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História Paredes Finas - De Schubert à Andrea Bocelli Gilbert


Escrita por: xNessan

Notas do Autor


Eu adoro esse capitulooooo

Capítulo 13 - De Schubert à Andrea Bocelli Gilbert


West! [07:01] diz:

Querido irmão! Tenho uma ótima notícia!

Finalmente posso responder as tantas vezes que você me perguntou: estou voltando para Viena. Se tudo der certo e você estiver disponível eu comprarei as passagens para chegar em Viena no próximo sábado à noite. Aliás, se não for nenhum incomodo, eu vou trazer Feliciano comigo.

Tenho que admitir que estou sentindo bastante a sua falta, irmão.

Então, até o próximo sábado!

 

Quando eu li a mensagem ainda estava cambaleante de sono e mal entendi o que as letras do celular significavam. Mas logo elas começaram a fazer sentido e se desembaralharam na frente dos meus olhos. West! Estava! Voltando! Para! Viena!

Eu praticamente pulei da cama com um urro de felicidade. Podem me acusar de ser um irmão babão o quanto quiser, mas a verdade é que eu estava morrendo de saudades do meu irmãozinho, tanto que mal conseguia me conter enquanto enfiava qualquer camisa na cabeça depois de ver a novidade. Não, eu não estava reagindo de mais, fazia quase seis meses que eu não o via, poxa! Tudo bem que nós constantemente nos falávamos por mensagens e chamadas de vídeo, mas West (como eu carinhosamente chamava o meu irmão Ludwig pelo fato dele ter nascido “acidentalmente” durante uma viagem com os nossos pais na cidade de Dusseldörf, sendo que morávamos em Berlim) era o meu irmãozinho pequeno, a quem eu protegi dos valentões e ensinei todo o meu jeito incrível de ser. Ou seja, eu estava com saudades.

- Escuta essa, Gilbird! – perguntei para o meu querido companheiro canário amarelo, a qual eu dei o incrível nome de Gilbird. - West está voltando pra casa!

Gilbird pareceu responder na sua gaiola, cantando alegremente em resposta. Eu tinha absoluta certeza que Gilbird conseguia me entender, apesar de não poder responder como um papagaio faria. Não que eu quisesse um papagaio ou uma ave maior, eu o amava desse jeito. Para recompensá-lo abri a porta da sua gaiola, que na verdade ele só usava para dormir. Eu tinha um política de cria-lo solto, e mesmo quando ele se aventurava para fora da janela – o que não acontecia muito – o meu querido amigo sempre voltava para casa. Eu sempre dizia que ele era o colega de quarto ideal.

Ainda agarrado no celular eu dirigi ao apartamento do Rod, sabendo que provavelmente ele já estaria acordado. Já havia se tornado um hábito passar as manhãs dos finais de semana com o jovem mestre, mas especialmente naquela última semana eu não conseguia mais fazer nada sem ele. Na verdade, Roderich estava sempre na minha mente de alguma forma. Até quando eu deveria estar concentrado na faculdade ou no novo trabalho na loja de mecânica que eu arrumei na semana passada, eu estava sempre pensando em Roderich, e não poupava tempo em enchê-lo de mensagens. Não que ele respondesse muito, já que eu sempre recebia um “Estou ocupado agora”. De alguma forma eu já poderia me considerar vitorioso por ele parar os seus treinos para me responder que estava ocupado, heh. Ele me ama. Eu sei que ama, bem no fundo daquelas anáguas de aristocrata.

Entrei sem bater no apartamento dele, e o vi tomando rumo à sala ainda vestindo o pijama azul que eu detestava. Ele tocava uma peça de Schubert àquela hora da manhã, piano sonata no. 16 em A menor, para a sua próxima avaliação, uma peça bastante bonita. Ele havia comentado que estava empolgado para estudar melhor o compositor austríaco, eu fingi não estar interessado mas vê-lo tocando sempre me deixava sem ar. Era tão bonito de se ver que quase fazia eu me arrepender de rejeitar a música clássica. Quase. Provavelmente ele nem havia tomado café da manhã, para estar tocando à essa hora. Mas ignorei a imagem contraditória dele sendo todo lindo e perfeito tocando aquele piano mas vestindo aquele pijama horrível, e quase pulei em cima dele, abraçando os seus ombros, sem me conter para contar as novidades.

- Rod! Rod! Você não sabe o que aconteceu!

- Gilbert! – ele tentou se afastar mas eu já segurava os seus ombros com firmeza, totalmente eufórico – O que foi? Para quê tanta energia logo de manhã?

Eu sorri com o bico preocupado dele. Logo em seguida puxei o celular do bolso da calça de moletom e mostrei a conversa para ele, não conseguindo conter um enorme sorriso.

- Olha isso! Meu irmão Ludwig disse que está voltando para Viena! – praticamente gritei, tão animado como se fosse a final do campeonato alemão.

- Ohhh! – ele soltou, ajustando o óculos na ponte de nariz. – Que ótimo, Gilbert! Quando ele volta?

- Na mensagem diz que provavelmente no próximo sábado de manhã.

- Que bom. – o jovem mestre me respondeu, com um dos seus sorrisos tímidos mas absolutamente arrebatadores, justamente pelo fato de ele não saber que tinha um sorriso tão lindo. – Fico muito feliz por você, Gilbert. Faz meses que você diz que sente a falta dele...

Nos movemos para a cozinha, o que o obrigou a largar aquele maldito piano por alguns minutos. Eu não percebi quando as minhas mãos começaram a se mover sozinhas e prepararam um Earl Grey para ele, que me agradeceu educadamente quando a xícara surgiu na sua frente. Comecei a preparar as favoritas do Rod: panquecas com calda de chocolate, ao mesmo tempo em que eu preparava os ovos mexidos para mim. Café da manhã era a única coisa que eu sabia fazer na cozinha sem me atrapalhar, e sempre, sempre, saía delicioso e incrível! Eu sempre preparava para os meus amantes e eles nunca reclamaram, até mesmo para aqueles casos de uma noite. No fundo eu era um romântico e sabia disso! Roderich era uma das poucas pessoas que tiveram o prazer de experimentar o meu café da manhã sem nunca ter dormido comigo (bem, tirando o meu irmãozinho West e os dois sacanas dos meus amigos, o Toni e o Francis).

Não que eu estivesse reclamando! Bem, mais ou menos... Era verdade que eu queria dormir com ele, e muito! De forma que já estava me fazendo subir pelas paredes! Mas eu sabia que tinha que respeitar o espaço e o tempo dele. Roderich parecia ceder às minhas carícias, mas se ele não queria dormir comigo eu não iria obriga-lo de jeito nenhum. Até porque, de alguma forma, eu sentia que esperar por esse tempo fazia de tudo ainda mais especial. Eu gostava de pensar assim, até porque ele não era qualquer um. Roderich me deixava confuso, mas ao mesmo tempo me deixava estranhamente feliz e confortável, sou capaz de dizer que até mesmo essas manhãs calmas em que dividíamos o café da manhã e às vezes ele comentava uma bobeira ou outra, como ele não entender por quê Homem-Aranha tinha uma peça na Broadway e Moulin Rouge – que é um musical - não, porque ele ainda estava com sono demais para raciocinar direito os assuntos que sugeria, eram as melhores. E era nos pequenos bocejos dele ou na forma como ele lambia os lábios manchados de chocolate com a panqueca que eu fiz que me davam cada vez mais a certeza que eu estava apaixonado. E droga! Como eu queria beijá-lo! Mas controle-se, Gilbert, cada coisa no seu tempo.

- Rod, eu estava pensando se você poderia me ajudar a organizar um jantar para quando ele chegar. O coitado deve estar sendo só alimentado com comida italiana e eu queria poder oferecer um belo banquete germânico! – eu comentei levianamente enquanto tentava me distrair do seu lábio manchado de chocolate.

- É claro que ajudo, Gilbert! Mas... será que eu não vou incomodar? Quero dizer... é um momento seu e do seu irmão... – ele respondeu relutante e meu deus, eu não conseguia parar de olhar para aquela mancha.

- Nah, não se preocupe com isso, jovem mestre. Aliás, o West diz que está trazendo o namorado dele, o tal do Feliciano. Então eu não vou segurar vela, se é que me entende... – levantei as sobrancelhas lançando um sorriso de lado.

- Entendi... – ele suspirou – Por mim tudo bem, me diga as coisas que ele gosta de comer que nós tentamos fazer no sábado. Tenho certeza que ele vai adorar a surpresa. – então ele sorriu de forma tão doce para mim, tão lindo e radiante, que eu não resisti.

Me inclinei sobre a mesa e segurei o seu queixo com a mão enquanto me aproximava. Eu o vi me questionando o que eu estava fazendo mas ignorei, e então finalmente fiz aquilo que estava me incomodando tanto, pus os meus lábios no seu e lambi a mancha de chocolate, sentindo o sabor do doce na minha língua. Eu demorei um pouco mais do que devia ali, saboreando a maciez dos lábios de Roderich, e então o soltei, voltando a sentar no meu lugar como se nada tivesse acontecido.

- Tinha um pouco de chocolate nos seus lábios. Só fiz o favor de tirá-los. – lambi os meus próprios lábios lançando um olhar para ele que deixasse claro que eu era capaz de devorá-lo inteiro naquela mesma hora se ele me desse mais um daqueles sorrisos tímidos.

- Vo-você... – e então uma das minhas partes favoritas: Roderich corou por inteiro, do pescoço até a ponta das orelhas. Ele abaixou o olhar morrendo de vergonha e eu só conseguia me sentir vitorioso por ter arrancado uma reação tão adorável dele.

Ah, Rod, você ainda ia me matar assim.

.

.x.

.

Era sábado e eu não podia mentir: estava bastante ansioso para ver o meu irmão. Ok, eu sou um irmão bastante amoroso e babão, não tenho nem como negar. Eu só estava muito feliz, e o clima no meu apartamento não podia ser melhor. Roderich havia concordado em me ajudar a preparar o jantar para Ludwig e Feliciano, e sentir o cheiro da comida me deixava um pouco nostálgico. Me lembra da comida de casa, quando éramos menores. E para completar o dia, que estava sendo mais do que perfeito, Rod usava um avental branco que o deixava simplesmente adorável e eu não podia deixar de pensar em como seria ele nu, usando somente aquele avental e...

- Gilbert? Está prestando atenção no que eu falo? – eu vi os seus olhos violetas me repreendendo e eu pisquei várias vezes para voltar à realidade.

- Ahn... o que? – perguntei debilmente.

- Você vai buscar Ludwig na estação?

Eu fiz um gesto com as mãos para sinalizar que não.

- Nah, West disse que vem sozinho, ele conhece o caminho. Fico tão orgulhoso do meu irmãozinho, eu o criei para ser forte e independente! – eu disse me sentindo emocional, tirando uma lágrima imaginária do canto do meu olho.

Roderich crispou os lábios naquela expressão de julgamento que eu sempre achava engraçado.

- Você sabe que ele é seu irmão e não o seu filho, não sabe?

Eu olhei para o jovem mestre vestido naquele avental e abri o meu sorriso malicioso. Ele estava mesmo me fazendo subir pelas paredes, sendo assim tão bonito perto de mim e não deixando eu fazer coisas malvadas com ele, eu mal estava conseguindo me conter. Me aproximei dele com uma expressão que devia ser a de um maníaco pois imediatamente ele deu um passo para trás. Aproveitei isso para encurrala-lo contra a pia, pondo um braço de cada lado dele, segurando no mármore da bancada. Ele se encolheu e aquela expressão de vítima sendo caçada dele me excitou ainda mais. Aproximei-me dele, invadindo o seu espaço pessoal. Roderich virou o rosto, vermelho, e aquilo estava fazendo meu juízo ir para o espaço.

- Que tal fazermos um filho... Eu e você... – sussurrei em seu ouvido, não o poupando do meu melhor sorriso, enquanto deixava meus lábios baterem na sua cartilagem de propósito.

Eu o senti se arrepiar e fiquei muito satisfeito.

- Gilbert... Nós não podemos ter um filho. – ele também respondeu entre um sussurro, inseguro, o que estava me atiçando ainda mais. Ah, jovem mestre...

- Podemos tentar. – eu mordisquei a cartilagem da orelha e novamente senti o seu corpo estremecer. Eu não ia consegui ficar mais um segundo sem pelo menos beijá-lo, por isso eu desviei os lábios daquela região para enfim beijá-lo...

Quando a campainha tocou. Levei um susto, óbvio, mas tomei um susto ainda maior quando Roderich me empurrou. Eu quase voei, não esperando que ele tivesse força o suficiente para me empurrar daquela forma. Eu já ia reclamar da sua falta de consideração para com a minha incrível pessoa, que só estava tentando seduzi-lo um pouquinho, daí eu finalmente percebi que a campainha estava tocando!

- O que está fazendo? Vá receber o seu irmão! – ele disse ainda bastante corado, mas tentando ajeitar as roupas. Ele arrancou o avental e estava arrumando o cabelo, colocando-o milimetricamente no lugar.

Tentei não me distrair com o Rod desarrumado, afinal o meu irmão havia acabado de chegar. Corri para a porta, abrindo com ansiedade, até se revelar o loiro do outro lado. Ludwig era mais novo, mas ainda assim conseguia ser mais alto e mais forte do que eu. E não tinha aquele meu tom albino quase doentio, Ludwig tinha o adorável cabelo loiro penteado para trás, e olhos eram azuis piscina. Se não fosse pelas feições do rosto, ainda assim poucos diriam que erámos irmãos. Pouco me importava que nos faltava semelhanças físicas, eu era muito orgulhoso do meu irmão menor.

- WEST! – gritei, me jogando em cima dele. Eu não podia ser considerado de jeito nenhum como uma pessoa leve ou pequena, mas felizmente Ludwig ainda era maior que eu e acostumado com demonstrações de afeto.

- Gilbert! – ele parecia meio encabulado – Quanta energia!

- Faz meses que eu não te vejo, irmão! – sorri, voltando a abraça-lo – Me deixe ser um pouco babão, ok?

- Claro, claro. Eu também senti sua falta, irmão. – ele sorriu, meio tímido ainda. Ludwig nunca sorria muito, mas quando acontecia era algo bonito de se ver. Ainda bem me soltar, ele virou-se para o lado, chamando o jovenzinho que prostrava atrás dele – Gilbert, queria te apresentar Feliciano.

- Vee~

Então aquele devia ser o italiano que o meu irmão andava se enrabichando! De alguma forma ele me parecia familiar. Feliciano tinha os cabelos castanhos avermelhados, com uma única mexa de cabelo saliente em espiral, e olhos pequenos, que eu arriscaria em dizer que eram um tom de âmbar, daqueles que ficam verde conforme a luz. Era um rapaz pequeno, de bochechas coradas e sorriso amplo. Não consegui não sorri para ele, que de certa forma transpirava simpatia.

- Bem-vindo, Feliciano! – o cumprimentei, esquecendo por um momento de que se tratava de um italiano – Você sabe alemão?

- Vee~ Sei um pouco! Doitsu me ensinou. – ele disse sorrindo, com um tanto de sotaque que eu só poderia caracterizar como “fofo”.

- Doitsu?

- É como ele me chama. – o meu irmão ficou vermelho. KESESESE! Ludwig Beilschmidt ficando vermelho. Eu tinha que dar algum crédito àquele rapazinho.

- KESESESESE! Eu já gosto de você, Feliciano! – eu apertei a mão dele em seguida dei um abraço. A maioria das pessoas ficavam incomodadas com abraços, mas ele parecia estar de boa e eu gostei disso. Não que eu estivesse avaliando o meu cunhado, digamos assim. – Entrem! Fiz questão de fazer uma surpresa para você, West! Comida caseira, inspirado na nossa infância em Berlim, na Alemanha.

Eles adentraram no meu apartamento que já estava com o cheiro incrível da comida do Rod. West pareceu se deliciar por um momento até fazer uma careta, lançando um olhar acusador em minha direção.

- Gilbert... Você não sabe cozinhar!

Abri o meu sorriso matreiro, convidando-os a me acompanhar até a cozinha.

- Ah, mas aí que está a minha genial surpresa! West, Feliciano, conheçam o Rod!

Roderich nem parecia que havia passado a tarde inteira na cozinha, e nem que eu o havia bagunçado alguns minutos antes. Ele estava impecável, talvez até demais para um jantar informal. Ele usava uma camisa social branca por dentro das calças escuras e sapatos combinando. O cabelo castanho estava perfeitamente penteado para o lado (sério, será que ele escondia gel e pente em algum lugar do bolso?), tirando aquela mexa de cabelo que sempre ficava fora do lugar e não havia gel no mundo que o obrigasse a ficar baixo. Ele estava com a sua expressão “profissional” de sempre (a expressão que eu via no seu rosto quando estava sendo estava tentando ser simpático e cordial, o que ele sempre trazia no rosto quando não estava falando comigo, que parecia querer mostrar sempre a sua irritação, ou pelo menos era assim antes nos conhecermos melhor). Mas a sua expressão profissional transformou-se para surpresa quando os meus convidados se aproximaram.

- Roderich! – quem falou fora o italiano recém-chegado, que também despertou uma expressão de surpresa de mim.

- Oh, Feliciano! – Rod respondeu, me deixando ainda mais surpreso.

Os dois foram se cumprimentar, e começaram a falar italiano, o que me deixou triplamente mais surpreso!

- Da quanto tempo!

- Como stai, cugino?

- Espera aí. – quem interrompeu fora o meu irmão, que estava fazendo tão cara de palerma quanto eu – Vocês se conhecem?

- Você fala italiano? – eu perguntei, totalmente embasbacado – Por quê nunca me falou?

Roderich franziu a testa.

- E inglês, espanhol e magyar. Não contei porque nunca perguntou.

- Mesmo assim! – eu insisti – E aquela coisa toda de nos conhecermos melhor?

Ele abaixou os olhos, parecendo de repente constrangido com a minha censura.

- Eu não pensei que fosse importante...

- Vee~. O cugino Roderich passou algumas férias na Itália, ele costumava a cuidar de mim e do meu irmão por ser mais velho.

Roderich assentiu, crispando os lábios.

- Feliciano é um primo em segundo grau mas nossas famílias sempre foram próximas.

Eu não cansava de me surpreender com as coincidências daquele dia. Mesmo ainda um pouco embasbacado, eu retomei o meu sorriso simpático pois ainda havia esquecido de apresentar Roderich ao meu irmão.

- Enfim! – disse em tom de retomar onde parei – West, este é Roderich Edelstein. Rod, este é o Ludwig, meu irmãozinho.

Eles se cumprimentaram com um aperto de mão e Rod lhe deu um sorriso que me deixou um pouco de ciúmes (ok que era o meu irmão, mas ele precisava ser assim tão bonito para as outras pessoas?).

- Prazer, Ludwig. Para falar a verdade, você não parece em nada ser o irmão mais novo.

- Hey! – eu protestei.

- O juízo da família veio todo para o meu lado. – ele respondeu em tom de brincadeira.

- É, mas em compensação o lado incrível veio todo para mim!

Depois de pegar as malas deles – que eu julguei mais leves do que deveriam ser – eu os conduzi para a mesa de jantar, montada impecavelmente por Roderich como se fosse um verdadeiro restaurante cinco estrelas (em compensação eu sabia que eu teria que limpar tudo aquilo pois Rod não moveria um dedo).  Servimos um vinho que Feliciano trouxera da Itália nas taças finas de cristal que eu também peguei da casa do Rod. No prato havia uma variedade de coisas como salada de batatas, wurtz, schnitzel, e alguns pães de pretzel para acompanhar. Na verdade, estava tudo uma delícia, como eu sabia que estaria visto o talento do Rod, mas aqueles sabores me deixava um tanto nostálgico. Feliciano tinha a beirada da boca suja e sorria após experimentar os pratos.

- Vee~ Roderich, está muito bom! Eu tentei comer a comida do Doitsu e era simplesmente horrível!

- Então é de família. – ele riu, lançando um olhar de diversão para mim, que fiz um bico teimoso para responde-lo – Mas de qualquer forma, você sempre foi enjoado para comer, Feliciano.

- Ele é um glutão! – Ludwig acrescentou – Está sempre tentando roubar a comida dos clientes no restaurante onde trabalhamos.

- Não é verdade, Doitsu!

Nós acabamos por rir, Feliciano tinha mesmo a personalidade carismática.

- A verdade – ele prosseguiu, dando uma ultima garfada no que devia ser o seu terceiro prato – É que a sua comida está ótima, Roderich.

Rod pareceu ficar encabulado, e eu já o conhecia o suficiente para saber quando ele estava encabulado mas tentava o máximo possível disfarçar. Ele agradeceu e se levantou por um momento para servir a sobremesa, que era um Strudel de maçã, prato este que Roderich era particularmente bom. E como todos os outros, também estava um delícia de encher a pança.

- Vee~, mas não é muita coincidência que meu primo Roderich esteja namorando o seu irmão, Doitsu? – o italiano disse distraidamente, o que causou uma reação adversa em Roderich. O jovem mestre pareceu engasgar rapidamente com um gole de vinho, o que me fez quase me levantar para verificar se ele estava tudo bem mas o austríaco fez um sinal de que estava bem.

- Eu e Gilbert não estamos namorando. – ele falou logo assim que retomou a respiração, o que fez eu quase engasgar.

- Não estamos? – eu olhei para ele com um olhar quase de pânico, o que fez Roderich me lançar em resposta o olhar “não fale nada se não eu te mato”. Eu não queria que ele me matasse, então resolvi entrar na sua afirmação – HAHAHA! Não estamos!

Não é realmente como se eu quisesse dizer aquilo, mas acho que contrariá-lo agora seria pior. Quero dizer, para mim já era óbvio que tínhamos um relacionamento mas se para ele não, não tínhamos ou não era óbvio daí eu tinha minha dúvida. Depois eu teria que confrontá-lo sobre isso, afinal aquilo havia me deixado um pouco triste. Não insisti, mas mesmo assim lhe lancei o olhar dizendo “vamos falar sobre isso depois”.

- Sei... – meu irmão disse, parecendo desconfiado daquela história. Meu irmão caçula realmente era de fato esperto, o que de alguma forma me deixou em alerta pois sabia que ele também perguntaria sobre isso depois. – Gilbert, como vão as coisas? E o Gilbird?

Conversamos de forma empolgada até Ludwig perceber que Feliciano estava ficando animado demais com o vinho que ele mesmo trouxera. Ludwig se ofereceu para lavar a louça mas acabamos dividindo a tarefa. Para Roderich deu a sua hora e ele se despediu educadamente, se retirando para o seu apartamento. Observei que Ludwig somente esperou para que o jovem mestre saísse de cena para então me perguntar, enquanto estávamos ocupados com a louça:

- Gilbert...

- É difícil de explicar. – eu respondi antes que ele tivesse a oportunidade de puxar o assunto. Eu ouvi suspirar, como um irmão mais velho que ele não era fazia! Às vezes até eu ficava confuso com quem era o mais velho e quem era o mais novo aqui.

- Você que sabe. – ele deu de ombros, pelo menos West tinha a plena consciência de esse tipo de assunto eu conseguiria resolver sozinho, apesar de já saber que eu teria que contar toda a história para ele depois. – Gilbert, eu preciso conversar com você sobre...

- Doitsu! La mia camicia non vuole lasciare il mio collo! – ouvimos o pequeno italiano gritar, e vi o meu irmão suspirar de novo. Se ele continuasse enrugando tanto a testa ainda novo ele ficaria velho muito rápido! Mas West sempre fora assim, afundado em preocupação. E por incrível que pareça Feliciano era o tipo ideal para uma pessoa como ele: alegre, aberto, simpático, inocente e extremamente dependente. Eu quase poderia compará-lo com um bichinho de estimação, o qual o meu irmão adoraria cuidar. Feliciano seria como um filhotinho de cachorro.

Pensando por esse lado se Feliciano era um filhotinho de cachorro, Roderich era como um gato adulto. Como aqueles que precisavam ser penteados, adorados e cuidados todos os dias, são muito preguiçosos para fazer algo por si próprio e mesmo assim os seus donos não se cansavam de mimá-lo. Com certeza, Roderich era um gato.

E eu viajei agora.

- Sto arrivando! Non ti muovere! – West respondeu num italiano perfeito e correu para ajudar o namorado.

No fim das contas, eu acabei fazendo como havia planejado mais cedo. Pus Ludwig e Feliciano para dormirem no meu quarto, já que a minha cama era de casal. Acontece que, apesar do meu apartamento ter dois quartos, um deles estava completamente vazio. Ludwig tomara a decisão de passar um tempo na Itália logo assim que arranjamos aquele apartamento para morar, então não havia praticamente nada dele ali dentro, nós iriamos resolver isso depois que ele terminasse a temporada que estava passando por lá. Por isso eu resolvi deixar que os dois ficassem juntos no meu quarto, afinal eu não tinha problema algum em passar algumas noites no sofá. West até tentou protestar, mas Feliciano estava bêbado demais para processar alguma coisa e eu já havia dito que dormia no sofá e ponto final, afinal não seria a primeira vez e nem a última. A contra gosto, ele ocupou a minha cama junto com Feliciano.

Só que quando eu cheguei no sofá, eu só fiquei encarando o teto, incapaz de dormir. Não que estivesse desconfortável – afinal o meu sofá era incrível e era extremamente confortável pois fora eu mesmo que reformei aquela peça adquirida em um brechó, hahaha! Eu só estava eufórico demais, agitado demais para se quer pregar o olho. E também estava um pouco frio, a chuva de primavera caía lá fora deixando os ares de Viena gelados.

Então eu me levantei, pegando a chave extra que Roderich havia deixado comigo caso eu precisasse de algo na dispensa. Ele me mataria mas eu ainda acho que seria uma boa morte quando o meu plano se concretizasse.

Saí furtivamente do meu apartamento e abri a porta do jovem mestre com a chave que ele me dera. Olhei de relance para o sofá dele em meio à escuridão, mas não era isso que eu queria. Segui em frente no escuro da noite, tomando cuidado para bater a porta com delicadeza e não fazer barulho algum até alcançar o meu objetivo. Fora então que eu finalmente chego no quarto de Roderich, comemorando em silencio o fato de ele não ter acordado quando abri a porta de seu quarto.

Eu já havia visto de relance o quarto de Roderich antes, era um contraste engraçado entre móveis antigos e de bom gosto, e a bagunça que estava no chão do seu quarto, com roupas e livros espalhados. Tirando isso havia uma penteadeira com uma infinidade de perfumes e produtos de beleza, além de um notebook jogado em um canto. Algumas partituras e CD’s desorganizados nas prateleiras, mas tirando isso não havia nenhum adorno como os pôsteres que havia em meu quarto.

Com movimentos lentos e suaves, retirei parte do cobertor de cima dele. Na maior delicadeza possível eu me aproximei, me deitando em seu lado. E como eu não podia resistir cheguei mais perto do seu corpo, sentindo a sua temperatura quentinha, e me deixei abraçar a sua cintura, enfim relaxando. Aí sim eu poderia dor...

- Gilbert, o que você pensa que está fazendo?

Ok, eu levei um susto, e acabei me sobressaltando, me jogando um pouco para o lado. Roderich se levantou, sentando-se na cama enquanto cruzava os braços. Um suor frio desceu pela minha nuca ao perceber a expressão quase assassina que ele tinha no rosto.

- Então, eu estava indo dormir e...

- Por que você está na minha cama, Gilbert? – ele perguntou mais uma vez de forma pausada e terrivelmente assustadora. Eu quase comecei a chorar, implorando pelo seu perdão por eu ser uma menino mau.

- Eu tenho uma resposta muito boa para isso!

- Acho bom começar a contar.

Dei um sorriso sem graça, sabendo que não havia escapatória da minha traquinagem dessa vez.

- Eu hospedei West e Feliciano no meu quarto, e eu não quis ficar no meu quarto. A sua cama é tão mais quentinha e confortável e...

- Gilbert! – ele revirou os olhos, me repreendendo.

- Desculpe mil vezes, jovem mestre! – eu implorei, juntando as minhas mãos – Mas me deixe ficar, por favor! Só hoje! Eu prometo que não vou fazer nada!

Ok, eu não devia ter prometido isso, porque passar uma noite inteira na cama do Roderich sem fazer nada seria no mínimo tortura e me renderia muita força de vontade de manter as minhas mãos quietas no lugar. Mas mesmo assim eu ainda tentei dar um sorriso angelical para convencê-lo, o que provavelmente não ajudaria em nada mas eu dei assim mesmo.

Ele suspirou.

- Eu não deveria... – ele começou e meus olhos brilharam, vendo que ele estava pensando em me deixar ficar. Eu forcei um bico choroso para que ele tivesse pena de mim, o que ele olhou com um certo ar de irritação. Estava escuro demais no quarto para eu ver com clareza as suas feições, mas ele parecia estar cedendo e se suavizando.

- Você... promete que não vai fazer nada? – perguntou num tom baixo e eu quase dei um pulo empolgado.

- Sim! Sim, jovem mestre, eu prometo não encostar um dedo em você! – mas acrescentei com um tom de malícia – Isso se você não quiser, é claro.

Ele pareceu suspirar novamente, e ao invés de me dar uma resposta direta ele voltou a se deitar na cama, virando o rosto para o lado oposto onde eu estava. Ouvi a sua voz baixa sussurrar:

- Está bem, mas me deixe dormir.

Ainda bem que estava escuro e ele olhava em outra direção, pois eu sorri de orelha à orelha. Eu mal consegui me conter, tanto que quando deitei acabei novamente abraçando a sua cintura e me encostando no corpo dele de costas, o que o fez se sobressaltar novamente:

- Gilbert Beilschmidt! O que dissemos sobre não fazer nada? – ele me repreendeu.

- Mas eu não estou fazendo nada de mais, jovem mestre! – choraminguei, porém, dessa vez sabendo que não conseguiria convencê-lo com a mesma conversinha – Eu... eu só queria! – sabendo que não haveria justificativa, acabei revelando – Eu só queria dormir abraçadinho, é só isso.

Pelo menos a luz do quarto estava apagada, porque se não ele veria como eu devia estar completamente vermelho. Ou talvez isso até fosse ruim, já que eu não seria capaz de ver a seu rosto toda vermelha, pois eu sabia que devia estar àquela altura, visto que ele não me respondeu nada. Na verdade havia ficado até um silêncio um pouco constrangedor por alguns segundos, antes de ele voltar novamente para o seu lado para dormir. Eu resolvi desisti, e me deitei do seu lado, virando o rosto para o lado oposto da cama. Quando eu ouvi o sussurro tão baixinho que eu quase o perdi na escuridão do quarto, mas ainda estava lá, as palavras:

- Tudo bem, então...

Na maior velocidade possível eu me virei da minha posição e voltei para a anterior, circundando a sua cintura. Enterrei o meu nariz em seu pescoço, sentido o perfume de banho do Rod, inalando fundo aquele aroma. Acho que o apertei com mais força do que eu deveria, mas ele não reclamou. Me mantive quieto, sabendo que se eu dissesse mais alguma coisa estragaria tudo. Só me permiti dar um “Boa noite” baixinho em seu ouvido antes de tentar dormir, me deliciando com a sua pele tão próxima à minha.

 

.

.x.

.

 

- Gilbert...

Uma voz baixinha e delicada me chamava, mas eu me recusava a acordar. Estava dormindo um sono tão bom, por que eu deveria me levantar agora? Me remexi um pouco, voltando a dormir. Mas logo a voz baixinha voltou a chamar o meu nome, e não que eu estivesse achando irritante, mas é que eu queria tanto dormir agora que eu soltei um resmungo, ainda sem levantar. Aos poucos eu fui despertando, ainda grogue de sono, custei a abrir os olhos, porém, mas fui deixando a luminosidade entrar devagar...

- Gilbert?

Foi quando eu vi um verdadeiro anjo, de olhos violetas e cabelos castanhos. Mas dessa vez, pelo menos, eu sabia que não estava sonhando. Roderich era real, muito real! Meu Deus, eu passei longos três anos da minha vida sem perceber que Roderich Edelstein era uma obra de arte em formato de homem, como eu não pude perceber o quanto eu estava completamente de quatro por ele? Quero dizer, todas as vezes que eu o empurrava contra uma parede ou fazia as suas canetas caírem para ele precisar pegá-las era puramente um desejo de vê-lo e tocá-lo. Aquilo já não estava mais cabendo em mim.

Dei um sorriso que poderia ser julgado como muito perigoso. Ele estava prestes a dizer alguma coisa mais eu o puxei pelo braço, fazendo ele cair no espaço da cama em que eu não estava. Aproveitei o seu momento de fraqueza para me posicionar entre as suas pernas encurralá-lo na cama, segurando os seus braços, o que não o deixou nada contente.

- Gilbert! – ele disse o meu nome mais uma vez e eu me deleitei com a sonoridade. – O que está fazendo?

- Bom dia, jovem mestre! Espero que tenha dormido bem, pois eu dormi muito bem. – sorri, e ele fez uma careta.

- Você disse que não tentaria nenhuma gracinha. – ele disse fazendo um bico com a boca, num mal humor que eu poderia julgar como falso. Ele estava fazendo beicinho! Ah, o jovem mestre era mesmo adorável.

- Bem... não está mais de noite, não é? – dei um sorrisinho cínico, mas libertei os seus braços para que ele não ficasse tão desconfortável. Não é como se ele fosse fugir dali, não é mesmo?

Ele fez de novo aquele bico que tinha um efeito devastador em mim. Me aproximei do seu rosto, ainda sem tocar os lábios. Roderich tinha cheiro de pasta de dente, pós-barba, creme de hortelã para as mãos e mais alguma coisa que eu só poderia chamar de “cheiro de Roderich”. Era hipnotizador. Se ele pensava que podia ser tão bonito, cheiroso e adorável assim tão perto de mim e sair impune ele estava enganado. Travei meu maxilar, tentando juntar o ultimo resquício de auto controle que me sobrava.

- Rod... Eu não aguento mais. – sibilei quase próximo à sua boca, e eu observei nos seus olhos violetas que havia um brilho a mais. Quase como se ele estivesse... correspondendo ao meu desejo.

Mas a confirmação só veio quando ele buscou o meu beijo. Os seus lábios se chocaram contra os meus e eu nem pestanejei quanto a corresponder. Invadi a sua boca, tornando o beijo intenso e impaciente. Ele gemeu, eu repito, ele gemeu quando eu intensifiquei as coisas e aquilo só poderia me levar à completa insanidade. De alguma forma eu sabia que o seu corpo estava tão quente quanto o meu, e tão sedento por contato quanto o meu. Foi então que eu percebi que Roderich queria tanto quanto eu, estava tão desesperado quanto eu, e mesmo que estivesse evitando o meu contato por tanto tempo, ele tinha plena consciência que sabia que queria. Modéstia a parte mas Roderich sabia que a partir do momento que entrássemos em contato ele não seria capaz de me afastar mais uma vez.

E o que eu fiz? É claro que eu me aproveitei disso. O seu rosto estava vermelho e os olhos frios transbordavam o seu desejo, e eu acho que nunca vi imagem mais sensual em toda a minha vida. A única coisa que me atrapalhava era aquele maldito pijama remendado, mas tudo bem pois eu sabia um bom destino para ele: o chão.

- Sabe jovem mestre... – eu murmurei no intervalo do nosso beijo – Eu sempre detestei esse pijama.

As minhas mãos entraram por debaixo da camisa de forma atrevida, sentindo a pele lisa e mais fria do que a minha com a palma da minha mão. Mas eu queria muito mais do que isso, por isso abri os botões da camisa, um por um, tentando ser o mais paciente possível e não soar como um virgem ansioso. Mas a verdade é que eu estava ansioso. Céus, eu não aguentava mais. Terminei de abrir a camisa e me deliciei com a imagem. Eu queria por a minha boca em cada canto daquela pele e estragar tudo, e eu queria ouvi-lo dizer o meu nome enquanto fazia isso. Decidi começar pelo pescoço, onde iniciei com um beijo leve que o fez se arrepiar. Dei um sorriso com a reação, era exatamente isso que eu queria. Continuei, dessa vez intensificando o movimento, ao invés de beijar agora eu mordia e chupava o seu pescoço. Senti as suas mãos de pianista indo parar nos meus ombros, onde ele me apertava e arranha.

- Gilbert... – o meu nome fez o seu pescoço vibrar, e aquilo foi o suficiente para eu despertar lá em baixo. Sorri mais uma vez. Então ele gostava que eu usasse a minha boca ali tanto quanto eu gostava que ele chamasse o meu nome? Interessante.

Com a mão livre, eu desci explorando a pele do tronco, até chegar perigosamente perto do abdômen. Fiquei bastante satisfeito quando senti o volume, e sem mais cerimônias, meti a mão dentro da sua roupa íntima, capturando o membro ereto e começando um movimento que eu tinha certeza que ele iria gostar.

- Ah! – eu o ouvi gemer, ele arqueou as costas como se buscasse mais contato.

Desviei o rosto do seu pescoço para beijá-lo, percebendo pelas suas bochechas coradas e olhos nublados o quanto ele desejava. Ele estava no ponto que eu queria, e nada afastaria me afastaria do meu objetivo agora.

A não ser pela leve batida na porta.

- Gil! Você está aí?

Eu praticamente pulei de cima dele, e eu nem havia sido flagrado nem nada! Roderich me olhou sem entender.

- Merda, West!

- O que aconteceu? – ele me perguntou, alheio ao fato de Ludwig estar batendo na porta do seu apartamento me procurando. Bem, a culpa não era dele já que estávamos no quarto e eu só podia ouvi-lo batendo na porta da frente porque eu tenho a audição de cachorro e consigo ouvir qualquer maldito pio que se passava nesse andar.

Eu não pensei muito na hora, o que depois eu achei algo realmente muito idiota de se fazer. Mas eu me levantei e Roderich veio atrás, sem entender o que estava se passando, parecendo preocupado. Só quando eu estava prestes a atender a porta do seu apartamento que ele entendeu a burrada que eu estava prestes a fazer e tentou me alertar:

- Espere, Gilbert, não atend...

Tarde demais, pois eu já estava abrindo a sua porta – com um pouco de raiva e um pouco de preocupação com Ludwig. Quando eu abri, o meu irmão me viu e não pareceu muito surpreso. Mas Feliciano, que estava ao seu lado, sorriu. E quando Roderich finalmente me alcançou, o sorriso do italiano nunca esteve maior. Foi nesse momento que eu me dei conta que não estava no meu apartamento – onde eu deveria ter dormido ontem – e o jovem mestre estava do meu lado, com a camisa do pijama aberta e uma marca vermelha bastante aparente em seu pescoço.

- Vee~. Doitsu, eu não disse que eles eram namorados?

 

.

.x.

.

 

Eu sabia que logo logo ganharia uma morte bem lenta e dolorosa assim que Ludwig e Feliciano deixassem o apartamento. O olhar que ele me lançava era mortal, daquele tipo que ele me lançava quando ainda estávamos na escola e eu o irritava muito. Não que ele tenha me matado alguma vez, afinal eu sou incrível e ainda estou vivo, mas eu sabia que ele poderia fazer alguma coisa em retaliação pelo meu deslize. E não que eu achasse também que ele estava certo em não querer assumir o tipo de relacionamento que nós tínhamos para o meu irmão, mas, neste exato momento, Feliciano estava testando a paciência dele e também à minha, visto que o meu conhecimento de italiano não passava de pizza e spaguetti.

- Mio cugino è innamorato!

- Feliciano! – ele o repreendeu, apesar de eu não saber exatamente o que foi que o pequeno italiano falou.

- Feliciano, fermarlo. – o meu irmão revirou os olhos e eu estava começando a me sentir excluído que só eu ali não sabia falar italiano!

Só que Feliciano começou a cantarolar uma famosa música em italiano, o que me fez me arrepender de desejar saber italiano, pois eu já sabia que boa coisa não era.

- Per amore hai mai fatto niente solo

Per amore hai sfidato il vento e urlato mai ?

Eu assisti Roderich ficar completamente rosa de vergonha, e Ludwig tampar a o rosto com as mãos, em sinal de constrangimento. Eu não sabia muito bem se ria, se também ficava constrangido ou não, mas como eu não conhecia a letra mesmo, eu decidi por rir. Decisão essa que não suavizaria em nada o triste destino que o jovem mestre me daria depois daquilo. Fingi não ver o olhar mortal de repreensão que ele me lançou e continuei os meus afazeres, o que no caso era preparar o café da manhã para os meus convidados.

- Feliciano, zitto, per l'amor di Dio. – Roderich falou, parecendo mais constrangido do que o normal. Felizmente, o italiano parou, mas soltou uma risada e continuou a rir.

Estavámos no apartamento do Rod, já que não havia porquê voltar para o meu, visto que as coisas de cozinha estavam todas no apartamento dele. Ele não pareceu se importar com as visitas, tirando aquela coisa dele ficar com vergonha por eles terem nos visto daquela forma e Feliciano estar cantando alguma música brega italiana para implicar conosco. Eu preparava ovos, linguiças, algumas panquecas e uma calda de frutas que Ludwig sempre gostou quando era criança. Pelo menos isso ele me deixava preparar sem correr o risco de eu intoxicar todos que comessem.

Sentamos à mesa onde normalmente eu jantava com o jovem mestre. O clima estava bastante ameno e agora ele parecia menos constrangido. Ludwig e Feliciano tinham aquele clima de casal, mas não era irritante. Era fofo, de certo modo, como ele limpava as beiradas sujas de sua boca como se fosse uma criança e preocupava-se que ele não estivesse sujando tudo. Na verdade eu dei um suspiro, era demais eu querer aquele tipo de relacionamento com Roderich? Ele estava tão soltinho quando na cama comigo a pouco tempo, mas agora parecia tão acanhado... Seria algum problema com relacionamento, ou algo do tipo?

Pelo menos com aquela reunião matinal podíamos colocar ainda mais assuntos em dia, e eu percebi que de alguma forma Ludwig queria me dizer alguma coisa. Mas eu não sabia se era particular ou era algo para dizer na presença de todos, então não o pressionei. Começamos a falar sobre o nosso relacionamento, mas não a parte em que assumíamos que estávamos namorando e tudo mais.

- Então vocês dividem as compras e refeições? É um alívio saber disso, Gil sempre foi um pouco descuidado com esse tópico. – ele suspirou, em alívio.

- Mesmo assim, houve uma semana em que ele teve uma intoxicação. – Roderich soltou, me reprimindo. Dei um sorriso sem graça, o que eu podia fazer? – Parece que a única coisa que ele sabe fazer é café da manhã, tirando isso, Gilbert está sempre tentando se envenenar.

- Ei! – prostetei.

- É verdade! – ele insistiu, eu fiz uma careta infantil em resposta.

- Gilbert... – ele começou naquele tom de conversa séria. Só aí eu já sabia que ou eu estava ferrado ou era notícia ruim vindo. – Eu precisava falar com você. Estava me sentindo um tanto mal por ter que dizer isso, principalmente porque acabei de chegar, mas era um assunto que eu precisava falar uma hora.

- Com licença. – o jovem mestre tentou se retirar, educado demais para participar da conversa alheia, mesmo se aquele fosse o seu próprio apartamento.

- Pode ficar, Roderich. Não há problema, afinal vocês estão em um relacionamento.

- Nós...! – eu sabia que ele ia tentar dizer “nós não estamos em um relacionamento” mas dessa vez foi a minha vez de lançar o famoso olhar mortal, o que o fez parar no meio da sentença e ele voltou a se sentar. Aquele era um assunto para ser discutido outra hora.

- Enfim, Gilbert... O que eu queria lhe dizer, e foi o principal motivo do meu retorno à Viena é: eu decidi morar definitivamente na Itália.

É um pouco clichê dizer isso mas, o meu queixo caiu. Literalmente, fiquei de boca aberta. Não sei se foi espanto, surpresa, indignação ou completamente estupefato pela nova informação. Como é que é, eu havia mesmo ouvido direito? Quero dizer, tudo bem que eu já até havia me acostumado com o fato de Ludwig estar vivendo na Itália mas eu pensei que fosse só uma fase! E ele logo estaria voltando para Viena para morarmos juntos. Digo, nesse ano que ele havia morado na Itália ele fazia questão de me mandar o dinheiro da sua parte do aluguel, e aquele era o principal motivo para eu estar morando ali. Saber que Ludwig jamais iria voltar, que nunca mais iria morar comigo e me deixar ao relento ali em Viena foi um tanto chocante pra mim! Não vou mentir, fiquei um pouco chateado, tanto que esperneei como uma criança.

- Mas West! Você prometeu que ia morar comigo! Além disso... Itália?!

- Eu acabei construindo uma vida em Veneza, irmão. – ele me respondeu, paciente, como faria um verdadeiro pai e não um irmão mais novo – E não foi só por causa de Feliciano. Eu estou bem lá, tenho um emprego, vou cursar a faculdade por lá, e pretendo me mudar para não ficar de favor na casa do avô de Feliciano. Eu tenho planos, Gilbert. Eu... eu estou feliz lá.

Perdi o ar. Eu não sabia muito bem o que dizer nem o que pensar mas... Por um lado, Lud realmente parecia ter um ar sonhador e feliz enquanto ele falava dos seus planos na Itália. Além disso, ele havia dito que estava feliz em Veneza. Ele tinha um namorado, um emprego, faculdade, e queria construir uma vida. E quem seria eu pra atrapalhar os seus planos de felicidade?

- West... e como eu fico? – eu continuei choramingando. Ok eu sabia muito bem o quanto eu estava sendo infantil mas poxa, eu ainda estava chocado. – E o apartamento? E o aluguel?

- Eu não vou continuar te ajudando, Gil. Vou precisar para pagar o apartamento que eu vou me mudar em Veneza.

- Mas! – tentei protestar de novo.

- Vee~ Por que você e o Roderich não moram juntos?

Todos os olhares se voltaram para o pequeno italiano de cabelos castanhos, que tinha um sorriso tão grande e inocente no rosto que seus olhinhos se apartavam e praticamente sumiam entre as suas bochechas.

- C-Como assim? – quem perguntou um tanto transtornado fora Roderich.

- Me parece uma boa ideia. – Lud assumiu um ar pensativo – Vocês já dividem refeições, compras e algumas tarefas. Já que estão namorando, poderiam aproveitar e pagar um só aluguel. Realmente, é uma boa sugestão, Feliciano.

- Vee~

- Mas! Mas nós... – o jovem mestre tentou começar – Nós dividimos muitas coisas, mas morar no mesmo espaço... Eu quero dizer, Gilbert não gosta quando eu estou treinando, e eu só atrapalharia os seus estudos.

Pensei sob essa perspectiva. Realmente, eu não gostava quando ele estava tocando, feria os meus incríveis e preciosos ouvidos. Mas eu posso dizer que já estava acostumado, já que eu conseguia ouvir o barulho do seu piano bem no meu apartamento. Tirando isso, no que mais atrapalharia a nossa convivência? Bem, ele já se mostrou bastante amável com Gilbird e parecia não se incomodar com ele. Nós tínhamos uma rotina sobre cozinha e limpeza, tirando isso teríamos que conviver no mesmo comodo, então teríamos que ter uma nova disciplina para arrumação e limpeza do ambiente. Tirando o fato de Roderich dar aulas em certos horários, mas se eu ficasse quietinho no meu quarto eu poderia conviver com o barulho e sem interferir nas aulas dele. Bem, havia o fato de que se eu morasse com ele, não poderia chamar convidados e arrastar ninguém para a minha cama, até porque no atual momento a única pessoa que eu queria arrastar para a minha cama era ele mesmo.

- Pode dar certo! – eu disse, após um tempo pensando, enfim – Veja bem, jovem mestre, nós quase moramos juntos mesmo! Até temos horário para o barulho. Eu só preciso ficar quietinho enquanto você estiver dando as suas aulas.

- Mas... – ele também parecia pensativo e levemente preocupado – E quanto aos móveis, e o contrato do aluguel?

- Ahh, nisso damos um jeito! – dei de ombros – Pense bem jovem mestre, você vive comprando comida das mais baratas para economizar o aluguel... Seria bem menos o preço.

Ele mordeu o lábio, o que era algo que eu achava terrivelmente provocante. Mas eu tentei me concentrar na conversa, agora eu deveria convence-lo, e talvez mais tarde eu me aproveitaria daquele lábio, kesesese.

- Ele tem razão, Roderich.

- Vee~! Eu não entendi nada mas eu concordo com ele! – Feliciano acrescentou.

- Roderich. – tentei falar com seriedade, raramente o chamava pelo nome completo. Então ele soube, quando olhou para mim, o quanto eu estava sério sobre isso. – Pense nisso, faz todo o sentido.

Roderich olhou para mim, parecendo em completo e total pânico.

- Eu... Eu acho que...


Notas Finais


Eu adoro esse capitulo pq adoro a pequena pariticipação do Alemanha e do Italia!
Mas ta acabando :c o próximo é o ultimo!
Serasi vcs querem lemon? Vai depender de vcs hein, qualquer coisa eu posso apagar...
Bieijinhos e me digam o que acharam!


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