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História Parece Mais Fácil Nos Filmes - Requiem


Escrita por: SheUsedToBeEmo

Notas do Autor


OI, GENTE! MUITO OBRIGADA POR TUDO ISSO! PELA DIVULGAÇÃO QUE EU DESCOBRI QUE ALGUNS FAZEM NO TWITTER (sim, eu vi vocês no search falando um tantão de coisa, foi um baque nesse córe aqui, hein?) E PELOS COMENTÁRIOS E PELOS FAVORITAMENTOS! XAU

Capítulo 43 - Requiem


Segunda-feira.   

    — Amiga, ele nunca vai me notar! Não adianta... — Normani reclamou enquanto seguíamos para a estação do metrô.   

   — Você não tem que implorar para ser notada. — Dei de ombros observando as costas da minha namorada que seguia mais a frente com Allyson e Dinah.   

    — O que devo fazer? — Perguntou.   

   — Desiste, ué. — Respondi tentando prestar atenção no que ela dizia, mas o barulho de nossos pés tocando a neve estava me distraindo.   

   — Acho que você tem razão.   

   — Devo ter.   

   — Farei isso... — Ela disse e passamos alguns passos em silêncio até ela se pronunciar. — Mas me diz, como vai seu namoro?   

   — Sei lá... — Pensei um pouco. — Sendo um namoro...   

   — Está gostando? — Que pergunta complicada!   

  — Sei lá, sabe? — Ok. Estou gostando. — Eu nunca namorei. Não sei como funciona, mas a gente definiu algumas regras essenciais... E, sei lá, ela é uma namorada legal. — Sorri dando de ombros e sorrindo para as costas de Camila, mesmo que ela não pudesse ver.   

   — É. Camila é legal. — Assenti pensando que as pessoas dizem isso e esquecem que é da minha namorada que estão falando e que eu certamente sei as qualidades dela. — E te atura. — Dessa vez neguei com a cabeça e Normani riu.   

   — É... Sei lá...   

   Eu nunca sabia o que falar sobre minha relação geral com Camila. Sempre foi difícil eu ter que definir aquilo que significa muito...   

   — Mas, amiga. Você sente falta de ir e voltar comigo? — Não.   

   Revirei os olhos para a pergunta boba e sentimental dela.   

   — Não. — Respondi. — Moramos juntas, dormimos no mesmo quarto... Nem tenho tempo de sentir sua falta.   

   — Sua insensível! — Rebateu, mas nem a indignação dela me fez tirar os olhos de Camila que agora tentava empurrar Dinah para o lado.   

   — Sou sincera.   

   — Um dia você vai querer ser sentimental comigo e aí eu não vou querer. — Normani, eu repugno o sentimentalismo assim como a retículo endoplasmático repugna as toxinas!   

   — Não vou, não.   

   — Quero apenas ver quando sua namorada cobrar isso de você. — Ela disse e eu franzi o cenho parando para pensar naquilo.   

   Como pude esquecer que namoros têm momentos sentimentais?! Droga!    

   — Ela não vai. — Respondi. — Ela me entende.    

   — Aham. Tá. — Desdenhou. — Vai pensando. Pode procurar por mim quando esse dia chegar.   

   Segunda-feira. 372 dias desde que Camila falou comigo pela primeira vez. Hoje faz exatamente uma semana desde que começamos a namorar e eu ainda não sei namorar. Gostaria de saber como tudo isso funciona e acho que no mundo animal essa coisa de ter um parceiro é bem mais simples: um macho encontra uma fêmea para acasalarem e perpetuarem a espécie. Não. Não estou dizendo que preferiria ser este tipo de ser vivo, mas que é mais simples quando emoções e definições não estão envolvidas, ah é!   

   Chegamos à universidade e demos de cara com Veronica logo na entrada nos esperando.   

   — Oi, gente! — Ela cumprimentou animada.   

   — Oi, Vero. — Allyson respondeu por ela e por mim.   

   — Já aviso que hoje não vou com vocês. Vou estudar um pouco... Acho que estou precisando... — Jogando a cabeça para os dois lados, como se alongasse.

   — Percebeu meio tarde. — Comentei.   

   — Lauren Michelle, você também não estuda porcaria nenhuma!   

   — E daí? — Cruzei os braços.

   — E daí que a gente precisa estudar alguma vez. Somos universitárias!   

   Allyson avistou Lucy e correu em direção a ela enquanto Veronica e eu continuamos nosso pequeno debate.   

   — Tá, mas eu presto atenção nas aulas...  — Argumentei.

   — Você sabe que tem que estudar, para!   

   Revirei os olhos e estava pronta para responder quando as outras garotas se aproximaram.   

   — Laur, a Lucy vai com a gente hoje pra estudar comigo. — Allyson avisou sorrindo e eu apenas assenti para aquela notícia que pouco me importava.   

   — Sério?! — De repente Veronica exclamou. — Eu tinha combinado a mesma coisa com a Lauren. — Disse como se aquilo fosse verdade.   

   Franzi o cenho e abri a boca para negar aquilo, mas senti o braço da minha colega de classe passar por meus ombros e apertar meu braço em um claro sinal de "Finge junto comigo.".   

   — Aham. Marcamos. — Concordei sem saber o porque, apenas sabendo que era pra concordar.   

   — Mesmo? — Lucy perguntou sorrindo. — Ótimo! Então podem esquecer o metrô por hoje.   

   — Fico agradecida, Lucy. — Falei já imaginando não ter que voltar de trem e encontrando a parte boa da notícia de ela ir para o apartamento.   

   — A Laur nunca se senta, Lucy. Às vezes me dá dó. — Allyson disse e eu dei de ombros.   

   — Não senta porque é fresca e não quer tocar onde metade da população já tocou. — Veronica fez questão de dizer.   

   — Não é por isso! — Me defendi, mas pude ver Veronica e Brooke negarem com a cabeça para ela.   

   — Tudo bem. Te entendo. — Lucy sorriu e eu tentei fazer o mesmo, mas sorrir muito ainda era uma coisa que eu precisava treinar para que não parecesse-se com uma careta.   

   — Combinado então, agora vamos indo nessa. Até o lanche. — Allyson disse acenando.   

   Esperei que as duas estivessem fora de vista para volver-me e encarar Veronica atrás de alguma explicação para aquele ato bobo.   

   — Agora precisamos ir. — Ela disse começando a andar e claramente fugindo da conversa. — Vamos estudar...   

   — Veronica, você não iria estudar sozinha depois das aulas? — Falei calmamente seguindo-a.   

   — Temos que estudar em todos os momentos, tipo agora, não é? — Disse continuando a andar e logo entendi que ela estava contornando o assunto.   

   — Veronica, não tente fugir! — Avisei decidida a descobrir o porque daquela cena a pouco.   

   — Não estou fugindo. — Disse olhando rapidamente para mim e voltando a olhar para a frente. — Apenas não quero me atrasar!   

   — Iglesias! — Aumentei meu tom ao notar que o corredor estava quase vazio.   

   — Jauregui, anda. Não gosto de me atrasar. — Mentira! Você nem liga pra isso!   

   — Pare de andar agora mesmo e me explique aquilo! — Exigi.   

   Ela parou de andar de repente e virou-se para mim obrigando-me a parar também. Ela tinha um semblante meio desesperado e perdido.    

   — Você consegue ser chata, hein?! — Resmungou cruzando os braços. — Eu gosto da Lucy, Lauren Michelle! É isso! Pronto!    

   Inclinei a cabeça para o lado e fitei-a incrédula processando o que acabei de escutar.   

   — Gosta da Lucy?!    

   — É, Lauren. Pronto. Agora você sabe. — Revirou os olhos parecendo não querer dizer aquilo.   

  A Veronica e a Lucy?! Não posso acreditar!   

   — Mas... Ela... — Ela gosta da coisa? — Não acredito! — Exclamei. — Espera. Só pra confirmar. Em que sentido você gosta dela? 

   — Gostar de querer beijar, né Michelle?! — Revirou os olhos e eu assenti lentamente.   

   — Tá. Não acredito mesmo. — Falei.

   — Nem eu...    

   Como agir quando sua colega de classe confessa algo assim?! E ainda mais quando você forçou-a a confessar!   

   — Ela sabe? — Perguntei com dificuldade tentando achar palavras para aquele momento meio constrangedor.   

   — Não.   

   — Mas ela ao menos é... Digo... Gosta de garotas?! — Cocei a nuca sentindo-me sem graça ao perguntar aquilo, mas ainda assim querendo saber.   

   — Não. — Ela riu e eu tive que enrugar mais ainda a testa.   

   — Mas... Ela ao menos gosta de...? — Eu tentava conectar uma palavra a outra, mas esse tipo de assunto ainda me deixa sem graça!   

   — Não exatamente... Mas ela tem uma mente aberta...   

   — Isso significa o quê exatamente? — Perguntei ainda mais curiosa.   

   — Que ela não se importaria em beijar uma garota... — Ah! Isso é ser mente aberta? Eu jurava ser outra coisa!

    Só então consegui entender o que ela me disse. Veronica, a garota que nunca teve relacionamentos duradouros estava gostando de uma garota!   

   — Veronica! — Coloquei uma mão sobre a boca sentindo meus lábios voltarem-se para cima. — Você gostando da Lucy e pensando em namoro?! — Desatei a rir.   

   — Não falei exatamente em namoro! — Ergueu uma mão. — Apenas... Coisas... 

   Continuei a rir e arregalei os olhos.   

   — Não acredito que você quer se aproveitar dela... — Que ato ridículo! As pessoas não merecem servir apenas por alguns momentos!   

   — Cala a boca. Você se aproveitou da Camila por um ano e eu não estou te julgando por isso.   

   No mesmo instante cessei o riso e revirei os olhos.   

   — Tá. — Falei começando a andar e dando o assunto por encerrado.   

   — Agora você foge! — Ela riu me seguindo.   

   — Estou encerrando esse assunto.   

    Finalmente seguimos para a sala onde a aula já havia começado. Sentamo-nos e não toquei mais naquele assunto porque desatei a pensar se eu realmente me aproveitei de Camila. Você acha que o que fiz pode ser julgado como aproveitamento? Você sabe de tudo! Eu jamais me aproveitei dela, se fiz o que fiz foi para buscar o melhor que nós duas merecíamos!

   As aulas passaram-se e logo o intervalo chegou. Fomos para a lanchonete, malmente sentei-me e senti meu celular tocar. Avisei às garotas que já voltava e corri ansiosa para falar com Camila.

   — Namorada, tenho uma notícia pra te repassar! — Comentei escorando-me na parede.

   — Hummm... Tipo uma fofoca? — Sugeriu sussurrando.   

   — Não sei... Você sendo minha namorada as coisas que eu te contar recebem o nome de fofoca?   

   — Não. Não mesmo. Eu sou sua namorada, preciso mesmo saber das coisas que acontecem em sua vida.   

   Talvez o argumento dela nem fosse real, mas quem liga? Se ela disse, eu acredito.   

   — Verdade. Você sendo minha namorada uma fofoca não é uma fofoca.   

   — Exatamente. Agora conta logo!   

   — Você não vai acreditar, a Veronica gosta de alguém.   

   — Não! De quem?! A gente conhece?   

   — Aham...   

   — Lauren, se você disser o nome de alguma de nossas três amigas eu vou cair aqui de tanto rir!   

   — Não! — Sorri pra ideia dela. — É a Lucy...   

   — A Lucy?! — Exclamou logo em seguida gargalhando alto. — Não acredito! — Voltou a sussurrar.   

   — Nem eu mesma acreditei.   

   — Ai, namorada. Preciso logo ver a Vero!   

   — Mas não diga que te contei!   

   — Ok!   

   Camila continuou falando mais algumas coisas até eu ver uma Veronica com passos apressados aproximar-se de mim.   

   — Agora preciso desligar. Veronica está vindo pra cá.   

   — Ok. Nos vemos logo!   

   Tive apenas tempo de guardar o celular no bolso para então ver uma Veronica irritada.   

   — Lauren Michelle, eu disse a elas que eu iria te pedir dinheiro emprestado porque esqueci o meu na sala. — Expirou forte.   

   — Ah. — Revirei meu bolso e encontrei cinco dólares. — Tenho apenas o da água aqui... Mas posso te emprestar, perdi a sede.   

   — Eu menti! — Ela disse e eu não entendi.   

   — O quê?   

   — Menti para elas.   

   — Tá. Mas você quer ou não quer o dinheiro? — Ergui a cédula para ela que abaixou a minha mão.   

   — Não, Lauren! — Dito isso guardei de volta no bolso e esperei que ela continuasse. — Eu menti porque você saiu e a Ally e a Lucy ficaram conversando e a Lucy olhava para mim e falava comigo! — Passou as mãos pelo cabelo e eu sorri.   

   — Mas vocês fazem isso sempre... — Debochei já começando a entender.   

   — Só que depois que externalizei a coisa, fiquei nervosa!   

   Fitei-a por um momento e tentei segurar o riso, mas foi impossível.      

   — Você está fugindo dela... Ai, ai... — Comentei sem acreditar que aquela garota toda confiante que conheci estava mostrando-se uma boba por causa de uma garota.   

   — Quer tirar mesmo com isso de fugir? Você pode até me dar dicas sobre fugir, né? — Perguntou e eu logo parei de rir entendendo a indireta.   

   — Não. — Neguei com a cabeça.   

   — Ótimo. — Ela sorriu vendo que era fácil me atingir quando se tratava de Camila. — Agora arranja um jeito de me tirar de lá.   

   — Como assim?   

   — Não quero mais ficar perto dela!   

   — Tá, Veronica. Vamos. — Indiquei para que ela seguisse em minha frente.   

   Caminhamos juntas até a mesa e eu cocei a nuca pensando em alguma coisa que soasse convincente o bastante.   

   — Gente, Veronica e eu precisamos ir à biblioteca ver alguns livros. — Falei quando as duas me encararam.   

   — Agora? — Lucy perguntou e eu assenti. — Nos vemos no almoço?   

   — Sim.   

   — Não.   

   Eu e Veronica dissemos ao mesmo tempo.   

   — Não... — Repeti em um tom grave indo de acordo com o que minha colega de classe disse.   

   — A gente vai ficar na biblioteca. — Veronica completou.   

   — Vão ter algum teste?— Allyson quis saber.   

   — Aham. Vamos. — Veronica mentiu e me arrastou para longe da lanchonete.   

   Caminhamos em silêncio até o corredor onde teríamos a próxima aula e por lá mesmo esperamos o horário.   

   — Primeiro diz que quer ir estudar comigo sendo que você sempre vai, e depois vem querer fugir? Isso está confuso, Veronica. — Falei cruzando os braços e me apoiando na parede.   

   — Eu fiz aquilo por impulso! Sério. Não me deixa mais abrir a boca perto dela.   

   — Meio difícil... Você nunca se cala!   

   — Se vira e me ajuda. Eu te ajudei em um momento muito conflitante da sua vida.   

   — Nunca pedi por aquilo.   

   — Está sendo ingrata, Lauren Michelle?! É isso mesmo? — Perguntou seriamente e eu tive que respirar fundo.

   — Não, Veronica... — Revirei os olhos e tentei explicar a ela que eu era imensamente agradecida por ter sido ajudada naquela noite, mas a garota estava tão surtada por causa da Lucy que mal conseguiu me entender.   

   O restante das aulas seguiram rapidamente. Durante o almoço tive que ir até o outro lado do campus, junto do pessoal de Medicina e ficar por lá com Veronica para não termos o azar de cruzar com Lucy e Allyson, mas também fiquei exposta ao azar de esbarrar com a Alexa e, como o universo é irônico comigo, ele fez questão que isso acontecesse.   

    — Você por aqui, Laur? — Aquela voz que sempre me deixou tensa do modo ruim surgiu quando Veronica e eu estávamos escoradas em uma parede de um corredor pouco movimentado, que escolhemos achando jamais cruzar com a Alexa por ali, mas nos enganamos feio.

   — Oi, Ferrer. — Respondi sem vontade alguma.   

   — Está ocupada? — Quando se trata de você eu estou ocupada até com minha respiração!   

   — Aham. — Assenti. — É que Veronica e eu estamos repassando algumas coisas que aprendemos. — Menti mesmo e se fosse preciso mentiria mais!   

   — Tenho certeza de que podem fazer isso depois. — Sorriu debochada.   

   — Alexa... — Minha colega de classe se pronunciou. — Na verdade precisamos fazer isso agora.   

   — Mas, Laur, — Falou diretamente comigo ignorando a própria colega de quarto que bufou ao notar isso. — queria conversar com você!   

   — Ferrer, não temos o que conversar! — Falei um pouco irritada e querendo deixar claro que não estava a fim de conversar chatices com ela.   

   — Temos sim. Precisamos conversar desde o baile. Estou geralmente por aqui, me procura. — Disse inclinando-se e beijando a minha bochecha demoradamente me deixando estática.   

   Engoli em seco e agradeci por Camila não estar ali para ver aquilo, caso estivesse eu estaria morta.   

   — Alguém vai apanhar da namorada mais tarde. — Veronica assoviou e eu limpei meu rosto com a mão querendo não pegar nenhum micro-organismo daquela garota.   

   — Veronica, a Camila não precisa saber disso! — Protestei.   

   — Como não? O combinado de vocês é justamente falar a verdade! — Veronica disse como se eu tivesse esquecido aquilo.  

   Algumas verdades são piores do que as omissões!   

   — Olha, eu vou contar depois. — Expliquei pensando que contaria apenas quando estivesse preparada para alguns gritos. — Mas hoje ela e eu estamos fazendo uma semana. Não quero estragar nada.   

   — Tudo bem... Mas eu acho errado você esconder isso. A Alexa deixou claro com isso aí que quer você.   

   — E eu quero apenas a minha namorada!   

   Isso é verdade e você sabe disso. Na face da Terra não existe outra pessoa que eu queira além de Camila.   

   — Certo. Mas se eu souber que você procurou a Alexa, eu mesma conto pra Camila! — Ameaçou e eu suspirei acenando com a cabeça.   

   — Ok. Eu vou contar sobre hoje, mas amanhã! Vai ter briga, de qualquer forma. — Dei de ombros imaginando que Camila brigaria comigo independente do dia que eu contasse.   

   — Ok.    

   Não consegui mais ficar por ali e, notando isso, minha colega de classe chamou-me para voltarmos à sala. Após as aulas voltamos para casa com Lucy e Veronica estava completamente tensa no banco do carona. Chegamos ao apartamento, jantamos com as outras garotas e quando tudo já estava arrumado na cozinha, fiz um pouco de pipoca e sentei-me no sofá ao lado de Dinah, Camila estava ao outro lado dela e Normani estava com Veronica no chão, e esta já contava sobre o acontecido de mais cedo.   

   — Gente, nós vamos estudar aqui no quarto. — Allyson avisou levando Lucy para o quarto e, finalmente, nos deixando livres para debater sobre o drama da vida de Veronica.   

   — ... E aí eu contei pra Lauren hoje e me senti terrivelmente envergonhada depois!   

   — Isso significa que você só percebeu o sentimento depois de expressá-lo. — Minha namorada disse pegando um punhado de pipoca da minha vasilha.   

   — Faz sentido... — Veronica assentiu lentamente.

   — Mas ela sabe? — Camila perguntou.   

   — Não, gente...   

   — Você deveria contar. — Normani deu de ombros.   

   — Não é simples assim. E eu nem sei se quero algo com ela!   

   Ao escutar isso rapidamente lembrei de quando eu mesma pensava assim, mas de uma forma pior. Eu nunca havia pensado em contar a Camila e sempre achei difícil qualquer tipo de demonstração de afeto para ela. Sei que hoje em dia está menos difícil, mas não deixa de  ser difícil.  E imagino que Veronica deixar claro que já gosta de garotas não torna menos difícil porque os sentimentos surgem e maltratam a pessoa independente da exposição dela.

   — Cansei desses romances lésbicos... — Dinah disse pegando a minha pipoca.   

   — Jane! — Repreendi-a.   

   — Entre garotas... — Corrigiu-se rindo sabendo o porque de eu tê-la repreendido.

   Veronica revirou os olhos como se eu fosse uma boba.   

   — Ou simplesmente beija. — Normani sugeriu como se aquela fosse a mais simples opção. 

   Veronica relaxou as linhas de expressão do rosto e sorriu.   

   — Verdade, não é? Cara, como não pensei nisso antes?   

   — Porque tá andando muito com a Zangada. Lerdeza pega. — Não perdeu a oportunidade, não é?  

   Bufei para o comentário da Dinah e puxei minha vasilha das mãos dela.   

   — Isso de beijar dá certo, Vero. — Camila disse e eu senti minhas bochechas esquentarem quando ela olhou para mim e mandou uma piscadela.   

   Não pude deixar de pensar que isso de beijar funciona mesmo. Eu sei que o primeiro beijo quase seria começado por mim, mas fugi e então num outro dia Camila teve a coragem e que foi a partir daquilo que eu surtei e não consegui mais esconder certas coisas.

   — Mas agora quero saber, aquilo de aulas de fotografia tem a ver com isso ou não? — Normani questionou.   

   — Tem... Sei lá, gente... O jeito dela é tão lindo... Sabem? Quando ela está me ensinando e eu faço algo errado ela vem assim por trás de mim e me ensina a segurar a câmera e diz "Não, Vero. Assim seria melhor..." — Contou suspirando e sorrindo.   

   Não aguentei mais uma vez e gargalhei.   

   — Que boba! — Falei colocando um punhado de pipoca em minha boca.   

   — Quer falar sobre ser boba, Lauren Michelle? — Veronica mais uma vez soltou outra indireta.

   Fechei o semblante e olhei para o lado dando de cara com Camila que sorria para mim, sorri de volta e ela mandou-me um beijo no ar, que foi rapidamente interrompido por uma mão da Dinah.   

   — Controlem-se! Estou entre vocês! — Disse fazendo Camila rir.   

   — Então deixa eu ficar ao lado dela, Cheechee. — Pediu e eu assenti querendo-a comigo.  

   — Não. Estou roubando a pipoca dela. — Dinah disse fazendo exatamente o que havia acabado de dizer.  

   Camila e eu reviramos os olhos para ela e continuamos tentando ajudar Veronica.   

   Durante todo o tempo as recordações de meus momentos com Camila vieram à mente e só então percebi o quão idiota eu fui! Por que você  me deixava agir daquela forma, hein? Ver Veronica sem saber o que fazer foi ridiculamente cômico, eu também fui assim? Certamente não. Eu sempre soube me virar sozinha... ou quase isso... Não importa!

    Algum tempo depois Lucy avisou que estava tarde e que precisava ir. Acabou oferecendo carona a Veronica que recusou, mas após uma certa insistência por parte de Lucy ela acabou aceitando e saiu receosa do apartamento. Camila disse que descansaria um pouco no quarto e me chamou para ir com ela. Prontamente aceitei e lá na cama dela ficamos sentadas em silêncio.

   Não demorou muito e meu celular tocou mostrando o nome de Veronica na tela.

   — Coloca no viva-voz! — Camila sussurrou pedindo e assim eu fiz.  

   — Lauren Michelle, foi sufocante! Ela estava dirigindo e no meio da conversa colocou a mão em minha coxa! — Não aguentamos e rimos. — Camila está ouvindo também? 

   — Não temos segredos, Vero. — Camila disse e eu assenti rapidamente.

   — Vai pensando assim. — Veronica disse e eu quis gritar para que ela parasse. 

   — Veronica, não seja uma boba. A Lucy com certeza não faz por maldade, você que vê a maldade. — Mudei de assunto antes que Camila notasse e me senti aliviada quando ela não perguntou nada. 

   — Não quero saber. Apenas sei que me ferrei. Durante as aulas de fotografia eu vou sofrer. 

   — Vero, beija ela logo! Quanto drama a toa... — Camila resmungou. 

   — Ok. Agora preciso voltar pro quarto. Está frio demais aqui. Boa noite pro casal. 

   — Par. — Corrigi-a. 

   — Por que não podemos ser um casal, Lolo? — Questionou com o cenho franzido. 

   — Porque casal é denominação para gêneros diferentes, lembra? — Expliquei. 

   — Quem liga? — Ela bufou. — Somos um casal e fim. 

   — Decidam-se sozinhas. — Veronica disse encerrando a chamada.

   Dei de ombros sabendo que quando Camila queria mudar o significado das coisas eu não conseguia discutir muito. 

   Voltamos para a sala e eu logo me sentei na poltrona. 

   — Gente, vamos combinar uma coisa? — Camila perguntou sentando-se em meu colo e passando os braços por meu pescoço. 

   — Faça sua sugestão. — Normani respondeu. 

   — Meu aniversário está perto e vocês sabem, então tive a grande ideia de fazermos o seguinte... — Vi um sorriso brotar nos lábios dela. — Em cada aniversário, de nós cinco, poderíamos faltar aula as cinco!  

   — Aceito.  

   — Apoiado!  

   — Não sei...  

   — Nem pensar!  

   Essas foram as respostas de Normani, Dinah, Allyson e eu, respectivamente.  

   Ela escutou tudo e então virou o rosto para e encarar. 

    — Namoradas concordam, não seja do contra! — Revirou os olhos. 

   — Eu não acho justo faltarmos aulas em conjunto assim. 

   — Mas, namorada, nós temos apenas nós aqui. Precisamos faltar e aproveitarmos os aniversários! 

   — Verdade, hein? Somos sozinhas aqui, temos que ser uma família. — Dinah concordou rindo, com certeza adorando apenas a parte do faltar. 

   — Isso faz sentido, mas não sei se faltar é a melhor opção. — Allyson respondeu. 

   — Gente, seriam apenas cinco faltas. Isso nem é grande coisa. — Normani se pronunciou.

   — Quando se trata de novatas é grande coisa, sim. — Allyson voltou a dizer e eu concordei com ela.

   — Façam o que quiserem. Mas só sei que no meu aniversário a minha namorada e minhas amigas não saem daqui. — Nossa, grande opção você nos deu agora!

   — Tá, Camila... — Dei-me por vencida. 

   E assim ficou combinado, após muito debate, nos aniversários nós cinco faltaríamos no aniversário de cada uma. 

  

Segunda-feira.   

   Segunda-feira. 401 dias desde que Camila falou comigo pela primeira vez. Hoje completamos 1 mês de namoro e acordei com uma dúvida terrível: Como se comemora meses de namoro? Eu devo fazer algo? Ela vai fazer algo? Tem que ter presente? Devo parabenizar ela mesmo soando uma parabenização egoísta? O que se faz em 1 mês de namoro?!   

   — Feliz primeiro mês de namoro ao lado da melhor e única namorada que você poderia ter nesse mundo! — Disse selando nossos lábios assim que me viu sair do quarto. — Humm... — Murmurou parecendo querer dizer algo, mas sem descolar nossas bocas me fazendo sorrir. — Você tem o melhor beijo, sabia?   

   — Camila... — Apoiei minha testa na dela. — Você só beijou a minha boca até hoje! Nem tem como eu acreditar...   

   — Já falei que posso beijar outra pessoa e depois te beijar pra comparar... — Sorriu se sentindo esperta e eu revirei os olhos.   

   BEIJAR OUTRA BOCA ALÉM DA MINHA? NEM PENSAR! ESSA OPÇÃO NÃO EXISTE ENTRE NÓS DUAS! JAMAIS!   

   — Cala a boca. Sério. — Separei minha testa da dela para voltar a encostar em sinal de repreensão. — Não repete isso.   

   — Tá, namorada... — Sorriu ainda mais, parecendo ter gostado do que escutou. — Eu fico apenas com o seu. Não ligo. — Pra sempre, tá?    

   — Nem eu. — Dei de ombros.   

   E após isso tivemos que, relutantemente, pegar nossas coisas e irmos para o elevador juntamente com as outras três, que passaram por Caleb falando com ele e seguindo para o lado de fora.

   — Caleb, adivinha quem tá fazendo um mês de namoro com a namorada hoje? — Camila perguntou e no mesmo instante passei uma mão pelo rosto escutando o gargalhar de Caleb. 

   — Feliz um mês! Passou rápido, hein? — Ele comentou e eu assenti puxando Camila. 

   — Ela fica constrangida quando digo essas coisas. — Camila sussurrou para ele, mas não parei de arrastá-la até chegarmos do lado de fora. — Namorada, a educação não faz parte de você, não? 

   — Não. — Impliquei soltando-a e começando a andar avistando as outras já à nossa frente. 

   — Deveria. — Resmungou adiantando os passos sobre a pouca neve que tinha no chão e segurando o meu braço. 

   Nossa despedida na estação de metrô foi breve e logo eu estava com Allyson e Veronica no campus da Columbia. 

   As aulas passaram e logo o intervalo chegou e, como nos dias anteriores, Camila me ligou e eu fui atendê-la rapidamente do lado de fora da lanchonete, escorada na parede.

   — Como está sendo seu melhor um mês da vida inteira?  — Ela perguntou me fazendo revirar os olhos ao sorrir. 

   — Você acabou de responder...   

   Esperei pela resposta, mas um breve silêncio tomou conta da ligação.

   — Isso é sério?  — Pareceu surpresa.

   — Aham. Agora deixa eu ir... — Sorri notando que consegui mexer com Camila, falando uma frase tão boba.

   — Não fuja depois de dizer coisas bonitas! — Ordenou e eu ri. 

   — Mas namorada, eu tenho que comprar minha água antes que o sinal bata... 

   — Leve o celular com você, não me importo. 

   — Ok. 

   E assim eu fiz, caminhei segurando o celular no ouvido enquanto Camila contava coisas bobas que tinham acontecido com ela até aquele momento e eu apenas escutei, pedi minha água, paguei e passei direto pela mesa das garotas, voltando ao lado de fora. 

   — Hum... Gostei de como você foi formal ao pedir a água. Seja formal com todas as pessoas e não teremos problemas

   — Tchau. 

   — Tchau. Mas apenas porque preciso ir. Nos vemos mais tarde. E feliz um mês

   Ela mal esperou que eu desligasse e o fez antes, tenho certeza de que propósito. Me irritei um pouco porque meu "tchau" não foi real, mas ela o aceitou!

   O intervalo e o almoço passaram-se com Veronica sentada de frente para Allyson e sem dúvidas Lucy estranhou aquilo, mas não disse nada e eu também não demonstrei estar estranhando aquilo, apenas fingi que era uma situação normal. 

   E então as aulas se foram sem que eu pedisse alguma explicação a Veronica, até porque ela fez questão de falar durante todo o momento sem me dar um segundo de chance para perguntar coisa alguma, e assim que o horário de irmos embora chegou ela apenas disse: 

   — Lauren Michelle, não me questione sobre hoje. Eu só não estou conseguindo falar direito com ela! E aproveita seu um mês com a Mila. Tchau. 

   Eu dei de ombros e encontrei Allyson para irmos para casa. Chegamos ao apartamento e Brooke disse que eu poderia fazer o que quisesse porque hoje não teria janta.  As outras três demoraram um pouco, mas logo chegaram.  Camila veio correndo para me abraçar e só me soltou quando notou que estava com fome, comemos cereal e nos sentamos no sofá porque ela não quis ir para a poltrona e como era nosso primeiro mês, eu não me importei em ceder.

   — Vamos sair, querem ir? — Normani perguntou saindo do corredor ainda com a roupa que usou para ir à universidade.

   — Pra onde? — Camila perguntou.

   — Comer. Cansei das sopas da Ally, preciso de alguma coisa que me sustente! — Dinah resmungou já abrindo a porta.

   — Podem ir, eu não vou. — Respondi. Camila também não vai.

   — Então vou ficar com ela. — Camila disse e eu gostei daquilo porque eu não a deixaria ir, de qualquer forma. 

   — Certo, voltamos em breve. Se cuidem. — Allyson avisou fechando a porta.

   Camila e eu ficamos em silêncio até decidirmos ir para a cozinha comer mais alguma coisa, acabamos tomando o meu suco e quando voltamos para a sala ela logo resolveu falar.

   — Lolo, quer ir ao mercado? — Perguntou assim que me sentei na poltrona.   

   — Não. — Respondi tomando meu suco.

   — Mas eu quero comprar algum lanche. Vamos? — Ela insistiu me fazendo pensar um pouco.   

   — Eu teria que trocar de roupa... — Olhei para meu moletom. — Come alguma coisa que tem aí mesmo... — Respondi deixando evidente a minha preguiça   

   — Que namorada inútil. — Estalou a língua no céu da boca. — Eu vou sozinha.   

   — Camila, eu vou amanhã se você quiser. É perigoso sair agora. — Omiti minha preguiça.   

   — Ok. Eu estou indo. — Disse pegando as chaves e abrindo a porta.   

   — Não vai sair sozinha a essa hora, não! — Avisei erguendo a mão que estava segurando o copo.

   — Tchau. — Disse saindo do apartamento.   

   — Camila! — Corri até a porta, mas apenas tive tempo de vê-la acenar para mim e entrar no elevador.   

   Bufei irritada, voltei para o apartamento e sentei-me na poltrona.    

   Como a minha namorada ousa me contradizer?! Agora preciso ficar aqui de plantão esperando-a aparecer viva!   

   Voltei a ver a TV, mas mentalmente invocava as boas forças do universo para que Camila conseguisse chegar lá e voltar para cá inteira.   

   E assim fiquei, sentada esperando por Camila ou pelas três. O tempo passava e a porta não era aberta. Acabei desistindo de ficar na poltrona e fui para o chão pra ver se mudar de lugar fazia o tempo passar mais rápido. 

   Não adiantou. Precisei ficar mais alguns minutos esperando até escutar uma chave ser colocada na fechadura e então a porta ser aberta e Camila aparecer sorrindo. 

   — Oooi, namorada! — Entrou segurando uma sacola.   

   — Oi. Você demorou. — Cruzei os braços e observei-a ir até a cozinha e voltar.   

   — As filas estavam gigantescas, namorada! — Explicou-se.   

   — Ok. Podia ter ligado, não é? — Indaguei me controlando e vendo-a parar em frente a TV.   

   — Não levei o celular, mas estou viva. — Deu de ombros. — Para.   

   — Para você. — Bufei. — Sai assim sem mais nem menos!    

   — Namorada, você ficou preocupada  comigo? — Sorriu e quase vi seus olhos brilharem, se eles brilhassem.   

   — Não, idiota. — Neguei com a cabeça.   

   — Que linda! — Correu até mim e inclinou-se apertando minhas bochechas.   

   Descruzei os braços e estapeei suas mãos.   

   — Para.   

   — Ah! Comprei uma coisa pra gente? — Avisou e eu logo fiquei curiosa, mas olhei para a porta aberta e apontei, ela entendeu e logo fechou-a.

   — De comer? — Perguntei por impulso e ela riu.   

   — Também... — Disse indo à cozinha e só pude ouvir o chacoalhar de sacolas. — Mas tem outra coisa.   

   Olhei-a voltar à sala e parar em minha frente com as duas mãos para trás, provavelmente escondendo algo.   

   — O que é?   

   — Sabe, uma vez li um livro em que a garota sempre escutava as variações do Requiem com o tio... 

   — Do quê?! — Indaguei sem entender o que era aquilo.   

   — Uma composição do Mozart. — Respondeu e eu assenti pouco me importando com aquilo. 

   — Ah ta. E daí?   

   — E daí que você não sabe! — Você e sua mania de querer que as pessoas adivinhem, Camila...

   — Quero saber.   

   — Eu estava voltando do supermercado e passo em frente a um vendedor ambulante que vendia o quê? O quê? Ahá! Isso! — Disse tudo se forma animada e trouxe as mãos para a frente com três CD's.   

   — O que é isso?   

   — As variações e a original! — Deu um pulinho.

   — Ah ta. Legal... — Fingi um sorriso.

   — Namorada, a gente vai ouvir as três.   

   — Tá. Agora me diz porque são três CD's...   

   — Ah... Então... Talvez sejam longas. Quaseumahoracadauma. — Ela disse sem respirar e eu balancei a cabeça.

   — O quê? Eu acho que entendi, mas quero confirmar.   

   — Ah... Passa rápido e a gente nem tem o que fazer... E a gente tá fazendo um mês...   — Droga, era quase uma hora cada uma. Eu ouvi direito!

   — Eu não gosto de ópera, namorada.   

   — Não é ópera! É orquestra!  — Disse e eu pouco me importei.

   — Tanto faz.   

   — Vai ser legal... — Ela olhou-me suplicante e eu bufei assentindo.

   Ela colocou o primeiro CD no aparelho de DVD, recentemente incorporado aos objetos do apartamento, e sentou-se ao meu lado no chão. Não demorou mais do que 2 segundos para que uma melodia triste soasse pela sala, mas preferi não julgar logo no inicio. Vai ver a introdução era daquele jeito mesmo, bem triste...  

   Passaram-se 10 minutos e nada havia mudado, aliás, agora havia a tal ópera que Camila disse não existir! Mas a coisa toda continuava triste demais.  

   — Essa ópera não ópera com ópera vai ficar assim pelo resto do tempo? — Perguntei passando um braço pelos ombros dela e apoiando minha cabeça em um deles. 

   — Hum... Sim... Eu acho que composições devem ser desse tipo... sabe? — Comentou deitando a cabeça sobre a minha. 

   — Legal.   

   Muito legal a forma que minha namorada encontrou de comemorarmos nosso primeiro mês juntas: escutando uma ópera não ópera com ópera completamente mórbida!  

   Já havia se passado mais de 20 minutos e o sono me atingiu enquanto Camila balançava a cabeça de um lado para o outro tranquilamente como se absorvesse toda aquela morbidez que eu não gostei nem um pouco! Mas eu tinha certeza de que ela se irritaria comigo caso eu dormisse, por isso larguei-a e puxei o notebook que estava no sofá e rapidamente fui para o site de buscas em busca do que aquela coisa mórbida era. Cliquei no segundo link — porque primeiros links sempre são resumidos para serem acessíveis a todos — e comecei a ler sobre a tal ópera não ópera com ópera que minha namorada chama de composição. Me concentrei bastante até abrir a boca ao ler uma coisa.  

   — Camila estamos escutando música para defuntos! — Exclamei apontando para a tela.  

   Ela parou de balançar-se e inclinou-se para ver.  

   — Aaaaaah, tem várias partes... Nem notei. — Riu sozinha.  

   — Como notaria? Ninguém avisa "próxima faixa". Tira isso. Não estamos em uma missa fúnebre. — Pedi virando o rosto para ela.  

   — Estamos sendo cult, para. — Sorriu aproximando o rosto do meu.  

   — Não quero ser cult com músicas para mortos! — Protestei.  

   — Quer sim. — Sussurrou fazendo bico e tentando me beijar, mas desviei.  

   — Com música para defuntos eu não quero nada. — Neguei com a cabeça e ela bufou.  

   — Lauren, hoje fazemos um mês e você ainda não me beijou dignamente!  

   Ela disse movendo-se rapidamente e sentando-se em meu colo, empurrando minhas costas contra o sofá.   

   — Foi mal. — Respondi colocando uma mão na nuca dela enquanto ela ajeitava as pernas uma de cada lado das minhas.  — Mas com essa trilha sonora macabra eu não te beijo.  

   — E se eu fizer assim? — Trouxe suas mãos para meus ouvidos e os tapou, abafando a ópera não ópera com ópera.  

   — Assim tá bom. — Sorri concordando.  

   — Você é tão insuportável. — Revirou os olhos inclinando-se para roçar o nariz no meu e fechar a distância entre nossas bocas.    

   O beijo começou lento com a boca dela movendo-se calmamente contra a minha. Nossos lábios tocavam-se sem pressa alguma e as mãos dela começaram a descer cinicamente por meu pescoço enquanto eu tentava bloquear a morbidez daquele som e me concentrar no beijo. Mas além da morbidez eu precisava me preocupar com as mãos de Camila que desciam pelas laterais do meu corpo e pararam em minha cintura. Ao vê-las quietas deixei-me levar pelo sabor daqueles lábios que juntos aos meus criavam uma sensação de que eu estava em qualquer outro lugar além do stratocumulus.  

   Não levou muito tempo e as mãos dela já brincavam com a barra do meu moletom. Eu já sabia que Camila estava prestes a fazer o que adorava fazer: tentar um ato mais ousado. E eu estava certa, cinicamente os dedos dela vieram para baixo da minha camisa e tocaram minha barriga. Tentei me remexer para impedir aquilo, mas em um segundo de descuido meu, as mãos dela passaram para as minhas costas descobertas, fazendo-me arrepiar.   

   Agora o beijo não estava tão suave como antes, já que Camila intensificou o ritmo e tornou o tocar de línguas algo muito mais sensual e do stratocumulus eu desci ao magma.  

   — Lauren... — Ela murmurou passando a língua por minha bochecha, maxilar e pescoço indo para a orelha. — Deixa eu tirar?   

   Ela ousou puxar minha blusa para cima, mas no mesmo instante abri os olhos e a afastei um pouco.   

   — Não! — Impedi.  

   — Por favor! Eu tiro a minha também. — Sorriu como se aquilo fosse algo simples.   

   — Camila, não vamos tirar nada! — Ergui uma mão.  

   — Lolo... Vamos nos beijar sem blusa, vamos...  — O QUÊ? BEIJAR SEM BLUSAS? CAMILA! ISSO É PETULANTE E OUSADO AO EXTREMO!  

   — Quê?! Nem pensar!  

   Ela cruzou os braços e desistiu de me beijar.   

   — Lauren, a gente namora! 

   Engoli em seco lembrando que havia esquecido a parte em que namoros têm essa parte ousada!   

   — Namorar não significa ter certos atos ousados. — Falei a primeira desculpa que veio à mente.   

   — Claro que significa, Lauren! A gente agora pode se beijar sem blusa porque namoramos! — Não faça eu me lembrar do dia em que te vi sem blusa pela primeira vez, na praia, de biquíni. Eu não passei bem naquele dia!  

   — Para.   

   — Você nunca me deixa fazer nada! A gente não pode se beijar sem blusa, eu não posso te ver sem roupa, não posso tocar em lugares legais... Só em seu bumbum e olhe lá! — Resmungou e eu suspirei disposta a não me deixar derrotar.  

   — Pare agora mesmo. Você está parecendo um garoto na puberdade!   

   No mesmo instante o semblante dela tornou-se sapeca e eu tive medo do que estava por vir. 

   — Talvez eu tenha um garoto na puberdade dentro de mim... Mas que só é despertado por você... — Passou a língua pelo lábio superior e logo mordeu o inferior.   

   Arregalei os olhos, mas acabei sorrindo com aquilo. Como não sorrir para as bobagens que ela diz? Bobagens que são bobas para quem houve, mas para ela deve ter todo o sentido do mundo. E se faz sentido para ela, faz sentido para mim. 

   — Ai, Camila... — Neguei com a cabeça. — Você não cansa de flertar?   

   — Não. — Riu.   

   — Ok. — Expirei observando aquela risada. — Não vamos tirar as blusas, de qualquer forma.   

   Ela suspirou e assentiu entendendo que eu não aceitaria aquela condição.  

   — Tá. Mas ainda posso te beijar? — Segurou-me pelo tronco.   

   — Pode. — Bufei fazendo algum charme.  

  Rapidamente voltamos a nos beijar. Eu achava que ela já havia entendido o meu não, mas me enganei porque Camila simplesmente subiu as mãos lentamente pelas laterais do meu tronco e ao chegar em um certo ponto, guiou-as para a frente tentando tocar aquilo que ficava abaixo do pescoço e acima da barriga.   

   — Hum... — Resmunguei encerrando o beijo e segurando as mãos dela. — Chega! Você está atiçada demais hoje!

   — Namorada... Faz um mês que a gente tá namorando. Precisamos comemorar... — Choramingou desesperada.

   Céus! Essa garota ainda vai me fazer ser internada em um manicômio. Eu ainda vou ser colocada em uma camisa de força!

   — Você quer  comemorar de forma muito... Intensa! — Expliquei e ela grunhiu apoiando a testa na minha.

   — Tá. Me contento com seus beijos.   

   — Isso é ótimo. — Falei e notei que ela não estava completamente de acordo com aquilo. — Agora desliga essa ópera antes que eu me sinta a Noiva Cadáver aqui!  

   Ela deu de ombros rindo, levantou-se, desligou os aparelhos, aproximou-se de mim e sentou-se em meu colo mais uma vez voltando a me beijar.    

    Pelo resto da noite Camila não tentou mais nada ousado e acabou desistindo de escutar os três CD's admitindo que nem ela mesma conseguiria terminar aquilo, mas alegando que a experiência foi boa porque agora sabia que nós duas não serviríamos para sermos apreciadoras de ilustres compositores.  

   Não demorou muito para que as outras três voltassem gritando e falando sobre como foi bom terem respirado um pouco. 

   — Aproveitaram como deveriam ter aproveitado? — Dinah perguntou jogando uma sacola no sofá acima de Camila e eu. Ainda estávamos no chão.

  — Logicamente, uma na companhia da outra. — Respondi. 

  — Chancho, você tem o apartamento inteiro apenas pra você e sua namorada e não aproveitam?! — Dinah riu como se já soubesse que nada aconteceria na ausência delas. 

   — Não foi por falta de vontade minha, foi dela. — Camila se defendeu nitidamente rendida e eu trinquei os dentes com vergonha.

   — Amiga, você precisa adiantar isso aí. — Normani cochichou em meu ouvido agachando-se ao meu lado. — Eu não tive essa sorte na vida! Nem namorado eu consegui arranjar! 

   — Sorte sua. Namoro não presta. — Acabei esquecendo de cochichar e falei em tom um normal. 

   — É o quê, Lauren? — A voz de Camila soou áspera me fazendo engolir em seco sentindo um tapa em minha perna esquerda.

   — Nada. — Prontamente respondi. 

   — Achei ter escutado que você acha nosso namoro inútil! — Disse irritada e eu neguei com a cabeça repetidas vezes. 

   — O nosso não é inútil por ser o nosso. — Falei para contornar, mas pensando que minha frase fazia sentido, no fundo. 

   — Para... — Ela sorriu desfazendo o semblante irritado e beijando minha bochecha.  

   Ficamos mais algum tempo até decidirem ir para nossos quartos, e Camila para o meu.  

   Camila já dormia enquanto eu, acordada, lembrei que no dia seria o aniversário dela. Praticamente esqueci-me disso!   

   Eu como namorada deveria fazer algo especial? Deveria dar algum presente? O que eu deveria fazer?!   

   Olhei para o lado vi Camila já dormindo, levantei-me cuidadosamente para não acordá-la e fui até a cama de Normani, que ainda estava acordada mexendo no celular.   

   — Normani, preciso falar com você. — Sussurrei.   

   — Sobre...?   

   — O aniversário de Camila... — Sussurrei de novo.   

   — Ah! Quer fazer algo especial?   

   — Poderíamos falar sobre isso lá fora?   

   — Ok. — Concordou suspirando forte e levantando-se.   

   Saímos do quarto evitando qualquer barulho e quando eu estava indo para a sala, Normani puxou-me para o quarto de Dinah onde Allyson estava dormindo também.   

   — Elas podem ajudar também! — Explicou e eu assenti.   

   Entramos no quarto que ainda estava com a luz acesa. Allyson lia um livro que parecia ser de estudos e Dinah mexia no celular.    

   — O que vocês querem? — A do celular perguntou de forma áspera.

   — Eu quero saber o que fazer amanhã... — Falei um pouco desesperada.

   — O que tem amanhã? — Dinah perguntou e eu abri a boca sem acreditar naquilo.

   — O aniversário de Camila, Jane! — Falei como se fosse obrigação dela como amiga lembrar do aniversário. E era.   

   — Verdade! — Respondeu largando o celular. — Precisamos fazer alguma coisa!   

   — Uma festa? — Brooke perguntou.   

   — Não sei! Tenho uma ideia... E quero a ajuda de vocês... — Comentei e todas assentiram.   

  — Tá. Mas vamos mesmo faltar aula, né? — Dinah perguntou como se torcesse para aquilo, mas ficamos em silêncio encarando Allyson.   

   — Combinamos isso, não foi? — Disse sabendo que esperávamos a opinião dela. — Então vamos.   

   — Ok. Estejam acordadas cedo para tudo funcionar. — Avisei saindo do quarto e indo para o meu com Normani.   

   Deitei-me novamente e suspirei olhando Camila. Peguei o celular e rapidamente fitei o horário. 0h:09.   

   Pensei um pouco e cutuquei Camila com cuidado.   

   — Camila... Camila... — Ela sequer moveu-se e eu desisti. — Parabéns... — Sorri alisando o rosto dela e em seguida fechando meus olhos. 

 


Notas Finais


OI, GENTE! NADA A DIZER POR HOJE, APENAS QUE eu acho que o capítulo que vem vai ser bem legal e que eu quero saber o que você estão achando porque eu acho que vocês estão deixando de gostar da fic. VOCÊS ESTÃO DEIXANDO DE GOSTAR DA FIC, GENTE? Saudações :D/

Ps: Dinogirl, eu não fiz o drama que você disse que eu faria! XAU P VOCÊ.


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