se esforçando para escolher lugares em que poderíamos casar mesmo que nada agradasse a nós duas. Quando eu gostava de algo, ela não gostava. Quando eu não gostava, ela também não gostava. Ela apenas não gostava de tudo. Então chegamos ao ponto em que eu precisava decidir antes que ela falasse que não queria mais casar.

   — Amor, lembra de quando a sua mãe contou que você sempre meditava no quintal da sua casa em Miami? — Perguntei em uma tarde de domingo, aproveitando que ela estava distraída, tomando chá e assistindo um filme comigo.

   — Uhum... — Bebericou o líquido e continuou olhando a TV.

   — A parte que você não ouviu quando foi pegar água para sua mãe, foi seu irmão dizer suspeitar que você pensava em nós ou toda a situação enquanto estava lá meditando. — Contei.

   — Todo mundo sempre falando algo, percebendo algo, te contando tudo... — Ela comentou.

   — É que todos já sabiam que você me amava.

   — Acho que sempre souberam. — Falou, jogando uma perna por cima das minhas e beijando minha bochecha.

   Sorri e decidi que estava na hora de ser direta, encarando-a quando já olhava a TV.

   — O que acha de casarmos em sua casa?

   Lauren pareceu não respirar por um segundo e então me olhou.

   — Como assim?

   — Um casamento pequeno no quintal. Ou você quer fazer algo gigantesco? — Usei a palavra-chave para ela imaginar uma multidão e preferir o quintal.

   — Não! Algo pequeno é ótimo. Não quero gente que a gente nem conhece presenciando algo tão íntimo, Camz.

   — Mas o que você acha da minha ideia?

   Ergueu a xícara para mim e eu segurei em cima da minha barriga, esperando ela dizer algo. Então ela esticou os braços, mexeu nos cabelos como se fosse prendê-los, mas desistiu.

   — Acho inovador para a época e tradicional em geral.

   — Então posso falar com o seus pais? Ou pedir a sua mãe para falar com o seu pai...

   Há tempos, tanto Lauren quanto eu e qualquer pessoa que quisesse ver, sabe que Michael, o pai de Lauren, nunca, em todos esses anos, conversou com a filha mais velha sobre o fato de ela estar comigo. Ele nunca recriminou, brigou ou ofendeu, mas também não demonstra empolgação alguma. Me trata com respeito e cordialidade, mas tinha alguma animação ao falar comigo quando eu era apenas amiga de Lauren. Já tentei convencer minha noiva a perguntar a ele o porquê disso, mas ela tem medo de mexer em um assunto que ele não quer falar sobre.

   — Pode... Vamos falar com a minha mãe primeiro. Você sabe que meu pai me deixa sem graça ao falar desses assuntos. É sempre “parabéns” “fico feliz”. Às vezes acho que ele é quem nunca vai estar satisfeito comigo. — Ela disse, revirando os olhos e pegando a xícara de volta.

   — Não quero falar sobre o que não sei, mas eu sinto isso também. A Clara meio que tinha todo aquele estigma social, mas a maternidade dela foi maior... — Falei e ela assentiu, deixando a xícara no chão e voltando a me abraçar de lado.

   — Você acha que o meu pai não quer falar sobre o desconforto, mas não possui uma mente receptível o suficiente para isso? — Perguntou, me fazendo pensar um pouco antes de responder qualquer coisa.

   Apenas segurei a mão, agora livre, dela.

   — Sim... Exatamente. Ele te ama e acho que isso faz com que ele repreenda todo o conceito de certo e errado que ele tem em mente.

   — Namorada, eu acho tudo isso tão complicado... mas tão simples ao mesmo tempo. Sabe? Eu sinto que muita gente nos encara feio quando percebem que somos um casal, mas ao mesmo tempo penso “o que isso muda sua mobilidade humana social cotidiana?”.

   Não queria desviar minha atenção do discurso dela, mas não pude evitar sorrir ao escutar Lauren falar de forma tão madura sobre um assunto que antes a fazia surtar e sair correndo. Abracei-a pela cintura e grunhi de alegria por minha noiva ter avançado tanto em visões de vida.

   — Sabe o que realmente importa, Lauren?

   — Não exatamente... — Respondeu com um sorriso enorme, então não aguentei e joguei-a para o lado, fazendo-a deitar por completo na cama.

   — Que nós duas estamos juntas, já pagamos nossas contas sem ajuda alguma de nossos pais, temos o Sparky e toda uma vida para continuar sendo compartilhada.

   Aquilo era o que nos importava e qualquer outra coisa boa que estivesse ao nosso redor, servia apenas como um adicional.

 

 

   O período de preparação para o casamento foi terrivelmente cansativo. Lauren conseguiu ter a permissão da mãe para o casamento em Miami e na casa dela sem esforço algum. Bastou minha noiva falar “mãe, Camila e eu estávamos pensando em algo pequeno... aí em Miami... em seu quintal, talvez?” para Clara entrar em estado de euforia e me mandar mensagens diárias perguntando sobre como Lauren e eu estávamos seguindo com a organização. Isso ocorreu por duas semanas até nós duas, as noivas, percebermos que não sabíamos organizar um casamento, precisávamos de ajuda porque sequer sabíamos qual a primeira coisa a se fazer.

   — Camila, se a minha mãe mandar mais alguma mensagem perguntando sobre a cor das flores que vamos querer, juro que vou ao hospício mais próximo e me interno!

   Era fim de tarde e eu já tinha buscado Lauren no trabalho, mas decidimos ir ao shopping olhar algumas coisas para passar o tempo.

   — Se isso fosse motivo para enlouquecer, eu já estaria na camisa de força. Sinu e Clara sempre mandam mais mensagens para mim e eu preciso achar desculpas boas para não confessar que somos incapazes até mesmo de casar! — Respondi, concentrada nas araras de roupas.

   — Não somos incapazes de casar... — Ela disse, fazendo o mesmo que eu. — Somos incapazes de organizar um casamento porque... somos... hum... ocupadas com outras coisas! Temos o Sparky para alimentar, cuidar, levar ao veterinário, pet shop... Isso nos ocupa muito!

   — Amor, cala a boca e me ajuda a pensar na melhor pessoa que pode nos ajudar com casamentos. Mas, antes, o que você acha dessa calça?

   Retirei o cabide com a calça da arara e mostrei a Lauren.

   — Acho que somente pessoas com suas pernas deveriam usar calças assim.

   Ri do elogio, mas me senti imensamente feliz com ele e nem precisei escolher mais, levei aquela calça mesmo.

   Após comprarmos algumas coisas, fomos para casa e eu fiz um rápido jantar enquanto nós duas pensávamos no quão incapazes de casar éramos. Conversamos sobre isso durante minutos e mais minutos e nada se resolvia. Então ficamos em silêncio, mas era muito cedo para dormirmos. Então Lauren sorriu para mim, pegou o celular, mandou mensagem para alguém e me disse, já se levantando e me oferecendo uma mão.

   — Vamos resolver isso agora mesmo.

   Ela foi dirigindo, por isso demoramos para chegar ao prédio que já conhecíamos. Lauren apenas precisou avisar o nome ao porteiro para termos a entrada liberada. Estacionamos em uma vaga livre qualquer na garagem subterrânea, já que as duas destinadas ao apartamento que iriamos visitar estavam ocupadas. Subimos pelo elevador e eu não me dei o trabalho de questionar minha noiva, ela havia escolhido as melhores pessoas, no momento, para nos orientar.

   Batemos na porta do 357, situado em um bom bairro de Nova Iorque, recebendo “Está aberta!” como resposta. Assim fizemos. Entramos e encontramos as duas sentadas à mesa, jantando.

   — Oi! — Lauren e eu dissemos ao mesmo tempo.

   — Oi! Já jantaram? — A dos cabelos castanhos perguntou.

   — Já. Mas se vocês oferecerem, a gente janta de novo. — Deixei claro, me aproximando da mesa para conferir o que eu iria comer.

   — Sentem-se logo. — A outra disse em sua habitual impaciência. — Não façam drama, certamente não comeram muita coisa.

   — A Camila fez uma ótima salada e um ótimo arroz... — Lauren disse. — Digo, o que salvamos porque queimou boa parte. Ela estava distraída.

   — Esquecemos de comprar a parte do açougue essa semana, estamos nos virando bem. Mas comprei uma calça maravilhosa! — Expliquei e mudei o assunto.

   — Peguem os pratos lá na cozinha. — A professora disse, rindo do nosso diálogo.

   Não fizemos cerimônia e pegamos nossos pratos, talheres e copos para nos juntarmos a Vero e Alexa em nosso segundo jantar da noite. O apartamento delas duas era realmente um lindo lugar para se morar. Nada comparado ao 1432 — no qual Lauren e eu ainda morávamos — que mais parecia um apartamento para universitários. O 357 era moderno em decoração e espaçoso. Não era uma cobertura, mas possuía uma varanda espaçosa, três quartos, sendo uma suíte e um banheiro social. A cozinha era espaçosa, tendo uma área de serviço distante. A sala de estar e a de jantar eram juntas, mas era grande o suficiente para não parecer que estavam juntas.

   Falamos sobre nossas vidas durante boa parte do jantar, até que o assunto principal foi levantado por Vero.

   — Ok. — Ela disse, terminando de beber o suco. — Vocês sabem que não tive cerimônia de casamento, como vou ajudar?

   — Mas, Vero. Nós não sabemos nem como se faz a parte civil! — Falei, pegando um pedaço do frango grelhado no prato de Lauren, já que ela estava comendo devagar e eu já tinha acabado.

   Alexa riu e revirou os olhos. Provavelmente estava pensando “Vocês sabem fazer alguma coisa responsável sozinhas?”. A resposta é: depende. Estamos cozinhando melhor, mas esquecemos de comprar muitas coisas e isso nos impede de cozinhar muito melhor. Conseguimos pagar as nossas contas, mas se algum problema surge com qualquer empresa, precisamos pedir ajuda a Ally e Caleb. Kamron também nos ajuda bastante lendo termos que nós duas não entendemos nem a data. Mas conseguimos sacar dinheiro muito bem e não é sempre que o carro para no meio de alguma rua porque esquecemos de abastecer. Alexa é quem confere nossas receitas médicas quando as temos, já que Lauren e eu sempre vamos juntas aos médicos, mas não confiamos nos remédios. Certo... Lauren é quem não confia e eu apenas adquiri essa mania dela porque depois de uma vida com uma pessoa é meio impossível não ser parte dela. E não posso deixar de citar algo que fazemos muito bem: cuidar da Jessie. Claro que erramos muito, mas estamos pegando o jeito e eu nos considero ótimas tias. Eu sou melhor do que Lauren.

   — Isso é simples. Só quero saber como vocês vão conseguir casar em Miami e reunir todo mundo.  Nossas férias nunca coincidem. — Vero disse.

   — A gente quer que seja em um final de semana. Vocês pegam um voo na sexta e voltam no domingo... segunda. Não sei. — Respondi.    

   — Isso é o de menos, Vero. Elas precisam ter um casamento para depois pensar em convidados. — Alexa disse e eu concordei.

   — Sim! Por isso estamos aqui. Não sabemos como fazer isso...     

   — Precisamos de ajuda. — Lauren completou.

   — Sinceramente... vocês duas só não precisam de ajuda nos momentos íntimos.

   — Por que você está hostil assim, Alexa?! — Minha noiva perguntou, tomando um pouco de água.

   — Porque aposto que se eu não tivesse sido inconsequente no passado e não desse em cima da Lauren, vocês não teriam alguma motivação para estarem juntas.

   Alexa fez todas nós rir.

   — Essa teoria é absurda. — Lauren discordou. — Camila e eu nunca precisamos de motivação.

   — Não mintam. — Vero disse e eu nem pude rebater porque não era mentira, mesmo. — A Lex e eu estávamos falando sobre passados esses dias e chegamos à conclusão que sem as crises de ciúmes da Mila, vocês provavelmente não teriam passado pela fase doentia e não estariam tão bem agora.

   Pensei sobre aquilo e não soube responder de imediato. Olhei para Lauren e o cenho franzido dela mostrava que ali estava outra sem resposta.

   — Camz, isso faz sentido? — Me perguntou e eu dei de ombros.

   — Não sei... Você acha que faz?

   Lauren sorriu de lado para mim e eu entendi que ela quis dizer “a gente não faz ideia”.

   — Hum... Nós duas não concordamos, mas não discordamos. Você pode estar certa, mas pode estar errada. — Resolveu responder por nós duas, mas se ela tivesse ficado calada não faria muita diferença.

   — Está vendo, meu bem? — Alexa disse para Vero. — Ela não se decide fácil. Eu estava contando para a Vero sobre quando a senhorita Hastings te fazia opinar sobre algo que eu e Camila já havíamos falado antes.

   — Eu deveria te odiar atualmente, mas sou grata por você ter mudado. — Falei.

   Alexa sorriu e piscou um olho para mim.

   ­— De nada, Cabello. Agora vamos logo explicar sobre casamento para vocês.

   Após sabermos que precisávamos ir a algum fórum de Miami e expedir uma licença, seria cobrado uma taxa e então teríamos algumas semanas para concretizar o casamento. De todo modo, precisaríamos estar em Miami para realizar a parte burocrática e como a parte mais festiva poderia ser realizada por outra pessoa, pedimos para nossas mães cuidarem disso. Elas aceitaram sem titubeação, coisa que nos aliviou porque nem escolher flores nós duas sabíamos. Em uma das vezes em que minha mãe mandou fotos de uma floricultura e pediu que escolhêssemos alguma flor, apontamos uma bem bonitinha, lilás e diferente. A resposta da minha mãe veio em uma ligação perguntando onde estávamos com as cabeças ao escolhermos exatamente a flor que significava “tristeza profunda”. Então desistimos e apenas pedimos para que Clara e Sinu não fizesse do nosso casamento um casamento da Barbie.

   Ficamos temerosas, mas preferimos deixar nas mãos delas a tarefa para a qual não levávamos jeito. Para nós e nossas amigas, ficou a missão de achar vestidos.             

   Foi complicado achar um vestido para Lauren. Não por tamanho, já que nossas corridas no Central Park estavam fazendo efeito, mas por causa da chatice dela.

   — Não quero um decotado assim.

   — Eu não sou um burrito para estar embrulhada assim.

   — Precisa mesmo ser sem mangas?

   — Essas mangas estão cobrindo tudo.

   Ela não se satisfazia com um modelo e nem outro. Percorremos muitas lojas e de todas saímos sem uma escolha. Eu só escolheria o meu junto com ela, para economizar e tentar um desconto.

   — Se você não escolher um vestido nessa loja, vai casar sem nada ou com o vestido da minha mãe! — Dinah disse, já impaciente.

   Jessie estava com a gente e isso contribuía para que Dinah ficar um pouco mais impaciente do que o normal. Não parava quieta e queria correr sempre que chegávamos em alguma loja e a deixávamos tocar os pezinhos no chão. Normani já havia desistido de olhar a sobrinha antes mesmo que Ally falasse que não aguentava mais.                

   — Sua amiga está sendo hostil comigo em um momento complexo. — Lauren reclamou para mim, sobre Dinah.

   — Amor, você nunca foi chata com roupas. Por que logo com vestidos de noiva?! — Perguntei.

   — Camz, é o nosso casamento. Preciso estar bem vestida. É único.

   Sorri para a confissão e quase falei “leve o tempo que quiser!”, mas nós não tínhamos esse tempo. Após a ameaça de Dinah, Lauren escolheu um vestido e eu também. Nesse tempo Jessie quase derrubava um manequim, mas Ally conseguiu mantê-la quieta quando prometeu que deixaria ela correr o quanto quisesse no parque, mas depois.

   — O que achou? — Perguntei ao vestir o modelo que escolhi.

   Era simples, assim como o de Lauren. Mas minha noiva insistia em dizer que seria simples se fosse chamado de “vestido” e não “vestido de noiva”, já que o nome sugere um evento.

   Lauren observou todo o vestido e então olhou pra mim, sorrindo sutilmente.

   — Nunca pensei que falaria isso, mas você ficou graciosamente linda em um vestido de noiva.  

   — Mesmo? — Perguntei, deliciando-me mentalmente ao ouvir aquilo dela.

   — Sim. Tudo fica adorável em você, você sabe. Mas é que...

   — Até mesmo se fosse um vestido transparente?

   — Ah... Se é o que iria fazer você feliz, então, tudo bem. Mas...

   É meio óbvio que eu não iria usar um vestido transparente, mas o motivo da minha pergunta era: eu mal podia acreditar que estava casando com uma versão decidida e madura de Lauren. Anos atrás, quando éramos adolescentes e não sabíamos nem 1/3 do que hoje sabemos, Lauren e eu sentíamos um ciúme — gerado pela insegurança uma na outra — que nos tornava doentias até mesmo em relação às roupas que vestíamos. Hoje em dia usamos o que queremos e sempre compramos roupas juntas, o máximo de comentários pesados que fazemos (eu faço) é “essa roupa é boa, mas prefiro você sem ela”.

 

 

   E o dia que eu esperei por anos e mais anos, finalmente, chegou. Um sábado de quase primavera. Lauren e eu chegamos em Miami dois dias antes para conseguir corrigir qualquer erro que nossas mães pudessem ter cometido e quando digo isso, quero dizer: conferir se elas não fizeram um circo ao invés de um casamento. Ficou combinado que eu ficaria em minha casa naquela noite e Lauren na casa dela para termos algum tempo com nossas famílias, já que no dia seguinte seria uma agonia com a organização e no outro seria o casamento e logo depois Lauren e eu iriamos viajar.

   Foi maravilhoso passar algum tempo com meus pais e Sofia, Sparky também já reconhecia fácil a casa que visitava às vezes. Mas preciso confessar que foi estranho acordar sem uma pessoa ao meu lado, sem Lauren. Nem sempre acordávamos ao mesmo tempo e nem juntas, já que algumas vezes precisei passar uma noite ou duas fora por conta da pesquisa em que eu estava engajada e isso não significa que eu não sentia falta dela.

   Pelas mensagens que recebi na primeira manhã, entendi que ela sentia o mesmo.

   Acordei.

   Comi.

   Tomei banho.

   Camila, acorda, por favor.

   Eu vou aí.

   E quando eu pensava em levantar da cama, ela já estava lá. Pedindo socorro e falando sobre como Clara e Taylor não paravam de falar do casamento.

   — Sofia me ajudou a subir sem que seus pais me vissem. — Contou.

   Eu apenas sorri e abracei-a. Uma noite sem a mulher que eu teria ao meu lado pelo resto da vida poderia parecer pouco, mas uma noite sem aquele corpo junto ao meu era motivo suficiente para saudade.

   — Vai piorar quando formos almoçar com todos eles. — Avisei, colocando uma perna por cima do corpo dela e enterrando meu nariz em seu ombro nu.

   — Senti sua falta essa noite. Quando acordei, também. — Declarou e eu ergui a cabeça, esperando um beijo que não tardou a chegar.

   Lauren foi sutil no gesto, mas expressiva o suficiente para eu entender que ela realmente sentiu a minha falta.

   — Vocês precisam adiantar! — A voz da minha irmã cortou o nosso momento. — O casamento é de vocês!

    Separei-me de Lauren e olhei feio para Sofia que estava na porta.

   — Sofia! — Repreendi minha irmã. — Já vamos. Onde está meu filho?

   Observei que Sparky não estava no quarto.

   — Na cozinha. Não demorem.

   No segundo dia Lauren também correu para a minha casa, mas não conseguiu passar por meus pais. Precisou ficar na sala falando com eles até eu aparecer. Quando cheguei, minha noiva estava sendo interrogada por meu pai pelo fato de ela não ter afinidade alguma com esportes. Sofia ria de tudo e garantia que ele poderia ter um genro que o acompanhasse nessas coisas, quando ela conseguisse um namorado.

   — Sinu, você e a minha mãe têm certeza de que não falta nada? — Lauren perguntava.

   — Temos. A arrumação começará hoje à tarde e amanhã tudo estará perfeito.

   No dia exato do casamento, eu é quem fui para a casa de Lauren bem cedo com minha família e o Sparky. Fiz questão de que o meu filho estivesse presente na cerimônia, até uma roupinha adequada eu comprei.

   Todas as pessoas de Nova Iorque chegaram no dia exato, já que era difícil largar os trabalhos assim. Então, nesse dia do casamento, Clara fez um café da manhã para todos. Todos eu quero dizer minha família, meus amigos e de Lauren e, principalmente, Jessie, que roubou a atenção dos mais velhos. A mãe de Ally já questionava Caleb.

   Após isso, cada um voltou para sua casa e família, Normani foi a que relutou a ir pra casa. Era compreensível. Desde que o falecimento de Andrea, mãe da dançarina, a garota não voltara para Miami vez alguma e dessa vez Clara, por ser a que a conhecia há mais tempo, foi quem chamou-a para passar esses dias em sua casa. Lauren fez questão que a amiga aceitasse e ainda dormiu no quarto de Chris, com ele, para que Normani e Kamron pudessem ficar com seu antigo quarto. Mas durante o dia a dançarina e o noivo passearam.

   — Lauren, você já começou a se arrumar? — Gritei do quarto dela, que também foi cedido para eu me arrumasse.

   A atitude de Lauren oferecer o seu próprio quarto para Normani e para mim, me pareceu bem nobre. Era a forma dela de dizer que confiava o bastante em nós para que usássemos o que um dia já foi seu refúgio supremo.

   — Estou quase pronta! E você?!

   Lauren respondendo com uma voz de certeza e tão rapidamente é porque estava mentindo. Olhei para Dinah e ela estava ocupada demais com Jessie.

   — Não minta! — Respondi.

   — Camz, eu vou começar! 

   — Eu vou aí! — Ameacei.

   — Eu já estou começando! Faça a sua parte!

   — Amiga, você nem começou — Ouvi Normani ao longe. — A Camila está muito mais adiantada. Onde está a pessoa que vai arrumar você?!

   — Isso é verdade?! — Perguntei.

   — Querida namorada e noiva, nos vemos logo! — Escutei Lauren falar e logo em seguida um som de porta batendo.

   Ally entrou rindo no quarto em que eu estava e fechou a porta, indo sentar sobre a cama, junto a Sofi e minha mãe.

   — Lauren só fez tomar banho, não tem nada pronto. Nada. ­— A dentista avisou e eu grunhi.

   — Até no casamento ela vai se atrasar? — Perguntei a Dinah, que tentava tirar uma caixinha de grampos para cabelos das mãos de Jessie.

   — Mamãe!

   — Larga! Chancho, Lauren está sempre atrasada, em tudo. Você já deveria saber.

   Jessie largou a caixinha de grampos e olhou para mim, fingindo ser vítima. Revirei os olhos e sorri, colocando o dedo indicador sobre os lábios. Ela provavelmente entendeu que eu pegaria a caixinha de grampos depois e era a minha intenção enganá-la.

   — Camila!

   — Sim, Cheechee. Eu sei que Lauren pode se atrasar porque o atraso está com ela sempre.  

   Bufei e sorri para a moça que estava preparando meu penteado e maquiagem. Fiquei por um tempo quieta, escutando todas as outras mulheres ali presentes.

   Eu estava quase sendo finalizada quando a porta foi aberta e alguém grunhiu, me fazendo virar.

   Normani entrou sorrindo, olhando para todas, mas demorando o olhar em mim.

   — Você está linda, amiga.

   — Tia-pai! — Jessie disse, soltando-se da mãe e correndo para Normani.

   — E você quer dizer algo. — Dinah disse para a outra dançarina.

   — Camila, odeio ter que estragar a graça, mas sua noiva está surtando e não tem pessoa que consiga acalmar ela. — Normani respondeu, ignorando Jessie que não gostou.

   Suspirei e olhei para as minhas três amigas ali presentes, além de minha mãe e irmã. Ally somente suspirou e deu de ombros.

   — Você já tentou? ­— Perguntei a Normani.

   — Sim. A mãe dela, o irmão, a irmã, Caleb, Veronica... Alexa também, mas se estressou em dois minutos e desistiu.

   Eu não via outra escolha a não ser estragar a magia de não encontrar a noiva vestida de noiva. Lauren precisava de mim e eu estaria lá para ela.

   — Tudo bem. Vamos lá. — Falei, levantando-me do jeito que estava e deixando a maquiadora com o pincel parado no ar. — Eu volto logo. Desculpa.

   Dinah pegou Jessie no colo e seguiu Normani junto comigo, assim como Ally, minha mãe e Sofi.

   Eu não estava acreditando que no dia do nosso casamento Lauren estava surtando, mas algo me fazia lembrar que se Lauren não surtasse no casamento, certamente estaria sob efeitos de tarja preta.

   Entramos no quarto que um dia já foi do Chris e meus olhos foram puxados como que magneticamente para a minha noiva, apesar de ter um tanto grande de pessoas ali.

   — Lauren?

   Ela parou de falar com Veronica, virou-se para mim e sorriu, nem pensando duas vezes antes de andar até onde eu estava e me abraçar.

   — Como é bom te ver nesse momento desesperador. Sério.

   Retribuí o abraço com todo amor que eu sentia por ela, mesmo sem entender o que estava acontecendo.

   — Amor, o que está acontecendo? — Perguntei.

   Ela respirou fundo e soltou o ar.

   — No momento, o nosso casamento. Porém, veja bem, eu posso estar pensando demais em várias coisas e acabei ficando apenas um pouco nervosa.

    Olhei em volta e todo mundo observava nossa conversa. Eu já sabia que Lauren poderia surtar em nosso casamento, mas não sei se todos ali sabiam disso.

   — Quer falar sobre essas coisas? — Perguntei diretamente para ela.

   — Não mais. Eu estava me sentindo como em nosso primeiro encontro, mas bastou você passar por aquela porta e eu te ver que tudo se acalmou. É como se eu tivesse recobrado a consciência.

   — Você tem certeza que passou?

   — Sim. Tenho.

   — Ok. — Concordei, passando uma mão pelo rosto dela.

   — Você pode me dar um abraço antes de voltar para lá? — Ela pediu e eu notei que tinha algo incomodando ela, mas não seria confessado na frente de todos.

   — Lauren, fala logo.

   Ela olhou para baixo e pareceu notar o meu vestido.

   — Juro que não tem nada grave. — Desviou o olhar. — É que vendo você aqui, minha mente teve a confirmação de que não vou estar sozinha lá. Desculpe se te atrapalhei.

   — Você, realmente, chegou a pensar que eu iria te abandonar agora?

   — Sim e não. Meus pensamentos estão sob pressão do nervosismo e eu não sei ser otimista, nem pessimista.

   — Quer falar sobre isso em outro lugar?

   Sorriu sem graça e assentiu.

   — Se você puder... Não faz mal atrasar um pouco.

   Puxei Lauren comigo até estarmos dentro do banheiro do andar de cima, trancadas.

   — Aqui ninguém vai incomodar a gente.

   Evitei olhar que Lauren nem com o vestido estava ainda. Evitei pensar que ela iria desistir. Evitei pensar o pior.

   Ficamos ali paradas, uma de frente para a outra sem falar nada por poucos segundos.

   — Eu estou com uma insegurança estrondosa. Com um medo de decepcionar você. — Disse, dando de ombros. — Sei que eu não deveria deixar isso pesar tanto depois de anos. Mas...

   — O que é que vai mudar depois que casarmos? Sinceramente? Nada. Talvez vamos mudar de casa e ter alianças em nossas mãos esquerdas, mas nada vai mudar. Eu não espero nada de você como esposa além do que já amo em você como noiva ou amei como namorada ou amava como idiota que me enrolava.

   Ela sorriu e concordou com a cabeça.

   — Você tem muita certeza de que quer casar comigo, correto?

   — Há muitos anos.

   — Você não vai me deixar sozinha lá fora quando perceber que pode ter cometido um erro, correto?

   — O erro que eu cometi foi ter deixado nossas mães escolherem aqueles panos de mesa...

   — Camila!

   Ri e beijei a bochecha dela.

   — É sério, Lauren.  Eu não vou te largar. Quem mais vai ter essa paciência com você?

   — Você quis dizer amor.

   — Quis dizer paciência mesmo, mas eu amo você e ninguém vai conseguir amar da mesma forma. E eu tenho a certeza de que ninguém vai me amar como você ama.

   — Bom saber que tem essa noção. — Resmungou e então suspirou. — Obrigada por tudo. Quero deixar claro que é ótimo ter minha analista e namorada em uma pessoa só.

   Pensei que ficaríamos ali, mas Lauren tomou a iniciativa de adiantarmos. Voltamos para o quarto em que ela estava se arrumando e todos olharam curiosos para nós, esperando alguma informação. Não vi necessidade de falar algo que cabia apenas a Lauren e eu, então lancei um sorriso a todos e Lauren fez o mesmo.

   — Vamos continuar com isso. Você pode voltar a se arrumar, Camz. — Minha noiva disse com confiança.

   — Amiga, você pediu para ela voltar depois e ela ainda não voltou... — Normani disse, assoviando. 

   — Lauren! — Meu humor passou de compreensivo para irritado.

   Minha noiva olhou para mim, tentando disfarçar.

   — Eu estava nervosa! — Quis explicar e eu cruzei os braços para ela.

   — Você fica nervosa com tudo! — Reclamei, deixando meu lado bom um pouco de lado.

   — Desculpa se tenho problemas para oficializar coisas!

   — Fica calma... — Veronica disse, colocando-se entre nós duas. — Você só vai assinar uns papéis que dizem que vocês são casadas.

   — Isso me deixa muito nervosa. É como a primeira vez que fui cancelar uma conta no banco.

   — Eu sei, amiga, eu estava lá com você. — Normani disse apoiando uma mão no ombro dela.

   — Vá atrás da pessoa que vai arrumar você ou vou abrir setecentas contas e obrigar você a fechar todas elas. — Falei para a minha quase esposa e logo fui para a porta.

   — A coisa mais normal em filmes é uma noiva atrasar. — Falou assim que virei a maçaneta.

   — Desde quando você aceita ser igual aos filmes? — Perguntei.

   — Desde que o argumento me favoreça.

   — Última discussão como noivas... Podemos aguentar isso. — Ally disse.

   “— Camila, olha pra isso! — Ergueu seu copinho na frente do meu rosto. —  Derreteu! — Falou como uma criança indignada.

   — Se você tomasse rápido não teria derretido. — Busquei no fundo do meu copinho o último pouco de sorvete e levei até a boca. 

   — A culpa é desse sol! Eu pago por um sorvete, mas tenho que consumir leite com chocolate! Se eu quisesse tomar leite com achocolatado gelado, eu tomaria!

   — Então finge que quer e bebe logo isso. — Falei e levantei-me, indo até a lixeira mais próxima.

   — Camila! 

   Respirei fundo e joguei o copinho e a colher na lixeira. Hoje Lauren estava extrapolando o nível de chatice dela e o meu nível de paciência estava quase atingindo o máximo.

   — Camila!! — Gritou mais alto.

   Somente para provocá-la, caminhei lentamente para o mesmo lugar de antes. Ela estava com a cabeça baixa e com isso o chapéu tapava seu rosto. Parei em sua frente e cruzei os braços esperando a próxima reclamação.

   — Camila! Olhe isso! — Ergueu o rosto e eu não me contive. Caí em uma gargalhada intensa. — Não ria!

   — Lolo! — Continuei rindo.

   Lauren tinha conseguido a proeza de espalhar o sorvete por seu queixo.

   — Preciso de um guardanapo!

   — Não. Passa o braço aí que fica limpo. — Provoquei a garota.

  — Camila! Vá pegar um guardanapo para mim. Por favor! — Continuei rindo daquela Lauren indignada.

  — Espera. — Falei e fui até o carrinho no qual compramos os sorvetes. Pedi alguns guardanapos e voltei até Lauren que estava imóvel. — Toma.

   — Limpa aqui pra mim porque se eu me mexer vai pingar na minha roupa! 

   — Hoje você resolveu quebrar o recorde de insuportabilidade?

   — Anda logo, estou ficando grudenta!

   Revirei os olhos e me ajoelhei em sua frente. Passei os guardanapos por seu queixo, limpando-o completamente. Terminei e fiquei parada encarando-a.

   — Sabe o que acontece nos filmes quando alguém suja a boca e a outra pessoa vai limpar? — Falei aproximando-me devagar.

   — Ew! Sai, Camila! — Colocou a mão em meu rosto, afastando-me.

   — Tinha que estragar o momento! — Levantei-me contrariada e Lauren fez o mesmo.

   — Quê? Você queria mesmo me beijar com a boca suja? — Perguntou como se aquilo fosse um absurdo.

   — E o que é que tem demais nisso? 

   — É anti-higiênico, sabia? Estou zelando o seu bem. — Explicou sentindo-se a dona da razão e pegando os guardanapos de minha mão para terminar de limpar-se.

   — Você é insuportável. — Falei e começamos a andar.

   — Ninguém está pedindo para você me aturar. — Deu de ombros e jogou os papéis na lixeira.

   — Vou fingir que não ouvi isso.

   — Ainda bem. — Escutei-a murmurar.

   — O que você disse? — Indaguei para confirmar o que escutei.

   — Nada. — A negação foi a confirmação. 

   Sorri com aquilo e continuamos andando.”

 

   Eu não poderia simplesmente esperar que Lauren não surtasse em nosso casamento quando ela surtava por ter o sorvete derretido em um dia de calor. Fiz minha escolha lá atrás quando percebi que nada seria fácil e vou manter.

   Lauren queria ser a primeira a chegar ao altar, mas depois de muita conversa, concordamos que ela sozinha me esperando poderia desmaiar, então eu passei a ser a primeira. Finalmente, deixei ela se virando para estar arrumada a tempo e voltei para a minha própria arrumação. Ela teria que dar o jeito dela para me encontrar no altar sem atrasar mais nem um segundo.

   Entre pincéis, esponjas e cores neutras, fui ficando pronta para casar. Meu vestido era simples e longo com alças largas. Parecia um vestido branco para se usar no campo, se eu já tivesse ido alguma vez ao campo. A parte boa era que combinava com a primavera e com toda a arrumação do ambiente. O quintal estava todo arrumado em branco, por sorte Lauren e eu conseguimos arrancar tudo de vermelho que tinha. As cadeiras em madeira organizadas em dois grupos. O altar simples, em madeira também. Um púlpito para o juiz que oficializaria tudo. Esperei Normani falar que Lauren estava pronta para então me preparar para chegar antes ao altar.

   Todos saíram antes de mim, que avisei já descer em 1 minuto. Deixei que encontrassem seus lugares, sentassem e aproveitassem um pouco da cerimônia que já estava atrasada. Deixei que eu mesma respirasse fundo e sorrisse para meu reflexo no espelho. Eu, Camila, estava quase me casando. Finalmente iria realizar um sonho. Um sonho bobo e, considerado por muitos, atualmente desnecessário. Mas eu queria ter a sensação de casar com a única pessoa que me fez acreditar no amor. A única pessoa que foi o meu primeiro amor, o meu amor impossível e o amor da minha vida.

   Por fim, peguei o buquê de flores brancas e desci para o quintal. Olhei para a porta do quarto em que Lauren estava se arrumando e controlei a vontade de ir lá e falar qualquer besteira com ela, desci rapidamente para começar tudo aquilo.

   Meu pai, Alejandro, me esperava já em sua posição, ofereceu o braço e eu entrelacei o meu ao dele.

   — Está se sentindo pronta? — Perguntou.

   — O senhor sabe que sempre estive.

   — Já conversei com ela. — Disse afagando minha mão. — Dei dicas, pela milésima vez, sobre como lidar com você.

   — Pai, eu não sou o perigo da relação! O senhor precisar parar de achar que Lauren é a provável vítima. Se não fosse por mim, esse casamento nunca aconteceria!

   Meu pai sorriu largo e negou com a cabeça. Ele nunca iria perder a ideia sobre eu ser o perigo da relação.

   — Vamos? — Perguntou e eu assenti, sorrindo também.

   Respirei fundo e segurei firme no braço dele. Deixei que ele começasse a caminhar. Não havíamos ensaiado nada e por esse motivo apenas descobri naquele instante que havia música para a minha entrada, mas não era a marcha nupcial. Era, por mais bobo que pareça, o instrumental de Two Worlds Collide.

   — Pai, o senhor sabe quem colocou essa música? — Sussurrei para ele.

   — Não...

   Caminhei olhando para as pessoas, sem conseguir focar em alguém. Apenas prestei atenção quando chegamos perto do altar e olhei para a fileira em que todas as garotas estavam. Sorri e apontei para o meu ouvido. Ally foi quem entendeu primeiro e então fez sinal de “todas nós”. Sorri e agradeci em silêncio.

 

   Naqueles segundos em que fiquei sozinha em frente a todos, precisei deixar de respirar para entender que eu estava, real e finalmente, casando. Então, como que para acabar com meu desespero momentâneo, Lauren apareceu ao lado de Michael. Entrou com uma expressão que eu não sabia se ela queria rir ou chorar. Meus dedos apertaram-se contra a base do buquê e eu me senti nervosa como na primeira vez em que saí com Lauren para um encontro. Meu estômago revirou e eu engoli em seco. Os olhos dela encontraram-se com os meus e eu sorri para não desmaiar. Ela sorriu também e assentiu com a cabeça. Assenti de volta e esperei pacientemente ela andar. Michael sorria serenamente enquanto trazia a filha para mim. Acho que foi uma das raras vezes em que senti que Lauren não tinha a intenção de fugir de alguma situação. Parecia não querer estar em nenhum outro lugar.

      “Grunhi e fui até a aniversariante, passando meus braços por seu tronco. Apertei-a bem e logo suas mãos amparavam minhas costas.

   — Feliz aniversário, Lolo. 

   — Obrigada.

  — Espero que tenha muitos anos de vida pela frente de preferência com... — De preferência comigo ao seu lado. — Digo, sem teorias sobre morte.

   Brinquei tentando disfarçar meu quase erro e ela riu. 

   — Claro.”

   O Jauregui mais velho inclinou-se para mim quando estava em minha frente.

   — Sei que não preciso lembrar a você, mas faço questão. Cuide da minha filha.

   Assenti sem conseguir falar alguma coisa e ele foi para o lado de Clara, não esperando uma resposta minha.

   — Oi, namorada. — Lauren me disse quando ficamos frente a frente.

   Ela estava linda! Eu senti que as chances de eu desmaiar com ela em minha frente vestida daquela forma eram ainda maiores. O vestido dela era tão simples quanto o meu, a diferença é que o dela possuía mangas que caíam pelos ombros. Ela optara por deixar o cabelo solto enquanto eu prendi o meu. Acho que nunca antes tive a chance de ver Lauren arrumada e maquiada dessa forma. Eu iria guardar aquela imagem para sempre.

   — Oi, noiva. — Respondi tentando manter a calma.

   A mão trêmula dela ergueu-se e eu entrelacei nossos dedos. Ela percebeu que eu também estava tremendo, então me olhou com os olhos semicerrados e eu dei de ombros. Lauren levou nossas mãos até os lábios e beijou o dorso da minha, depois deitou a bochecha rapidamente sobre ela e olhou para mim murmurando “Vai funcionar. Calma”. Concordei com aquilo e apertei a mão dela levemente.

   E começou toda a cerimônia. Lauren não soltou a minha mão em momento algum, isso me deixou calma e eu não ouvi nada do que o juiz disse. Apenas repeti o que era necessário em todo casamento, Lauren fez o mesmo e então trocamos as alianças. O ponto alto de todo o discurso obrigatório e comum foi Jessie entrar para nos entregar as alianças junto com o Sparky. Nesse momento até mesmo Lauren deixou algumas lágrimas escaparem e eu sabia o porquê. Sparky já tinha 12 anos e essa é quase a expectativa de vida de um cachorro do porte dele. Lauren e eu há algum tempo já havíamos notado que ele não tinha mais aquela empolgação de sempre, apesar de suas feições e balançar de rabo serem os mesmos ao nos ver. Ele já não brincava como antes, dormia muito durante o dia e até mesmo precisava que ficássemos por perto para se alimentar. Por isso, ter o nosso filho, que é um cãozinho, no dia do nosso casamento era algo importante e que acabaria com qualquer resquício de frieza em quem não costuma chorar.

   — Os votos. — Disse o juiz logo que terminamos de trocar as alianças. Alianças que custaram mais do que 100 dólares e que eu pude escolher junto a Lauren.

   — Eu quero pedir um pouco da atenção de vocês e, principalmente, da minha namorada. — Falei, me preparando para os meus votos que havia ensaiado há meses com a ajuda de Dinah. — Quero dizer, noiva e quase esposa oficial. Sempre tentei tocar violão e consegui aprender um pouco sozinha, Lauren acompanha isso desde que comecei. Hoje eu vou cantar algo para ela porque é a minha forma de dizer meus votos.

   Lauren não sabia sobre isso. Era uma surpresa, mas pude ver o largo sorriso em seu rosto quando Dinah me entregou o violão e eu lhe devolvi o buquê que, por escolha das noivas, não seria jogado.

   — Não quero ouvir nada além da minha namorada cantando! — Minha delicada quase esposa disse.

   Vi Clara franzir o cenho e tratei de corrigir aquilo. Lauren seria sempre um bebê para a mãe dela e esta, por sua vez, depositava em mim a confiança para cuidar da filha dela que já tinha idade para ter filhos!

   — Ela quis dizer um “por favor” ao final da frase. — Corrigi a frase não errada da minha noiva.

   — Aham. — Lauren concordou. — Foi isso.

   Ela sorriu para a mãe dela e voltou a olhar para mim, negando com a cabeça. Ri e segurei o violão, tremendo. Quando eu fazia aquilo apenas entre nossas amigas e Lauren, era mais fácil.

   — Eu melhorei muito, mas não melhorei tanto. — Precisei explicar.

   Olhei para o lado e vi as pessoas, além de Lauren, que me acalmavam. Dinah, Normani, Ally. As que sempre assistiram minhas indiretas quando minha namorada fugia de mim. Alexa que um dia foi motivo de muitas das brigas entre Lauren e eu. Veronica e Caleb que sempre estiveram nos ajudando em Nova Iorque. Olhei novamente para Lauren e o sorriso dela parecia dominar todo o rosto. Ela assentiu sutilmente e eu então formei o primeiro acorde, tremendo.

This is the first day of my life

I swear I was born right in the doorway

I went out in the rain, suddenly everything changed

They're spreading

Blankets on the beach

   Consegui cantar a primeira parte e precisei tomar fôlego para continuar sem desmaiar.

Yours is the first face that I saw

I think I was blind before I met you

Now I don't know where I am

I don't know where I've been

But I know where I want to go

   Vi Lauren fechar os olhos e apertá-los com força, então os abriu novamente e sorriu para mim. Me senti encorajada mesmo tendo errado a ordem dos acordes e tendo a certeza de que alguém havia notado, mas não Lauren.

And so I thought I'd let you know

That these things take forever

I specially am slow

But I realize that I need you

And I wondered if I could come home

Remember the time you drove all night

Just to meet me in the morning

And I thought it was strange, you said everything changed

You felt as if you had just woke up

And you said

   Não tive, dessa vez, a criatividade de realizar votos com palavras, mas desejava que ela entendesse tudo o que eu queria dizer.

This is the first day of my life

I'm glad I didn't die before I met you

But now I don't care I could go anywhere with you

And I'd probably be happy

   Vi um riso escapar e um concordar de cabeça.  Ela respirava fundo e seu peito subia e descia: ela iria chorar a qualquer instante e isso só me fez sorrir ainda mais enquanto cantava e continha as minhas próprias lágrimas.

So if you want to be with me

With these things there's no telling

We just have to wait and see

But I'd rather be working for a paycheck

Than waiting to win the lottery

Besides maybe this time is different

I mean, I really think you like me

   Ela concordou com a cabeça de forma rápida quando terminei de cantar, sorriu, fungou, negou com a cabeça e deixou que seu choro viesse calado. Tudo bem que foram apenas algumas lágrimas, mas ainda assim fez meu coração vibrar.

   — Mas que droga... eu te amo. Eu, quero dizer, eu amo você, de verdade. — Falou, tentando limpar o que escorria pelas maçãs do seu rosto.

   — Amor...

   Deixei o violão no chão e corri para abraçar minha esposa que soluçava. Seu rosto rapidamente veio parar em meu pescoço e seus braços envolveram a minha cintura.

   — Eu te amo, saiba disso para sempre. — Falei e ela murmurou algo que não entendi.

   Então chegou a vez de Lauren falar os seus votos, coisa que demorou porque precisei acalmá-la e ser acalmada por ela depois daquela redoma de emoções.

   — Eu sou a Lauren e essa é a Camila. — Começou de forma desajeitada. — Vocês devem saber, não sei, mas nos conhecemos quando tínhamos dezesseis para dezessete anos. Ela não sabia que eu existia até o nosso último ano do colégio, eu sabia que a queria desde o primeiro dia de aula do ensino médio. Digo, eu não sabia que queria tudo isso, mas ela me desconsertou durante todo aquele tempo e continua fazendo isso, mas agora ela conserta vários desses problemas não patologicamente diagnosticados em mim. Estamos casando e eu, sinceramente, não sei o que mudará em nossa vida pessoal com esse título. São quase treze anos juntas e já passamos por muito... juntas. Espero ter o restante de tudo com ela. Eu não canto e não sei fazer discursos... — Olhou para Taylor e Chris que concordaram veemente. — E não quero fazer discursos, realmente. Meus votos para você, Camila. Vão chegar um pouco tarde, mas prometo que não será coisa pouca.

   Eu não entendi o que Lauren quis dizer, pensei em perguntar, mas ela sorriu e murmurou um “é isso”. Após os votos, o tempo pareceu passar mais rápido do que eu queria. A cerimônia terminou e outro ponto MUITO importante, para mim, foi assinarmos nossos nomes de casadas. Concordamos que cada uma usaria o sobrenome da outra, já que ia além de uma vontade boba minha, era necessário até para provar que somos uma a família da outra, também, e casos de hospitais e afins. Após isso, nós duas fomos colocadas próximas a uma mesa decorada com flores. De acordo com umas das pessoas da organização, precisávamos receber os convidados. E foi o que fizemos. Alguns amigos de nossos pais estavam por lá e as famílias de nossos amigos também. Lauren sussurrou que achava aquilo entediante, mas logo mudou de ideia quando as pessoas mais barulhentas daquele lugar cortaram a fila, alegando terem prioridade.

   — Zangada, não chore mais na minha frente. Eu fiquei assustada ao ver que você tem sentimentos! — Dinah disse abraçando nós duas e Jessie já estava agarrada às pernas de Lauren.

   — Cheechee, não fala assim...

   Dinah tentou falar mais alguma coisa com nós duas, mas a versão menor da dançarina decidiu me abraçar e pedir colo. Carreguei Jessie e ela agarrou-se ao meu pescoço e ao de Lauren.

   — Você viu que sua mãe estava aqui antes?

   Jessie ignorou a mãe e começou a falar coisas que, realmente, nem Lauren e nem eu entendemos. Ela estava eufórica e não falava coisa com coisa.

   Ficamos algum tempo com nossos amigos, todos eles. Então um dos organizadores pediu para que eles esperassem até que todos falassem com nós duas.

   — Oi, Mila! Meu discurso está pronto! — Ally disse e Lauren já estava pronta para falar algo.

   — Vocês vão discursar, mas antes eu quero saber uma coisa. — Disse antes que minha esposa fosse rude.

   — O quê? — A dentista quis saber.

   Olhei para Lauren e para cada um que estava ali. Sorri para todos e limpei a garganta antes de fazer a grande pergunta.

   — Então... vocês conhecem a minha esposa? É que a gente casou... — Falei, fingindo ser algo que ninguém já houvesse ouvido em outra ocasião.

   — Ah não... Ela vai começar com isso de novo... — Alexa resmungou.

   Ignorei ela e avistei Sinuhe passando por perto.

   — MÃE! A senhora conhece a minha esposa?

   — Ela vai começar mesmo... — Normani reclamou.

   Lauren e todas as outras pessoas precisavam entender que eu gostava muito de manter tradições e anunciar que Lauren e eu evoluíamos sempre era uma tradição.

   E perguntei a cada convidado que passava por nós se conhecia a minha esposa. Lauren desistiu antes mesmo de tentar me parar.

   Após o momento de cumprimentos e apresentação, de minha parte, da minha esposa. A confraternização foi iniciada. O pessoal convidado ocupou as mesas e Lauren e eu decidimos ficar na mesa de nossos amigos enquanto as nossas famílias estavam em outra, juntas. Tive apenas tempo de comer um salgado e ver Dinah correndo até o altar.

   — DISCURSOS! — Dinah gritou, já com o microfone em mãos. Normani, Ally e Veronica estavam ao seu lado em poucos segundos.

   — Não sei se tenho capacidade psicológica para aguentar o que elas vão dizer. ­— Lauren sussurrou para mim.

   — Muitas coisas lindas...

   — Já imagino os elogios.

   Primeiro foram os familiares que quiseram falar algo. Basicamente minha mãe, Clara, Sofia, Taylor e Chris. Chris foi o que mais falou, assim como Sofia.

   — ... E elas nunca se resolviam. Sabiam que Lauren nunca iria procurar Camila no dia do baile se não fosse por mim? — Chris disse, rindo e falando tudo o que a irmã queria que não falasse.

   — Ela também não conseguiria se desculpar com a Kaki se eu não tivesse ajudado. Eu não tinha noção do que acontecia, mas sabia que a minha irmã se irritava fácil e bastante com a Lauren. — Sofia contou.

   — No fundo, eu acho que ajudamos muito e quero brindar a todos que estão aqui. — Chris finalizou erguendo a taça e Lauren apenas olhou como um cachorro desconfiado para ele.

   Aplaudi os dois e segurei o Sparky quando Normani segurou o microfone e pigarreou.

   — Bom. É o que eu sempre digo, vocês não sabem fazer nada sozinhas. Sempre ajudamos em tudo. Tudo. Se esse casamento saiu é porque muito estresse aconteceu... E teve uma época em que eu achava que nada daria certo, mas o destino age sobre tudo isso. É o destino desde aquele primeiro dia de aula... Eu posso afirmar, mais do que qualquer outra pessoa além da Lauren, o quanto foi difícil elas duas chegarem aqui. Eu aguentava as crises dela! Sabiam que ela contava no relógio os minutos para chegar atrasada no colégio e não ter que ver Camila? Ela tinha um baita medo da Mila... Criava teorias que me faziam querer dormir porque simplesmente faziam sentido! Sim. Faziam sentido, mas não precisavam ser colocadas em prática.

   O discurso delas foi alternado. Cada uma queria roubar o microfone em algum momento.

   — ... E foi assim que eu percebi que a Zangada... A Lauren tinha sentimentos por minha amiga. Elas sempre foram estranhas. Principalmente a Zangada. Mas nunca duvidei do que ela sentia pela Chancho, por isso permiti que ela convidasse minha amiga para o primeiro encontro. Vocês sabem, eu poderia não ter autorizado nada disso se achasse que a Zangada não servia para a Chancho, mas ela era inofensiva, só era louca e estranha e precisava de empurrões. A Chancho se tornou uma mola de compreensão. — Dinah disse.

   — COMPRESSÃO! — Alexa gritou e Dinah revirou os olhos.

   — Nerds... Como eu ia dizendo, a Camila precisa da Lauren para manda-la fazer ações básicas do dia a dia e a Lauren precisa da Camila para ter um ânimo nessa vida. As duas são iguais, mas de formas diferentes. Também quero agradecer por vocês serem duas das cinco melhores tias-pais que a minha filha tem. Estou incluindo vocês agora. — Dinah apontou para Alexa e Veronica. — Meu pai e a minha mãe sabem que sem vocês eu nem sei onde estaria. A Jessie também sabe disso.

   — SEI! — Minha sobrinha gritou.

   — E não deixem ela fazer um discurso. — Falou sobre Jessie. — Nunca!

   Dinah então teve que entregar o microfone e impedir que sua versão menor começasse a falar sem parar.

   — Eu não as conheci separadamente, na verdade conheci as quatro no último ano do colégio e... Elas tinham tudo para dar errado, mas deram certo e eu fico feliz por isso porque sei que não há outra pessoa que ature a Lauren como a Camila faz e não há ninguém que entenda a Camila como a Lauren entende. As duas podem estar aqui com seus quase trinta anos, mas quando estamos juntas e elas começam a discutir ou conversar, parecem ter dezessete outra vez, como no filme. E a pior parte, para mim, sempre era quando as duas brigavam e nós todas tínhamos que manter a neutralidade, ou tentar, para ajudar os dois lados... — Ally disse.

   — Cara, não foi fácil, sabe? Eu acompanhei boa parte do drama, mas elas se amam e se aturam como ninguém. Mas nada é fácil e a Michelle realmente dificultou muita coisa, mas talvez sem isso elas não estivessem aqui. Quero dizer uma coisa para os pais das duas: vocês não viram antes porque não quiseram. Na primeira semana em que as conheci já tinha sacado que elas tinham algo e olha que elas nem namoravam! Eu ajudei para que o namoro saísse. Mas não estou afrontando os senhores, gosto muito de vocês quatro e dos almoços e jantares que me convidam, só estou querendo dizer que elas seriam um casal mesmo se não fossem um casal. — Veronica disse.

   E assim seguiu até elas acharem que já estava bom. Olhei para o lado e vi algo inédito: Lauren chorando disfarçadamente, assim como eu.

   — Alguém está chorando também... — Falei no ouvido dela.

   — Não, querida. Estou chorando de tristeza por tanta mentira!

   Lauren estava incontrolável no que tange lágrimas. Não parava mais de chorar, Dinah e Jessie fizeram questão de registrar cada segundo disso. Ela nem deve ter notado os flashes e risadas da mãe e da filha.

   — Tia, não olha para o lado, a mamãe disse que preciso ser boa nisso porque ela quer guardar de recordação e eu vou ganhar alguma coisa!

   Minha sobrinha não formava uma palavra completa, mas não era difícil entender o que ela queria dizer.

   — Jessie, se você não parar agora mesmo com isso eu não vou deixar você invadir a cozinha! — Lauren se recompôs.

   — Tudo bem! Eu já tenho fotos suficientes! Ainda vamos para a cozinha? — Jessie disse em sua linguagem, coisa que não levava mais do que umas palavras lindamente desastradas.

   — Deixe todo mundo se distrair e então invadimos!

   — Você combinou de invadir a cozinha do seu casamento? — Perguntei.

   — Camzor, preciso testar a qualidade. Só isso.

   Eu achava que era brincadeira, mas Lauren realmente foi para a cozinha com Jessie e me deixou sozinha com os convidados. Precisei esperar até ela aparecer, enquanto isso conversei com as garotas sobre a minha lua de mel.

   — Já podemos fugir? — Perguntei quando minha esposa voltou, querendo ficar a sós com ela.

   — Caleb nos levará em uma hora. Está tudo pronto mesmo...

   — A gente não pode adiantar essa uma hora? É nosso dia!      

   Minha esposa preferiu ignorar minha impaciência e foi procurar algo para fazer. Não me preocupei em ir atrás. Dinah veio conversar comigo, coisa que me distraiu.

   Então fomos interrompidas por um gargalhar que eu conhecia muito bem. Olhei para os dois que riam a alguns metros de nós e encarei Dinah.

   — Lauren e seu pai sempre foram amigos assim? — Perguntou, mas não me esperou falar, saiu em minha frente.

   Neguei com a cabeça, sabendo que meu pai só falava com Lauren em tom um pouco sério. Nada como Michael me tratava, mas minha mãe era quem venera a minha esposa, assim como Clara, após muita confusão, me ama. Caminhei até onde os dois estavam, já ouvindo alguma coisa.

   — Alejandro, é a Camila bebê! — Lauren disse, apontando para o que meu pai mostrava.

   — O que...? — Perguntei.

   — Chancho, venha ver que incrível! — Dinah gritou, chamando-me com a mão.

   Aproximei-me deles e todos olhavam para o que agora estava com Lauren. Meu pai havia dado uma foto minha de criança para ela!

   — Pai! Por que isso?

   Ele me abraçou pelos ombros e beijou minha cabeça.

   — Kaki, ela é sua esposa. Nada mais justo do que ela ter uma foto sua de quando bebê!

   — Camzor, eu não posso acreditar que você não sorria! — Lauren disse, admirando a foto.

   — Ela sempre saía assim, Lauren! — Meu pai continuou, me soltando. Foi então que aproveitei para abraçar Lauren por trás, apoiando meu queixo sobre um dos ombros dela.

   — Muito linda você bebê, Camz! — Minha esposa disse, escorando a cabeça na minha.

   — Isso quer dizer que você quer um filho parecido com a Kaki?

   Lauren parou de rir quando minha mãe perguntou.

   — Sinu! É um assunto delicado...

   — Não se preocupem. — Eu disse, beijando o ombro da minha esposa. — Ela vai ser mãe sim, ainda por cima mãe dos nossos filhos.

   — Eu não vou ser mãe. — Lauren respondeu, segurando minhas mãos em sua barriga. — Vocês não acham que a Jessie me traumatizou o bastante?

   — Olha como fala da sua sobrinha-filha!

   — Jessie, a sua tia-pai te ama, mas você traumatizou ela. — Lauren disse para a criança que estava alheia a tudo.

    Estava tudo muito bom, mas eu queria ir logo embora. Fiquei ainda mais feliz quando Caleb apareceu para avisar que estava na hora. Nos trocamos, pegamos nossas malas, nos despedimos de todos, escutamos mais de cinquenta recomendações e eu já suspeitava que ninguém confiava em nós duas sozinhas em uma ilha da África.  

   — Tia-pai Zangada, não esquece do meu macaco. — Jessie gritou assim que começamos a andar.

   — Você vai ter que roubar um lêmure para ela, senão ela não vai te deixar em paz. — Falei, puxando Lauren pela mão.

   — Quando prometi, pensei em algum de pelúcia, mas você foi mostrar os filmes e agora ela quer um de verdade! — Reclamou com razão. Eu iludi Jessie.

   — Mas quando ela perguntou, você não soube dizer que não era um de verdade!

   Lauren e eu não somos um bom exemplo de tias-pais. Quando eu concordo, Lauren discorda e quando Lauren tenta concordar, eu já discordei. Sempre erramos, culpamos uma a outra e temos eu resolver juntas o problema.

   Então fugimos o quanto antes de Jessie e fomos para o aeroporto com Caleb.

   A nossa lua de mel poderia ter sido em Paris, Espanha, Inglaterra, Cuba, Grécia, Brasil, Costa Rica... Qualquer lugar que seja “romântico” o suficiente, Lauren e eu não queríamos apenas uma viagem para fazer o que já fazemos, queríamos uma viagem que marcasse a nossa primeira viagem internacional, foi então que quebramos a cabeça decidindo.

   Tínhamos a data, o local e até mesmo planos para deixar o 1432, finalmente, menos a lua de mel.

   Em uma noite de sexta-feira Dinah disse que não estaria em casa porque Veronica e Alexa chamaram Jessie e ela para dormirem na casa delas. Ela aceitou, alegando precisar de alguém que escutasse a criança. Todo mundo, na verdade, escutava, mas Caleb, eu e Veronica somos os que mais deixamos Jessie falar e ainda concordamos. Lauren é a tia-pai que senta e tem uma espécie de conversa telepática com a garota, sempre vendo um filme ou contando alguma história que ela mesma inventa. Normani é a tia-pai que faz sempre uma festa por qualquer coisa com Jessie, principalmente se o Sparky estiver junto. Ally e Alexa são as que tentam corrigir os erros dos outros, mas sempre falham e acabam cometendo mais erros.

   — Amor, a gente pode deixar esses lugares românticos para outros momentos? Eu não me sinto animada para escolher a Torre Eiffel, muito menos as casas dos deuses. — Confessei enquanto visitava sites que sugeriam lugares.

   Lauren bocejou e virou uma página do livro que lia.

   — Podemos fazer uma viagem exploratória... Digo, que acrescente algo em nós. Algo que não vimos nos livros e nada que esteja no topo de viagens clichês... — Ela disse, empolgando-se pela primeira vez com o assunto.

   — Serve algo que vimos nos filmes? — Perguntei, tentando ter alguma ideia que já vi em filmes.

   — Ah... serve...

   Então pensei em filmes que faziam parte de nossa vida de casal e quando um me veio em mente, não precisei pesquisar nada mais que não fosse uma agência de viagens.

   — Lauren, vamos para Madagascar. — Anunciei.

   E foi assim que a Ilha de Madagascar tornou-se o destino da nossa lua-de-mel, mas Lauren preferia chamar de VIAGEM DE AVENTURA PÓS CASAMENTO. 

 

   Caleb nos deixou no aeroporto a tempo, mas logo voltaria para a festa.

   — Cuidem-se. Qualquer coisa, liguem, tudo bem? — Disse.

   — Você precisa confiar em duas mulheres de quase trinta anos, Shomo. Nos viramos muito bem sozinhas. Cuide do Sparky. Não quero um pelo a menos nele. — Lauren respondeu.

   — Sabemos que não. Vou indo, mas liguem assim que chegarem em algum lugar com sinal.

   Lauren e eu reviramos os olhos e nos despedimos dele. Fomos para o balcão e fizemos nosso check-in. Não demorou para nosso voo ser anunciado, pegamos nossas bagagens de mão com uma ansiedade perceptível em nossas respirações. Nunca fizemos uma viagem tão grande e demorada como a que faríamos. A ansiedade estava consumindo as duas.

   Deixei que Lauren conferisse nossos assentos. Dessa vez fiquei ao lado da janela e Lauren na poltrona do meio. Alguém ainda iria ocupar a da ponta, mas nem isso tirou a animação da minha esposa.

   — Eu mal posso acreditar que vamos ver lêmures em suas casas originais! E olha só isso aqui, tem camaleões, tem árvores... — Ela disse, pegando um pequeno livro na mochila. — Uns rios... eu não faço muita questão dos rios, digo, não para conhecer, mas, Camzor, tem várias pedras!

   Nem parecia que Lauren tinha quase 30 anos. Mas, pensando bem, Lauren é uma incrível mulher de quase 30 anos. Eu descobria ser apaixonada por ela a cada vez que a via se vestir para trabalhar, quando voltava do trabalho ou até mesmo quando se trancava em um dos quartos não mais ocupados pelas garotas para planejar aulas ou corrigir provas. Descobria estar apaixonada quando ela deixava escapar o lado infantil que cada um de nós tem.

   — Lauren, você está esquecendo da principal exploração que você vai fazer. — Falei, passando dois dedos por meus lábios, mas lá estava minha esposa mais interessada em lêmures.

   — Eu citei quase tudo... — Respondeu, olhando para o livrinho que falava sobre o lugar para aonde iriamos.

   Inclinei-me um pouco para encostar meus lábios na orelha dela e minha mão apertar sua coxa.

   — Não citou meu corpo.

   Ela desviou os olhos do livrinho e os focou em mim, com um sorriso de canto.

   — Ah... Eu... Eu entendi... — Pareceu se perder ao me ouvir. — Vamos falar sobre as pedras aqui, olha... — Disse, olhando para o livrinho. — Você me desconcentrou. Não quero mais ver esse guia.

   Fechou o guia, derrotada. Me aproveitei disso e continuei o assunto.

   — O que me chateia é que só vou poder explorar e ser explorada em mil horas!

   Nosso voo, como todos que fizemos, foi o mais barato possível, é por isso que pegamos passagens para dois, mas que dariam o preço de uma de voo rápido e a nossa viagem levaria quase 2 dias. Seria cansativo, mas teríamos duas paradas, então seriam a nossa diversão antes da diversão real.

   As pessoas andavam e se alojavam no avião, por isso precisamos diminuir o tom da voz.

   — Eu vou continuar falando sobre lêmures até você parar de falar sobre ousadias em um momento que não podemos resolver a situação... — Murmurou.

   — Não sei se você sabe, mas em filmes as pessoas se resolvem em banheiros de aviões. — Sugeri.

   — O lêmure pode ser encontrado...

   — Você é insuportável.

   — E você uma ousada que quer usar banheiros sujos! Ainda mais esses aéreos.

   Desisti de toda e qualquer chance de levar Lauren para o banheiro do avião quando uma mulher sentou-se ao lado dela sem nem desejar boa noite, mas mantive o pensamento que assim que chegássemos ao hotel, minha esposa não iria ver a luz do sol tão cedo.

   Olhei para o lado e ela já havia largado o guia, estava agora vendo um filme. Cutuquei o braço dela e ela esticou o mesmo, me acomodando em seu corpo e rodeando meus ombros. Deitei sobre o peito dela e então senti um beijo demorado em minha cabeça, com isso sorri e fechei os olhos.

  

 

   — Camz, chegamos...

   A animação que eu estava sentindo no início da viagem acabou virando cansaço, sono e fome. Tudo o que eu queria era uma cama para dormir e apenas dormir, até mesmo a exploração de corpos eu havia deixado um pouco de lado. Dormi por um longo tempo, acordei quando precisamos trocar de avião e para me alimentar também. Estava morta quando desembarcamos e assim que pegamos nossas malas, Lauren me arrastou para o banheiro porque estava apertada, aproveitei para usar também. Logo depois fomos nos encontrar com o grupo de turismo que nos guiaria durante nossos dias ali.

   Seguimos com o grupo para dentro da van e então o guia, em Inglês, nos mostrava e falava sobre algumas ruas e pontos importantes da cidade. Sinceramente, não me atentei às informações, apenas à respiração de Lauren cochilando em meu ombro. Seguiu assim até o guia avisar que teríamos um tempo livre no centro da cidade.

   — É aqui que vocês poderão lanchar, almoçar, visitar algumas lojas... Espero todos vocês em uma hora neste mesmo local. — Avisou um dos guias. Todos concordaram e se espalharam pelas lojas, cafés, restaurantes e afins.

   Sorri com a ideia de comer algo em terra firme, mas antes dei uma volta pelo local, olhando as vitrines com Lauren.

   — Me diga, por favor, que o roteiro não tem nada para hoje. — Pedi.

   — Na verdade temos um passeio antes mesmo de irmos ao Hotel...

   — Agora diz que você está brincando.

   — Parque Nacional de Andasibe. Lêmures, Camzor! Vamos! Eu estou com o roteiro, um mapa, um guia da Ilha e também o dicionário. Vamos nos sair muito bem. — Explicou com uma animação quase incomum.

   — Desde quando você é mais animada do que eu? — Perguntei. — Eu estou muito velha. Eu preciso dormir.

   — À noite temos mais um passeio. Vamos usar lanternas. Eu trouxe a sua!

   Ela não parava de ler o roteiro enquanto eu a arrastava para um restaurante.

   ­— Eu acho que o meu problema é somente a fome, eu não consigo pensar muito bem.

   Lauren parou de ler o roteiro, procurou uma mesa para sentarmos e então colocou as duas mãos em meus braços.

   — Vou achar algo para você, não se preocupe.

   Observei minha esposa não esperar se atendida e ir até o garçom, mas demorou muito menos do que o esperado para pedir algo. A expressão dela era de confusão e susto, foi até a porta do restaurante, olhou para a rua e voltou.

   — Camila, o garçom fala em Francês! — Disse para mim.

   — Pega o dicionário e forma uma frase. — Avisei querendo apenas a minha comida.

   — Mas o que eu trouxe é de Espanhol! Nosso guia não está à vista! Por que eles falam em francês aqui?!

   Mal pude acreditar naquilo. Não tínhamos base alguma de espanhol, quem diria em francês. Tentei ajuda-la e saquei meu celular para buscar alguma tradução que pedisse comida, mas não havia sinal.

   — Estamos bem ferradas, sabia? — Falei, guardando o celular. — Aqui não temos sinal, não consigo procurar uma tradução!

   — Calma. Ao menos seu almoço eu vou conseguir, você não pode morrer. — Disse decidida, pegando o dicionário de espanhol e folheando.

   — Ok. Acredito em você, esposa. — Tentei motivar.

   Lauren leu e leu e leu... Alguns garçons passaram por nós e tudo o que fazíamos era indicar “depois” com os dedos indicadores.

   — Ok, mas o que eu vou fazer?! — Ela perguntou, me irritando.

   Se ela sabia tudo sobre o lugar, como errou a língua local?! Francês não é Espanhol!

   — Se vira! Estou com fome! — Avisei, vendo todo mundo pedir, comer...

   — Não seja hostil com sua esposa.

   — Eu só estou com fome. Ignore minha hostilidade e arranje comida.

   Ela bufou para mim, respirou fundo e chamou um garçom.

   — ¡Hola! — Falou para ele.

   — Bonjour! — Disse ele, em francês. FRANCÊS!

   Ela pediu que ele esperasse e leu algumas coisas no dicionário.

   — Yo... hambre. Ratatouille. Aqui. — Lauren falou apontando para a cabeça e tentando imitar um chapéu, depois para a boca, mastigando o vento e depois apontando a barriga.

   — La faim? Cuisine?

   Ela rapidamente folheou o dicionário e coçou a nuca.

   — Sim! ¡Vale! ¡Vale! Ratatouille faz comida na cocina!  

   Ela deve ter deduzido aquilo e eu achei curioso, deixando meu breve mau humor de lado.

   O rapaz ofereceu o cardápio, Lauren aceitou, mas logo devolveu falando “desculpa, não entendi nada” em inglês mesmo. O rapaz pareceu entender vagamente.

   — Ya retuir!

   Lauren olhou sorrindo para mim.

   — Ele fala metade em espanhol?

   — Ele falou uma frase qualquer, amor. E você certamente nem entendeu.

   — Isso é verdade... — Ela sorriu, coçando a nuca.

   Ficamos quietas apenas observando todos ao nosso redor e pensando sobre nosso azar de não ter uma pessoa que estava na van conosco. O garçom que nos atendeu andava pelo salão servindo e retirando pratos, mas não parava em nós, apenas sorria e nós duas esperávamos.

   — Amor, você achou mesmo que misturando duas línguas iria conseguir transformar em Francês?  — Perguntei, tentando fazer o tempo passar mais rápido.

   — Eu falei Ratatouille e ele entendeu, é o que importa. — Ela sorriu, orgulhosa de si mesma.

   — Espero que ele não nos sirva um rato.

   Lauren pareceu se assustar com o que eu disse.

   — Não pensei nessa possibilidade... Eles servem ratos?

   — Não sei... Tem gente por aí que veio no mesmo avião e van que a gente, vamos ter que fazer amizade ou então pedir para o guia não sumir mais.

   — Vamos fazer aulas de Espanhol e Francês quando voltarmos para casa? Acho que precisamos um pouco... — Sugeriu e eu ri.

   — Um pouco? Os nossos sobrenomes gritam descendência latina e nós não sabemos formar uma frase em Espanhol.

   — Seu pai fala algumas coisas, eu já o vi ensinando a Sofia. — Ela tentou me culpar. Tentou.

   — É... Eu não me preocupei em aprender porque estava mais ocupada atrás de você. O erro está em mim, mas vamos ter aulas. Mas você é professora de Literatura, por que diabos não fala espanhol?!

   Ela revirou os olhos.

   — Literatura inglesa, Camila! Mas vou expandir meus conhecimentos. Não se preocupe. Vou dominar as línguas de uma forma esplêndida! E não me culpe por sua falta de interesse em algo que você tinha gratuitamente em casa.

   Qual tempo eu tinha para aprender Espanhol quando era uma adolescente que só queria saber da namorada?! Não posso nem usar a famigerada expressão “correr atrás de meninos” porque corri atrás de uma menina, até hoje. Uma única menina.

   — A única língua que você precisa dominar dessa forma é a minha. — Sorri para ela, mordendo meu lábio inferior. Os olhos dela seguiram todo o movimento, então ela balançou a cabeça.

   — Você precisa parar de falar coisas assim.

   — É o mínimo. — Mudei o assunto. — E você estava no ramo das palavras. Deveria, sim, ter aprendido outro idioma!

   — Não me pressiona. Eu consegui me comunicar com um falante do francês, usando um dicionário de espanhol e conhecimentos cinematográficos. Orgulhe-se de mim.

   — Temos metas para antes dos quarenta: aprender línguas estrangeiras.

   — Faremos isso. Não se preocupe.

   E nossa comida chegou, por sorte não era um rato, pelo contrário, era algo que parecia ter apenas legumes e afins.  

   — Camila, é tomate ou um rato com molho?

   Analisei bem tudo o que tinha dentro daquele recipiente.

   — Tomate. Estamos seguras. E cebola... abobrinha!

   — Isso aqui é uma berinjela? — Ela continuou perguntando.

   — Que tipo de comida você pediu, amor?

   — Esposa, é comida e não é um rato. Apenas coma.

   — Mas tem c-

   — Eu sei que tem cebola. Vou tirar e você come o restante.

   Sorri para ela e esperei que cada cebola fosse retirada.

   Descobrimos, depois, que existe um prato da gastronomia chamado Ratatouille e avisamos ao guia sobre não podermos andar muito longe da equipe. Ele riu e disse que tudo bem, que poderíamos sempre estar por perto mesmo quando estivéssemos livres para andarmos sozinhas. Logo no primeiro dia e na primeira excursão, Lauren e eu começamos a conversar com um grupo de amigos vindos da América do Sul. Acharam peculiar termos escolhido aquele tipo de viagem como lua de mel, então fiz questão de explicar que em quase 13 anos o que menos nos importava era um lugar romântico, mas nos importava muito ter algo com um grande significado emocional.

   — O significado é tão peculiar quanto a escolha. — Um deles disse, rindo.

   Lauren e eu apenas concordamos, rimos e desistimos de explicar nossa história, já que era algo que nem nós mesmas conseguíamos entender.          

   Nosso único passeio da tarde não incluía lêmures. Era somente o percurso em carros de trilha até o hotel em que nos hospedaríamos. Ao chegarmos, recebemos a chave do nosso quarto e fomos diretamente para lá. Precisávamos de um banho e de algum descanso antes do jantar. Os quartos ficavam todos no térreo em espécies de chalés, mas não possuíam a separação espacial de chalés. Eram praticamente por completo em madeira. Bem praiano, posso dizer. Enquanto Lauren e eu seguíamos dois mensageiros que levavam nossas bagagens, observávamos tudo com atenção. Avistei a enorme piscina e quiosque que tinham como fundo o próprio mar.

   — Amor, amanhã vamos estar aqui bem cedo! — Avisei e ela apenas concordou sorrindo.

   Coqueiros altos completavam a paisagem e eu senti que estava tendo as férias que sempre mereci, mas em um super combo com a lua de mel.

   Lauren desistiu do dicionário por aquele dia e acabou agradecendo em sua língua original os mensageiros, que acenaram, falaram algo que não entendemos e nos deixaram, finalmente, a sós.

   Lauren jogou a mochila no chão e parecia estar tão cansada quanto eu. Abriu os braços e jogou-se sobre mim, me abraçando e beijando todo o meu rosto.

   — Eu gostei daqui. Quando você pensou que iriamos para um lugar assim?

   — Nunca. Está vendo? O casamento abre portas. — Expliquei.

   Ela murmurou e me beijou da forma correta, levando as mãos para minha nuca. Mordisquei seu lábio inferior e pressionei meus dedos na cintura dela, impulsionando-a para trás. Lauren seguiu o que eu queria e encostou-se à parede mais próxima, antes mesmo de olharmos como era o quarto. Movi meus lábios sobre os dela, já pronta para oficializar o início da nossa lua de mel.

   — Teremos tempo. Agora vou tomar um banho. — Beijou minha testa e sumiu no banheiro.

   Revirei os olhos e aproveitei para avisar aos nossos pais que já havíamos chegado a Madagascar e estávamos seguras no hotel. Das várias mensagens que tinha para ler, abri somente as de Dinah.

   MACACOS!

   Ela pediu para eu digitar. Não esqueçam do macaco da minha filha! Te amo. Aproveita essa lua de mel.

   Lauren terminou o banho e então eu fui tomar o meu. Aproveitei aquele tempo sozinha para, finalmente, deixar a ficha cair e me convencer que eu estava casada. Me deixei sorrir como uma boba para a parede e fechei os olhos enquanto a água caía sobre mim. Estava cansada, mas nada que não passasse com o banho. Terminei, enrolei-me em uma toalha e enxuguei o cabelo com outra, indo para o quarto. Lauren estava sentada à cama, concentrada. Ela não estava vestida com algo além de um roupão, eu vesti um conjunto de calcinha e sutiã.

   — O que está anotando? — Perguntei, abraçando-a por trás e deixando um leve beijo em seu ombro.  

   — Um diário de bordo

sobre nossos dias aqui. Não posso esquecer nada. — Explicou e eu tentei ler, mas ela rapidamente fechou o caderno.

   — Por que esqueceria?

   — Eu não estou falando que vou esquecer, mas não posso esquecer nada.

   Aquele era o sinal de que eu não deveria seguir com os questionamentos, então respeitei o espaço dela, apertando meu abraço.

     Eu já conhecia aquele corpo de cor. Conhecia mais do que qualquer outra pessoa poderia conhecer, mais do que Lauren gostava de admitir. Beijei os ombros dela de um lado a outro enquanto minhas mãos percorriam o roupão até alcançarem o nó desleixado. Soltei o que unia as duas partes, parando meus beijos no pescoço da minha esposa. Deslizei minhas mãos para dentro do roupão e lentamente o tirei dela. Lauren respirou fundo, levantando as mãos para enrolar os dedos em meu cabelo.

   Subi meus dedos pelos braços da minha mulher, permitindo que minhas unhas deixassem arrepios em cada milímetro de pele dela. Suguei devagar o ponto de pulso, já com a intenção de fazer Lauren desistir dos lêmures por enquanto.    

   — Hum... Podemos não ir ao passeio de agora à noite... — Sugeri.

   — Eu queria ver os lêmures... — Disse, mas eu não me convenci muito sobre aquilo.

   — O que mais tem no nosso roteiro é lêmure. Vamos aproveitar por aqui...

   Lauren suspirou e virou de frente para mim.

   — Tudo bem. Posso perder uma noite com lêmures... — Falou, olhando para minha boca, mas seus dedos enroscavam-se na alça do meu sutiã. — Somente para aproveitar com você.

   — Cala a boca, esposa. Você nem quer ver os lêmures tanto assim!

   Seus olhos revezavam-se entre minha boca e meu sutiã, que coloquei apenas para ela retirar.

   — Me chama disso novamente que eu desisto de vez de ver lêmures.

   Apoiei meu dedo indicador no queixo e fingi pensar.

   — Chamar de quê? Esposa?

   O sorriso que recebi em resposta me fez acreditar, realmente, que ela estava tão feliz quanto eu pelo casamento.

   — Isso é incrível. — Respondeu com palavras, mas sem soltar a alça da minha lingerie. — Sério! Eu nem sabia que isso poderia acontecer.

   — Você é tão linda... E idiota. — Coloquei meus braços ao redor do pescoço dela.

   ­— Não julgue minhas emoções.           

   Assenti e juntei nossos lábios.

   ­— Então posso avisar à equipe que não vamos ao passeio?

   — Pode... Mas podemos jantar antes? Aquele Ratatouille não encheu meu estômago tanto assim... — Pediu.

   — Eu também. Vamos. Aproveito e aviso logo nossa ausência.

   Qualquer outra pessoa poderia se chatear por ter “perdido o clima”, mas após tantos anos aprendendo e conhecendo uma sobre a outra, sabíamos que não havia problema algum em irmos jantar e voltarmos depois. Eu sabia que Lauren não iria sair correndo, como fazia anos atrás.

   Jantamos no restaurante do Hotel e dessa vez encontramos pessoas da equipe, que nos ajudaram com a tradução de algumas coisas. Avisamos que não estaríamos no passeio da noite e ignoramos os olhares sugestivos do grupo de amigos que conhecemos mais cedo. Nós duas estávamos com fome, já que o almoço era tudo o que tínhamos no estômago, por isso comemos sem limite algum. Servi um prato com coisas diferentes do que Lauren serviu, era a nossa estratégia de conseguir ter muitas opções sem precisar repetir o prato.

   Voltamos para o quarto quando nos demos por satisfeitas e minha esposa correu para escovar os dentes, me obrigando a fazer o mesmo. Assim que acabamos, deixei que ela passasse em minha frente apenas para poder observá-la por algum tempo.

    Sempre foi meio óbvio que eu desejo Lauren em todos os âmbitos possíveis. Desejo olhares, conversas, risadas, companhia e, loucamente, desejo contato físico. Desejo beijar Lauren sempre que a vejo sorrir. Ela sempre disse que eu sou uma tarada e eu realmente sou quando se trata dela. Lauren Jauregui Cabello. Peço que foque em nossos sobrenomes juntos.

   — Lauren, tem um beijo nosso que eu nunca consegui esquecer. A lembrança dele me deixa louca, por mais que ele não seja o mais ardente que já tivemos.

   — Qual? — Ela perguntou, escovando os dentes.

   — Nosso beijo em que você tinha gosto de biscoitos. Eu fiquei louca te beijando naquela cozinha.

   Ela riu e concordou, enxaguando a boca e depois enxugando a mesma. Deixei que ela depositasse a escova de dentes na bolsinha em cima da pia e senti que minha intenção havia sido captada por ela, já que seus movimentos tornaram-se mais lentos e quando aproximou-se de mim, tinha um sorriso debochado no rosto. Segurei-a pela cintura, prensando-a contra o mármore da pia. Seus braços rodearam os meus e eu dei um rápido beijo em seus lábios antes de descer os meus próprios. Beijei o pescoço de Lauren e me deixei demorar ali. Era nossa noite de núpcias, sem nada ou ninguém para ligar ou bater na porta. Apenas nós duas naquele quarto de hotel, em outro continente, falando inglês em uma ilha que se comunicava em espanhol e possuindo apenas um dicionário de francês.

   Fiz questão de chupar o ponto de pulso dela porque sabia que ela iria se contorcer e soltar um gemido acanhado, como fez. Passei minhas mãos pelas laterais do corpo dela até tocar o sutiã preto que usava. Minha boca, faminta por aquela mulher, vagou pelo pescoço, ombro, mordiscou o busto dela até se perder nas curvas de frente. Ela foi quem teve a iniciativa de nos fazer andar até o quarto e consequentemente à cama, sem nos soltarmos. Retirei o sutiã dela, ela até tentou pegá-lo para dobrar, mas eu segurei sua mão, murmurando um “hoje não”. Ela, vendo que não possuía outra opção, apenas se deixou cair sobre o colchão, deitou a cabeça sobre o travesseiro e afundou suas mãos em meus cabelos. Meu próximo passo foi retirar a calcinha da minha, agora, esposa e me deixar olhar todo aquele corpo que, após tantos anos, não fazia questão de se esconder de mim.

   Lauren, em um movimento inesperado por mim, ergueu os braços e me puxou para si, buscando minha boca. Fiz o que ela queria e me deixei levar por aquele beijo. As mãos dela percorreram minhas costas lentamente, até chegarem ao meu sutiã enquanto nossas línguas não tinham pressa alguma para aprofundar o beijo, contentavam-se em movimentos sensuais. Tempos atrás eu precisaria incentivar Lauren a retirar, mas hoje em dia ela faz isso por conta própria. Mas ela nunca deixava de estar nervosa ao retirar meu sutiã ou calcinha e, se parece estranho para você, para mim é incrível. Demonstrava que Lauren não se acostumava comigo e que eu sempre seria uma novidade, assim como minha cobiça por ela, que nunca estava saciada. Em poucos segundos eu, também, já estava sem roupa alguma. Somente o corpo dela cobria qualquer parte exposta do meu. Separei nossos lábios e segui o caminho da minha mão até o meio das pernas da minha esposa, que se contorceu com meu toque.

   Ao enlouquecer Lauren, eu enlouquecia junto. Amar uma pessoa por quase 13 anos deveria significar rotina e tédio, mas para mim significava que meu amor por ela era 13 vezes maior, assim como meu desejo por ela. Com ela era sempre uma novidade. Eu nunca sentia tédio por estar nos braços dela ou tê-la em meus braços. A cada vez, por mais diária que fosse, eu sentia uma explosão de emoções diferente.

   Os dedos dela firmaram-se em minha cintura, obrigando-me a virar, ficando sob seu corpo. Lauren tendo atitude pode parecer quase inédito e para mim parecia, realmente. Sempre que aquela roupagem dominadora de situação se apossava dela, eu apenas me rendia e deixava que tudo seguisse como ela queria.

   — Você pode agilizar? Estou esperando esse momento desde que te vi vestida de noiva. — Falei.

   Lauren, entendendo que eu me irritaria a qualquer instante, mesmo que não verdadeiramente, continuou o que estava fazendo, beijando toda a minha barriga e virilha enquanto suas mãos apertavam minhas coxas.

   Ela era maravilhosa e eu apaixonada por ela.

   — Continua. Se você descer mais um pouco, resolverá um pouco do meu problema.

   — Então, eu estive pensando... — Ela parou o que estava fazendo.

   — Lauren!

   — Estou falando que...

   Queria me provocar, disso eu sabia.

   — Vou arremessar você por essa janela para você ver lêmures ao invés de estrelas se você não fizer o que eu estou necessitando!

    Ela riu, revirou os olhos e voltou à única coisa que me importava naquele instante.

   Nos dedicamos a nós mesmas por longos grupos de minutos, não tínhamos relógio por perto e mal sabíamos onde nossos celulares estavam. Tudo o que tínhamos era a vontade uma da outra. Por isso, quando o esgotamento temporário nos atingiu apenas nos deitamos uma ao lado da outra. Dessa vez, ela não saiu correndo para tomar banho, nem nada do tipo, apenas jogou-se sobre mim, apoiando a cabeça no travesseiro ao lado do meu e uma perna por cima da minha.

   — Esposa. — Ela chamou, beijando meu rosto preguiçosamente.

   — Oi, esposa.

   — Você lembra de quando éramos completamente inexperientes com relacionamentos?

   — Então vamos relembrar tudo o que já passamos?

   — Sim. Eu quero fazer isso, já que só vamos ver os lêmures amanhã.

   — Se você falar sobre esses lêmures mais uma vez, vai ter que ir dormir com eles ao ar livre.

   Lauren riu e me beijou demoradamente na bochecha.

   — Eu estou brincando, Camzor. Mas vamos relembrar, por favor. Eu preciso ter isso vivo em minha mente.

   — Por quê?

   — Hum... Eu preciso da sua versão dos fatos. Eu sempre fui bem... é... excêntrica... Queria ver as coisas por outros olhos e esses olhos estão em você.

   Pensei um pouco e decidi resumir, já que ela queria um apanhado geral.

   — Chata, complicada, irritante, uma filha da mãe! Que minha sogra me perdoe. Paranoica, egoísta às vezes, ranzinza, teimosa... Sistemática e nem é por algum transtorno, deve ser por falta do que fazer...

   Fiz o que ela pediu, mas fui interrompida pela mão dela em minha boca.

   — Esposa, não seja tão romântica, posso morrer de amores!

   Ri e mordisquei a palma da mão que logo estava longe.

   — Você era! Sério! Mas eu também era uma garotinha muito incompreensiva, grudenta...

   — Pressionadora, ótima emissora de indiretas, impaciente, egoísta também em alguns pontos, ciumenta...

   — Precisamos casar novamente porque esses votos parecem mais românticos. — Foi minha vez de reclamar.

   — Em alguma boda a gente faz isso. Sabe algo sobre qual me orgulho?

   — Não exatamente.

   Virei-me para ficar de frente para ela.

   — Hum... Sobre a forma que aprendemos a lidar com aquela possessividade adolescente e infantil que tínhamos uma sobre a outra. Acho que nosso relacionamento turbulento me fazia ter muita insegurança e a você também, por isso agíamos como feras.

   — Isso é verdade. Você não podia usar um short que eu achava que suas pernas seriam imãs de namorados e namoradas... Mas... sabe... Eu sou ciumenta, muito e você sabe. Você também é, só é chata o suficiente pra ficar disfarçando quando eu sei. Mas o ponto é: Meu ciúme doentio de antes soava como abusivo e eu era jovem e inexperiente demais para saber disso, amor. Eu nem parava para pensar. Então, com o tempo, passei a ganhar confiança em nós duas. Hoje em dia meu ciúme não é do tipo que acha que você vai me trocar por outro alguém, mas, sim, do tipo que pensa “Pare de dar em cima da minha esposa tão descaradamente! Tenha dignidade, ela não vai te querer!”. Porque, sejamos sinceras, você não quer outra pessoa. — Falei minha versão e Lauren concordou.

   — Sim! É isso! Nós tínhamos medo porque pensávamos ser insuficientes... E agora eu só me irrito com a audácia das pessoas que ousam falar com você. Meio que “Se você está vendo um anel no dedo dela e está vendo os meus dedos entrelaçados aos dela, não chegue perto!”.

   Sorri e olhei cada traço daquele, passando minha mão por ele.

   — Estou muito orgulhosa de nós mesmas, Lauren.

   — Posso dizer o mesmo. Eu aceito que tudo mude ao nosso redor e em amadurecimento, só não aceito que nós soframos alterações. Você sabe... temos a opção de vidas separadas, mas eu vou repetir sempre: prefiro e preciso ter a minha vida unida a sua em uma vida só.

   Estávamos envolvidas por lembranças, conclusões e muitas emoções fortes, tudo de uma vez jogado sobre nós e me fazendo derramar algumas lágrimas.

   — Lauren... Para de me fazer chorar...

   Minha esposa segurou minha mão que estava em seu rosto e a beijou.

   — Camila, você sabe que raramente consigo falar coisas assim, então preciso que você me escute um pouco.

   — Tudo bem. Pode falar...

   — Ok. O que eu quero que você saiba é: estou me sentindo imensamente plena no dia de hoje. Casar com você é algo que passava por minha mente da mesma forma que o sol consegue derreter um iceberg, desconsiderando o degelo anormal. Mesmo estando aqui, casada com você, eu não precisava de nada disso. A única coisa que eu realmente preciso é de você ao meu lado. Não sei por quanto tempo vou estar presente, mas tenha sempre em mente que eu amo você e o fato de eu ter te encontrado só pode ser explicado da mesma forma que explicam o relâmpago globular. Fui, sou e serei sempre plena ao seu lado e se um dia eu não estiver mais aqui, por favor não esqueça disso e me perdoe por todas desventuras que te fiz passar. Nunca tive a intenção de machucar você, eu apenas queria fugir, sem saber que continuar era a verdadeira saída. E não, ainda não falei os meus votos reais a você agora.

   Lauren terminou de falar, dando espaço para que meu choro corresse livre. Como ela podia falar em morte no momento em que, teoricamente, deveríamos estar falando de vida? Eu não queria pensar em uma vida sem Lauren.

   — Não fala isso, amor... Não fala sobre morte. Vamos estar juntas por muito tempo! — Joguei-me sobre ela, apertando-a em um abraço desesperado.

   — Não estou falando que vou morrer amanhã, Camz... — Explicou, me abraçando de volta. — Eu estou saudável, sabe? Mesmo. Mas eu preciso que você tenha tudo isso em mente porque eu nunca tenho palavras certas ou suficientes para falar sobre você ou nós.

   — Vamos estar juntas até o fim, Lauren.

   — Vamos.

   — Me promete que não vai mais falar sobre morte. Eu não quero imaginar coisas desse tipo.

   — Prometo. — Apertou os braços ao meu redor e beijou meu pescoço. — Mas você me promete que não vai esquecer nada do que falei?

   — Prometo, amor. Só fica aqui comigo. Não sai de perto de mim.

   — Não há outro lugar em que eu queira estar.

   — É só isso que eu preciso ouvir. Apenas isso.

   Dei um tapa no braço dela e antes que ela falasse algo, chamei-a de idiota. Ela não podia falar coisas daquele tipo, assim. Em um momento ela me fazia rir, em outro me irritar e logo depois me deixava em lágrimas. Ela não tinha esse direito, mas tinha todo esse direito.

   Depois do nosso momento emotivo, Lauren voltou ao assunto sobre relembrar tudo o que já vivemos. Passamos horas e mais horas relembrando e contando nossas versões pessoais sobre cada acontecimento que nos marcou e até mesmo aqueles que parecem banais. O dia seguinte já estava dando sinais pela janela de vidro quando perguntei se Lauren estava com sono. Tanto ela quanto eu havíamos perdido qualquer sono, por isso chamei-a para a varanda após vestirmos algumas blusas e calcinhas que nos cobrissem.

   — Amor, repara bem nesse sol e grava esse momento em sua mente. — Pedi enquanto ela me encarava.

   — Por quê?

   — É o nosso primeiro dia como casadas surgindo. É o que quero que você lembre, junto com tudo o que passamos.

   Lauren não me obedeceu, continuava olhando fixamente para mim, então decidi chamar a atenção dela.

   — Lauren...

   — Eu prefiro lembrar de você.


Notas Finais


AH MAS A FANFIC FOI ESQUECIDA? não.

AH MAS EU NEM LEMBRAVA QUE NÃO TINHA ACABADO AINDA! é que ainda, realmente, não acabou. Desculpa.

AH TANTO FAZ! eu sei... eu sei...

AH MAS FALTA MUITO? mais dois além desse. Acaba no 66.

AH CANSEI. NÃO QUERO MAIS LER! é... Acontece... A vida segue. Desculpa.

Acontece, pessoal, que a fanfic se escreve sozinha. Nem sou eu rsrsrsrsrsrrs. Ela decide que quer aparecer e fala VAMO e eu digo VAMO. Então por algum tempo ela realmente não quis aparecer, estava reclusa... vocês sabem... a vida hehehehe. MAS EU GARANTO O 65 EM BREVE o 66 eu não vou garantir nem pra dezembro, MAS ANTES DE ABRIL SAI HEIN hehehehehe. Eu estava sem noção de números, mas agora tenho noção de que tem um tanto grande de humanos acessando essa fanfic. Eu fiquei NÃÃÃÃÃO, mas se for ver é real mesmo!!! É uma coisa sem explicação que eu não sei mesmo como tá acontecendo kkk ai... mas eu só quero agradecer muito muito MUITO a todos vocês, sério. Vocês me iludem da forma mais graciosa que existe. MEUS MAIS SINCEROS OBRIGADAS!

Não quero soar dramática, mas seria pedir muito pra vocês não abandonarem a fic antes do último capítulo? É que eu tô ansiosa pra ele :// kkkk vai ser o segundo melhor capítulo da fanfic toda ou o terceiro, eu não sei contar MAS SEI CONTAR OS DIAS E ELES ESTÃO CERTOS. LEMBREM-SE DISSO kkkk tchau... mas o pedido é sério kkktchau.kkksériomesmokkk

Saudações!


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